1945 | 2015
UMA HISTÓRIA
EM CONTÍNUA EVOLUÇÃO
1945 | 2015
Estilo
Um modelo dos
anos 1960, quando
a Paquetá produzia
apenas para o
mercado interno.
Presença
A participação
da Paquetá na
Couromoda, a mais
importante feira de
calçados da América
Latina, em São Paulo,
tem sido marcante.
3
1945 | 2015 70 ANOS
UMA TRAJETÓRIA
DE 70 ANOS ATESTA
AS TRANSFORMAÇÕES E A
CONTÍNUA EVOLUÇÃO DA EMPRESA.
ESTE LIVRO REFORÇA
NOSSA HISTÓRIA, SEMPRE
EM BUSCA DA QUALIDADE,
MOVIDA POR MILHARES DE MÃOS.
1945 | 2015 70 ANOS
D
esde que surgiu como uma pequena fábrica de calçados,
a Paquetá jamais se afastou de sua essência. Melhor
dizendo, foi cultivando essa essência que ela cresceu e
se transformou em um negócio global feito por milha-
res de mãos. Ao longo de sete décadas, valores como simplicidade,
confiança e honestidade consolidaram a trajetória de uma empresa séria e idônea, que busca a qualidade em tudo o que faz. Neste
período, algumas atitudes e posicionamentos fizeram a diferença,
como o olhar atento às novas oportunidades de negócios e as portas sempre abertas à inovação e à tecnologia de ponta. A preocupação com as comunidades e o respeito ao meio ambiente igualmente
contribuíram para a perenidade da marca. Mas sabe qual é o principal diferencial desta organização? São as pessoas, mais precisamente, seus 18 mil colaboradores. Eles fazem com que a companhia
seja reconhecida como referência na indústria e no varejo multimarcas do setor calçadista em todo o mundo. As pessoas representam a
verdadeira essência da Paquetá − The Shoe Company, uma empresa
que se move pelo compromisso de fazer sempre o melhor.
5
Pesos
Peças utilizadas nas
balanças de precisão
para composição
química das tintas
para calçados nos
anos 1950.
Multiplicidade
Uma ampla gama de
tons e matizes em tintas
e vernizes é utilizada
nos modelos atuais.
1945 | 2015 70 ANOS
Indústria
8
Marcas Próprias
1945 | 2015 70 ANOS
Varejo Multimarcas
Serviços
9
Unidades de negócio
DO GRUPO PAQUETÁ
Marcas Próprias
Varejo Multimarcas
Private Label Feminino
Serviços
Private Label Esportivo
Alcance internacional
O grupo Paquetá está
presente com suas
diferentes atividades
em 14 países.
República
Dominicana
Indústria
Catar
Loja Dumond
Egito
Loja Dumond
Líbano
Costa Rica
Loja Capodarte e Dumond
Emirados
Árabes Unidos
Loja Capodarte
e Dumond
Loja Dumond
Angola
Paraguai
Argentina
Bahrein
Loja Dumond
e Lilly’s Closet
Loja Dumond
Kuwait
Loja Dumond
Loja Dumond
Escritório e Indústria
Brasil
Matriz, Indústria,
Varejo, Marcas
e Serviços
África do Sul
Loja Dumond
Filipinas
Loja Dumond
Reconhecimento
As distinções
recebidas em 70
anos são motivo
de orgulho da
Paquetá.
Private Label
Miniatura de
modelo de uma
das marcas para
as quais a Paquetá
produz calçados de
exportação.
1945 | 2015 70 ANOS
Sumário
1945
1950
1960
1970
A empresa Müller &
Depois de assumir o novo
Uma nova sede própria
As exportações de
Wagner é fundada em
nome, Paquetá, a pequena
e o começo do segmento
calçados femininos
Sapiranga, como fábrica
empresa cresce e passa a
varejo reforçam a
dominam a cena,
de sapatos e oficina de
fabricar apenas sapatos
consolidação da empresa
enquanto a rede de lojas
consertos.
femininos.
e trazem novos desafios.
aumenta a cada ano.
Pág. 32
Pág. 44
Pág. 56
Pág. 76
1980
1990
2000
2015
A empresa se expande com
O grupo alcança os
Com a chegada do
A Paquetá completa
novos empreendimentos
50 anos em plena
século 21, a Paquetá
70 anos de uma história
e chega aos 40 anos
expansão. Surgem
encontra-se preparada
de sucesso empresarial,
com mais de sete mil
o segmento esportivo e
para novos desafios
sempre conectada
colaboradores.
novas marcas próprias.
rumo ao futuro.
aos novos tempos.
Pág. 92
Pág. 112
Pág. 136
Pág. 176
1945
1950
1960
1970
TRAJETÓRIA
1980
HISTÓRIA EM CONTÍNUA EVOLUÇÃO
16
1990
2000
1945 | 2015 70 ANOS
2015
17
1945
1946
1947
fundam a Müller & Wagner
Strassburger e o agricultor
Waldemar Weber, começa a
Cia. Ltda, origem da Paquetá
Waldemar Weber entram como
trabalhar na recém fundada
– The Shoe Company. No dia
sócios capitalizadores.
fábrica de sapatos.
Arlindo Müller e Hugo Wagner
20 de junho é formalizada a
criação da empresa que tinha
como objetivo ser “fábrica
de calçados e oficina de
consertos”.
A produção diária da fábrica
nos primeiros meses de
existência é de cinco pares.
Inicialmente são feitos apenas
calçados masculinos.
18
O empresário Waldemar
Arlindo Weber, filho de
1948/1949
1953
1956
sociedade, e Arlindo Weber
Zimmermann passa a fazer
assume sua posição de sócio
torna-se formalmente sócio da
parte da sociedade.
na Paquetá.
1955
1957
passa a ser de cinco mil pares
sede em Sapiranga, na Rua São
de sapatos por mês, e o número
Jacó, e muda-se para um prédio
de funcionários chega próximo
maior, alugado, na esquina
a uma centena.
das ruas João Corrêa
Hugo Wagner deixa a
Müller & Wagner.
A fábrica deixa de fazer sapatos
masculinos e passa a produzir
apenas calçados femininos.
A empresa muda de razão social
e passa a se chamar Paquetá
Calçados Ltda. O nome é
O contador Avelino
A produção da Paquetá
Alcido Weber, irmão de Arlindo,
A Paquetá deixa a primeira
e XV de Novembro.
inspirado na Ilha de Paquetá,
localizada no Rio de Janeiro.
19
1963
A empresa compra um terreno
grande no mesmo bairro onde
nasceu, para construir o novo
prédio na Rua São Jacó.
1964
Remy Strassburger, filho de
Waldemar, entra na empresa
para gerenciar o segmento de
varejo a ser criado.
É aberta a primeira
Ao completar 20 anos, a
Loja Paquetá, em Novo
Paquetá atinge produção
Hamburgo, na esquina da
de 12 mil pares por mês.
Avenida Coronel Frederico Linck
O quadro de colaboradores
com a rodovia BR-116.
já conta com cerca de
250 pessoas.
1965
Segunda loja multimarcas
é aberta em Porto Alegre,
Inauguração do novo prédio
localizada na Rua Dr. Flores.
em Sapiranga, na Avenida 20 de
Na sequência, outras são
Setembro, onde até hoje está a
inauguradas na Capital,
matriz. O início das operações
na Rua Marechal Floriano
de produção ocorre em junho.
e na Rua da Praia.
20
1966
1967
Introdução de trilhos de
produção na fábrica de
calçados. Foram utilizados
até 1971.
1969
É realizada a primeira
venda para o Exterior. Um
pequeno volume de sapatos
femininos é embarcado para
os Estados Unidos.
O atual diretor-presidente,
Adalberto José Leist, ingressa
na empresa para atuar
na área industrial.
1973
O grupo constitui parceria com
o Curtume Finilux, de Estância
Velha. Logo em seguida, dá-se
associação similar com a Real
1974
O volume das exportações,
sobretudo para os Estados
Unidos, alcança faturamento
na ordem de US$ 5 milhões.
As vendas eram realizadas
por intermédio de apenas
uma exportadora, a Topázio,
para a marca norte-americana
Nine West.
Couros, de Novo Hamburgo.
Ambas as empresas formariam
o Curtume Paquetá.
1972
Introdução das esteiras
na linha de produção,
usadas até hoje.
21
1975
1976/1977
de existência. A produção
fabris em Nova Petrópolis
de sapatos femininos
e Guaporé (RS).
A Paquetá festeja 30 anos
Instalação de unidades
atinge o patamar de 74 mil
pares mensais. O quadro de
colaboradores passa
a ter aproximadamente
1.500 funcionários.
22
O grupo adquire terras em
Mato Grosso do Sul e
ingressa no negócio de
agropecuária, com a Fazenda
Paquetá, cuja sede fica no
1978
município de Ponta Porã.
Surge a marca Paquetá
Com a saída do sócio Avelino
Esportes, utilizada como
Zimmermann, os funcionários
setor específico para calçados
Romeu Klein, Clóvis
esportivos dentro de algumas
Kautzmann e Ênio Schein,
lojas Paquetá. Nos anos 1980,
respectivamente, assumem as
se transformaria em rede com
diretorias contábil,
unidades próprias.
administrativa e financeira.
1979
1983
Construção das unidades
dos sócios, com o objetivo de
Com 40 anos de história, a
fabris em São José do
tratar a sucessão na empresa
Paquetá tem desempenho
Hortêncio e Teutônia. Nos anos
sob a ótica profissional.
destacado no setor coureiro-
subsequentes, são instaladas
calçadista. A produção atinge
filiais nas cidades de Estrela,
a marca de 400 mil pares
Encantado, Muçum,
mensais. São quase 5 milhões
Serafina Corrêa, Nova Prata
de sapatos femininos por ano.
e Anta Gorda. Todas no Rio
O quadro de colaboradores
Grande do Sul.
passa a ter aproximadamente
Criação das holdings familiares
1981
Arlindo Weber recebe
o Prêmio Mérito Industrial,
um reconhecimento da Fiergs
aos empreendedores que
se destacam por suas
marcantes atuações na
comunidade e no setor.
1985
1985
7.750 funcionários.
O varejo chega a 14 lojas
Paquetá, localizadas em
diversos bairros de Porto Alegre
e na Região Metropolitana.
23
1987-1988
1989
uso de sistemas informatizados
área comercial de exportação,
Arlindo Weber falece
na empresa. Primeiro na área
e seu filho Tobias, aos 16 anos,
num acidente automobilístico.
de recursos humanos e depois
começa a trabalhar na empresa,
Adalberto José Leist é
no setor industrial, com a
com funções na linha de
escolhido para suceder-lhe.
utilização do sistema
produção da fábrica.
Período em que se inicia o
Adalberto José Leist assume a
CAD/CAM na área de
modelagem de calçados.
1990
O sócio e pioneiro
1993
Expansão da rede de
1988
Com a saída de Remy
lojas Paquetá para Santa
Strassburger da linha
Catarina, com abertura
As vendas para o Exterior
de frente, seu filho Jorge
de estabelecimentos em
atingem valores na ordem de
assume posição de diretoria
Blumenau e Joinville.
US$ 57 milhões.
no varejo, trabalhando
ao lado de Lioveral Bacher,
genro de Arlindo Müller.
24
1991
1994
1996
Incorporação da rede Gaston.
O grupo passa a administrar
um total de 51 lojas, 27 da
Paquetá e 24 da Gaston.
1995
Paquetá completa 50 anos.
A produção de sapatos
femininos atinge a marca de
600 mil pares mensais.
O quadro de colaboradores
Início da parceria com a
Início da comercialização no
mercado interno da marca
própria Dumond.
Inauguração de loja Paquetá
em Punta del Este, Uruguai.
Implantação do Projeto
Menores, que qualifica jovens
aprendizes.
marca italiana Diadora, com a
concessão de comercialização
e produção dos calçados para o
Brasil e a América Latina.
1997
Instalação da primeira fábrica
fora do Rio Grande do Sul.
A nova unidade fabril é aberta
em Itapajé, no Ceará.
passa de 7.800 funcionários.
25
1998
Conclusão da implantação
do projeto de automação
comercial em todas as lojas
Paquetá, que passam a
emitir cupons fiscais e
a realizar leitura de código de
barras para compras
e pagamento de carnês.
26
Lojas Paquetá recebem
o prêmio Lojista do Ano,
Unidade fabril de Nova
da Francal.
Petrópolis é a primeira
1999
receber a certificação ISO 14001.
indústria do setor calçadista a
Com fábrica construída em
Inauguração da Loja Paquetá
Novo Hamburgo, dá-se o
Primeiras experiências com
no Montevideo Shopping,
ingresso do grupo na produção
a venda de calçados a varejo
na capital do Uruguai.
de calçados esportivos da
pela internet.
marca licenciada Diadora.
Abertura das quatro
Construção de nova fábrica
primeiras lojas Paquetá
no Ceará, com sede na cidade
na cidade do Rio de Janeiro.
de Uruburetama.
A Paquetá, prestes a completar
55 anos, é a maior exportadora
de calçados da América Latina.
2000
2002
primeira loja de franquia
marca Dumond no mercado
Paquetá, em Passo Fundo.
externo.
2001
O diretor-presidente Adalberto
Inauguração, em março, da
Criação do cartão Paquetá.
Hoje, administrado pela
Praticard, atende a mais de
3 milhões de usuários.
A venda de calçados de
exportação passa a ser feita
apenas para o importador final,
sem intermediários, trazendo
maior rentabilidade.
Começam as vendas com a
José Leist recebe o Prêmio
Início da operação da
Praticard, que viabiliza a
concessão de cartões Paquetá
Mérito Industrial da Fiergs.
também às lojas franqueadas.
É estabelecida parceria
serviços assume os cartões
com a Adidas. Ao contrário
do contrato com a Diadora,
a Adidas não é uma marca
licenciada, a Paquetá produz
diretamente para a
empresa alemã.
Em 2003, a empresa de
de toda a rede.
2003
Construção de fábrica em Ipirá
(BA), onde são produzidos
calçados esportivos da Adidas.
27
2004
2005
A Dumond recebe o Prêmio
40 anos de trajetória desde a
compra a Esposende, rede
concedido pelo Ministério do
primeira loja aberta na BR-116,
de lojas de calçados nordestina
em Novo Hamburgo.
com 32 lojas.
Comércio Exterior.
Construção de fábrica em
Ao completar 60 anos,
Pentecoste (CE).
em junho, o grupo Paquetá
2006
A Paquetá Varejo comemora
Em fevereiro, a Paquetá
demonstrava sua pujança,
Lançamento da marca de
sendo responsável pela
varejo Walk Run.
produção de 50 mil pares
de calçados femininos e
A Dumond ganha loja-conceito
esportivos por dia em 11
na região dos Jardins, em São
unidades de manufatura e
Paulo.
contava com mais de 120 lojas
no segmento varejo. O quadro
28
de colaboradores tem mais
de 13 mil funcionários.
Destaque Exportador,
Desenvolvimento, Indústria e
Começa a produção de calçados
esportivos da marca Adidas na
planta de Chivilcoy, Argentina.
2007
2009
Capodarte são adquiridas
a maior cadeia brasileira de
pela Paquetá.
varejo de calçados, com quase
A rede de lojas e a marca
Através de empresa própria,
O grupo Paquetá administra
duas centenas de lojas de
a Colina Urbanismo, são
Por intermédio de leilão,
seis bandeiras diferentes.
centralizados e administrados
é comprada a Ortopé,
Em agosto, as Lojas Paquetá
os negócios imobiliários que
tradicional marca gaúcha
contavam com 53 unidades,
antes estavam sob guarida da
de calçados infantis,
somando-se às unidades das
Paquetá Empreendimentos.
fundada em 1952 com
outras cinco redes: Esposende
Na sequência, são lançados os
sede em Gramado.
(50), Dumond (45), Gaston
primeiros loteamentos a serem
(32), Capodarte (25) e Paquetá
comercializados.
Esportes (14).
29
Falece em julho,
aos 88 anos, o fundador
Arlindo Müller.
2010
Inauguração de fábrica na
República Dominicana.
Chegam ao mercado as marcas
Ateliermix e Lilly’s Closet,
dirigidas a diferentes públicos
femininos.
Inaugurado o Centro de
2011
Começam as operações das
lojas com a marca Ateliermix.
2012
A Paquetá Varejo ganha o
de Canoas com área construída
de 10.000 m² e capacidade de
armazenar mais de 2 milhões
de itens, que abastecem
centenas de pontos de venda
das redes do varejo.
prêmio Top Ser Humano
da ABRH-RS, categoria
empresa, pelo seu projeto de
endomarketing e, pela primeira
vez, alcança o faturamento
anual de R$ 1 bilhão.
30
Distribuição no município
2013
O grupo adota nova marca
corporativa: Paquetá − The
Shoe Company.
2014
No ano em que a Paquetá
Varejo completa 50 anos
de existência, falece, em
setembro, o pioneiro do
segmento e sócio, Remy
Strassburger, aos 83 anos.
2015
O grupo controla e administra
multimarcas (Esposende,
sete unidades fabris (cinco no
Gaston, Paquetá e Paquetá
A Paquetá − The Shoe Company
Brasil, uma na Argentina, uma
Esportes) e duas empresas de
completa 70 anos de história.
na República Dominicana),
serviços (Colina Urbanismo e
Constitui-se atualmente em
cinco marcas próprias
Praticard). Está estabelecido
quatro unidades de negócios:
(Ateliermix, Capodarte,
com suas fábricas e lojas em
Indústria, Marcas, Varejo e
Dumond, Lilly’s Closet e
14 países, contando com mais
Serviços.
Ortopé), quatro redes de lojas
de 18.500 colaboradores.
31
ERA FUNDADA A EMPRESA
MÜLLER & WAGNER,
EM SAPIRANGA.
SURGIU COM O OBJETIVO
DE SER UMA FÁBRICA DE
SAPATOS E OFICINA DE CONSERTOS.
PRODUZIA CINCO
PARES POR DIA.
32
1945
1945
33
70 ANOS PAQUETÁ
As casas geminadas, à direita, foram a
primeira sede da Paquetá em Sapiranga.
34
70 ANOS PAQUETÁ
1945
O
ano de 1945 é especialmente emblemático para os imigrantes alemães e seus
descendentes estabelecidos no Brasil. Em 8 de maio, era sacramentado o fim
da Segunda Guerra Mundial, dando cabo à aventura nazista de Adolf Hitler,
que colocara o mundo sob fogo cruzado por quase sete anos, causando a
morte de quase 60 milhões de pessoas. De outra parte, no Brasil, 1945 marcava também
o fim do Estado Novo, como ficou conhecido o período ditatorial comandado com mão
de ferro pelo gaúcho Getúlio Vargas desde 1937.
Com a paz no mundo enfim consumada e o país retomando o caminho democrático,
as diferentes colônias alemãs formadas pelos imigrantes e seus descendentes brasileiros aos poucos puderam, sem mais constrangimentos, reafirmar sua opção pela nova
pátria. Afinal, durante o Estado Novo e a Segunda Guerra, haviam enfrentado um processo severo de aculturação. Nesse período, a língua alemã era proibida, escolas étnicas/confessionais foram fechadas e qualquer publicação em alemão estava proscrita.
Foi um tempo em que ocorreram prisões, violação de lares, confinamentos e, inclusive,
maus-tratos. Ser identificado pelo sotaque ou pelo sobrenome germânicos acarretava o
risco de passar por traidor. Foram anos em que, sob o jugo da discriminação, comunidades inteiras se fecharam sobre si mesmas. Mas novos tempos estavam por vir.
E foi justo nesse emblemático 1945 que dois descendentes de alemães já com alguma experiência como sapateiros em fábricas de calçados deram início, na Vila de Sapiranga, então 5º distrito do município de São Leopoldo, berço da imigração no Rio Grande
do Sul a partir de 1824, a uma saga que viria a comprovar que tempos melhores estavam
realmente chegando. Ao se unirem como sócios, os dois trabalhadores, moradores da
então pequena localidade de cinco mil habitantes, começaram a construir o primeiro
alicerce de um futuro que viria a marcar não apenas a história do hoje município de Sapiranga como também a história do setor calçadista no Brasil ao longo de 70 anos.
No dia 20 de junho de 1945, Arlindo Müller e Hugo Wagner colocaram sua assinatura em documento da 2ª Coletoria Federal de São Leopoldo, formalizando a fundação
35
da Müller & Wagner Cia. Ltda., empresa criada com o objetivo de se estabelecer como
“fábrica de calçados e oficina de consertos”, conforme explicitava a cláusula 3 do Instrumento Particular de Constituição de Sociedade em Nome Coletivo lavrado naquela data
e confirmado 20 dias depois pela Junta Comercial do Rio Grande do Sul. O documento
consubstanciava o embrião do que viria a se tornar hoje a Paquetá − The Shoe Company.
Certamente, naqueles primórdios, os sócios Arlindo e Hugo nem sequer sonhavam
que o pequeno negócio que começavam a tocar, estabelecido num vilarejo do interior
gaúcho, se transformaria com o passar do tempo em um empreendimento de alcance
global. Mas, sem dúvida, pode-se afirmar que ambos acreditavam no sucesso da Müller
& Wagner, tanto que se empenharam desde o início no trabalho árduo de fabricar sapatos com qualidade e durabilidade. Na época, a indústria calçadista já mostrava sinais de
sua consolidação na região do Vale do Sinos, especialmente em Novo Hamburgo, onde
havia surgido a primeira fábrica do Rio Grande do Sul, em 1888. Em Sapiranga, na década
de 1940, os registros dão conta da existência de mais de 20 estabelecimentos dedicados
à produção de sapatos.
Foi motivado por essa realidade que Arlindo Müller, em 1937, aos 17 anos, deixou a
área rural onde sua família residia para buscar emprego na cidade. Devido às sequelas
da poliomielite, que o acometeu aos dois anos, Arlindo ficou com uma deformidade no
pé, o que o limitava para a lida rural. Inicialmente, teve alguma dificuldade em conseguir
colocação em Sapiranga, até que foi admitido em uma pequena fábrica de calçados, começando o aprendizado que o levaria a ser um dos artífices na construção da Paquetá.
“Naquela época, eu aprendi a fazer todo o sapato, do princípio ao fim”, costumava dizer
com orgulho da trajetória que ajudou a construir. Inclusive, ele fazia questão de fazer os
próprios sapatos especiais que precisava calçar devido ao problema no pé.
A empresa do seu primeiro emprego acabou fechando poucos anos depois e Arlindo precisou encontrar nova colocação, passou por outras fábricas até que se empregou numa que produzia calçados femininos do tipo Luiz XV, caracterizados pelo
36
70 ANOS PAQUETÁ
salto alto que se afina até a ponta. Lá, tor-
1945
condições de conduzir um negócio
nou-se colega de Hugo Wagner. Com
o tempo, os dois ficaram amigos e
Lembrança
A escultura reproduz
a atividade de um
sapateiro no passado.
se descobriram insatisfeitos com
aquele trabalho. Pelo conhecimento que detinham do processo de fabricação de sapatos, sentiram-se em
próprio. Decidiram sair e formaram
a sociedade, com o capital de Cr$ 10
mil (dez mil cruzeiros), metade para
cada um, que se constituiu na Müller
& Wagner, em 1945.
Inicialmente, a nova empresa estabeleceu-se em instalações modestas, num prédio de casas geminadas situado na antiga Rua São Jacó, junto às suas residências, e apresentava na linha de frente da produção apenas os dois sócios, ajudados
por Wally, esposa de Arlindo Müller e responsável pela costura dos cinco pares de sapatos que eram cortados e montados a cada dia de labuta. A produção era essencialmente
artesanal e todos os componentes dos sapatos eram preparados pelos dois pioneiros.
Naqueles tempos, a pequena fábrica estava estruturada para a montagem de sapatos
masculinos.
Aos poucos, o incipiente negócio começou a prosperar, com o aumento nos pedidos
feitos pelos clientes da Müller & Wagner. Como consequência, surgiu a necessidade de
contratar mais pessoas para dar conta do incremento na produção, assim como houve
mais investimento na compra de equipamentos, em especial de máquinas de costura. Entre as primeiras funcionárias contratadas na nova fase, estava Diva Schnorr, jovem que já
37
Mudança
Os irmãos Weber, ainda meninos,
quando viviam em área rural, depois
se envolveriam com a indústria do
calçado, que nos seus primórdios era
essencialmente artesanal, com o uso
de ferramentas simples.
tinha experiência como costureira em outras fábricas
de sapatos de Sapiranga. Em seu novo emprego, Diva
assumiu funções diferentes e passou a trabalhar na
expedição. Era responsável por separar os produtos e
encaixotá-los. Quem também fora trabalhar na Müller & Wagner naquela época de expansão da pequena
fábrica foi Arlindo Weber, filho de agricultores que viviam em Picada Verão (na foto acima,
com seu irmão Alcido), uma das zonas rurais do então 5º distrito de São Leopoldo. Como
não tinha intenção de se fixar na roça, aos 16 anos decidiu seguir para a sede do distrito e
lá começaria a trabalhar logo com calçados, empregando-se na Müller & Wagner.
