Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 PERFORMANCE E OS MOVIMENTOS ESTÉTICOS DE VANGUARDA Ana Erica Reis da SILVA (FL- UFG/ CAPES-REUNI) [email protected] Jamesson BUARQUE (FL-UFG) [email protected] Resumo: A performance como gênero que flutua por entre fronteiras de outras linguagens artísticas não se enquadra em limites disciplinantes, vez que valoriza o processo de liberdade criativo. Ao perpassar por movimentos estéticos como Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo e a escola da Bauhaus, a performance funcionou como uma “mola” propulsora no que tange ser uma arte desprovida de regras e conceitos, visto que possibilitou aos artistas de cada estética experimentações das mais variadas, que iam desde um tipo de música diferenciada feita com ruídos até espetáculos deslumbrantes que misturavam teatro, circo, pintura e poesia. A partir dessas afirmações, pretendemos investigar como essas estéticas se relacionavam com a performance a fim de romper com a arte tradicional e propor novas formas, firmando-se como artes de vanguarda. Palavras-chave: performance; arte; estéticas; vanguarda. Abstract: The performance as a genre that floats among the borders of other artistic languages do not fit in disciplining limits, since it values the process of creative freedom. To pass by the esthetic movements such as Futurism, Dadaism, Surrealism and the Bauhaus school, the performance worked like a propelling "spring" in terms to being an art unprovided of rules and concepts, as allowed the artists of each one aesthetics a variety experimentation, that ranged from one type of different music with noises to stunning shows that mixed theater, circus, painting and poetry. From these affirmations, we intend to investigate how these aesthetics were related to the performance to break with traditional art and propose new ways, establishing itself as the vanguard arts. Keywords: performance, art, aesthetics, vanguard. É no sentido de construir uma linguagem diferenciada que a performance passa a apontar para tendências modernas e futurísticas onde o homem é quem transforma a sua realidade, e o produto de tudo isso provém da sua arte, agora intercedida por movimentos de vanguarda para mais tarde ascender na década de setenta como gênero artístico independente, através exercícios de improvisação associados a técnicas teatrais de dança, cinema, música e fotografia. Nessa época a performance se relaciona com movimentos de vanguarda como Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo e a escola da Bauhaus. Algumas dessas manifestações artísticas, como Futurismo e Dadaísmo, buscavam na performance apenas um meio de romper com a arte tradicional como aponta Jorge Glusberg1 (2009, p. 12): 1 GLUSBERG, Jorge. A arte da performance. Tradução Renato Cohen. São Paulo: Perspectiva, 2009. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 1 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 “Futuristas e dadaístas utilizavam a performance como um meio de provocação e desafio, na sua ruidosa batalha para romper com a arte tradicional e impor novas formas de arte”. A história da performance na modernidade, século XX, começa ainda no século anterior, por volta de 1896, na noite de 10 de dezembro(GLUSBERG, 2009, p. 13) , ano em que o poeta italiano Fillippo Tommaso Marinetti 2 retorna a Itália depois de uma temporada em Paris, e se depara com a peça Ubu Rei, uma criativa performance de Alfred Jarry3 que estreou no Théâtre de l’Oeuvre e Lugné-Pöe: Jarry, com a idade de 23 anos, não só escreveu uma peça fantasmagórica que demoliu os frágeis pressupostos dramáticos de sua época, atacando as convenções sociais e valendo-se das palavras para criar um clima onírico e delirante. Mais que isso, sua peça apresentou soluções novas para a cena, particularmente para a forma e atuação no que tange à entonação de voz e o uso de figurinos. Seus figurinos sepultaram a arcaica tradição realista do teatro. (GLUSBERG, 2009, p. 13). É com essa encenação que a performance começa a ser de certa forma “experimentada” nas primeiras noites futuristas também conhecidas como seratas, uma espécie de laboratório de pensamento em arte, onde alguns artistas que participam do Futurismo italiano, realizavam leituras de manifestos de poesias, além de encenações teatrais e apresentações de dança e música, a partir desses encontros surgiram propostas bastante inovadoras para a época, como a criação de peças de apenas 30 segundos. Marinetti se tornou uma figura célebre do Futurismo italiano por propagar a arte da performance para as mais diversas manifestações artísticas desde saraus agitados com declamações feitas por performers, com o intuito de dar certa dinâmica à velha