1 INVASÃO1 Invasion Diane Magali Schuch2 SalèteReginaProtti3 RESUMO O presente artigo discorre sobre a minha poética a qual é baseada em estudos sobre os artistas Beatriz Milhazes, Joana Vasconcelos, Ernesto Neto, que são propulsores do movimento da criação. Desencadeia a necessidade de refletir sobre meu próprio processo de criação, no campo da estética do cotidiano quando transformo técnicas artesanais e materiais do dia em arte. Esta prática, observada com cuidado no trabalho dos artistas já citados somada a aproximação com o trabalho livre e não menos expressivo de artesãs de uma comunidade do interior do Rio Grande do Sul, vem fundamentar a pesquisa poética aqui apresentada, quando promove aproximações entre a arte e o artesanato. Com o objetivo de desmistificar falsas ideias sobre a arte e artesanato e o quanto próximos os dois fazerem podem estar, sem que a contaminação de um sobre o outro seja negativa, mas o contrário, provocando-a de possibilidades, crescimento, de conhecimento e de criações. A metodologia usada compreende dois focos de referências: a pesquisa bibliográfica das obras de Beatriz Milhazes, Joana Vasconcelos e Ernesto Neto e ainda o aprofundando o processo de produção poético que levam a exposição individual: Invasão. Palavras-chave: arte – artesanato – estética – criação. ABSTRACT This article discusses my poetics which is based on studies of the artists Beatriz Milhazes, Ernesto Neto, Joana Vasconcelos, which are thrusters of the movement of creation. Unleashing the need to reflect on my own process of creation in the field of aesthetics of everyday life where transform everyday materials and craft techniques in art. This practice, carefully observed in the work of the artists already mentioned plus the rapprochement with the free and no less expressive work of artisans of a community of Rio Grande do Sul, comes in support of poetic research presented here when promotes approaches between art and craft in order to demystify the possibilities and how close the two they may bewithout the contamination of one over the other is negative, but otherwise causing the opportunities, growth, knowledge and creations. The methodology used includes two foci of references: the bibliographical 1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como pesquisa para conclusão do curso de Artes Visuais Bacharelado da UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. 2 Acadêmica do Curso de Artes Visuais Bacharelado pela UNIJUÍ. 3 Professora Mestre orientadora da pesquisa. 2 research of Beatriz Milhazes, Ernesto Neto and Joana Vasconcelos and deepening the process of poetic production that take solo exhibition: Invasion. Keywords: art – craft – estetica – creation. INTRODUÇÃO Chamo atenção para o título “Invasão” obra exposta nos dias 27 e 28 de novembro de dois mil e doze, na Sala de Exposições da Unijuí Java Bonamigo. A pesquisa começou com estudos feitos para a elaboração do trabalho de conclusão da licenciatura em Artes Visuais. Estabelecer relações entre a pintura, a arte, o artesanato, e o fazer popular, torna-se necessário, pois todas se alimentam reciprocamente. Desde o inicio as manifestações artísticas eram vistas como meros objetos de decoração e dessa forma sugere o desejo, a busca por torná-los mais do que meros enfeites transformá-las em arte. A finalidade de minha pesquisa promove a aproximação entre o artesanato e a arte. Depois de desenhar, explorar transparências em materiais sintéticos, neste momento a necessidade de costurar e pela observação das práticas artesanais do crochê, bordado, aliando os tecidos com suas texturas, cores, estampas e cortes esta investigação chega ao fazer artístico. O presente artigo traz como referência artistas que fazem parte dessa construção, como artista plástica Beatriz Milhazes (Rio de Janeiro-1960), nas suas obras em que explora o efeito decorativo, motivos ornamentais e também nas que se refere aos arabescos. A artista Joana Vasconcelos (Paris-1971) explora materiais e técnicas populares como o crochê, bordado, impressão de imagens religiosas, garrafões de vinho, cruzando tradição e modernidade e o artista Ernesto Neto em sua obra “Dengo”, na qual incorpora em seu trabalho elementos reais, como instrumentos musicais, latas