UNIVERSID ADE DO V ALE DO IT AJ AÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR Curso de Engenharia Ambiental Análise da paisagem de uma área reflorestada no município de Cerro Negro, SC Ac: Germano Guidali Koeche Orientador: Rosemeri Marenzi, Doutora Co-orientador: Hélia Espinoza, Mestre Itajaí, Junho/2013 UNIVERSID ADE DO V ALE DO IT AJ AÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR Curso de Engenharia Ambiental TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Análise da paisagem de uma área reflorestada no município de Cerro Negro, SC Germano Guidali Koeche Monografia apresentada à banca examinadora do Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Ambiental como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Ambiental. Itajaí, Junho /2013 i ` ii DEDICATÓRIA Aos meus pais José Luiz e Jane, a meus irmãos Felipe e Betina, a minha avó Celira Koeche e a minha namorada Maria Eduarda, pela paciência e amor que me dedicam. Aos meus professores orientadores Rosemeri Carvalho e Hélia Farias. iii AGRADECIMENTOS À minha orientadora Rosemeri Marenzi Carvalho pela atenção e incentivo em todas as orientações e por sua amizade. À minha co-orientadora Hélia Farias Espinoza por toda atenção e paciência dedicada nas frequentes orientações e por sua amizade. Aos professores avaliadores da banca Dalva Sofia Schuch e Rafael Sperb. Aos meus pais por me bancarem financeiramente por todos esses anos e principalmente pelo carinho e amor dedicado em todos os momentos. À minha namorada Maria Eduarda Ristow, por todo amor, carinho e principalmente apoio e incentivo na realização deste trabalho. Aos meus irmãos, pela amizade, companheirismo e amor. Aos colegas pelos momentos vividos juntos e a amizade que partilhamos. As amizades mais próximas que fiz durante toda faculdade. Aos meus amigos/colegas que me deram dicas, força, e apoio. A professora Cristina Ono Horita pela sua amizade e atenção dentro e fora da sala de aula. Ao professor Franklin Misael Pacheco Tena pelo método didático e facilidade de ensinar, facilitando o meu aprendizado. E a todos os professores. iv RESUMO Uma das maiores ameaças ao meio ambiente são as pressões antrópicas que geram fragmentações no ambiente natural, por consequência gerando a perda de habitats e da biodiversidade. A exploração madeireira da Floresta Ombrófila Mista ou Floresta de Araucária na região da Serra Catarinense estimulou o desenvolvimento e o crescimento dos municípios da Serra, favorecendo a economia local, mas incorrendo em impactos de fragmentação. Este trabalho teve como objetivo analisar a paisagem de uma propriedade particular localizada no município de Cerro Negro, na Serra Catarinense. A propriedade estudada tem reflorestamento de oito tipos de madeira para corte, Cryptomeria japônica, Cupressus lusitânico, Eucalipto (benthamii e dunnii), Pinus (elliotii, greggi, patula e taeda). Por meio do geoprocessamento a partir da utilização do sistema de informação geográfico Spring 5.2.2 e a utilização de imagens de satélite e cartografia foram elaboradas mapas de uso e ocupação do solo e identificação das diferentes Áreas de Preservação Permanente (APPs). Desta forma, foi possível analisar a estrutura espacial da paisagem (manchas, matriz e corredores) e propor o cenário ideal com medidas voltadas para a conservação da biodiversidade, com o intuito de fornecer a proteção dos recursos naturais da propriedade e ao mesmo tempo manter suas atividades econômicas. Com isso pode-se concluir que houve conflito do reflorestamento principalmente com a Floresta Ombrófila Mista, a qual sofreu fragmentação de habitat, causando alguns impactos negativos. Para isso foi proposto no cenário ideal à retirada de 81,11 ha de reflorestamento em conflito, para a reflorestação desses locais com mudas nativas, assim seguindo a legislação, melhorando o fluxo de genes entre as florestas e contribuindo com a biodiversidade local. Palavras-chaves: Ecologia da Paisagem, conservação, reflorestamento. v ABSTRACT One of the biggest threats to the environment is the anthropogenic pressures that cause fragmentation of the natural environment, therefore causing the loss of habitats and biodiversity. The logging of the Rain Forest and Araucaria Forest in the mountain range of Santa Catarina stimulated the development and growth of the municipalities of favoring the local economy, but incurring impacts of fragmentation. This study aimed to analyze the landscape of a private property located in the municipality of Cerro Negro, in the mountain range of Santa Catarina. The property has studied reforestation eight types of wood to cut, Cryptomeria japonica, Cupressus Lusitanic, Eucalyptus (benthamii and dunnii), Pinus (elliotii, Greggi, patula and taeda). Through the GIS from the use of Geographic Information System Spring 5.2.2 and using satellite images and maps were prepared maps and land use and identification of different Areas of Permanent Preservation (APPs). Thus, it was possible to analyze the spatial structure of the landscape (patches, corridors and matrix) and propose the ideal scenario with measures for the conservation of biodiversity, in order to provide protection of the natural resources of the property and at the same time maintaining their economic activities. Thus it can be concluded that there was conflict of reforestation especially with Araucaria forest, which has suffered fragmentation of habitat, causing some negative impacts. With this ideal scenario has been proposed in the withdrawal 81,11 há of reforestation in conflict, to reforest these areas with native plants, thus following the law, improving the flow of genes between forests and contributing to local biodiversity. Keywords: Landscape ecology, conservation, reforestation. vi SUMÁRIO DEDICATÓRIA ....................................................................................................................... i AGRADECIMENTOs ............................................................................................................. iii Resumo ................................................................................................................................ iv Abstract ................................................................................................................................. v Sumário ................................................................................................................................ vi 1 Introdução....................................................................................................................... 1 1.1 2 Objetivos ................................................................................................................. 3 1.1.1 Geral ................................................................................................................ 3 1.1.2 Específicos ....................................................................................................... 3 Fundamentação Teórica ................................................................................................. 4 2.1 Ecologia da Paisagem ............................................................................................. 4 2.1.1 Conceito ........................................................................................................... 4 2.1.2 Estruturas da Paisagem ................................................................................... 5 2.1.3 Fragmentação de Habitat ................................................................................. 7 2.1.4 Efeito de Borda ................................................................................................. 8 2.2 Trabalhos Sobre Ecologia da Paisagem .................................................................. 8 2.3 Floresta Ombrófila Mista ........................................................................................ 10 2.4 Campos de Altitude ............................................................................................... 14 2.5 Reflorestamento .................................................................................................... 16 2.5.1 Impacto do Reflorestamento ........................................................................... 17 2.5.2 Medidas de Mitigação de Impactos ................................................................. 19 2.6 Legislação Ambiental Pertinente............................................................................ 20 vii 3 Sistema de Informação Geográfica ............................................................................... 23 4 Metodologia .................................................................................................................. 24 4.1 Área de Estudo ...................................................................................................... 24 4.1.1 Localização Geográfica e Caracterização....................................................... 24 4.1.2 Características Gerais do Município ............................................................... 25 4.1.3 Característica das Espécies Reflorestadas da Área de estudo ....................... 26 4.2 Procedimentos Metodológicos ............................................................................... 28 4.2.1 5 6 Elaboração de mapas ..................................................................................... 28 Resultados e Discussão ............................................................................................... 38 5.1 Uso e Cobertura do Solo ....................................................................................... 38 5.2 Área de Preservação Permanente (APP) .............................................................. 43 5.3 Estrutura Espacial da Paisagem ............................................................................ 47 5.4 Proposta de Cenário Ideal ..................................................................................... 53 Considerações Finais ................................................................................................... 60 6.1 Recomendações .................................................................................................... 61 7 Referências .................................................................................................................. 62 8 Bibliografia consultada .................................................................................................. 66 viii LISTA DE FIGURAS Figura 1: Perfil esquemático da Floresta Ombrófila Mista..................................................... 13 Figura 2: Perfil esquemático dos Estepes............................................................................. 15 Figura 3: Localização da área de estudo, fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC................. 25 Figura 4: Imagem base para os mapeamentos da Fazenda dos Tijolos e o entorno, Cerro Negro, SC.............................................................................................................................. 30 Figura 5: Etapas do procedimento metodológico.................................................................. 31 Figura 6: Processo de mapeamento do uso e cobertura do solo.......................................... 32 Figura 7: Processo de mapeamento das áreas de preservação permanente....................... 34 Figura 8: Processo de mapeamento da estrutura espacial da paisagem. ............................ 36 Figura 9: Processo de mapeamento do cenário ideal........................................................... 37 Figura 10: Mapa de Uso e Ocupação da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. ............... 39 Figura 11: Mapa de APPs da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC................................... 44 Figura 12: Mapa da Estrutura Espacial da Paisagem da Fazenda dos Tijolos e o entorno, Cerro Negro, SC. .................................................................................................................. 48 Figura 13: Machas de F.O.M. da Estrutura Espacial da Paisagem da Fazenda dos Tijolos e o entorno, Cerro Negro, SC...................................................................................................... 51 Figura 14: Mapa das áreas a serem recuperadas para atingir o Cenário Ideal da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC................................................................................................. 54 Figura 15: Comparativo do cenário real com o cenário ideal da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC.............................................................................................................................. 57 ix LISTA DE QUADRO Quadro 1: Principais Leis ambientais pertinentes a nível federal......................................... 20 Quadro 2: Principais Leis ambientais pertinentes a nível estadual...................................... 22 Quadro 3: Principais Leis ambientais pertinentes a nível municipal. ................................... 23 x LISTA DE TABELA Tabela 1: Dados do uso e cobertura do solo da fazenda dos Tijolos – Cerro Negro, SC..... 40 Tabela 2: Dados das espécies cultivadas na fazenda dos Tijolos – Cerro Negro, SC. ........ 42 Tabela 3: Tipologias em conflito com APP dos cursos d’água da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. ............................................................................................................................ 45 Tabela 4: Tipologias em conflito com a APP dos topos de morro da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. .................................................................................................................. 46 Tabela 5: Área e quantidade das tipologias consideradas mancha para analise da paisagem da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC ............................................................................................................................................... 49 Tabela 6: Área e quantidade das manchas do tipo F.O.M. interna e externa da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. ...................................................................................................... 49 Tabela 7: Área e quantidade dos tipos de corredores da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. ........................................................................................................................................ 