leitura estática de poesia, à música de ruído, como ficaram conhecidas as performances musicais que eram apresentadas na sua luxuosa mansão, até mesmo os balés com performers vivos, estabelecendo a ideia de explorar as múltiplas possibilidades do corpo, e a pintura com obras que demonstravam como poderia lhe ser aplicado um manifesto teórico, no mais “A performance era o meio o meio mais seguro de desconcertar um público acomodado.” (GOLDBERG, 2006, p. 4)4. Os futuristas obtinham com a performance uma expressão diferenciada das outras linguagens artísticas, pois mesmo se associando a elas, o resultado estético final era diferenciado, pois pretendia não somente chamar a atenção do público para o que acontecia, mas fazer com que esse público participasse das ideias, como uma espécie de “balão de ensaio” citado por Glusberg (2009, p. 13) em Arte da performance. Para Roselee Goldberg (2006), os futuristas que a essa altura já haviam se propagado por outros países, principalmente europeus, utilizaram a performance como um gênero artístico independente, buscando propostas inovadoras com relação à arte tradicional: 2 Além de poeta foi também editor, jornalista e ativista político na Itália. Fundador do Futurismo publicou o manifesto do movimento no jornal Le Figaro de Paris em 20 de fevereiro de 1909. 3 Poeta, romancista e dramaturgo francês. É um dos inspiradores do teatro do absurdo. 4 GOLDBERG, Roselee. Futurismo. In: A arte da performance: do futurismo ao presente. Tradução Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2006. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 2 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 Em meados do século XX, os futuristas haviam estabelecido solidamente a performance como um meio de expressão artística independente. Em Moscou e Petrogrado (atual São Petersburgo), Paris, Zurique, Nova York e Londres, os artistas usavam-na como meio de transpor os limites dos diferentes gêneros artísticos, pondo em prática, com maior ou menor rigor, as táticas provocativas e ilógicas propostas pelos diferentes manifestos futuristas. Ainda que, em seus anos de formação, o futurismo parecesse consistir basicamente em tratados teóricos, dez anos depois o número total de performances nesses diversos centros era considerável. (GOLDBERG, 2006, p. 19). O Futurismo foi uma investida em quase todas as formas de expressão artística, e para isso tomou a performance como meio de disseminar as diversas propostas artísticas, sob influência de Marinetti, que fez com que a performance abrangesse os diversos campos de arte, como pontua novamente Goldberg (2006, p. 20): As teorias e apresentações futuristas abrangeram quase todas as áreas da performance. Foi esse o sonho de Marinetti, que clamara por uma arte que fosse “álcool, não bálsamo”, e foi exatamente essa embriaguez que caracterizou os crescentes círculos de artistas que vinham adotando a performance como um meio de difundir suas propostas artísticas radicais. “Graças a nós”, escreveu Marinetti, “chegará o tempo em que a vida deixará de ser mera questão de pão e trabalho ou uma trajetória de puro ócio: será uma obra de arte”. Essa premissa estaria na base de muitas performances subsequentes. Outro movimento que procurou associar a performance as mais variadas expressões artísticas foi o Dadaísmo, seu principal núcleo foi a cidade de Paris, se espalhou por toda Europa a partir da abertura do Cabaret Voltaire em Zurique no ano de 1916 (GOLDBERG, 2006. p. 40.). Este acontecimento é considerado um marco para o pensamento artístico, pois nele se deparavam artistas de toda Europa que iam para a Suíça, considerada uma cidade neutra nos tempos da guerra, ao se reunir esses artistas trocavam suas experiências, o que culminou no movimento Dadá. No entanto, o teatro-cabaré já era bem popular nas cidades alemãs, e foi de Munique que vieram as principais figuras do Cabaret Voltaire, Emmy Hennings5 e Hugo Ball6, juntos montaram um cabaré que tinha como programação a leitura de poemas, execução de performances musicais, mostra de pinturas, e por isso atraiu um grande número de artistas que buscavam na Suíça um lugar imparcial à guerra. Nessa época surgiram espaços conhecidos como “teatros íntimos” criados pela 5 Escritora, poeta, romancista e performer de nacionalidade alemã, esteve associada ao movimento Dadá na cidade de Zurique e integrante do grupo original do Cabaret Voltaire. 6 Poeta, escritor e filósofo alemão. Foi um dos principais integrantes do movimento Dadá, escreveu o manifesto dadaísta, e é considerado como o inventor da poesia fonética. