Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel Jean-Claude Maleval1 Consagrar sua existência a examinar a linguagem por si mesma e chegar a conduzi-la a um limite implica, sem dúvida, uma posição subjetiva capaz de experimentá-la como aquisição imposta e parasitária. Joyce e Wittgenstein têm isso em comum. É extremamente raro que tais intuições estejam nos fundamentos de uma obra reconhecida. O século XX conheceu pelo menos outro exemplo: o de Raymond Roussel. Qualificado por André Breton como “o maior magnetizador dos tempos modernos”, a crítica literária atribuiu-lhe certo parentesco com o movimento surrealista, mas ele próprio evitou participar dele, mantendo-se, em toda sua existência, um ser solitário, isolado, pouco comunicativo. Na juventude, ele viveu uma experiência singular, relatada por Pierre Janet no trabalho intitulado De l’angoisse à l’extase. Martial é o pseudônimo com o qual ele apresenta um “neuropata, tímido, escrupuloso, facilmente deprimido”, que é nada menos que Raymond Roussel, o que foi revelado por ele próprio em 1935, em uma publicação póstuma. De 1897 até seu suicídio, em 1933, Janet sempre o tratou. Por duas vezes, teve de interná-lo em casas de saúde.2 Martial, relata ele, apresentou, aos 19 anos, durante cinco ou seis meses, um estado mental que ele mesmo julgava extraordinário. Interessando-se pela literatura, que preferia aos estudos feitos até então, ele se havia proposto escrever uma grande obra em versos e queria terminála antes dos 20 anos. Como esse poema deveria englobar muitos milhares de versos, trabalhava assiduamente, quase sem parar, dia e noite, e não experimentava nenhuma sensação de fadiga. Sentiu-se pouco a pouco invadido por um estranho entusiasmo: 1 Psicanalista, membro da ECF e da AMP, professor de psicopatologia da universidade de Rennes. Segundo Charlotte Dufrène, que sempre o conheceu como “neurastênico”, ele teria sido hospitalizado duas vezes em casas de repouso, a primeira em Valmont, na Suíça, por um período de um mês, e uma segunda vez em Saint-Cloud, por oito meses (Caradec, F. Vie de Raymond Roussel, Jean-Jacques Pauvert. Paris, 1972, p.230). Janet o considerava um “neuropata psicastênico”, mas observa que algumas vezes seu estado “aproximava-se singularmente da melancolia” (Janet, P. De l’angoisse à l’extase. Alcan, Paris, 1926, II, p.230). 2 A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. Sentimos algo especial, que fazemos uma obra-prima, que somos um prodígio. Há crianças prodígio que se revelaram aos oito anos, eu me revelei aos 19 anos. Eu era o equivalente a Dante e Shakespeare, sentia o que mais velho Victor Hugo sentiu aos 70 anos, o que Napoleão sentiu em 1811, o que Tannhauser sonhava em Venusberg: sentia a glória... Não, a glória não é uma ideia, uma noção que se adquire ao constatarmos que nosso nome corre na boca dos homens. Não, não se trata do sentimento de nosso valor, do sentimento de que merecemos a glória; não, eu não sentia a necessidade, o desejo de glória, pois jamais pensara nela antes. Essa glória era um fato, uma constatação, uma sensação, eu tinha a glória... O que eu escrevia estava cercado de irradiações, eu fechava as cortinas porque tinha medo que a menor fresta pudesse deixar passar para fora os raios luminosos que saíam de minha pena, eu queria afastar a tela de uma só vez e iluminar o mundo. Deixar soltos esses papéis seria provocar raios de luz que iriam até a China, e a multidão desorientada teria procurado abrigo na casa. Mas, por mais que tomasse precauções, raios de luz escapavam de mim e atravessavam as paredes, eu levava o sol em mim e não podia impedir essa minha formidável fulguração. Cada linha era repetida em milhares de exemplares e eu escrevia com milhares de bicos de pena que resplandeciam. Sem dúvida, quando o livro fosse lançado, esse foco ofuscante se manifestaria ainda mais e iluminaria o universo, mas não teria sido criado, eu já trazia em mim... Eu estava neste momento em um estado de felicidade inaudito, um golpe de picareta me fizera descobrir um filão maravilhoso, eu havia ganhado o prêmio mais sensacional. Vivi mais neste momento do que em toda minha existência.3 Poderíamos ser tentados a estabelecer uma aproximação entre a glória de Roussel e as epifanias de Joyce: essas experiências parecem ter estado, uma e outra, na origem da vocação de escritor. Todavia, elas diferem radicalmente. As epifanias se ancoram em experiências cuja significação parece estar ausente, o que leva Lacan