50 Tabela 8: Área e as subdivisões por curso d’água e estradas de cada mancha de F.O.M da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC.................................................................................. 52 Tabela 9: Total das áreas (ha) recuperadas para alcançar o cenário ideal da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC........................................................................................................ 55 Tabela 10: Comparação da área e proporcionalidade do cenário real com o cenário ideal da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC.................................................................................. 58 xi LISTA DE ABREVIATURAS APP – Área de Preservação Permanente CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente DAP – Diâmetro a Altura do Peito (corresponde a 1,30 metros do solo) IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MMA – Ministério do Meio Ambiente PIB – Produto Interno Bruto SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação SIG – Sistema de Informação Geográfica SRTM – Shuttle Radar Topographic Mission 1 1 INTRODUÇÃO Com o grande crescimento populacional e econômico da humanidade nos últimos séculos fez-se transformações no planeta, que antes eram grandes paisagens com florestas naturais. Este processo de crescimento acelerado resultou na fragmentação florestal, isto é, áreas extensas sendo reduzidas em uma grande coleção de ilhas de floresta constituídas por manchas remanescentes das florestas originais cercadas por áreas alteradas pelo homem (FERNANDEZ, 2000). Segundo Primack e Rodrigues (2001) as maiores causas da destruição de habitat são as atividades em larga escala, tais como mineração, pesca comercial, criação de gado, silvicultura, agricultura, fabricação, construção de represas, entre outros. Para Muchailh (2007) a maior ameaça para a biodiversidade é a fragmentação de habitat, gerando consequências como o isolamento das formações e populações remanescentes, alteração nos fluxos genéticos, intensificação das competições, alteração da estrutura e qualidade de habitat, extinção e perda de biodiversidade. Alguns cientistas alegam que controlar o tamanho da população humana é a chave para a proteção da diversidade biológica. O crescimento e a acelerada demanda de recursos naturais incorreram em perdas da biodiversidade. Outro fator relevante é a desigualdade social devido a distribuição das riquezas estar nas mãos de uma pequena porcentagem da população, assim resultando que as pessoas mais pobres no meio rural sendo forçadas a destruir comunidades biológicas e caça à espécies em extinção por não terem recursos próprio (PRIMACK; RODRIGUES, 2001). Grande parte do estado de Santa Catarina possui uma topografia bastante movimentada, onde a erosão se torna um dos fatores mais acentuados para a degradação dos solos, portanto é necessário um estudo com a utilização destes espaços de forma mais adequada. A forma de utilização mais adequada destes solos é o emprego de espécies nativas, sendo as que melhor se prestam à preservação do ambiente microbiológico do solo. Portanto, isto é um fator importantíssimo no desenvolvimento da vegetação e da fauna (REITZ; KLEIN; REIS, 1979). A humanidade necessita produzir madeira de forma ambientalmente correta, sendo o reflorestamento uma opção adequada. Esse, pode ainda contribuir na redução do efeito estufa, devido às árvores captar grande quantidade de CO2 através da fotossíntese, além de possibilitar a conservação da biodiversidade aumentando o estoque de madeira. Porém, os 2 reflorestamentos causam alguns impactos para a biodiversidade por substituírem a vegetação nativa ou até mesmo o uso irregular e inconsciente (SCARPINELLA, 2002). A biologia da agricultura, silvicultura, de gerenciamento da vida selvagem e da piscicultura empregam-se basicamente com o desenvolvimento de métodos para administrar poucas espécies. Essas disciplinas geralmente não cuidam da proteção de todas as espécies encontradas nas comunidades ou as tratam como assunto secundário. A biologia da conservação fornece uma abordagem mais teórica e geral nas disciplinas aplicadas para a proteção da diversidade biológica, se diferenciando das outras disciplinas, pois leva em consideração em primeiro lugar a preservação em longo prazo de todas as comunidades biológicas e coloca os fatores econômicos em segundo plano. (PRIMACK; RODRIGUES, 2001) Por meio do estudo da estrutura espacial da paisagem é possível analisar o padrão da composição de manchas, matriz e corredores para a biodiversidade, pois normalmente em uma paisagem alterada, a fragmentação não propicia uma continuidade de vegetação, sendo utilizada diferentemente por espécies, populações ou comunidades (ZIEMBOWIC, 2011). Um meio ambiente bem conservado significa um ambiente com boas condições dos ecossistemas, comunidades e espécies, ou seja, um ambiente com grande valor econômico, estético e social (PRIMACK; RODRIGUES, 2001). Portanto, esse projeto objetiva analisar a paisagem de uma área reflorestada na Serra catarinense no município de Cerro Negro, buscando entender a estrutura espacial como forma de vislumbrar um cenário ideal e propiciar medidas de conservação da biodiversidade conciliada ao uso econômico da propriedade. 3 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Geral Analisar a paisagem de uma área reflorestada no município de Cerro Negro da Serra Catarinense visando à conservação da biodiversidade da fazenda. 1.1.2 Específicos a) Atualizar mapa existente de uso e cobertura do solo do ano de 2006, fornecidos pela empresa RR Gestão Florestal; b) Mapear as diferentes áreas de preservação permanente de acordo com o código florestal de 2012 e o código ambiental de Santa Catarina, com fins de subsidiar a análise da paisagem; c) Mapear e caracterizar a estrutura espacial da paisagem; d) Propor cenário ideal com proposição de medidas voltadas a conservação da biodiversidade da área de estudo. 4 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 ECOLOGIA DA PAISAGEM 2.1.1 Conceito Paisagem é uma área heterogênea composta de um conjunto de ecossistemas interagindo e se repetindo de forma similar, ou seja, possui uma estrutura comum e fundamental, composta pelos elementos fragmentos ou manchas, matriz e corredor (FORMAN & GODRON, 1986). Baydry & Burel (2002) afirmam que a ecologia da paisagem é considerada ao homem uma parte constituinte dos ecossistemas que formam a biosfera, sendo um grande colaborador na integração das ciências naturais e sociais. Para Leite et al. (2004), ecologia da paisagem é uma forma útil no estudo dos remanescentes de vegetação nativa existente. Atualmente ela tem sido empregada para integralizar diferentes disciplinas relacionadas com análise ambiental. Segundo Crawshaw et al. (2007) ecologia da paisagem é um avanço da biologia na compreensão das relações estabelecidas entre o meio ambiente com a modificação da sociedade, ou seja, ela combina desde aspectos socioeconômicos até processos ecológicos. Já Casimiro (2003) cita Bertrand (1968) em que a paisagem é a combinação dinâmica dos elementos físicos, biológicos e antropogênicos que reagindo entre si tornam a paisagem um conjunto único e indissociável. Para Rempel et al (2008) ecologia da paisagem é a parte da ecologia que os resultados se dão com a inter-relação entre o homem e a paisagem. Atualmente, a ecologia da paisagem é conhecida como uma ciência básica para o desenvolvimento, manejo, conservação e planejamento da paisagem, assim podendo avaliá-la com diferentes pontos de vista, permitindo que os processos biológicos possam ser estudados em diversos tipos de escala temporais e espaciais (VALENTE, 2001). O estudo dos processos biológicos atualmente foi considerado uma nova ciência que emergiu da biologia da conservação, que é uma ciência multidisciplinar voltada para a conservação da diversidade biológica atualmente, seguindo duas etapas: primeiro, entender os efeitos da atividade humana nas espécies, comunidades e ecossistemas e, segundo, reintegrar as espécies ameaçadas ao seu ecossistema funcional. (PRIMACK & RODRIGUES, 2001) 5 2.1.2 Estruturas da Paisagem A paisagem é formada através de um mosaico, sendo uma área heterogênea composta por variedades de diferentes comunidades ou até mesmo de um agrupamento de ecossistemas de tipos diferentes composto por três elementos principais: as matrizes, as manchas e os corredores (ODUM, 2002; FORMAN & GODRON, 1986). O estudo da estrutura espacial da paisagem indica a área necessária para uma certa espécie usufruir como seus hábitat ou mesmo nicho ecológico. Normalmente em uma paisagem modificada não existe uma continuidade de vegetação como em uma floresta intacta, devido a isso, as manchas de fragmentação de vegetação são empregadas como hábitat por uma espécie, população ou comunidade (BAUDRY & BUREL, 2002). 2.1.2.1 Matriz Matriz é o elemento dominante em uma paisagem, sendo uma extensa área com tipos de paisagem similares, na qual estão embutidas as manchas e corredores (ODUM, 2002). A matriz engloba todos os elementos da estrutura paisagística (BAUDRY & BUREL, 2002). Forman & Godron (1986) afirmam que em uma paisagem dominada por pastagem, com diferentes tipos de fragmentos, o elemento matriz será pastagem, portanto, a matriz dependerá da escala de investigação. A matriz representa o tipo de elemento com maior conectividade e que ocupa a maior extensão na paisagem, por este motivo, tem maior influência no funcionamento dos outros ecossistemas (VALENTE, 2001). 2.1.2.2 Manchas As manchas da paisagem são áreas homogêneas se diferenciando da matriz. Em uma paisagem, as manchas possuem elementos que podem influenciar quanto a sua utilidade, como o distanciamento, forma e tamanho. O distanciamento das manchas se refere ao obstáculo da movimentação de fauna, sendo medido pelo grau de distanciamento de habitat e considerando esse um dos principais fatores na preservação da extinção. A forma e o tamanho estão diretamente relacionados com o efeito de borda (MEURER, 2011). As manchas podem ser referidas como uma mancha de baixa qualidade ou de alta qualidade, isso depende da cobertura vegetal, da qualidade das plantas e também da composição específica (ODUM, 2002). Para Baudry & Burel (2002), um mosaico de unidades de paisagem tem a mesma tipologia quando o mesmo é constituído por um conjunto de manchas. 6 2.1.2.3 Corredores Corredor é um ambiente que se diferencia da matriz. É uma faixa natural ou planejada associando duas ou mais manchas de habitat similar. Sua função na maioria das vezes é a conectividade entre as manchas, porém sua funcionalidade não se restringe apenas em ligar um fragmento a outro, sendo que existem espécies que habitam estes (ODUM,2002). Para o autor, os corredores podem ser classificados em cinco tipos básicos: corredores de perturbação, corredores plantados, corredores regenerados, corredores de recurso (natural) e corredores remanescentes. Alguns corredores podem ter efeitos negativos, como transmitindo doenças contagiosas. No entanto, nem todo corredor conecta manchas, alguns tipos podem fragmentá-las ainda mais. Para Formam & Godron (1981; 1986) os corredores podem ser classificados em três diferentes tipos: as linhas, corredores de forma linear composto por estradas, trilhas, cercas, diques e outros; Faixa corredores mais largos que as linhas e comumente com presença de vegetação composta por autoestradas e sistemas de torres de energia, e cursos d’água. Cada um destes corredores se difere pela sua largura e conectividade. Marenzi (2004) cita Formam (1995) para estabelecer as diferentes funções sendo: a) Habitat: é uma área de borda e microclima que contem uma combinação de recursos (abrigo e alimento) e condições ambientais para a reprodução e sobrevivência das espécies, ou seja, possibilitam maneiras de habitat para espécies generalistas, invasoras e algumas introduzidas; b) Condutor: é o fluxo de forma linear de determinadas espécies para o mesmo sentido na exploração e reprodução, assim proporcionando uma condição natural; c) Filtro: é o nível de permeabilidade na limitação entre mancha e matriz, podendo impedir a presença, ou podendo permitir a penetração de algumas espécies, isto depende do gradiente ambiental da borda das espécies; d) Fonte: são as espécies que se movimentam ou vivem nos corredores que desempenham recursos para a matriz adjacente, assim promovendo diversidade genética; e) Sumidouro: é o desaparecimento de espécies, sementes, sedimentos, entre outros, que são carreados para o corredor e acabam ficando inativos ou morrendo por não se depararem em condições adequadas. Um bom exemplo é o fluxo fluvial, vento, neve, entre outros, que podem se armazenar nos corredores, assim propiciando a maior exposição das espécies a predadores no ambiente mais aberto. 7 Valeri & Senô (2012) classificam corredores como habitat, condutor ou dispersor, filtro e barreira, fonte e sumidouro, basicamente com os mesmos conceitos apresentados anteriormente. 2.1.3 Fragmentação de Habitat Para Primack e Rodrigues (2001), as causas que podem levar uma espécie à extinção podem ser desde as espécies que não estão adaptadas às condições ambientais do local, que com o passar dos anos tem uma tendência de extinção de sobreviver no mesmo local, até as causas mais significativas que são as perturbações em massa causadas pelo homem, que tem alterado, degradado e destruído a paisagem rapidamente, destruindo espécies e comunidades inteiras até o ponto de extinção. Para o mesmo Autor, as maiores ameaças à diversidade biológica causadas pela ação humana são: destruição, fragmentação, degradação de hábitat, superexploração das espécies para uso humano, introdução de espécies exóticas e invasoras e o aumento de ocorrência de doenças. A fragmentação de habitat esta cada vez mais comum nos dias de hoje, ou seja, áreas extensas anteriormente são frequentemente divididas em pequenas áreas por estradas, campos, cidades e outras atividades humanas. A fragmentação de habitat nada mais é do que dividir uma área em outras. Portanto, quando o habitat é destruído, geralmente são deixados pra trás fragmentos de habitat, assim sendo isolados uns dos outros fragmentos por uma paisagem altamente modificada ou degradada. Estes fragmentos funcionam como ilhas de habitat em um “mar”, ou seja, diferentes manchas de paisagem cercadas por uma matriz (PRIMACK & RODRIGUES, op. cit). Para Muchailh (2007) a maior ameaça para a biodiversidade é a fragmentação de habitat, gerando consequências como o isolamento das formações e populações remanescentes, alteração nos fluxos gênicos, intensificação das competições, alteração da estrutura e qualidade de habitat, extinções e perda de biodiversidade. Fragmentação está inserida na matriz variando seu tamanho, forma, tipo de heterogeneidade e limites (FORMAN & GODRON, 1986). A ameaça da biodiversidade biológica esta diretamente ligada a possível extinção de alguma espécie, sendo que uma vez que uma espécie é extinta, a informação genética única contida em seu DNA e a combinação especial de caracteres que ela possui, estarão perdidas para sempre, assim tornando a comunidade em que esta espécie habitava empobrecida (PRIMACK; RODRIGUES, 2001). 