de cerveja ou doces e balas. Dengo é um convite para o público interagir de forma descontraída com as estalactites gigantes em forma de gota. Construída toda em crochê e com várias cores, trazendo uma rara e complexa discussão sobre cultura brasileira. A opção de estudo de obras desses três artistas dá-se, nesta pesquisa pelo caráter artesanal de algumas obras nas quais as mesmas optam pelo uso de técnicas populares, nestas obras percebemos que exploram o efeito decorativo, motivos ornamentais e arabescos, materiais e técnicas populares de trabalhos 3 manuais como o crochê e o bordado que também se encontram como referencias nas produções das artistas aqui presentes. DESENVOLVIMENTO Desde os meus primeiros estudos, trago como tema de minhas pesquisas a questão decorativa. Primeiro com fitas de cetim, enfatizando o movimento corporal bem como o movimento das próprias. Depois essas fitas foram parar no papel, desenhadas, insinuando movimento e aos poucos, aprofundando meus estudos nos artistas já mencionados. Neste último trabalho essas formas foram maximizadas 4. Aproveitando as sugestões das formas, cores e tramas que já aparecem em seus trabalhos. O encontro com esses artistas me fez descobrir possíveis relações da arte com o artesanato que desvelam questões, e procedimentos técnicos. Os três artistas gostam de brincar com o lúdico, sobretudo o psicodélico, o colorido é presença constante na maioria das obras. Entretanto, a partir de práticas e recursos cotidianos buscam um meio de chamar a atenção dos espectadores fazendo-os se reconhecer na obra e aos poucos, mostrar que arte esta ao alcance de todos e que ela pode estar em qualquer lugar, que com sensibilidade é possível percebê-la. Como lembra Oscar Wilde, a arte imita a vida e, a vida imita a arte, não podemos deixar escapar nem uma, nem a outra pelos vãos dos nossos dedos. Esta pesquisa poética esta acompanhada de uma grande carga de conhecimentos e vivências adquiridas durante o curso. Todo um estudo realizado sobre as artesãs e os artistas plásticos foram feitas anteriormente e este estudo acaba por apresentar-se nesta exposição com medidas gigantes, maximizadas. Continuo costurando, fazendo o tempo a matéria prima. Vetor para os sentidos. Roubo tempo do tempo para costurar. Abrir um espaço de tempo para o tempo ocupar seu lugar. Namesma medida que a linha costurada engorda a espessura criando corpo no mundo – sua presença – o tempo se torna o atestado de sua inalcançável imaterialidade (DERDYK, 1997, p. 25.) 4 Maximizar: nesta pesquisa o termo maximizar é uma proposta da linguagem visual, significa agigantar, tomar todo o espaço o resultado do processo de pesquisa poética se dará através de formas gigantes, maximizadas que ocuparão todo o espaço da sala de exposição. 4 A necessidade da utilização da costura neste trabalho se ampliou, e os pequenos arabescos são agora gigantes, procuram invadir todo o ambiente permitindo com que os espectadores interajam com eles. Criando um espaço de descobertas, pois em cada retalho costurado há algo a mais para se descobrir. Como podemos observar na imagem a seguir: Figura 1 – Foto detalhe obra “Invasão” 2012 – Diane M. Schuch Podemos constatar na obra “Invasão”, a presença dos bordados, arabescos, e flores de fuxico, motivos que nos remete a questão feminina, o trabalho das mulheres que tecem que bordam, também tendo essa relação com a estética do cotidiano. A costura é o rio que vai, eu sou a pedra que fica. Rio é o verbo, pedra é p sujeito. A linha costurada petrifica o verbo num estado presente que ao correr se congela na imagem de um eu. Coisa sucumbida pela própria ação. Não deixa de ser uma maneira de passar o tempo (DERDYK, 1997, p. 9). Minha poética remete a questão feminina, o trabalho das mulheres que tecem que bordam, tendo também relação com a estética do cotidiano. Da mesma forma que as artesãs e os artistas já citados, também me aproprio de materiais, objetos, técnicas por estes usados. Nesta investigação também transito pelos fazeres do universo feminino o crochê, o bordado, a costura técnicas artesanais que normalmente são passadas de geração para geração, aparecem como motivo para 5 novas criações. Diversidade de cores, tons vibrantes, a presença de formas geométricas, bordados. É