UERJ CAMPUS REGIONAL DE RESENDE ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO Ê NFASE EM PRODUÇ ÃO MECÂNICA CAPÍTULO 4: DIAGRAMA FE-C DEPARTAMENTO DE MECÂNICA MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV PROF. ALEXANDRE ALVARENGA PALMEIRA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Estrada Resende Riachuelo s/n. - Morada da Colina Resende — RJ - CEP: 27.523-000 Tel.: (024) 354-0194 ou 354-7851 e Fax: (024) 354-7875 E-mail: [email protected] Segunda-feira, 24 de Novembro de 2003 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc SUMÁRIO I- INTRODUÇÃO ...................................................................................................................1 II- DEFINIÇÕES DE MATERIAIS .....................................................................................2 III- DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO....................................................................................4 III.1 CONCEITOS BÁSICOS .............................................................................................4 III.2 CONDIÇÕ ES DE EQUILÍBRIO................................................................................. 6 III.2.1 Lei ou Regra das Fases de Gibbs............................................................... 6 III.2.2 Energia Livre ...................................................................................................... 6 III.3 CONSTRUÇÃO DOS DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO ....................................... 6 III.4 TIPOS DE DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO ........................................................... 7 III.4.1 Diagrama Unário ............................................................................................... 7 III.4.2 Diagramas Binários ........................................................................................ 8 III.5 SISTEMAS DE EQUILÍBRIO....................................................................................11 III.5.1 Sistemas Isomorfos ........................................................................................11 III.5.2 Sistemas Eutéticos ...................................................................................... 13 III.5.3 Sistemas Eutectoide .................................................................................... 14 III.5.4 Diagrama de Equilíbrio Fe-C ........................................................................16 III.6 Influência da Temperatura ..................................................................................20 III.7 Influência dos Elementos de Ligas ...................................................................20 III.7.1 Influência do Carborno................................................................................... 21 III.7.2 Influência do Silício........................................................................................ 22 i ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc ÍNDICE DE FIGURAS Figura 4- 1: Diagrama unário esquemático. ................................................................ 8 Figura 4- 2: Diagrama binário esquemático. ...............................................................9 Figura 4- 3: (a) Solução sólida substitucional. (b) Solução sólida interticial. .........................................................................................................................................10 Figura 4- 4: Inclusões de óxido de cobre (Cu2O) em cobre de alta pureza (99,26%) laminado a frio e recozido a 800oC.................................................10 Figura 4- 5: (a) Diagrama Isomorfo. (b) Resfriamento de uma liga de composição Co (35% Ni).......................................................................................... 12 Figura 4- 6: Microestrutura esquemática resultante do resfriamento de uma liga contendo 35% Ni. ..................................................................................... 13 Figura 4- 7: Diagrama Pb-Sn.......................................................................................... 14 Figura 4- 8: Região eutectoide do diagrama de equilíbrio Fe-C.......................... 15 Figura 4- 9: (a) Sistema eutectóide completo. (b) Sistema eutectóide dividido em dois diagramas simples, um isomorfo e um eutético.............. 