8 2.1.4 Efeito de Borda O efeito de borda é conhecido como áreas circundantes entre os fragmentos vegetais remanescentes e também como o habitat dominante que influencia a intensidade dos fluxos bióticos. Quanto menor for à relação entre o perímetro e a área, menor será a borda. Os fragmentos florestais de formato irregular tem maior proporção de borda, enquanto os fragmentos mais circulares sofrem menos com o efeito de borda (BAUDRY & BUREL, 2002). Devido a fragmentação de habitat, a quantidade de borda é aumentada, portanto os efeitos de borda de fragmento se difere daquele no interior de uma floresta. Os efeitos de borda mais importantes são: aumento no nível de luz, temperatura, umidade e vento. Esses efeitos são frequentemente notáveis 35 metros para dentro da floresta, por exemplo, sendo que espécies sensíveis à umidade são rapidamente eliminadas pela fragmentação do habitat (PRIMACK; RODRIGUES, 2001). Para o mesmo autor, a largura da borda de um fragmento florestal é essencial no planejamento, legislação e manejo de paisagens. Existem diferentes larguras de bordas, devido à impossibilidade de definir uma única largura de borda, assim existindo largura de borda para microclima, para composição de espécies arbóreas, para densidade de plantas, entre outras. Segundo Primack & Rodrigues (2001, pág. 102) “Quanto mais distante da borda, menor seria a intensidade de borda”. A borda da floresta tem a função de preservar a composição do fragmento de floresta, porém no processo a composição de espécies de borda é altamente alterada e a área ocupada por espécies de interior de floresta é ainda mais reduzida. Assim, a fragmentação de uma floresta causa o aumento de ventos, redução da umidade e as temperaturas mais elevadas na borda, propiciando a ocorrência de incêndios. Com a fragmentação de habitat aumenta as chances de invasão de espécies exóticas e espécies nativas ruderais, ou seja, aumenta a vulnerabilidade do ambiente. 2.2 TRABALHOS SOBRE ECOLOGIA DA PAISAGEM Ziembowicz (2012) estudou os maciços costeiros no centro norte de Santa Catarina no por meio de uma análise da ecologia da paisagem, utilizando o uso e a cobertura do solo, os aspectos sócio culturais, geológicos/geomorfológicos e a estrutura espacial da paisagem dos maciços costeiros da Praia Vermelha em Penha, Cabeçudas em Itajaí e Costa Brava em Balneário Camboriú. A espécie chave na indicação de integridade ecológica foi a Euterpe edullis. Para estas analises foram utilizadas fotos de satélites, saídas de campo, 9 entrevistas com a população residente e medidas da paisagem (forma, perímetro e área). Estas analises resultaram em mapas temáticos onde foi possível observar a ausência da Floresta Ombrófila Densa Clímax na Costa da Barra e Cabeçudas. Também pode-se observar a fragmentação entre os maciços, assim prejudicando a biodiversidade devido a ausência de corredores e a presença de sumidouros. Valente (2001) aplicou a análise da estrutura da paisagem na bacia do Rio Corumbataí, devido o elevado nível de desmatamento na Bacia que motivaram a análise da estrutura da paisagem desta área. Para análise desta área utilizou-se o mapa de uso e cobertura do solo pela classificação digital. Os indicadores de ecologia da paisagem foram calculados pelo software FRAGTATS e foram determinados por sub-bacias. Assim os indicadores referentes às classes proveram as caracterizações das classes floresta nativa e cerrado e os referentes a fragmentos a caracterização dos seus respectivos remanescentes. Para se caracterizar quantitativamente os níveis de fragmentos levou-se em consideração área, densidade, tamanha e viabilidade métrica (área nuclear, forma e proximidade, dispersão e justaposição). Com base nesses índices pôde-se observar diferenças de fragmentação na bacia do rio Comrumbataí. Portanto conclui-se que quando a ecologia da paisagem é analisada em conjunto permitem a caracterização da estrutura florestal das sub-bacias e a avaliação sob um ponto de vista da preservação e conservação florestal. Marenzi (2004) relatou em sua tese de doutorado que os ecossistemas costeiros sofreram grandes alterações devida a intensa ocupação da zona litorânea, assim restando poucas amostras representativas do ambiente original. Aplicou um método de estrutura espacial da paisagem no entendimento da ecologia da paisagem a um promontório costeiro, analisando as manchas, corredores e matriz, e a dinâmica das espécies arbóreas consideradas clímax da Floresta Ombrófila Densa Sub-Montana e de seus potenciais dispersores. A área de estudo foi a Morraria da Praia Vermelha no município de Penha, SC. Devida a intensificação antrópica a área se apresenta de forma fragmentada. O foco da tese esta na distancia entre as biodiversidades do local, reduzindo o número de espécies e dificultando a polinização e dispersão, assim provocando o isolamento delas. Concluiu-se que se não forem adotadas medidas para a implantação de programas de restauração, fiscalização e educação ambiental, podem causar perda da biodiversidade local. Crawshaw et al (2007) comentaram no boletim Gaúcho de geografia a diminuição dos campos nativos do Rio Grande do Sul devido ao crescimento e expansão agrícola. Para isto foi aplicado uma perspectiva da ecologia da paisagem nos campos do Rio Grande do Sul utilizando documentos cartográficos, dados quantitativos relacionados às áreas ocupadas 10 pelos principais cultivos do estado, agropecuária, dados social e cultural estabelecidos pelo IBGE e Censo. Luz (2002) teve como objetivo subsidiar ações na recuperação de uma área afetada pelo derramamento de óleo, através de imagens de satélite Ikonos e SIG para analisar a ecologia da paisagem. Com as imagens Ikonos se obteve um mapa temático de toda a área de estudo. Também foram utilizados outros métodos para classificação das imagens de alta resolução, assim permitindo realizar simulações de condições ecológicas mais favoráveis visando a medidas para a mitigação dos impactos gerados pelo acidente. Périco & Cemin (2006) descrevem a caracterização da paisagem do município de Arvorezinha no Rio Grande do Sul, visando compreender as mudanças espaciais da paisagem do município. Seus objetivos foram delimitar, analisar e diagnosticar as alterações ocorridas entre 1985 e 2002. Para isto utilizou-se bases cartográficas, imagens de satélites e informações complementares, aplicando-as nos sistemas de informações geográficas (SIG) e índices de ecologia da paisagem. Com isto pode-se observar um aumento no numero de fragmentos, indicando uma perda de qualidade ambiental. 2.3 FLORESTA OMBRÓFILA MISTA O Bioma Mata Atlântica é composta por diferentes formações florestais, como a Floresta Ombrófila Densa, Floresta Estacional Semidecídua ou Decidual do planalto, Floresta Ombrófila Mista, Manguezais, Restingas e Campos de Altitude. Portanto, F.O.M. é uma formação florestal pertencente ao Bioma Mata Atlântica (TONHASCA JUNIOR, 2005). O termo ombrófila significa formação florestal situada em uma região de alta pluviosidade, sendo locais que incidem chuvas bem distribuídas ao longo do ano. E o termo mista esta ligado a duas floras distintas, sendo uma a temperada Austro-Brasileira e a outra a Tropical Afro-Brasileira (IBGE, 1992 ; MAGGIONI & LAROCCA, 2009). A Araucaria angustifolia, mais conhecida como “pinheiro brasileiro” ou “pinheiro do Paraná”, é a predominante na F.O.M. sendo a única espécie de seu gênero com ocorrência natural no Brasil, assim tendo realizado um papel muito importante na economia do país, pois a espécie fornece madeira de ótima qualidade, sendo um dos produtos mais importantes na exportação do país há muitos anos atrás (SHIMIZU; OLIVEIRA, 1981). Por isto, este tipo de floresta onde predomina a Araucaria angustifolia também é conhecida como “mata de araucária ou pinheiral”. É um tipo de floresta que ocorre com mais 11 frequência no planalto meridional, ou seja, é considerada uma área clímax para este tipo de ambiente. Porém, esta floresta apresenta diferentes tipos de florística em refúgios localizados acima da floresta atlântica em pontos isolados na Serra do Mar e na Mantiqueira em altitudes elevadas. Este tipo de formação integra variavelmente os elementos da floresta pluvial, assim obtendo várias comunidades florestais mistas (IBGE, 1992; RIZZINI, 1997). Há muitas décadas atrás a floresta de araucária cobria cerca de 40% da superfície do Paraná, 30 % da superfície de Santa Catarina e até 25% do Rio Grande do Sul, também chegando a ocupar parte do sudeste do Brasil, cobrindo 3% de São Paulo e 1% do Rio de Janeiro e Minas Gerais em áreas isoladas, além disso, também se podem observar pequenas manchas dessa floresta na Argentina e Paraguai. Com o passar do tempo ocorreram modificações, onde o clima frio e seco beneficiava as condições ideias para que ocorresse a expansão da floresta de araucária, sendo que a medida que a temperatura foi subindo a araucária foi ilhando-se, assim crescendo muito mais em lugares de temperaturas mais frias e altitudes maiores, correspondendo uma pequena parcela da superfície total do sudeste e sul do país. (KOCH & CORRÊA, 2002). Segundo Negrelle e Silva (1992), décadas atrás, cerca de 36% da área de Santa Catarina era coberta por mata composta pela Araucaria angustifolia, exceto as regiões dos vales do afluente do Rio Itajaí e Rio Uruguai. Já para Shimizu e Oliveira (1981), naquela época as florestas de araucária cobriam cerca de 200.000 km2, sendo as maiores concentrações no estado de Santa Cataria e Paraná. Hoje em dia estima-se que seus remanescentes não chegam nem a 0,7% da sua área original Estas grandes áreas foram transformadas em práticas de silvicultura e agricultura como feijão, arroz, café, soja e outras culturas, ocasionando a extinção de várias espécies (MMA, 2002). De acordo com Klein (1960), a formação florestal mais importante e de maior área no estado de Santa Catarina era a mata com Araucária, sendo abundante e distribuída por quase todo o planalto em diferentes altitudes, variando de 500 a 1500 metros. A mata de Araucária é encontrada geralmente em áreas contínuas, estendendo-se no formato de ilhas de vegetação, frequentemente nas localidades de grandes altitudes (TONHASCA JUNIOR, 2005). Segundo Ferreira (1992), o remanescente de floresta de Araucária é muito reduzido devido ao desmatamento para usos agrícolas, além da extração da araucária, imbuia, diversos tipos de canela (Ocotea ssp.), entre outras espécies de alto valor comercial, para depois ser aplicada a prática de silvicultura na qual há produção de madeira de melhor qualidade em menor espaço de tempo. Devido a estes fatores a Floresta Ombrófila Mista é um dos ecossistemas brasileiros mais ameaçados de extinção. Para Medeiros et al (2005), 12 esta exploração florestal se deu mais intensa a partir de 1934, atingindo o seu auge entre 1950 a 1970, sendo exportados 90% da madeira retirada. O pinheiro é uma espécie pioneira, fortemente heliófila que avança sobre extensões campestres abertas, porém não se regenera mais com o intenso sombreamento (o sombreamento prejudica seu crescimento). Com isso, a Araucaria angustifolia compõe muitos capões em meio do campo limpo. A descida dessa espécie para altitudes mais baixas se dá pelo principio ecológico com a compensação de altitude pela latitude e viceversa (KLEIN, 1960). As aglomerações de pinheiros são aos poucos envolvidas por árvores e arbustos, assim dando inicio a sucessão. Essas comunidades iniciais são muito variáveis e se diferenciam de local para local, não sucedendo com as fases futuras. As espécies iniciais associadas ao pinheiro nos capões são: Schinus spp, Litheraea brasiliensis, Myrceugenia euosma, Drymis brasiliensis, Gomidesia sellowiana, Clethra scabra, Capsicodendron dinisii, Dicksonia sellowiana, entre outros. Depois de um período, estas comunidades crescem demasiadamente e o próprio pinheiro já não encontra luz o suficiente para a regeneração através das sementes (RIZZINI, 1997). Além dessas espécies Klein (1960) cita que esta floresta também refugia grandes densidades de erva mate (Ilex paraguariensis), várias mirtáceas e lauráceas. A araucária possui altura que varia de 30 a 50 metros e o seu tronco é reto, uniforme e cilíndrico, possuindo um diâmetro de um metro até dois metros e meio. As árvores jovens exibem a copa em formato de cone. Já os indivíduos adultos apresenta a copa em forma de guarda chuva, sendo que a copa é sempre alta (acima dos vinte metros) e possui galhos e ramos simétricos e a medida que vai ficando mais velha (senil), a copa assume o formato de taça (MMA, 2010; KOCH; CORRÊA, 2002). Entre os meses de agosto e outubro ocorre na região sul do país a polinização dessas espécies. O vento carrega o pólen da flor masculina (mingote) até a flor feminina (pinha), estas são características que introduzem a araucária como uma espécie entre as gimnospermas. Sua semente amadurecida é mais conhecida como pinhão e serve de alimento para os animais e também para os homens (KOCH & CORRÊA, 2002). A Floresta Ombrófila Mista refugia uma ampla diversidade de animais, desde grandes mamíferos até os menores invertebrados, todas desempenhando um papel fundamental para a manutenção desta formação florestal. A araucária é de extrema importância para maioria desses animais, sendo que em algumas épocas do ano, como no inverno, que é o mês em que os animais mais necessitam de energia extra (calorias) para 13 manter a temperatura do corpo, para isto as araucárias oferecem o pinhão, por ser uma semente muito nutritiva e calórica (KOCH & CORRÊA, 2002). Segundo a classificação vegetal do IBGE (1992) ilustrado na figura 1, a Floresta Ombrófila Mista esta subdividida em quatro tipologias, Aluvial, Sub-Montana, Montana e Alto Montana. Figura 1 - Perfil esquemático da Floresta Ombrófiula Mista. Fonte: IBGE, 1991. Floresta Ombrófila Mista Aluvial É uma formação ribeirinha que ocupa sempre os terrenos próximos dos cursos de água, ou seja, geralmente em terrenos úmidos. Está situada nas serras costeiras ou dos planaltos, sendo dominada pela Araucaria angustifolia, integrada a uma variedade espécie que variam de acordo com as altitudes dos cursos d’água. Nas maiores altitudes pode se encontrar, além da Araucaria angustifalia, Podocarpus lambertii e Drymis brasiliensis. Já nas menores altitudes encontram-se junto a Araucaria angustifolia as espécies do gênero Ocotea, Cryptocaryae e Nectandra. Floresta Ombrófila Mista Sub-Montana Esta formação é geralmente encontrada nas encostas dos morros aproximadamente acima de 50 metros até 500 metros de altitude. Porém, nos dias de hoje é encontrada sob forma de pequenas ilhas separadas, devido a grande degradação do homem. Assim tornando-se uma floresta secundária, tornando-se cada vez mais raro encontrar a espécie Araucaria angustifolia, que esta tendendo ao desaparecimento total. Floresta Ombrófila Mista Montana 14 Esta formação é geralmente encontrada no planalto a 500 metros até 1000 metros de altitude em poucas reservas particulares nos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e no Parque Nacional do Iguaçu. No norte de Santa Catarina e ao sul do Paraná a Araucaria angustifolia estava integrada com a imbuia (Ocotea porosa), compondo agrupamentos peculiares, chegando a ocupar aproximadamente 70% do planalto meridional, porém na década de 80 estes agrupamentos foram substituídos pela monocultura da soja e trigo. Com isto restaram-se pequenos remanescentes, causando a falta de expressão paisagística e econômica, sendo apresentados poucos indivíduos em pontos isolados e inacessíveis ou entre as grandes culturas de soja e trigo. Floresta Ombrófila Mista Alto Montana Esta formação florestal esta situada acima dos 1000 metros de altitude, com maior ocorrência no Parque do Taimbezinho (RS) e na crista do planalto Meridional, ocupando as encostas das colinas diabásicas e em encostas constituídas pela ação do vulcanismo na formação da Serra Geral. Sua exploração predatória começou na década de 60, restando apenas poucos exemplares jovens ou raquíticos, tendendo ao desaparecimento aos poucos. 