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INVASÃO1
Invasion
Diane Magali Schuch2
SalèteReginaProtti3
RESUMO
O presente artigo discorre sobre a minha poética a qual é baseada em estudos
sobre os artistas Beatriz Milhazes, Joana Vasconcelos, Ernesto Neto, que são
propulsores do movimento da criação. Desencadeia a necessidade de refletir sobre
meu próprio processo de criação, no campo da estética do cotidiano quando
transformo técnicas artesanais e materiais do dia em arte. Esta prática, observada
com cuidado no trabalho dos artistas já citados somada a aproximação com o
trabalho livre e não menos expressivo de artesãs de uma comunidade do interior do
Rio Grande do Sul, vem fundamentar a pesquisa poética aqui apresentada, quando
promove aproximações entre a arte e o artesanato. Com o objetivo de desmistificar
falsas ideias sobre a arte e artesanato e o quanto próximos os dois fazerem podem
estar, sem que a contaminação de um sobre o outro seja negativa, mas o contrário,
provocando-a de possibilidades, crescimento, de conhecimento e de criações. A
metodologia usada compreende dois focos de referências: a pesquisa bibliográfica
das obras de Beatriz Milhazes, Joana Vasconcelos e Ernesto Neto e ainda o
aprofundando o processo de produção poético que levam a exposição individual:
Invasão.
Palavras-chave: arte – artesanato – estética – criação.
ABSTRACT
This article discusses my poetics which is based on studies of the artists Beatriz
Milhazes, Ernesto Neto, Joana Vasconcelos, which are thrusters of the movement of
creation. Unleashing the need to reflect on my own process of creation in the field of
aesthetics of everyday life where transform everyday materials and craft techniques
in art. This practice, carefully observed in the work of the artists already mentioned
plus the rapprochement with the free and no less expressive work of artisans of a
community of Rio Grande do Sul, comes in support of poetic research presented
here when promotes approaches between art and craft in order to demystify the
possibilities and how close the two they may bewithout the contamination of one over
the other is negative, but otherwise causing the opportunities, growth, knowledge and
creations. The methodology used includes two foci of references: the bibliographical
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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como pesquisa para conclusão do curso de Artes
Visuais Bacharelado da UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul.
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Acadêmica do Curso de Artes Visuais Bacharelado pela UNIJUÍ.
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Professora Mestre orientadora da pesquisa.
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research of Beatriz Milhazes, Ernesto Neto and Joana Vasconcelos and deepening
the process of poetic production that take solo exhibition: Invasion.
Keywords: art – craft – estetica – creation.
INTRODUÇÃO
Chamo atenção para o título “Invasão” obra exposta nos dias 27 e 28 de
novembro de dois mil e doze, na Sala de Exposições da Unijuí Java Bonamigo. A
pesquisa começou com estudos feitos para a elaboração do trabalho de conclusão
da licenciatura em Artes Visuais.
Estabelecer relações entre a pintura, a arte, o artesanato, e o fazer popular,
torna-se necessário, pois todas se alimentam reciprocamente. Desde o inicio as
manifestações artísticas eram vistas como meros objetos de decoração e dessa
forma sugere o desejo, a busca por torná-los mais do que meros enfeites
transformá-las em arte. A finalidade de minha pesquisa promove a aproximação
entre o artesanato e a arte. Depois de desenhar, explorar transparências em
materiais sintéticos, neste momento a necessidade de costurar e pela observação
das práticas artesanais do crochê, bordado, aliando os tecidos com suas texturas,
cores, estampas e cortes esta investigação chega ao fazer artístico.
O presente artigo traz como referência artistas que fazem parte dessa
construção, como artista plástica Beatriz Milhazes (Rio de Janeiro-1960), nas suas
obras em que explora o efeito decorativo, motivos ornamentais e também nas que se
refere aos arabescos. A artista Joana Vasconcelos (Paris-1971) explora materiais e
técnicas populares como o crochê, bordado, impressão de imagens religiosas,
garrafões de vinho, cruzando tradição e modernidade e o artista Ernesto Neto em
sua obra “Dengo”, na qual incorpora em seu trabalho elementos reais, como
instrumentos musicais, latas de cerveja ou doces e balas. Dengo é um convite para
o público interagir de forma descontraída com as estalactites gigantes em forma de
gota. Construída toda em crochê e com várias cores, trazendo uma rara e complexa
discussão sobre cultura brasileira.