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 3 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 figura de Benjamin Wedekind7, mais conhecido como Frank Wedekind, que encantou Ball com as suas montagens excêntricas, entre elas a mais famosa é Die Büsche der Pandora (A caixa de pandora), peça que foi censurada na Alemanha por mostrar uma mulher de carreira emancipada. As peças de Wedekind apresentavam performances provocativas que exploram a sexualidade antiburguesa, chegou até a se masturbar no palco. Suas montagens e performances de caráter mordaz foram de muita importância, já que foi considerado precursor da body art por suas encenações de cabaré nos anos de 1900-1910. No entanto, Wedekind não foi prestigiado como tal, como aponta Glusberg (2009, p. 14): Foi em Munique que Ball tomou contato e encantou-se com as montagens de Frank Wedekind: Kong Nicolò, Oder So ist das Leben (Rei Nicolau, ou Tal Qual a Vida) e Die Büsche der Pandora (A Caixa de Pandora). É importante destacar a importância de Wedekind. O mesmo foi sensivelmente prejudicado pela rígida censura de seu tempo, mas afora isso, foi com suas cenas de cabaré nos anos 1900 – 1910 o precursor da body art dos anos sessenta. Infelizmente Wedekind não tem tido esse reconhecimento. Dentre os cooperadores de Ball no cabaré Tristan Tzara8, Hans Harp9, Richard Huelsenbeck10 entre outros artistas e pintores, tinham a função de entreter o público sob a pressão de fazer algo diferenciado, e para isso, a declamação e a performance foram importantes para a busca do prazer na arte. Após cinco meses, desentendimentos com Ball foram inevitáveis para o fechamento do Cabaret Voltaire. Tzara, Harp e Marcel Janko11 partiram e fundaram o Dadá, sem contar com a colaboração de Ball que via no movimento uma manifestação artística problemática, pois a intenção era a de fundar uma “anti-arte” (GLUSBERG, 2009, p. 15), seus resquícios geraram o que mais tarde se configurou no Surrealismo. As manifestações Dadá são caracterizadas por manifestações tumultuosas e agressivas. Dois eventos são importantes para marcar esse movimento em Paris, que trazia a convergência de linguagens variadas com o intuito de causar espanto no público: Dois eventos fundamentais aconteciam em Paris: em maio a estreia de Parade, um balé de Jean Cocteau, com cenários e figurinos de Pablo Picasso e música de Erik Satie. Um mês depois estreava a peça Les Mamelles de Tirésias de Guillaume Apollinaire, pela que o próprio autor denominava, profeticamente de um “drame sur-realiste”. (GLUSBERG, 2009, p. 15). 7 Ator, dramaturgo e romancista alemão. É um dos precursores do Expressionismo. Sua peça teatral mais conhecida é “O despertar da primavera” (1891). Acredita-se que suas obras já apontam para o teatro do absurdo. 8 Pseudônimo de Samuel Rosenstock, foi um poeta romeno, mas viveu na França, tornando-se escritor, poeta e ensaísta francês. Participou da fundação do movimento dadaísta. Após o declínio desse, envolveu-se no Surrealismo. 9 Pintor e poeta alemão naturalizado francês. Após sair do movimento Dadá, se junta aos surrealistas. 10 Poeta, escritor de relatos de viagens, baterista, médico e psicanalista alemão, integrante do grupo que fundou o Dadaísmo, atuou no Cabaret Voltaire onde praticou a poesia simultaneísta. 11 Poeta e pintor israelense. Praticou a poesia "rumorista", criada por Hugo Ball. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 4 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 Os últimos anos do movimento Dadá em Zurique estivera sob organização de Tzara, que na noite de 23 de julho de 1918 (GOLDBERG, 2006, p. 63) organizou a “noite Tristan Tzara” na Salle zur Meise, onde leu o primeiro manifesto dadaísta. Mas, a última soirée aconteceu em 9 de abril de 1919 em Zurique, na Saal zur Kaufleuten. Esse episódio foi paradigma para as noites que se seguiram em Paris, pelo fato de reunir uma multidão de pessoas, cerca de 1.500, assistindo a performances que uniam o que o dadaísmo pretendia estabelecer, instaurar o novo a partir da anarquia e da abstração. Em 26 de maio de 1920 é realizado o Festival Dadá (GOLDBERG, 2006, p. 74) no teatro Salle Gaveau, uma multidão é atraída pelas performances inusitadas executadas pelos dadaístas, algumas com táticas do terrorismo, uma delas foi organizada por André Breton12, Paul Éluard13, Philippe Soupault14 e Theodore Fraenkel15, como relata Goldberg (2006, p. 74): Breton aparecia com um revólver preso a cada têmpora, Éluard usando um tutu de bailarina, Fraenkel de avental, e todos os dadaístas com “chapéus” afunilados na cabeça. Apesar desses preparativos, as performances em si não foram ensaiadas, de modo que muitos dos eventos começaram com atraso e foram interrompidos por gritos do público enquanto os performers tentavam pôr suas ideias nos eixos. Após esta apresentação e de outros episódios como a famosa excursão dadaísta a abandonada igreja de St. Julien le Pauvre16, as divergências entre Tzara e Breton se aprofundavam, e a separação é assinalada pelo fato de que Breton, Éluard, Louis Aragon17 e Benjamin Péret18 queriam uma arte que ultrapasse a provocação instaurada pelos dadaístas. O marco dessa separação acontece com o Manifesto Surrealista no ano de 1924 (GLUSBERG, 2009, p. 20), quando Breton 12 Escritor e poeta francês, também teórico do Surrealismo. Pseudônimo de Eugène Emile Paul Grindel, poeta francês, participou do movimento dadaísta, É conhecido como O Poeta da Liberdade, é o mais lírico e considerado o mais bem dotado dos poetas surrealistas franceses. 