2.4 CAMPOS DE ALTITUDE Campos de altitude, também conhecidos como estepes e campos gerais, são áreas subtropicais, onde as plantas são submetidas à dupla estacionalidade, sendo uma estação fria com frentes polares e a outra seca, curta e com falta de água (IBGE, 1992). Atualmente os ecossistemas de campo natural localizado na região sul do Brasil abrangem os campos subtropicais e os campos de altitude, e compreendem uma menor área que a florestal. Os campos subtropicais são parecidos com os Pampas Uruguaios e Argentinos, sendo que esses campos podem ser deparados na depressão Central, Serra do Sudeste, região da Campanha e na metade do estado do Rio Grande do Sul. Já os campos de altitude compõem com frequência, mosaicos de floresta de Araucária. Esses campos são localizados no sul do Brasil chamados de Planalto, onde ocorrem nos picos das Serras, principalmente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (MMA, 2009). Segundo Safford (1999) (apud Mocoshinski e Scheer 2008) os campos de altitude fazem parte na diversidade do bioma Mata Atlântica e são encontrados nas partes mais elevadas da serra do Mar, nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e na Serra da Mantiqueira, contendo uma área de aproximadamente 350 km2. O seu 15 crescimento junto a outras formações florestais vizinhas esta relacionado ao clima e as condições pedológicas. A sua formação lembra uma paisagem campestre antiga, com o clima frio e seco que domina a região da América do Sul. Nesses ambientes há um elevado número de espécies endêmicas indicando que esses ambientes são relativamente antigos, incidindo frequentemente sobre rochas graníticas e migmáticas (RIZZINI, 1997). A maior parte dos campos de altitude constitui um dos raros modelos da natureza conservada nas regiões sul e sudeste do Brasil. Porém, a sua integridade consiste em ser ameaçada por processos como a contaminação biológica (presença de Pinus) e pela pressão do turismo (MOCOSHINSKI; SCHEER, 2008). Segundo Tonhasca Junior (2005) nos locais de altitudes acima de 1500 metros na região sudeste e 700 metros em pontos mais ao sul, a Floresta Ombrófila Mista dá espaço à mata de altitude ou mata nebular (Floresta Ombrófila Mista Alto Montana). Na maior parte onde se encontra esta formação esta frequentemente cobertas por serração devido à condensação do ar úmido ascendente do oceano, sendo os seus solos pouco desenvolvido, rasos e de baixíssima fertilidade, resultante da baixa luminosidade gerada pelo nevoeiro e o baixo teor de umidade do solo. O autor destaca que a vegetação destes locais são geralmente raquíticas (árvores de 6 e 8 metros de altura), com muitas características xeromórficas (folhas grossas e duras) e com abundância de plantas epífitas, musgos e hepáticas, além disso, nos locais de altitude entre 1800 e 2000 metros, a mata nebular é trocada pelos campos de altitude, sendo que sua vegetação é constituída por gramíneas e arbustos de caráter xerófilo. Embora ocupem áreas pequenas, os campos de altitude são importantes centros de riqueza de espécies e endemismo. Segundo a classificação vegetal do IBGE (1992) os estepes são divididos em três subgrupos sendo: Estepe Arborizada, Parque e Gramineo-Lenhosa. No caso dos estepes que correspondem aos campos de altitude da área deste presente estudo, são estabelecidos dois tipos, sendo parque (1) e gramíneo-lenhoso (2), ilustrado na Figura 2. Figura 2 - Perfil esquemático do Estepes. Fonte: IBGE, 1991. 16 Estepe Arborizada: localizada no planalto do Rio Grande do Sul e nos divisores de águas dos rios Camaquã e Ibicuí. Sua maior característica é a dominância dos solos rasos com afloramentos rochosos. Este tipo de subdivisão sofre degradação do solo devido às constantes queimadas e ao pisoteio do gado. Estepe Parque: Localizada nos planaltos das Araucárias, Rio Grande do Sul, nas Campanhas e também nos divisores de águas dos rios Camaquã e Ibicuí da Cruz. Local de ocorrência e ecótipos da família Anacardiaceae: Lithraea brasiliensis (bugreiro), Schinus mollis (aroeira-salsa) e Astronium balansae (pau-ferro), além de outros ecótipos com menor representatividade. Esta fisionomia dos estepes parque é causada pela ação do homem para aumentar os campos de pastagem, assim degradando cada vez mais os terrenos pelo mau uso do solo. Estepe Gramíneo-Lenhosa: é formada por “florestas-de-galeria” de porte baixo rodeando algumas drenagens. Esta formação é constituída por graminóides e hemicriptófitos, onde ambas apresentam folhas e colmos para se adaptar a ambientes relativamente secos. Esta fisionomia sofre com a compactação do solo devido às queimas e o pisoteio do gado. O estepe gramíneo-lenhoso também é considerado campos limpos, em que nas épocas desfavoráveis demonstram uma coloração acinzentada, sendo dominados por ecótipos dos gêneros Stipa, Andropogon, Aristida e Erianthus. Esta formação vem sofrendo desertificação no Rio Grande do Sul e no planalto Meridional pelo mau uso do solo. 2.5 REFLORESTAMENTO O reflorestamento popularmente mais conhecido como “plantação florestal” ou “silvicultura” (VITAL, 2007), é uma ciência de métodos naturais e artificiais de regenerar e melhorar os povoamentos florestais, focando o uso racional das florestas e as necessidades do mercado. Esta prática tem como objetivo buscar outras espécies de crescimento em um espaço de tempo menor do que as espécies nativas. Dessas espécies as mais utilizadas no Brasil são o Eucalipto e o Pinus (PEREIRA, 2005). Portanto, o reflorestamento (silvicultura) brotou como uma alternativa de recurso para substituir a fonte de matéria prima na produção de móveis, chapas, aglomerados, papel, celulose, entre outros, sendo um recurso economicamente viável por utilizar espécies de crescimento rápido (GUIMARÃES et al., 2010). Pereira (2005) comenta que o eucalipto apresenta mais de 600 espécies que se adaptam com facilidade a diversas condições do solo e clima. Essa espécie começou a ser 17 utilizada para plantio no inicio do século XVIII na Europa, Ásia e África, chegando no Brasil por volta do século XX, direcionando o seu cultivo na utilização da construção de ferrovias. Hoje em dia, o Brasil é um dos países com maiores extensões de eucalipto plantado, sendo que segundo o Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais (IPEF 2003), o Brasil em 2002 possuía 5,5 milhões de hectares florestais plantados, dos quais 64% eram plantados com eucaliptos. O setor florestal do Brasil vem contribuindo com uma pequena parcela do produto interno bruto (PIB), chegando a corresponder 2,6% do total do país, sendo essa parcela muito importante para economia nacional, pois gera consumo interno, exportação, impostos e empregos. Porém, a exploração desta prática de reflorestamento ainda tem uma parcela muito pequena no território nacional, abrangendo apenas 0,6% de todo território brasileiro (VITAL, 2007). 2.5.1 Impacto do Reflorestamento A prática da silvicultura é uma alternativa que gera preocupações devido ao uso de espécies exóticas e também da prática de monocultura sobre o ecossistema local. Esta atividade cultivada em grande escala provoca a exportação de nutrientes e sedimentos para os mananciais mais próximos e também o consumo demasiado de água devido o metabolismo das espécies arbóreas (GUIMARÃES et al., 2010). Há muitos anos as grandes áreas de florestas garantiam a sobrevivência dos vegetais e animais, dando um equilíbrio ao meio ambiente e executando um papel importantíssimo na conservação da água e do solo. Porém, com o passar dos anos o homem usufrui com excesso essas grandes áreas, desmatando-as para outras atividades. Com isso o que restou hoje são fragmentos florestais, sendo na sua maioria sem ligações uns com os outros, assim impedindo a locomoção livre dos animais e impedindo que as sementes sejam produzidas e espalhadas, afetando a manutenção dos animais e da vegetação (MIRANDA, 2009). Conforme a Resolução N 1º do CONAMA, de 23 de janeiro de 1986, a avaliação de impactos ambientais no Brasil são dispositivos legais, onde esse impacto ambiental é considerado qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente causada por qualquer forma de matéria ou energia causada pela atividade humana, direta ou indiretamente que afetem a saúde, segurança e bem-estar da população, 18 atividade social e econômica, a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e por fim a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA, 1986). O reflorestamento aplicado em grandes extensões territoriais tem sido ultimamente alvo de controvérsias quanto aos seus impactos no meio ambiente, entre eles podem se destacar efeitos sobre o solo causando empobrecimento e erosão, sobre a água que pode impactar a umidade do solo, aquíferos e lençóis freáticos e a baixa biodiversidade causada pela monocultura (VITAL, 2007). Para Albuquerque et al. (2006) a silvicultura de eucalipto esta entre as atividades potencialmente degradadoras dos recursos hídricos e o reflorestamento com Pinus vem trocando as amplas extensões de campos no planalto sul do Brasil. É visível o contínuo aumento da pressão antrópica sobre os recursos naturais impactando esses ambientes na forma de contaminação dos corpos d’água, poluição atmosférica (através das queimadas), substituição da cobertura vegetal nativa (resultando na redução de habitat silvestre), entre outros (CARVALHO, 2009). O Autor menciona Andrade (2003) afirmando que na fase do corte florestal (extração da madeira) tem um grande potencial na alteração do meio biofísico. Além de ocorrer o excesso de compactação do solo, assim potencializando a ocorrência de fenômenos erosivos, e por fim prejudicando a fertilidade do solo e os danos a cepas que comprometem a produtividade florestal. Ziller e Galvão (2000) comentam que o Pinus elliottii e taeda são espécies exóticas invasoras, e que o estepe gramíneo-lenhoso esta repleto dessas invasoras. O principal impacto causado pelas espécies invasoras é o fato de modificar processos sistêmicos naturais, na qual este processo é atualmente a segunda maior ameaça da biodiversidade do mundo. Os impactos mais relevantes dessas espécies é a alteração do processos ecológicos como a ciclagem de nutrientes, produtividade vegetal, cadeias tróficas, estrutura, dominância, distribuição e funções de espécies, distribuição de biomassa, densidade de espécies, porte da vegetação, índice de área foliar, queda de serrapilheira, taxa de decomposição, processos evolutivos e relações entre polinizadores e plantas. Além de alterar a adequação do habitat dos animais, modificar as características físicas do ecossistema, causando processos erosivos, sedimentação e alteração no ciclo hidrológico, no regime de incêndios e no balanço energético. Também pode ocorrer o cruzamento genético das espécies nativas com as exóticas e diminuindo os genótipos das espécies nativas, sendo ocupados pelas espécies exóticas, por consequência disso causando o aumento do risco de extinção de populações e espécies. Silva (1999) diferenciada os impactos gerados pela ação da silvicultura, subdividindo o meio ambiente em meio físico, biótico e antrópico, onde para cada uma dessas subdivisões 19 existem outros componentes. O ar é impactado temporariamente na sua qualidade, devido o aumento da concentração de partículas e gases dos motores das máquinas, já o solo é impactado na forma direta compactando-se, devido ao uso de maquinários pesados, principalmente no momento da queda e retirada de madeira, assim potencializando os fenômenos erosivos ao longo da rede viária, e por fim a água impacta aumentando a turbidez e o assoreamento, devido ao impacto sofrido no solo. Também pode ocorrer o aumento de insetos, fungos e ervas competidora. A flora sofre impacto na remoção da cobertura vegetal original, causando o estreitamento da base genética. Já a fauna sofre a redução de habitat silvestre. O meio antrópico tem como principal impacto o êxodo rural, ou seja, populações rurais migram para os centros das cidades em busca de melhores condições de vida. 2.5.2 Medidas de Mitigação de Impactos A mitigação de impactos segundo Miranda (2009), é uma classificação dos impactos ambientais potenciais decorrentes do planejamento, instalação e operação do empreendimento. Com isto uma equipe multidisciplinar pode avaliar estes fatores e proporem ações visando a redução ou eliminação dos impactos negativos e também visando ações para maximizar os impactos positivos (medidas potencializadoras). Existem algumas alternativas de mitigação dos atuais impactos gerados pela silvicultura, como a definição do formato dos povoamentos florestais seguindo as características locais de relevo, posição de cursos d’água e direção dos ventos, visando maximizar a dispersão de sementes das espécies cultivadas dentro dos próprios povoamentos, definir em volta dos povoamentos florestais três faixas de quebra-vento com espécies não invasoras com o intuito de minimizar a dispersão de sementes fora desses povoamentos, manter e restaurar as florestas naturais que margeiam os cursos d’água para proteger da disseminação de sementes de espécies invasoras e estabelecer processos de certificação ambiental para prevenção, controle e monitoramento da dispersão natural de espécies invasoras (ZILLER; GALVÃO, 2000). Silva (1999) descreve cada medida de mitigação para cada impacto gerado pelo reflorestamento em relação ao meio físico, biótico e antrópico. Para o meio físico deve-se fazer a manutenção devida das máquinas e racionalizar o seu uso a fim de minimizar os impactos no ar. No solo são necessários implantações de eficientes planos de construção/manutenção de rede viária e de corte na extração de madeira, feitos através de dados georreferenciados, assim minimizando os impactos gerados. Já para a água, o uso 20 de produtos para o controle biológico de pragas e doenças. Para proteção da flora é indicado o emprego de técnicas preventivas de coleta do material botânico, com o intuito de recomposição vegetal nas APP’s e reserva legal, também se aplicam proteção e manejo das áreas ocupadas com vegetação nativa, além de conectar de alguma forma os fragmentos florestais, com plantio enriquecido de espécies nativas e recuperação de ambientes degradados. E na prevenção de impactos na fauna recomenda-se a intercalação de plantações florestais com vegetação nativa, com o objetivo de aumentar a porosidade ambiental, assim facilitando a movimentação dos animais, os quais são predadores naturais das pragas, também é necessária a reintrodução de espécies com base no inventário faunístico qualitativo e quantitativo. E para minimizar o impacto do êxodo rural é indicado elaborar e executar um programa de comunicação, com o objetivo de integrar as comunidades rurais, incluindo parcerias, inclusão social e cooperação com indivíduos que as representam. Também é importantíssimo salientar uma boa infraestrutura dos empreendimentos florestais para as comunidades locais. 