O ESTUDO DE FUNÇÃO QUADRÁTICA POR MEIO DE UMA ÁREA IRREGULAR: UMA ATIVIDADE DE INVESTIGAÇÃO COM O AUXÍLIO DO GEOGEBRA Julio Cezar Rodrigues de Oliveira UNESPAR – Campus Apucarana / UEL – Universidade Estadual de Londrina [email protected] Andressa Cavazzini dos Santos UNESPAR – Campus Apucarana [email protected] Letícia Barcaro Celeste Omodei UNESPAR – Campus Apucarana [email protected] Resumo: Este trabalho apresenta o relato de uma atividade de cunho investigativo, desenvolvida em um curso de formação continuada. O curso foi voltado para os professores de matemática da Educação Básica do ensino público que lecionam no Ensino Fundamental e Médio. O objetivo dessa atividade é estudar a relação entre uma área irregular e a função quadrática definida por essa área, com o objetivo de investigar como é possível definir essa função com o auxílio do software GeoGebra, fazendo uso do caráter dinâmico que ele proporciona, revisando os conteúdos matemáticos que surgem durante essa atividade. As reflexões sobre a atividade indicam que o uso desse software pode possibilitar que os estudantes desenvolvam a habilidade de criar conjecturas, testá-las, verificar se são verdadeiras ou não, e buscar justificá-las matematicamente. Palavras-chave: Função Quadrática. Área Irregular. GeoGebra. Investigação Matemática. Introdução Nesse trabalho apresentamos uma atividade desenvolvida por professores no curso de formação continuada intitulado: “Utilizando o GeoGebra na Álgebra e Geometria – Uma Proposta Didático-Pedagógica”1. Esse curso faz parte de um projeto de Iniciação Científica financiado pela Fundação Araucária, no qual o primeiro autor atua como voluntário, a segunda autora como bolsista e a terceira autora é a orientadora do projeto. 1 Este curso foi realizado na UNESPAR – Campus Apucarana, no decorrer do ano de 2013. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 A elaboração das propostas a serem desenvolvidas no curso é de responsabilidade dos acadêmicos do projeto que cursam Licenciatura em Matemática da UNESPAR – Campus Apucarana, e o curso é destinado aos professores da Educação Básica das escolas públicas do Núcleo Regional de Educação de Apucarana. O objetivo do curso é proporcionar aos professores momentos de reflexão a respeito da utilização das tendências em Educação Matemática, tendo como ferramenta a utilização do software GeoGebra. Durante o curso os acadêmicos propõem atividades que serão trabalhadas por meio das tendências em Educação Matemática. Na atividade que apresentaremos em particular, a tendência que norteou a resolução foi a investigação matemática, na qual os professores estudaram um problema geométrico, relacionando-o a uma função quadrática, e no decorrer da aula surgiram vários questionamentos acerca das conjecturas2 que eles criaram, para que eles pudessem definir com clareza a função que responderia às questões levantadas. Investigação matemática Uma investigação é caracterizada por um problema em aberto no qual o objeto a ser investigado não foi explicitado pelo professor, mas o método de investigação deve ser indicado por meio de uma introdução oral, por exemplo, de uma forma pela qual o estudante compreenda o significado de investigar (PARANÁ, 2008). Ao se referir às investigações em matemática, Ponte, Brocardo e Oliveira afirmam que Investigar em Matemática assume características muito próprias, conduzindo rapidamente à formulação de conjecturas que se procuram testar e provar, se for o caso. As investigações matemáticas envolvem, naturalmente, conceitos, procedimentos e representações matemáticas, mas o que mais fortemente as caracteriza é esse estilo de conjecturateste-demonstração (PONTE, BROCARDO E OLIVEIRA, 2009, p.10). Nesse sentido, acreditamos que a investigação matemática possibilita que o estudante trabalhe como um matemático, ao criar hipóteses a respeito do que está investigando, e buscar a sua validade por meio da demonstração, ou a sua refutação, por meio de um contraexemplo. 