a situá-las fora do imaginário — na conexão entre o simbólico e o real. Por outro lado, a glória de Roussel põe em jogo seu corpo: é uma “sensação” que ele traz consigo e faz parte de um estado hipomaníaco que lhe permite não sentir fadiga, mesmo trabalhando quase sem parar. Nesse caso, trata-se de um gozo não falicizado que toma conta do corpo: gozo Outro situado na articulação entre real e imaginário. Afirmar que a glória se produz fora do simbólico pode surpreender, já que parece ser fruto de um trabalho de escrita, contudo, o próprio Roussel indica que esta não é essencial à questão, quando observa que é o que experimentava 3 Janet, P. De l’angoisse à l’extase. Alcan, Paris, 1926, II, p.116-117. A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. Napoleão em 1811, ou o que Tannhauser sonhava no Venusberg, e, sobretudo, quando ele deixa claro que o foco ofuscante não está ligado ao livro, não foi criado, ele já o levava consigo. Os limites que o simbólico impõe ao gozo são franqueados nessa experiência. Roussel vê nela menos a fonte de sua vocação do que a certeza de uma posição de exceção: “dessa crise de glória e de luz, escreve Janet, Martial conservou a convicção inabalável de que teve a glória, que possui a glória; pouco importa se os homens reconheçam ou não”. O fracasso de seus livros retarda a constatação externa de sua glória pelo outros, mas “isso não abala sua realidade”. A experiência do gozo Outro por um sujeito não é suficiente para daí inferir sua estrutura psicótica: o misticismo e as técnicas arcaicas de êxtase seriam objeções suficientes. A certeza associada a estar em uma situação de exceção, apenas comparável a figuras das mais importantes, como Dante, Shakespeare ou Napoleão, sugere, ao contrário, que a função paterna foracluída retorna no real. A desconexão do simbólico Por outro lado, são numerosas as indicações que vêm confirmar que o enodamento do simbólico às duas outras dimensões revela um defeito na estrutura de Roussel.4 A glória experimentada durante a escrita de seu primeiro romance foi seguida por um grave estado depressivo. Esse entusiasmo e esses sentimentos, relata Janet, se prolongaram com oscilações enquanto compunha seus versos, durante cinco ou seis meses; e diminuíram muito durante a impressão do livro. Quando o livro foi lançado, quando o jovem, com muita emoção, saiu de casa e se deu conta de que não olhavam para ele quando passava, o sentimento de glória e a luminosidade se extinguiram bruscamente. Começou então uma verdadeira crise de depressão melancólica com 4 Seu curioso comportamento alimentar parece revelar a emergência de um gozo infinito no seio da pulsão oral. Acontecia-lhe juntar quatro refeições em uma só, feita ininterruptamente entre 12:30 e 17:30. A abundância das iguarias era excepcional, visto que, segundo seu cozinheiro, cada refeição se compunha de 16 a 22 pratos! (Caradec, F. Vie de Raymond Roussel, Jean-Jacques Pauvert. Paris, 1972, p.301-302). No entanto, Roussel tinha o cuidado de limitar esse transbordamento pulsional: agrupando as refeições, ele se impunha um limite que não deixa de ter uma analogia com a função de seu procedimento de escrita. A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. uma forma bizarra de delírio de perseguição, sob a forma da obsessão e da ideia delirante de depreciação universal dos homens entre si. Tal oscilação confirma a ausência de regulação simbólica do gozo: seja invadindo a imagem especular que lhe conferia a glória e a luminosidade, seja retirando-se e revelando um sujeito identificado com seu ser de dejeto. Quando o objeto a não é extraído, o que os fenômenos precedentes parecem indicar, o sujeito não chega a se inscrever em uma estrutura de discurso: esta implica não apenas coordenação do sujeito com o objeto, mas condiciona a representação significante do sujeito. Em Roussel, são numerosos os sinais que sugerem a carência da identificação com o traço unário. Essencialmente, eles se distinguem pelo lugar preponderante ocupado pela imagem especular. Pouco antes de morrer, expressou o desejo de que uma fotografia sua com 19 anos, quando experimentara a glória, fosse a capa de todas5 as edições póstumas de seus livros.6 Isso leva a crer que sustentar sua imagem constituiu uma das funções de sua escrita. Sem dúvida, a mesma preocupação se encontra em sua busca incessante por honrarias, que o levou a ser nomeado Oficial da Academia e Cavaleiro da Legião de Honra. Além disso, nunca perdia ocasião de se