2.6 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL PERTINENTE A legislação ambiental pertinente consiste em uma gama significativa de instrumentos legais relacionados ao reflorestamento. Esses instrumentos se dividem em nível federal, estadual e municipal os quais podem ser verificados nos quadros 1, 2 e 3. Quadro 1: Principais Leis ambientais pertinentes a nível federal. Nível Federal Legislação Características Lei Nº 4.771/65 Instituído pelo Código Florestal de 1965 que considera área de preservação permanente formas de vegetação naturais situadas ao longo de qualquer corpo d’água (rios, lagos, lagoas e nascentes), topo de morros, montes, montanhas, serras, encosta de morro com declividade superior a 45 º e em altitudes superior a 1800 metros nos campos naturais. Lei Nº 5.106/66 Dispõe sobre os incentivos fiscais outorgados a empreendimentos florestais. Lei Nº 6.938/81 Dispõe sobre a Política nacional do meio ambiente que estabelece sues fins e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) e institui o cadastro de defesa ambiental. 21 Constituição Federal de 1988 É direito de todos os cidadãos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, estabelecer ao Poder Público e à coletividade a obrigação de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações. Lei Nº 9.605/98 Dispõe sobre crimes ambientais, nas quais sofrem sanções penais e administrativas por condutas e atividades que levem a lesão do meio ambiente. Considera crime ambiental destruir ou lesar florestas nativas ou plantadas. Lei Nº 9.985/00 Regulamenta o artigo 225 da Constituição Federal e institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) da Natureza. Resolução CONAMA nº Dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno. 303/2002 Lei Nº 11.428/06 Dispõe sobre a utilização, proteção e conservação da vegetação nativa do bioma Mata Atlântica. Lei Nº 12.651/12 Dispõe sobre o Novo Código Florestal de 2012 que estabelece os mesmo requisitos que o código florestal de 1965, porém atualiza com modificações nas distancias mínimas legais de APP. Cabe destacar a Constituição Federal de 1988 na preservação e restauração de recursos naturais, principalmente na forma de controle no emprego de técnicas e métodos que comprometam risco à qualidade do meio ambiente, protegendo a função ecológica da fauna e flora (BRASIL, 1988). O código florestal de 1965 que cita as distância mínimas legais ao longo dos cursos d’água que é atualizado no novo Código Florestal de 2012, com o intuito de não permitir o uso direto, ou seja, não se pode utilizar essa área de preservação (BRASIL, 1965; BRASIL, 2012). Também é importante destacar que na resolução do CONAMA 303 de março de 2002 que é considerado área de preservação permanente como instrumento de relevante interesse ambiental, que integram o desenvolvimento sustentável, objetivando a preservação deste para as presentes e futuras gerações. No artigo 2º desta resolução foram adotadas algumas definições para estabelecer os locais de APP que foram complementadas no artigo 3º (BRASIL, 2002). Na Lei Nº 9.985/00 do SNUC é importante destacar o corredor ecológico, disposto no 2º artigo “como porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, conectando unidades de conservação, permitindo o fluxo de genes e movimento da biota, assim facilitando a dispersão de espécies e a recolonizarão de áreas degradadas” (BRASIL, 2000). 22 A reserva legal foi criada pelo Código Florestal Brasileiro e reforçada pela Lei 12.651/2012, e tem como objetivo a proteção da vegetação natural, porém pode ser utilizada somente de forma sustentável, ou seja, produzir sem prejudicar os recursos que a natureza oferece. No artigo 35º do novo código florestal cabe destacar o plantio de espécies nativas ou exóticas, independe de autorização prévia, porém deve-se atender as limitações e condições previstas na lei, informando ao órgão competente no prazo de até um ano. Também neste artigo produtos florestais plantados que não são considerados APPs e reserva legal pode-se extrair (BRASIL, 2012). Quadro 2: Principais Leis ambientais pertinentes a nível estadual. Nível Estadual Legislação Características Constituição do Estado Protege a Mata Atlântica e a Zona Costeira por serem interesses ecológicos, sendo de Santa Catarina de que qualquer utilização é necessária autorização. 1989 Lei Estadual Nº 9.428/94 Dispõe sobre a Política Florestal do Estado de Santa Catarina. Lei Nº 14.675/09 Institui o Código Estadual do Meio Ambiente. Lei Nº 15.167/10 Dispõe a criação do programa de reflorestamento do pinheiro Brasileiro (Araucaria angustifolia) no Estado de Santa Catarina. Cabe ressaltar o programa de reflorestamento do pinheiro Brasileiro (Araucaria angustifolia) disposta na Lei Nº 15.167/10 que tem como objetivo garantir a conservação da espécie. Conforme o artigo 2º desta lei, a Araucaria angustifolia localizada de forma isolada e fora da APP poderá ser explorada mediante de formas de compensação (SANTA CATARINA, 2010). Quadro 3: Principais Leis ambientais pertinentes a nível municipal para reflorestamento. 23 Nível Municipal Legislação Características Lei Nº 526/2010 Dispõe sobre o Plano Diretor Urbano de Cerro Negro Lei Orgânica de 2002 Dispõe da constituição municipal de Cerro Negro, visando um conjunto de normas jurídicas que regem o município. Cabe ressaltar na constituição municipal de Cerro Negro disposta na Lei Orgânica de 2002 o intuito de preservar a fauna e a flora das florestas conforme o artigo 3º. No artigo 45º é importante destacar o código de zoneamento e o código de parcelamento e uso do solo como um dos objetivos desta lei. Além disso, a Lei Orgânica dispõe de uma política do meio ambiente assegurando o direito a todos a um ambiente ecologicamente saudável e promove a ordenação do território definindo o zoneamento e diretrizes gerais de ocupação dispostas nos artigos 174º até o artigo 181º (PMCN, 2002). Quanto ao Plano Diretor e ao zoneamento e parcelamento de solos, os mesmos não se aplicam a zona rural, onde está inserida a área de estudo. 3 SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA O Sistema de Informações Geográficas (SIG) é um importante recurso tecnológico para se planejar, avaliar e monitorar as dinâmicas espaciais e temporais relativas as interferências antrópicas. Este sistema é composto por um grande banco de dados por hardware, programas, dados geográficos e atributos que permitem a obtenção, armazenamento, atualização, manipulação, analise e exibição de todas as formas de informação geograficamente referenciada (ROCHA, 2000). Para analisar a estrutura da paisagem é necessário o monitoramento e conservação da biodiversidade, podendo ser feito através de dados cartográficos, mapeamento do uso e cobertura do solo, fotografias aéreas e utilização de imagens de satélite (dado obtido através de sensores capazes de coletar energia proveniente do objeto). Todos os dados citados anteriormente podem ser integrados no SIG, fazendo o auxilio do monitoramento 24 dos ambientes e acompanhando o desenvolvimento dos diversos tipos de atividades e localizações geográficas através de coordenadas levantadas em campo (NOVO, 1989). Ziembowicz (2012) utilizou imagens de satélites processadas no Spring 5.1.5, juntamente com cartas topográficas do Epagri (IBGE), saídas de campo e entrevistas com a população local, resultando em mapa temático do uso e cobertura do solo e estrutura espacial da paisagem. Marenzi (2004) também se utilizou de imagens de satélite juntamente com arquivos digitais dos mapas limites da área, hidrografia, pedologia e altimetria cedidos pela Associação Catarinense de Preservação da Natureza (ACAPRENA), processadas no auto CAD e Arcview, obtendo mapas temáticos para estudo da paisagem. 4 METODOLOGIA 4.1 ÁREA DE ESTUDO 4.1.1 Localização Geográfica e Caracterização A área de estudo compreende a Fazenda dos Tijolos, localizada no município de Cerro Negro/SC (Figura 3), com área total de 1007,60 ha. Na área há o plantio de Eucalyptus benthamii e dunnii, Pinus taeda, elliiotti, patula e greggii, Cupressus lusitanico e Cryptomeria japonica, intercalados com fragmentos florestais nativos. Esta fazenda pertence a empresa FLOKO (Reflorestadora Koeche) e está localizada na bacia do rio Pelotas que faz divisa com o estado do Rio Grande do Sul. Está situada entre os meridianos 51º00’46.96’’O e 50º57’48.15’’O de longitude Oeste e os paralelos 27º53’32.36’’S e 27º56’00.61’’S de latitude Sul, sua altitude fica entre 750 e 1200 metros e o relevo varia de suave a montanhoso (BAESA, 2005). 25 Figura 3 - Localização da área de estudo, fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Imagem QuickBird, 2010. 4.1.2 Características Gerais do Município O município de Cerro Negro abrange uma área de aproximadamente 418 km2, à uma altitude de média de 886 metros acima do nível do mar. Localizado no Planalto Serrano, na microrregião dos campos de Lages, a 278 Km de Florianópolis, próximo dos municípios de Capão Alto, Anita Garibaldi, Campo Belo do Sul e Abdon Batista. O clima é mesotérmico úmido, com verão fresco e temperatura média do mês mais quente de 22ºC (BAESA, 2005). 26 O município tem uma população de 4.045 habitantes até o ano de 2009 conforme o Censo (2010). É cortado pelo Rio dos Portões, Rio Canoas e Rio Caveira, sendo o limite norte definido pelos rios Canoas e Caveiras e ao sul pelo rio Pelotas. (IBGE, 2010). 4.1.3 Característica das Espécies Reflorestadas da Área de estudo 4.1.3.1 Eucalyptus O gênero eucalyptus conta com cerca de 700 espécies. A escolha por este gênero vem aumentando cada vez mais no Brasil, devido ao rápido crescimento, grande gama de espécies, grande facilidade de propagação, além de outras vantagens (MARCHIORI, 1996). Eucalyptus benthamii É uma espécie originária da Austrália com grande resistência ao frio e a severas geadas. Desenvolve-se com mais facilidade em clima temperado. Cresce aproximadamente 2,3 metros de altura e 2,7 centímetros de DAP por ano. A madeira é mais utilizada para fins energéticos (EMBRAPA, 2006). Eucalyptus dunnii É uma espécie originária da Austrália com extrema resistência ao frio e sobrevivem longos períodos sem chuva de até cinco meses. Cresce em média três metros de altura e três centímetros de DAP por ano. É ausente de galhos até os 30 metros de altura. A madeira produzida é considerada de resistência média com coloração clara e utilizada para fins energéticos (produção de carvão), estruturas leves, confecção de chapas e para celulose, sendo indicado para clima temperado (EMBRAPA, 2006). 4.1.3.2 Pinus Este nome é genérico correspondente ao termo “pinheiro”, é um dos gêneros mais abundantes e mais importantes das gimnospermas, com aproximadamente 90 espécies distribuídas principalmente pelo Hemisfério Norte (MARCHIORI, 1996). Pinus taeda Está espécie é originária do Canadá e se desenvolve em altitudes até 950 metros. Cultivada nas terras de maiores altitudes da Serra Gaúcha e Planalto Catarinense. Atinge cerca de 20 metros de altura com 100 centímetros de DAP, produzindo copa densa, casca gretada e ramos acinzentados. A espécie taeda se assemelha ao elliotti, porém se diferencia 27 pelas acículas curtas e cor mais escura. A madeira desta espécie produz bastante resina e é indicada para construções, móveis e caixotaria, além de produzir fibras longas, o que é ideal na produção de papel (MARCHIORI, 1996). Pinus elliotti Está espécie é originária do Canadá e se desenvolve em terras de baixa altitude (até 150 metros), tendo seu crescimento em zonas de clima subtropical úmido, sendo muito cultivado no Brasil. Com altura atingindo cerca de 30 metros de altura e DAP de 60 a 90 centímetros, tem a casca com coloração acinzentada. É uma espécie heliófila de crescimento rápido, de alta competitividade em relação às gramíneas e arbustos e sensível ao fogo. Diferencia-se do Pinus taeda pelas acículas longas e cor verde mais clara. A madeira produzida é normalmente utilizada para construções leves e pesadas, como a confecção de embarcações e caixas, assim como o taeda produz muita resina e possui fibras longas sendo ideal para fabricação de papel (MARCHIORI, 1996). Pinus patula É uma espécie de origem da América Central, que se desenvolve em grandes altitudes entre 1800 a 2700 metros. No sul do país como no Rio Grande do Sul é cultivado como árvore ornamental, por possuir forma atrativa. É uma árvore de porte médio alcançando cerca de 20 metros de altura, com ampla copa (no ponto de vista para uso madeireiro é uma desvantagem), casca escamosa na fase jovem, sendo modificada para gretada na fase adulta e acículas longas. A madeira produzida é leve, clara e com pouca resina, possui baixa resistência mecânica, sendo de fácil processamento e impregnação. É utilizada para confecção de caixas, embalagens, carpintaria, chapas aglomerados e papel (MARCHIORI, 1996). Pinus greggii É uma espécie de origem Mexicana e encontrada em altitudes entre 2300 a 2700 metros e clima semiárido. É extremamente resistente a geadas, tem o florescimento precoce e as acículas são mais curtas e rígidas. A madeira dessa espécie é amarela pálida e produz pouca resina, é de altíssima qualidade para produção de papel e celulose, porém não é uma madeira de qualidade para produção industrial por concentrar grandes números de nós na madeira (SHIMIZU, 1981). 28 4.1.3.3 Cupressus lusitanico É uma espécie originária da América Central, que participa da composição de florestas pluviais se desenvolvendo nas grandes altitudes entre 1000 a 2000 metros. Pode alcançar até 30 metros de altura e 100 centímetros de DAP. É muito utilizada no Brasil como planta ornamental, cercas-vivas e quebra-ventos, além de produzir madeira e celulose. A madeira produzida tem odor parecido com o do cedro, fácil trabalhabilidade, ótima impregnação e tem alta resistência a intempéries, sendo indicado para uso em interiores ou obras externas (MARCHIORI, 1996). 