A opção de estudo de obras desses três artistas dá-se, nesta pesquisa pelo
caráter artesanal de algumas obras nas quais as mesmas optam pelo uso de
técnicas populares, nestas obras percebemos que exploram o efeito decorativo,
motivos ornamentais e arabescos, materiais e técnicas populares de trabalhos
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manuais como o crochê e o bordado que também se encontram como referencias
nas produções das artistas aqui presentes.
DESENVOLVIMENTO
Desde os meus primeiros estudos, trago como tema de minhas pesquisas a
questão decorativa. Primeiro com fitas de cetim, enfatizando o movimento corporal
bem como o movimento das próprias. Depois essas fitas foram parar no papel,
desenhadas, insinuando movimento e aos poucos, aprofundando meus estudos nos
artistas já mencionados. Neste último trabalho essas formas foram maximizadas 4.
Aproveitando as sugestões das formas, cores e tramas que já aparecem em seus
trabalhos.
O encontro com esses artistas me fez descobrir possíveis relações da arte
com o artesanato que desvelam questões, e procedimentos técnicos. Os três artistas
gostam de brincar com o lúdico, sobretudo o psicodélico, o colorido é presença
constante na maioria das obras. Entretanto, a partir de práticas e recursos cotidianos
buscam um meio de chamar a atenção dos espectadores fazendo-os se reconhecer
na obra e aos poucos, mostrar que arte esta ao alcance de todos e que ela pode
estar em qualquer lugar, que com sensibilidade é possível percebê-la. Como lembra
Oscar Wilde, a arte imita a vida e, a vida imita a arte, não podemos deixar escapar
nem uma, nem a outra pelos vãos dos nossos dedos.
Esta pesquisa poética esta acompanhada de uma grande carga de
conhecimentos e vivências adquiridas durante o curso. Todo um estudo realizado
sobre as artesãs e os artistas plásticos foram feitas anteriormente e este estudo
acaba por apresentar-se nesta exposição com medidas gigantes, maximizadas.
Continuo costurando, fazendo o tempo a matéria prima. Vetor para os
sentidos. Roubo tempo do tempo para costurar. Abrir um espaço de tempo
para o tempo ocupar seu lugar. Namesma medida que a linha costurada
engorda a espessura criando corpo no mundo – sua presença – o tempo se
torna o atestado de sua inalcançável imaterialidade (DERDYK, 1997, p. 25.)
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Maximizar: nesta pesquisa o termo maximizar é uma proposta da linguagem visual, significa
agigantar, tomar todo o espaço o resultado do processo de pesquisa poética se dará através de
formas gigantes, maximizadas que ocuparão todo o espaço da sala de exposição.
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A necessidade da utilização da costura neste trabalho se ampliou, e os
pequenos arabescos são agora gigantes, procuram invadir todo o ambiente
permitindo com que os espectadores interajam com eles. Criando um espaço de
descobertas, pois em cada retalho costurado há algo a mais para se descobrir.
Como podemos observar na imagem a seguir:
Figura 1 – Foto detalhe obra “Invasão” 2012 – Diane M. Schuch
Podemos constatar na obra “Invasão”, a presença dos bordados, arabescos,
e flores de fuxico, motivos que nos remete a questão feminina, o trabalho das
mulheres que tecem que bordam, também tendo essa relação com a estética do
cotidiano.
A costura é o rio que vai, eu sou a pedra que fica. Rio é o verbo, pedra é p
sujeito. A linha costurada petrifica o verbo num estado presente que ao
correr se congela na imagem de um eu. Coisa sucumbida pela própria ação.
Não deixa de ser uma maneira de passar o tempo (DERDYK, 1997, p. 9).
Minha poética remete a questão feminina, o trabalho das mulheres que
tecem que bordam, tendo também relação com a estética do cotidiano. Da mesma
forma que as artesãs e os artistas já citados, também me aproprio de materiais,
objetos, técnicas por estes usados. Nesta investigação também transito pelos
fazeres do universo feminino o crochê, o bordado, a costura técnicas artesanais que
normalmente são passadas de geração para geração, aparecem como motivo para
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novas criações. Diversidade de cores, tons vibrantes, a presença de formas
geométricas, bordados. É a partir dos arabescos que a obra acontece.
