LO S CARPIN TEROS TEROS CARPIN LO S 16m, 2010 (detalhe) ARTE É UMA REAÇÃO ALÉRGICA À REALIDADE. LO S C A R P I N T E R O S 16m, ou, o que é o mesmo, 16 metros é o título dessa instalação dos artistas cubanos Marco Castillo e Dagoberto Rodríguez, integrantes do duo Los Carpinteros, que faz alusão direta à extensão em metros dessa obra apresentada pela primeira vez no Ivory Press Arts & Books de Madri, em 2010, no contexto de sua exposição monográfica Drama turquesa. Trata-se de uma instalação formada por 200 paletós de terno preto sobre camisas brancas que foram todos furados, cortados com tesoura, deixando um furo irregular em seu lado direito – um furo que, ao assomar, constrói visualmente em sua extensão um túnel escuro de 16 metros de longitude, vislumbrando-se no fundo a luz. Na realidade, o túnel é uma ilusão, pois existe apenas porque os 200 paletós se sobrepõem longitudinalmente, gerando uma escultura interior com um vazio na fronteira entre o real e o imaginário. Como costuma ser característico nas obras desses artistas, seus trabalhos continuam suscitando intencionalmente um debate entre o artesanal e o artístico, e não só possuem uma extraordinária execução, concepção ou controle do espaço estético como também seus níveis de interpretação – sua capacidade para gerar espaços simbólicos – são enormemente ricos. O uso da seriação, a multiplicação de objetos – nesse caso, de paletós pretos sobre camisas brancas, ambos mutilados –, mediante uma construção de ressonâncias pop e pós-minimalistas, converte-se em um gran- de poema visual, em um metaobjeto de múltiplas evocações poéticas de fundo social e político. Mais uma vez esses artistas transformam e recodificam o objeto cotidiano através de sua descontextualização e manipulação em um artefato estético-político. Situar-nos diante de suas obras produz com frequência em nós uma sensação de estado de ambiguidade, de conforto e desconforto, como o de um terno que fica mal-ajustado ou um tecido que produz alergia e do qual desejamos desprender-nos o quanto antes, ou ao menos poder cortar aquele pedaço do pano que permita a nosso corpo, nossa pele, poder respirar. Talvez esse corte seja o gesto de resistência em um espaço social e político restrito e padronizado e o de uma ação individual que possa devir coletivamente. Então, esse gesto, esse corte primário desenvolvido de forma coletiva ganharia uma força capaz de gerar um espaço-túnel que nos guie em direção a uma nova luz. Não é casual que Los Carpinteros definam a arte como “uma reação alérgica à realidade”. Orlando Britto Jinorio Tradução de Joana Bergman Marco Antonio Castillo Valdés (*1971, Cuba) e Dagoberto Rodríguez Sánchez (*1969, Cuba) moram e trabalham em Madri, Espanha. 16m, 2010 Tecido, plástico e metal 95 x 1.600 x 60 cm