Os Desafios do Administrador na Construção de uma Sociedade Mais
Justa
Prof. Me. Eduardo Vivian da Cunha
“Prometo dignificar minha profissão, consciente de minhas responsabilidades legais, observar
o Código de Ética, objetivando o aperfeiçoamento da Ciência da Administração, o
desenvolvimento das Instituições e a grandeza do homem e da pátria".
A epígrafe deste texto é o Juramento do Administrador, oficializado pela RN CFA nº 201, de
19/12/97. Ele irá nos ajudar a refletir sobre o que pretendemos discutir aqui, que é o papel
social do administrador, ou melhor referindo-se, o papel do administrador na nossa sociedade.
Normalmente este papel é confundido com o próprio papel da empresa na sociedade. Basta
que se gerencie bem e se faça com que a empresa tenha o resultado esperado que tudo estará
resolvido. Mas será que esta questão (e a atuação do administrador) se esgota aí? E ainda, o
bom resultado da empresa é necessariamente o melhor resultado para a sociedade?
Em primeiro lugar, gostaríamos de insistir no argumento de que o lócus de atuação do
administrador vai além da empresa, estendendo-se para o e Estado e para a sociedade civil,
como nos ensinam alguns pensadores da administração, como França Filho (2003). Todas
estas esferas requerem profissionais habilitados e capacitados em gestão, sendo necessárias
habilidades específicas para cada uma delas. Enquanto na empresa, cujo ambiente de atuação
é o mercado por excelência, a gestão é mais baseada em fins econômicos e utilitários, no
espaço público-estatal ela é caracterizada pela orientação (em tese) para fins públicos
(comuns), sendo, entretanto, um tipo de gestão (assim como a primeira em grande medida)
orientada pelo modo de fazer burocrático. Já o terceiro tipo de gestão se assemelharia ao
segundo, enquanto fins, ocorrendo, entretanto, nas ditas organizações da sociedade civil.
Em cada uma destas esferas surge, entretanto, o imperativo da construção de uma sociedade
melhor. Temos vivido atualmente problemas sociais e ambientais que não mais podem ser
ignorados, e que demandam novos métodos e paradigmas que orientem a ação do
administrador. Neste sentido, indo de encontro ao que normalmente se têm como a função do
administrador, defendemos a idéia de que seu principal papel é o de trabalhar com a meta de
alcançar o bem estar da sociedade, conforme defende Santos (2001). Claro que para se chegar
a este fim, deve-se lançar mãos de ferramentas específicas, e atuar dentro das possibilidades
dadas por cada uma das esferas de trabalho.
Assim, no primeiro espaço (empresa), é preciso romper com a idéia do resultado financeiro
como fim único (ou principal), reconhecendo-se que a empresa é um ator relevante
(provavelmente o mais relevante atualmente) da sociedade, e por isto, responsável direto pelo
seu equilíbrio nas diversas dimensões (econômica, ambiental, social, etc...). Faz-se necessária
a adoção de valores éticos que incluam o meio ambiente e o desenvolvimento social como
itens prioritários da sua agenda, que pautem mesmo os resultados econômico-financeiros, ou
seja, invertendo-se a lógica hoje predominante. Somente assim poderemos ver mudanças que
superem o nível do discurso ou da maquiagem que predominam em um grande número de
empresas, e ver os seus resultados se tornarem de fato positivos para a sociedade como um
todo.
No espaço da gestão pública, cabe ressaltar a necessidade dos mesmos ditames éticos,
orientando a ação do Estado efetivamente para o bem comum. Neste sentido, são desafios o
rompimento com a cultura política tradicional de clientelismo (infelizmente ainda muito
presente nesta esfera) e com práticas comprometidas com interesses próprios ou de pequenos
grupos. De fato, surge como evidente a necessidade da ampliação da formação específica
deste campo dentro da administração, dando conta da demanda cada vez maior por
profissionais tecnicamente (e politicamente) preparados para este tipo de ação. Cabe, neste
sentido, a reafirmação e o desenvolvimento de ferramentas e técnicas de gestão adequadas a
este universo.
Por fim, no campo da gestão social os desafios não são menores, conquanto que distintos dos
outros dois, especialmente do primeiro. Não queremos definir este último campo como aquele
“por excelência” para atuação do administrador na mudança social (já que, de fato, pensamos
que ela deve se dar em todos os espaços), mas gostaríamos de destacar aqui, mais do que nos
outros, alguns desafios importantes. Neste espaço imperam ainda a informalidade, uma
dificuldade na gestão de recursos e a pouca disponibilidade de ferramentas adequadas a sua
gestão. Sendo um campo em crescimento, é também pouco ocupado por administradores,
talvez pela própria orientação ou ênfase na sua formação.
Outro ponto importante desta pouca ocupação é que este é ainda um campo pouco
reconhecido como espaço legítimo para atuação profissional. Normalmente este espaço, que é
genericamente referido por Terceiro Setor (designação que mais atrapalha do que ajuda, já
que muito abrangente), é tratado como sinônimo de trabalho voluntário, filantropia,
assistência social, ou seja, o lugar para, de alguma forma, ajudar os mais pobres, em que a
maioria das pessoas que ali atuam o fazem em tempo livre ou de forma secundária a um
trabalho principal, realizados em uma das duas outras esferas citadas.
Cabe reivindicá-lo, entretanto, como um lugar reconhecido para a ação de quaisquer
profissionais e do administrador, de forma específica. Sem pretender (nem se deve, aliás),
tomar o papel do Estado, este espaço deve ser o de atuação livre e auto-determinada de
coletividades no sentido de realizar objetivos comuns, públicos, que muitas vezes não são
atendidos nem compreendidos pelo Estado. A atuação do profissional de administração pode
ser decisiva nestes casos, orientando processos e atores sociais na consecução dos seus
objetivos.
Em todos estes espaços, ressalta-se novamente o que nos parece ser o papel do administrador:
um ator eticamente orientado por valores sociais e coletivos, capaz de tomar decisões, no seu
exercício profissional, que caminhem na direção do bem estar coletivo e de uma sociedade
mais justa.
REFERÊNCIAS
FRANÇA FILHO, Genauto Carvalho. Gestão Social: Um Conceito em Construção. In: IX
Colóquio Internacional Sobre Poder Local, 2003.
SANTOS, Reginaldo Souza. Em busca da apreensão de um conceito para a administração
política. Revista de Adminsitração Pública. 5; 2001.
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