14 Escritor e político francês, um dos iniciadores do dadaísmo na França. Em 1920, juntamente com Breton, funda o surrealismo, mas é expulso do grupo seis anos mais tarde por ser contrário à sua organização. 15 Participou do dadaísmo juntamente com Breton, Éluard e Philippe Soupault. 16 “O grupo convida “seus amigos e seus adversários” para este evento que prometia reproduzir um típico passeio de turistas ou colegiais. É lógico que a verdadeira finalidade era a mesma sempre, a de desmistificar atitudes. Umas cinquenta pessoas se juntam para a visita, que transcorreu sob uma forte chuva. Breton e Tzara provocando o público com discursos, Ribemont-Dessaignes se faz de guia- diante de cada coluna ou estátua ele lê um trecho, escolhido ao acaso, do Dicionário Larousse. Depois de uma hora e meia os espectadores começam a se dispersar. Recebem então pacotes contendo retratos, ingressos, pedaços de quadros, figuras obscenas e até notas de cinco francos com símbolos eróticos.”. GLUSBERG (2009, p. 19; 20). 17 Poeta e escritor francês, funda juntamente com Soupault a revista Littérature, voltada ao surrealismo. 18 Poeta surrealista francês, sua influência pode ser percebida em escritores como Octavio Paz e César Moro. Participou do movimento Dadá. Ao lado de Pierre Naville, foi responsável pelos primeiros números da revista La Révolution Surréaliste. 13 Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 5 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 lança a base desse novo movimento, conceituando o que viria a ser o Surrealismo, como pontua Goldberg (2006, p. 79): O conceito de “automatismo” estava no âmago da definição inicial de Breton: “Surrealismo: substantivo masculino, puro automatismo psíquico por meio do qual se tenta expressar oralmente, por escrito ou de qualquer maneira, o verdadeiro funcionamento do pensamento.” Além disso, segundo a definição, o surrealismo se fundamentava na crença na “realidade superior de certas formas de associação até hoje desprezadas, na onipotência do sonho, no livre jogo do pensamento”. Muitas das performances executadas em 1920 já demonstravam estilo surrealista, embora ainda estivessem amparadas nos ideais dadaístas de simultaneidade e acaso, adotando o automatismo psíquico como processo criativo. Um bom exemplo do tipo de espetáculo que apresentava esses princípios, porém sem aprovação dos surrealistas, foi o balé Relâche, cuja estreia estava prevista para 27 de novembro de 1924 (GOLDBERG, 2006, p. 80), sob organização de Franz Picabia19 e Erik Satie20 e colaboração de Marcel Duchamp21, Man Ray22 e o francês René Clair23. O termo Relâche significa a suspensão temporária de apresentações, pois no dia da estreia o bailarino principal, Jean Borlin, ficou doente daí então um cartaz escrito “Relâche” foi posto na porta do Théâtre des Champs-Elysées, para o público soou mais como um trote dadaísta. O espetáculo foi de fato encenado em três de dezembro como relata Goldberg (2006, p. 80): Mas um espetáculo deslumbrante aguardava os que voltaram no dia 3 de dezembro. De início assistiram a um breve prólogo cinematográfico que dava algumas dicas sobre o que viria a seguir. Depois, viram-se diante de uma enorme cortina de fundo com discos metálicos, cada um refletindo uma luz fortíssima. O prelúdio de Satie, adaptação de uma famosa canção estudantil, “O vendedor de nabos”, logo, levou o público a vociferar diante do coro escandaloso. A partir daí, gritos e gargalhadas acompanharam a orquestração afetadamente simples e o desenrolar do “balé” burlesco. O sucesso do balé Relâche não pode conter o progresso do movimento surrealista, que tinha como principal proposta criticar o teatro realista. Para tanto, foram criadas performances que causavam escândalos e provocações, tais como representar uma multidão numa só pessoa, ou peças sem textos a serem declamadas. O Surrealismo consegue realizar esse tipo de performance por meio dos estudos psicológicos desenvolvidos no âmbito da arte, uma vez que os domínios 19 Pintor e poeta francês publicou o primieiro número de sua revista dadaísta "391” contando com colaboradores como Apollinaire, Tristan Tzara, Man Ray e Arp. Cria com Breton a revista “491” de forte característica surrealista. 