Uma Caçada e um Tiro no Pé Carlos Alexandre Jaeger Bertolin 1 Recentemente as agências de notícias divulgaram que o neto do Rei Juan Carlos da Espanha, o jovem Felipe Juan Froilán Marichalar Borbón, de 13 anos, deu literalmente um tiro no próprio pé durante um treinamento com escopeta. E agora seu avô fez o mesmo, mas metaforicamente falando. O Rei decidiu tirar uns dias de folga por ocasião da Páscoa. Até aí nada demais. O problema é que discretamente ele viajou a Botsuana com uma amiga para caçar elefantes. E isso não viria a público não fosse por um acidente em que o Rei fraturou a bacia e teve de voltar à Espanha para tratamento. Foi uma atitude lamentável de alguém que tantos e inestimáveis serviços prestou à sua pátria. Em tempos politicamente corretos, caçar elefantes tornou-se um delito mais grave do que caçar gente. E os “ecoativistas” de plantão não perderam a oportunidade de malhar Sua Majestade por sua insensibilidade e crueldade contra os animais. Para piorar, ele foi na companhia de uma “amiga”, deixando a Rainha em casa, o que enfureceu as mulheres e os defensores dos valores tradicionais que a Monarquia deveria encarnar. Acrescente-se a isso a crise econômica que a Espanha está atravessando e a confusão está criada. O Rei acabou pedindo desculpas publicamente por seu “equívoco”, mas só o tempo dirá qual foi o real abalo que o episódio causou na Monarquia espanhola. O que é interessante de observar neste caso é que surgem vozes pedindo a deposição do Rei e, até mesmo, o fim da Monarquia. No entanto, caso se tratasse de um presidente da república, a ninguém ocorreria pedir o fim da República. Alguns pediriam o seu afastamento ou renúncia, mas dificilmente alguém questionaria a República como instituição. Vivemos em uma época em que o igualitarismo tomou ares de dogma religioso. Tudo o que o contraria nos dá a sensação de ser errado ou inadequado. Como a Monarquia é um sistema político essencialmente desigual, ao mesmo tempo em que é foco de atração, gera desconfiança e uma sensação de anacronismo. Se analisarmos com cuidado, porém, veremos que a Monarquia Parlamentar é a mais perfeita forma e sistema de governo de que dispomos. O controle exercido pelos cidadãos sobre os governantes é muito maior do que aquele que temos nas repúblicas presidenciais. Além disso, a separação das chefias de Estado e de governo e a adoção de um chefe de Estado neutro e apartidário evita tentações totalitárias e diminui a possibilidade de tomada da máquina pública por este ou aquele partido. Pensando bem, um pouco de desigualdade até que não é um preço tão alto a pagar. 1 Presidente do IBEM-RS