A ação repetitiva de costurar, enrolar, cortar, unir, furar, amassar, apontar
um perfil duplo. Pendular. O pêndulo é uma linha curva e continua,
balançando entre dois pontos. Entre o movimento que dura e o instante que
se repete. Entre a permanência e o instante que me escapa.Entre a
necessidade de ação e o senso de inutilidade (DERDYK, 1997, p. 20).
A obra aparece maximizada, na intenção de chamar atenção dos
espectadores de não simplesmente passar o olhar, mas que esse olhar aconteça
demoradamente e pensem sobre o trabalho, revertendo a rotina em que
normalmente fizemos, consumimos gratuitamente e não pensamos.
Mas o olhar é também filho de uma história de vida, herdeiro de uma saga
emocional que aguça nossas percepções num sentido e as abranda em
outros, que nos faz mais sensíveis a certas formas e cores e situações do
que às outras (MORAIS, 2001, p. 39).
O olhar é muito mais complexo do que imaginamos. Normalmente olhamos e
vemos, gostando ou desgostando daquilo que nosso olhar capta. Nossa impressão é
de as coisas lá fora são exatamente com as vemos. De fato o que acontece ao
nosso redor mexe com nossa inteligência e nossa sensibilidade. Como todos os
nossos sentidos possuem limitações, nosso olhar é atraído para aquilo que o chama
atenção sendo agradável ou desagradável, estimulando a inteligência, a
sensibilidade, faz o reconhecimento do que viu, filtrando o que interessa.
Toda cultura humana, por menos conhecida e mais modesta que seja,
apresenta relevante produção artística. E esta universalidade arte apareceme como primeira indicação da sua característica de necessidade do
homem (MORAIS, 2001, p. 19).
A arte é também resultado do que vem acontecendo na sociedade, conforme
a sociedade se modifica, os objetos da arte também sofrem modificações. Pelos
artistas estudados percebe-se que a Arte Contemporânea é marcada pelo uso de
materiais variados, pela quebra dos paradigmas da concepção tradicional e pela
liberdade de atuação do artista e pelas implicações que causa na sociedade.
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A metodologia usada compreende dois focos de referências: a pesquisa
bibliográfica das obras de Beatriz Milhazes, Joana Vasconcelos e Ernesto Neto e
ainda o aprofundando o processo de produção poético que levam a exposição
individual: Invasão.
É de conhecimento público que a arte contemporânea é marcada pelo uso
de materiais variados e pela mudança dos paradigmas, sobretudo nos modelos
tradicionais da pintura e escultura. Os artistas buscam mais originalidade e liberdade
de atuação, não querem mais compromissos institucionais que os limitem, ou seja,
querem criar seu trabalho sem se preocupar em apresentar em suas obras,
temáticas impostas, sejam elas religiosas ou políticas. Devido ao fato de os artistas
contemporâneos não serem mais financiados por instituições, adquirem mais
liberdade para retratar significados pessoais às suas obras.
Assim o contemporâneo é, de determinada perspectiva, um período de
desordem informativa, uma condição de perfeita entropia estética. Hoje não
há mais qualquer limite histórico. Tudo é permitido (DANTOS, 2006, p. 15).
Portanto, arte possibilita uma maior relação entre as pessoas e o mundo, de
forma que permite conhecermos diversas culturas, povos, e possibilita a liberdade
imaginativa, interpretativa, expressiva de tudo que nos cerca, fica próxima dos
fazeres da vida.
Através das artes temos a representação simbólica dos traços espirituais,
materiais, intelectuais e emocionais que caracterizam a sociedade ou o
grupo social, seu modo de vida, seu sistema de valores, suas tradições e
crenças (BARBOSA, 1998, p. 16).
O homem através da arte interpreta a vida para que o mundo saiba o que
pensa, para divulgar as suas crenças ou as de outros, para estimular valorizar
conhecer a si mesmo e aos outros, para explorar novas formas de olhar e interpretar
objetos e cenas. Pode-se dizer que o fazer artístico é um conjunto de procedimentos
utilizados para realizar obras, e no qual aplica sensibilidades, conhecimentos,
saberes populares, os saberes que carrega consigo oriundos da família ou meio e
novos saberes. Como afirma Barbosa (2009 p.13). “A arte tem enorme importância
na mediação entre os seres humanos e o mundo apontando um papel de destaque
para a arte/educação ser a mediação entre a arte e o público.”