fazer condecorar, de modo que recebeu a medalha comemorativa francesa da Grande Guerra e a medalha interaliada da Vitória. Além do mais, Roussel dava uma extrema e surpreendente importância a seus talentos de imitador. Uma das raras indicações autobiográficas inseridas em sua obra informa que ele só conheceu “verdadeiramente o sucesso [...] por inúmeras imitações” de atores ou de pessoas comuns.7 Segundo Charlotte Dufrène, sua amiga, “ele trabalhava por até sete anos em cada uma de suas imitações, repetindo em voz alta as frases para atingir a entonação, copiando gestos até obter uma semelhança completa”.8 Não poderíamos encontrar indicação mais clara de um investimento considerável nas identificações imaginárias. Na vida de Roussel, as imitações têm uma importância que vem logo depois da escrita. Sua extrema valorização sugere que elas fazem parte de um processo que contribui para 5 Destacado por ele. Caradec, F. Vie de Raymond Roussel, Jean-Jacques Pauvert. Paris, 1972, p.65. 7 Roussel, R. Comment j’ai écrit certains de mes livres [1935]. Coll. 10/18, 1963, p.35. 8 Caradec, op. cit., p.76. 6 A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. o suporte do sujeito: diz-se que imitava o pai “de modo alucinante”.9 Parece que Roussel teve a presciência da prevalência de identificações imaginárias em seu próprio funcionamento. O herói de seu primeiro romance, aquele que escreveu ao sentir a glória, é um ator malsucedido, que não conhece a fama e vai de fracasso em fracasso. Uma imagem que não deixa de evocar o próprio autor. Ora, o título da obra é La doublure, qualificativo que designa o herói, e seu primeiro fracasso consiste em ser contratado apenas como “dublê” de um ator célebre. Tal imagem especular, presente na obra de Roussel desde as primeiras páginas, se encontra pouco modificada em sua última compilação, em que decide inserir a observação psiquiátrica feita por Janet: trata-se sempre da imagem de um artista fracassado. A luminosidade conferida pela glória à imagem especular só mascarava por um tempo a inerência do objeto a esta: por isso aí se associa um fracasso primordial A recorrência do tema dos gêmeos nos escritos de Roussel, frequentemente observada pelos críticos, constitui um novo indício da prevalência do eixo a-a’ em seu funcionamento. Por causa disso, a imagem do outro, algumas vezes, ameaça se tornar invasora e maléfica: ele teme que os medos sentidos por seus próximos, se forem manifestados, passem para ele por contágio. Ele não suporta a visão de lágrimas; pede a Charlotte Dufrène que nunca fale diante dele de seus medos de dentista e de serpentes.10 Por outro lado, ela desempenha em sua vida um papel curioso: a de amante “como se”. Por 23 anos, ela apareceu a seu lado nos lugares públicos, principalmente no teatro, mas nunca foi à sua casa. Suas relações permaneceram platônicas. Ele pagava mensalmente uma quantia significativa para que ela o acompanhasse aos espetáculos — quase todas as noites. Sem dúvida, agia assim para que sua homossexualidade11 permanecesse 9 Caradec, loc. cit. Ibidem, p.315. 11 A homossexualidade de Roussel é principalmente conhecida por um artigo publicado em 1904 que encheu as duas primeiras páginas de La Cocarde, jornal antissemita no qual ele é acusado de “delitos ou crimes”. Essa publicação faz menção aos encontros com “numerosos menores do sexo masculino” e mesmo a acusações e chantagens por parte dos pais dos jovens que ele teria seduzido. Um de seus casos acontece alguns meses depois da publicação de La doublure, em julho de 1897. No entanto, Roussel e a mãe conseguiram esconder sua homossexualidade. Segundo Germond, o artigo de La Cocarde, após ter sido na época como uma bomba, rapidamente caiu no esquecimento. Mesmo assim parece que Roussel muitas vezes teve que viajar para evitar escândalos (Germond, J. “Raymond Roussel à la Une”. Cahiers de l’Unebévue, EPEL, Paris, out. 2000). 