15 Figura 4- 10: Diagrama de equilíbiro Fe-C. .................................................................16 Figura 4- 11: Diagrama de equilíbiro Fe-C....................................................................18 Figura 4- 12: Representação esquemática da solidificação e esfriamento lento dos aços dos ferros fundidos brancos com seus respectivos microconstituintes.................................................................................................... 19 Figura 4- 13: Propriedades mecânicas dos aços em função do teor de carbono. ....................................................................................................................... 22 ii ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc I- INTRODUÇ ÃO O perfeito conhecimento dos diagramas de equilíbrio das ligas metálicas é de vital importância, pois proporciona o conhecimentos de várias transformações, a escolha das ligas, noções sobre as propriedades e, principalmente, o bom êxito dos tratamentos térmicos. O diagrama de equilíbrio fornece informações de qualquer liga, tais como início e fim de solidificação ou fusão, fases em equilíbrio a determinadas temperaturas, composição química destas fases, variação das quantidades relativas das fases com a temperatura, constituintes, etc. É, portanto, um resumo dos históricos térmicos de todas as ligas dos mesmos componentes. 1 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc II- DEFINIÇ Õ ES DE MATERIAIS Porém, antes de iniciar-mos, o estudo do diagrama de equilíbrio da liga Fe-C, faz-se necessário o conhecimento de algumas definições que nos servirão de base para todo estudo que virá a seguir. Sendo assim, as seguintes definições são de vital importância para que tenhamos a mesma base de conhecimento técnico. − Aço: Aços são ligas a base de ferro deformáveis no estado sólido (F. Oeters, Metallurgy of Steelmaking, VDEh, 1989). De forma geral, ligas com menos de 2,1% (em peso) de carbono. − Aço-carbono → liga ferro-carbono contendo até 2,11% de carbono, além de certos elementos residuais, resultantes processos de fabricação (Mn, Si, P e S); − Aço-liga → aço-carbono que contém outros elementos de liga ou apresenta os elementos residuais em teores acima dos que são considerados normais. Dentre as ligas de ferro-carbono, os ferros fundidos constituem um grupo de importância fundamental para a industria, não só devido às características inerentes ao próprio material, como também pelo fato de, mediante a introdução de elementos de liga, a aplicação de tratamentos térmicos adequados e pelo desenvolvimento do ferro fundido nodular, que possui propriedades que se compara a de um aço carbono. Segundo Chiaverini, pelo conhecimento do diagrama de equilíbrio Fe-C, costuma-se definir, como: − Ferros Fundidos: é a liga ferro-carbono-silício, de teores de carbono acima de 2,11 %, em quantidade superior à que é retida em solução sólida na austenita, de modo a resultar carbono parcialmente livre, na forma de veios ou lamelas de grafita. Dentro da denominação geral de “ferro fundido”, podem ser distinguidos os seguintes tipos de liga: 2 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc − Ferro Fundido Cinzento: liga ferro-carbono-silício, com teor de carbono acima de 2,0% e silício presente em teores de 1,20% a 3,00%; a quantidade de carbono é de tal ordem que, juntamente o teor de silício, promove a formação parcial de carbono livre, na forma de lamelas ou veios de grafita; − Ferro Fundido Branco: liga ferro-carbono-silício, com teor de silício menor que o cinzento e que, devido ao silício em menor quantidade e às condições de fabricação, apresenta o carbono quase que inteiramente combinado, resultando numa fratura de coloração clara; − Ferro Fundido Mesclado: liga ferro-carbono-silício, caracterizada por composição e condições de fabricação de tal ordem que resulta uma fratura de coloração mista entre branca e cinzenta; − Ferro Fundido Maleável: liga ferro-carbono-silício caracterizada por apresentar grafita na forma de “nódulos” (em vez de “veios”), devido a um tratamento térmico especial (“maleabilização”) a que se submete um ferro fundido branco; − Ferro Fundido Nodular: liga ferro-carbono-silício caracterizada por a apresentar grafita na forma esferoidal, resultante de um tratamento realizado ao material ainda no estado líquido (“nodulização”). 