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Muitas vezes, a arte é motivo de desprezo para alguns, enquanto para
outros se transforma em emoção. Arte é contradição. O artista interpreta o mundo
em que vive e não pode estar alheio às mudanças da própria sociedade. Caminha
com as mudanças que ocorreram e até adiante delas, provoca escândalos e reações
iradas dos mais conservadores. O artista não busca a unanimidade; não é um
copista, é um desbravador: busca o diferente mesmo quando todo mundo só vê o
igual. Existem pessoas escravas do estereotipo, incapazes muitas vezes de
perceber coisas novas com resistência a mudanças.
Por meio da arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação para
apreender a realidade do meio ambiente desenvolver a capacidade crítica
de maneira a mudar a realidade que foi analisada (BARBOSA, 2009, p. 21).
Seguindo este pensamento numa indicação de que a arte passa a ser uma
alternativa para mudanças nas pessoas.
A arte poderia e deveria ser uma experiência compartilhada por todos os
homens a cada dia da vida; o que não quer dizer que todos os homens a
cada dia da vida; o que não quer dizer que todos os homens devam ser
pintores, arquitetos, escritores, compositores, nem que passem as noites
em teatros e salas de concreto. O que se quer dizer é que se deve permitir
que a sensibilidade inata do homem no que diz respeito à arte se expresse
e se desenvolva e que, estimulando e educando o ser humano desde a
infância, deve-se fazer com que essa sensibilidade se afirme para que surja
o homem completo e pleno (HAIMAN apud MORAIS).
Essa libertação de pensamento, expressão, é percebida perfeitamente na
obra de Beatriz Milhazes artista plástica da década de 80. Seu trabalho inclui
questões relativas à abstração geométrica, ao barroco e a padrões ornamentais da
artdeco. Beatriz pinta flores, arabescos, alvos e quadrados sobre uma superfície de
plástico, para depois transferi-los para a tela. Combina as formas e matérias mais
variadas com muita liberdade.
Beatriz Milhazes é uma das mais consagradas artistas contemporâneas
brasileiras. Sua pintura combina, de forma excludente e inusitada, cores e
formas arredondadas. São sobreposições, de curvas, caracóis, motivos
florais e rococós, que vão buscar inspiração nos babados, nas flores e ate
em motivos carnavalescos. Na verdade as telas de Beatriz brincam com
nossa imaginação sugerindo também arabescos, jogos a transfer, ondas,
bordados antigo, pedras preciosas, brocados, olhos, ondas e sóis
(CANTON, 2001, p. 15).
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A artista Milhazes resgata do seu cotidiano os papeis de bala, chocolate,
sacolas e traz para seu trabalho. Como podemos observar na obra a seguir “Moon”:
Figura 2 – Moon, 2007 (detalhe) Colagem sobre papel, 160 x 190 cm.
Cortesia: Galeria Fortes Vilaça, São Paulo. Beatriz Milhazes
Segundo Beatriz Milhazes, “Sem a cor a imagem não acontece. Quando a
sinfonia das cores não funciona, a sedução acaba”. O elemento principal de suas
obras é a diversidade de cores vibrantes e radiantes, em suas obras o circulo
sempre está presente, parece que é a partir do circulo que tudo acontece. Suas
obras nos permitem flutuar por experiências anteriores, associações, lembranças,
fantasias e interpretações, nos faz meditar e sair do lugar comum.
Arte implica na interação contínua e constante entre o artista e a sociedade.
A artista brinca com as possibilidades entre formas, cores, repetições, movimentos,
materiais, num jogo quase lúdico que conquista o observador aproximando-o,
despertando sensações cotidianas. Não importa qual a reação do público, se
positiva ou negativa, o que importa é que o artista conseguiu incomodar, chocar,
provocando um retorno diante de seu trabalho, fazendo pensar que a arte é uma
necessidade do ser humano, e que sempre esteve presente, não somente em
museus, galerias, mas também em nosso cotidiano.
Desta mesma forma também a artista plástica Joana Vasconcelos com sua
obra: “Contaminação, 2008” que foi apresentada e instalada na Pinacoteca de São
Paulo uma das maiores obras, instalações que já criou. A obra envolve diversos
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materiais como tecidos e fios para crochê com uma linguagem colorida, alegre e
sensual, uso de elementos cotidianos, a artista tem um bom conhecimento de
crochê, é também muito criativa. . A imagem a seguir mostra a obra “Contaminação”:
Figura 3 – Joana Vasconcelos. Contaminação, 2008
A obra Contaminação de Joana Vasconcelos pode ser vista de diferentes
alturas e ângulos, convidando as pessoas a interagir. Feita de tricô e malhas, nos da
à ideia de dinâmico, lúdico semelhante a um brinquedo que se arrasta e se espalha
com peças que se parecem com células bacterianas, poderia ser aterrorizante se
não fosse a aparência suave e colorida.