2 Entendemos o termo conjectura como “Juízo ou opinião sem fundamento preciso; suposição; hipótese” (FERREIRA, 2011, p. 241). XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Ponte, Brocardo e Oliveira (2009) afirmam que uma investigação matemática envolve quatro momentos principais: Exploração e formulação de questões: momento no qual é necessário reconhecer a situação inicial, explorá-la e formular as questões iniciais; Formulação de conjecturas: os dados são organizados e assim fica mais claro para que seja possível formular conjecturas e fazer afirmações a seu respeito; Testes e reformulação: as conjecturas são testadas para verificar se são verdadeiras e, caso não o sejam, são reformuladas, para que sejam realizados novos testes; Justificação e validação: para que tenhamos certeza que as conjecturas são verdadeiras, é necessário demonstrá-las. E, por fim, avalia-se o raciocínio e o resultado obtido. Ao desenvolver uma atividade de investigação matemática, pode ser que esses momentos não ocorram de forma linear, ou talvez tenhamos que passar por alguns dos momentos por mais de uma vez, por exemplo, se uma conjectura formulada inicialmente mostrar-se falsa, então é necessário que ela seja reformulada, para que ela seja testada novamente e, se ela mostrar-se verdadeira, será necessário justificá-la. Uma atividade de investigação matemática pode desenvolver-se tanto em torno de apenas um quanto em torno de vários problemas. Ou ainda podemos partir de um problema inicial, e, ao buscar a sua resolução desse, encontrarmos diversos problemas no decorrer do processo. O professor deve atuar como um mediador, facilitando a aprendizagem, questionando os estudantes para que eles observem quando estão ou não no caminho certo. Ponte, Brocardo e Oliveira (2009) afirmam que o papel do professor é fundamental, pois ele é responsável por criar um ambiente adequado ao trabalho investigativo. Siltrão e Cristóvão (2000) apontaram que a postura do professor em uma aula investigativa é de extrema importância, pois está pautada em sua segurança e a forma pela qual ele conduz a aula, e seu trabalho inicia-se ao escolher a proposta a trabalhar com os estudantes, para que elas se constituam em um verdadeiro desafio para eles. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Em uma aula de investigação, o professor deve estar atento a aspectos característicos do processo, dando apoio aos estudantes de várias formas, tais como: colocar questões mais ou menos diretas, fornecer ou recordar informação relevante, promover a reflexão e fazer algumas sínteses. Em relação às divergências de pensamento entre os estudantes no decorrer da aula, Ponte, Brocardo e Oliveira sugerem que Quando os estudantes se confrontam com dúvidas ou com um impasse no seu trabalho, não sabendo como prosseguir, o professor deve começar por colocar questões abertas. Muitas vezes, quando os estudantes lhe colocam uma questão, a melhor estratégia é devolvê-la, levando-o a pensar melhor sobre o seu problema. Por vezes, há necessidade de as questões se transformarem em sugestões orientadoras da atividade dos alunos (PONTE, BROCARDO e OLIVEIRA, 2009, p. 52). Em consonância com os autores, cremos que o professor não pode apenas entregar os resultados aos alunos, ou confirmá-los respondendo às perguntas: “Está certo assim?”, mas o professor pode buscar a reflexão dos estudantes ao reformular questões e despertar neles o espírito de matemático de tentar justificar matematicamente as conjecturas que eles encontrarem, com o objetivo de explicar o porquê de sua conjectura ser ou não verdadeira. A Interação entre Geometria e Funções As atividades investigativas podem ser exploradas também no ensino de Geometria, em particular com o uso de softwares de Geometria Dinâmica como o GeoGebra, um software livre criado em 2001 por Markus Hohenwarter, com o objetivo de desenvolver um software destinado ao ensino e a aprendizagem de matemática em todos os níveis de conhecimento. O GeoGebra reúne recursos de álgebra, geometria e cálculo, o que possibilita o trabalho com tabelas, gráficos, construções geométricas, estatística, entre muitos outros recursos em um único ambiente. Os recursos que o GeoGebra disponibiliza permite que sejam elaboradas atividades nas quais é possível relacionar as construções geométricas planas com o conteúdo de funções, considerando não apenas no que diz respeito às diferentes representações de funções e das relações entre elas, como também o próprio conceito de função (GIRALDO, CAETANO e MATTOS, 2013). XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Além disso, a articulação entre geometria e funções ocorre naturalmente em softwares de geometria dinâmica como o GeoGebra. Vamos exemplificar