a partir dos arabescos que a obra acontece. A ação repetitiva de costurar, enrolar, cortar, unir, furar, amassar, apontar um perfil duplo. Pendular. O pêndulo é uma linha curva e continua, balançando entre dois pontos. Entre o movimento que dura e o instante que se repete. Entre a permanência e o instante que me escapa.Entre a necessidade de ação e o senso de inutilidade (DERDYK, 1997, p. 20). A obra aparece maximizada, na intenção de chamar atenção dos espectadores de não simplesmente passar o olhar, mas que esse olhar aconteça demoradamente e pensem sobre o trabalho, revertendo a rotina em que normalmente fizemos, consumimos gratuitamente e não pensamos. Mas o olhar é também filho de uma história de vida, herdeiro de uma saga emocional que aguça nossas percepções num sentido e as abranda em outros, que nos faz mais sensíveis a certas formas e cores e situações do que às outras (MORAIS, 2001, p. 39). O olhar é muito mais complexo do que imaginamos. Normalmente olhamos e vemos, gostando ou desgostando daquilo que nosso olhar capta. Nossa impressão é de as coisas lá fora são exatamente com as vemos. De fato o que acontece ao nosso redor mexe com nossa inteligência e nossa sensibilidade. Como todos os nossos sentidos possuem limitações, nosso olhar é atraído para aquilo que o chama atenção sendo agradável ou desagradável, estimulando a inteligência, a sensibilidade, faz o reconhecimento do que viu, filtrando o que interessa. Toda cultura humana, por menos conhecida e mais modesta que seja, apresenta relevante produção artística. E esta universalidade arte apareceme como primeira indicação da sua característica de necessidade do homem (MORAIS, 2001, p. 19). A arte é também resultado do que vem acontecendo na sociedade, conforme a sociedade se modifica, os objetos da arte também sofrem modificações. Pelos artistas estudados percebe-se que a Arte Contemporânea é marcada pelo uso de materiais variados, pela quebra dos paradigmas da concepção tradicional e pela liberdade de atuação do artista e pelas implicações que causa na sociedade. 6 A metodologia usada compreende dois focos de referências: a pesquisa bibliográfica das obras de Beatriz Milhazes, Joana Vasconcelos e Ernesto Neto e ainda o aprofundando o processo de produção poético que levam a exposição individual: Invasão. É de conhecimento público que a arte contemporânea é marcada pelo uso de materiais variados e pela mudança dos paradigmas, sobretudo nos modelos tradicionais da pintura e escultura. Os artistas buscam mais originalidade e liberdade de atuação, não querem mais compromissos institucionais que os limitem, ou seja, querem criar seu trabalho sem se preocupar em apresentar em suas obras, temáticas impostas, sejam elas religiosas ou políticas. Devido ao fato de os artistas contemporâneos não serem mais financiados por instituições, adquirem mais liberdade para retratar significados pessoais às suas obras. Assim o contemporâneo é, de determinada perspectiva, um período de desordem informativa, uma condição de perfeita entropia estética. Hoje não há mais qualquer limite histórico. Tudo é permitido (DANTOS, 2006, p. 15). Portanto, arte possibilita uma maior relação entre as pessoas e o mundo, de forma que permite conhecermos diversas culturas, povos, e possibilita a liberdade imaginativa, interpretativa, expressiva de tudo que nos cerca, fica próxima dos fazeres da vida. Através das artes temos a representação simbólica dos traços espirituais, materiais, intelectuais e emocionais que caracterizam a sociedade ou o grupo social, seu modo de vida, seu sistema de valores, suas tradições e crenças (BARBOSA, 1998, p. 16). O homem através da arte interpreta a vida para que o mundo saiba o que pensa, para divulgar as suas crenças ou as de outros, para estimular valorizar conhecer a si mesmo e aos outros, para explorar novas formas de olhar e interpretar objetos e cenas. Pode-se dizer que o fazer artístico é um conjunto de procedimentos utilizados para realizar obras, e no qual aplica sensibilidades, conhecimentos, saberes populares, os saberes que carrega consigo oriundos da família ou meio e novos saberes. Como afirma Barbosa (2009 p.13). “A arte tem enorme importância na mediação entre os seres humanos e o mundo apontando um papel de destaque para a arte/educação ser a mediação entre a arte e o público.” 