20 Compositor e pianista francês. Foi precursor de movimentos artísticos como minimalismo, música repetitiva e teatro do absurdo. 21 Pintor, escultor e poeta francês, tornou-se cidadão norte-americano a partir de 1955. É um dos precursores da arte conceitual e introduziu a idéia de ready made como objeto de arte 22 Fotógrafo, pintor e anarquista norte-americano, responsável por inovações artísticas na fotografia. 23 Nome original de René Lucien Chomette. Ator e diretor de cinema francês. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 6 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 da mente, em especial o inconsciente, se tornam obra prima para empreender novas performances que afetariam o teatro, pois os quesitos que serviram de alicerce para que isso acontecesse, veio dos ideais do Dadaísmo e Futurismo - acaso, simultaneidade e surpresa. Próximo ao Surrealismo que tem atitudes parecidas ao que mais tarde se configura como happening, a escola da Bauhaus surge na Alemanha onde desenvolvia inúmeras experiências cênicas, sendo a primeira escola a ministrar workshops de performance. O artista plástico Oskar Schlemmer24 que lecionou na escola desenvolveu uma série de danças e criou o Ballet Triádico, no qual desenvolveu uma relação entre movimento, forma e espaço, fazendo uso de formas geométricas com elementos dramáticos que representavam a solidão e o infinito, transformando a imagem do corpo humano em objetos que dialogavam com uma dimensão abstrata inovadora para a época. Glusberg cita quais eram os objetivos da escola: Cumpre ressaltar que os objetivos da Bauhaus eram o de se buscar uma fusão das artes e dos artesanatos em geral, diminuindo ao mesmo tempo, o intervalo entre as artes e a evolução industrial. O objetivo principal dessas buscas era contribuir para uma melhoria na qualidade de vida do homem. A I Semana da Bauhaus, em 1923, teve como título: “A Arte e Tecnologia – Uma Nova Unidade”, antecipando em mais de quarenta anos a consolidação da chamada arte intermediária e os “Experiments on Art and Tecnology”, EAT, dos Estados Unidos. (GLUSBERG, 2009, p. 21). A Bauhaus era uma instituição dedicada ao ensino das artes, foi a primeira escola a oferecer o primeiro curso de performance, uma oficina de teatro, considerada essencial para o currículo interdisciplinar. A primeira performance apresentada no dia 17 de agosto de 1923 (GOLDBERG, 2006. p. 88) foi constituída por um grupo sob a direção de Schlemmer, cujo título era O gabinete de figuras I utilizava das técnicas de cabaré que se iniciou no dadaísmo. Mas é a performance de Gabinete de figuras II que alcançou grande sucesso, sendo uma variação da primeira, com a projeção de figuras metálicas sobre arames que se intercalavam sobre planos. Schlemmer, diretor teatral da Bauhaus, tinha a incrível capacidade de criar performances inovadoras que se tornaram o centro das atividades da escola. A escola da Bauhaus mantinha-se unida por meio do ideal de que deveria lecionar todas as artes e se tornar um grande núcleo cultural através dos eventos sociais que organizava. As “festas da Bauhaus” se tornaram conhecidas e eram planejadas por Schlemmer e seus alunos, o que dava ao grupo a oportunidade de experimentar novas performances, algumas delas foram Gabinete de figuras e Meta. Os roteiros eram simples e definidos por palavras como: “livre de qualquer acessório”, daí os atores representavam conforme instruções que eram definidas por placas como: “entrada em cena”, “paixão”, “intervalo”, “clímax”, além disso, eram postos objetos no palco como poltronas, escadarias, porta, barras paralelas, com os quais os atores tinham de encenar conforme as ações instruídas pelas placas (GOLDBERG, 2006, p. 89). 24 Pintor alemão. Começou a lecionar na Bauhaus em 1920, depois assume a direção do teatro da escola. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 7 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 É Schlemmer quem desenvolveu uma teoria mais específica sobre performance, baseado em seus vários manifestos sobre os objetivos da Oficina de Teatro e em escritos particulares, ele analisava a problemática existente entre teoria e prática e expressou esse apontamento na oposição clássica da mitologia grega, Apolo e Dionísio, aqui recuperado em nosso estudo por retomar o princípio da história do ritual que culmina no mito da morte Dionísio e o surgimento da tragédia grega. Apolo representaria, portanto, a teoria, e a prática simbolizada por Dionísio. O espaço onde seriam representadas as