com uma proposta apresentada por Oliveira et al (2013): se construirmos um quadrado cujo lado é uma variável l, e quisermos relacionar o perímetro do quadrado em função da variável l, podemos definir uma função afim na qual o domínio é dado pelas possíveis medidas que l pode assumir, e a imagem será dada por todas as possíveis medidas de perímetro desse quadrado, ou seja, a imagem é dada pela fórmula P(l)=4l, onde P(l) representa o perímetro desse quadrado, e temos a possibilidade de explorar o conceito de função com mais profundidade, pois nesse caso, teremos um domínio restrito a um intervalo, ou seja, o intervalo de existência dessa variável l. Giraldo, Caetano e Mattos afirmam que a articulação entre a geometria e as funções se dá fundamentalmente em dois sentidos Por um lado, quando gráficos de funções reais são construídos em geometria dinâmica, é necessário aplicar diversos conceitos de geometria plana; e por outro lado, os recursos dinâmicos dos ambientes permitem reconhecer e explorar concretamente relações funcionais entre objetos geométricos (GIRALDO, CAETANO e MATTOS, 2013, p. 163). Quando o estudante tem a oportunidade de conjecturar a respeito de alguma função que represente uma relação de dependência entre dois objetos geométricos, é possível que ele utilize o software para verificar se está pensando de forma correta ou não, mas o objetivo da utilização do software não é apenas essa verificação. Por meio do software e da intervenção do professor, o estudante será desafiado a mostrar que sua conjectura está certa e a buscar uma forma de prová-la, uma vez que o software facilita a visualização, porém a demonstração é o estudante quem deve construir. A investigação de relações de dependência entre grandezas geométricas constituem uma oportunidade para aprimorar a percepção intuitiva da ideia de variação, e os ambientes de geometria dinâmica podem fornecer um apoio importante para que esse objetivo seja alcançado (GIRALDO, CAETANO e MATTOS). Nessa perspectiva, vamos apresentar na próxima seção o relato de uma atividade desenvolvida em um curso de formação continuada de professores, na qual os professores utilizaram o GeoGebra para investigar como representar uma função que define uma área irregular, representada pela diferença entre a área de um losango e um círculo interno a esse losango. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Relato: Representando uma Área Irregular por meio de uma Função Quadrática Este relato apresenta o desenvolvimento de uma das propostas em um curso de formação continuada, realizada com os professores da educação básica da rede pública de ensino do Paraná. Para se referir ao acadêmico responsável pela condução da atividade, vamos nomeá-lo apenas de acadêmico, e nos referiremos aos cursistas como professores. É importante ressaltar que o objetivo do trabalho não é o aprofundamento das instruções para a realização das construções no GeoGebra, mas consiste na exploração das discussões realizadas no desenvolvimento da atividade. A proposta apresentada aos professores foi a seguinte: Área Irregular em um Losango No losango da figura ao lado, temos AC = 8, BD = 4, OP é o raio da circunferência cujo centro O está na interseção das diagonais AC e BD, e P é um ponto móvel que determina as dimensões dessa circunferência com raio máximo quando a circunferência é tangente internamente ao losango. Qual é a expressão que define a área representada pela diferença da área do losango e a área da circunferência em função da medida do raio OP? Quais são os valores mínimo e máximo para o raio? E quais são os valores mínimo e máximo da área procurada? FONTE: Do autor. Para responder às perguntas da proposta, os professores sugeriram que construíssemos o losango no GeoGebra para poder analisar qual é a relação entre as áreas, uma vez que o ponto P é um ponto móvel e desloca-se pelo segmento OB. Para a construção desta figura no GeoGebra, a primeira sugestão dos professores foi de construir um segmento DB de comprimento fixo de medida 4, para em seguida encontrar o ponto médio O deste segmento e traçar sua mediatriz. Na sequência, traçamos uma circunferência cujo raio mede 4 e encontramos a interseção entre essa circunferência e a reta recém-criada. XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Quadro 01: Construindo o Losango Um professor indagou