Quis o destino que os colegas de fábrica, Diva Schnorr e Arlindo Weber se enamorassem e em pouco tempo estivessem casados, como o prenúncio de uma das mais fortes
características que o grupo Paquetá sempre preservou: os laços familiares entre seus
colaboradores, com inúmeros exemplos de gerações inteiras − pais, filhos e netos −, que
trabalharam ou ainda trabalham na empresa.
No final dos anos 1940, as tarefas numa fábrica de sapatos eram árduas e demandavam dedicação intensa para que a produção tivesse qualidade e pudesse atender às
38
exigências dos compradores. Todos os envolvidos no processo precisavam somar talento e esforço, com jornadas de
trabalho que começavam no nascer do sol e não raro se estendiam até o anoitecer, além das tarefas que eram levadas
para casa. E, quando chegava a noite, a labuta ocorria sob a
Memória
A mesa de sapateiro e a
máquina de costura são
típicos equipamentos
utilizados nas fábricas de
calçados nos anos 1940 e 50.
luz de lampiões e velas. Com tamanho esforço, a especialização passou a ser um diferencial mercadológico, e a Müller & Wagner, por exemplo, pouco a pouco deixou de fabricar
calçados masculinos para se dedicar exclusivamente aos sapatos femininos.
O crescimento da empresa fazia com que o comprometimento de proprietários e
funcionários com os afazeres da produção aumentasse de forma progressiva. Foi quando
Waldemar Strassburger também se tornou sócio do empreendimento. O novo parceiro,
além de aporte financeiro, trouxe junto sua contribuição como empresário experimentado, tendo se envolvido antes em diferentes ramos de atividade, entre eles uma fábrica de
sombrinhas e guarda-chuvas, outra de implementos agrícolas e também uma tecelagem.
Enquanto Arlindo e Hugo estavam voltados para as questões produtivas e comerciais da
indústria, Strassburger atuava mais na qualidade de sócio corporativo, ajudando no plano institucional, no contato com instituições públicas, governamentais e financeiras.
39
Documentos que
formalizaram a criação
da Müller & Wagner.
40
Arlindo Müller
1945
70 ANOS PAQUETÁ
Depois da fundação, em 1945, a nova
empresa da então vila de Sapiranga,
alterou sua composição, com novos
sócios. Mais adiante, mudaria também
de nome, inspirado na Ilha de Paquetá,
no Rio de Janeiro.
Arlindo Weber
Waldemar Strassburger
41
Já nesse período, o jovem Arlindo, filho do agricultor Waldemar Weber (que também
detinha ações do pequeno empreendimento), se destacava pela perspicácia e pelo talento
que imprimia ao ofício de fabricar calçados, assim como pelo tino na comercialização do
produto. Sua atuação certamente chamou a atenção de seu xará e então patrão Arlindo
Müller. Tanto que, quando Hugo Wagner decidiu deixar a sociedade, Arlindo Weber teve a
oportunidade de ser tornar sócio do negócio que a cada dia crescia mais, acompanhando
a expansão do setor calçadista em todo o Vale do Sinos e, por consequência, também em
Sapiranga. A produção gaúcha da época, na sua grande maioria constituída de sapatos
femininos, começava a beirar os 10 milhões de pares ao ano. A maior parte desse volume
era comercializada no mercado nacional, em especial no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Antes da virada de década, a Müller & Wagner, já sem a presença de Hugo, haveria
de passar por outra mudança que marcaria o futuro da empresa e teve a família Strass­
burger como protagonista. Arlindo Weber, com sua visão empreendedora, entendia que
a empresa precisava ter uma denominação que fosse marcante, assim como não lhe
agradava a marca fantasia Fine Look, utilizada nos sapatos fabricados por eles. Como
Remy Strassburger, filho de Waldemar, viajava muito de caminhão pelo Brasil, Weber
teve a intuição de mencionar a ele que se visse algum nome bonito, interessante, em
suas andanças pelo país, que o apresentasse aos sócios. Pois, em 1949, ao retornar de
uma viagem ao Rio de Janeiro, Remy contou que se encantara com a Ilha de Paquetá,
pacato local no litoral fluminense, que desde aqueles tempos era um destino bastante
procurados por turistas e conhecido pelos passeios de charretes por suas ruas. E acrescentou que gostava do nome Paquetá.
A sugestão agradou, e no dia 30 de julho de 1949 o registro da marca seria concedido
pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), pelo prazo de 40 anos. A razão
social escolhida foi Paquetá de Calçados Ltda. A partir de então, a marca Paquetá passou a confundir-se com a própria vida da empresa, e os desafios da década que estava
por vir já seriam enfrentados com a nova denominação, que se mantém 70 anos depois.
42
70 ANOS PAQUETÁ
1945
O nome Paquetá foi escolhido e adotado em 1949.
Ao longo dos anos, o crescimento da empresa e
sua atuação no Exterior exigiram que a marca
fosse registrada em diferentes países.
43
SOB NOVO NOME, PAQUETÁ,
A PEQUENA FÁBRICA CRESCE
E PROJETA UM FUTURO PROMISSOR.
SAPATOS FEMININOS
PASSAM A DOMINAR A CENA.
A PRODUÇÃO CHEGA
A 200 PARES DIÁRIOS.
44
1950
1950
45
70 ANOS PAQUETÁ
Reprodução de imagem da área central de Sapiranga
na década de 1950. Ao fundo, o Morro Ferrabrás.
46
70 ANOS PAQUETÁ
1950
Q
uando a Paquetá nasceu, em 1945, a vila de Sapiranga, ainda pequena com
seus cinco mil habitantes, experimentava uma vida bem ativa economicamente, com a existência de várias pequenas fábricas de calçados, sombrinhas, móveis, massas, sabão e implementos agrícolas, além de uma zona
rural produtiva. Desde a década de 1930, a economia florescia, com os produ-
tos de Sapiranga sendo vendidos em Porto Alegre e chegando a mercados importantes
como São Paulo e Rio de Janeiro, utilizando-se da malha ferroviária que ligava o Sul ao
centro do país. A economia local dependia sobretudo da estrada de ferro, que atravessava suas ruas ainda sem calçamento. Inaugurada em 1903, a ferrovia seria desativada
em 1964, em consequência do incremento do transporte rodoviário iniciado no final dos
anos 1940. A primeira linha de ônibus, para São Leopoldo, começou a operar em 1946.
E o uso de caminhões para levar os produtos ao mercado de destino era cada vez mais
frequente.
O cenário socioeconômico de Sapiranga, de visível progresso, estava em alinhamento com o processo de crescimento vivenciado pela recém-batizada Paquetá. A entrada
dos anos 1950 trouxe junto um período de expansão da empresa, já se destacando entre
as 31 fábricas de sapatos existentes, conforme dados da Agência de Estatísticas de São
Leopoldo, divulgados em 1953. Em todo o Vale do Rio dos Sinos, o setor calçadista ganhava força, ficava mais competitivo e exigia mais criatividade dos fabricantes. Segundo o Censo Industrial de 1950, foram contabilizados na região 471 estabelecimentos dedicados à produção de sapatos, com uma ocupação média de 18 trabalhadores por empresa.
O crescimento da Paquetá neste contexto coincide com a chegada da tão esperada
emancipação de Sapiranga, cuja população manifestava, desde os anos 1920, desejo em
deixar de ser apenas um distrito de São Leopoldo. E, às vésperas de a Paquetá completar
sua primeira década de existência, Sapiranga passou a ser um município, conforme lei estadual promulgada em 15 de dezembro de 1954. Entre os 40 idealistas que formaram a
comissão de emancipação da cidade, está o nome de Waldemar Strassburger.
47
Um pouco antes, a composição societária da empresa passou por outra alteração.
Arlindo Weber, Arlindo Müller e Strassburger entenderam que a complexidade do negócio que comandavam começava a exigir uma atualização em seus procedimentos administrativos, além de capitalização para atender ao aumento de produção que o mercado
demandava. A nova constituição se configurou com a adesão do contador Avelino Zimmermann ao grupo de sócios da Paquetá. O conhecimento em finanças adquirido com sua
ex­periência profissional ligada ao setor coureiro-calçadista e a possibilidade que dispunha
de aportar capital no grupo fizeram de Zimmermann o quarto sócio da empresa. Sua missão
essencial era organizar os processos financeiros e administrativos do grupo. A eles também
se incorporava Alcido Weber, que detinha parte da sociedade com seu irmão Arlindo.
Enquanto Strassburger manteve sua posição de sócio corporativo, ligado às questões
institucionais, e Alcido assumia responsabilidades na área de máquinas, os dois Arlindos
continuavam a exercer sua liderança nos setores de criação, industrial e comercial, que
se diversificavam com a multiplicidade de modelos de sapatos femininos fabricados e a
quantidade de clientes que se espalhavam por quase todo o país.
A nova realidade também significou um expressivo incremento no quadro de colaboradores da Paquetá. Em meados dos anos 50, alcançava uma centena o número de funcionários contratados. Num tempo em que era difícil de se encontrar mão de obra especializada, as empresas precisavam garimpar trabalhadores pela região, muitas vezes indo
procurar pessoas diretamente nas residências para lhes oferecer um emprego na fábrica.
Havia ainda o recurso de utilizar anúncios em jornais para recrutar profissionais que pudessem ser agregados à linha de produção. Foi através desse artifício que, em 1956, o
jovem descendente de alemães Armin Henckel, então com 25 anos, se integrou à equipe de funcionários do grupo. Conhecido no setor de calçados por sua habilidade como
modelista, estava na mira de Arlindo Weber e de seu irmão Alcido para ser o principal
modelista da empresa. E, para conseguir tirá-lo da fábrica onde trabalhava, avisaram a
Henckel que colocariam um anúncio no jornal O Ferrabraz oferecendo a vaga para aquele
48
70 ANOS PAQUETÁ
1950
A fase artesanal das
fábricas de calçados
começa a ser substituída
por máquinas a serem
utilizadas na linha de
produção.
49
cargo específico. “Então, cheguei lá no meu patrão, mostrei o
anúncio e falei: ‘Eles estão precisando de modelista e lá eu terei mais futuro’. Como eu imaginava, ele não gostou e quis me
fazer uma oferta de salário. Mas não adiantou, eu queria sair,
Pantógrafo
Usado nos anos 50 para
copiar um mesmo modelo
na proporção dos números
dos sapatos.
sabia que na Paquetá seria melhor. E no mesmo dia me apresentei no novo emprego”, conta Armin Henckel, que, aos 83 anos, orgulha-se da trajetória
de 40 anos que teve até 1996 como colaborador da empresa.
Nos anos 50 do século passado, o processo industrial de montagem dos sapatos ainda mantinha elementos dos tempos artesanais. Por exemplo, no setor de modelagem,
quanto mais duro o papelão, mais duro era para cortar o modelo, o que exigia certa força
física do modelista. E o molde era pintado à mão, para depois ser cortado com uma faquinha em roda, no papelão. Daí era feito um gravador, uma espécie de disquinho. De um
lado, era tinta, no outro, os números, de 30 a 42, a numeração aplicada a todos os modelos
de sapatos femininos. Então se tinha cada tamanho, cortado à mão com um aparelho de
ferro conhecido como facão.
50
70 ANOS PAQUETÁ
Quando chegava a época de fim de ano, era o momento de fazer novas modelagens.
Armin Henckel lembra bem das dificuldades: “No começo, éramos só nós dois, eu e o seu
Arlindo (Weber), que íamos criando os novos modelos. Mas, às vezes, se esgotava a criatividade e, então, a gente saía à noite para ir até Novo Hamburgo ou mesmo Porto Alegre
para olhar as vitrines com sapatos à venda em busca de inspiração. Quando o Arlindo gostava de algum, eu riscava um desenho para depois desenvolver um modelo que tivesse
1950
nosso padrão”. Entre o final dos anos 50 e o começo dos anos 60, eram criados na Paquetá
cerca de 200 tipos diferentes de sapatos por ano.
Os desafios em manter a qualidade nos produtos da empresa continuavam a envolver
também os familiares dos sócios, que não raro ajudavam em casa a manter a produção
em dia. Iara Leist, filha de dona Diva e Arlindo Weber e esposa do atual presidente da empresa, Adalberto José Leist, bem lembra a movimentação com a qual convivia nos tempos
de criança: “Durante um bom tempo, minha mãe também fazia modelos lá em casa. E ali
começou o meu envolvimento com o mundo dos sapatos. Pude aprender com ela o lado
artesanal, manual, na montagem de um calçado. Tinha cinco ou seis anos, antes de ir para
a escola, sentava no chão, na frente da máquina... Os cabedais saíam emendados uns nos
outros. E aqueles cabedais precisavam ser empilhados depois de prontos. Este era o meu
serviço. Cortava, separava, deixava tudo bem empilhado. Ajudava no que podia. Era quase uma brincadeira para mim”. Pois a brincadeira provavelmente deve ter inspirado Iara
quando, anos depois, em 1994, assumiu um posto na empresa para comandar o projeto de
consolidação de uma marca recém adquirida pela Paquetá.
Outra realidade comum nos anos 50 eram as diversas costureiras a serviço da fábrica que trabalhavam em casa, com as peças sendo distribuídas de bicicleta a cada
uma. Entre essas costureiras, incluía-se a própria dona Diva Schnorr Weber, que por
mais de 10 anos exerceu a atividade caseira. Da mesma forma, dona Wally Müller, que
chegara a trabalhar na fábrica nos anos 1940, dava sua cota de sacrifício, ajudando
em casa sempre que necessário. Filhos e netos contam que os dois casais muitas ve-
51
zes deixavam de ir nos bailes de kerb na região pois tinham
que ficar preparando e costurando os calçados para que na
segunda-feira a fábrica tivesse sapatos sem interromper
a produção. A participação de ambas junto a seus maridos
Familiar
Diva Schnorr Weber (sentada na
cadeira, de lenço na cabeça) e
Wally Müller (à direita, de óculos),
esposas dos dois Arlindos, num
momento de convivência.
exemplifica a relevância que o papel feminino sempre teve
no ambiente social na época em que se formou e prosperou a Paquetá. Mesmo que
ainda não ocupassem posições gerenciais, as mulheres, em contrapartida, eram verdadeiros esteios da família, que assumiam a responsabilidade de oferecer suporte aos
52
Avelino Zimmermann
Ao passar para um novo
endereço, onde depois funcionou
o supermercado Poko Preço,
a Paquetá também viveu um
momento de reestruturação na sua
área administrativa.
53
homens e, muitas vezes, desempenhavam papel de destaque no enlaçamento das relações familiares e sociais.
O clima de intimidade que se formava em torno das atividades da Paquetá tinha reflexo também no relacionamento entre as famílias dos sócios. A filha de Arlindo Müller,
Iara Bacher, casada com o diretor corporativo Lioveral Bacher, recorda dos momentos de
convivência, especialmente com sua xará Iara Leist: “Lembro que nós duas éramos bem
próximas, brincávamos juntas. Ela ia dormir na minha casa e eu ia dormir na casa dela.
As coincidências nos ligavam: tínhamos o mesmo nome e nossos pais se chamavam Arlindo. Acho que até hoje isso ainda causa alguma confusão”. A amizade entre as famílias
do dois Arlindos também se estendia na convivência em passeios de carro aos finais de
semanas e, na época de veraneio, costumavam ir juntas para a praia, alugando casas
próximas. Iara Bacher lembra, inclusive, de uma situação singular, quando os sócios e
amigos compraram os dois primeiros carros da marca DKW que chegaram a Sapiranga.
Eram duas Vemaguetes e, à noite, costumavam sair com toda a família, enquanto Arlindo Weber ensinava o seu pai a dirigir.
Mas, ao longo daquela década, uma nova realidade também despontava: a tecnologia na fabricação de calçados começou a se transformar e a se modernizar rapidamente,
cada vez mais agregando maquinários ao processo produtivo. Acompanhar as novidades
era uma obrigação de qualquer empresa. Na Paquetá, o sócio Alcido Weber era um dos
responsáveis por deixar a fábrica sempre atualizada em relação ao maquinário. Alcido é
reconhecido pelo trabalho decisivo que desempenhou no âmbito industrial. Como viajava com frequência, inclusive para o Exterior, ele tinha condições de trazer informações
sobre o que de mais avançado era lançado em termos de máquinas para a fabricação de
calçados. Alguns depoimentos dão conta de que, com sua habilidade técnica, ele costumava desmontar a máquina nova recém-comprada para depois poder desenvolver um modelo que se adaptasse à linha de produção da Paquetá, contando com a ajuda de Hugo
Schneider, fabricante de máquinas na vizinha cidade de Campo Bom. Essa integração e
54
70 ANOS PAQUETÁ
colaboração entre dois empresários se coloca como claro exemplo de um processo que
então se consolidava na região do Vale do Rio dos Sinos, com a formação de um complexo
coureiro-calçadista, apresentando uma crescente especialização na confecção de sapatos
femininos. O contexto dava chances ao desenvolvimento de empreendimentos com escala de produção cada vez maior.
A contínua expansão nos negócios da Paquetá também apontou para uma nova ne-
1950
cessidade, de ordem física. O espaço do prédio que ocupava na Rua São Jacó desde sua
fundação já não dava conta do aumento no número de trabalhadores e de maquinário.
Até que, em meados dos anos 1950, todas as operações da empresa foram transferidas
para outro local, onde antes funcionava uma fábrica de bebidas, na Rua João Corrêa, nº
498. O mesmo prédio, anos depois, seria a sede do Supermercado Poko Preço em Sapiranga, e hoje já não mais existe. Mas, ao mesmo tempo em que providenciaram no aluguel
de um lugar maior, os sócios também sabiam que logo surgiria a necessidade de uma espaço ainda mais amplo e mais apropriado para abrigar todas as operações e a logística
na fabricação e distribuição dos calçados. Afinal, a produção da Paquetá não parava de
crescer e já alcançava o patamar de cinco mil pares por mês e haveria de subir mais nos
anos seguintes.
55
O CRESCIMENTO
EXIGE NOVOS DESAFIOS.
MODERNO PRÉDIO
EM SAPIRANGA MARCA O
MOMENTO DA CONSOLIDAÇÃO.
O SEGMENTO VAREJO
DÁ OS PRIMEIROS PASSOS.
56
1960
1960
57
70 ANOS PAQUETÁ
58
Conhecida como Cidade das Rosas,
Sapiranga começa a viver um ciclo de
desenvolvimento a partir dos anos 1960.
70 ANOS PAQUETÁ
1960
O
s anos 1960 chegaram trazendo os ares de transformação que se prenunciaram na década anterior. Em termos mundiais, ainda sob a tensão da Guerra
Fria e seus desdobramentos − como a crise em Cuba e o começo da Guerra
do Vietnã −, florescia uma onda de rebeldia utópica, como conclamava a pa-
lavra de ordem “Paz e Amor!” bradada pela geração hippie. No Brasil, ainda se vivia em
meio à euforia da política desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek, os
chamados Anos Dourados. Da implementação da indústria automobilística nacional à
construção da capital Brasília, passando pela conquista do bicampeonato mundial de
futebol pela Seleção Brasileira e pela consagração internacional da Bossa Nova, a conjuntura se mostrava favorável a voos ousados em diferentes setores da nação. O que, de
fato, acontecia, mesmo que, não muito tempo depois, o país se visse mergulhado num
período que ficou marcado como Anos de Chumbo, com a ascensão ao poder do regime
militar em 1964.
Foi nesse cenário cheio de nuances nos primórdios dos anos 60, que a Paquetá daria
alguns passos que viriam a marcar definitivamente o futuro da empresa. No âmbito regional, o setor coureiro-calçadista do Rio Grande do Sul encontrava-se, então, em pleno
processo de consolidação, não só mantendo as perspectivas de crescimento, como avançando ainda mais em relação à expansão verificada ao longo dos anos 50. Em meados da
década de 60, a produção anual já beirava os 15 milhões de pares e alcançaria números ainda mais expressivos ao final do decênio. Naquela época, mais de 700 fábricas de sapatos
estavam instaladas na região do Vale do Rio dos Sinos.
A cidade de Sapiranga, onde a Paquetá já se destacava como uma das suas principais
indústrias, se beneficiava desse contexto e começava a viver um processo de urbanização,
nem bem completava 10 anos de emancipação. Com o fim do transporte ferroviário local
em 1964, os trilhos que cortavam a cidade ainda sobreviveriam alguns anos, até serem
retirados definitivamente. A demanda de mão de obra para as fábricas de sapatos, em
especial, fez a população aumentar consideravelmente em poucos anos.
59
A primeira atitude que colocou a Paquetá no rumo de um futuro promissor foi, sem
dúvida, a decisão de se instalar numa planta industrial própria e melhor adequada ao crescimento que experimentava. O prédio que fora alugado no final dos anos 50 já se mostrava pequeno demais para o ritmo e o volume de produção que a empresa alcançava às
vésperas de completar 20 anos de existência. A solução encontrada foi comprar um amplo
terreno, que coincidentemente ficava bem próximo à primeira sede da empresa, na antiga
Rua São Jacó. A área era um imenso banhado, como bem lembra Ênio Müller, filho de Arlindo Müller. Na época, em 1963, ele, que tinha 16 anos, recorda: “Ali ainda passava o trem,
que vinha de Porto Alegre e ia até Taquara. Lembro que nas vizinhanças havia uma casa e
muitas laranjeiras. Na época de chuva, o arroio transbordava e inundava o terreno e nas
poças maiores tinha até peixe”.
A construção do novo prédio se iniciou logo depois de adquirido o terreno. A obra foi
tocada por uma empreiteira local, liderada por Bernardo Bohlke Neto, e o projeto tinha
responsabilidade técnica do arquiteto Erio Gomes de Oliveira e do engenheiro Bredemeier. Em pouco mais de dois anos, o novo e imponente prédio ficou pronto. “Em 1965, a
fábrica começou sua mudança para onde está até hoje. Recordo que ajudava o eletricista
Werner Heinrich, que fazia a instalação interna do prédio. Era tudo montado aqui, com
vários funcionários. Naquela época, tudo era novidade – as calhas montadas, as lâmpadas
enormes e muitas caixas de reatores...”, explica Ênio Müller, que aos 67 anos reproduz a
mesma admiração que sentiu na juventude ao ver surgir do banhado a nova fábrica. “Era
bonito de ver aquele prédio tão grande e bem construído. Aqui em Sapiranga não havia
prédios nessas proporções. Foi inovador para a época. Tudo bem bonito, bem instalado.”
A novíssima sede, inaugurada e colocada em operação em 1966, era mais um exemplo
da visão aguçada que os sócios da Paquetá detinham em relação ao futuro da indústria
calçadista. Com prédio agora localizado na Avenida 20 de Setembro, a fábrica estava preparada para enfrentar os desafios dos avanços tecnológicos requeridos pelo mercado, que
cada vez mais exigia a produção de sapatos padronizados, na modelagem e nas cores, em
60
70 ANOS PAQUETÁ
grande volume. Uma realidade
que ficaria ainda mais caracterizada com a iminente entrada
Os números de 1965
no mercado externo, que até
então fora atendido de forma
pouco significativa pelas empresas gaúchas. O aumento da
1960
Paquetá 20 anos
mecanização tornava-se inevitável. O uso do sistema dos tri-
250
colaboradores
12 mil
pares por mês
lhos de transporte e da cadeia
de montagem de cada par, em
substituição ao de cavaletes,
por exemplo, colocou as fábricas da época num novo patamar de produção. Segundo dados de estudos acadêmicos sobre aquela conjuntura econômica, essa tecnologia gerou
um aumento de 60% no rendimento da produção média. Na Paquetá, em 1965, o número
de pares fabricados mensalmente atingira o volume de 12 mil unidades. O quadro de colaboradores também crescia a cada dia e o grupo empregava naquele mesmo ano cerca de
250 pessoas.
Foi nesse momento de expansão que a Paquetá entrou na vida de Ricardo José Gross,
que lá ingressou aos 16 anos para ser auxiliar de escritório e, assim, pôde vivenciar a troca de sede. E durante 45 anos, até 2010, Gross se dedicou a ajudar a empresa a crescer.
Ainda nos anos 1960, fruto de sua dedicação, ele assumiu o posto de primeiro gerente de
Recursos Humanos da Paquetá. “Bem no meu início, trabalhávamos apenas em dois no
setor. Uma das minhas missões era a de selecionar pessoas. Nos primeiros anos, a empresa ainda funcionava de forma enxuta, mas chegamos ao final da década com cerca de
mil funcionários. Uns anos depois, com o boom das exportações, houve épocas em que se
contratavam famílias inteiras para trabalhar na fábrica”, lembra Gross.