3 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc III- DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO III.1 CONCEITOS BÁSICOS De forma a compreender-mos perfeitamente os diagramas de equilíbrio, faz-se necessário que alguns conceitos da química básica, sejam aplicados. Conceitos estes que passamos a descrever: − Solução: é a mistura física e quimicamente homogênea de dois ou mais corpos, sendo “solvente” o corpo que se encontra em excesso e “soluto” outro. − Sistemas: conjunto que se estuda isoladamente. Sistema Homogêneo → um sistema é homogêneo, quando é constituído por uma massa onde todos os seus pontos são quimicamente homogêneos, isto é, tendo as mesmas propriedades em todos os pontos. Ex.: um bloco de gelo, uma porção d'água, uma solução de açúcar, etc.; Sistema Heterogêneo → é o sistema formado por um certo número de sistemas homogêneos distintos, ou é um único corpo que não tenha as mesmas propriedades em todos os pontos. Ex.: uma mistura de água e gelo; uma solução de cloreto de sódio contendo este sal em excesso, etc.. − Fase: toda matéria quimicamente homogênea e fisicamente no mesmo estado, e perfeitamente distinguível. Ex.: gelo + água + vapor = 3 fases; solução de cloreto de sódio = 1 fase; quando a solução contiver sal em excesso = 2 fases. − Componentes: substâncias que definem as fases. − Variáveis: condições que se impõem ao sistema. − Variância ou Grau de Liberdade: número de variáveis que pode ser alterado sem variar o número de fases. 4 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc 5 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc III.2 III.2.1 CONDIÇ Õ ES DE EQUILÍBRIO Lei ou Regra das Fases de Gibbs Gibbs deduziu uma relação entre o número de fases (F) que podem coexistir em equilíbrio em um dado sistema, o número mínimo de componentes (C) que podem ser usados para formar o sistema, o número de variáveis externar (E) – temperatura e pressão – e os graus de liberdade (V), ou seja, o número de variáveis – temperatura, pressão e composição – que podem ser alteradas independentemente e arbitrariamente, sem variar o número de fases presentes. Esta relação pode apresentada sob a forma da equação: V =C −F +E (4. 1) Onde: V → variância; C → número de componentes; F → número de fases; E → número de variáveis externas. Tal relação é conhecida como a lei ou a regra das fases de Gibbs. III.2.2 Energia Livre Quanto menor for a energia livre de um sistema, maior é a sua estabilidade. Então, a condição de equilíbrio é a de mínima energia livre. A satisfação dessa condição é que determina as fases que podem existir a uma dada temperatura e a uma dada composição. Para uma dada composição podem ocorrer reações causadas por variação de temperatura de maneira a existirem sempre as fases mais estáveis. A energia de ativação dessas reações é obtida da diminuição de energia livre do material cedida ao passar ao estado mais estável. III.3 CONSTRUÇ ÃO DOS DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO A construção dos diagramas consiste, simplesmente, em determinar pontos críticos das varias ligas dos mesmos componentes, localizá-los num único gráfico, e uni-los adequadamente por linhas. O gráfico resultante sintetiza o comportamento térmico no resfriamento ou aquecimento lento de qualquer liga e é conhecido como diagrama de 6 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc equilíbrio físico-químico, térmico, constitucional ou de fases. É comumente referido simplesmente como diagrama de equilíbrio. São utilizadas as seguintes técnicas na elaboração dos diagramas de equilíbrio: − − − − Análise Térmica: analisa o efeito calorífico das transformações, é a mais utilizada; Dilatometria; Resistência Elétrica; Metalografia. III.4 TIPOS DE DIAGRAMAS DE EQUILÍBRIO Os diagramas de equilíbrio se classificam em unários (de um componente) binários e de ordem superior (ternários, quaternários, etc.). Dentre os vários tipos, os diagramas binários são os mais usados e, freqüentemente, são subdivididos em várias classes, de acordo com a transformação invariante de fase que contenham. III.4.1 Diagrama Unário O estudo dos sistemas de um só componente está subordinado às variáveis temperatura e pressão, uma vez que a concentração, evidentemente, é invariável. A forma geral do