performances da Bauhaus era uma grande preocupação para Schlemmer e seus alunos, pois deveria priorizar espaços que desafiassem o comum e que unificassem geometria e corpo, configurando uma complexa abstração como afirma Goldberg (2006) ao relatar uma aulademonstração de Schlemmer que contemplava a ocupação do espaço de forma performatizada: Em uma aula-abstração realizada na Bauhaus em 1927, Schlemmer e alunos nos ilustram essas teorias abstratas: primeiro, a superfície quadrada do assoalho foi dividida em eixos e diagonais bisseccionais, completados por um círculo. Depois, arames esticados cruzam o palco vazio, definindo o “volume” ou a dimensão cúbica do espaço. Seguindo essas diretrizes, os bailarinos dançaram dentro da “teia espacial linear”, com seus movimentos ditados pelo palco já dividido geometricamente. A segunda fase acrescentou figurinos enfatizando várias partes do corpo, levando a gestos, caracterizações e harmonias em cores abstratas, propiciadas pelo vestuário colorido. Assim, a demonstração levou os espectadores, através da “dança matemática”, à “dança especial” e à “dança gestual”, culminando na combinação de elementos do teatro de variedades e do circo, sugeridos pelas máscaras e objetos de cena na sequência final. (GOLDBERG, 2006, p. 94). É durante a turnê de teatro em Dessau na Alemanha, 1926 (GOLDBERG, 2006, p. 107), que a Bauhaus obteve repercussão internacional. O repertório das performances incluía Dança no espaço, Dança das ripas, Dança das formas, Dança metálica, Dança de gestos, Dança de arcos, Coro das máscaras, entre outras. A última performance realizada pela escola aconteceu em Paris em 1932, com a apresentação do Balé triádico no Congresso Internacional de Dança, quando foi fechada, o novo diretor , Mies van der Rohe, procurou dirigir a escola como uma instituição privada. A Bauhaus foi de fundamental importância para difundir a arte da performance, uma vez que reforçou sua importância como meio de expressão independente. É com o surgimento do Nazismo na segunda guerra mundial que a Bauhaus foi fechada e boa parte de seus professores exilados pela guerra tiveram de buscar asilo na América do Norte, onde é fundada uma nova escola, a Black Mountain College, uma espécie de instituição experimental25, e nesta escola que estuda o 25 Baseava-se numa pequena comunidade que aos poucos obteve a reputação de um refúgio educacional interdisciplinador, por isso atraia os mais diversos artistas, escritores, dramaturgos, bailarinos e músicos. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 8 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 músico John Cage26, que desenvolveu pesquisas que fundem pensamento oriental e música ocidental, incorporando a estas uma mistura de silêncios, ruídos e preceito zen fundado na não previsibilidade, juntamente com o bailarino Merce Cunningham 27 que propôs uma dança fora de compasso, e teve sua pesquisa como uma referência para a dança moderna. Sobre importância dessas personalidades para a divulgação da performance no estado americano, Glusberg (2009, p. 23) afiança: “Rapidamente o Black Moutain College se torna o ponto de geração das novas manifestações artísticas, e foco da vanguarda americana e internacional, mantendo viva, dessa forma, a corrente precursora da arte da performance.”. Sempre buscando o imprevisível e a alogicidade como base para o processo criativo da performance, surge em Nova York, sob forte influencia de Cage, o movimento que ficou conhecido por happening, que tinha como conceito eventos teatrais espontâneos que proporcionassem a participação do público, além de ser uma junção de várias formas de arte como nos afirma Glusberg (2009) numa obra criada por Cage e que assinala esses propósitos: Com Untitled Event (Evento sem Título), Cage se propôs uma fusão original de cinco artes: o teatro, a poesia, a pintura, a dança e a música. Sua intenção era conservar a individualidade de cada linguagem e, ao mesmo tempo, formar um todo separado, funcionando como uma sexta linguagem. Nessa obra Cage aplicava sua ideia sobre o acaso e a indeterminação, que ele já vinha testando na música, nas suas tentativas, junto com o bailarino Merce Cunningham, de buscar uma renovação no balé. (GLUSBERG, 2009, p. 25). Entretanto, apesar de criar um espetáculo que teve grande repercussão por diversas partes do mundo como Japão e Europa, não foi Cage quem criou o termo happening, mas sim Allan Kaprow28, artista da corrente do Expressionismo Abstrato, figura central no surgimento dessa modalidade artística. O happening surge paralelo ao movimento hippie, num período permeado pelas experimentações e divergências culturais, o próprio nome que significa acontecimento ou evento seria uma nova