10 A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. secreta e para salvaguardar as conveniências.12 Essa falsa amante era necessária para preservar sua imagem pública. “Você terá tudo o que desejar, disse ele, seguro de sua fortuna, com a condição de jamais fazer perguntas”.13 Realmente, Roussel tinha horror a perguntas, em geral, fazia tudo para evitar envolver-se em discussões. “Além disso, (diz Michel Leiris), ele temia ser atingido ou atingir alguém em uma conversa, dizia que para evitar qualquer conversação perigosa com as pessoas, começava fazendo-lhes perguntas.”14 André Breton ficou impressionado com os rodeios das conversações rousselianas: Dos meus raros e muito breves encontros com ele, a lembrança mais precisa que guardo é a de um homem oculto. Se ele continuou assim para o grupo que formávamos, digamos entre 1922 e 1928, não foi por nossa culpa — Michel Leiris [...] teve a chance de se aproximar dele e um outro — Robert Desnos [...] se esforçou muito para acabar com seu profundo sigilo. Mas, mesmo que Leiris se esforçasse, não conseguia mudar sua conversa banal, e Desnos, embora recebido com cortesia, voltava desencorajado de suas visitas.15 Os surrealistas constataram o quanto era essencial para Roussel evitar entrar em uma troca em que fosse obrigado a sustentar suas opiniões, mas não perceberam do que se tratava, ou seja, a necessidade de preservar ideais sentidos como frágeis por falta de ancoragem simbólica. É horrível, confidenciou a Janet, que não se tenha respeito pelas glórias adquiridas, a meus olhos um só detrator é mais poderoso do que três milhões de admiradores; para me sentir tranquilo preciso de unanimidade.16 O clínico observa muito bem que ele “sente que suas convicções são tão vacilantes quanto seus gozos”. As opiniões de Roussel assentam-se apenas em uma concordância precária com os valores de seu mundo. Ele não se sente capaz de sustentá-las porque não consegue fazer com que sejam plenamente suas. É um 12 Caradec, F. Vie de Raymond Roussel, Jean-Jacques Pauvert. Paris, 1972, p.109-111. Ibidem, p.144-145. 14 Caradec, loc cit. 15 Caradec, loc cit. 16 Janet, P. De l’angoisse à l’extase. Alcan, Paris, 1926, II, p.106. 13 A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. grande burguês que adere a uma forma caricatural e petrificada dos ideais de seu meio: Ele tem uma amante, relata Janet, tem dinheiro, fez algumas belas viagens, esses são seus privilégios, é preciso conservá-los, é preciso que os outros não usurpem seus direitos. Não se dá conta que ele próprio poderia aproveitar o progresso, fazer viagens mais curtas e belas de avião, por ter horror a atos futuros e sobretudo, a atos novos. Quer [...] conservar o benefício dos atos antigos e de uma superioridade adquirida. É preciso que as coisas sejam proibidas aos outros para que sinta seu valor quando as possui..17 A prevalência das identificações imaginárias confirma o que a glória já indicava: o gozo de Roussel está em uma conexão estreita com o imaginário. Além do mais, a emergência do gozo Outro e a carência do traço unário levam a considerar que na estrutura de Roussel o simbólico não é mantido. Essa dimensão não representa o papel de limite em relação ao gozo que seria o seu se fosse amarrado borromeanamente ao real, não assegura mais sua função de limite em relação às identificações imaginárias: estas têm uma propensão a aumentar até a megalomania. Uma de suas primeiras publicações, um poema intitulado “Minha alma”, termina assim: Regardant fuir au milieu d’elle Les vers surgissant sans effort, Dans la postérité fidèle Je vois plus tard grandir mon sort. À cette explosion voisine De mon génie universel Je vois le monde qui s’incline Devant ce nom: Raymond Roussel. Sur la terre que je domine Je vois ce feu continuel Qui seul et sans frère illumine Partout l’univers actuel.18 17 Ibidem, p.106. Publicado nas páginas 3 e 6 do jornal diário Le Gaulois, de 12 de julho de 1897; citado por Caradec, F. Vie de Raymond Roussel, Jean-Jacques Pauvert. Paris, 1972, p.48. N. da T.: O texto foi deixado em francês para não prejudicar a rima e a métrica. Segue a sua tradução: “Olhando escapar no meio dela / Os versos que surgem sem esforço, / Na posteridade fiel / Vejo mais tarde engrandecer meu destino. / A esta explosão vizinha / De meu gênio universal / Vejo o mundo que 18 A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. Não se trata somente de uma tentativa desajeitada de um adolescente exaltado. Janet ainda se espantava da representação que ele fazia de si próprio aos 45 anos, a de um imenso artista. Atribui a suas obras, escreve o clínico, uma importância desmesurada, nunca se deixou abalar pelo insucesso flagrante, [...] nunca aceita a menor crítica nem o menor conselho, tem uma fé absoluta no destino que lhe está reservado: “Eu alcançarei os mais altos píncaros e nasci para uma glória fulgurante. Pode demorar, mas terei uma glória maior do que a de Victor Hugo ou de Napoleão. [...] Existe em mim uma imensa glória em potência, como um óbus formidável que ainda não explodiu... Essa glória