se o polígono construído seria inscrito ou circunscrito à circunferência. Mas em seguida notou que nenhuma das duas opções estaria correta, pois temos dois vértices que pertencem à circunferência (A e C) e os outros dois são internos a ela (B e D). Os professores foram questionados a respeito de quais vértices definiriam o losango, ao que eles responderam que o quadrilátero DABC representa o losango. O acadêmico questionou os professores sobre como eles poderiam ter certeza que esse quadrilátero é um losango. A princípio, eles justificaram que a construção já define que DABC é um losango, mas começaram a elencar as propriedades implícitas nessa construção. Foram citadas: Os segmentos AC e DB são perpendiculares e esses segmentos se interceptam em seus respectivos pontos médios; Se considerarmos qualquer dos triângulos retângulos BOA, AOD, DOC ou COB, e calcularmos a medida de suas hipotenusas, obteremos quatro medidas congruentes, que representarão os lados do losango. Por meio das propriedades da construção, chegamos à conclusão que poderíamos justificar que DABC é um losango das duas maneiras descritas. A próxima etapa foi a de construir um círculo interno ao losango, com centro na interseção entre as diagonais AC e DB, de modo a considerar que o ponto P é móvel no segmento OB. Para tanto, os professores afirmaram que o valor mínimo para o qual a medida desse segmento tende é zero, mas a questão que precisavam responder era: Qual é o valor máximo que o raio poderia admitir, ou seja, a medida do raio que determinaria quando a circunferência é tangente internamente ao losango? Para responder a essa pergunta, os professores consideraram o lado AB do losango e conjecturaram quatro possibilidades para descobrir o ponto de tangência interno da circunferência. São elas: XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 1ª: O ponto médio de AB é o ponto de tangência. Ao encontrar o ponto médio do lado AB, os professores construíram também a circunferência cujo centro é o ponto O com raio igual ao segmento OM. Ao realizar essa construção, eles puderam observar que não era o ponto médio do lado do losango que determinaria a medida de raio máximo, pois nesse ponto não teríamos uma circunferência tangente internamente ao losango, descartando essa hipótese. 2ª: O ponto de interseção entre a bissetriz do ângulo BOA e o lado AB é o ponto de tangência. Depois de traçar a bissetriz do ângulo BOA, os professores encontraram o ponto de interseção entre a bissetriz e o lado AB. Dessa forma eles construíram a circunferência cujo raio é dado pelo segmento OT. Foi observado que essa circunferência também não é tangente internamente ao losango. 3ª: O ponto de interseção entre a mediatriz de AB e o lado AB é o ponto de tangência Para investigar, os professores traçaram a reta perpendicular ao lado AB, passando pelo seu ponto médio, e em seguida traçaram a circunferência com centro em O, com raio igual a medida do segmento OE. Alguns ainda afirmaram que não seria necessário fazer esse teste, pois essa é a mesma circunferência traçada na primeira hipótese, quando pensaram que o ponto médio de AB fosse o ponto de tangência. 4ª: O pé da altura do triângulo BOA relativa ao lado AB é o ponto de tangência Para isso, traçaram uma reta perpendicular ao lado AB passando pelo ponto O, e encontraram o ponto H de interseção entre essa reta e o lado AB, e por fim traçaram a circunferência cujo centro é o ponto O e o raio dado pela medida de OH. Com isso, aparentemente, a circunferência era tangente internamente ao XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 losango, mas, para verificar, eles encontraram todas as quatro interseções entre a circunferência e o losango. Os professores justificaram que o ponto de tangência entre a circunferência e o losango é dado pelo pé da altura do triângulo BOA em relação ao lado AB, por meio de uma das propriedades que lembraram: Toda tangente a uma circunferência é perpendicular ao raio no seu ponto de tangência. Essa propriedade não foi demonstrada pelos professores, mas poderia ter sido trabalhada com eles para que pudessem comprovar o porquê de sua validade. Nessa etapa, os professores sabiam que a medida máxima do raio seria igual a altura OH do triângulo BOA, agora precisavam determinar a medida dessa altura. Para isso, eles consideraram o fato do triângulo BOA ser um triângulo retângulo e utilizaram o Teorema de Pitágoras para encontrar a medida do lado AB, obtendo: 2 2 4 2 AB 2 20 AB 2 AB 2 5 . Conhecendo as medidas dos catetos e da hipotenusa do triângulo retângulo, os professores afirmaram que poderiam utilizar uma das relações métricas do triângulo retângulo, que afirma: o produto da hipotenusa pela altura relativa a ela é igual ao produto dos catetos. Com isso, eles chegaram a: 2 5. OH 2.4 OH 4 5 . 