61
O começo da década de 1960 trouxe muitas
novidades para a Paquetá, como a construção da
nova sede (acima) e a entrada do varejo em Porto
Alegre, com a loja na Rua Dr. Flores (abaixo), na
mesma época dos primórdios da Fenac (esq.).
62
70 ANOS PAQUETÁ
A memória do ex-gerente de RH também registra com precisão as diretrizes que a
empresa sempre buscou empreender em sua política de recursos humanos. “Tudo o que
fa­zíamos, e seguimos fazendo, era baseado numa filosofia de trabalho, segundo a qual
tínhamos que tratar com respeito todas as questões éticas, escutar as pessoas, dar respostas a elas, sem deixarmos de ser objetivos e sinceros. Sempre procurei seguir as normas
básicas da empresa, que são pontualidade e honestidade.”
1960
Uma das pessoas selecionadas por Ricardo Gross foi Nair Maria Huther, que em 2014
se tornou a funcionária mais antiga em atividade do grupo, ao completar 45 anos de trabalho, sempre na linha de produção. Nair ingressou na Paquetá em 1969, com 20 anos.
“Comecei trabalhando na preparação, que era onde se coloca a fita, passa a cola, vira o sapato e emenda. Depois disso, é que o calçado ia para a costureira. Fiquei preparando uns
dois anos e pouco, até que a minha chefe me colocou para trabalhar numa máquina. Ela
disse: ‘A partir de hoje, tu és costureira’. Foi uma evolução, fiquei muito feliz, por gostar
de costurar. É onde estou até hoje.” Mas Nair não foi a única integrante da família Huther a trabalhar na Paquetá. “Éramos uma família bem grande, éramos 11 irmãos! E, além
de mim, cinco deles também trabalharam aqui. Engraçado que eles eram conhecidos por
todos apenas pelos apelidos. E os cinco chegaram a ter cargo de chefia e já estão aposentados”, explica a costureira.
Enquanto se atualizava nos processos industriais e avançava nas relações de trabalho com seus funcionários, a Paquetá, um pouco antes da inauguração da nova fábrica,
concretizou um passo rumo ao futuro, dando outra dimensão à empresa que até então se dedicava apenas à fabricação de sapatos femininos. Sob a inspiração de Arlindo
Weber e a liderança de Remy Strassburger, em 1964 foi aberta em Novo Hamburgo, na
esquina da Avenida Coronel Frederico Linck com a BR-116, a primeira loja, que marcaria a
entrada da Paquetá no segmento do varejo. O estabelecimento seria uma antecipação
do que hoje se conhece como loja ponta de estoque, ou seja, um local para venda de
calçados que não obtiveram colocação imediata no mercado regular. Ali eram vendidos
63
História
O varejo da Paquetá
surgiu na mesma
época em que a Fenac
se firmava junto ao
público apresentando os
lançamentos da época.
calçados Paquetá − as linhas femininas adulta, infantil e juvenil − e de outras marcas. A
abertura da loja coincide com o advento da Feira Nacional do Calçado, a Fenac, cuja primeira edição ocorreu em 1963 e era realizada a cada dois anos. Além de atender ao público em geral − chegavam a circular por lá mais de 150 mil pessoas num final de semana −, a
Fenac se prestava a ser um local de circulação dos primeiros agentes de exportação, que
começavam a prospectar produtos que pudessem atender a seus clientes no Exterior e
a intermediar as primeiras ordens de compra de calçados produzidos em solo gaúcho.
64
70 ANOS PAQUETÁ
1960
Remy Strassburger, o primeiro gestor do ainda incipiente segmento de varejo da Paquetá, era filho do sócio Waldemar Strassburger. Até então, Remy tocava seus próprios negócios e os da família. Por uns tempos, dedicou-se ao transporte por caminhão de mercadorias
produzidas na região para o centro do país, tanto que foi numa dessas viagens, para o Rio
de Janeiro, que ele trouxe a ideia do nome Paquetá, adotado no final dos anos 40. E também
ajudava a cuidar das terras do pai. O filho de Remy, Jorge Strassburger, que hoje é um dos
diretores corporativos da empresa, tinha apenas quatro anos quando seu pai começou no
grupo, mas os relatos que depois recebeu dele o deixam à vontade para descrever como foram aqueles tempos pioneiros do varejo: “Sabemos que o seu Arlindo (Weber) era o grande
homem de visão da empresa, foi um grande visionário, grande responsável pela Paquetá
tomar o rumo que tomou. Ele teve a ideia de abrir o varejo, abrir lojas, o que não era algo comum na indústria de calçados na época. E foi ele quem falou com o meu avô e perguntou se
o meu pai não gostaria de abrir a primeira loja da Paquetá em Novo Hamburgo. Como meu
pai tinha experiência com transporte de mercadorias, ele tinha uma
cabeça mais aberta para o varejo. Então, meu avô e o seu Arlindo o
convidaram para abrir a primeira loja”.
Naqueles tempos, era comum famílias de
Marcante
O salto plataforma
é um ícone dos
anos 1960.
Porto Alegre pegarem a BR-116 de carro para nos
sábados ou domingos passar o dia na região do
Vale do Rio dos Sinos, aproveitando a natureza,
a farta culinária alemã e, de quebra, a chance de
comprar sapatos a preços mais em conta do que
os encontrados na Capital. Também pela mesma
estrada, circulavam muitos carros e caminhões
que vinham de outros estados, em especial de
São Paulo, trazendo clientes em potencial para
a compra dos produtos expostos.
65
A experiência da loja em Novo Hamburgo, ainda que incipiente, entusiasmou Arlindo
Weber, tanto que incumbiu Remy Strassburger de abrir outro ponto, desta vez em pleno
centro de Porto Alegre, na Rua Dr. Flores. Em 1965, seria instalada essa que foi a segunda
Loja Paquetá, trazendo uma novidade para o comércio da época: a colocação do preço
junto aos produtos, na vitrine. Nenhuma outra loja usava essa estratégia então. As vendas foram bem e na sequência surgiu a terceira loja, localizada na Rua Marechal Floriano,
também na zona central porto-alegrense. O avanço do varejo seria célere, pois não demorou muito para ser aberto mais um ponto de venda, na famosa Rua da Praia, que naqueles
tempos ainda sustentava a aura de rua mais charmosa da Capital, com seu comércio pungente e o vaivém da população, facilitado pela ausência de trânsito de veículos sobre os
paralelepípedos da via.
Ao recordar a mudança radical que houve em sua vida de menino do interior, que morava ao pé do Morro Ferrabrás, em Sapiranga, e precisou se mudar para a cidade grande,
Jorge Strassburger lembra também do que lhe falava o pai sobre o novo desafio da família
e da empresa: “Era uma época de muita concorrência, a comunidade judaica dominava o
varejo de calçados em Porto Alegre. Então, a entrada da Paquetá naquele mercado era
66
O modelo ao lado,
fabricado nos anos
1960, é um raro
exemplar de sapato
que leva a marca
Paquetá.
vista por muitos como uma guerra quase perdida. ‘Não vão sobreviver’, é o que diziam”.
O prognóstico pessimista, mostra bem a história, não se realizou e, para tanto, pesaram
dois aspectos ressaltados por Strassburger: “O sucesso da Lojas Paquetá, no início, contou muito com a persistência do meu pai, sempre apoiado e orientado pelo seu Arlindo
Weber. Ele dava o suporte moral, econômico e financeiro para que a operação permanecesse e tivesse êxito”.
O braço direito do pai de Jorge na implantação das lojas em Porto Alegre foi Selívio Michel, que aos 24 anos deixou a vida tranquila em Sapiranga para enfrentar o desafio de ser
uma espécie de faz-tudo no início das operações no varejo. Michel já trabalhava na Paquetá
desde 1955, onde entrou aos 14 anos. Depois de um tempo atuando na área produtiva da fábrica, passou a ser um auxiliar de escritório da confiança da diretoria. Até que recebeu uma
incumbência de Arlindo Weber, como Michel registrou em depoimento gravado em vídeo
comemorativo aos 50 anos do segmento varejo, em 2014: “Um dia, o seu Arlindo chegou em
mim e disse: ‘Vamos abrir uma loja ali em Novo Hamburgo e preciso que tu ajudes o Remy a
tocar o negócio’. Respondi que não entendia nada de comércio, ainda que conhecesse bastante sobre sapatos. E o seu Arlindo: ‘Não tem problema, tu vais aprender’. E assim comecei
67
uma trajetória de 35 anos trabalhando na
Lojas Paquetá”, contou Michel, com toda a
sua simpatia e carregado sotaque alemão.
Dali para a frente, a vida de Selívio
Michel, como ele próprio ressaltou em sua
gravação, passou a ser a Paquetá. “Imagina
eu, lá do interior, vindo para Porto Alegre.
Mas me envolvi tanto com a Paquetá, que
tudo foi muito bem, devo tudo que tenho a
esta empresa.” De um verdadeiro faz-tudo
no começo das operações, Michel logo passou ao cargo de gerente de loja e, ao lado
Início
O varejo começou
suas atividades nos
anos 1960.
de Remy Strassburger, esteve à frente da abertura de pelo menos
30 pontos de venda, entre 1965 e começo dos anos 90, até se aposentar, em 1999. Em seu depoimento, ele recorda com emoção que
internamente as lojas eram identificadas pelo número da sequência da abertura de cada uma: “A loja 1 era a de Novo Hamburgo, que
não durou muito. A 2, a da Dr. Flores, e a 3, da Marechal Floriano. A loja 4 foi a da Rua da
Praia. Depois, a vez da 5, na Assis Brasil. E a 6, a primeira fora de Porto Alegre, em Canoas. E, assim, fomos em frente. Era como nos dizia o seu Arlindo (Weber): ‘Sempre um pé
para frente, caminhando devagar, mas olhando onde estamos pisando’”.
A entrada no varejo trouxe uma nova realidade às relações da Paquetá com outras
empresas do setor coureiro-calçadista. Até então, as parcerias formadas eram essencialmente com fornecedores de implementos e componentes utilizados para a fabricação
dos calçados. Naquele novo momento, com a necessidade de suprir os estoques das lojas com sapatos de diferentes modelos, e de todas as linhas − femininos, masculinos e
infantis −, se configurou a condição sui generis de construir um relacionamento comer-
68
1960
70 ANOS PAQUETÁ
Parceria
A Piccadilly há mais de
50 anos fornece calçados
para a rede das Lojas
Paquetá.
cial com fornecedores que eram concorrentes no âmbito industrial. As possibilidades
que se abriram a partir desse contexto mostram que, desde os primórdios, a Paquetá
assumiu posições de vanguarda, colocando-se à frente de outras empresas na inovação
de suas operações.
Um dos parceiros de primeira hora foi a Piccadilly, empresa calçadista da vizinha cidade de Igrejinha, no Vale do Paranhana, onde está estabelecida desde 1955. Aliás, uma
parceria que perdura até os dias atuais. A aproximação entre o varejo da Paquetá e aquela
tradicional fabricante de sapatos ocorreu já no primeiro ano de funcionamento da Loja
Paquetá em Novo Hamburgo, em 1964. Paulo Eloy Grings, atual presidente da Piccadilly
e filho do fundador Almiro Grings, aos 11 anos já trabalhava na empresa da família e por
isso até hoje lembra nitidamente como tudo começou. “Pois veja, ainda menino acompanhei esse começo de parceria com a Paquetá pessoalmente. Tinha 11 anos e meu pai me
pôs para trabalhar no escritório. Estudava pela manhã e, à tarde, ia para a firma exercer a
função de faturista. Tirava as notas fiscais dos sapatos que iam embarcar no fim do dia.”
69
Foi num desses dias de trabalho vespertino na Piccadilly, que Grings presenciou o episódio que selou a colaboração entre as duas companhias: “Certa tarde, apareceu no escritório o Remy Strassburger. Ele veio fazer um pedido. Eu sabia que ele era amigo de meu
pai. Recordo até que era uma segunda-feira. Ele chegou apressado e disse que precisava dos
sapatos já para a sexta-feira daquela semana, para abastecer a loja recém aberta na BR-116.
Prontamente, meu pai pôs o pedido do seu Remy na frente de outras encomendas para que
o prazo fosse cumprido. Na sexta-feira, ele voltou no próprio carro, um Galaxy, para levar os
sapatos. A pressa fazia sentido, porque, até hoje, pelo que sei, 60% a 70% das vendas acontecem na sexta e no sábado”. Grings relembra ainda que seu pai era também muito amigo de
Arlindo Weber, com quem costumava viajar junto para São Paulo em visita a clientes.
O crescimento do segmento de varejo da Paquetá ajudou a consolidar ainda mais
a parceria. “Já nos anos 90, com o aumento do número de lojas, nossas relações continuaram fortes, quando passamos a trabalhar com a nova geração de dirigentes, como
o Lioveral (Bacher) e o Jorge, filho do Remy”, destaca Paulo Grings. Daquela época, ele
gosta de contar um episódio que mostra como a parceria criou uma sólida amizade
entre os personagens envolvidos. “O seu Remy tinha se afastado da Paquetá e passou
a se dedicar aos postos de gasolina dos quais a família Strassburger era proprietária.
Sempre que possível, nas minhas idas a Novo Hamburgo, eu procurava conciliar uma
visita ao posto para tomar um chimarrão com ele, que sempre me perguntava: ‘Paulo,
o pessoal da Paquetá está comprando certo, pagando direitinho?’. Eu achava graça,
pois o meu pai também fazia pergunta idêntica aos nossos fornecedores depois que
se afastou da Piccadilly.”
Grings ressalta que a relação entre as duas empresas nunca sofreu desgastes, ainda que curiosamente houvesse a concorrência entre as indústrias: “Essa situação nunca
afetou a amizade ou a relação comercial que estabelecemos ao longo de tantos anos. A
Paquetá sempre foi um cliente em potencial para nós e, ainda hoje, está entre os cinco
maiores clientes da Piccadilly no Brasil”.
70
70 ANOS PAQUETÁ
Enquanto crescia a complexidade nos negócios do grupo Paquetá, o pioneiro Arlindo
Müller mantinha-se fiel às suas origens como sapateiro nos idos de 1940. Sua rotina era
estar junto à linha de produção da nova fábrica em Sapiranga. A experiência do fundador
continuava essencial para que a qualidade dos sapatos produzidos seguisse sendo um
dos diferenciais da empresa que criou ao lado de Hugo Wagner. Antes de completar 50
anos de idade, Arlindo Müller alcançara pleno reconhecimento pela trajetória que havia
1960
implementado na Paquetá junto com os demais sócios.
O destino, no entanto, não deixou que o pioneiro pudesse dedicar ainda mais anos à
companhia. Corria o ano de 1969, em um dia corriqueiro de trabalho, a exemplo do que costumava fazer na sua rotina, Müller caminhava pelas dependências da nova fábrica, desta
vez observando as obras de ampliação que ainda ocorriam. O filho Ênio relata o episódio
que resultou, paulatinamente, no afastamento de Arlindo da lida diária.
“Numa área que tinha sido ampliada, estavam passando óleo no chão antes de iniciar
o processo de lixação do parquê. Por ali, havia um forno para queimar lixo. A pessoa que estava lixando o assoalho despejou para dentro da fornalha o pó do parquê contendo óleo.
Bem naquele momento, meu pai estava passando por ali e, quando o funcionário estava
jogando o pó, num movimento brusco, uma labareda saltou para fora e o atingiu, assim
como ao jovem que lidava com o lixo. Ambos se queimaram bastante. Lembro que o pai
ficou com cicatrizes por várias partes do corpo e sofreu muito com isso.”
As sequelas daquele acidente deixaram Arlindo Müller um tanto debilitado, algo
diferente do compenetrado trabalhador que sempre fora. Ele continuou a ir à fábrica,
mas sua presença por lá já não era tão rotineira como até então. Aos poucos, Müller
foi se afastando das questões operacionais da Paquetá, mas mantendo-se como sócio corporativo e emprestando seus conhecimentos para que os rumos da empresa
seguissem os passos do crescimento. A filha Iara Bacher tem presente na memória
o novo rumo que seu pai seguiu na vida: “Daí, ele começou a ficar mais no sítio, que
tinha aqui perto, junto ao Morro Ferrabrás. Ele adorava aquilo lá. Tinha vaca, porco,
71
Arlindo Müller
O envolvimento comunitário de Arlindo
Müller sempre serviu de inspiração para
ações protagonizadas no campo da
responsabilidade social pela Paquetá,
que, desde os anos 1960, implementou
iniciativas de apoio a seus colaboradores.
72
70 ANOS PAQUETÁ
galinha... Ia para o sítio todos os dias. Sua vida se voltou para essas coisas naturais,
como no tempo em que sua família vivia na roça. Ao redor da casa do sítio, havia uma
horta bem sortida. Aquilo era um prazer para ele, plantar, colher e comer as coisas que
plantava. Algumas coisas, ele até vendia. Mas não era um negócio. Era uma atividade
de passatempo que muito lhe agradava”.
Aquela nova vida, no entanto, não o afastava completamente da Paquetá. O DNA do
1960
sapateiro falava alto, e o empresário sempre comprometido com a qualidade nas relações
de trabalho não deixava de se preocupar com o futuro da empresa. O genro Lioveral Bacher recorda uma situação singular, que bem exemplifica a personalidade de Arlindo Müller: “Certa vez, assistíamos juntos ao Desfile da Mocidade, que era tradicional nas comemorações do 7 de Setembro, e ele me disse: ‘Olha, viu por que a Paquetá tem que crescer?
Olha a quantidade de gente que desfilou aí. Isso tudo tem que ter lugar para trabalhar.
Por isso, nós temos a obrigação de não ficar parados. Nós temos que crescer para essas
pessoas terem lugar para trabalhar’. Assim era o seu Arlindo”.
Arlindo Müller também pôde emprestar mais de seu tempo a trabalhos voltados para
a benemerência, como já fazia mesmo antes de se afastar do dia a dia da empresa. Era
membro da Congregação Evangélica Luterana São Mateus. Homem de fé, atuante, ajudou
a construir a primeira Igreja Luterana de Sapiranga, em 1951, na qual ocupou o cargo de presidente por muitos anos. Também auxiliou a erguer o prédio da Escola Evangélica Luterana
São Mateus, inaugurada em 1959. Inclusive, seu papel na criação da Escola São Mateus foi
além de contribuir na arrecadação de fundos para sua construção. Seu empenho era tanto que ia de família em família, pessoalmente, convencendo-os a matricularem seus filhos
para que o colégio luterano tivesse o número mínimo de alunos para poder abrir as portas.
Arlindo também fez parte do quadro social do Rotary Clube Ipiranga desde 1958. Em 1970 foi
presidente da Sociedade Beneficente Sapiranguense e, mais tarde, em 1988 contribuiu na
modernização e renovação do Hospital Sapiranga. Inclusive. O sócio-fundador da Müller &
Wagner, origem da Paquetá − The Shoe Company, viria a falecer em 2009, aos 88 anos.
73
O envolvimento comunitário de Arlindo Müller sempre serviu de inspiração para
ações no campo da responsabilidade social protagonizadas pela Paquetá, que já naqueles tempos assumia postura de vanguarda nas relações com seus colaboradores.
No final dos anos 60, uma bem-sucedida iniciativa da empresa deu-se no âmbito da
educação, quando firmou convênio com a Escola São Mateus, de ensino particular. Por
meio do acordo acertado com a mantenedora do colégio luterano, a Paquetá concedia bolsas de estudos para que, anualmente, 30 crianças, filhos de seus funcionários,
pudessem frequentar sem custos o antigo curso primário, hoje Ensino Fundamental.
Nesta mesma época, em 1963, por iniciativa de Arlindo Weber, foi criada uma fundação de assistência médica e odontológica aos funcionários, reunindo três indústrias
de calçados de Sapiranga – a própria Paquetá, a Loni Calçados e a Raiante Calçados.
Um dos quesitos para a contratação dos profissionais médico e dentista foi que que
falassem alemão, pois muitos dos empregados das três fábricas só se comunicavam
na língua de seus pais ou avós imigrantes. Arlindo era amigo do sogro do doutor João
Evaristo Bauer e recebeu a informação de que este, que falava alemão e morava em
Santa Catarina, gostaria de retornar para o Rio Grande do Sul. Feito o convite, ele aceitou e foi morar em Sapiranga em abril daquele ano, assumindo a função de médico da
fundação, atendendo sempre pelas manhãs em uma sala da entidade, no centro da
cidade. Segundo a filha do médico, Sílvia Bauer, o pai fazia vários tipos de atendimento pela manhã, mas principalmente atendimento ginecológico e obstétrico. Já à tarde,
eram feitos os atendimentos odontológicos, com o dentista Dr. Nelson Mecking. O
doutor Bauer manteve a ligação com a fundação até 1977. Sílvia lembra ainda que sua
família comentava o fato de que a iniciativa de Arlindo Weber era algo inovador, de
vanguarda, pois não conheciam outro exemplo assim naquela época, nem mesmo em
Porto Alegre, onde viviam seus avós.
Com atitudes assim e a postura proativa na contínua atualização de suas operações, tanto no contexto industrial quanto no varejo, a Paquetá preparava-se solida-
74
70 ANOS PAQUETÁ
mente para o futuro que se aproximava, apontando para uma transformação radical
nas relações fabris e comerciais do setor coureiro-calçadista no Brasil. Às vésperas de
uma nova década, o mercado externo surgia como alternativa para as empresas estabelecidas neste segmento econômico, responsável no Rio Grande do Sul por uma produção superior a 20 milhões de pares anuais no final do decênio de 1960. Desse total,
apenas 1% se destinou à exportação. Mas iniciativas como a criação da Fenac, a ida de
1960
missões comerciais ao Exterior e o surgimento da chamada trading company (agente
profissional de exportação) alavancaram a possibilidade de o sapato fabricado aqui
ser comercializado para outros países em grandes volumes. Os anos 1970 reservariam
novos e grandes desafios para a Paquetá.
75
O MUNDO É O LIMITE.
EXPORTAÇÕES DE CALÇADOS
FEMININOS DE QUALIDADE
PASSAM A SER O FOCO.
É TEMPO DE ABERTURA
DE NOVAS
UNIDADES FABRIS.
76
1970
1970
77
70 ANOS PAQUETÁ
78
Os anos 1970 ficaram marcados pela
expansão das exportações e pelos
investimentos em modernização tecnológica.
70 ANOS PAQUETÁ
1970
O
Brasil entrava na década de 1970 sob duas realidades bem distintas. Uma, no
âmbito econômico, revelava a euforia no auge do chamado “Milagre Econômico”. Ancorada nos módicos preços do petróleo no mercado internacional,
a política econômica do governo federal fazia o país multiplicar rodovias de
asfalto por todo o seu território. A indústria automobilística fazia carros como nunca. A
produção agrícola alcançava recordes seguidos a cada safra. Mas, na esfera política, a nação vivia tempos obscuros, com o regime militar mutilando as instâncias democráticas
que ainda persistiam em atuar e perseguindo aqueles que teimavam em fazer oposição,
muitas vezes uma oposição radical, com luta armada. Em meio a essa dicotomia, a população pôde vibrar com a conquista do tricampeonato mundial de futebol, no México, e viu
surgir um movimento que apresentava novidades no cenário da música popular brasileira. Depois das fases da Bossa Nova e da Jovem Guarda, agora destacava-se o Tropicalismo,
de Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Enquanto duraram, até a chegada da crise do petróleo, os bons ventos da economia
nacional proporcionavam oportunidades na ampliação dos negócios em diversos setores
produtivos. Não foi diferente no segmento coureiro-calçadista. O avanço acelerado rumo
ao mercado externo traria um momento de expansão significativa do setor em todo o Brasil, muito especialmente no Rio Grande do Sul. A abertura de novos canais de comercialização, os incentivos fiscais concedidos pelos governos estadual e municipal e a política
de minidesvalorizações cambiais adotada pela administração federal funcionaram como
combustível para o crescimento excepcional no período. Na virada da década de 1960 para
70, as exportações das indústrias gaúchas de calçados, sobretudo com destino aos Estados Unidos, alcançavam faturamento no patamar de US$ 70 milhões. Em pouco tempo,
até o começo dos anos 80, o valor pulou para mais de US$ 700 milhões. As fábricas localizadas no Vale do Rio dos Sinos eram responsáveis por cerca de 75% da exportação do
sapato nacional. O preço de venda do produto Made in Brasil igualmente teve expressiva
elevação. De US$ 2, praticado antes de 1970, o valor médio saltou para US$ 7 em cinco
79
anos. Nessa época, Novo Hamburgo passava a ostentar o título de capital nacional do
calçado. E, na busca de ganhar cada vez mais competitividade, investia-se também em
conhecimento. Em 1972, por exemplo, surgiu o Centro Tecnológico de Couro, Calçados e
Afins (CTCCA), com a finalidade de proporcionar treinamentos, oferecer serviços técnicos
e divulgar informações sobre tendências da moda internacional. Hoje, o CTCCA se transformou no Instituto Brasileiro de Tecnologia de Couro, Calçados e Artefatos (IBTeC).