maneira de definir uma forma mais livre na relação entre atuante-texto-público, típica do teatro. O happening é um dos predecessores diretos da performance, tem o intuito de buscar a linguagem como representação a partir de experimentações que estão ligadas tenuamente pela linguagem teatral, no entanto, críticos e performers acreditam que deve ser conservada uma distinção entre a performance e o happening. Contudo, a principal diferença entre esses dois gêneros condiz com a estética da representação, no happening não há uma preocupação com o resultado estético final e sim com o processo e a interação, pois busca apoio na anarquia, e é realizado em situações de caos que não há a ausência de limites, objetiva envolver 26 Compositor, poeta, pintor, teórico musical experimentalista e escritor norte-americano. Compositor da famosa peça 4'33", pela qual foi reconhecido. 27 Bailarino e coreógrafo norte-americano. Possuía como características marcantes o caráter experimental e o estilo vanguardista. Foi responsável por mudar os rumos da dança moderna. 28 Pintor estadunidense e um dos pioneiros no estabelecimento dos conceitos de performance. Atuou no desenvolvimento do happening nos finais da década de 50 e da década de 60. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 9 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 completamente o espectador que era agredido e importunado, e isso faz com que muitos estudiosos não o considerem manifestação artística, mas por acontecer ao vivo e manter a tríade – atuante, público, texto – é considerado como uma forma de teatro. Já a performance, se preocupa com o resultado estético final, objetiva dar ordem ao caos, pois se situa dentro de limites precisos, como não agredir nem aborrecer o público. A performance estaria muito mais próxima do happening, no que condiz a essência, ambos são movimentos de contestação, se apoiam na live art (arte ao vivo), há uma tonicidade para o signo visual em detrimento da palavra escrita, mas se pode afirmar que essas duas artes não são a mesma expressão. O que vai ocorrer na passagem do happening para a performance é um aumento do caráter estético, como confirma Renato Cohen29 (2004, p. 134) A partir da classificação em modelo mítico e modelo estético podemos dizer que a principal característica na passagem do happening para a performance é o “aumento de esteticidade”: se o happening marcou a radicalização do que chamamos “teatro mítico”, a performance vai tender para uma maior aproximação com o “Teatro Estético”. Uma divergência existente entre ambos seria com relação ao trabalho, no happening há um grupo, um trabalho coletivo, enquanto na performance prevalece a individualidade. Cohen (2004) apresenta um quadro em que podemos notar o quanto esses dois gêneros artísticos estão próximos, separados apenas conceitualmente por uma linha muito tênue: Prancha 6 Período Sustentação Fio Condutor Happening 1960-1970 Ritual Sketches (algum controle) Forma de Grupal Estruturação Ênfase Social Integrativa Objetivo Terapêutico Anárquico Material Plástico Tempo de Apresentação 29 Performance 1970-1980 RitualConceitual ColagemSketches (aumento de controle) Individual (colaboração) Individual Utopia Pessoal Estético Conceitual Eletrônico Evento (sem repetição) COHEN, Renato. Performance como linguagem. 2 ed. São Paulo: Perspectiva, 2004. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 10 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 (COHEN, 2004, p. 136). Conforme a tabela acima fica claro que no happening o que prepondera é o trabalho em grupo, enquanto que na performance a marca essencial é o individual que marca o modo como o artista percebe o mundo a partir de seu próprio ego. Esse individualismo que é fundamental na performance tem motivos sociais, nos quais os valores cultivados são o niilismo e o individualismo, e pelo fato dos artistas que se mantinham associados a grupos, decidirem partir para uma experiência individual. Quanto às encenações, na performance a escolha do tema é livre e pode ser apresentado diversas vezes, envolve uma produção sofisticada de figurinos, iluminação etc. e a intervenção do público é menor ou nula, uma vez que prevalece um jogo entre performer e personagem e não entre performer e público, mas isso não significa que não poderá haver interação entre ambos, o que ocorre é que a abertura para o público é menor, o que realmente chama a atenção é a habilidade do artista. No happening, não é permitido improviso durante a apresentação que geralmente só ocorre uma única vez, depende exclusivamente do público, o artista funciona como um mestre de cerimônias, a ênfase do espetáculo se dá na utilização de material plástico, influência de