alcançará todas as obras, sem exceção, recairá sobre todos os atos de minha vida; todos os atos de minha infância serão investigados e todos se admirarão com minha maneira de brincar... Nenhum autor foi, e não pode ser, superior a mim.”19 Mesmo que a glória não seja mais sentida, ela não deixa de sustentar a imagem especular de Roussel; confirmação da persistência de uma estreita conexão entre o imaginário e o real, enquanto que o simbólico não garante em relação a eles sua função pacificadora. Logo, parece possível situar a seguinte falha da estrutura: se inclina / Diante desse nome: Raymond Roussel. / Sobre a terra que domino / Vejo esse fogo contínuo / Que só e sem irmão ilumina / Por toda parte o universo atual.” 19 Janet, P. De l’angoisse à l’extase. Alcan, Paris, 1926, II, p.116. A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. Ainda que o real e o imaginário estejam enodados, não se dá uma conexão entre eles, que permitiria fixar o simbólico, que, por isso, se revela livre. No entanto, Roussel, apesar de alguns momentos depressivos severos, jamais desencadeou uma psicose, o que permite supor que conseguiu remediar a falha de sua estrutura. Sem dúvida a suplência elaborada por ele está relacionada com a escrita que dominou totalmente sua existência. Uma escrita específica Trata-se de uma escrita original, criadora de estranhos mundos fantásticos. Ela tem sua fonte em um procedimento revelado por Roussel em sua última obra, Comment j’ai écrit certains de mes livres, que constitui uma espécie de testamento literário. Esse procedimento aparece como a essência de sua arte e como sua única verdadeira invenção. A ele atribui, como último recurso, a tarefa de representá-lo aos olhos da posteridade. Eis como ele o apresenta. Eu escolhia duas palavras quase iguais (fazendo pensar nos metagramas). Por exemplo: billard (bilhar) e pillard (saqueador).20 Depois acrescentava palavras parecidas, mas tomadas em dois sentidos diferentes, e obtinha assim duas frases quase idênticas. No que diz respeito a billard e pillard, as duas frases que obtive foram estas: 1ª) Les lettres du blanc sur les bandes du vieux billard. [As letras em giz sobre as bordas do velho bilhar.] 2ª) Les lettres du blanc sur les bandes do vieux pillard. [As cartas do branco sobre os bandos do velho saqueador.] Na primeira, a palavra “lettres” foi usada no sentido de ”sinais tipográficos”; ”blanc” no sentido de “giz” e ”bandes” no sentido de ”bordas”. Na segunda, ”lettres”, no sentido de ”missivas”, ”blanc” no sentido de ”homem branco” e ”bandes” no sentido de ”hordas guerreiras”. Encontradas as duas frases, tratava-se de escrever um conto que podia começar pela primeira e terminar na segunda. Ora, era na resolução desse problema que eu utilizava todos os meus recursos. 20 N. da T.: O texto em francês é mantido aqui, e adiante, para que não se perca a homofonia tão cara ao autor. A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. Para gerar o conto, indo da frase inicial à final, Roussel encontra inspiração apenas em imagens saídas de novas homofonias. Escolhia uma palavra, depois a religava a outra pela proposição a; e essas duas palavras, tomadas em um sentido diferente do primitivo, davam-lhe uma nova criação. Ele propõe numerosos exemplos. Relatemos, de início, um dos mais simples. Roussel escolhe as seguintes palavras: círculo com raios. Inicialmente, ele as entende no sentido mais corriqueiro: o de um círculo e de traços geométricos. Em seguida, procura outro sentido que essas palavras possam ter. Aparece, então, que círculo pode ser entendido como clube, e os raios podem ser de glória. Aproveitando essa aproximação, inventa o clube dos incomparáveis. A mais célebre criação de Roussel torna esse método um pouco mais complexo. Trata-se de “la statue de l’ilote, faite en baleines de corset, roulant sur des rails en mou de veau et portant sur son socle une inscription relative au duel d’un verbe grec” (“a estátua do hilota, feita de lamelas de corpete deslizando sobre carris de bofe de vitela, tendo no pedestal uma inscrição relativa ao dual do verbo grego”). Sua origem está nas seguintes palavras: 1º) Baleine [baleia (mamífero marinho)] à îlot [ilhota (pequena ilha)]; 2º) baleine [lamela (de barbatana de baleia)] à ilote [hilota (escravo espartano)]; 1º) duel [duelo (combate a dois); à accolade [acolada (dois adversários que se reconciliam após o duelo, dando um abraço no terreno); 2º) duel, [dual (tempo de verbo grego) à accolade [acolada (sinal tipográfico)]; 1º) mou (individu veule), [mole (indivíduo fraco) à raille; [chacota (aqui, ele precisa, pensei em um estudante preguiçoso que seus colegas ridicularizam por sua incapacidade)]; 2º) mou [bofe (substância culinária] à rail [carril (trilho de estrada de ferro)]”. Desses três agrupamentos de palavras nasce a imagem mais conhecida de Impressions d’Afrique.21 “O procedimento evoluiu, prossegue Roussel, e fui conduzido a tomar uma frase qualquer, da qual tirava imagens, deslocando-a, um pouco como se tratasse de extrair dela esboços de charadas”. A frase “Tu n’en auras pas”, “Você não o terá”, fica “Dune en or a pas (a des pas)”, “Duna em ouro tem passos”. De onde ele forma a imagem de um poeta beijando os rastros de passos sobre uma duna. 21 Roussel, R. Comment j’ai écrit certains de mes livres [1935]. Coll. 10/18, 1963, p.14-15. A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. Ele observa que seu procedimento é “parente da rima”, já que, nos dois casos, “há criação imprevista devida a combinações fônicas”.22 A fabricação comporta três fases: primeiro, a busca de jogos de palavras ou de frases com duplo sentido, em seguida, o estabelecimento de uma trama lógica que une esses elementos díspares; enfim, a redação tão realista quanto possível, com o máximo de rigor, do texto definitivo. Se Roussel deve ser considerado como um dos grandes destruidores da retórica clássica, é porque produziu uma obra poética fundada em um esforço para separar o significante da enunciação. Ele queria utilizar apenas materiais tirados da própria linguagem. Se busca, na homofonia, o princípio gerador de seus mundos imaginários, é para tentar apagar o ato do sujeito na criação. Seu procedimento gostaria de fazer tábula rasa de toda inspiração espontânea. No entanto, a escolha do autor intervém nas frases e nas palavras iniciais. Não é nesse ponto que a singularidade do sujeito corre o risco de se inserir? Roussel tenta se proteger disso tomando fragmentos de linguagem tão insignificantes quanto possível. Quanto a isso, ele esclarece: “Utilizava qualquer coisa”: o endereço de seu sapateiro, a propaganda de um aparelho, um título de livro, versos de Victor Hugo etc.23 A partir de quaisquer preposições, Roussel criava com rigor novos mundos. No horizonte último de seu projeto, encontra-se uma escrita de pura lógica. O que havia de distintivo no procedimento, ele próprio observa, era “fazer surgir dois tipos de equações de fatos” que era preciso “resolver logicamente”. Dentre todos os jogos de palavras irônicos compostos por seus detratores a propósito de Locus Solus, título de um de seus livros, ele cita Loufocus Solus, Gugus Solus, Locus Saoulus,24 etc., “falta um, afirma ele, que me parece mereceria ser feito, é Logicus Solus.”25 Ora, a lógica se caracteriza, como todo discurso científico, por só poder instaurar-se como uma tentativa de sutura do sujeito do inconsciente. De uma maneira diferente da de Joyce, mas também radical, Roussel parece “desabonado do inconsciente”. Ele rompe a conexão S1-S2, não como o 22 Ibidem, p.23. Ibidem, p.21-22. 24 N. da T.: Pirado Solitário, Cara Sozinho, Local de Bêbado e Lógico Solitário. 25 Roussel, R. Comment j’ai écrit certains de mes livres [1935]. Coll. 10/18, 1963, p.24. 23 A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. irlandês, retirando a alma do sonho e colocando a ênfase no significante unário; mas, ao contrário, apagando o significante que representa o sujeito e exaltando uma função de representação acéfala. O procedimento visa a produzir o significante a partir de significantes quaisquer sob os quais Roussel tenta apagar sua enunciação. Seus textos simulam o ciframento do sonho, mas de um sonho em que o conteúdo latente se sustenta em fragmentos insignificantes de linguagem. Eles resultam de um cifrado vazio. Resta para o leitor apenas um projeto estético. Para Roussel, quanto menos do mundo real esteja inserido nele, mais completo ele estará: “Em mim, afirma, a imaginação é tudo”. A esse respeito, ele toma o cuidado de afirmar que, de suas viagens, nunca tirou nada para seus livros.26 De fato, ele se esforçou para manter fora de sua obra não apenas as viagens, mas qualquer traço de sua história, opiniões ou ideais. Quando, apesar de tudo, algo nela se insere, é característico que seja particularmente anódino, como o exemplo do endereço de seu sapateiro. O escritor possui, como o homem, o gosto pelo silêncio e pelo segredo. Um e outro só se arriscam