4.1.3.4 Cryptomeria japonica Mais conhecida como “cedro-japonês”, sendo de origem japonesa, ocupando cerca de 30% da área florestal do Japão. A introdução desta espécie no Brasil se deu por volta do século XX com fins ornamentais e com intuito de produção de celulose. É uma espécie de grande porte com forma piramidal ou colunar e casca de coloração castanho-acinzentada. Produz madeira para construção civil em geral, desde que não entre em contato com o solo (MARCHIORI, 1996). 4.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O método de análise da paisagem partiu da abordagem utilizando o referencial teórico: Burel & Baudry.(2002), Forman & Godron (1986), Primack & Rodrigues (2001), Reitz et. al (1979) e Scarpinella (2002), além do referencial dos trabalhos pesquisados sobre este assunto, como: Crawshaw et al (2007), Luz (2002), Marenzi (2004), Périco & Cemin (2006), Valente (2001) e Ziembowic (2011). A prática se deu por meio do uso de imagens de satélites para elaboração de mapas temáticos no laboratório de ecologia da vegetação costeira do CTTMar da UNIVALI, além de algumas visitas a campo para validar os resultados obtidos. 4.2.1 Elaboração de mapas Na elaboração dos mapas foram utilizadas a carta topográfica (curvas de nível e hidrografia em escala 1:100.000), dados do SRTM que consistem em um Modelo Digital de Elevação (disponibilizados em níveis de cinza), cobertura global (com resolução espacial de 90 metros), além da delimitação da área fornecidas pela empresa RR Gestão Florestal (Lages, SC), a qual forneceu para área de estudo, um mapa de uso de solo e estradas do 29 ano de 2006 na escala 1:7.500. Outros dados foram obtidos em fontes primárias em órgãos como: EMBRAPA, EPAGRI (CIRAM), IBGE e também consulta a Prefeitura Municipal de Cerro Negro. Para iniciar o mapeamento foi necessário adquirir uma imagem base da área de estudo (Figura 4). Para isto, utilizou-se imagens do satélite QUICKBIRD fornecida pelo Google Earth Pro (2010) de alta resolução (4800 x 3336), aproximada a uma altitude de quatro mil metros, sendo necessário o registro de nove imagens. Com estas imagens registradas, fezse a junção utilizando o software Regeemy 0.2.43, aplicando a função de “registre” e “mosaic”, e assim formando um mosaico das imagens da área de estudo e o entorno. Em seguida, se aplicou o processo de georreferenciamento do mosaico, utilizando o SIG Spring 5.2.2, tendo como base de georreferenciamento os vetores de estradas do mapa existente da empresa RR Gestão Florestal (2006), sendo adquiridos 37 pontos de controle. Utilizou-se os dados do mapa da empresa, devido a carta topográfica do IBGE (estradas e cursos de água), obtida no site da Epagri da área de estudo estava na escala de 1/100.000, assim não sendo adequada para o georreferenciamento, sem o detalhe cartográfico necessário. Também não constavam dados topográficos de melhor escala do município, tanto na EMBRAPA, quanto na própria prefeitura, onde se encontravam disponíveis os mesmo dados do EPAGRI. Outra tentativa de obter o georreferenciamento, foi através do SIG Arcgis 10, onde na função basemap não foi possível adquirir imagens com escalas abaixo de 1:75.000, e as imagens oferecidas abaixo desta escala, eram compostas por falhas, ou seja, não existiam imagens da área de estudo. 30 Figura 4 - Imagem base para os mapeamentos da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Fonte: Autor, 2013. Para conferir o georreferenciamento, foi realizado uma saída de campo utilizando o GPS Garmin 76CSx, para obtenção de pontos em encruzilhadas das estradas, para que fosse possível comparar com os vetores das estradas fornecidos pela empresa RR Gestão Florestal. Com isso pode-se concluir que é possível utilizar os vetores da estrada sem que hajam ajustes, pois os pontos e linhas levantadas pelo GPS coincidiram com a imagem. A delimitação da área de estudo foi realizada através de 56 pontos de GPS já existentes, fornecidos pela empresa RR Gestão Florestal (2006) que delimitam a fazenda dos Tijolos, sendo importados para o SIG Spring 5.2.2. Dentro do sistema foram conectados os pontos, formando um polígono chamado delimitação, com isso foi possível determinar a área e perímetro da fazenda. Após a realização do mosaico e georreferenciamento, foram realizados os procedimentos metodológicos (Figura 5), para atingir os objetivos específicos propostos no trabalho. Então seguiu-se uma sequência cronológica na realização dos mapas, começando delimitação da fazenda, e em seguida o mapeamento do uso e cobertura do solo, 31 mapeamento das APPs utilizando dados fornecidos no mapa de uso e cobertura do solo, depois se realizou o mapa de estrutura espacial da paisagem, e por fim com a utilização de todos o mapas fez-se o mapa do cenário ideal. Figura 5 - Etapas do procedimento metodológico da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Fonte: Autor, 2013. 4.2.1.1 Atualização do mapa de uso e cobertura do solo A atualização do mapa de uso e cobertura do solo foi realizada a partir do mapa de uso e cobertura do solo fornecida pela RR Gestão Florestal (2006) do local de estudo e a interpretação da imagem georreferenciada. . A partir da imagem georreferenciada foi realizada uma classificação manual no SIG Spring 5.2.2, onde foi interpretada a imagem de satélite na composição colorida 3,2,1 (RGB), gerando os polígonos, assinando a respectiva classe e armazenando no sistema. Com isso foi possível determinar e digitalizar as diferentes tipologias de vegetação das 17 classes identificadas (Espete, Eucalipto, Floresta Ombrófila Mista, Pinus e outros) (Figura 32 6). Também foram coletados em campo, pontos de GPS e fotografias panorâmicas da área para conferência das informações. Com isso foi possível obter um mapa temático da fitofisionomia do uso e cobertura do solo. E por fim, pode-se calcular a área de influência de cada tipologia dentro da área de estudo. Figura 6 - Processo de mapeamento do uso e cobertura do solo da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Fonte: Autor, 2013. Uma vez terminada a classificação se procedeu a análise da paisagem conforme metodologia de Forman & Godron (1986) e Burel & Baudry.(2002). Este mapeamento foi realizado no Laboratório de Ecologia da Vegetação Costeira do CTTMar/UNIVALI. 4.2.1.2 Mapeamento das APPs A elaboração da carta das Áreas de Preservação Permanente (APPs), foi realizada com base na lei 12.651 de 25 de maio de 2012 e Resolução do CONAMA 303 de 2002 (BRASIL, 2012; CONAMA, 2002). 33 Para elaboração do mapa de APPs, foi necessário levar em consideração as APPs mais relevantes contidas na área, como: açudes, banhados, cursos d’água, declividades igual ou superior a 45 graus, nascentes e topo de morros, previstas nas legislações. Algumas dessas classes já haviam sido encontradas e mapeadas quando foi realizado o mapeamento de uso e cobertura do solo, como: açudes, banhados, cursos d’água e nascentes. A obtenção das APPs para cada uma dessas tipologias foi realizada no SIG Spring 5.2.2, realizando um mapa de distâncias e definindo qual a distância de APP para cada tipologia disposta na legislação (Figura 7). Figura 7 - Processo de mapeamento das Áreas de Preservação Permanente da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Fonte: Autor, 2013. 34 Já para o mapeamento das declividades igual ou superiores a 45 graus foi necessário “estipular” um método de observa-las, isto porque não foi possível obter carta topográfica adequada para a área de estudo, devido a isso foi utilizado o plano de voo do Google Earth e considerando superficialmente locais com declividades iguais ou superiores a 45 graus. Foram registrados os pontos com esta declividade, para depois através do Spring 5.2.2 realizar o mapeamento destes locais como pequenos polígonos representativos da área que nestas condições deve ser preservada. Para os topos de morro também foram utilizadas as mesmas técnicas utilizadas para determinar as declividades, por plano de voo do Google Earth. Conforme a legislação do novo código florestal de 2012, para determinar o topo de morro, se deve considerar morros com inclinação media de 25 graus, sendo que a partir de 2/3 (dois terços) da altura máxima em relação a altura mínima do morro, definida pelo curso d’água adjacente, ou seja, sendo que o terço superior do morro com essas características são considerados APP de topo de morro. Com isso aplicou-se o cálculo (conforme a fórmula abaixo) do terço superior, para a partir do resultado, obter a altitude que se encontra o topo de morro. Assim pode-se registrar os polígonos manualmente das áreas dos topos de morro. TS= (2/3)*H Onde: H= altitude topo do morro (base hidrográfica mais próxima) TS= Terço superior A determinação da declividade e do topo de morro foi realizada dessa forma, por ser a ultima maneira encontrada para determiná-las. Devido a Prefeitura do Município, EMBRAPA e IBGE não constarem dados apropriados de topográfico e altimetria. Então a única fonte onde se obteve dados digitais, foi o EPAGRI (CIRAM), onde o mapa altimétrico, mapa topográfico e modelo de elevação digital constavam apenas na escala de 1/100.000. A partir desses dados fornecidos, foram utilizadas as curvas de nível para elaboração do modelo de elevação digital, para isso foi utilizado o SIG Spring 5.2.2. Porém, não se obteve êxito na elaboração dos mapas com estes dados, devido a escala não ser adequada para este tipo de mapeamento. Como mencionado anteriormente, para confecção das APPs, principalmente de topo de morro, foi realizada uma saída de campo com o GPS Garmin 76CSx, buscando localizar os topos de morros já levantadas a partir da imagem de satélite. 35 4.2.1.3 Mapeamento da estrutura espacial da Paisagem A partir dos mapas de uso e cobertura e de APP foi elaborada a carta de Estrutura Espacial da Paisagem no SIG Spring 5.2.2, localizando as manchas, matriz e corredores do local de estudo, conforme indicam Forman & Godron (1986) e Baudry & Burel (2002). Como manchas foram destacadas as diferentes tipologias de reflorestamento, remanescentes de floresta nativa (F.O.M.) e Estepes (campo). Como corredores, foram discriminados os cursos d’água, estradas e cercas. A matriz foi analisada com base no mosaico de manchas e de corredores existentes, de acordo com a literatura estudada Forman & Godron (1986), Baudry & Burel (2002), Odum (2002) e Meurer (2011). A análise da estrutura espacial da paisagem (Figura 8) foi definida pela interpretação das imagens, definindo as variáveis (área, perímetro e distanciamento) obtidas no SIG Spring 5.2.2. Para isso se utilizou três tipologias, Espetes (campo), Floresta Ombrófila Mista e Reflorestamento, onde parte dos mesmos já haviam sidos representados anteriormente no mapa de uso e ocupação do solo. As modificações foram desde a dissociação das outras tipologias, a associação de todas as espécies de reflorestamento determinando somente uma classe, até a adição das florestas nativas ao redor da área de estudo através do SIG Spring, utilizando a classificação manual. Com isso foi realizado o mapa de estrutura espacial da paisagem da fazenda dos Tijolos e o entorno. 36 Figura 8 - Processo de mapeamento da estrutura espacial da paisagem da Fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Fonte: Autor, 2013. Para analisar as manchas da Floresta Ombrófila Mista, foi necessário realizar outro mapa da estrutura espacial da paisagem demonstrando as diferentes manchas, as quais estão separadas por cercas, curso d’água, estradas e reflorestamentos. Então fez-se a classificação das 14 manchas encontradas separadas umas das outras, desde as internas e externas da fazenda. 4.2.1.4 Proposta de Cenário Ideal Esta proposta foi elaborada visando a conservação da biodiversidade da fazenda, através do cenário real. Foi utilizado o SIG Spring 5.2.2 sobrepondo o mapa de uso e ocupação do solo com o mapa de APP e utilizando o mapa da estrutura espacial da paisagem (Figura 9). Com isso pode-se obter as áreas irregulares da área de estudo, ou 37 seja, áreas em conflito com APPs e Corredor Ecológico. Então foi realizado a classificação manual das áreas que devidamente obtinham conflitos conforme dispostos na lei 12.651 de 2012 e na Resolução do CONAMA 303 de 2002 (BRASIL, 2012; CONAMA, 2002). Figura 9 - Processo de mapeamento do cenário ideal Fonte: Autor, 2013. Como resultado se teve um mapa temático demonstrando o cenário ideal da fazenda dos Tijolos, indicando as áreas que necessitam posteriormente recuperação com o plantio de floresta nativa ou outros procedimentos. . 38 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 USO E COBERTURA DO SOLO A paisagem no mapa de uso e cobertura do solo (Figura 10) demonstra fragmentação de habitat na área de estudo, sendo que parte do reflorestamento teve avanço sobre a vegetação e os remanescentes da Floresta Ombrófila Mista, assim podendo afirmar que houve degradação das manchas de vegetação. O uso e cobertura do solo da área de estudo é constituída por 17 classes, definidas por polígonos, resultando em um mosaico fragmentado, sendo as classes: Área de Pesquisa, açude, banhado, capoeira, cascalho, Cryptomeria japonica, Cupressus lusitano, estepe (campo), Eucaliptos (benthamii e dunii), Floresta Ombrófila Mista, Pinus (eliotii, greggi, patula e taeda), sedes e solo exposto. Também foram definidas: a delimitação da propriedade (cerca), estradas, açudes, banhados, nascentes e os cursos d’água existentes no interior da fazenda dos Tijolos. Com isso pode-se obter área de influencia de cada tipologia, demonstrado pela Tabela 1, considerando a área de influencia de cada tipologia dentro da delimitação, sendo a área total da fazenda de 1007,8 ha. 39 40 Tabela 1 - Dados do uso e cobertura do solo da fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Tipologia Área (ha) Proporção (%) Área Pesquisa SC 1,08 0,11 Açude 0,71 0,07 Banhado 13,66 1,36 Capoeira 0,73 0,07 Cascalheira 0,14 0,01 Cryptomeria japonica 0,31 0,03 Cupressus lusitano 2,90 0,29 Eucalipto benthamii 54,67 5,42 Eucalipto dunii 83,20 8,26 Estepe 10,45 1,04 Floresta Ombrófila Mista 509,63 50,57 Pinus eliiotii 104,18 10,34 Pinus greggi 18,00 1,79 Pinus patula 48,43 4,81 Pinus taeda 114,39 11,35 Solo Exposto 45,32 4,50 Total 1007,8 100 A predominância mais representativa é composta pela Floresta Ombrófila Mista, ocupando 509,53 ha da área da fazenda, ou seja, 50,57% da área total, sendo circundada por tipologias resultantes da alteração humana e reflorestamento. Segundo a classificação do IBGE (1991) a F.O.M. do local de estudo é na maior parte do tipo Montana, onde o mesmo se encontra em altitudes entre 500 à 1000 metros, outra parte é do tipo Alto Montana, que está situada acima de 1000 metros, sendo apenas uma pequena parcela nos topos de morro, e outra parte é do tipo Aluvial, nas partes próximas aos cursos d’água e em terrenos úmidos. Já a tipologia com menor predominância é a cascalheira com apenas 0,14 ha (0,01%) de ocupação do solo da propriedade. Está “cascalheira” foi utilizada para o cobrimento das estradas da fazenda, porém esta desativada desde 2011, devido a desnecessidade de uso. A área de solo exposto ocupa 45,32 ha ou 4,50% do total da propriedade, ocorreu devido à retirada das espécies cultivadas (reflorestamento), sendo que os maiores polígonos de solo exposto estão conectados com algum tipo de reflorestamento, ou seja, nestes locais está sendo feita a extração destas espécies cultivadas, resultando em solo exposto, enquanto não há replantio. A reflorestação dessas áreas ocorreu na metade de 2011 com o replantio de espécies exóticas (Pinus e Eucalipto), para reformar um novo ciclo de reflorestamento. 