7 Muitas vezes, a arte é motivo de desprezo para alguns, enquanto para outros se transforma em emoção. Arte é contradição. O artista interpreta o mundo em que vive e não pode estar alheio às mudanças da própria sociedade. Caminha com as mudanças que ocorreram e até adiante delas, provoca escândalos e reações iradas dos mais conservadores. O artista não busca a unanimidade; não é um copista, é um desbravador: busca o diferente mesmo quando todo mundo só vê o igual. Existem pessoas escravas do estereotipo, incapazes muitas vezes de perceber coisas novas com resistência a mudanças. Por meio da arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação para apreender a realidade do meio ambiente desenvolver a capacidade crítica de maneira a mudar a realidade que foi analisada (BARBOSA, 2009, p. 21). Seguindo este pensamento numa indicação de que a arte passa a ser uma alternativa para mudanças nas pessoas. A arte poderia e deveria ser uma experiência compartilhada por todos os homens a cada dia da vida; o que não quer dizer que todos os homens a cada dia da vida; o que não quer dizer que todos os homens devam ser pintores, arquitetos, escritores, compositores, nem que passem as noites em teatros e salas de concreto. O que se quer dizer é que se deve permitir que a sensibilidade inata do homem no que diz respeito à arte se expresse e se desenvolva e que, estimulando e educando o ser humano desde a infância, deve-se fazer com que essa sensibilidade se afirme para que surja o homem completo e pleno (HAIMAN apud MORAIS). Essa libertação de pensamento, expressão, é percebida perfeitamente na obra de Beatriz Milhazes artista plástica da década de 80. Seu trabalho inclui questões relativas à abstração geométrica, ao barroco e a padrões ornamentais da artdeco. Beatriz pinta flores, arabescos, alvos e quadrados sobre uma superfície de plástico, para depois transferi-los para a tela. Combina as formas e matérias mais variadas com muita liberdade. Beatriz Milhazes é uma das mais consagradas artistas contemporâneas brasileiras. Sua pintura combina, de forma excludente e inusitada, cores e formas arredondadas. São sobreposições, de curvas, caracóis, motivos florais e rococós, que vão buscar inspiração nos babados, nas flores e ate em motivos carnavalescos. Na verdade as telas de Beatriz brincam com nossa imaginação sugerindo também arabescos, jogos a transfer, ondas, bordados antigo, pedras preciosas, brocados, olhos, ondas e sóis (CANTON, 2001, p. 15). 8 A artista Milhazes resgata do seu cotidiano os papeis de bala, chocolate, sacolas e traz para seu trabalho. Como podemos observar na obra a seguir “Moon”: Figura 2 – Moon, 2007 (detalhe) Colagem sobre papel, 160 x 190 cm. Cortesia: Galeria Fortes Vilaça, São Paulo. Beatriz Milhazes Segundo Beatriz Milhazes, “Sem a cor a imagem não acontece. Quando a sinfonia das cores não funciona, a sedução acaba”. O elemento principal de suas obras é a diversidade de cores vibrantes e radiantes, em suas obras o circulo sempre está presente, parece que é a partir do circulo que tudo acontece. Suas obras nos permitem flutuar por experiências anteriores, associações, lembranças, fantasias e interpretações, nos faz meditar e sair do lugar comum. Arte implica na interação contínua e constante entre o artista e a sociedade. A artista brinca com as possibilidades entre formas, cores, repetições, movimentos, materiais, num jogo quase lúdico que conquista o observador aproximando-o, despertando sensações cotidianas. Não importa qual a reação do público, se positiva ou negativa, o que importa é que o artista conseguiu incomodar, chocar, provocando um retorno diante de seu trabalho, fazendo pensar que a arte é uma necessidade do ser humano, e que sempre esteve presente, não somente em museus, galerias, mas também em nosso cotidiano. Desta mesma forma também a artista plástica Joana Vasconcelos com sua obra: “Contaminação, 2008” que foi apresentada e instalada na Pinacoteca de São Paulo uma das maiores obras, instalações que já criou. A obra envolve diversos 9 materiais como tecidos e fios para crochê com uma linguagem colorida, alegre e sensual, uso de elementos cotidianos, a artista tem um bom