escondidos. Os escritos de Roussel parecem com sonhos factíveis gerados não pelo desejo do sujeito, mas por um trabalho autônomo da letra. Todavia, nem o desejo do autor, nem um equivalente do significante unário poderiam estar ausentes de uma obra tão original. Evidentemente, é preciso buscar suas incidências no próprio procedimento. Apenas em referência a este, Roussel se apresenta como inventor e mestre. “Trata-se, escreve, de um procedimento muito especial e acho que é meu dever revelá-lo por ter a impressão de que talvez os escritores do futuro possam explorá-lo com vantagens”.27 Perto dos 30 anos, teve a impressão de ter encontrado seu caminho, graças às “combinações de palavras”. Não há dúvida de que sua escrita, a que consagrou sua existência, ocupa nele o lugar de sintoma. Ele localizou seu gozo de maneira bastante constrangedora: seu procedimento exigia que lhe consagrasse um tempo considerável. Suas obras exigiam muitos esforços: “Sangro a cada frase”, confessa. Dessa forma, tudo leva a considerar que, em Roussel, o procedimento possui uma função de suplência que lhe permite dar o nó, de maneira que o simbólico possa 26 27 Ibidem, p.27 Ibidem, p.11. A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. fazer limite ao imaginário e ao real. Portanto, a estrutura parece poder escrever-se assim: Intervindo no ponto de falha, o procedimento interrompe o deslizamento do simbólico, ocupando o lugar de sintoma. No entanto, não consegue instaurar um enodamento borromeano dos elementos da estrutura: esta última, à maneira de Joyce, conserva o traço de uma falha. Na verdade, o procedimento possui uma curiosa deficiência: ele se detém diante dos nomes próprios. É surpreendente a falta de imaginação de Roussel em relação a isso, observa seu biógrafo, “mas que ele não tenha procurado por um ‘procedimento’ qualquer um meio de remediar isso, do ’auge da juventude’ até sua maturidade, é ainda mais surpreendente”.28 O texto que Roussel enviava ao editor, contrariamente ao que se poderia esperar de um homem tão meticuloso, nunca era definitivo: muitas vezes, deixava em branco os nomes de suas personagens, só os completando na prova, ou pedindo ao revisor tipográfico para escolhê-los, mas, nesse caso, ele quase sempre os substituía por outros que não haviam sido sugeridos.29 É notável que seja com os significantes mais próprios a evocar o traço unário que o procedimento enfrente dificuldade, e que apenas nessa circunstância Roussel apele para uma ajuda externa. Sabe-se que os nomes próprios permanecem quase os mesmos em todas as línguas, de modo que possuem a característica de não serem traduzidos, e essa propriedade revela sua afinidade com a marca e com a designação direta do significante como objeto. A 28 29 Caradec, F. Vie de Raymond Roussel, Jean-Jacques Pauvert. Paris, 1972, p.64. Ibidem, p.101. A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. patronímia não leva com ela o sentido do objeto, afirma Lacan, “mas qualquer coisa que seja da ordem de uma marca aplicada de algum modo sobre o objeto, superposta a ele”.30 Sua característica lhe parece dever ser encontrada em uma relação fundamental com a escrita, o que o conduz a sublinhar as afinidades com o traço unário. Consequentemente, o procedimento de Roussel conserva o traço do que remedeia: a carência do significante próprio para representar o sujeito diante dos outros significantes. Existe, no entanto, uma notável exceção: um dos personagens de Impressions d’Afrique, um imitador talentoso, uma imagem de Roussel, possui uma patronímia não apenas gerada pelo procedimento, mas que poderia valer como nominação do próprio procedimento: trata-se de “Bob Boucharessas”. Nessa “bouche à ressasse” (boca que repete palavras), cuja homofonia constitui o alimento, transparece a vacuidade do ciframento operado pelo procedimento. É porque Roussel deve elaborá-lo para representá-lo e para localizar seu gozo, que ele pode funcionar para produzir uma espécie de autonominação. Ainda, poderia valer como pseudônimo de seu autor. Em contrapartida, desde que o procedimento se afasta de si mesmo e se encontra confrontado com o que mais evoca aquilo a que faz suplência, a função do significante, que representa a singularidade do sujeito, aparece então uma dificuldade que leva o traço da falha da estrutura. As imagens “à ressasse” (repetitivas), ancoradas na homofonia, repousam em uma estética fundada na depuração da escória do sujeito na linguagem. Além do mais, se o projeto de Roussel