41 A propriedade conta com dois açudes ocupando uma pequena área de 0,71 ha, sendo 0,07% de ocupação no solo da propriedade. Nestes açudes são cultivados apenas a espécie Carpa capim, utilizada somente para fins de recreação e consumo dos funcionários. Já os banhados ocupam uma área de 13,66 ha ou 1,36% da propriedade, sendo divididos em cinco banhados. As áreas de estepes, mais conhecidas como campos gerais ou campos de altitude segundo a nomenclatura do IBGE (1992), ocupam uma área de 10,45 ha, ou seja, 1,04% da área total. Em quase todos os locais de campo foram construídos galpões, alojamentos ou garagens, servindo de infraestrutura para sede da propriedade. De acordo com Mocoshinski e Scheer (2008) as áreas de incidência de campo são pequenas devido à ameaça do plantio de espécies exóticas como o Pinus, assim avançando sobre estas. . Os estepes da fazenda encontram-se no subgrupo do estepe parque (IBGE,1992), devido apresentarem um estrato herbáceo constituído basicamente por gramíneas em meio de exemplares isolados ou agrupados de Araucária angustifolia. Existe também a possibilidade de que estes estepes possam não ser naturais, ou seja, resultantes do corte da floresta para ocupação humana, pois pelo arranjo observa-se pouca distribuição em meio ao ambiente basicamente florestal. As áreas de atividade econômica da fazenda são 100% reflorestamento, abrangendo uma área de 426,60 ha, sendo cultivadas nove tipologias diferentes de espécies, como: Cryptomeria japônica, Cupressus lusitano, Eucalipto (benthamii e dunii) e Pinus (Eliotii, greggi, patula e taeda), Estas áreas ocupam 42,33% do total da propriedade, sendo que a espécie mais cultivada é o Pinus taeda, ocupando 11,35% do total da fazenda, conforme a Tabela 1, ou 26,85% de atividade econômica da propriedade, conforme a Tabela 2, ocupando uma área de 114,39 ha, seguido do Pinus elliotii (104,18 ha), Eucalipto dunii (83,20 ha), Eucalipto benthamii (54,67 ha), Pinus patula (48,43 ha), Pinus greggi (18,00 ha), e em menor quantidade apresenta-se as espécies Cupressus lusitano com 2,90 ha e a Cryptomeria japônica com 0,31 ha. Todas essas espécies geralmente são comercializadas na região de Lages, principalmente para indústria madeireira e de papel e celulose. A propriedade cultiva estas espécies (Pinus e Eucalipto) devido ao rápido crescimento em um espaço de tempo reduzido do que outras espécies de acordo com Pereira (2005). Assim surgindo como uma alternativa de recurso, porém a propriedade usa a pratica de monocultura, assim modificando a paisagem local conforme cita Guimarães et al. (2010). 42 Tabela 2 - Dados das espécies cultivadas na fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Área (ha) Proporção (%) da área total Proporção (%) da área das espécies cultivadas como atividade econômica da propriedade Cryptomeria japonica 0,31 0,03 0,07 Cupressus lusitano 2,90 0,29 0,68 Eucalipto benthamii 54,67 5,42 12,82 Espécies cultivadas Eucalipto dunii 83,20 8,24 19,46 Pinus eliiotii 104,18 10,34 24,45 Pinus greggi 18,00 1,79 4,22 Pinus patula 48,43 4,81 11,37 Pinus taeda 114,39 11,35 26,85 Total 426,60 42,33 100 As estradas são todas rurais do tipo “chão batido” e cascalho, com largura máxima de cinco metros. Uma das estradas é de domínio municipal com aproximadamente 4,8 km, utilizada como estrada geral que corta a área de estudo, ligando a outras fazendas. As outras estradas são de domínio particular, sendo utilizadas para ter acesso aos reflorestamentos, tendo comprimento total de 41,5 km. Os cursos d’água dentro da propriedade tem comprimento aproximadamente de 9,80 km e com largura máxima de cinco metros, sendo em sua maioria riachos. Estes são divididos em seis cursos de água pertencentes à bacia do rio Pelotas, que desaguam no rio Pelotas. A Área de Pesquisa abrange uma pequena área de 1,08 ha, onde é uma área de pomar de semente clonal (APSC), feita através da empresa Terrapinus (Lages, SC), com o objetivo de obter as melhores espécies de Pinus taeda. Este experimento é feito através da coleta de galhos das melhores árvores adultas e enxertados em mudas, assim se obtém uma árvore de pequeno porte, porem adulta, para que nos próximos anos possa ser feita a coleta de sementes da melhor qualidade. Para isto, é importante observar que ao redor deste experimento existe apenas F.O.M. e Eucalipto, pois é necessário isolar as espécies experimentais das outras espécies de Pinus, para que não haja cruzamento entre as espécies. 43 5.2 ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP) As áreas de Preservação Permanente são áreas protegidas, tendo o objetivo de preservar os recursos hídricos, paisagem, estabilidade geológica e biodiversidade, assim facilitando o fluxo genético da fauna e flora, e por fim proteger o solo e garantir o bem estar de todos (BRASIL, 2012). Para o mapeamento das APPs da área de estudo (Figura 11), foi analisado o novo código florestal, ditada no capitulo III (Áreas de Preservação Permanente), seção I (Delimitação das APPs), do artigo 4., e também a Resolução do CONAMA 303 do artigo 3. 44 45 Os seis cursos de água presentes no interior da fazenda tem largura máxima de 5 metros, portanto, “trinta metros, para os cursos d’água com larguras até dez metros” (BRASIL, 2012). Então foram mapeados como APP às margens com trinta metros de distância de todos os cursos d’água presentes na propriedade. De acordo com a Tabela 3, a tipologia de solo exposto é que mais conflita com a zona de APP de curso d’água, ocupando área irregular de 1,54 ha. Já as zonas de conflito contendo reflorestamento são de pequena escala, sendo que a espécie com maior conflito é o Eucalipto dunii com aproximadamente 0,64 ha plantados na zona de APP, seguido do Pinus taeda com 0,31 ha. Com isso pode-se determinar que a área total em conflito com a APP de curso d’água é de 3,17 há ou 0,31% da área total. Tabela 3 - Tipologias em conflito com APP dos cursos d’água da fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Tipologia Eucalipto benthamii Eucalipto dunii Pinus eliiotii Pinus patula Pinus taeda Solo Exposto Total Área (ha) 0,16 0,64 0,30 0,22 0,31 1,54 3,17 Proporção (%) em relação a área Total 0,02 0,06 0,03 0,02 0,03 0,15 0,31 As três nascentes identificadas devem seguir a legislação de acordo com o item quatro disposto no artigo 4 desta lei, no que refere sobre “ás áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de cinquenta metros” (BRASIL, 2012), portanto as nasceste foram classificadas com cinquenta metros de distância. Essa distancia só não é respeitada em uma pequena parcela com o Pinus eliiotii invadindo a zona de APP em 0,05 ha. Foram identificadas apenas quatro áreas com declividade acima de 45° no interior da propriedade, ocupando 42,83 ha da propriedade. De acordo com a legislação “as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declividade” (BRASIL, 2012), ou seja, as encostas com declividade igual ou acima de 45° são áreas de preservação permanente. Não foram identificadas tipologias irregulares nesta área, constando apenas tipologia de Floresta Ombrófila Mista nestes locais. 46 De acordo com a Tabela 4, a APP de topo de morro foi a que mais sofreu conflito com o uso e ocupação do solo da propriedade. Com aproximadamente 71,64 ha ou 7,12% de área ocupada com alguma tipologia de reflorestamento irregular, sendo que o reflorestamento com Eucalipto benthamii e Pinus greggi são os com maiores áreas de ocupação irregular em topos de morro, com 20,13 ha (2,00%) e 17,10 ha (1,70%) respectivamente. Tabela 4 - Tipologias em conflito com a APP dos topos de morro da fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Tipologia Eucalipto benthamii Eucalipto dunii Pinus eliiotii Pinus greggi Pinus patula Pinus taeda Solo Exposto Total Área (ha) 20,13 3,36 8,91 17,10 9,65 3,93 8,66 71,74 Proporção (%) em relação a área Total 2,00 0,33 0,88 1,70 0,96 0,39 0,86 7,12 A área de APP de banhado e açude foi demandada de acordo com o novo código florestal de 2012, que devem seguir distancia mínima de dez metros. De acordo com mapa de uso e ocupação do solo (Figura 10) e o mapa de APPs (Figura 11), houve conflito com estas tipologias apenas com o plantio de Eucalipto benthamii (0,12 ha) e Pinus greggi (0,11 ha). Portanto o total de área em conflito com as zonas de APP é de 75,19 ha ou 7,46% da área total, a qual devem ser recuperadas/restauradas, através do plantio de mudas nativas nesses locais. 47 5.3 ESTRUTURA ESPACIAL DA PAISAGEM Conforme Baudry & Burel (2002), o estudo espacial da paisagem permite quantificar a área necessária para uma determinada espécie usufrua do habitat durante seu ciclo de vida, se reproduzindo, se alimentando e se abrigando. A estrutura espacial da paisagem (Figura 12) foi classificada de acordo com a fitofisionomia da área de estudo com fins de ecologia da paisagem. Para isto foram determinadas as tipologias mais relevantes para este estudo, como: cerca, curso d’água, estepes, estradas, Floresta Ombrófila Mista (interna e externas da fazenda) e reflorestamento. Determinados como elementos da paisagem: matriz, mancha e corredor. Como as manchas mais representativas na área de estudo e o entorno foram considerados os Estepes, Floresta Ombrófila Mista e Reflorestamento. Já os corredores segundo Odum (2002), são faixas naturais ou planejadas associando duas ou mais manchas, então se considerou como corredor: as estradas, cercas e cursos d’água. De acordo com Valente (2001), matriz é considerada o elemento com maior influência no funcionamento dos outros ecossistemas, portanto a matriz da área de estudo é o reflorestamento, por ter alta conectividade e adentrar na floresta, sendo o elemento dominante que influencia na paisagem, na qual estão contidas as manchas e corredores, ou seja, englobando todos os elementos da estrutura da paisagem (BAUDRY & BUREL, 2002). 48 49 Por meio do mapa de estrutura espacial da paisagem (Figura 12), é possível observar que os estepes estão desconectados em pequenas machas, devido ao cultivo de espécie exótica, o qual avança sob os estepes (MOCOSHINSKI & SCHEER, 2008). Também é possível observar que a Floresta Ombrófila Mista esta mais fragmentada no interior da fazenda do que no exterior da fazenda, pois o cultivo do Eucalipto e do Pinus fez com que a paisagem se fragmentasse em pequenas e grandes manchas de floresta. Na Tabela 5, é definida a área de influência e quantidade das tipologias consideradas como manchas para analise da paisagem da área de estudo e o entorno. Para isto observou-se que a mancha com maior predominância é a Floresta Ombrófila Mista com aproximadamente 1365,70 ha (75,78%), divididas em 14 manchas, seguido do reflorestamento com 426,08 ha (23,64%), dividido em 13 manchas, e o estepe com pouco mais de 10 ha (0,58%), dividido em cinco manchas. Assim a área analisada ocupa aproximadamente 1802,75 ha contendo 32 manchas. Tabela 5 - Área e quantidade das tipologias consideradas mancha para analise da paisagem da fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Manchas Estepe (Campo) Floresta Ombrófila Mista Reflorestamento Total Área (ha) 10,45 1.365,70 426,60 1.802,23 Proporção (%) 0,58 75,78 23,64 100,00 Quantidade 5 14 13 32 A mancha de Floresta Ombrófila Mista foi dividida em interna e externa da fazenda (Tabela 6), para analisar separadamente esta tipologia e também por conter cerca na delimitação da fazenda, na qual serve de bloqueio para algumas espécies, assim fragmentando esta área. As manchas internas ocupam uma área de 509,53 ha ou 37,32%, divididas em nove manchas. Já as manchas externas ocupam uma área de 856,07 ha (62,68%), divididas em cinco manchas. Tabela 6 - Área e quantidade das manchas do tipo F.O.M. interna e externa da fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Mancha de Floresta Ombrófila Mista Interna Externa Total Área (ha) 509,63 856,07 1.365,70 Proporção (%) 37,32 62,68 100,00 Quantidade 9 5 14 50 Também foi possível obter o comprimento e a quantidade de cada corredor (Tabela 7). Com isso pode-se considerar que existe somente uma cerca, a qual esta delimitando a fazenda, com comprimento de 15,85 Km. Também foram identificados seis corredores de cursos de água (corredor natural), na qual a soma de todo seu comprimento é de 9,81 Km. Já as estradas são corredor do tipo faixa com função de sumidouro (FORMAN, 1995), sendo consideradas somente as estradas internas da fazenda, pois não foi possível a realização da confecção das estradas externas. As estradas internas chegam ao comprimento de 41,45 Km, correspondentes a aproximadamente 34 estradas. Além disso, foram identificados 10 corredores ecológicos, ou seja, corredores de vegetação naturais, que conectam uma floresta a outra, permitindo o fluxo de genes e movimento da biota, conforme Primack & Rodrigues (2001). Portanto o total de corredores em comprimento é de 67,11 Km. Tabela 7 - Área e quantidade dos tipos de corredores da fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Corredores Comprimento (Km) Quantidade Cerca 15,85 1 Curso d'água 9,81 6 Estrada 41,45 34 - 10 67,11 51 Corredor Ecológico Total É possível considerar eventuais atropelamentos nas estradas. No entanto, é possivelmente diferente de vias com mais circulação e velocidade, como o caso da BR 174 na região do Amazonas em que foram registrados 27 animais atropelados e mortos, no período de 2 anos (OMENA JUNIOR et al, 2012). No caso da fazenda dos Tijolos é rara a ocorrência de atropelamentos de animais, pois as vias são de baixa velocidade, estreitas e a maior parte privada, tendo pouca circulação de veículos no local. Marenzi (2004), ressalta o problema de atropelamentos mesmo em estradas de “chão batido”. De acordo com a Figura 13 e a Tabela 8, a Floresta Ombrófila Mista mostra-se fragmentada, sendo dividida em 14 manchas, nas quais são fragmentadas em 46 submanchas, devido a cerca, curso d’água e as estradas que cortam e separam essas manchas, formando sub-manchas. Conforme Primack e Rodrigues (2001), a fragmentação de habitat pode levar a extinção de algumas espécies, devido essas espécies ficarem ilhadas em algumas manchas, podendo ocorrer o aumento na competição por abrigo e alimento. 