Moção contra a opressão de gênero nas instituições da Psicologia
A delegação do CRP 16 não poderia se omitir. Somos o Estado que lidera as estatísticas
nacionais de casos de violência contra a mulher e isso é vergonhoso para nós. Para quem acha
chato, engraçado ou risível, nós não achamos.
"Pode, querida. Você pode tudo. Quase tudo comigo, você sabe."
A frase acima pode parecer inocente, carinhosa, conversa entre amigos ou algo mais.
Mas não é bem assim. Foi proferida por um homem, em uma reunião de trabalho, para uma
colega com quem está longe de ter intimidade. Surgiu durante uma discussão, em que mais
havia discordância que consenso.
Frases como essa são ouvidas diariamente por mulheres no contexto do trabalho, e em geral
servem para neutralizar argumentos, para colocá-las na tradicional condição de terem de
seduzir, agradar aos homens para obter o que desejam. Em geral não surgem em discussões
entre homens.
A perversidade desse tipo de abordagem está exatamente na aparente suavidade, na sua
ambiguidade. "Você pode quase tudo comigo". Quase tudo o quê? O que isso significa em uma
reunião de trabalho?
Frases que inferiorizam mulheres, que nos trazem constrangimentos, piadinhas que nos
ridicularizam, diminuem a importância do que fazemos e dizemos, fazem parte do cotidiano
das mulheres no lar, no lazer, na escola, no trabalho. São filhas do patriarcalismo, da cultura
do machismo que alimentamos em nossa sociedade.
Lutamos, conquistamos lugares no mundo do trabalho, mantemos nossas famílias, estamos
em espaços de representação - mas continuamos ouvindo piadinhas, sendo vítimas de
violência, recebendo salários inferiores aos dos homens; enfim, seguimos vivendo em uma
cultura que nos desvaloriza.
Esse episódio, por si, já seria constrangedor e emblemático, mas uma condição coloca-nos
ainda mais preocupadas: foram proferidas pelo vice-presidente do Conselho Federal de
Psicologia, psicólogo Rogério Oliveira, em uma reunião de trabalho com as/os presidentes dos
Conselhos de Psicologia de todos os estados brasileiros - o vídeo está disponível neste link:
http://migre.me/rxES1 - o fato vai de 01h10min até aproximadamente 01h14min.
Uma categoria composta por aproximadamente 80% de mulheres. E seu vice-presidente as
trata de forma ambígua, de modo a minimizar a relevância do que dizem e a insinuar um papel
para essas mulheres. E essa mulher, junto a outras mulheres e homens, lidera um CRP imenso,
tal como é o CRP de SP. Merece o nosso total respeito.
Uma diretoria que anuncia lutar pelas condições de trabalho das psicólogas e dos psicólogos,
mas cujo representante não respeita as condições mínimas de convivência entre seus pares,
pula as barreiras do respeito e insinua "possibilidades".
Essa é a situação que muitas psicólogas vivenciam cotidianamente nos seus locais de trabalho.
O desrespeito machista que se expressa de muitas formas, com interditos e barreiras, com
piadinhas, assédio, insinuações, "brincadeiras" - que constrangem, inferiorizam, ferem. E
vemos reproduzidas nas relações institucionais dentro da própria categoria.
Nós, mulheres psicólogas, não aceitamos esse tratamento, não aceitamos que, mesmo com
frases suaves, coloquem-nos em lugar de submissão, enfraqueçam nossas palavras e ações.
Não nos sentimos representadas e questionamos a legitimidade de um homem que, de seu
lugar de poder, desqualifica uma categoria que se compõe e se desenvolve graças ao trabalho
de muitas mulheres.
A frase que inicia esse texto não é carinho, não é brincadeira entre amigos - é
machismo, é violência.
Assinam essa moção com o CRP-16/ES:
CRP-01 - Distrito Federal
CRP-02 – Pernambuco
CRP-03 – Bahia
CRP-04 - Minas Gerais
CRP-05 - Rio de Janeiro
CRP-06 - São Paulo
CRP-07 - Rio Grande do Sul
CRP-08 – Paraná
CRP-10 - Pará/Amapá
CRP-12 - Santa Catarina
CRP-13 – Paraíba
CRP-14 - Mato Grosso do Sul
CRP-18 - Mato Grosso
CRP-17 - Rio Grande do Norte
CRP-19 – Sergipe
CRP-20 - Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia
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moção contra violência de gênero - CRP-RJ