diagrama unário está esquematizada na Figura 4- 1, a seguir. O equilíbrio de uma única fase é representado por uma área ou domínio de fase. Nestes domínios, o sistema é bivariante, ou seja, V = 2. Isto significa que a pressão e a temperatura podem ser alteradas, independentemente e arbitrariamente, contanto que não modifiquem o número de fases do sistema. O equilíbrio entre as duas fases é representado por linhas ou curvas. Isto pode ser facilmente deduzido da regra das fases. O sistema é aí univariante, ou seja, V = 1. Note-se ainda que as três fases só podem coexistir em equilíbrio para temperatura e pressão determinadas, definindo um ponto no diagrama, denominado ponto tríplice. Neste ponto o sistema é invariante já que V = 0. 7 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 4- 1: Diagrama unário esquemático. III.4.2 Diagramas Binários Um diagrama de fase completo de um sistema binário, representando o efeito da variação dos três fatores externamente controláveis – pressão, temperatura e composição – requer o uso de um modelo tridimensional. Como normalmente as operações metalúrgicas são realizadas a pressão atmosférica, utiliza-se, por conveniência, um diagrama bidimensional temperatura & composição, denominado condensado. Esse diagrama é simplesmente uma seção do diagrama tridimensional, tomando a pressão constante de uma atmosfera. Neste caso, o número de variáveis fica reduzido a dois, e a lei de Gibbs tem a forma: V =C −F +1 (4. 2) Pois, um grau de liberdade foi usado para especificar a pressão. Sob estas circunstâncias, a coexistência de três fases em um diagrama binário produz uma condição invariante (V = 0), enquanto a coexistência de duas fases produz uma condição bivariante (V = 2).(Erro! Indicador não definido.) 8 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc A representação do diagrama binário condensado é feita normalmente tomando-se a ordenada como temperatura e a abscissa como concentração dos dois componentes A e B, onde B varia de 0% a 100% e A varia, de 100% a 0% no sentido da esquerda para a direita. Conforme pode ser observado na Figura 4- 2, a seguir. Figura 4- 2: Diagrama binário esquemático. Os materiais formados por dois componentes podem ser constituídos: de uma solução sólida com um componente completamente miscível no outro; e de uma mistura dos componentes, com ausência ou parcialidade de solubilidade, mas sem reações químicas envolvidas; e ainda pela presença de novos compostos. Logo, podemos ter as configurações de arranjos entre os materiais: – soluções sólidas Substitucionais: os átomos de impureza estão localizados em posições normalmente ocupadas pelos átomos do cristal matriz. Eles “substituem” os átomos do cristal matriz, são chamados impurezas substitucionais, conforme representado na Figura 4- 3(a). – soluções sólidas Intersticiais: os átomos de impureza estão localizados nos interstícios da estrutura cristalina matriz. São chamados impurezas intersticiais. Estas impurezas normalmente tem um pequeno tamanho quando comparadas aos átomos da matriz, conforme representado na Figura 4- 3(b). – Precipitados: É o caso dos óxidos e de outras partículas como sulfetos e fosfetos, por exemplo. Elas são decorrentes de reações de oxi-redução entre o oxigênio do ar com os metais componentes da mistura, ou advém de reações entre componentes da matéria-prima utilizada (por exemplo, o 9 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc enxofre que está presente no coque que por sua vez é utilizado na fabricação do aço) com os componentes da mistura. Conforme apresentado na Figura 4- 4. Figura 4- 3: (a) Solução sólida substitucional. (b) Solução sólida interticial. Figura 4- 4: Inclusões de óxido de cobre (Cu2O) em cobre de alta pureza (99,26%) laminado a frio e recozido a 800oC. Estas diferenças de comportamento devem-se a: i. diferença de tamanho superior a 15% entre os átomos dos dois componentes; ii. diferença de estrutura cristalina; iii. diferença apreciável de eletronegatividade; iv. diferentes valências. Logo podemos classificar os diagramas binários como: i. aqueles que apresentam solubilidade total em todas as proporções nos estados líquido e sólido (sistemas isomorfos); ii. aqueles que apresentam solubilidade total em todas as proporções no estado líquido, mas cuja solubilidade é nula ou restrita no estado