conhecimento de crochê, é também muito criativa. . A imagem a seguir mostra a obra “Contaminação”: Figura 3 – Joana Vasconcelos. Contaminação, 2008 A obra Contaminação de Joana Vasconcelos pode ser vista de diferentes alturas e ângulos, convidando as pessoas a interagir. Feita de tricô e malhas, nos da à ideia de dinâmico, lúdico semelhante a um brinquedo que se arrasta e se espalha com peças que se parecem com células bacterianas, poderia ser aterrorizante se não fosse a aparência suave e colorida. A ação continua da costura não é natural, é absolutamente construída. Evoca presentifica o que sucede e o que precede; antes e depois, esquecimento e memoria, afirmação e negação, previsto e imprevisto, certeza e incerteza, linear e circular, passado e futuro, aparente e oculto, direito e avesso. Mão dupla: ação que se perde e se ganha no tempo se realiza e nele se dissolve (DERDYK, 1997, p. 24.) A estética do cotidiano esta relacionada com o prazer do ser humano ao vivenciar a experiência de ouvir uma música, observar a natureza, tocar um objeto, sentir uma textura, ao decorar a casa com um vaso de flor. Caprichamos na embalagem de um presente ou arrumamos a casa para receber alguém, estes são exercícios de estética em nosso dia a dia. Momentos que despertam nossos sentidos nos permitindo experiências estéticas que complementam nosso cotidiano, 10 questão importante que faz com que a vida se torne mais interessante. Como afirma Costa (1999, p.15) “O prazer que a arte desperta vem da forma das coisas, do seu som, do colorido, da maneira como nós percebemos as coisas”. Sendo a estética do cotidiano, parte da história de cada um de nós, mas que com o passar do tempo se modifica, o gosto varia de acordo com a época, é só pegarmos um álbum de fotografias e veremos, por exemplo, que as roupas usadas em uma época, hoje nos parecem ridículas, mas na época eram moda. É necessário que se tenha consciência dos próprios valores, para que estas modificações sejam válidas e tragam benefícios possíveis. A estética do cotidiano subentende, além dos objetos ou atividades presentes na vida comum, considerados como possuindo valor estético por aquela cultura, também e principalmente a subjetividade dos sujeitos que a compõe e cuja estética se organiza a partir de vida e de transformação. (RICHTER, 2003, p. 20). Estas manifestações estéticas, normalmente estão ligadas ao que é belo, ao que gostamos e que nos é útil. Sendo que este produto deve dialogar com nossa experiência cotidiana, vivencia e até situações mais comuns, transformando vida e do dia a dia em lugares de sabedoria e conhecimento reafirmando os seus valores e estabelecendo relações criativas de experiências estéticas. Como afirma Morais (2001, p.22): “A arte, no entanto, não discorre sobre nada; sua verdade; seu caminho é a travessia do território da vida humana alimentando-se cada um dos seus conteúdos”. Assim, pode-se afirmar que o fazer artístico está ligado com a estética do cotidiano, na qual a aprendizagem é informal, esse aprendizado vem da família ou do vizinho, do grupo de convivência e que observando como este faz, pela vivencia e pela imitação, vendo trabalhar aprende e assume seu próprio trabalho. A arte é representação do mundo cultural com significado, imaginação; é interpretação, é conhecimento do mundo; é, também, expressão dos sentimentos, da energia interna, da efusão que se expressa, que se manifesta que se simboliza. A arte é movimento na dialética da relação homem-mundo (FUSARI; FERRAZ, 1993, p. 19). Não existem aulas teóricas, aprende-se a fazer, fazendo; na prática porque quer algo novo. Dessa mesma forma acontece com as técnicas de artesanato, nas quais o artesão aprende vendo o outro fazer, ou mesmo solicita que o outro lhe 11 ensine ou ajude. A troca de uma receita, o ajuste de um ponto, o empréstimo de um material, são trocas que acontecem nos fazeres artesanais entre grupos de familiares, sociais etc. A seguir foto detalhe da obra “Invasão”: Figura 4 – Objetos da rotina da costura, detalhe da obra Invasão 2012 foto de Diane M Schuch Fio interminável, mesmo sendo, redondo, reto, mas é sempre linha. A agulha é o meu instrumento, recorte do tecido emoldura, sinaliza a obra. Ao costurar olho fixamente para o ponto que se