Em Sapiranga, a Paquetá, sob a liderança inconteste de Arlindo Weber, estava preparada e atenta para usufruir daquela conjuntura favorável. A sólida trajetória experimentada ao longo de quase 30 anos de existência também contribuía como um diferencial para
poder enfrentar os desafios dos novos tempos. Ainda que sem abrir mão da tradição, a Paquetá sabia como se adaptar ao que a nova realidade exigia. Os investimentos em busca
da inovação tecnológica eram constantes, com a aquisição de máquinas e equipamentos
que faziam deslanchar a linha de produção. Em 1972, por exemplo, a empresa introduziu
o uso de esteiras em substituição ao sistema de trilhos. Em parceria com o irmão Alcido,
Arlindo conduzia o processo de atualização na esfera técnica. A chegada de modernos
equipamentos italianos trouxe uma nova realidade para a fábrica, como na costura, com o
uso de máquinas de duas agulhas. Havia vários modelos que exigiam duas costuras, uma
do lado da outra. Com o novo equipamento, as duas costuras eram feitas ao mesmo tempo. De outra parte, a Paquetá continuou a perseguir a qualidade no desenvolvimento de
produtos, sobretudo pela diferenciação do design na fabricação dos chamados all leather
shoes (calçados totalmente de couro). Na metade da década, a produção mensal já beirava os 75 mil pares, quase atingindo a marca de 1 milhão por ano. Em menos de 10 anos, o
número de funcionários contratados pela empresa cresceria mais de 600%, chegando a
cerca de 1.500 postos de trabalho. Números que logo, logo, seriam ainda maiores.
Tal oferta de trabalho foi o motivo que levou a família de Daniel Salazar Vasco a sair
de Porto Alegre em direção a Sapiranga, quando ele tinha 16 anos. Pouco depois, ao completar 17 anos, em 1973, foi admitido na Paquetá, onde permanece desde então, hoje ocu-
80
70 ANOS PAQUETÁ
pando o cargo de gerente de laboratório, e onde é
1970
produção e fui escolhido para ser o gerente. Produ­
conhecido por todos pelo apelido Zequinha. “Comecei na linha de montagem, nos serviços gerais.
Fazia de tudo, mas me identifiquei de saída com o
acabamento. Gostava do visual do sapato, de deixar o sapato bonito e vistoso. Fiquei ali de três a
quatro anos. Em 1978, abriu uma nova linha de
zíamos nessa linha de 800 a mil pares por dia para
exportação”, recorda Zequinha.
Orgulhoso da qualidade de seu trabalho, ele
guarda bem viva a lembrança de uma conversa que
teve com Arlindo Weber e Adalberto Leist, que tamModernização
Entre os novos
equipamentos, estava o
pantógrafo utilizado nos
anos 1970.
bém começava sua trajetória na empresa: “O meu sapato era sempre
um dos mais bonitos entre as cinco ou seis linhas de produção que
existiam, daí, um dia, o seu Arlindo e o seu Adalberto me chamaram
para saber o segredo do acabamento do meu sapato. Eu disse a eles
uma coisa bem simples, pois eu era um rapazote de 20 e poucos anos:
que a gente tinha que fazer o trabalho com gosto, como se fosse um
sapato para a namorada”. Não demorou, e Zequinha foi deslocado para a área de acabamento junto à produção, trabalhando diretamente com Adalberto Leist. Tempos depois, com a
criação do laboratório de acabamento, ele passou a atuar nesse setor. “A minha formação
foi feita dentro da fábrica, no dia a dia da produção. Sou, na verdade um técnico prático. É
uma história muito bonita, pois eu considero a Paquetá a minha segunda casa. Eu não conseguiria viver sem a Paquetá. A empresa criou vínculos comigo, toda a minha família trabalhou aqui, menos o meu pai e a minha mãe. Os meus filhos trabalham aqui hoje, as minhas
irmãs trabalharam também”, destaca Daniel Salazar Vasco, o Zequinha.
81
A expansão da Paquetá, assim como a de outras fábricas
da região, refletiu sobremaneira no cotidiano da pacata Sapiranga. A cidade acelerou o processo de urbanização iniciado
na década anterior. As ruas, outrora de chão batido, foram
pavimentadas e largas avenidas passaram a fazer parte da
paisagem. O município, que estava prestes a completar recém 20 anos de emancipação, também viveria dias de explosão demográfica, com um aumento de sua população nunca
antes visto. Ao longo da década de 70 e entrando nos anos
80, a cidade teve um incremento de mais de 100% no seu número de habitantes. Antes, eram pouco mais de 12 mil e, com
o aquecimento da economia local e necessidade de mão de
obra para atender à demanda, passaram a ser de aproximadamente 25 mil. Tamanho aumento foi resultado da chegada
a Sapiranga de famílias inteiras, vindas de cidades próximas
ou mesmo de outras regiões do Rio Grande do Sul, especialmente das áreas onde a mecanização da agricultura tornou
escassa a oferta de emprego.
Esse foi o caso do atual gerente do setor jurídico da Paquetá, Nereu Schmitt Carraro. Sua família vivia na zona rural do município de São Francisco de Paula e naquela época se transferiu
para Sapiranga. Em 1976, aos 13 anos, Carraro já fazia parte do
quadro de funcionários da empresa: “A Paquetá sempre propiciou o crescimento e a valorização
Modelos
Sapatos criados pela
Paquetá e vendidos no
mercado externo.
82
das pessoas. Todos começavam trabalhando na área produtiva e comigo
não foi diferente. Naquele tempo, era
70 ANOS PAQUETÁ
preciso ter a autorização do juiz
local para que menores de 16
anos pudessem trabalhar. Meu
Os números de 1975
pai e todos os meus seis irmãos
também trabalharam aqui, mas
atualmente só eu continuo.
O meu sonho era trabalhar na
1970
Paquetá 30 anos
Paquetá, então, quando fiz 13
anos, comecei a trabalhar de dia
1.500 74 mil
colaboradores
pares por mês
e a estudar à noite, para nunca
abandonar os estudos. Comecei
trabalhando na parte que se chamava ‘corte’, que é a etapa na qual começa a produção do calçado. Fiquei na produção até 1994, quando me transferi para a área administrativa”.
Nereu Carraro é um exemplo do papel central que os colaboradores sempre exerceram nas atividades do grupo Paquetá. Quando passou para o setor administrativo, já era
formado em Administração de Empresas, com ênfase em Comércio Exterior. Ele começou
trabalhando no serviço de contas a pagar, depois, com o incentivo de Arlindo Weber, fez o
curso de Direito e passou a tratar diretamente das questões jurídicas. “Nunca me esqueço
que numa das primeiras vezes em que conversei com o seu Arlindo, quando eu tinha uns
18 ou 19 anos, ele me disse assim: ‘Eu te escolhi para uma função de liderança. E eu quero
que não te esqueças, é uma coisa que tu deves levar sempre como um norte da tua vida.
Nunca considera as pessoas com quem tu trabalhas menos do que tu’. Esse princípio da
simplicidade foi muito marcante para mim. Os nossos grandes princípios até hoje são o de
ter muita simplicidade, muita humildade no jeito de ser e também a honestidade. Esses
são princípios muito fortes da Paquetá”, ressalta Carraro.
A década de 70 marcou ainda a entrada do atual diretor-presidente na empresa.
Casado com Iara, filha de Arlindo Weber, Adalberto José Leist começou a trabalhar na
83
Paquetá em 1972. Aos 29 anos, formado em Ciências Contábeis e Econômicas, Leist tinha experiência de trabalhar em banco e em serviços contábeis para fábricas de calçados da região, conhecendo bem os processos de produção que eram práticas usuais na
época. Mas sua aproximação com a empresa não foi imediata e nem se deve ao fato
de ter Arlindo como sogro. “Quando eu ainda namorava a Iara e fazia faculdade, o seu
Arlindo comprou um posto de gasolina em Novo Hamburgo. Como ele não tinha tempo
nem conhecimento sobre o negócio, me perguntou se não queria cuidar do posto, que
tinha uma estrutura bem considerável. Aceitei a oferta e passei a tocar o negócio. Além
do posto, tinha um estacionamento e um serviço de lavagem. Chegávamos a lavar mais
de 200 carros nos finais de semana”, rememora Leist, com a convicção de que, quando o
sogro o convidou para a função, já estava, de certa maneira, testando-o para um even­
tual aproveitamento na Paquetá.
De fato, com o sucesso alcançado no posto de gasolina, não demorou muito para chegar a oportunidade de trabalhar na fábrica. E o convite veio, mas Leist relutou em aceitar:
“Eu dizia para ele, na fábrica não quero trabalhar”. O impasse continuou por um tempo,
até que um dos sócios, Avelino Zimmermann, o procurou e disse: “Adalberto, tu não tem
outra escolha. Ou tu vai para fábrica, ou não sei o que acontece... Afinal, o Arlindo tem
apenas uma filha, como é que tu vai fazer, né?”, conforme reproduz Leist ao lembrar do
episódio. Ele ficou sem saída e decidiu, então, aceitar a sugestão de Zimmermann e o convite do sogro. “Quando entrei, a Paquetá já era uma empresa grande, com quatro linhas
de produção, voltada para o mercado brasileiro, mas com a perspectiva imediata de atuar
fortemente também na exportação. Inclusive, essa questão de mercado externo era um
tema recorrente nos meus tempos de faculdade.”
A relutância inicial em trabalhar dentro da fábrica logo se transformou em completo
envolvimento com todo o processo produtivo desenvolvido pela Paquetá. Adalberto José
Leist identificou-se com a nova realidade e pouco a pouco foi assumindo maiores responsabilidades, sempre obcecado em melhorar a qualidade dos sapatos fabricados em Sapi-
84
70 ANOS PAQUETÁ
ranga. “Fui observando que, para atender às exigências do mercado externo, tínhamos
1970
Mas era impressionante, ele se comunicava com os importadores de uma maneira tal, que
que estar sempre à frente, estar sempre melhorando. Comecei a entrar cada vez mais fundo nessa questão da qualidade do nosso produto”, assegura Leist.
Ao mesmo tempo, o atual diretor-presidente passou a ter mais envolvimento em aspectos relativos à exportação, no contato com os importadores, na sua maioria oriundos
dos Estados Unidos. “Acabou que fiquei encarregado de atender os compradores americanos. E o seu Arlindo também se envolvia nisso, e olha que ele não falava nada de inglês.
passavam o dia inteiro conversando, sem que um falasse a língua do outro. E se entendiam muito bem. Foi mais um aprendizado que tive com meu sogro”, explica o dirigente.
A esposa de Adalberto, Iara, também considera emblemáticos episódios como o descrito por seu marido. “Meu pai sofria discriminação de alguns, que o consideravam um
colono e também por não ter muitos estudos. Ele tinha até o terceiro ano primário. Mas
acho que tudo isso serviu como um desafio e ele acabou construindo uma trajetória de
grande respeitabilidade. Ele negociava diretamente com os americanos mesmo sem falar
nada de inglês. Só falava português e alemão. Nem sei como negociavam, mas a verdade
é que as transações eram fechadas, e na base da confiabilidade, olho no olho, em grandes
volumes.” Naqueles tempos, a produção da Paquetá já estava perto dos 2 milhões de pares de calçados femininos por ano. As vendas dirigidas para o mercado externo eram realizadas por uma única empresa exportadora, a Topázio, para a marca Nine West. O avanço
das exportações era irrefreável. Se aquela primeira venda para o Exterior, em 1969, tinha
somado singelos US$ 2.950, apenas dois anos depois, ultrapassava o milhão de dólares. E,
em 1974, chegava a US$ 5 milhões. Ao final da década, o faturamento com o embarque de
sapatos para os Estados Unidos alcançaria US$ 10 milhões.
Enquanto se firmava como um dos principais exportadores de calçados do Rio Grande
do Sul, o grupo Paquetá vivenciava algumas mudanças internas na sua estrutura administrativa. Uma delas ocorreu em 1978, com a saída de Avelino Zimmermann da sociedade, da
85
A Paquetá evoluía nas questões
administrativas e também
procurava diversificar ao investir
em outros negócios, como
curtume e agropecuária.
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87
1970
70 ANOS PAQUETÁ
Exportação
A Paquetá fabricava
sapatos para a marca
norte-americana Nine West.
qual fazia parte desde 1953. A empresa, então, recorreu a funcionários que já contavam
com muitos anos de casa, Romeu Klein, Clóvis Kautzmann e Ênio Schein, para assumir,
respectivamente, as diretorias contábil, administrativa e financeira. O contador Romeu
Gustavo Klein, que ainda hoje, aos 71 anos, trabalha na Paquetá, entrou no grupo em 1960,
exerceu funções de escritório e na expedição de calçados, até que se transferiu para o setor de contabilidade. “Durante um ano, trabalhei na expedição e já estava quase saindo,
porque queria trabalhar em contabilidade, a minha formação. Aí, a dona Irma Saegner,
que era a contadora da empresa, veio falar comigo. Disse que iria se aposentar em breve e
perguntou se eu não gostaria de trabalhar com ela para depois assumir o setor. Claro, foi
uma realização para mim. Era tudo o que queria fazer”, relata Klein sobre seus primeiros
anos de Paquetá.
O trabalho contábil de então era todo manual. Feito nos livros escritos à mão. Neles sobressaíam a caligrafia de dona Irma, como conta Klein: “Ela tinha uma letra muito
bonita e conhecia muito todo o processo contábil. Ela me ensinou muito. Depois, tive a
oportunidade de introduzir a contabilidade mecanizada na empresa, com máquinas de
escrever e de fazer cálculos. Acompanhei toda a evolução da fábrica. Mais tarde, vieram
os sistemas operacionais mais sofisticados, com equipamentos importados. Era uma geringonça na época, mas funcionava”.
88
70 ANOS PAQUETÁ
1970
Os passos rumo à modernização também foram acompanhados por uma busca na
diversificação dos negócios. Talvez como um resgate da origem rural de seus pioneiros e
com o objetivo de criar uma nova fonte de renda, o grupo decidiu investir em agropecuária. Inicialmente, foi adquirida uma área de terra no município de Ponta Porã, em Mato
Grosso do Sul (MS), em 1978. Surgia a Fazenda Paquetá, que se voltava à criação e desenvolvimento de gado de corte, além do plantio de soja, milho, cana-de-açúcar e pastagem.
Com a dedicação de Arlindo Weber à frente da administração do novo investimento, a
atuação no ramo da agricultura expandiu-se nos anos seguintes. Entre 1975 e 1985, novas
terras foram agregadas, incluindo outras duas fazendas, a Cedro, também em Ponta Porã,
e a Dom Arlindo, em Naviraí, também no MS, que foram reunidas sob a razão social de
Agropecuária Fazenda Paquetá Ltda.
Aquela atividade exercia um fascínio especial em Arlindo Weber. Seu neto Tobias
Leist, atual vice-presidente da empresa, pôde acompanhar bem de perto a paixão do avô
pela lida campeira: “Desde os quatro anos de idade, eu ia todo os anos com ele e com a
minha avó para o Mato Grosso. Acredito que meu avô uniu o útil ao agradável. Como ele
era uma pessoa que tinha vindo da colônia, com origem no campo, ele gostava muito das
fazendas. Funcionavam como um oxigênio para a cabeça dele. Se tinha um problema na
fábrica, ele dizia: ‘Vou para as fazendas desestressar, relaxar, oxigenar’. Aí, ele voltava,
reassumia na fábrica e tomava suas decisões, fazia as coisas acontecerem”.
Em paralelo ao negócio agropecuário, foi nos anos 1970 que a Paquetá também decidiu
investir no setor de curtume, do qual sempre dependeu para adquirir matéria-prima para
sua atividade fabril. A primeira iniciativa neste sentido foi constituir uma parceria comercial com duas empresas, a Real Couros, de Novo Hamburgo, e a Finilux, com sede em Estância Velha. Posteriormente, o grupo adquiriu as empresas parceiras, surgindo o Curtume
Paquetá. O objetivo primordial dessa medida era garantir melhor qualidade e controle de
abastecimento do couro, na medida em que a produção de calçados aumentava significativamente frente à demanda das exportações e às exigências dos clientes externos.
89
No setor industrial, a Paquetá abriu
unidades em Guaporé e Nova Petrópolis,
enquanto o varejo se expandia na Região
Metropolitana, como a loja em Canoas.
Ao assumir a administração
do curtume, nos anos seguintes,
a Paquetá buscou aperfeiçoar
suas ações de responsabilidade
ambiental, procurando minimizar os efeitos desse tipo de indústria no meio ambiente. Ocor-
reram constantes investimentos em novas tecnologias antipoluição. Entre as medidas
adotadas, houve a implantação da Estação de Tratamento de Efluentes, com capacidade
para tratar 990 m³ por dia. Além disso, o treinamento das equipes que atuavam nesse segmento tornou-se essencial para atingir um contínuo aprimoramento no processo produtivo. Tais iniciativas, em meio a outras, possibilitaram com o tempo que o Curtume Paquetá
viesse a receber a certificação ISO 9001:2000. O reconhecimento foi fruto do compromisso
social que a empresa sempre procurou adotar na sua relação com o meio ambiente, tratando a questão com seriedade e ética.
A convicção com que a Paquetá investia na sua atualização industrial, no aprimoramento de seus profissionais, na expansão das vendas para o Exterior e na diversificação
de suas atividades se refletia paulatinamente nos investimentos no segmento de varejo.
Pouco a pouco, aumentava o número de Lojas Paquetá. No começo dos anos 70, a rede
era formada por apenas cinco lojas, todas em Porto Alegre. Ainda assim, os diretores da
empresa tinham a visão de que o varejo poderia vir a ser uma divisão essencial para o fu-
90
70 ANOS PAQUETÁ
turo dos negócios do grupo. E o crescimento do número de pontos de venda foi ocorrendo.
Os processos então utilizados nas operações das lojas ainda eram bastante trabalhosos,
especialmente se comparados com a realidade informatizada dos dias atuais. Por exemplo, o sistema de controle de cadastro dos clientes se dava por intermédio de fichas, preenchidas manualmente. Da mesma forma, era feito o controle do estoque. Cada vez que
houvesse a venda de um par de sapatos, a baixa precisava ser escrita à mão na ficha, espe-
1970
cificando o produto, a referência, a cor e o número, para no final de mês se feito o balanço.
Tudo a exigir uma equipe de funcionários numerosa e bem treinada.
Mas as dificuldades tornavam-se desafios, tanto que no final da década já chegava
a mais de uma dezena o número de Lojas Paquetá, com localizações na Capital e na Região Metropolitana. Em 1978, ainda comandado pelo sócio Remy Strassburger, o varejo
deu mais um passo rumo ao futuro e criou a marca Paquetá Esportes, que inicialmente
era apenas um setor dentro de uma loja comum da Paquetá e depois se tornaria um segmento importante para a empresa. A expansão definitiva do varejo aconteceria nos anos
seguintes, com a multiplicação de estabelecimentos em outros estados e a aquisição de
redes até então suas concorrentes.
De outra parte, ancorado no crescimento exponencial das exportações, o grupo empresarial haveria de expandir sua atuação no setor industrial, com a abertura de novas
unidades fabris, o que já se configurava em 1976, com a abertura da unidade de Nova
Petrópolis e, um ano depois, com a construção de uma fábrica no município gaúcho de
Guaporé. No final da década, a indústria representava 91% do faturamento da Paquetá,
do qual 86% vinha das vendas externas e 5% do mercado interno. O setor de varejo tinha
participação de 8%, e as atividades agropecuárias, de 1%. É emblemática a predominância
exercida pela exportação naqueles anos, especialmente se comparada com os números
de 1965, quando nada menos do que 95% do faturamento da empresa era gerado pelas
vendas internas.
91
AOS 40 ANOS,
MAIS DE SETE MIL
COLABORADORES SÃO A
ALMA DOS NEGÓCIOS
QUE SE EXPANDEM.
NOVOS EMPREENDIMENTOS
SÃO INCORPORADOS
AO GRUPO.
92
1980
1980
93
70 ANOS PAQUETÁ
94
A unidade fabril e sede da Paquetá
tornou-se um dos símbolos das atividades
econômicas desenvolvidas em Sapiranga.
70 ANOS PAQUETÁ
1980
E
nquanto a indústria calçadista brasileira ingressava na década de 1980 sob os
auspícios de uma expansão sem precedentes, puxada pela expressiva participação das exportações, o mundo e o Brasil passavam por momentos que prenunciavam importantes mudanças no rumo da História. No plano internacional, via-se
a queda do Muro de Berlim e a decadência da então poderosa União Soviética, conduzindo as relações entre as nações do Ocidente e do Oriente para um período de distensão. O
computador tornava-se, pouco a pouco, um elemento essencial no dia a dia das empresas
e das pessoas. Por aqui, o regime militar mostrava-se desgastado e cada vez mais distanciado dos anseios da sociedade brasileira. A campanha das Diretas Já e a posterior eleição presidencial vencida por Tancredo Neves no Colégio Eleitoral determinariam o fim do
longo período de 20 anos sob o jugo de um poder ditatorial. Já no âmbito econômico, o
ambiente interno estava bastante conturbado, com uma inflação avassaladora que determinou a edição do Plano Cruzado, em 1986, no governo de José Sarney, que assumira a
presidência com a morte de Tancredo Neves, que nem chegou a tomar posse.
A conjuntura brasileira, no entanto, ainda não afetava o desempenho do complexo coureiro-calçadista do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul. Justamente nos
anos 1980 é que se consolidaria o maior polo exportador de calçados do Brasil e um dos
mais importantes no mundo. As exportações pularam de meros 20 mil pares no começo
da década de 1970 para mais de 15 milhões de pares ao longo dos anos 80. Desse total,
o principal mercado eram os Estados Unidos, que representavam entre 70% e 80% em
valores monetários e cerca de 65% em termos de volume dos sapatos exportados. Entre
as tantas consequências dessa realidade, estava o crescimento dos demais setores que
formam a cadeia produtiva dos calçados, destacando-se curtumes, fabricantes de máquinas, equipamentos e componentes, agentes de exportação, prestadores de serviços,
fabricantes de borrachas e plásticos e outros componentes.
Consolidavam-se, também, as entidades que congregam empresas e técnicos do
setor, como a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a Asso-
95
ciação das Indústrias de Componentes para Calçados (Assintecal), a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, a Associação Brasileira dos Estilistas
de Calçados e Afins (ABECA) e a Associação Brasileira dos Exportadores de Calçados e
Afins (Abaex), entre outros. Além dessas instituições, a realização da Feira Nacional do
Calçado (Fenac) e da Feira Internacional de Couros, Produtos Químicos, Componentes,
Equipamentos e Máquinas para Calçados e Curtumes (Fimec) já era uma realidade estabelecida junto ao setor.
O grupo Paquetá ocupava um espaço de destaque nesse contexto e se adequava
ao que o momento estava requerendo. Com a forte demanda das exportações, praticamente deixou de atender ao mercado interno ao longo dos anos 1980. O fornecimento
de sapatos a clientes brasileiros passou a ser mínimo, representando tão somente cerca
de 2% no faturamento da empresa. O volume de vendas, especialmente para o mercado
norte-americano, trazia resultados mais significativos, ainda que fossem feitas por intermédio de agentes. Assim, o atendimento do mercado interno tornava-se pouco interessante, tanto financeira quanto operacionalmente.
O atual diretor-presidente, Adalberto José Leist, recorda que a ideia concebida por
Arlindo Weber de reduzir drasticamente as vendas dirigidas ao varejo nacional pegou a
todos de surpresa. “Além das questões de produção, o seu Arlindo cuidava diretamente
das relações com o mercado interno. Então, um dia, nos primeiros anos da década, ele
me chamou e disse: ‘Olha, eu acho que nós vamos parar com o mercado brasileiro’. Foi
um choque, para mim e para todo mundo. Mas mudamos e passamos a cuidar quase que
só da exportação”, conta o dirigente.
E os números exibidos pela contabilidade da época realmente eram robustos e
davam razão a Arlindo Weber na sua determinação de direcionar as operações da Paquetá para o mercado externo. Segundo os apontamentos feitos à mão pelo contador
Romeu Klein, em 1982, as exportações resultaram num faturamento de US$ 27 milhões. Apenas três anos depois, já alcançavam US$ 41 milhões. O ápice dessa curva de
96
70 ANOS PAQUETÁ
crescimento deu-se em 1988, com
1980
para US$ 57 milhões. Esse desem-
as vendas para o Exterior trazendo divisas na ordem de US$ 57 milhões. Ou seja, em 20 anos, as exportações da Paquetá saltaram de
forma astronômica, dos singelos
US$ 2.950 no final dos anos 1960
penho, que já se delineava desde
meados dos anos 1970, justificava
plenamente a iniciativa da FedeReconhecimento
Arlindo Weber recebeu,
em 1985, o Prêmio Mérito
Industrial, concedido
pela Fiergs.
ração das Indústrias do Estado do
Rio Grande do Sul (Fiergs), que em
1981 escolheu Arlindo Weber como
um dos agraciados com o Prêmio
Mérito Industrial, ao lado do empresário do setor metalúrgico Jor-
ge Gerdau Johannpeter. Criado em 1971, é o prêmio mais prestigiado no meio industrial, sendo concedido a cada dois anos
aos empreendedores que se destacam por suas marcantes
atuações na comunidade e no setor em que atuam.