sólido (sistemas eutéticos, eutetóides, peritéticos e peritetóides); 10 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc iii. aqueles que apresentam solubilidade limitada nos estados líquido e sólido (sistemas monotéticos e sintéticos). III.5 SISTEMAS DE EQUILÍBRIO De forma a compreendermos melhor o diagrama Fe-C, levaremos em conta, de forma mais aprofundada, apenas os seguintes sistemas: isomorfo, eutético e eutectóide. III.5.1 Sistemas Isomorfos(Erro! Indicador não definido.) São sistemas em que os componentes formam soluções sólidas em todas as proporções, ou seja, formam ligas monofásicas. Ex.: Cu-Ni, Au-Ag, Au-Pt. Cuja reação característica é da pela equação (4. 3), a seguir: L→S (4. 3) A Figura 4- 5(a), a seguir, apresenta um diagrama isomorfo simples onde os pontos TCu e TNi representam as temperaturas de fusão dos componentes Cu e Ni respectivamente. O diagrama é formado por uma região de uma única fase líquida, uma região de uma única fase sólida, representada por α , e uma região de duas fases (líquido L + sólido α ). As curvas que separam as regiões de uma fase da região de duas fases são as linhas líquidus e sólidus. Estas indicam que há uma diferença fundamental de comportamento na solidificação de um metal puro e de uma solução sólida. Enquanto que o primeiro se solidifica a uma única e definida temperatura, a liga da solução sólida inicia a solidificação em uma temperatura entre os pontos de fusão de seus componentes e não o faz isotermicamente, ou seja, solidifica-se dentro de um intervalo de temperaturas (faixa 23 da Figura 4- 5(b)), para uma composição C0 da liga. 11 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc (a) (b) Figura 4- 5: (a) Diagrama Isomorfo. (b) Resfriamento de uma liga de composição Co (35% Ni). ANÁLISE TÉ RMICA Considere-se a solidificação da liga de composição C0 (Figura 4- 5(b)). No ponto 1 ela apresenta-se completamente na fase líquida, com composição química idêntica à da liga. No ponto 2 inicia-se a solidificação da solução sólida de composição 2b, que é a composição desta fase para que a mesma esteja em equilíbrio com o líquido na temperatura correspondente T2. A medida que o resfriamento prossegue, continua a solidificar-se a, cuja composição média segue a linha sólidus e a composição média do líquido remanescente segue a linha liquidus. 12 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Em B tem-se sólido α de composição Cα em equilíbrio com líquido de composição CL. Continuando o resfriamento até o ponto 3, tem-se que a última porção de líquido presente terá a composição 3a e a composição global do sólido a coincidirá com a da liga. Em qualquer temperatura inferior ao ponto 3 (ponto 4, p. ex.), o material estará completamente solidificado na forma a, de composição C0. A Figura 4- 6, a seguir, apresenta, de forma esquemática, a microestrutura resultante do resfriamento de uma liga contendo 65% Cu + 35% Ni. Figura 4- 6: Microestrutura esquemática resultante do resfriamento de uma liga contendo 35% Ni. III.5.2 Sistemas Euté ticos Ocorrem em sistemas que apresentam solubilidade parcial entre os componentes ao formarem soluções sólidas. Ex.: Cd-Zn, Sn-Pb, Sn-Bi.. Cuja reação característica é da pela equação (4. 3), a seguir: L ↔α + β (4. 4) 13 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 4- 7: Diagrama Pb-Sn. ♦ Características das ligas eutéticas − Possui ponto de fusão definido; − O ponto de fusão da liga é inferior ao ponto de fusão dos elementos que a constitui; − Possui composição química definida; − Possui micro estrutura característica (lamelar). III.5.3 Sistemas Eutectoide São caracterizados pela reação eutetóide, isto é, a decomposição isotérmica de uma fase sólida em duas outras fases sólidas durante o resfriamento e a reação inversa no aquecimento. Ou seja, esta transformação ocorre toda no estado sólido em sistemas que apresentam solubilidade total em temperaturas elevadas, mas quando a temperatura decresce a solubilidade é parcial entre os componentes ao formarem soluções sólidas, conforme pode ser observado na Figura 4- 8, a seguir . Ex.: Fe-C, Cu-Zn, Cu-Sn. Cuja reação característica é da pela equação (4. 3), a seguir: γ ↔α + β (4. 