A ação continua da costura não é natural, é absolutamente construída.
Evoca presentifica o que sucede e o que precede; antes e depois,
esquecimento e memoria, afirmação e negação, previsto e imprevisto,
certeza e incerteza, linear e circular, passado e futuro, aparente e oculto,
direito e avesso. Mão dupla: ação que se perde e se ganha no tempo se
realiza e nele se dissolve (DERDYK, 1997, p. 24.)
A estética do cotidiano esta relacionada com o prazer do ser humano ao
vivenciar a experiência de ouvir uma música, observar a natureza, tocar um objeto,
sentir uma textura, ao decorar a casa com um vaso de flor. Caprichamos na
embalagem de um presente ou arrumamos a casa para receber alguém, estes são
exercícios de estética em nosso dia a dia. Momentos que despertam nossos
sentidos nos permitindo experiências estéticas que complementam nosso cotidiano,
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questão importante que faz com que a vida se torne mais interessante. Como afirma
Costa (1999, p.15) “O prazer que a arte desperta vem da forma das coisas, do seu
som, do colorido, da maneira como nós percebemos as coisas”.
Sendo a estética do cotidiano, parte da história de cada um de nós, mas que
com o passar do tempo se modifica, o gosto varia de acordo com a época, é só
pegarmos um álbum de fotografias e veremos, por exemplo, que as roupas usadas
em uma época, hoje nos parecem ridículas, mas na época eram moda. É necessário
que se tenha consciência dos próprios valores, para que estas modificações sejam
válidas e tragam benefícios possíveis.
A estética do cotidiano subentende, além dos objetos ou atividades
presentes na vida comum, considerados como possuindo valor estético por
aquela cultura, também e principalmente a subjetividade dos sujeitos que a
compõe e cuja estética se organiza a partir de vida e de transformação.
(RICHTER, 2003, p. 20).
Estas manifestações estéticas, normalmente estão ligadas ao que é belo, ao
que gostamos e que nos é útil. Sendo que este produto deve dialogar com nossa
experiência cotidiana, vivencia e até situações mais comuns, transformando vida e
do dia a dia em lugares de sabedoria e conhecimento reafirmando os seus valores e
estabelecendo relações criativas de experiências estéticas. Como afirma Morais
(2001, p.22): “A arte, no entanto, não discorre sobre nada; sua verdade; seu
caminho é a travessia do território da vida humana alimentando-se cada um dos
seus conteúdos”.
Assim, pode-se afirmar que o fazer artístico está ligado com a estética do
cotidiano, na qual a aprendizagem é informal, esse aprendizado vem da família ou
do vizinho, do grupo de convivência e que observando como este faz, pela vivencia
e pela imitação, vendo trabalhar aprende e assume seu próprio trabalho.
A arte é representação do mundo cultural com significado, imaginação; é
interpretação, é conhecimento do mundo; é, também, expressão dos
sentimentos, da energia interna, da efusão que se expressa, que se
manifesta que se simboliza. A arte é movimento na dialética da relação
homem-mundo (FUSARI; FERRAZ, 1993, p. 19).
Não existem aulas teóricas, aprende-se a fazer, fazendo; na prática porque
quer algo novo. Dessa mesma forma acontece com as técnicas de artesanato, nas
quais o artesão aprende vendo o outro fazer, ou mesmo solicita que o outro lhe
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ensine ou ajude. A troca de uma receita, o ajuste de um ponto, o empréstimo de um
material, são trocas que acontecem nos fazeres artesanais entre grupos de
familiares, sociais etc. A seguir foto detalhe da obra “Invasão”:
Figura 4 – Objetos da rotina da costura, detalhe da obra Invasão
2012 foto de Diane M Schuch
Fio interminável, mesmo sendo, redondo, reto, mas é sempre linha. A agulha
é o meu instrumento, recorte do tecido emoldura, sinaliza a obra. Ao costurar olho
fixamente para o ponto que se estabelece rapidamente em sequencia de furos e
caminhos que linha elege. A condição de furar o tecido para depois juntar. Não basta
furar e cortar é preciso também ligar, encaixar.