O processo de crescimento acelerado da Paquetá, assim como de outras indústrias
de calçados da região, teve seus reflexos na cidade de Sapiranga. Sua população continuou a aumentar, com a chegada de um contingente expressivo de famílias inteiras
em busca de emprego. A urbanização manteve-se acelerada, evidenciando o progresso
resultante do momento econômico vivido pelo setor coureiro-calçadista. Mas, também
nessa época, um outro fenômeno se verificou no Rio Grande do Sul. Devido ao aumento
97
exponencial no volume de produção para atender à demanda de venda para o mercado
externo, as empresas de toda a cadeia produtiva do setor se viram diante da necessidade de agregar mais pessoal e aumentar o espaço de suas instalações para dar conta dos
pedidos vindos do Exterior. Com isso, uma das alternativas escolhidas foi a abertura
de novas unidades fabris em outros locais além do Vale do Rio dos Sinos. Houve uma
expansão especialmente para municípios das regiões da Encosta Inferior da Serra, Vale
do Caí e Vale do Taquari, nos quais predominava uma economia baseada na agricultura
familiar e a industrialização recém se iniciava.
A Paquetá, que, na segunda medade dos anos 1970, que já havia expandido suas
operações com abertura de filiais nas cidades serranas de Nova Petrópolis e Guaporé,
tornou-se uma das protagonistas do novo cenário em que se situava a indústria calçadista. Em 1983, foram abertas unidades em São José do Hortêncio (Vale do Caí) e Teutônia (Vale do Taquari). Seguiram-se depois as novas instalações localizadas em Estrela,
Encantado e Muçum (Vale do Taquari). Também tiveram filiais da Paquetá cidades como
Serafina Corrêa, Nova Prata (no distrito de São Jorge) e Anta Gorda. Nesses locais, geralmente, eram instalados setores específicos da produção.
Tamanho crescimento espacial se justificava pelos números eloquentes apresentados pelas atividades da empresa na época, tanto na produção quanto em relação
aos colaboradores. Por volta de 1985, o grupo era responsável pela fabricação de qua-
98
se 5 milhões de pares de sapatos (400 mil por
mês) e empregava cerca de 8 mil pessoas. Em apenas 10 anos, a Paquetá ampliara seu quadro de
funcionários contratados em mais de 500%. Ao
longo dos anos 80, os negócios de exportação do
grupo ainda se concretizavam através de um único agente, a Topázio. E, entre as marcas mundiais
para as quais a Paquetá produzia sapatos femini-
Para atender à crescente demanda
externa por seus produtos, a
Paquetá instalou unidades
industriais em municípios gaúchos
como Teutônia, Encantado,
Estrela, São José do Hortêncio
e Muçum (acima, da esq. p/
dir.). Com isso, propiciou novas
oportunidades de trabalho para
as populações locais.
nos, estavam Nine West e Enzo Angiolini.
O atual gestor da área de calçados esportivos, Elton Vilanova, começou a trabalhar no grupo precisamente nesse contexto de diversificação das unidades fabris de uma mesma
empresa. Natural de Teutônia, Vilanova, recém formado como técnico pela Escola do
Calçado de Novo Hamburgo, empregou-se em 1986 na fábrica instalada em sua cidade.
“Entrei na filial da minha cidade natal como coordenador do setor que cuidava da forração do salto para mandar para a matriz. Lá, fazíamos apenas uma parte do sapato. O
objetivo da empresa era descentralizar a produção e ganhar em produtividade. Não se
fazia a costura, por exemplo, porque a costura era mais complexa. Em fábricas como a
de Teutônia, se começava com pequenas coisas, para formar uma mão de obra de qua-
99
lidade aos poucos. Eu era novo, tinha 22 para 23 anos. Fiquei nessa função bastante
tempo, até 1997”, recorda Elton Vilanova.
Quem também teve a oportunidade de ingressar na Paquetá através de emprego
numa das filiais foi Cleomar Chicchelero, atual gerente industrial para exportação. Natural de Arvorezinha, mudou-se ainda criança para Guaporé e lá começou na unidade
local em 1980, aos 17 anos. Desde então, atuou em diversas frentes operacionais, em diferentes locais, sendo hoje o responsável por estabelecer e coordenar os laços que unem
a matriz em Sapiranga e a fábrica situada na República Dominicana. “Saí da zona rural,
minha família trabalhava na agricultura. A minha primeira função na fábrica de Guaporé
foi como auxiliar de serviços gerais. Na época, aquela unidade fazia apenas uma parte
do sapato: o cabedal. Depois de um tempo, foi mudado o sistema de produção, com
a utilização de esteiras para fazer a taloneira (palmilha interna). Antes, num grupo de
nove pessoas, fazíamos 600 pares de taloneira por dia. Com o uso da esteira, nós passamos a produzir mais de 2 mil pares diariamente”, lembra Chicchelero.
A trajetória de Cleomar Chicchelero na Paquetá se confunde com aquele período
de crescimento incessante. De simples auxiliar, recebeu novas oportunidades em pouco
tempo. Aprendeu bastante sobre as diversas etapas na fabricação de calçados. E, de
aprendiz, virou instrutor, depois de uma temporada em Sapiranga. “Eu tinha intenção
de voltar para Guaporé, mas o pessoal da diretoria me procurou e me disse: ‘Agora tu sabes preparar, sabes cortar, fazer a engenharia, então precisamos que aprendas o modelo
e ensines nas filiais’. Então, eu aprendia o modelo, saía de manhã com o caminhão que
transportava a matéria-prima, ia até Nova Petrópolis ou Guaporé, para ensinar as pessoas de lá. Acompanhava o início da produção e voltava. No dia seguinte, ia novamente
para ver como é que estava o andamento dos trabalhos. Depois desse período, ajudei a
abrir algumas outras filiais no Rio Grande do Sul”, explica Chicchelero sobre as múltiplas
funções que exerceu na empresa. Ao falar de sua experiência, não deixa de acrescentar
que seu irmão mais moço, Vanderlei, que trabalha atualmente como gestor no setor de
100
70 ANOS PAQUETÁ
1980
A construção e a abertura da loja na esquina da
Av. Borges de Medeiros com Rua José Montaury, no
centro da Capital, tornaram ainda mais emblemático
o crescimento da Paquetá Varejo nos anos 1980.
101
private labels (marcas de exportação), também teve uma carreira na Paquetá, começando na mesma filial de Guaporé, em 1982.
Naquela época, além de gente entendida em sapatos, a empresa também precisava de profissionais com outras formações. Foram os casos do arquiteto Ingo Schwinn,
atual diretor da Colina Urbanismo, e do contabilista Flávio Scherer, gerente financeiro
que ficou mais tempo no cargo, de 1985 a 2010. Schwinn teve sob sua responsabilidade a construção de alguns dos prédios onde se instalavam as filiais de outras cidades.
“Ao entrar, pude concluir a obra em Nova Petrópolis, depois fizemos uma empreitada
grande em Teutônia e em São José do Hortêncio, entre outras. Também na matriz, em
Sapiranga, conduzi algumas ampliações e a construção de novos prédios. Depois, com a
expansão do varejo, fizemos a loja da Paquetá da Avenida Borges de Medeiros, em Porto
Alegre, além de erguer outros locais na Capital e em cidades vizinhas. Era tudo muito
intenso naquele tempo. A Paquetá Calçados era a empresa majoritária, e a Paquetá Empreendimentos fazia as construções”, relata Ingo Schwinn.
Flávio Scherer, por sua vez, trabalhava no antigo Banco Sulbrasileiro, em Sapiranga, antes de se tornar funcionário da empresa, à qual chegou aos 31 anos, em 1985, já
para assumir a função de primeiro gerente financeiro da Paquetá. “Não havia ninguém
exercendo esse cargo específico. Era o diretor Ênio Schein quem mexia com os números,
montava tudo, os fluxos financeiros, aquela coisa toda. Ele negociava com o banco, fazia
as operações de câmbio, as operações de cobranças antigas. A estrutura era bem mais
enxuta naquela época, apesar da complexidade do negócio”, ressalta Scherer.
O ex-gerente também recorda que aqueles tempos ainda estavam distantes do futuro que viria com o acesso à informática: “Era tudo na maquininha de calcular ou na
máquina de escrever. Trabalhávamos mesmo com muito papel. Era um terror o que se
tinha de manusear. E, como lidávamos com clientes do Exterior, era complicado. O telefone era precário, dependíamos do telex. Depois, chegou o fax, um avanço importante
para as condições da época”. Na condição de gestor financeiro, Flávio Scherer também
102
70 ANOS PAQUETÁ
1980
Paquetá 40 anos
Os números de 1985
7.750
colaboradores
400 mil
pares por mês
viveu situações desafiadoras, mais especificamente na metade final da década de 80,
quando a economia brasileira passou por uma fase de turbulência, com a sucessão de
pacotes econômicos adotados pelo governo federal na tentativa de controlar a inflação
e estabilizar a moeda nacional. “Primeiro, veio o Plano Cruzado, em 86, que tinha aquelas chamadas ‘tablitas’, para calcular a deflação nas contas a pagar. Tínhamos de ir nos
adaptando. Depois veio o Plano Verão, o Plano Bresser e o Plano Collor... Bom, esse foi
o mais terrível, mas já na década seguinte”, observa Scherer, que igualmente testemunhou situações desafiadoras que a empresa enfrentou em função da instabilidade na
política econômica do país. “Aquelas oscilações do mercado trouxeram preocupações,
foram momentos muito marcantes aqui na cidade. Lembro da greve que houve aqui em
1986. Durou sete dias. Nunca a cidade tinha visto um movimento igual, mas também foi
um aprendizado”, complementa o ex-gerente.
Na mesma época, com as exportações ainda em alta, a Paquetá procurava estar
atenta às demandas e exigências do mercado. Esse posicionamento levou à decisão de
firmar uma sociedade com a empresa Concórdia Máquinas, que tinha como proprietário
103
Hugo Schneider. Ancorado no fato de Schneider ser um reconhecido especialista na área
de máquinas para calçados, o grupo buscava o desenvolvimento de máquinas cada vez
mais modernas e que pudessem melhorar a eficiência da fábrica, além de garantir a tão
desejada qualidade dos produtos.
Em meio a esse cenário, a Paquetá buscava sempre evoluir e se posicionar como
vanguarda nas relações com seus colaboradores. Um passo importante ocorreu em
1987, quando a área de recursos humanos iniciou o desenvolvimento de ações de
treinamento operacional voltado aos funcionários da empresa, com a estruturação
dos chamados “setores-escolas”. Cada etapa do processo produtivo era atendida separadamente, num sistema de aprendizado direcionado. Também nesse período, o
grupo procurou aperfeiçoar e dar melhor estrutura aos setores de segurança e medicina do trabalho, atuando mais fortemente de forma preventiva. Ao mesmo tempo,
o setor de RH foi um dos primeiros a investir na informatização, procurando agilizar
as demandas na gestão de pessoal. Consolidava-se aí uma prática no relacionamento
com os empregados, que os pioneiros da Paquetá perseguiram desde os primórdios
do empreendimento. Cinco princípios, estabelecidos informalmente por Arlindo Weber ao longo dos anos, até hoje servem como norte na política de recursos humanos
da empresa: 1. Ser sincero; 2. Escutar as pessoas; 3. Dar respostas às demandas; 4.
Ser objetivo; 5. Ser franco.
A produção aumentava, exigindo mais investimentos em máquinas, em tecnologia,
em processos e na contratação de pessoas. Ao mesmo tempo em que a inserção dos
recursos humanos no mundo dos computadores se realizava, a área industrial seria contemplada com um avanço tecnológico que não só trouxe vantagens em aspectos de produtividade, como ainda ajudou a melhorar as condições de trabalho. Em 1988, deu-se o
início da utilização do sistema CAD/CAM na área de modelagem de calçados. Passava-se
da prática artística manual para a prática informatizada. Com o uso dessa ferramenta
informatizada, foi possível dar maior rapidez ao processo de criação e aprovação de um
104
70 ANOS PAQUETÁ
1980
As novas tecnologias,
a expansão do varejo e
o aumento no número
de colaboradores são
marcas da empresa na
década de 1980.
105
modelo. No processo manual, levava-se de dois a três meses entre a criação até a aprovação de determinadas modelagens. Com a nova tecnologia, o prazo diminuiu para até
uma semana.
Também nessa época, começaram a surgir os primeiros equipamentos com componentes microeletrônicos, desenvolvidos pelos fabricantes de máquinas para calçados.
Gradativamente, a Paquetá se posicionou de forma a acompanhar a acelerada transformação nos meios de produção, sempre atenta em seguir o caminho da modernização,
tanto nos processos tecnológicos da produção quanto na adequação espacial de suas
instalações fabris. Faz parte da história da Paquetá a busca por inovações, tanto que
seus gestores desde sempre participam de feiras pelo mundo afora e fazem visitas a
indústrias dedicadas ao setor de máquinas e equipamentos.
Ainda que o braço industrial da empresa estivesse em franco desenvolvimento ao
longo dos anos 1980, Adalberto José Leist recorda que muitas vezes teve conversas com
o sogro, Arlindo Weber, nas quais o assunto era o varejo, por ser considerado um segmento que poderia se tornar decisivo para o futuro do grupo Paquetá. Depois de um
período mais cauteloso em termos de expansão na década anterior, de fato chegava o
tempo em que o aumento dos pontos de venda de calçados multimarcas deveria ser
acelerado. Em 1985, a rede de lojas alcançava o número de 14 estabelecimentos. O varejo
já alcançava aproximadamente 12% do faturamento total do grupo.
O sócio Remy Strassburger continuava como principal executivo da área comercial
das lojas multimarcas. Dali só se afastou em 1990, quando preferiu sair da empresa e dar
lugar ao seu filho Jorge. Um pouco antes, porém, em 1985, Strassburger passou a contar,
a seu lado, com a presença e ajuda de outro executivo, Lioveral Bacher, casado com Iara,
filha do fundador Arlindo Müller, e que tinha larga experiência no ramo depois de ter
trabalhado por 18 anos em outra empresa do setor calçadista, o grupo Lígia, que hoje
não mais existe. “Eu era diretor comercial naquela empresa, na qual, inclusive, meu pai
tinha alguma participação societária. Mas, depois de tanto tempo, cheguei à conclusão
106
70 ANOS PAQUETÁ
1980
Visual
A rede Paquetá
se modernizou nos
anos 1980, com lojas
mais atraentes
e confortáveis para
os clientes.
de que deveria sair, ir atrás de novos desafios. Isso foi em 1983. Em seguida, recebi o convite para trabalhar na Starsax, de Taquara”, rememora Bacher.
Ao saber que o genro de Arlindo Müller estaria disponível no mercado e prestes a
ingressar numa empresa concorrente, Remy Strassburger tentou dissuadi-lo da ideia,
conforme a curiosa história contada pelo próprio Bacher. “Num dia, durante a Fenac,
quando eu ia acertar com a Starsax, o seu Remy me chamou e perguntou que história
era aquela. Daí, me pediu para acompanhá-lo, me colocou no seu Galaxy e seguiu até a
Paquetá, em Sapiranga. Ele disse que o seu Arlindo (Weber) queria conversar. Chegamos
lá e me sentei frente a frente com o seu Arlindo em sua sala, quando então ele me falou: ‘Sabes, tu tens que vir trabalhar aqui, porque teu sogro é sócio. Além disso, o Remy
está precisando de alguém para cuidar do varejo ao lado dele. Só não queríamos te tirar,
antes, da Lígia em respeito ao seu Arno (Kuhsler, sócio majoritário e fundador da Lígia)’.
Então, respondi que ficava muito contente de ele ter se lembrado do meu nome, mas,
107
como já tinha dado a minha palavra para o pessoal da Starsax, não tinha como voltar
atrás. O seu Arlindo me olhou, levantou e falou assim: ‘Agora mesmo que tu vais vir para
a Paquetá um dia. Faz teu trabalho na Starsax e, quando o nosso escritório das lojas estiver pronto, aí tu vens para cá, para trabalhar conosco já como diretor’. Então, ficamos
apalavrados.” Lioveral Bacher, como prometido, foi trabalhar na Calçados Starsax, onde
ficou por um apenas um ano. No começo de 1985, passaria a ser o novo diretor comercial do segmento de varejo, no qual foi um dos principais responsáveis, ao lado de Jorge
Strassburger, pelo extraordinário crescimento que a rede de lojas multimarcas teria nos
anos seguintes. Os dois lideraram o processo de incorporação de novas empresas, não
só no Rio Grande do Sul, como em outros estados. Hoje, esse setor ostenta números
exuberantes, com mais de uma centena de pontos de venda, sob as bandeiras Paquetá,
Paquetá Esportes, Gaston e Esposende.
Desde sempre, como quando inovou ao colocar o preço junto ao produto na vitrine
na primeira loja em Porto Alegre, a Paquetá se esmerou em oferecer em seus estabelecimentos um atendimento que fosse o principal diferencial em relação à concorrência,
estimulando a prática de treinamentos para seus funcionários, uma cultura que permanece mais forte do que nunca nos dias atuais. Seus dirigentes costumavam dizer que, no
varejo calçadista, o produto a ser vendido é praticamente o mesmo − artigos femininos,
masculinos e infantis − entre os concorrentes, assim como o preço. Por isso, o atendimento é que fará a diferença na conquista de clientes.
Tais princípios fizeram parte de toda a vida profissional de Aldenio de Quevedo Asselmann, o gerente que há mais tempo está no comando de uma mesma loja. Ele, que
entrou na empresa em 1983, como vendedor na loja da Rua da Praia, na Capital, aos 30
anos, hoje continua como gerente da loja de Gravataí, a qual assumiu em 1984, por convite de Remy Strassburger. “Sou natural de São Pedro do Sul, mas já morava em Porto
Alegre desde 1974. Lá no interior, era agricultor, vim cá para trabalhar no comércio e meu
primeiro emprego foi nas Lojas Riachuelo, onde fiquei por seis anos”, rememora.
108
70 ANOS PAQUETÁ
Quevedo gosta de frisar que é do tempo em que todo o serviço nas lojas era manual,
com fichas feitas à mão e todas as informações nelas lançadas também escritas à mão.
“Naquela época, a gente fechava a loja no horário das 19h e depois tinha que pegar toda
a documentação para atualizar, ir ao escritório central e tudo se estendia. Hoje não. A
informática revolucionou todos os processos. Inclusive, também nesse aspecto sempre
tivemos a estrutura necessária, com o apoio da diretoria na modernização das lojas.” Ele
1980
também explica que no aspecto visual os pontos de venda igualmente evoluíram e cita
como exemplo o fato de que nos anos em que começou na Paquetá não havia profissionais responsáveis pelas vitrines, os chamados vitrinistas. “De uns tempos para cá, isso
mudou. Agora, temos os VMs, que é o pessoal responsável pelo visual das lojas, por todo o
merchandising dos produtos expostos, o que só nos favorece.”
Quem também pôde vivenciar toda a evolução experimentada pelo varejo foi Neuri
Paulo Costa Daniel, um dos vendedores mais antigos ainda em atividade. Ele ingressou
na empresa em 1986, aos 25 anos, depois de se transferir de Santa Maria para Porto
Alegre. Na Capital, começou a trabalhar numa loja localizada na Avenida Azenha, próximo à Avenida Carlos Barbosa. Depois de passar por outros pontos de venda, acabou se
fixando no estabelecimento da Avenida Assis Brasil, sob a bandeira Gaston. Com a sua
experiência de atendimento ao público, Daniel analisa uma das principais mudanças
ocorridas ao longo desse tempo: “Hoje em dia, os clientes conhecem melhor a mercadoria, são mais exigentes. Já chegam na loja sabendo o que desejam. Antigamente, não era
assim. Acredito que nisso existe a influência da internet, onde o cliente pode pesquisar
antes de ir até a loja, isso se não comprar direto pela via online”.
Ele também avalia a questão relacionada às tendências da moda, que estão sempre
mudando. “Algumas vão e voltam. O chamado salto Anabela, por exemplo, já foi moda,
saiu de moda e de vez em quando volta a ser moda. Mulher, especialmente, muda muito,
o homem já muda bem menos. Na linha masculina, o sapato é quase sempre o mesmo,
alterando apenas alguns detalhes. Mas a linha feminina está sempre com novidades.”
109
Daniel ainda acrescenta em sua análise outras características da clientela sobre a qual aprendeu muito depois
de quase 30 anos de atendimento no varejo: “Outra coisa diferente é o modo como as mulheres se comportam
na loja. A mulher gosta de pegar o sapato, não é só olhar.
Gosta de sentir o calçado”.
Conhecer profundamente a atividade calçadista, seja
no âmbito industrial, seja no varejista, também é um dos
quesitos que movem a presença na empresa de familiares
integrantes do núcleo societário da Paquetá. Foi por convicção nessa orientação que o vice-presidente do grupo,
Tobias Leist, tornou-se funcionário em 1989, ao completar
16 anos de idade. Na mesma época, os filhos de Alcido Weber, Adalberto e Lademir, igualmente começaram a trabalhar na companhia, atuando nos setores industrial e de
desenvolvimento de produtos, respectivamente.
Neto do pioneiro Arlindo Weber, Tobias exalta o fato
de que se criou praticamente dentro da fábrica. “A Paquetá sempre foi a minha casa, principalmente porque a
conheci através do meu avô, que a comandou por muitos
anos. Por exemplo, desde os meus 12 anos, me levava junto com ele, nos sábados pela manhã, para tomar um café
com um ou outro fornecedor que era parceiro da emprePadrão
A qualidade sempre
foi uma característica
dos sapatos femininos
fabricados pela Paquetá.
110
sa. Desde lá, começou a me mostrar como me comportar
perante a vida e o trabalho”, destaca Tobias.
Sua trajetória na empresa, até chegar ao cargo que
ocupa, foi recheada de experiências. “Passei por pratica-
70 ANOS PAQUETÁ
mente todas as áreas. Meu pai (Adalberto) sempre dizia que eu precisava aprender a
fazer tudo. Fiquei três anos no chão de fábrica e não era chefe, era, sim, cobrado pelo
gestor responsável pelo setor. Passei por todos os processos de montagem, cuidei de
modelagem, atendia cliente na parte técnica. Depois, comecei a cuidar de um setor que
se chamava tapete de trança, onde fazíamos sapato trançado. Fiz estágio no curtume
que a Paquetá mantinha, mexendo em fulão, virando e medindo couro, conhecendo a
1980
classificação de couro. Fui à Alemanha para fazer esse tipo de trabalho com um fornecedor. Também trabalhei na fábrica de fôrmas Kuntz. Aprendi a montar fôrma, lixar, tirar
fôrma de forno... E ainda estive numa filial da Paquetá, aprendendo a fazer palmilhas de
sapato. Enfim, passei por todos os processos que se possa imaginar numa fábrica de calçados”, conta Tobias Leist, que, antes de assumir a vice-presidência, ocupou o posto de
diretor industrial por vários anos, quando teve, inclusive, a oportunidade de implementar diferentes projetos de qualidade, entres eles o Programa Seis Sigma de Melhoria
Continua e o Programa Manutenção Preventiva e TPM (sigla em inglês de Manutenção
Produtiva Total). Também lançou o Programa D’Olho, precursor do Ola, que preconiza
ações de organização e limpeza no local de trabalho. Medidas assim vieram a render diversas certificações de qualidade para a empresa, como o ISO 9001:2008 e o certificado
SATRA de Laboratórios de Ensaios Físicos, entre outros.
Assim, sua presença na empresa tornou-se exemplo de um dos objetivos traçados
quando da criação das holdings familiares 10 anos antes, o de tratar os assuntos sucessórios sob a forma mais profissional possível, em vez de ser um processo motivado apenas por indicação ou parentesco. Os dirigentes de então estavam visualizando o futuro,
mesmo sem saber que logo na virada dos anos 1990 uma fatalidade haveria de afastar
da empresa sua principal liderança desde os princípios da pequena fábrica que funcionava na antiga Rua São Jacó.
111
SÃO 50 ANOS DE VIDA E
MUITAS CONQUISTAS.
UM TEMPO DE EXPANSÃO
DO VAREJO E DE
SURGIMENTO DO
SEGMENTO ESPORTIVO
E DE NOVAS MARCAS
PRÓPRIAS.
112
1990
1990
113
70 ANOS PAQUETÁ
A sede e o parque fabril, em Sapiranga, com o
Morro Ferrabrás ao fundo, formam um cenário
representativo da pujança alcançada pela Paquetá.