5 O acadêmico questionou se os professores conseguiriam justificar o porquê da validade dessa relação métrica, e os professores não conseguiram justificar de imediato, ao passo que o acadêmico pediu que os professores o ajudassem a representar o triângulo BOA no quadro (Ver Quadro 02). E em seguida o acadêmico questionou se os professores conseguem calcular a medida de h considerando os triângulos que compõem a figura. Foi sugerido que eles comparassem os triângulos BOH e BOA, e eles verificaram que o ângulo B̂ é comum a ambos e os dois triângulos possuem um ângulo reto ( AHˆ O e BOˆ A) , o que permite concluir que, se dois triângulos possuem dois ângulos com mesma medida, então esses triângulos são semelhantes. Quadro 02: Triângulo Retângulo XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 Logo os lados homólogos dos triângulos são proporcionais, o que possibilita considerar a seguinte proporção: 4 2 5 4 5 h , e assim chegamos ao mesmo h 2 5 resultado que os professores chegaram ao considerar as relações métricas no triângulo retângulo, mas nesse último caso, utilizamos a semelhança entre dois triângulos. Voltando a questão proposta, os professores consideraram que a medida do raio OP representa o domínio da função dada pela diferença da área do losango e do círculo 4 5 interno a ele, logo o domínio é dado por Dom r IR / 0 r , no qual r 5 representa o raio da circunferência. E, para construir o círculo, os professores criaram um controle deslizante que representa o intervalo das medidas do raio. A expressão que define a área irregular em função do raio é dada por: a(r ) Alosango Acírculo 8.4 .r 2 16 .r 2 2 4 5 A função que determina a área irregular é dada por a : 0, IR e definida 5 por a(r ) 16 .r 2 . Os professores afirmaram que, para encontrar os pontos de 4 5 , e esses pontos determinam a máximo e mínimo, basta calcularmos a(0) e a 5 área máxima e mínima, respectivamente, mas não se pode deixar de lado o fato de que a função a não está definida para r = 0 Eles refletiram sobre essa ideia e afirmaram que, quando r 0 , ou seja, ao calcular lim r 0 a(r ) 16 , e temos que 16 é a área do próprio losango. Observaram também que nessa função quadrática, na qual o valor do coeficiente a é menor do que zero, a imagem da função tende ao seu valor máximo quando r tende a zero, até mesmo porque a diferença entre a área do losango e do círculo será a maior possível quando o raio do círculo tende a zero. Outra sugestão foi a de calcular o valor de r para o qual a função admite a área máxima, que é dado pela fórmula rv b , e como o coeficiente b da função é igual a 2a zero, temos que r = 0, mas temos que lembrar que f não está definida para r = 0. Os professores justificaram essa fórmula ao explicar que essa coordenada é dada pelo ponto XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 médio das raízes da equação: 16 .r 2 0 . Outra alternativa seria considerar o ponto no qual a derivada dessa função é igual a zero, pois assim encontraríamos o ponto de máximo. Dessa forma, eles concluíram que a área máxima tende para 16 unidades de área, mas não será igual a esse valor, pois a função não está definida no ponto onde r = 0. E a 2 4 5 4 5 80 400 80 16 . 16 . área mínima é dada por: a 5,95 25 25 5 5 unidades de área. Na sequência, foi plotado o gráfico da função a no software e criado um ponto S cujas coordenadas x e y são representadas pela medida de r e a diferença entre as áreas, respectivamente. Quadro 03: Relacionando o Gráfico da Função com a Construção Geométrica Como representado no Quadro 03, podemos notar que, conforme o valor do raio da circunferência interna ao losango aumenta, a coordenada y do ponto S reduz, uma vez que ela representa a diferença entre a área do losango e do círculo interno a ele, ou também representa a função a que definimos. Dessa forma, foi possível relacionar a construção geométrica da figura com a função que