A costura existe como confirmação de um sentimento de inutilidade. Quanto
mais costuro, mais tenho para costurar e menos para alcançar. Quanto mais
costuro, menos faço. A costura faz, se refaz, se desfaz. Cada vez mais
ganha importância na medida de sua própria ação. Cada vez menos
estabelece um compromisso com o mundo da visibilidade (DERDYK, 1997,
p. 29).
Invadir: uma peça única invade a sala de exposições, como uma roupa
invade o corpo e toma suas formas o objeto invade a sala, toma seu espaço, exibese para o público, interage com ele.
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Figura 5 - O público interage com a obra “Invasão”
2012 Diane M. Schuch
Ao analisar uma obra e interagir com ela, possibilita ao publico melhor
capacidade de observação e de crítica, pesquisa a própria emoção, liberta-se da
tensão, ajusta-se, organiza pensamentos, sentimentos, sensações.
Figura 6 – Obra “Invasão” 2012 Diane M. Schuch
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CONCLUSÃO
Aprofundar conhecimentos sobre as várias áreas do conhecimento,
sobretudo a arte e o artesanato é buscar surpreender e compreender como se dão
suas varias maneiras de tocar, de como estas linguagens sensibilizam e podem
interagir. A sociedade esta em constante transformação, a arte também, torna-se
desafiador e instigante estudar as possibilidade e mudanças por que passam estas
duas esferas.
A estética do cotidiano é parte da história de cada um, que com o passar do
tempo e de acordo com as características do contexto do tempo, do lugar e dos
agentes se modifica. Ter consciência dos próprios valores, para que estas
modificações
sejam
válidas
e
tragam
benefícios
possíveis
torna-se
uma
necessidade. Neste sentido esta pesquisa se justifica. Mais do que isto, justifica-se
como pesquisa poética, objetivo primeiro desta investigação na qual buscou-se,
pelo recurso da costura dar forma e visualidade a investigação e retoma um fazer
que acompanha o universo feminino desde tempos remotos. A linha e costura
tornam-se suporte e recurso para traduzir idéias, pensamentos e ações para
sensibilizar.
Nesta rotina, em meio à arte e os fazeres, femininos, manuais, artesanais a
exposição Invasão, se constitui, finalmente como uma possibilidade individual de
apresentar um pensamento poético no qual teoria e prática pesquisadas se
encontram. Elas foram acontecendo juntas, durante o processo de pesquisa, ponto a
ponto, tecido a tecido, linha por linha em cada costura em cada possibilidade de unir
tecidos, cores, desenhos em suas estampas.
Assim como Beatriz Milhazes, Joana Vasconcelos e Ernesto Neto buscam a
partir de coisas cotidianas um meio de chamar a atenção dos espectadores, a obra
“Invasão” também mostra que arte é para todos e que todos são capazes de
reconhecê-la e em alguns casos associar o seu fazer a outros fazeres presentes em
suas rotinas. Neste estudo buscou-se aproximar o trabalho dos artistas plásticos
com o trabalho das artesãs do interior do Rio Grande do Sul, e percebeu-se ao longo
da pesquisa um forte movimento das duas, que, ao optar pela escolha de materiais
do cotidiano para a execução de suas obras estão tentando aproximar a arte da
vida.
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REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae e Coutinho, Rejane Galvão (orgs). Arte/educação mediação
cultural e social. São Paulo: Editora UNESP, 2009.
CANTON, Katia. Brasil olhar de artista. Dcl Difusão Cultural, 2001. A natureza do
belo, da percepção e do prazer estético – São Paulo: Moderna, 1999 - Coleção
polêmica.
COSTA, Cristina. Questões de arte: A natureza do belo da percepção e do prazer
estético – São Paulo: Moderna, 1999 – Coleção Polêmica.
DANTOS, Arthur C. Após o fim da arte: A arte contemporânea e os limites da
historia. Trad. Saulo Krieger. São Paulo: Ed. Odysseus. 2006.
DERDYK, Edith. Linha de Costura. São Paulo – Ed. Iluminuras Ltda. 1997.
FUSARI, Maria F. & FERRAZ, Maria H. A arte na educação escolar. São Paulo:
Cortez, 1993.
MORAIS, Regis de. Arte: A Educação do Sentimento. São Paulo: Editora Letras &
Letras, 2001.
RICHTER, Ivone Mendes. Interculturalidade e estética do cotidiano no ensino das
artes visuais – Campinas, SP: Mercado de Letras, 2003.
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