114
70 ANOS PAQUETÁ
1990
U
m genuíno laço de amizade unia Arlindo Weber, principal dirigente da Paquetá até o começo da década de 1990, e Sady Schmidt, sócio da fábrica de calçados Schmidt Irmãos, de Campo Bom. Embora concorrentes na indústria calçadista, aconselhavam-se mutuamente, inclusive sobre negócios, viajavam para
visitar clientes e fornecedores comuns. Entre os interesses que os uniam, estava também
o agronegócio, motivo de muitas idas em conjunto para a Fazenda Paquetá, no Mato
Grosso do Sul. Outro traço que dividiam era o desconforto de andar de avião. Tanto que,
quando a agenda permitia, preferiam percorrer de carro os mais de 1,5 mil quilômetros do
caminho de volta até o Vale do Rio dos Sinos, depois das caçadas. Por ironia do destino,
os dois amigos, que temiam acidentes aéreos, morreram num desastre automobilístico
quando retornavam do Centro-Oeste do país, em 25 de junho de 1991. Arlindo tinha 61
anos e estava no auge de sua vida de empreendedor.
A viúva, Diva Schnorr Weber, lembra com tristeza o dia em que recebeu a notícia da
morte do marido. “Recordo como se fosse agora, eu estava em casa quando recebi a notícia
da morte de Arlindo por intermédio de minha filha, Iara. Nós duas recém tínhamos retornado de Porto Alegre naquele dia, onde fomos para comprar um vestido para eu usar no casamento da Carolina, minha primeira neta. Foi mesmo muito triste. Ele estava tão bem, tinha
planos de se aposentar aos 70 anos. E sempre dizia que gostaria de morar na fazenda, em
Dourados, Mato Grosso. A vontade dele era morar lá. Mas não aconteceu. Não era para ser.”
A fatalidade deixava a Paquetá Calçados sem seu principal líder, o mentor que conduzira tão bem os negócios desde que assumiu a condição de sócio, ainda nos primeiros
anos de existência da empresa, quando nem sequer havia mudado de nome em sua razão
social. Apesar do abalo causado pela morte repentina de Arlindo Weber, o prumo não foi
perdido por aqueles que dividiam com ele a responsabilidade de dirigir o empreendimento tão bem-sucedido até então.
Ao ser conduzido para assumir a direção da empresa em substituição ao sogro, Adalberto José Leist encontrou um novo momento tanto na política quanto na economia do
115
país. O Brasil vivia uma fase de transição após a eleição direta para a Presidência da República em 1989, que havia consagrado a vitória de Fernando Collor de Mello. Em dezembro de 1991, acossado por uma série de denúncias de corrupção, o presidente teria que
renunciar ao cargo para escapar do processo de impeachment, dando lugar ao vice, Itamar
Franco. Antes disso, a inflação tinha batido recorde ao alcançar o pico de 82% ao mês, em
março de 1990, às vésperas da implantação do Plano Collor, que – entre outras medidas
polêmicas – bloqueou os depósitos da caderneta de poupança. O país teria que esperar
até julho de 1994, ano do lançamento do Plano Real, para conquistar, de fato, a estabilidade econômica. Ministro da Fazenda na época, Fernando Henrique Cardoso seria eleito
para dois mandatos presidenciais, entre 1994 e 2002.
Em meio à crise política e às oscilações da economia, a indústria calçadista brasileira sofreu na primeira metade dos anos 1990 enormes contratempos com a abertura
comercial determinada por Collor de Mello e a política cambial do Plano Real. Já sem
os incentivos fiscais e a crescente demanda do mercado externo, que haviam caracterizado a atuação do segmento nas décadas anteriores, as fábricas de calçados do Vale
do Rio dos Sinos passaram a enfrentar a concorrência dos produtos oriundos da Ásia,
principalmente da China. Sem dúvida, essa competição estava longe de ser equilibrada. Os fabricantes chineses se beneficiavam de custos bem menores, principalmente
no que se refere a tributos e mão de obra. Além disso, a situação se agravou com a valorização do real frente ao dólar, que encareceu o produto brasileiro no mercado global,
e com a elevação dos juros, que se transformaria a partir daí no principal instrumento
de controle da inflação.
“Com o decorrer dos anos 1990, pudemos logo perceber que a exportação passava a
enfrentar dificuldades. Os acertos de preços ficaram por demais difíceis de serem conseguidos com os clientes do Exterior. Também enfrentamos a morte do seu Arlindo Weber.
Era um momento de reflexão para todos e então eu fui indicado pela diretoria para assumir como presidente. Tivemos que repensar nossos projetos diante da crise. Foi uma épo-
116
70 ANOS PAQUETÁ
ca difícil. A Paquetá não era mais uma empresa pequena, assumira um porte considerável
1990
grande grupo empresarial, envolvido em ne-
e era vista pelo mercado como uma das principais empresas do setor calçadista brasileiro”, explica Adalberto Leist, ao recordar a conjuntura que precisou enfrentar ao se tornar
presidente, em 1991.
Decididamente, a Paquetá não era mais
uma empresa pequena. Ao completar 50 anos,
em 1995, ostentava indicadores dignos de um
gócios diversificados e complexos, bem distante
daquela realidade de 1945, quando se estabelecera
como fábrica e oficina de consertos de sapatos. Apesar da crise, a indústria ainda se mantinha como carrochefe entre os empreendimentos. Na época, contabilizava 18 unidades fabris, a maioria voltada para a produção do
calçado de couro. No entanto, o varejo já sobressaía como um
segmento decisivo no desempenho empresarial do grupo. Com
História
Os 50 anos foram
registrados em
publicação especial.
a incorporação da Gaston, o comércio varejista somaria 51 lojas, ao
mesmo tempo em que se expandia para outros estados, com a abertura dos primeiros
estabelecimentos em Santa Catarina. Enquanto a área industrial representava cerca de
50% do faturamento do grupo, as vendas do varejo multimarcas figuravam no patamar de
quase 40%. Os negócios se completavam com as atividades do curtume, das fazendas, do
setor imobiliário e até de uma fábrica de máquinas para calçados. Em todas as frentes, o
grupo empregava cerca de 7.800 funcionários.
No começo dos anos 1990, a Paquetá também voltara a investir fortemente no mercado interno, através da Dumond. A marca pertencia a uma indústria de jeans, que chegou
a exibir suas roupas como merchandising na novela Dancing Days, da Rede Globo, no final
dos anos 1970. Só em 1995 a Paquetá decidiu utilizá-la na produção de calçados femininos
117
Paquetá 50 anos
Os números de 1995
18
unidades fabris
51 lojas
7.800
colaboradores
de varejo
100%
capital nacional
600 mil
pares produzidos por mês
de alto valor agregado, que se destacavam pelo design inovador elaborado pela equipe
liderada por Iara Leist. A incorporação da Ebane Calçados, da qual a Paquetá já era sócia,
possibilitou a montagem da estrutura física necessária para a fabricação da nova linha de
produtos.
Iara Leist esteve à frente da Dumond logo no começo das atividades da nova marca.
Foi seu retorno à empresa depois da morte do pai. “Quando decidiram lançar a Dumond,
meu marido conseguiu trazer para trabalhar conosco o antigo dono e estilista da Calçados
Czarina, que havia cessado sua produção. Era o Gilberto Simon, que também tinha sido
meu professor de modelagem na Feevale. Foi nessa época que também decidi voltar para
trabalhar na Dumond”, lembra Iara.
Na condição de filha de um dos pioneiros da Paquetá, Iara sempre esteve envolvida,
direta ou indiretamente, com sapatos, como quando era criança e ajudava sua mãe em
118
70 ANOS PAQUETÁ
casa ou quando fez pós-graduação na Feevale, direcionada à moda, ao design e ao estilo
1990
que ter alguma atividade voltada para a moda, porque eu tinha bom gosto. Mas ele acres-
de calçados. Mas ela sabia que nem esses atributos seriam suficientes para fazer a Dumond crescer e não hesitou em aprender ainda mais: “Aprendi a fazer pesquisa de moda,
a gente viajava muito para ver as tendências de mercado, conferir como eram produzidos
artigos refinados”.
Foi nessa situação que ela recorreu às lembranças da convivência com seu pai. “Quando eu ainda estava indecisa em trabalhar na empresa, anos antes, ele dizia que eu tinha
centava: ‘Tu tens que ter um gosto não muito exclusivo. Tens que ter um gosto para abranger uma certa maioria, e não meia dúzia de gatos pingados’. Ou seja, aprendi que não
adianta ser sofisticado demais ou vanguardista demais”, ressalta Iara, ao comentar como
conseguiu forças para assumir sozinha a Dumond, depois da saída de Simon. O esforço
não foi em vão, num futuro próximo, a Dumond se consolidaria como uma das marcas
favoritas entre as mulheres que buscam um produto refinado.
Quem também participou desse processo de implantação da Dumond foi o atual
gerente de varejo das marcas próprias, Mauro Blos, que atua na empresa desde 1986,
quando ingressou para ser comprador das lojas Paquetá em Porto Alegre, contratado
por Remy Strassburger. Nos anos 1990, Blos alcançara o posto de gerente de compras do
varejo e foi quando teve a oportunidade de conviver com Iara Leist. “Com o objetivo de
pesquisar tendências, eu viajava com frequência para a Europa e para os Estados Unidos, principalmente nos circuitos Chicago-Los Angeles-Nova York e Londres-Paris-Milão.
Foi nessa época que participei de várias viagens de pesquisa em companhia da dona Iara
e mais três ou quatro pessoas envolvidas com o varejo em geral e a marca Dumond, em
particular. Eu a ajudava a fazer pesquisa de moda. Nunca fui estilista nem sei desenhar,
mas, a percepção do que pode gerar boas vendas ou do que não pode, eu sempre tive.
A sensibilidade do varejo, algo muito importante para o desenvolvimento do mercado
interno”, explica Blos.
119
Vanguarda
Os modelos da Dumond
destacam-se pela ousadia
do design desde o começo.
Durante a década de 1990, as vendas dos calçados Dumond
não ultrapassariam a marca de 10% da produção da Paquetá,
mas, na década seguinte, a porcentagem seria
bastante ampliada com a conquista de mercados importantes, como Alemanha e Rússia,
além de México e países escandinavos e bálticos. Vale lembrar que, em
1995, a Paquetá chegou a lançar outra marca própria, a Perchet, de cabedal sintético e baixo valor agregado, destinada ao consumidor de menor poder aquisitivo,
mas o projeto foi desativado para que a companhia concentrasse o foco na produção dos
calçados Dumond. Hoje, a filha mais nova de Iara, Carina, é a gerente de estilo da Dumond,
120
70 ANOS PAQUETÁ
enquanto ela, depois de passar pela diretoria de marcas,
1990
em busca de Qualidade Total para padronizar processos
ocupa o cargo de diretora corporativa.
Os novos desafios trazidos pelos anos 1990 fizeram
com que a indústria calçadista e a Paquetá, em particular,
buscassem melhorias das formas de organização do processo produtivo para reduzir custos e alcançar maior valor agregado do produto final. Foram reforçadas as ações
e melhorar o ambiente de trabalho. Nesse momento, o
engajamento dos colaboradores da empresa se mostrou,
mais uma vez, essencial para que a companhia melhorasse sua produtividade e se adaptasse às novas condições
do mercado. Paralelamente, a Paquetá iniciou programas
de qualificação de fornecedores visando ampliar a competitividade da cadeia produtiva.
Esse foi um momento que marcou ainda mais as relações que a Paquetá já mantinha com a Universidade Feevale. A atual reitora da instituição, Inajara Vargas Ramos,
constata que há longo tempo, desde o final dos anos 1960,
quando a Feevale se instalou em Novo Hamburgo, houve
um relacionamento proveitoso entre os parceiros. “Nossa
parceria se realizou principalmente através da formação
de pessoas, pois a Paquetá sempre investiu muito neste
sentido, tendo sobressaído em
meio às empresas calçadistas.
Entre as ações mais importantes, podemos destacar a rea-
Evolução
Os sapatos da Paquetá
sempre tiveram
diversidade de modelos.
121
122
Nos anos 1990, a Paquetá expandiu
suas atividades fabris para o Ceará,
com unidades em Itapajé (acima, à
esq.) e Uruburetema (acima, meio),
além de começar a atuar no segmento
esportivo, com a abertura de lojas
Paquetá Esportes (acima, à dir.).
70 ANOS PAQUETÁ
1990
O tênis da
marca Diadora
utilizado pelo
tenista e ídolo
brasileiro Guga
Kuerten.
123
lização de curso de pós-graduação in company na área de gestão empresarial e eventos
promovidos pela área das ciências sociais aplicadas, em especial na gestão, que contaram
com a parceria da Paquetá. Além disso, a empresa, que é considerada um case de sucesso,
sempre foi muito receptiva a alunos e professores durante visitas técnicas às suas instalações. Ao mesmo tempo, cabe ressaltar que vários colaboradores da Paquetá foram ou
são nossos alunos em todas as áreas, principalmente Administração, Gestão da Produção,
Design, Moda e Gestão de Recursos Humanos. Os gestores da empresa, por sua vez, também frequentam a instituição, por meio de nossos cursos de pós-graduação lato sensu”,
destaca a reitora.
Além da busca de qualificação, o contexto econômico da década determinou uma
nova realidade para a indústria calçadista. Atraídas por incentivos fiscais propiciados por
alguns governos estaduais, pela oferta de mão de obra de menor custo e pela proximidade
geográfica em relação a alguns dos principais mercados consumidores, a exemplo de Estados Unidos e Europa, as fábricas de calçados do Rio Grande do Sul iniciaram um movimento de migração rumo ao Nordeste do país. A Paquetá abriu sua primeira unidade na região
em 1997, em Itapajé, no Ceará. Na ocasião, o governo cearense ofereceu infraestrutura
básica, como terreno, instalações e comunicações, além de isenções de impostos. Por sua
vez, a Paquetá investiu em treinamento e capacitação de pessoal, além de enviar grupos
de colaboradores do Sul para o Nordeste. Dois anos depois, foi inaugurada a fábrica de
Uruburetama, também em território cearense. Esse processo migratório para outros estados se manteria na década seguinte, inclusive com a abertura de unidades fabris em outros países. Assim, apesar dos momentos de crise vividos durante os anos 1990, a Paquetá
Indústria conseguiu se adaptar à conjuntura, buscar alternativas, sempre aprimorando
seu desempenho fabril e de gestão, tanto que fecharia o decênio na condição de maior
exportadora de calçados da América Latina.
A retomada do mercado interno se associou à estratégia de ingresso no segmento de
calçados esportivos. Em 1996, a Paquetá havia adquirido os direitos de comercialização
124
70 ANOS PAQUETÁ
no Brasil dos produtos esportivos da italiana Diadora. Uma marca que se tornou bem co-
1990
dirigida ao mercado interno. Logo a seguir, entretanto, teriam início as exportações para
nhecida entre os brasileiros ao longo da década, por ser utilizada por estrelas do esporte,
como o tricampeão de Fórmula-1 Ayrton Senna, o goleiro da seleção Cláudio Taffarel e o
tenista Gustavo Kuerten, o Guga, tricampeão do Aberto de Roland Garros, na França. Nos
anos seguintes, a empresa deu novos passos no setor e buscou os conhecimentos necessários para produzir os artigos por meio do pagamento de royalties à fabricante italiana. A
produção teve início em 1999 na unidade localizada em Novo Hamburgo, a princípio 100%
a América do Sul, com embarques para Argentina, Uruguai e Paraguai. A parceria com a
Diadora daria o know-how para que a Paquetá pudesse num futuro próximo alçar outros
voos no segmento, com a produção de outras marcas igualmente conhecidas no competitivo mundo dos esportes.
Enquanto a Paquetá Indústria buscava alternativas para sair ilesa das dificuldades
impostas pela conjuntura dos anos 1990, o setor varejista mantinha firme posição em
demarcar ainda mais a consolidação da rede de lojas Paquetá. Após o falecimento de
Arlindo Weber, a empresa, entre outras decisões executivas, abandonou o modelo até
então adotado de instalar pontos de venda unicamente em imóveis próprios. A exceção
era a loja do Shopping Iguatemi, de Porto Alegre – todas as demais funcionavam em
prédios próprios, em obediência à filosofia da principal liderança da companhia. Arlindo
acreditava que, em caso de queda nas vendas em determinado local, ao menos o prédio
poderia ser aproveitado com outra ocupação ou finalidade. Contudo, o novo presidente,
Adalberto José Leist, reconsiderou essa determinação, visto que, naquele momento, a
estratégia estava engessando a expansão da rede varejista. Com a mudança de rumos,
foi possível, por exemplo, assegurar através de aluguel o último ponto ainda disponível
no Shopping Praia de Belas, inaugurado em 1992 na capital gaúcha. De acordo com Leist,
os novos rumos, tanto no âmbito da indústria quanto do varejo, puderam ser implementados graças ao apoio que recebeu de toda a diretoria da época: “Naquele momento
125
difícil, tivemos uma contribuição
decisiva de todos os companheiros de diretoria – o Clóvis (Kautzmann), o Romeu (Klein), o Alcido
(Weber) – e de tantos outros, que
de uma forma ou de outra deram
sua parcela de apoio. A credibilidade de uma empresa tem que
ser conquistada todo dia. Graças
Avanços
O cartão de crédito
próprio agiliza o
atendimento nas lojas.
a Deus, essa parceria da diretoria foi muito importante para que pudéssemos seguir adiante,
sem maiores sobressaltos”.
Na frente do varejo, outra decisão estratégica traria um
novo momento para a empresa. Em 1990, houve o lançamento
do Cartão Paquetá para oferecer novas formas de pagamento, além do crediário tradicional, e, com isso, fortalecer ainda mais o relacionamento com os clientes. O cartão lançado
naquela época seria o embrião da empresa Praticard, a ser instituída alguns anos depois.
No começo da década, o setor varejista também já tinha sido informatizado para agilizar
o processo de reposição e vendas. O projeto de automação comercial seria concluído em
1998, quando todas as lojas passaram a emitir cupons fiscais e realizar leitura de código de
barras para compras e pagamento de carnês. Naquele ano, teria início também uma ainda
incipiente venda de calçados a varejo pela internet.
Todos esses procedimentos foram decisivos para dar suporte à multiplicação de
pontos de venda pelo território brasileiro, em processo comandado por Lioveral Bacher
e Jorge Strassburger, que tinha assumido o lugar do pai, Remy, na condução do varejo.
Em 1993, a rede Paquetá atravessou, pela primeira vez, o Rio Mampituba para abrir lojas
em Joinville e Blumenau, em Santa Catarina. Cinco anos depois, fincou sua bandeira no
126
70 ANOS PAQUETÁ
Rio de Janeiro, onde foram abertos quatro locais de venda. E, em setembro de 1999, a
1990
sar um tempo na Europa. Tanto que viajei e fiquei mais de um mês por lá. Quando voltei,
inauguração da loja no Montevideo Shopping, na capital do Uruguai.
Jorge Strassburger, que atualmente atua como diretor corporativo, chegou à Paquetá
imediatamente depois de seu pai ter se afastado da empresa na qual estava desde 1964
como sócio e principal comandante do segmento varejo. “O meu pai saiu em 1990, no dia
31 de abril, e eu entrei no dia 2 de maio. Não foi uma decisão planejada. Na época, cuidava
dos negócios da família, que eram postos de gasolina, além de acalentar o desejo de paspara a minha surpresa, meu pai me disse que seu Arlindo queria conversar comigo. Vale
lembrar que o pai estava querendo sair da Paquetá, ele já apresentava problemas cardía­
cos e pretendia tocar apenas os negócios dele, nos postos de gasolina, que ele sempre
gostou. Ele até achava que iria morrer. Acabou falecendo em setembro de 2014, 24 anos
depois...”, recorda Strassburger.
Sob inspiração de Arlindo Weber, quem
fez o contato com o jovem Jorge, então com
30 anos, para ingressar na Paquetá foi Liove-
Precursor
O sócio Remy Strassburger dedicou-se,
sobretudo, a consolidar o segmento de varejo
da Paquetá, do qual foi o primeiro gestor.
ral Bacher, que desde 1985
conduzia o setor varejista ao
lado de Remy Strassburger.
“Um pouco antes de meu pai
deixar a empresa, me chamaram para uma conversa e dis-
à espera de foto do remy
strassburger
seram: ‘Olha, precisamos de
uma pessoa na área administrativa e financeira que seja
de confiança. A gente vem
acompanhando o teu traba-
127
lho nos postos de gasolina, sempre muito disciplinado, muito correto...’ Então, aceitei. E
o Lioveral me ajudou muito. Afinal, era uma experiência nova para mim. Imagina, sair da
administração de três postos de gasolina para um negócio infinitamente maior, um nível
de complexidade muito maior, com processos por mudar. Foi um grande desafio pessoal”,
destaca Strassburger.
Juntos, Jorge e Lioveral foram os condutores de uma iniciativa que representou o
grande salto para a expansão da rede de lojas da empresa: a aquisição da Gaston, em 1994.
A Paquetá e a Gaston eram concorrentes que disputavam palmo a palmo a preferência
do consumidor gaúcho. Havia, inclusive, uma espécie de “perseguição” entre as empresas
– onde uma abria um ponto, a outra logo corria para abrir também sua loja em local próximo. Ao mesmo tempo, as condições de pagamento e até preços de ambas eram bem
similares. Assim, a disputa seria decidida em favor de quem melhor atendesse o cliente.
Pois, certo dia, o proprietário da rede concorrente, Gaston Schmidt, chamou seu
amigo e concorrente Lioveral Bacher para uma conversa particular, como bem lembra
Bacher: “Logo que cheguei para o encontro, ele foi me dizendo: ‘Meu filho está doente
e não tenho quem possa tocar a empresa, estou sozinho. O negócio está muito grande,
fica difícil de administrar e está indo para trás. Antes que eu quebre, eu quero vender
a loja e acho que vocês têm condições de tocar. Para vocês, o negócio é bom’. Fiquei
atônito. Afinal, o negócio dele tinha mais ou menos o mesmo número de lojas, eram 24”.
Bacher, então, saiu de lá e foi direto conversar com Jorge Strassburger e com Adalberto
José Leist. “Conversamos bastante e decidimos encarar a oferta. Fizemos uma contraproposta para ele e chegamos a um acordo. O ato de formalização da negociação foi um
momento muito comovente, que eu presenciei. Fomos almoçar no restaurante em cima
do escritório do Gaston ali na Rua Voluntários da Pátria. Ele chamou todos os executivos e, no meio do almoço, levantou-se para comunicar que havia vendido a Gaston para
a Paquetá. Vi pessoas chorando, porque ele era tipo um paizão para seus funcionários”,
relata Bacher.
128
70 ANOS PAQUETÁ
Ao se concretizar a aquisição da rede concorrente, Strassburger assumiu a condução
do negócio, dedicando-se às questões administrativas e de processos, enquanto Bacher
cuidava das áreas de marketing e vendas. Foi um período de transição, no qual a Paquetá
buscou adaptar a nova empresa às suas diretrizes e métodos de trabalho, além de perseguir a otimização de custos. A transação representou um upgrade significativo para a
Paquetá, que praticamente dobrou a quantidade de lojas, passando de 27 para 51 pontos
1990
de comercialização de calçados. Com o avanço, em 1995, o número de funcionários da Paquetá na área do varejo chegou a mil contratados. Apesar da incorporação, optou-se pela
preservação das duas bandeiras, Gaston e Paquetá. Enquanto a primeira posicionava-se
como loja para toda a família, com foco mais popular, a outra se concentrava em produtos ligados à moda para atender um público de maior poder aquisitivo. Ali começava a
expansão inexorável do setor varejista, que em poucos anos assumiria posição relevante
no contexto de negócios do grupo Paquetá. A constituição de duas
redes, a abertura, de tempos em tempos, de novas lojas e a compra
de uma outra rede de lojas na Região Nordeste nos anos 2000 fizeram com que, nos dias de hoje, o segmento varejo seja responsável
por um faturamento anual que já alcança a casa de R$ 1,2 bilhão.
A liderança de Lioveral Bacher e Jorge Strassburger no setor foi
decisiva para seu crescimento exponencial. Unindo características
e interesses próprios, os dois deram sua contribuição para a consolidação do comércio varejista. “Eu e o Jorge sempre tivemos uma
parceria muito boa. São estilos diferentes, mas que se complementam. Tenho a convicção de que essa nossa alquimia ajudou muito
as lojas a irem tão bem durante esse tempo todo”, ressalta Bacher.
Os dois executivos permaneceram à frente do varejo até meados
dos anos 2000, quando, numa reestruturação na governança da
empresa, tornaram-se diretores corporativos.