representa a diferença entre as áreas, e o software possibilitou uma abordagem dinâmica, mas para que conseguíssemos realizar essa construção, visitamos vários conteúdos matemáticos que permitiram realizá-la e obter êxito na resolução da atividade. Considerações finais Na primeira etapa do desenvolvimento dessa atividade, partimos de sugestões dos professores para construir um losango com as características apresentadas no XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 enunciado, para depois pensar nas possíveis medidas do raio do círculo interno a esse losango. Em seguida, foi necessário discutir a respeito de qual seria o ponto de tangência do círculo inscrito nesse losango, e como faríamos para encontrá-lo. Nessa etapa passamos por todos os momentos principais para a resolução descritos por Ponte, Brocardo e Oliveira (2009), pois, a princípio, os professores reconheceram que, para encontrar a medida do raio máximo, eles teriam que descobrir o ponto de tangência. Depois de explorarem a situação inicial, eles criaram quatro possíveis conjecturas, testaram uma a uma e verificaram que o pé da altura é que seria o ponto de tangência. Por fim, eles justificaram a conjectura por meio de uma propriedade que já conheciam sobre retas tangentes a circunferências. Na próxima etapa, os professores investigaram qual seria a medida máxima que o raio poderia admitir, para tanto utilizaram uma propriedade já conhecida, mas quando questionados pelo acadêmico se conseguiriam justificar essa propriedade, foi necessário que retomassem o estudo de semelhança de triângulos. Dessa forma, podemos revisitar conteúdos que aprendemos anteriormente para construir novos conhecimentos, principalmente quando não nos lembramos das fórmulas com facilidade. Na última etapa, os professores definiram a função que representa a área irregular, mas para isso foi necessário que conhecessem o domínio e a imagem dessa função, elementos que eram dados pelo estudo dos objetos geométricos envolvidos nessa atividade. A utilização do GeoGebra possibilitou a investigação de uma relação funcional entre objetos geométricos, que pode ser representada pelo gráfico dessa função, e verificada por um ponto que percorre esse gráfico. É importante que o professor consiga refletir sobre suas atitudes e práticas em sala de aula, se está sendo apenas transmissor de informações ou mediador de conhecimento. Esta atividade concede a oportunidade para o aluno construir seu conhecimento em uma aula de investigação matemática, na qual o professor induz o aluno, a partir de questionamentos e não de respostas, para que chegue a um resultado esperado. Com isso, o professor pode tornar-se um auxiliador na atividade desenvolvida. Além disso, esta atividade oportuniza que os professores envolvidos no curso conheçam na prática a Investigação Matemática, pois, apesar de as tendências da Educação Matemática serem discutidas nos cursos de formação de professores, tanto XII EPREM – Encontro Paranaense de Educação Matemática Campo Mourão, 04 a 06 de setembro de 2014 ISSN 2175 - 2044 inicial como continuada, nos últimos anos, ainda são poucos os professores que conseguem desenvolvê-las em sala de aula, talvez por falta de prática ou pelo fato de a aula tradicional estar tão inserida no meio escolar que se torna difícil a ideia de poder pensar em uma aula diferenciada. Acreditamos que a utilização do software GeoGebra em atividades de investigação matemática pode possibilitar aos estudantes e professores um momento de reflexão, no qual eles não agirão mais de forma mecânica ao resolver uma determinada atividade, mas sim terão que conhecer os conceitos envolvidos, com o objetivo de articulá-los para criar suas próprias conjecturas e justificá-las por meio da matemática. Referências FERREIRA, A. B. de H. Aurélio Junior: Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. 2ª ed. Curitiba: Positivo, 2011, p. 241. GIRALDO, V. CAETANO, P. MATTOS, F. Recursos Computacionais no Ensino da Matemática. Coleção PROFMAT. 1ª ed. Rio de Janeiro: SBM, 2013. OLIVEIRA, J. C. R. et al. Curiosidades em um quadrado: Um estudo de funções com o software GeoGebra em um curso de Formação Continuada. In: SEMANA DE MATEMÁTICA DA UEM, 24. 2013, Maringá. Anais. Maringá: 2013. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. 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