consiste em apagar de seus escritos o sujeito da enunciação, de maneira tão radical quanto possível, em proveito de um autoengendramento do texto pela letra, parece que toda sua obra, do mesmo modo que a de Joyce, ainda testemunha com isso a falha a que faz suplência. A cerzidura que faz o irlandês, através de seus escritos, não restaura plenamente a função narcísica: para ele, o que está em jogo é um gozo privado da letra, que não se liga em nada com o inconsciente do leitor,31 enquanto, para Roussel, subsiste, em sua obra, uma propensão do símbolo a se tornar autônomo, o que testemunha a primeira falha e que também não se liga ao inconsciente do leitor. Se eles são 30 31 Lacan, J. L’identification. Séminaire inédit du 20 Décembre 1961. Lacan J. “Joyce, le symptôme I”. Em: Joyce avec Lacan. Paris: Navarin, 1987, p.25. A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. considerados ilegíveis, é porque um e outro, ainda que de maneiras distintas, se revelam desabonados do inconsciente. O trabalho de conexões significantes produzido por Roussel gera mais de um sentido, mas seu esforço para reduzir o texto ao S2, apagando o suporte da enunciação, só deixa significações vazias. Seus romances abortam qualquer interpretação. Por outro lado, delimitando seus contos com duas frases que se refletem quase em espelho, o procedimento de Roussel inscreve no texto a função de limite e de enodamento que lhe é inerente. Não há como não fazer uma analogia com Finnegans Wake, que termina com uma frase inacabada que continua na primeira linha da obra. O enodamento é diferente: Roussel usa um mundo de imagens entre suas frases refletidas, enquanto que a frase interrompida de Joyce é homogênea à suspensão da significação inerente a seu texto. Da escrita de Roussel se impõe ao leitor uma abundância do imaginário, testemunhando o lugar excepcional tomado por essa dimensão em razão de seu enodamento muito estreito ao real. “Em mim, afirma, a imaginação é tudo”. Nada disso aparece em Joyce: é o gozo da letra que se percebe mais manifestamente. No seu caso, é o simbólico que se prende ao real de maneira não borromeana. Temos a confirmação de que a escrita de Roussel lhe tenha permitido fazer suplência da falha de sua estrutura no fato de que, quando se suicida, no dia 14 de julho de 1933, havia parado de escrever.32 Ele só esperava, havia um ano ou dois, um “pouco de reconhecimento póstumo.33 Sem dúvida, Roussel apresentava numerosos traços obsessivos que poderiam levar a considerá-lo como neurótico, o que parece ter sido a propensão de Janet, ainda que faça menção a um momento de delírio e a um episódio melancólico. Todavia, essa hipótese não parece aceitável quando o discernimento da estrutura psicótica chega a se fundar sobre a evidência de falhas do nó borromeano e das suplências correspondentes. Sob esse ponto de vista, resta por fazer uma nova clínica diferencial.34 Hoje em dia, só parece possível esboçá-la buscando, em primeiro lugar, reconhecer 32 Caradec, F. Vie de Raymond Roussel, Jean-Jacques Pauvert. Paris, 1972, p.379. Roussel, R. Comment j’ai écrit certains de mes livres [1935]. Coll. 10/18, 1963, p.35. 34 As hipóteses segundo as quais as falhas no enodamento da estrutura se apoiam, em Joyce, em uma liberação imaginária, e, em Roussel, em uma liberação simbólica, exigem o exame de uma 33 A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval Latusa Digital Ano 9 – N. 48 – Março de 2012. as falhas da estrutura, manifestadas por um enodamento mal feito de uma das dimensões de RSI relativamente a outra; em seguida, esforçando-se para discernir que modo de suplência é posto em jogo. Todavia, na prática clínica, é regra não dispormos de documentos comparáveis aos escritos de Joyce e de Roussel, de modo que o discernimento da estrutura psicótica deve, em geral, fundar-se em signos mais discretos e em uma argumentação menos desenvolvida. Tradução: Viviane de Lamare Revisão técnica: Angélica Bastos terceira possibilidade: onde estaria o real cuja conexão não estivesse inicialmente assegurada. É o que Geneviève Morel põe em evidência no que se refere a Ven: no caso dessa mulher, parece que é o travestismo masculino que, criando uma barreira contra a transexualização, opera uma suplência à foraclusão da significação fálica.(Morel, G.”Un cas de transvestisme féminin” Em: La Cause Freudienne. E.C.F. Paris, n.30,1995, p.20-26). A elaboração de uma suplência por um procedimento de escrita: Raymond Roussel - Jean-Claude Maleval