129
130
70 ANOS PAQUETÁ
1990
A expansão vivenciada pelo
segmento varejo ao longo
da década de 1990 teve seu
momento mais emblemático
com a aquisição da rede de
lojas Gaston e a chegada
das lojas Paquetá Esportes
à rede Paquetá. Os negócios
de varejo do grupo tomavam
um caminho de crescimento
constante, inclusive com
investimentos em campanhas
e eventos com participação de
celebridades.
131
Diante de uma realidade que se mostrava cada vez mais dinâmica e desafiadora, a
Paquetá reiterava a confiança em seus colaboradores e investia continuamente no aprimoramento do quadro de pessoal. Em 1997, foi criado um setor específico para gerir as
ações de treinamento. Além de ampliar as iniciativas de capacitação na área operacional,
a companhia passou a implementar programas de desenvolvimento técnico e comportamental dirigidos principalmente às suas lideranças. O setor de varejo, em especial, diante
da relevância que assumia, também foi alvo de ações que visavam modernizar e adequar
as relações de recursos humanos.
A pedagoga e arte-terapeuta Sílvia Regina de Souza viveu essa experiência quando
integrou a equipe de gestores do varejo da Paquetá, entre 1990 e 2004. Hoje, sócia da
Substantiva, empresa de educação corporativa com sede em Porto Alegre, ela rememora
os momentos emblemáticos que presenciou em sua trajetória: “O contexto que encontrei
quando entrei na Paquetá é bem interessante, porque naquela época já havia uma parte
administrativa bem consistente, porém restrita ao departamento pessoal. Não havia ainda um área de Recursos Humanos (RH) e toda a parte de registro de funcionários do varejo
era produzida em Porto Alegre, mas era tratada em Sapiranga. Também era uma época
de relações mais conflituosas com as entidades sindicais. Aos poucos, fomos tendo uma
independência em termos de gestão de pessoas no varejo, que começou a ter um pouco
mais de autonomia em relação aos seus registros, aos seus processos. Entrei nesse contexto, de implantar uma área e deixá-la com um pouco mais de autonomia”.
O desafio, sem dúvida, foi intenso, pois demandava criar uma cultura de recursos
humanos desvinculada daquela praticada na indústria, já que se tratava de realidades
bem distintas. “Entre outras questões, o varejo tinha uma política de benefícios copiada da fábrica. Se lá tivesse, digamos, um prêmio de assiduidade, esse benefício era logo
incorporado ao varejo, mesmo que sua aplicabilidade não fosse assim tão direta. Então,
o meu trabalho e dos meus colegas de equipe teve como principal objetivo criar políticas
de RH segundo a lógica e as demandas do segmento varejista. Nós operávamos muito
132
70 ANOS PAQUETÁ
1990
Qualificação
O melhor atendimento aos
clientes é um diferencial
que cada colaborador
exerce diariamente.
com modelos já prontos e fomos aos poucos criando os nossos próprios modelos”, esclarece Sílvia.
O treinamento dos colaboradores atuantes no varejo também passou a ter características próprias, com técnicas e ações voltadas à venda, em especial à venda de sapatos, na qual
o atendimento deveria levar em conta, sobretudo, a valorização do cliente como pessoa. “O
sapato é uma peça que faz parte de alguns ritos da vida. Tem a história do primeiro sapatinho, do sapato da menina que vai debutar, ou que ela vai usar na festa de quinze anos, na
formatura, um sapato confortável para uma viagem, um sapato para a entrevista de emprego, para o casamento... Por isso, trabalhávamos essencialmente com a ideia de saber qual
é a história que aquele cliente estaria vivendo ou iria viver com aquele sapato”, destaca a
pedagoga, ao ressaltar que um grande diferencial no atendimento nas redes da Paquetá é
justamente este conceito de levar o vendedor a se conectar com a história da pessoa.
133
A política de recursos
humanos desenvolvida ao
longo dos anos 1990 também contemplou o incremento
da
comunicação
interna no segmento varejista, facilitando a circulação de informações sobre a
empresa entre as dezenas
de lojas e o quadro de colaComunicação
As relações da empresa com
seus colaboradores são
fortalecidas.
boradores cada vez maior. Em outubro de 1997, essa aproximação ganhou ênfase e nova forma quando foi lançada
a primeira edição do jornal destinado aos funcionários da
Paquetá Varejo, com uma tiragem de mil exemplares, fortalecendo ainda mais o relacionamento com os colaboradores
desse setor. Nessa edição, como a publicação ainda não ti-
nha nome, se instituiu um concurso entre os leitores para a escolha do novo título. Ganhou a sugestão de Pé da Letra, feita pelo vitrinista Gerson Damião Moraes, que passou
a vigorar a partir da segunda edição e se mantém até 2015. Também merece registro a
implantação do Projeto Menores, em 1995, para qualificação de jovens aprendizes. No
campo corporativo, a complexidade dos negócios do grupo Paquetá determinava uma
adequação atenta aos processos de governança. Assim, ao término da década de 1990,
ficou estabelecido um novo organograma, com nova nomenclatura para as diretorias,
que assim passaram a ser identificadas: Diretor-presidente; Diretor administrativo, Diretor financeiro e de relações com o mercado, Diretor contábil/fiscal e Diretor comercial
(com foco no varejo). Foram também instituídas três diretorias adjuntas: de infraestrutura, industrial e de desenvolvimento.
134
70 ANOS PAQUETÁ
1990
A Paquetá atravessava os anos 1990 plenamente consolidada como grande empresa
calçadista, por sua atuação, seja na indústria,
seja no varejo, como atestam as inúmeras premiações com que foi reconhecida pelo mercado e por entidades representativas de cada
setor. Em 1997, por exemplo, as Lojas
Paquetá ficaram em 1º lugar na categoria “Vendedores Atenciosos”, em
2º lugar no item “Lojas que as Pessoas Costumam Olhar a Vitrine” e em
3º lugar no que se refere ao “Melhor
Atendimento”, conforme o resultado
Reconhecimento
Durante os anos 1990,
diversas distinções
destacaram a Paquetá
e seus 50 anos de
atuação no setor
calçadista.
da pesquisa “A Força das Marcas”, do
Senac e do Grupo RBS. Já em março de
1998, a Paquetá Varejo foi premiada pela indústria de calçados Piccadilly por ser a maior revendedora da marca. Quatro
meses depois, foi agraciada com o prêmio Lojista do Ano, da
Francal. E, em 1999, recebeu o Prêmio Exportação da ADVB/
RS. Cabe ressaltar ainda que, na área de meio ambiente, a
unidade fabril da empresa em Nova Petrópolis foi a primeira fábrica do setor calçadista a
merecer a certificação ISO 14001.
Todas essas condecorações demonstram que a empresa, apesar de algumas turbulências na travessia da década de 1990, se encontrava pronta para, mais uma vez com a
ajuda decisiva de seus colaboradores, encarar os desafios do novo século que estava por
começar.
135
A CHEGADA DO
MILÊNIO TRAZ
JUNTO UMA ÉPOCA
DE PLENA EXPANSÃO,
QUE LEVA A PAQUETÁ
A UMA NOVA
DIMENSÃO EM SUA
HISTÓRIA DE 70 ANOS.
136
2000
2000
137
70 ANOS PAQUETÁ
138
A partir de 2013, a empresa assumiu nova marca corporativa,
expressando o alcance internacional de sua atuação.
70 ANOS PAQUETÁ
2000
O
mundo chegou ao novo século e novo milênio sob a ameaça de uma previsão
que poderia tornar caótica a rotina das pessoas, das empresas e dos governos.
Era o chamado Bug do Milênio, uma pane generalizada que deveria atingir todos os computadores. Nada aconteceu. Mas outro fato, esse completamente
inesperado, deixaria o planeta em choque no dia 11 de setembro de 2001, com o atentado
terrorista contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, nos EUA. Já no
Brasil, após a estabilização proporcionada pelo Plano Real, deu-se o início de um ciclo de
crescimento econômico e desenvolvimento social, além da consolidação das instâncias
democráticas. Ainda que problemas endêmicos, como a corrupção, tenham também se
colocado em pauta, o país conseguiu se organizar para atravessar a primeira década do
novo século com avanços, inclusive adequando-se a uma das marcas dos tempos atuais,
a expansão digital.
As empresas do setor calçadista, e em especial a Paquetá, que conseguiram atravessar as incertezas dos anos 1990 de forma sólida, com as adequações necessárias, encontraram terreno fértil na conjuntura de estabilidade econômica para experimentar um
período de incremento em seus negócios. Entre 2000 e 2015, o grupo Paquetá verdadeiramente revelou toda a potencialidade que seu DNA, tão arraigado no universo dos sapatos,
podia oferecer. Tanto na indústria quanto no varejo, assim como nos demais empreendimentos, o século 21 trouxe uma nova era de progresso e amplitude na sua atuação. Aquele
pequena empresa estabelecida em Sapiranga na primeira metade do século passado se
transformaria numa referência mundial em seu setor. Uma realidade que se expressaria
formalmente em 2013, quando adotou uma nova marca corporativa. Com a identidade
Paquetá − The Shoe Company, estava imprimindo, de forma cabal, um verdadeiro significado ao alcance internacional de seus negócios.
A gerente de marketing institucional do grupo, Paulina Bacher Paiva, neta do pioneiro Arlindo Müller, esteve envolvida diretamente com o processo que culminou com
a adoção da nova marca e explica como se chegou lá: “Em 2013, fizemos um grande mo-
139
vimento para revisar a marca do grupo, criando uma nova identidade corporativa. Para
a mudança se realizar, constatamos que tínhamos uma empresa grande, mas que ninguém a reconhecia realmente como tal, interna e externamente. Isso porque éramos
sempre identificados como partes estanques. Alguns, conhecendo mais o varejo. Outros, privilegiando a indústria ou a exportação, com uma visão diferente. Tínhamos o
grande desafio de mostrar esta grande empresa especialista em calçados. Estou convicta de que o trabalho de mudança da marca corporativa fortaleceu esse conhecimento,
aqui na empresa e fora dela”.
Paulina ressalta que o público interno de colaboradores recebeu uma atenção especial para que o novo conceito fosse compreendido, pois deles depende também o entendimento que o público externo passará a ter da nova identidade. “Junto com a Sabrina
Marques (diretora de RH), desenvolvemos um circuito de palestras e workshops em todas
as unidades. Revisitamos os conceitos de visão, missão, valores da empresa, fizemos uma
apresentação de tudo o que constitui o grupo e mostramos essa marca nova. Foi muito
produtivo. Podemos perceber que, depois desse processo, há um sentimento de orgulho
maior entre nossos colaboradores pela empresa em que trabalham. Nosso grande desafio
é consolidar isso também externamente”, destaca Paulina, que começou a trabalhar no
grupo em 1995, atuando então na Gastozinho, a área de calçados infantis da recém-adquirida rede de lojas Gaston.
Mas, antes de chegar a uma mudança tão sintomática em sua identidade corporativa, a Paquetá trilhou uma trajetória de especial ascensão em diferentes frentes ao longo
dos primeiros anos do novo século. Logo no início, por exemplo, em 2000, experimentou o
uso do sistema de franquias. O gerente de varejo das marcas próprias, Mauro Blos, viveu
de perto essa realidade. “Na época, fui convidado a cuidar da implantação das franquias
das lojas Paquetá. Começamos em Passo Fundo e, durante os cinco anos em que estive na
gestão do setor, abrimos outros 31 estabelecimentos franqueados. Com o tempo, a empresa concluiu que a gestão de franquias para lojas multimarcas é por demais complexo.
140
70 ANOS PAQUETÁ
Por isso, aos poucos, deixou de renovar os contratos de franquia no varejo multimarcas.
2000
cia, estabeleceu-se em Novo Hamburgo, Porto Alegre e no Rio de Janeiro. Hoje, no Brasil,
Mas, com as marcas próprias Dumond, Capodarte e Atelier Mix, o modelo segue eficiente”,
ressalta Blos.
A primeira marca própria a decolar para novos desafios dentro da empresa foi a Dumond, que, criada em 1995, atendia até então apenas ao mercado interno. Em 2002, se dá
o início da comercialização da marca para o mercado externo. E, dois anos depois, ganharia uma loja-conceito, aberta na sofisticada região dos Jardins, em São Paulo. Na sequênentre lojas próprias e franquias, são mais de 50 pontos de venda. O plano de expansão,
fundamentado em estudos de mercado direcionados ao público-alvo da marca, prevê a
abertura de outros pontos nas principais capitais do Brasil e cidades acima de 300 mil habitantes. No Exterior, a Dumond conta com lojas exclusivas na Costa Rica, Tunísia, Angola,
Filipinas, Omã, Emirados Árabes, Bahrein, Dubai e Arábia Saudita. Além disso, a marca
está presente em butiques de mais de 50 países, como Finlândia, Dinamarca, Holanda,
Inglaterra, Espanha, Portugal, Israel, Austrália, Tailândia e Rússia.
O sucesso da Dumond é resultado, sobretudo, da experiência, da tecnologia, da ousadia e do conhecimento acumulados em sua trajetória desde 1995. De lá para cá, lançou
diversos produtos que se tornaram sucesso no mercado calçadista de alta qualidade, dirigido a atender um público identificado como classes A e
B. Além de sapatos, a marca é reconhecida por desenvolver também acessórios (bolsas, carteiras e cintos) criados
de acordo com as novas tendências da moda internacional, mas com um toque de estilo bem brasileiro. Em 2005, indicada pela Abicalçados, a
Dumond recebeu o prêmio Destaque Exportador no 100º Encontro de Comércio Exterior
(Encomex), evento organizado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, realizado em Porto Alegre naquele ano. A marca chegaria à metade da década
somando 1,5 milhão de sapatos exportados.
141
142
70 ANOS PAQUETÁ
2000
Paquetá 60 anos
Os números de 2005
11
unidades fabris
120 lojas
13 mil
colaboradores
de varejo
100%
capital nacional
1,2 milhão
de pares produzidos por mês
Ao completar 60 anos, em 2005, o grupo Paquetá
demonstrava sua pujança, sendo responsável pela produção de 50 mil pares de calçados por dia em 11 unidades
de manufatura e contando com mais de 120 lojas no segmento varejo. No total, o quadro de pessoal registrava
mais de 13 mil colaboradores. Por ocasião das comemorações pelo 60º aniversário da empresa, o pioneiro Arlindo
Müller, aos 84 anos, exaltou de forma singela o que fora
alcançado desde que participou da fundação da Paquetá: “Me sinto orgulhoso uma barbaridade! Muito satisfeito, mesmo! Desde o início, eu percebi que todos nós
queríamos crescer e hoje podemos ver que conseguimos,
Origem
Desde a
fundação,
a Paquetá
mantém sua
sede principal
em Sapiranga.
143
Expansão
A Esposende, com sede
em Pernambuco, passou a
fazer parte da rede de lojas
do grupo.
com a graça de Deus”. Naquela oportunidade, houve uma homenagem a Arnoldo Oswaldo
Haag, que aos 73 anos era o funcionário mais antigo em atividade, completando 47 anos
de empresa. Ele, que havia se aposentado em 1997, voltara em 2001 para trabalhar na Dumond. “Esta empresa é a minha vida”, resumiu emocionado Haag ao ser homenageado.
Sem dúvida, 2005 constituiu-se em um ano emblemático para a Paquetá. Além de festejar uma história de 60 anos com pleno reconhecimento de sua importância no setor calçadista
em termos globais, a empresa pôde comemorar mais uma expansão de seus negócios com a
aquisição da rede de lojas Esposende, que na época dispunha de 32 pontos de venda divididos entre Pernambuco e Ceará. Com sede em Recife, a cadeia varejista havia começado suas
atividades em 1970, com a sapataria fundada pelo português Joaquim Vasconcelos. Hoje, sob
administração da Paquetá, são mais de 70 unidades. Lioveral Bacher era o diretor comercial
da Paquetá quando houve a aquisição da Esposende e participou ativamente da negociação.
“Como diretor, ia duas vezes por ano a Recife para me reunir com nosso representante e sem-
144
70 ANOS PAQUETÁ
pre visitava o seu Joaquim, já que a Esposende era nossa maior cliente na região. E ele já me
2000
mann), o Ênio (Schein) e o Tobias (Leist), quando o Adalberto definiu que iríamos comprar a
dizia que um dia venderia a rede para a Paquetá, pois a família tinha desejos de voltar para
Portugal. Em 2004, ele me ligou e pediu: ‘Vem para cá, vamos conversar’. Então fomos, eu e o
Jorge (Strassburger). Seu Joaquim havia decidido vender a sua empresa”, relata Bacher.
De fato, ele e Strassburger voltaram de Recife com a proposta de venda formalizada
por Joaquim Vasconcelos e apresentaram aos demais diretores da Paquetá. “Lembro bem da
reunião em que estávamos eu, o Jorge, o Adalberto (Leist), o Romeu (Klein), o Clóvis (Kautzrede. Mas aí surgiu um impasse e nos perguntamos quem deveria ir para Recife cuidar do
novo empreendimento, pois a Esposende em si era um negócio de proporções significativas
e não podíamos ficar sem alguém que já conhecia a Paquetá para administrá-lo. Depois de
um silêncio geral na sala, eu falei que iria, para surpresa geral. Apesar da mudança radical
que representaria na minha vida, tinha certeza de que iríamos ter sucesso por lá”, relata
Bacher. Foram cinco anos residindo em Recife, acompanhado de sua esposa, Iara. Quando
lá chegaram, a rede era composta de 26 lojas na região metropolitana de Recife e outras
quatro em Fortaleza, no Ceará. Quando Lioveral Bacher retornou para Sapiranga, em 2010,
a Esposende já reunia um total de 72 estabelecimentos, resultante dos pontos abertos na
Paraíba, no Rio Grande do Norte e no Maranhão, além de Pernambuco e Ceará.
Aqui no Rio Grande do Sul, um outro segmento ligado ao varejo também contribuiu
para alargar os horizontes empresariais do grupo. Estabelecida ainda nos anos 1980
com loja própria, a Paquetá Esportes decididamente assumiria nova dimensão a partir
da virada do século, com a ampliação do número de pontos que levam a marca ligada
à venda exclusiva de calçados e artigos, como roupas e acessórios, da linha esportiva.
O fortalecimento dessa rede revela dados expressivos. Ao longo da primeira década de
2000, a quantidade de lojas saltou de cinco para 14 unidades. Além disso, a Paquetá
Esportes virou uma marca conhecida nacionalmente a partir de ações de marketing dirigidas ao meio esportivo, como o apoio a competições de diversas modalidades, como
145
Crescimento
O fortalecimento da marca
Paquetá Esportes e o novo
CD são exemplos de ações
recentes.
a Maratona Internacional de Porto Alegre, ou o patrocínio a
equipes, como a Voleisul/Paquetá Esportes, de Novo Hamburgo, que disputa o campeonato da Superliga Masculina de
Vôlei. O crescimento das atividades da unidade determinou,
inclusive, que em 2015 toda a sua área comercial fosse agru-
pada em instalações próprias, junto ao novo Centro de Distribuição (CD).
Localizado no município de Canoas, o CD foi inaugurado em 2012 para centralizar e dar
conta da distribuição das mercadorias que abastecem centenas de pontos de venda das redes de lojas. Suas dimensões explicitam a complexidade e a quantidade das operações que
envolvem tantos pontos de venda. Com área construída de 10.000 m², em um terreno de 3,5
hectares, tem capacidade de armazenar mais de 2 milhões de itens. Ao longo do dia, cerca
de 180 funcionários são responsáveis por dar destino, em média, a mais de 35 mil produtos.
Por lá, circulam diariamente pelo menos 30 caminhões que farão as entregas em diferentes
localidades. Também no CD de Canoas, está estabelecido o estoque do e-commerce, que
atualmente atende apenas às compras online das lojas Paquetá e Paquetá Esportes.
O atual gestor de Suprimentos e Logística da Paquetá, Daniel Gonçalves Amorim,
trabalha há mais de 20 anos na empresa e passou por diferentes setores, mas desde
2012 atua nessa área e revela que os processos se modernizaram e funcionam em sincronia.
146
70 ANOS PAQUETÁ
“Todo recurso que vem de fornecedor é o Suprimentos e Logística que tem de prover.
2000
foram testemunha da internacionalização das atividades fabris do grupo. Depois de abrir
Toda a área de negociação de compras, de administração interna de materiais: controle,
inventários, almoxarifados e toda a área de transporte e distribuição, não só a parte de
logística de entrada de material, mas também a logística de distribuição de produto,
seja da fábrica ou do varejo. Nosso modelo de gestão é matricial, ou seja, as estruturas
estão dentro do negócio.”
Além de assistirem à expansão admirável da Paquetá Varejo, os anos 2000 também
outras duas fábricas no Nordeste brasileiro, em Ipirá, na Bahia, e em Pentecoste, no Ceará,
o braço industrial da empresa estendeu-se a mais países na América Latina. O primeiro
empreendimento fora do Brasil foi construído na vizinha Argentina, com a abertura em
2006 de uma unidade na cidade de Chivilcoy, a 160 quilômetros de Buenos Aires. A cerimônia oficial da inauguração da nova fábrica contou, inclusive, com as presenças do então
presidente, Nestor Kirchner, e primeira-dama, Cristina. Quatro anos depois, houve a instalação da fábrica na República Dominicana.
No caso argentino, a decisão estratégica de abrir a unidade por lá teve muito a ver
com a parceria que a Paquetá estabelecera anos antes com a Adidas. Na época, ainda mantinha relações com a Diadora. Com o fim da associação com a marca italiana, houve um
fortalecimento dos vínculos com a empresa alemã, baseados no desenvolvimento e na
produção de material esportivo. Hoje, por exemplo, parte dos produtos Adidas vendidos
no Brasil é fabricada pela Paquetá. E como essa é uma marca com forte presença no mercado argentino, o caminho natural determinado pela sólida confiança entre os dois parceiros foi a Paquetá estabelecer-se em território do país vizinho. Aqui, os produtos Adidas
são fabricados nas unidades de Teutônia (RS), Ipirá (BA) e Pentecoste (CE).
Já em relação à República Dominicana, além da proximidade geográfica com os
Estados Unidos − principal mercado importador dos calçados −, uma certa casualidade
determinou a decisão de abrir a unidade naquele país da América Central em 2010.
147
A parceria com a Adidas
foi importante para que
novas unidades fabris
fossem abertas na Argentina
(acima, ao lado e abaixo,
à esq.). Em Teutônia – RS
(abaixo), Ipirá – BA
e Pentescoste – CE (à dir.).
148
70 ANOS PAQUETÁ
Jorge Colório, atual gestor de Contabilidade e Controladoria, teve a oportunidade de es-
2000
E foi mesmo meio por acaso que surgiu essa oportunidade. Um empresário dominicano
tar presente no desenvolvimento do novo projeto, junto com Vanderlei Chicchelero, que
hoje está à frente da gestão da unidade de private labels. “O nosso planejamento estratégico previa que tínhamos de diversificar mais o mercado, sabendo que a exportação
a partir do Brasil enfrentava dificuldades. Precisávamos de uma alternativa e apareceu
a chance da República Dominicana, através de uma agente que fez contato com Tobias
(Leist), que era nosso diretor industrial. Eu e o Vanderlei fomos para lá no final de 2009.
tinha uma fábrica que produzia pantufas para o mercado norte-americano. Só que, com
a concorrência da China, eles perderam espaço nos Estados Unidos. Chegaram a tentar
fazer sapatos femininos em parceria com uma companhia de Novo Hamburgo, sob o
comando de Nilo Capler, profissional que já havia trabalhado na Paquetá. Como a tentativa não deu certo, o Nilo soube que estávamos planejando uma expansão e ligou para o
Vanderlei, falando da oportunidade de nos instalarmos por lá”, destaca o gestor.
Vanderlei Chicchelero e Jorge Colório receberam sinal verde da diretoria e foram até
a República Dominicana conhecer o espaço oferecido. “Havia um prédio dentro da área
de zona franca, com isenção de impostos, baseada no Tratado de Livre Comércio deles
com os Estados Unidos. Ou seja, realmente havia uma série de questões positivas, além da
149
A marca de calçado infantil
Ortopé foi adquirida pela
Paquetá e recebe atenção
na produção de sapatos
para a criançada.
150
70 ANOS PAQUETÁ
2000
proximidade com o mercado norte-americano. Então, fizemos
um projeto, o apresentamos e, em abril de 2010, produzimos o
primeiro par de sapatos na República Dominicana − e tínhamos
Evolução
A tradicional botinha
Ortopé dos anos 1970 e um
modelo infantil atual.
mil funcionários”, lembra Colório. Hoje, cerca de 2.600 colaboradores locais trabalham na unidade, cuja produção atende preferencialmente clientes nos Estados Unidos. Sua capacidade produtiva tem potencial para
fabricar cerca de 10 mil pares por dia, o equivalente a 2,2 milhões de pares por ano.