artistas como Andy Warhol30, Claes Oldenburg31, Alan Kaprow entre outros. Há ainda a incorporação de elementos que contribuem para o processo de anarquia como magia, rituais terapêuticos, luta de classes etc. A respeito do processo anárquico que é marca essencial do happening, Cohen (2004) afirma: No processo de atuação não existe uma limitação estético-qualitativa para alguém atuar. O processo é anárquico. Cada um pode subir ao palco e “dar o seu recado”: Andy Warhol faz experiências com transexuais, Steve Reich pendura microfones sobre alto-falantes provocando microfonias, John Cage conduz seus concertos aleatórios, Yves Klein mergulha suas modelos nuas em piscinas de tintas. Toda experimentação é possível, Bob Wilson trabalha com pessoas e não com atores-intérpretes – os loucos de suas cenas iniciais são verdadeiros loucos, suas donas-de-casa são donas-decasa e não atrizes interpretando donas-de-casa e assim por diante. (COHEN, 2004, p. 133). Toda essa experimentação ocasionada pela veia anárquica do happening provoca uma ruptura com o estilo teatral convencional, já que não há uma preocupação com a apresentação e tão pouco com representação. As situações são imprevisíveis, de modo que o público não sabe o que vai acontecer e pode ser requisitado a qualquer instante para representar desde uma situação corriqueira a algo inusitado, constituindo uma espécie de experimentação da arte. A partir dos anos setenta, o happening vai incorporar novos elementos a sua caracterização, pois agora é imprescindível converter o artista na própria obra, o que mais tarde vai denominar o que ficou conhecido por body art, outra grande predecessora da performance enquanto instrumento de linguagem, assim surge a 30 Pintor e cineasta estadunidense foi a figura mais representativa do pop art. Escultor estadunidense de origem sueca. É um dos mais importantes representantes do pop art americano. 31 Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 11 Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/ Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e Psicologia – ISSN 2178-1281 concepção do artista como uma possibilidade de base artística da sua ação, representando uma mensagem estética que funde em si próprio. O happening e a body art vão agrupar tendências que vão desde a dança ao teatro, seguindo sempre o mesmo intuito com relação ao corpo humano, a de que ele pode ser um instrumento que concebe arte, como afirma Glusberg (2009) ao tratar da constituição da body art como atividade artística: O denominador comum de todas essas propostas era o de desfetichizar o corpo humano – eliminando toda exaltação à beleza a que ele foi elevado durante séculos pela literatura, pintura e escultura – para trazê-lo à sua verdadeira função: a de instrumento do homem, do qual, por sua vez, depende o homem. Em outras palavras, a body art se constitui numa atividade cujo objeto é aquele que geralmente usamos como instrumento. (GLUSBERG, 2009, p. 42; 43.) Na body art o corpo é a matéria-prima e nele está imbricada a essência da arte, assim o sujeito é o próprio objeto artístico. Essa tendência vai encontrar na performance sua expressão mais próxima por ser um gênero abrangente e permitir duas conotações imprescindíveis: a de uma presença física e a de um espetáculo. Desse modo, podemos perceber que tanto o happening quanto a body art, enquanto expressões corporais de ordem experimental, aproximam-se em alguns aspectos da performance, uma vez que ela é multifacetada, híbrida, busca a renovação dos conceitos tradicionais da arte, e tem como base o corpo que expressa as múltiplas situações exteriores em forma de arte, assim as tendências que surgiram só vieram a somar na busca por uma arte que fosse livre do artificialismo e do ilusionismo, ao propor uma arte espontânea, livre e de grande expressão artística que é a performance no sentido que conhecemos hoje. Podemos afirmar que de fato, a performance enquanto gênero que se permite flutuar por entre as fronteiras de outras linguagens artísticas, funcionou como uma mola propulsora para que todos os movimentos desde o Futurismo italiano a body art pudessem ter a eficácia artística que tiveram, já que permitiu aos artistas envolvidos em cada estética experimentações das mais variadas que iam desde uma tipo de música diferenciada feita com ruídos, uma apresentação ao vivo com performances inusitadas até mesmo unir pintura, música e poesia numa única obra. Tudo isso só foi e é permitido porque a performance é uma arte que não se enquadra em limites disciplinantes, uma vez que valoriza o processo de liberdade criativo. Textos Completos: II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí: História e Mídia – ISSN 2178-1281 12