51 52 Tabela 8 - Área e as subdivisões por curso d’água e estradas de cada mancha de F.O.M da fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Manchas o Área (ha) Submanchas (n ) 1 310,88 18 2 41,41 9 3 150,01 7 4 2,71 0 5 0,23 0 6 0,14 0 7 1,77 0 8 1,56 0 9 0,92 0 10 422,74 0 11 109,85 4 12 241,36 2 13 33,46 2 14 48,66 2 Total 1365,7 46 Conforme Fernandez (2000), a maior ameaça à extinção das espécies esta diretamente ligada à fragmentação e introdução de espécies exóticas, por sua vez apontada por Ziller e Galvão (2000). Portando, o reflorestamento é a maior consequência de perda de biodiversidade no local, por serem utilizadas espécies exóticas que podem adentram na Floresta Ombrófila Mista. Com isso gera formação de populações remanescentes, por consequência alterando os fluxos genéticos, aumentando a competição e alterando a estrutura e qualidade de habitat, causando perda de biodiversidade (FORMAN & GODRON, 1986; MUCHAILH, 2007). De acordo com Odum (2002), os corredores podem ser faixas naturais ou planejadas, portanto o corredor curso d’água é do tipo faixa natural, já os corredores cerca e estradas são do tipo faixa planejada ou do tipo linhas de corredor de forma linear segundo Forman e Godron (1981). A forma das manchas também influencia na situação do local, pois as manchas mais compactas e de formato similar ao circulo tem capacidade de proteger os recursos interiores, como é o caso das sub-manchas contidas nas manchas 1, 3, 10 e 12. Assim evitando que os efeitos de borda externos influenciem no interior do fragmento, especialmente espécies intolerantes a maior intensidade de luz, vento, temperatura e intervenções humanas (ODUM, 2002). 53 A forma mais irregular aumenta o efeito de borda por apresentar maior perímetro, mas pode compensar por apresentar mais heterogeneidade de ambientes, beneficiando algumas espécies, como é o caso das manchas 1, 2, 3, 11 e 12 (MARENZI, 2004). Conforme Carmo (2000), as manchas de paisagem com pequenas áreas podem servir de áreas de descanso para as espécies que se locomovem entre manchas, como as manchas de 4 a 9. Por outro lado, uma mancha de tamanho menor não suporta grandes populações e com isso deriva numa menor biodiversidade em comparação a uma floresta continua. Portanto, a estrutura espacial da paisagem demonstrou que o reflorestamento é o elemento dominante influenciando diretamente os outros elementos da paisagem, resultando em fragmentação, pela formação de sub-manchas separadas. Por outro lado, há presença de algumas porções lineares de floresta se comportando como corredor ecológico e, nesse caso, podendo propiciar o fluxo de genes, bem como o deslocamento de fauna (BRASIL, 2000). 5.4 PROPOSTA DE CENÁRIO IDEAL A proposta foi elaborada voltada a um cenário ideal da fazenda dos Tijolos (Figura 14). Para isso se utilizou o mapa de uso e ocupação do solo (Figura 10), mapa de APPs (Figura 11) e mapa da estrutura espacial da paisagem (Figura 12 e 13), focando quais seriam os locais com mais fragilidades ambientais que necessitariam de conservação e/ou recuperação. A Figura 14 indica os locais em conflito com a silvicultura, que devem ser recuperadas com o plantio de mudas nativas. 54 55 Algumas faixas de vegetação que se comportam como corredor ecológico deverá ser ampliado, pois alguns se encontram muito estreitos, para isso fez-se o alargamento dos mesmos (com média de 100 metros de largura), conforme demonstrado na Figura 14, buscando uma maior capacidade de deslocamento da fauna, bem como fluxo genético da biota, conforme indica Primack & Rodrigues (2001). Estes corredores minimizarão o efeito de fragmentação de habitats das manchas de floresta, sendo que a largura proposta (100 metros) teve caráter empírico, já que a literatura pertinente não indica um valor, pois depende do comportamento da biota que se almeje considerar. Quanto à recuperação em área de estepe não são previstas medidas, considerando que estes ambientes se encontram em pequenas porções da área de estudo, e sem a certeza de que são naturais, pela sua dimensão e distribuição em meio ao ambiente florestal, que predomina. Importante considerar a implantação da reserva legal, sendo que na legislação é necessário assegurar pelo menos 20% do imóvel (BRASIL 2012). Na propriedade em questão este área abrange 20,84%, considerando a manutenção de cinco manchas com pouca fragmentação (Figura 14). Esta área deverá ser averbada em cartório e informada ao órgão competente no prazo de até um ano (BRASIL, 2012). Portanto essa área de reserva legal tem como objetivo de proteger a vegetação natural, porém poderá ser utilizado segundo manejo sustentável (coleta de pinhão, poda de folha de Ilex paraguaensis com fins de produção de erva mate, plantas medicinais, atividades de recreação e educação ambiental), ou seja, produzir algum produto secundário sem prejudicar os recursos que a natureza oferece. Na Tabela 9 podem ser verificadas as áreas a serem recuperadas de acordo com suas exigências legais (APP e proposta de ampliação do corredor ecológico), assim podendo alcançar o cenário ideal. Tabela 9 – Total das áreas (ha) recuperadas para alcançar o cenário ideal da fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Recuperação Área (ha) APP Banhado/ Açude 0,23 APP Curso D'água 3,17 APP de Nascente 0,05 APP Topo de Morro 71,74 Corredor Ecológico 5,92 Total a ser recuperado 81,11 56 . Considerando que a APP de topo de morro é a que mais sofre conflito, ocupando 71,74 ha de plantio irregular de espécies exóticas, é a maior área a ser recuperada. Como também o corredor ecológico deve ser ampliado com floresta nativa, sendo necessária a substituição de 5,92 ha de reflorestamento. As medidas de recuperação devem estar voltadas a restauração ambiental. Segundo Brasil (2000), restauração é a restituição o mais próximo possível de sua condição original de um ecossistema ou população que sofreram degradação. Odum & Barrett (2007) se refere à ecologia da restauração como uma forma em restaurar a heterogeneidade e os padrões da paisagem alterados pela perturbação humana. Para o autor, este foco também aumenta o valor da conservação das paisagens fragmentadas. Portanto, considerando a área de 81,11 ha (Tabela 9) a ser recuperada (restaurada), haverá um acréscimo da área de Floresta Ombrófila Mista, totalizando 609,49 ha (Tabela 10). No entanto, é preciso considerar a necessidade de aguardar o período de adequação de corte de reflorestamento sem que haja perdas no investimento financeiro. Ainda, buscando uma melhor visualização do cenário ideal comparado com o real, foi elaborado Figura 15 para facilitar a comparação entre esses dois mapas. 57 Figura 15 - Comparativo do cenário real com o cenário ideal da fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. 58 É possível verificar (Figura 15) que na situação ideal existe uma maior conectividade entre as manchas de floresta, diminuindo o efeito negativo da matriz (reflorestamento). Assim como os corredores ecológicos mais largos fazem mais conexões entre as manchas de Floresta Ombrófila Mista. Também é importante observar que no cenário ideal, a silvicultura diminui em 81,11 ha para o plantio de floresta nativa, possivelmente incorrendo em perdas econômicas para a propriedade. Conforme a Tabela 10 e a Figura 15, a Floresta Ombrófila Mista teve aumento de 9,91%, devido a diminuição do cultivo de espécies exóticas com o objetivo de respeitar as legislação e conciliar a silvicultura com a conservação da biodiversidade. Também é importante relevar que na tipologia solo exposto do cenário real foi transformado em reflorestamento nos locais que não havia conflitos. Portanto, podendo compensar parte da perda econômica. Tabela 10 - Comparação da área e proporcionalidade do cenário real com o cenário ideal da fazenda dos Tijolos, Cerro Negro, SC. Cenário Real Tipologia Cenário Ideal Área (ha) Proporção (%) Área (ha) Proporção (%) APSC 1,08 0,11 1,08 0,11 Açude 0,71 0,07 0,71 0,07 Banhado 13,66 1,36 13,66 1,36 Capoeira 0,73 0,07 0,73 0,07 Cascalheira 0,14 0,01 0,14 0,01 Cryptomeria japonica 0,31 0,03 0,31 0,03 Cupressus lusitano 2,90 0,29 2,59 0,26 Eucalipto benthamii 54,67 5,42 36,12 3,58 Eucalipto dunii 83,20 8,26 76,14 7,56 Estepe 10,45 1,04 10,45 1,04 F.O.M. 509,63 50,57 609,49 60,48 Pinus eliiotii 104,18 10,34 80,91 8,03 Pinus greggi 18,00 1,79 0,59 0,06 Pinus patula 48,43 4,81 36,59 3,63 Pinus taeda 114,39 11,35 103,49 10,27 Solo Exposto/Reflorestação 45,32 4,50 34,80 3,45 Total 1007,8 100 1007,8 100 Como medida de gestão em um cenário ideal se recomenda que a propriedade adote um sistema de sinalização, com placas das espécies cultivadas, identificando o gênero, 59 espécie e ano de plantio. Também deve utilizar o sistema de placas para identificar a velocidade máxima permitida para não haver atropelamento de animais. Além disso, esse sistema de placas também pode ser utilizado numerando as ruas, assim facilitando a organização da propriedade. Outra medida importante se refere à educação ambiental dos funcionários, para que tenham uma visão ampliada como e porque respeitar a biodiversidade. Com isso trará benefícios positivos a propriedade, desde profissionais melhor capacitados até uma propriedade com silvicultura conciliada com a conservação da biodiversidade em seu interior. Nos limites de cada tipologia de silvicultura deve-se adotar em volta 3 faixas de quebra-vento com espécies não invasoras, com o objetivo de minimizar a dispersão de sementes fora desses povoamentos (ZILLER; GALVÃO, 2000). Com isso pode-se concluir que o cenário ideal teve como objetivo demonstrar ao proprietário qual seria a melhor situação para a conservação da biodiversidade, analisando a estrutura de mosaico de paisagem e propondo arranjos com corredores ecológicos, reserva legal, APPs, conciliados com as áreas de reflorestamento, bem como buscando medidas mitigatórias dos impactos. 60 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o auxiliou do Sistema de Informações Geográficas Spring 5.2.2., facilitou a compressão da analise da ecologia da paisagem, mostrando-se eficiente na obtenção dos mapas para atingir os objetivos propostos neste trabalho. Com o mapa de uso e cobertura do solo foi possível caracterizar quantitativamente, em termos de área e número de fragmentos, observando que houve fragmentação de habitat, na qual o reflorestamento teve avanço sobre os remanescentes da Floresta Ombrófila Mista, ou seja, houve degradação das manchas de vegetação. Também é importante ressaltar que a propriedade pratica monocultura, assim modificando a paisagem local, mas comparado a maioria das atividades econômicas, o reflorestamento, se manejado adequadamente, tem impactos negativos menos expressivos. A tipologia com maior predominância é a Floresta Ombrófila Mista em relação ao reflorestamento que tem a segunda maior predominância, mesmo no cenário ideal com a diminuição considerável de sua área. A espécie mais cultivada é Pinus taeda e Pinus elliotii, por serem espécies de crescimento rápido em curto tempo de espaço. Porém, a propriedade vem apostando nos últimos anos nas espécies Eucalipto benthamii e dunii, pois estas tem crescimento maior em um espaço de tempo menor do que as espécies de Pinus. Em relação aos estepes da propriedade, pode-se dizer que sofreram transformações com a atividade humana, pois nas pequenas parcelas dessa formação vegetal na propriedade, há presença de infraestrutura da propriedade, além do cultivo de espécies exóticas que adentram nestes locais. No entanto, ainda existe dúvida se esta formação é original ou resultado da retirada da Floresta com fins de ocupação humana. Pode-se concluir que há reflorestamento em conflito de uso com áreas de preservação permanente de acordo com a legislação pertinente, sendo que a APP de topo de morro foi a que mais sofreu com o conflito de uso, sendo que de acordo com o proprietário da fazenda, alega que desconhecia a legislação ambiental quanto a este tipo de APP. Com isso foi proposto a substituição do reflorestamento nas áreas de conflito (APPs) pelo plantio de espécies arbóreas nativas, demonstrado no cenário ideal da propriedade. Pode-se verificar heterogeneidade na paisagem pelo conjunto de manchas e de corredores. Entre os corredores existem os que fragmentam, e outros que conectam, esses reconhecidos como corredores ecológicos. A Floresta Ombrófila Mista é a mancha com mais 61 destaque na paisagem, pois além de ser predominante, ressalta sua exuberância. Porém, o elemento com maior influência (matriz) é o reflorestamento, pois este é o elemento dominante que envolve diretamente os outros elementos, determinando a quantidade e qualidade dos elementos naturais, e assim, modificando a paisagem. Com isso, pode-se concluir que o cultivo de espécies invasoras como o Eucalipto e Pinus, contribuiu diretamente com a fragmentação da paisagem, ocorrendo à formação de ilhas em manchas, dificultando a dispersão genética, aumentando a competição por abrigo e alimento e, por consequência, alterando a estrutura e qualidade de habitat, ou seja, causando perda e prejuízo a biota. No cenário ideal a Floresta Ombrófila Mista foi ampliada para atendar a legislação (APPs, Reserva Legal e Corredor Ecológico), e desta forma, contribuindo com a conservação da biodiversidade, minimizando processos erosivos, de assoreamento e de inundações, nas margens de rios, topo e encostas de morros. Para isso, as áreas de reflorestamento foram diminuídas e, por consequência, diminuindo o lucro da propriedade. Porém, a mesma poderá servir de modelo de gestão, atendendo as exigências do sistema de certificação ambiental exigidos pela indústria de papel e celulose, podendo agregar valor ao produto. Também é importante ressaltar que a reserva legal, assim como os outros remanescentes florestais não localizados em APPs podem proporcionar recursos econômicos complementares por meio do manejo florestal sustentável. Além disso, é de relevante destacar a prevenção dos impactos na fauna através de intercalações de plantações florestais com a reintrodução de vegetação nativa, aumentando a porosidade ambiental e facilitando a movimentação dos animais. 6.1 RECOMENDAÇÕES Como recomendações para trabalhos e ações futuras podem ser citados: • A aplicação deste estudo em outros municípios da região, com características semelhantes a fim de possibilitar aumentar a rede de propriedades sustentáveis; • Calcular as perdas econômicas na propriedade, área de estudo, com a implantação da proposta deste trabalho com fins de verificar a sua viabilidade, comparando aos ganhos com um processo de certificação florestal; • A implantação da proposta deste trabalho na propriedade, área de estudo, servindo de propriedade modelo na região; • Estudar alternativas de mitigação de impacto que não foram abordadas neste trabalho. 62 7 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, J. L. B. et al. 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ANEXOS MAPA DE USO E COBERTURA DO SOLO FORNECIDO PELA EMPRESA RR GESTÃO FLORESTA