Esquemas para una Oda Tropical Uma exposição / um poema / uma biblioteca / uma paisagem uma proposta de Pablo Leon de la Barra Com: Alejandro Cesarco Alfredo Ceibal Cibelle Daniel Steegmann Dominique Gonzalez Foerster Felipe Mujica Gilda Mantilla y Raimond Chaves Irene Kopelman Julia Rometti y Victor Costales Laercio Redondo Mariana Castillo Deball Rodrigo Matheus Shelagh Wakely Sophie Nys + Arto Lindsay Thomas Glassford e uma leitura por Cibelle ao vivo durante a abertura de poemas de Carlos Pellicer Em 1922 o poeta Carlos Pellicer (nascido no estado tropical de Tabasco, México em 1897) visitou o Rio de Janeiro como um dos representantes da Feira Mundial que celebrava o centenário da independência do Brasil, que acontecia naquele ano. A paisagem do Rio de Janeiro lhe impressionou tanto que ele escreveu uma série de poemas, incluindo um Poema Aéreo descrevendo o Rio como ele via do avião, um dos primeiros poemas tropicais modernistas. Esses poemas foram incluídos na sua publicação de 1924 “Piedra de Sacrifícios, Poemario Iberoamericano”, onde outros poemas de suas viagens pela América do Sul foram publicados. O prólogo do livro foi escrito por Jose Vasconcelos, então Ministro da Educação Mexicano e que também foi responsável pela visita de Pellicer ao Rio de Janeiro e viagens pelo continente. Falando sobre os poemas de Pellicer, Vasconcelos concluiu: “Lendo estes versos, pensei em uma nova religião que eu já sonhei em pregar: a religião da paisagem... os lugares mais lindos do mundo se tornariam então umas das mais amadas nações, e não os lugares onde nascemos e pra onde nossos ossos irão, mas há lá uma presença divina que é revelada nas mais puras visões de encantamento, de magnificentes de visões”. A viagem ao Rio de Janeiro e suas viagens pelo continente também inspirou Vasconcelos a escrever em 1925 seu próprio diário de viagens e manifesto “La Raza Cósmica” onde ele defende o surgimento de uma nova raça humana feita de uma mistura de todas as raças vindas das Américas, e a qual teria sua capital nas terras da Amazônia: “A conquista dos Trópicos transformará todos os aspectos da vida. A arquitetura abandonará o arco Gótico, o vão, e, em geral, o telhado, que responde pela necessidade de abrigo. A pirâmide se desenvolverá novamente. Colunatas e talvez também construções espirais serão elevadas em uma desnecessária ostentação de beleza, porque a nova estética tentará se adaptar as curvas infindáveis dos espirais, que representa a liberdade de desejo e triunfo na conquista pela infinito. A paisagem, transbordando com cores e ritmos, comunicará sua riqueza às emoções. A realidade será como fantasia. A estética de nublado e cinza será vista como uma doentia arte do passado. Uma intensa e refinada civilização responderá ao esplendor da Natureza, cheia de potência, geralmente generosa e brilhando com clareza. O panorama do Rio atual, ou Santos, com a cidade e baía, pode nos dar uma idéia do que será o futuro empório de uma raça inteira. Universópolis se levantará ao lado do grande rio, e de lá a pregação, os esquadrões e os aviões propagando as boas novas partirá. Se a Amazônia se tornar inglesa, a metrópole mundial não seria chamada de Universópolis mas sim de Anglotown, e os exércitos sairiam de lá para impor a outros continentes um a lei estrita de dominação por brancos/loiros e também a extinção dos inimigos de pele escura. Por outro lada, se a quinta raça dominasse o eixo do mundo futuro então os aviões e exércitos viajaram pelo mundo educando as pessoas para sua própria sabedoria. Vida, fundada em amor, virá a ser expressa através da beleza”. A experiência de Pellicer no Rio de Janeiro teve efeito no seu trabalho e na sua concepção do mundo, em termos que agora ele poderia pensar o mundo “a partir dos trópicos”, e não como concebido por Paris, Nova Iorque ou Cidade do México, como ele teria provavelmente feito se ele não tivesse realizado essas viagens. Dentre seus muitos poemas Pellicer escreveu um chamado “Esquemas para una Oda Tropical” do qual o nome desta exposição foi tirado. Pellicer escreveu duas versões diferentes deste poema, um em 1935 e o outro 38 anos depois, em 1973. Como Mariana Castillo Deball, uma artista nesta exposição (e que tem sido determinante para repensar muitos dos tópicos aqui presentes), disse sobre o poema Esquemas para una oda tropical de Pellicer “considero o poema como uma peça de muitas perspectivas e vozes, não é o poeta descrevendo a natureza, mas se transformando em um pássaro, planta, pôr-do-sol, serpente, graviola, raios de sol, água, língua, verde, multidão”. Da mesma forma que nos poemas de Pellicer, o trabalho de artistas nas exposições se tornam poemas, músicas, plantas, folhas, frutas, pores-do-sol, amarelos, verdes, publicações, paisagens, utopias, e fazendo assim repensa jeitos de ser, fazer e ver dos trópicos. A exposição também abre a questão em como se disponibilizar, e preservar o conhecimento e estética vinda dos trópicos para futuras gerações. Na tentativa de responder a estas questões a exposição é inspirada pela investigação de Dominique Gonzalez-Foerster no futuro dos livros (“é possível expandir essa biblioteca, e se for, como pode ser feito de uma maneira totalmente diferente”?) e na relação entre texto, espaço e clima que é explorado no seu trabalho. A exposição é também inspirada na pesquisa de Gilda Mantilla e Raimond Chaves das bibliotecas Amazônicas de Iquitos no Peru e na preservação de conhecimento e imagens encontrados lá “Na selva há uma cidade, nesta cidade há uma biblioteca e nesta biblioteca há uma selva”... “um belo dia no futuro alguém como nós vai abrir esses livros e brochuras, estas revistas e jornais antigos, e vai tentar entender através das sombras e luzes, sinais difíceis de decodificar, o que é tudo isto vindo do passado”. Esquemas para una Oda Tropical An exhibition / a poem / a library / a landscape