5) 14 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 4- 8: Região eutectoide do diagrama de equilíbrio Fe-C. Um diagrama esquemático para um sistema eutetóide está representado na Figura 4- 9, a seguir. Pode-se interpretá-lo simplesmente como a combinação de dois diagramas simples, um isomorfo e outro eutético. Todas as considerações feitas sobre sistemas eutéticos são extensivas aos sistemas eutetóides. Figura 4- 9: (a) Sistema eutectóide completo. (b) Sistema eutectóide dividido em dois diagramas simples, um isomorfo e um eutético. 15 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc III.5.4 Diagrama de Equilíbrio Fe-C Diagrama válido para Fe-C sem elemento de liga, resfriado ou aquecido lentamente. Equilíbrio metaestável → modificações no tempo → decomposição do Fe3C (Fe + C) Figura 4- 10: Diagrama de equilíbiro Fe-C. i) Formas Alotrópicas do Fe puro - Feδ, estrutura Cúbico de Corpo Centrado, paramagnético, 1.400°C ≤ T ≤ 1.539°C; - Austenita - Feγ, estrutura Cúbico de Face Centrada, não-magnético, 910°C ≤ T≤ 1.400°C; - Ferrita - Feα, estrutura CCC: paramagnético (Feβ), 768°C ≤ T ≤ 910°C, ferromagnético, T ≤ 768°C (Ferro puro). ii) - Reações Peritética: L0 ,5 + δ 0 ,1 ↔ γ 0 ,18 { (T = 1.492ºC); Austenita( 0 ,18% deC ) 16 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc - Eutética: L4 ,3 ↔ γ 2 ,0 + Fe3 C( 6 ,67% deC ) (T = 1.130ºC); eutético (ponto C ) 4,30% C. 144424443 Ledeburita( 4 ,3% deC ) - Eutectóica: γ 0 ,8 ↔ α 0 ,025 + Fe3 C ( 6 ,67% deC ) (T = 723ºC); eutectóide (ponto S) 0,77%C. 144424443 Perlita( 0 ,8% deC ) - Aço eutectóide → com teor de carbono correspondente ao ponto eutetóide ou seja, 0,77%; - Aço hipo-eutectóide → com teor de carbono entre 0 e 0,77%; - Aço hiper-eutectóide → com teor de carbono entre 0,77% e 2,11%; - Ferro fundido eutético → com teor de carbono correspondente ao ponto eutético ou seja 4,30%; - Ferro fundido hipo-eutético → com teor da carbono entre 2,11% e 4,30%; - Ferro fundido hiper-eutético → com teor de carbono acima de 4,30%. iii) Pontos Críticos − Ponto A → ponto de fusão do ferro puro – 1.538°C; − Ponto D → ponto de fusão do Fe3C – impreciso; − Ponto C → ponto da reação eutética; − Ponto S → ponto da reação eutectóide. iv) Linhas Críticas − Linha Solidus; − Linha Liquidus; − Linha Acm* → linhas de mudança de fase → solubilidade da Fe3C na austenita; − Linha A3 → linhas de mudança de fase → solubilidade da ferrita na austenita; − Linha A1 → linhas de mudança de fase → austenita em ferrita+perlita; As linhas que marcam o início e o fim das transformações chamam-se linhas de transformação e elas limitam zonas chamadas Zonas Críticas. * As iniciais A são do francês "arrêt"; a terminologia original é francesa, pois foi Le Châtelier um dos pioneiros estudiosos da matéria. 17 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 4- 11: Diagrama de equilíbiro Fe-C. v) - Fases Ferrita - δ: Solução Sólida Intersticial de C no Feδ (estrutura CCC), solubilidade máxima de C de 0,1% a 1.492ºC; - Autenita - γ: Solução Sólida Intersticial de C no Feγ (estrutura CFC); - Ferrita - α: Solução Sólida Intersticial de C no Feα (estrutura CCC); - Cementita - Fe3C: Composto intermetálico de Fe e C (carboneto de ferro) com 6,67% de C, com estrutura ortorrômbica. vi) Constituinte Cada uma das fases isoladas ou agregadas que compõem a estrutura de uma liga metálica. - Ferrita; - Autenita; - Cementita; 18 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc - Perlita: constituinte de forma lamelar, formado por lâminas muito delgadas e muito próximas umas das outras, de ferro alfa e Fe3C, dispostas alternadamente. Suas propriedades são intermediárias entre as do ferro puro (pouco resistente, mole e muito dúctil) e a cementita (muito resistente, muito dura e muito frágil). - Ledeburita: agregado mecânico de austenita+cementita(T > 723ºC) e a austenita transforma-se em perlita para T < 723ºC. Figura 4- 12: Representação esquemática da solidificação e esfriamento lento dos aços dos ferros fundidos brancos com seus respectivos microconstituintes. OBS.: Essas estruturas, ledeburita, correspondem aos ferros fundidos brancos, em que não existe qualquer carbono na forma livre de grafita. Tais ferros fundidos são de relativamente pouco uso comercial, devido á sua grande dureza e fragilidade e baixa usinabilidade. 