estabelece rapidamente em sequencia de furos e caminhos que linha elege. A condição de furar o tecido para depois juntar. Não basta furar e cortar é preciso também ligar, encaixar. A costura existe como confirmação de um sentimento de inutilidade. Quanto mais costuro, mais tenho para costurar e menos para alcançar. Quanto mais costuro, menos faço. A costura faz, se refaz, se desfaz. Cada vez mais ganha importância na medida de sua própria ação. Cada vez menos estabelece um compromisso com o mundo da visibilidade (DERDYK, 1997, p. 29). Invadir: uma peça única invade a sala de exposições, como uma roupa invade o corpo e toma suas formas o objeto invade a sala, toma seu espaço, exibese para o público, interage com ele. 12 Figura 5 - O público interage com a obra “Invasão” 2012 Diane M. Schuch Ao analisar uma obra e interagir com ela, possibilita ao publico melhor capacidade de observação e de crítica, pesquisa a própria emoção, liberta-se da tensão, ajusta-se, organiza pensamentos, sentimentos, sensações. Figura 6 – Obra “Invasão” 2012 Diane M. Schuch 13 CONCLUSÃO Aprofundar conhecimentos sobre as várias áreas do conhecimento, sobretudo a arte e o artesanato é buscar surpreender e compreender como se dão suas varias maneiras de tocar, de como estas linguagens sensibilizam e podem interagir. A sociedade esta em constante transformação, a arte também, torna-se desafiador e instigante estudar as possibilidade e mudanças por que passam estas duas esferas. A estética do cotidiano é parte da história de cada um, que com o passar do tempo e de acordo com as características do contexto do tempo, do lugar e dos agentes se modifica. Ter consciência dos próprios valores, para que estas modificações sejam válidas e tragam benefícios possíveis torna-se uma necessidade. Neste sentido esta pesquisa se justifica. Mais do que isto, justifica-se como pesquisa poética, objetivo primeiro desta investigação na qual buscou-se, pelo recurso da costura dar forma e visualidade a investigação e retoma um fazer que acompanha o universo feminino desde tempos remotos. A linha e costura tornam-se suporte e recurso para traduzir idéias, pensamentos e ações para sensibilizar. Nesta rotina, em meio à arte e os fazeres, femininos, manuais, artesanais a exposição Invasão, se constitui, finalmente como uma possibilidade individual de apresentar um pensamento poético no qual teoria e prática pesquisadas se encontram. Elas foram acontecendo juntas, durante o processo de pesquisa, ponto a ponto, tecido a tecido, linha por linha em cada costura em cada possibilidade de unir tecidos, cores, desenhos em suas estampas. Assim como Beatriz Milhazes, Joana Vasconcelos e Ernesto Neto buscam a partir de coisas cotidianas um meio de chamar a atenção dos espectadores, a obra “Invasão” também mostra que arte é para todos e que todos são capazes de reconhecê-la e em alguns casos associar o seu fazer a outros fazeres presentes em suas rotinas. Neste estudo buscou-se aproximar o trabalho dos artistas plásticos com o trabalho das artesãs do interior do Rio Grande do Sul, e percebeu-se ao longo da pesquisa um forte movimento das duas, que, ao optar pela escolha de materiais do cotidiano para a execução de suas obras estão tentando aproximar a arte da vida. 14 REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Mae e Coutinho, Rejane Galvão (orgs). Arte/educação mediação cultural e social. São Paulo: Editora UNESP, 2009. CANTON, Katia. Brasil olhar de artista. Dcl Difusão Cultural, 2001. A natureza do belo, da percepção e do prazer estético – São Paulo: Moderna, 1999 - Coleção polêmica. COSTA, Cristina. Questões de arte: A natureza do belo da percepção e do prazer estético – São Paulo: Moderna, 1999 – Coleção Polêmica. DANTOS, Arthur C. Após o fim da arte: A arte contemporânea e os limites da historia. Trad. Saulo Krieger. São Paulo: Ed. Odysseus. 2006. DERDYK, Edith. Linha de Costura. São Paulo – Ed. Iluminuras Ltda. 1997. FUSARI, Maria F. & FERRAZ, Maria H. A arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1993. MORAIS, Regis de. Arte: A Educação do Sentimento. São Paulo: Editora Letras & Letras, 2001. RICHTER, Ivone Mendes. Interculturalidade e estética do cotidiano no ensino das artes visuais – Campinas, SP: Mercado de Letras, 2003.