A proposal by Pablo Leon de la Barra With Alejandro Cesarco Alfredo Ceibal Cibelle Daniel Steegman Dominique Gonzalez Foerster Felipe Mujica Gilda Mantilla y Raimond Chaves Irene Kopelman Julia Rometti y Victor Costales Laercio Redondo Mariana Castillo Deball Rodrigo Matheus Shelagh Wakely Sophie Nys + Arto Lindsay Thomas Glassford and a live reading during the opening of Carlos Pellicer’s poems by Cibelle In 1922, poet Carlos Pellicer (born in the tropical state of Tabasco, Mexico in 1897) visited Rio de Janeiro as part of the Mexican representation for the World Fair celebrating the centenary of Independence of Brazil, happening that year. The Rio de Janeiro landscape impressed him so much that he wrote a series of poems, including one Aerial Poem describing Rio as seen from the airplane, one of the first tropical modernist poems. This poems were included in his 1924 publication ‘Piedra de Sacrificios, Poemario Ibero-americano’ where other poems of his travels through South America were published. The prologue of the book was written by Jose Vasconcelos, Mexican Minister of Education at the time and who had been responsible for Pellicer’s visit to Rio de Janeiro and his travels through the continent. Talking about Pellicer’s poems, Vasconcelos concluded: “Reading this verses I’ve thought in a new religion that I once dreamt of preaching: the religion of the landscape… the most beautiful places in the world, would then be the most loved nations, not the places where we were born and where our bones will end, but there where the divine presence is revealed in the most pure visions of enchantment, of magnificent visions.” The trip to Rio de Janeiro and his travels through the continent also inspired Vasconcelos in writing in 1925 his own travelogue and manifesto ‘La Raza Cosmica’, where he advocates the emergence of a new human race made of the mix of all the races coming from the Americas, and which will have its capital in the Amazons: “The conquest of the Tropics will transform all aspects of life. Architecture will abandon the Gothic arch, the vault, and, in general, the roof, which answers to the need for shelter. The pyramid will again develop. Colonnades and perhaps spiral constructions will be raised in useless ostentation of beauty, because the new aesthetics will try to adapt itself to the endless curve of the spiral, which represents the freedom of desire and the triumph of Being in the conquest of infinity. The landscape, brimming with colours and rhythms, will communicate its wealth to the emotions. Reality will be like fantasy. The aesthetics ofcloudiness and greys will be seen as the sickly art of the past. A refined and intense civilization will answer to the splendours of a Nature swollen with potency, habitually generous, and shining with clarity. The panorama of present day Rio de Janeiro, or Santos, with the city and the bay, can give us an idea of what the future emporium of the integral race that is to come will be like... Universopolis will rise by the great river, and from there the preaching, the squadrons, and the airplanes propagandizing the good news will set forth. If the Amazon becomes English, the world metropolis would not be called Universopolis, but Anglotown, and the armies would come out of there to impose upon the other continents the harsh law of domination by the blondhaired whites and the extinction of their dark rivals. On the other hand, if the fifth race takes ownership of the axis of the future world, then airplanes and armies will travel all over the planet educating the people for their entry into wisdom. Life, founded on love, will come to be expressed in forms of beauty.” Pellicer’s experience of Rio de Janeiro had an effect on his work and his conception of the world, in terms that he could now think the world “from the tropics”, and not as conceived from Paris, New York or Mexico City, as he would probably had done if he hadn’t done these travels. Amongst his many poems, Pellicer wrote one called ‘Esquemas para una Oda Tropical’ from which the title of this exhibition comes. Pellicer wrote two different versions of the poem, one in 1935 and the other 38 years later in1973. As Mariana Castillo Deball, one of the artists in the exhibition (andwhich has been determinant in rethinking many of the topics here presented)says about Pellicer’s poem Esquemas para una oda tropical “I consider the poem as a piece with multiple perspectives and voices, it is not the poet describing nature, but becoming bird, plant, sunset, serpent, guanábana, sunshine, water, tongue, green, multitude.” In the same way that in Pellicer’s poem, the work of the artists in the exhibition becomes poems, songs, plants, leaves, fruits, sunsets, yellows, greens, publications, landscapes, utopias, and in doing so rethink ways of being, doing and seeing, from the tropics. The exhibition also opens the question on how to make available, and preserve for future generations the knowledge and the aesthetics coming from the tropics. In the attempt to answer this questions the exhibition is inspired by Dominique Gonzalez –Foerster’s investigation on the future of books (“is it possible to expand this library, and if so, how can it be done in a completely different way?”) and the relationship between text, space and climate explored in her work. The exhibition is also inspired by Gilda Mantilla and Raimond Chaves’ research into the Amazonic libraries of Iquitos in Peru and in the preservation of the knowledge and images found there “In the jungle there is a city, in this city there is a library, and in that library is the jungle”…“One fine day in the future someone like us will open these books and brochures, these old magazines and newspapers, and will try to understand through the shadows and the lights, through signs hard to decode, what is all that coming from the past."