19 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc III.6 Influência da Temperatura A posição das linhas A3, A2 e Acm (Figura 4-6 e Figura 4-7) corresponde a resfriamento lento. Para aquecimento lento, as mesmas reações que levam às modificações estruturais ocorrem em sentido inverso. Entretanto, a posição das linhas é diferente, ficando as mesmas ligeiramente deslocadas para cima. Outro fator que apresenta elevada influência sobre as reações que levam às modificações estruturais é a velocidade de aquecimento e resfriamento. Este fator será estudado mais profundamente no próximo capítulo. III.7 Influência dos Elementos de Ligas As propriedades das ligas ferro-carbono são influenciadas pelas suas estruturas. Estas dependem das reações que ocorrem no diagrama de equilíbrio, onde os elementos de liga atuam diretamente nas linhas de transformação, na faixa austenítica e na temperatura e composição do eutetóide, no caso dos aços, e na capacidade grafitizante ou estabilizadora da cementita. A presença de elementos de liga provenientes do processo de fabricação (Mn e Si) e os que são propositadamente adicionados para alterar as propriedades dos aços (Ni, Cr, Mo, W, Ti etc.) atuam diferentemente nas duas formas alotrópicas que caracterizam o ferro e, por essa razão, na posição das linhas de transformação, ou seja, na zona crítica e na zona austenítica. Os efeitos em particular de alguns elementos sobre o campo austenítico são os seguintes: − Mn, Ni e Co alargam a faixa de temperaturas para austenita estável; − Si, Cr, Mo, Ti, entre outros, estreitam a faixa de temperaturas de austenita estável. − Os elementos de liga influem igualmente sobre a temperatura e a composição do eutetóide, o que, evidentemente, significa deslocar as linhas de transformação. − A maioria dos elementos de liga - Ti, W, Mo, Si, Ni, Mn, Cr, uns mais do que os outros tende a deslocar o eutetóide para a esquerda, ou seja, diminui o seu teor de carbono. 20 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc − Quanto à temperatura do eutetóide, com exceção do Mn e do Ni, que diminuem essa temperatura, os outros elementos mais comuns (Cr, W, Si, Mo e Ti) tendem a aumentála. − Na faixa de composições correspondentes aos ferros fundidos, o efeito mais importante é o do silício. A tendência grafitizante desse elemento altera totalmente as propriedades desses materiais. − Outros elementos podem atuar em sentido contrário, em particular o manganês, que é um dos mais importantes estabilizadores da cementita, ou seja, dificulta ou impede a sua decomposição. Influência do Carborno III.7.1 Como se pode observar (Figura 4-6), o carbono cria uma faixa de temperaturas onde as duas formas alotrópicas alfa e gama podem existir. Da mesma maneira, atuam certos elementos de liga. Além deste fato o aumento do teor de carbono leva a mudanças nas propriedades dos aços, conforme é mostrado na Figura 4-9, essas mudanças são provenientes de mudanças na microestrutura dos aços. O carbono livre nos ferros fundidos desempenha um papel importante, porque os conceitos de variação de propriedades mecânicas em função do teor de carbono, que se aplicam nos aços, não podem ser aplicados com o mesmo sentido nos ferros fundidos. Pois, à medida que o teor de carbono aumenta, os ferros fundidos tomam-se mais moles, menos resistentes e mais usináveis. Entretanto, sua ductilidade, qualquer que seja o teor de carbono, é praticamente nula, devido à presença de carbono livre, em veios de grafita. 21 ENGENHARIA DE PRODUÇ ÃO MATERIAIS DE CONSTRUÇ ÃO MECÂNICA IV Alexandre Alvarenga Palmeira, MSc Figura 4- 13: Propriedades mecânicas dos aços em função do teor de carbono. III.7.2 Influência do Silício Os ferros fundidos mais usados são os cinzentos, caracterizados pela presença de silício, geralmente em teores superiores a 2,0%. A presença desse elemento, além de outros fatores a serem posteriormente considerados, produz uma decomposição do Fe3C, em Fe e C, este último na forma de grafita. Por essa razão, o silício é freqüentemente chamado elemento "grafitizante". A forma e a distribuição dos veios de grafita variam, o que levou associações técnicas, como a ASTM (American Society for Testing Material) e a AFS (American Foundrymen's Society) a promover a sua classificação em cinco tipos: a) Irregular desorientada; b) Em roseta; c) Desigual irregular; d) Interdendrítica desorientada; e) Interdendrítica orientada; que conferem propriedades diferentes aos vários tipos. de ferros fundidos cinzentos. 22