Enquanto expandia os negócios, a Paquetá seguia atenta às oportunidades que se
apresentavam para crescer ainda mais no âmbito industrial. Uma delas surgiu em 2007,
quando se deu a aquisição da Ortopé, tradicional marca gaúcha de calçado infantil, fundada em 1952 com sede em Gramado, e largamente reconhecida no país afora pela qualidade
de seus produtos. No imaginário de pelo menos três gerações, reside a lembrança do famoso jingle “Ortopé, Ortopé, tão bonitinho” e da imagem do garoto-propaganda Ferrugem. A
compra da marca de linha infantil foi feita através de leilão, no qual estava presente o vice-presidente Tobias Leist. “Fui ao leilão em que compramos a marca. A decisão de compra
surgiu da constatação de que, mesmo depois de anos, a Ortopé continuava forte, sinônimo
de qualidade: sapato de couro para as crianças terem um calçado confortável. A Paquetá
151
seguiria com os mesmos princípios que a Ortopé originalmente adotava em suas atividades”, explica Leist.
Carlos Haack e Galdino de Castro, respectivamente atuais gestor do segmento infantil e gerente de desenvolvimento da Ortopé, estão desde 2010 no leme da nova frente
que a Paquetá somou a seus negócios. Ambos sentem-se completamente absorvidos pelo
desafio para o qual foram convocados. Como diz Haack, que desde 1996 está no grupo, o
trabalho para o público infantil é muito mais lúdico. “Trabalha-se muito com a magia e a
imaginação, desde a criação dos modelos até a concepção de um showroom. Até a sala de
reuniões da Ortopé é diferente aqui na empresa. Nós temos que viver esse mundo. Também se lida com a moda, mas, no caso da Ortopé, que tem um histórico muito grande em
termos de conforto, qualidade e segurança, a moda não está em primeiro plano. O que
eu quero dizer é que o negócio da marca, antes do design, são precisamente esses três
elementos − conforto, qualidade, segurança”, completa Haack.
Galdino de Castro, que entrou na Paquetá já com a missão de atuar na Ortopé,
destaca os obstáculos iniciais que foi preciso vencer. “Sabíamos da dificuldade de entrar no mercado com a marca, mesmo reconhecendo a força que ela sempre teve. Ela
tinha sido maltratada antes de ser adquirida pela Paquetá, com movimentos equivocados da gestão anterior. Tivemos que construir de novo o respeito que a Ortopé
merece. Hoje, estamos colhendo os resultados. A produção mais do que dobrou nos
últimos quatro anos. E temos convicção de que fazemos um produto com conceito de
152
Equipes criam
os modelos que
farão parte das
coleções da
Ortopé.
70 ANOS PAQUETÁ
saúde e conforto, um produto em couro, de boa qualidade, com visual adequado para
2000
A diversificação dos negócios do grupo Paquetá teve ainda outros episódios mar-
a criança dos dias atuais”, relata o gestor. Atualmente, o setor de criação e marketing
da Ortopé opera na sede, em Sapiranga, enquanto a fabricação de seus produtos é
feita na unidade de Ipirá, na Bahia. Em 2014, foram produzidos em torno de 1,6 milhão
de pares. A meta agora é alcançar 2 milhões de pares. Cerca de 85% da produção da
Ortopé destina-se ao mercado interno, e o restante é exportado para 30 países, com
maior foco na América Latina.
cantes ao longo dos anos 2000. No mesmo ano em que adquiriu a marca Ortopé, 2007,
a companhia também assumiu o controle da Capodarte, marca e loja de sapatos femininos com origem em São Paulo. Além dos finos calçados, é conhecida pelos acessórios
sofisticados que oferece a um público de consumidoras seletivas e exigentes. Uma grife
com atuação no Brasil e fora do país, com espaços exclusivos da marca presentes nos
principais shoppings. Também pode ser encontrada nas melhores butiques de sapatos
multimarcas do Brasil. Hoje, a rede tem lojas no Brasil, Costa Rica e Líbano.
A ampliação das atividades do grupo Paquetá seguiu célere durante a primeira década do novo século também na direção de outros ramos de negócios. Na área de serviços,
por exemplo, deu-se o surgimento da Praticard, empresa especializada na administração
de cartão de crédito. Desde os anos 1990, o varejo já fazia uso de cartões próprios, em
gradativa substituição ao sistema de crediário. Mas cada rede de lojas era responsável
pela administração do seu cartão. Então, em 2002, com o crescimento das operações varejistas, entre lojas próprias e franqueadas, constatou-se a necessidade de centralizar o
serviço, surgindo a Praticard. A partir daí, todos os cartões utilizados na Paquetá Calçados, Paquetá Esportes, Gaston e Esposende são administrados pela Praticard. Em 2006,
administrava 500 mil cartões, apenas de lojas do grupo. Depois, passou a prestar serviço
para outras empresas calçadistas do Vale do Sinos. Hoje são mais de 3 milhões de cartões
sob a guarida da Praticard.
153
Nasce a Catherine
Na sequência, o processo de criação e
montagem de um dos modelos mais recentes
comercializados sob a marca Capodarte.
A
C
154
70 ANOS PAQUETÁ
O passo a passo
2000
A
B
C
D e E
F
G
Criação
Modelagem
Desenho técnico
Corte
Bordado
Refile
H
I
J
K e L
M
N
Costura
Debrum
Bandeja completa
Colagem
Prendendo a sola
Calce
B
D
E
F
155
156
G
H
K
L
I
J
M
N
157
2000
70 ANOS PAQUETÁ
Serviço
Toda a rede de lojas é
atendida pela Praticard,
que administra os cartões
de crédito.
Também no começo dos anos 2000, ocorreu a consolidação dos negócios imobiliários do grupo, que foram reunidos na
empresa Colina Urbanismo. Sucessora da antiga Paquetá Empreendimentos, está focada no desenvolvimento de projetos
urbanísticos residenciais, empresariais e industriais, com lotes
situados na região do Vale do Sinos e na Serra Gaúcha. É interessante registrar que as
atividades desenvolvidas pela Colina Urbanismo têm origem na determinação adotada
por Arlindo Weber, ao longo dos anos, em comprar terras como forma de aumentar o patrimônio da Paquetá. Quando esse patrimônio tornou-se significativo em quantidade, foi
decidido transformá-lo também em renda para o grupo. Segundo o diretor da Colina, Ingo
Schwinn, a unidade está num processo de crescimento importante, com vários projetos
em perspectiva. “Já fizemos sete empreendimentos. Todos estão prontos. Muitos estão
totalmente vendidos e alguns estão em fase final de venda. Esse é um negócio no qual
é preciso ter basicamente conhecimento, um pouco de capital e credibilidade, porque a
sociedade não joga dinheiro sem confiar”, complementa Schwinn. Os empreendimentos
concluídos, com um total de 455 lotes, são Blumenburg e Plátanos, em Campo Bom; Mauá
e Bosque dos Ipês, em Sapiranga; Monte Bello, Nova Petrópolis; Gutenberg, Novo Hamburgo; e Trevo da Bandeira, em Dourados (MS). Outra atribuição da Colina Urbanismo é
administrar a construção e a manutenção dos prédios próprios de lojas e unidades fabris.
158
70 ANOS PAQUETÁ
2000
Os negócios
imobiliários do grupo
são desenvolvidos e
lançados pela Colina
Urbanismo.
159
Mais recentemente, os setores industrial e varejo também receberam reforço,
quando outras duas marcas foram agregadas ao portfólio da Paquetá. Em 2010, houve
a criação da Ateliermix, que apresenta calçados e acessórios femininos de qualidade,
destinados a mulheres de uma faixa etária entre 20 e 30 anos, que gostam de estar na
moda e que têm um dia a dia dinâmico. No ano seguinte, a marca ganhou sua primeira
loja. Atualmente, a Ateliermix está presente em 18 estados do Brasil, com 46 pontos de
venda, entre franqueados e próprios. Neles, também são comercializados produtos da
Dumond e da Capodarte.
A caçula da turma das marcas próprias é a Lilly’s Closet, criada em 2010, pouco depois
da Ateliermix. Seus produtos femininos são feitos com foco nas consumidoras mais jovens,
de gosto cosmopolita e mais arrojado. Por isso, apresenta uma
pluralidade de estilos, nos mais variados modelos de calçados,
que passam por scarpin, botas, sandálias, rasteiras e tênis, entre outros. Os sapatos da Lilly’s Closet podem ser encontrados
em lojas multimarcas ao redor do mundo, incluindo lugares
mais remotos, como Oriente Médio, Rússia e Tailândia.
160
Atualidade
Duas marcas próprias
chegaram nos anos 2000
para atender públicos
femininos diferenciados.
70 ANOS PAQUETÁ
As marcas próprias da Paquetá, Dumond, Capodardte, Ateliermix e Lilly’s Closet, assim como a Ortopé, recebem da empresa uma atenção muito especial no desenvolvimento e na criação dos modelos a serem lançados em cada temporada. Além das pesquisas de
mercados, das observações em feiras nacionais e internacionais, equipes de designers e
modelistas trabalham incessantemente com o objetivo de criar um sapato que não só esteja de acordo com a característica de cada marca como também possa atender ao gosto
2000
do público consumidor.
A Walk Run surgiu em 2004 com uma loja no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre,
com o objetivo de atender um público jovem que demandava calçados esportivos alinhados com as tendências mais modernas da moda internacional. Depois de um tempo, até
pelo crescimento da rede de lojas da Paquetá Esportes, a estratégia se revelou pouco
apropriada. Com o fechamento dos pontos de vendas, a Walk Run foi alvo de uma reviravolta e se tornou uma marca de roupas esportivas femininas, com peças e coleções criadas
com modelagens que valorizam as formas do corpo feminino e são confeccionadas em
tecidos que utilizam tecnologias inovadoras. A cada estação, são lançados novos modelos
de tops, leggings, regatas, camisetas, shorts, blusas e jaquetas, que têm confecção terceirizada e abastecem as lojas do ramo.
Sem dúvida, evolução e qualidade são palavras de ordem constantes na trajetória da
Paquetá em suas sua diferentes frentes de atuação, desde a primeira linha de produção
fabril estabelecida em 1945. E, como forma de garantir a perenidade desse compromisso,
a empresa nunca deixou de investir em múltiplas melhorias em seus processos produtivos. Seja pela manutenção e aprimoramento de seu maquinário, pela busca de segurança
no manuseio dos equipamentos, pela sempre presente atualização tecnológica ou pela
fundamental e constante qualificação de seu quadro de colaboradores, através de treinamentos e incentivos. O gestor de Engenharia Industrial, Jardel Evaristo Behs, destaca
alguns pontos que contribuem para que a qualidade nunca saia do horizonte da Paquetá.
“Um bom exemplo de nosso comprometimento com todo o processo é a existência de um
161
No detalhe
Cada momento da criação de um modelo é estudado
e planejado, na busca de qualidade, beleza e conforto
para o sapato a ser produzido.
162
A
A
C
C
A
70 ANOS PAQUETÁ
2000
B
C
B
B
O passo a passo
A
C
B
D
Pesquisa de moda e
tendências
Pesquisa de materiais
Desenvolvimento
de modelos
Cálculo de custos
D
163
setor específico de manutenção preventiva, que tem o objetivo de evitar que se chegue
à manutenção corretiva, aquela que conserta quando o equipamento apresenta quebra
ou pane. A preventiva procurar evitar isso, pois temos muito maquinário. Hoje, temos um
parque fabril de 16 mil máquinas, contando todas as unidades produtivas”, explica Behs,
que, aos 43 anos, completará 25 anos de atuação na Paquetá, onde ingressou como estagiário justo no setor de manutenção.
Um outro exemplo utilizado por Jardel Behs para situar a permanente preocupação
com a qualidade na empresa é a atitude de vanguarda que a Paquetá sempre teve na busca por novas tecnologias. “As primeiras iniciativas em termos de robótica já eram testadas
aqui na empresa há muitos anos. Eu me lembro de uma espécie de robô concebido pela empresa italiana Sabal. Chegamos a experimentá-lo, mas o projeto não seguiu em frente. No
entanto, o mais importante é que 15 anos atrás, quando ninguém falava disso, a Paquetá
já estava atenta a essas coisas”, destaca o gestor. Mas outros avanços tecnológicos vieram
para ficar. “Temos máquinas com tecnologia e eletrônica embarcada muito maior do que se
tinha. Estamos abolindo as máquinas de corte com navalha e entrando nas automáticas,
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70 ANOS PAQUETÁ
2000
máquinas que têm visão, que conseguem enxergar os defeitos. Temos máquinas de laser
no desenvolvimento de produtos, em Sapiranga, e na unidade de produção da Ortopé, na
Bahia, para fazer o corte e a gravação das peças. O corte da linha de produção esportiva está
90% automatizado. A Paquetá é uma das indústrias do ramo que mais estão preparadas
para a tecnologia, pois ao longo dos anos investiu muito nessa área e hoje tem um parque
fabril tecnologicamente bem avançado, que é referência no mercado”, complementa Behs.
Muito dessa persistência em estar constantemente à frente em sua atualização tecnológica, a Paquetá pode creditar às exigências que o mercado externo demanda em termos de qualidade dos produtos a serem comprados. E, afinal, a exportação, desde os anos
1970, tem sido o destino principal dos sapatos fabricados pela empresa. O supervisor de
Exportação e Importação, Delmar Otto Dietrich, que atua no grupo há 26 anos, é quem
testemunha sobre o papel de protagonista desempenhado pelas exportações nos negócios do grupo. “Quando eu entrei na Paquetá, em 1989, o comércio de exportação já estava
bem consolidado. Naquela época, entre 80% e 85% do faturamento vinha da exportação.
A Paquetá já era uma referência no segmento de calçados. Era uma empresa considerada
165
modelo no Brasil e tinha negócios muito fortes com o mercado norte-americano. Do início
dos anos 1990 para cá, mudou muito. Antes, os pedidos eram maiores. Vinha um cliente
dos Estados Unidos e fazia um pedido de 300 mil pares de sapatos, em dois ou três modelos e meia dúzia de cores. A produção era mais fácil. Hoje, não. São pedidos menores com
vários modelos, muitas cores diferentes. E muda muito, há três ou quatro modelagens
diferentes durante o ano, a cada estação”, assinala Dietrich.
As mudanças ocorridas nesses últimos 20 anos podem ser atribuídas ao fato de o Brasil ter perdido competitividade na venda de sapatos de menor valor agregado. Esse tipo
de calçado passou a ser produzido na China e em outros países da Ásia. No entanto, a mão
de obra brasileira ainda é considerada mais qualificada, adequada à confecção de sapatos
de mais sofisticação, que se tornou o caminho das empresas nacionais. “Atualmente, por
exemplo, produzimos os da marca norte-americana Tory Burch, dos Estados Unidos, criada em 2004 pela designer que dá nome à marca”, destaca Delmar Dietrich.
O fator qualidade também está assegurado quando a Paquetá investe em programas
de responsabilidade ambiental. Desde o começo dos anos 1990 até agora, é possível verificar uma evolução significativa em relação a essa questão tão fundamental para a preservação do meio ambiente. O arquiteto Ingo Schwinn, além de ser diretor da Colina Urbanismo,
também é o gestor de Infraestrutura e Patrimônio Industrial da Paquetá e mostra toda a
atenção que a empresa reserva à causa ambiental. “O meio ambiente é uma área por demais
importante, pois é crítica. Anualmente, são geradas por nossas indústrias aproximadamente 2,7 mil toneladas de resíduos sólidos, sendo que 45% são reciclados e 55% são coprocessados (queima com geração de calor/energia). A empresa não gera mais passivos ambientais.
Ou seja, damos destino para 100% de tudo isso. A Paquetá mantém um sistema de gestão
ambiental, planejado e controlado, que visa a práticas sustentáveis, tendo como diretriz
nosso enunciado de política ambiental, ou seja, de promover o equilíbrio entre o homem, o
trabalho e o meio ambiente, através de ações de prevenção da poluição, em conformidade
legal, aliado a um processo de melhoria contínua”, exemplifica Schwinn.
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2000
A responsabilidade
ambiental sempre foi
uma preocupação da
Paquetá, que investe
em instalações e
equipamentos que
ajudam a preservar o
meio ambiente.
167
Entre as principais ações ambientais desenvolvidas pela Paquetá em suas unidades
fabris, destacam-se: coleta seletiva; reaproveitamento e reciclagem de resíduos sólidos;
coprocessamento de resíduos sólidos em empresas licenciadas pelo órgão ambiental;
tratamento dos efluentes industriais em estações de tratamento licenciadas; licenciamentos ambientais e controle da legislação; controle das emissões atmosféricas e ruído
industrial; monitoramento do consumo de água e energia; gerenciamento de aterros
industriais; e projetos ambientais para redução e eliminação de passivos industriais.
Schwinn completa: “A primeira coisa a observar é que estamos atendendo aos aspectos
legais. A segunda é que estamos agindo de forma politicamente correta. Eu diria que a
Paquetá foi uma das pioneiras nessa área. Assim como nas áreas de saúde e segurança
ocupacional”. O executivo lembra de uma situação que se tornou emblemática na empresa: “Tínhamos uma divisão de private label feminino que se chamava Cole Haan, de
propriedade da Nike. Então, um americano, que era gerente de riscos da Nike, veio visitar o local de trabalho, na sede de Sapiranga. Bem, ele nos disse que a Nike trabalhava
com 600 empresas no mundo e que estavam fiscalizando todas. De acordo com a lista de
verificação deles, composta de vários itens, somente cinco empresas das 600 atingiram
o padrão que nós tínhamos aqui. Nós ficamos entre as cinco melhores do mundo, entre
as 600 que trabalham para a Nike!”.
168
70 ANOS PAQUETÁ
2000
Para atingir tal nível de empenho em questões tão caras à sociedade, como a responsabilidade ambiental e a segurança de trabalho, a Paquetá conta com o comprometimento do
seu quadro de colaboradores, seja no âmbito industrial, seja no varejo. Sabrina Lisbôa Marques, diretora corporativa de Recursos Humanos da Paquetá, que está na empresa desde
2000, atesta que a filosofia adotada nessa área sempre foi voltada para manter o ambiente
prezado pela cultura interna da empresa e norteada por valores como a simplicidade e a
proximidade nos relacionamentos. “Não somos uma empresa onde há portas fechadas. Os
próprios diretores, mesmo com alguma formalidade, sempre foram muito abertos e disponíveis, ou seja, temos um ambiente de muita simplicidade e proximidade”, explica Sabrina.
Com isso, o foco do RH ao selecionar as pessoas que desejam trabalhar na Paquetá não se
dirige apenas ao preparo técnico e à formação adequada para a função pretendida. No processo de recrutamento, é levada em conta também a adaptabilidade a essa cultura.
Com a intenção de consolidar uma política de RH que atendesse ao crescimento e à
diversificação de negócios da Paquetá, em 2012 foi tomada a decisão de implementar uma
gestão integrada de recursos humanos na empresa. Antes, funcionava de forma segmentada, de um lado estavam a indústria e as marcas e, de outro, o varejo. Mas, desde então,
todos os trabalhos de RH e todos os projetos estão voltados para essa visão integrada da
empresa. A diretora corporativa aponta algumas das iniciativas que vieram com a integração: “Estão sendo desenvolvidos projetos em gestão de carreira, com o aproveitamento
169
de todas as ferramentas já existentes na empresa, como o programa de indicação de confiança, pelo qual as pessoas indicam os seus conhecidos, vizinhos ou parentes para trabalhar na Paquetá, ou a gestão por competências, que abarca as qualidades essenciais para
trabalhar em qualquer área da empresa. No RH, tratamos de divulgá-las, proporcionando
uma visão que chamamos de ponta a ponta, pela qual o funcionário se habilita a se sentir
inserido dentro de uma empresa que é muito maior do que o setor em que ele trabalha
e que possui negócios diversificados”. Esforços como esse renderam o reconhecimento
externo, tanto que, em 2012, a Paquetá Varejo ganharia o prêmio Top Ser Humano da
ABRH-RS, pelo seu projeto de endomarketing.
Diferentes ações são implementadas para que os colaboradores possam estar sempre informados sobre decisões adotadas pela empresa ou sobre possibilidades de qualificação. “Recentemente, foi lançado o programa de carreiras Horizontes, que conta com
uma ação chamada de Cresça com a gente. A iniciativa propicia que as pessoas visualizem
todas as semanas as vagas que estão disponíveis, assim como são divulgados os nomes
daqueles que tiveram uma promoção. São ações de transparência que têm como objetivo
dar a oportunidade de os funcionários crescerem junto com a empresa”, afirma Sabrina.
Outro importante projeto da diretoria corporativa de RH é a Universidade Corporativa,
que começou a ser concebida em 2013. Foram identificados cursos e desenvolvimentos
que dizem respeito à área corporativa, as escolas de negócios, tudo para se descobrir
como se obter treinamentos específicos. A diretora conta que esse trabalho ainda está
sendo estruturado: “A área de treinamento, tanto na indústria quanto no varejo, já existia. O que está sendo feito é dar uma visão integrada e unificada a todo o trabalho que
temos em treinamento e desenvolvimento de pessoas. A Unipaquetá, como chamamos,
promove a integração, sempre respeitando a especificidade de cada negócio”.
Um outro programa, o de inclusão de pessoas com deficiência, existe desde 2000.
Ele começou a partir da necessidade de cumprir cotas estabelecidas pela legislação trabalhista, mas a Paquetá adotou a obrigação como uma proposta que tivesse realmente
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70 ANOS PAQUETÁ
significado para a empresa, resgatando valores que remontam ao tempo dos pioneiros
2000
realizar”, ressalta Sabrina. O projeto também foi estendido para as unidades industriais
fundadores da empresa. “Num primeiro momento, o projeto foi voltado para pessoas com
deficiência auditiva, em parceria com a escola Concórdia, de Porto Alegre, e desenvolvido
junto a lojas localizadas na Capital gaúcha. O objetivo era poder ter uma melhor gestão
dessa primeira experiência, para depois expandi-la a mais cidades, daqui e de outros estados. A experiência serviu de benchmarking para diversas empresas de grande porte, que
procuravam saber mais sobre esse case. Foi um trabalho bonito que conseguimos
e, atualmente, além de deficientes auditivos, a empresa emprega trabalhadores com outros tipos de limitação física, que são atendidos por uma oficina inclusiva antes de serem
alocados nas funções nas quais irão atuar.
No âmbito da governança corporativa, os anos 2000 igualmente se revelaram inovadores para a Paquetá. Preparando-se para o futuro, em 2010, o grupo começou a incrementar uma reestruturação em seu modelo de gestão, dando mais autonomia aos gestores de
negócio, e consequentemente profissionalizando cada vez mais a gestão. Houve a criação
do Conselho de Administração, que monitora as atividades executivas da empresa e fixa a
orientação geral dos negócios da companhia, contando com a presença de um conselheiro
externo. Foi instituído também o Conselho Consultivo, concebido para que os sócios pudessem migrar da gestão executiva para a governança, num processo que se consolidará
na trajetória da empresa. Esse também tem dois conselheiros externos em sua composição. E, como forma de apoio consistente ao Conselho Consultivo, foram formados três
comitês: Governança e Pessoas; Auditoria e Risco; e Estratégia e Inovação.
A secretária executiva da Governança Corporativa, Elisa Elena Strack, é a guardiã que
estabelece as pontes entre os diversos integrantes dos conselhos e comitês. Respaldada
por uma trajetória de 40 anos na Paquetá, na qual começou na linha de produção da fábrica, pintando os cortes onde seria feita a costura dos calçados, Elisa é respeitada por sua
eficiência e lealdade em atender às complexas demandas de seu cargo atual. Depois de
171
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70 ANOS PAQUETÁ
2000
O dinamismo e a competência
que a Paquetá emprega em
todas as suas atividades já
mereceram reconhecimento
por meio de diversas
premiações recebidas ao
longo de sua trajetória.
173
passar por diferentes funções na lida industrial, chegou a auxiliar de telefonia, por falar
alemão fluentemente. Na época, ficou feliz com a promoção, mas não se adaptou inicialmente e voltou a atuar no setor de produção na fábrica.
Foi aí que, mais uma vez, a sensibilidade de Arlindo Weber se demonstrou providencial, como conta Elisa: “O seu Arlindo soube que tinham me tirado da telefonia e
pediu para o pessoal: ‘Vamos trazer aquela alemoazinha lá da produção e levar ela a
uma fonoaudióloga para arrumar a voz dela, pois é uma guria boa’. E lá fui eu, que sequer sabia o que era uma fonoaudióloga. Primeiro, o seu Clóvis (Kautzmann) me levou
no próprio Fusca azul até Novo Hamburgo, para consultar um otorrinolaringologista,
que constatou que eu era rouquinha por nascença, mas não tinha deficiência na voz.
Daí, passei para a fonoaudióloga, em Porto Alegre. Nessas idas e vindas, o seu Arlindo
um dia reparou: ‘Olha, tua voz ficou boa’. Claro, eu tinha perdido o medo”. A partir daí, a
carreira de Elisa na Paquetá seguiu em frente, voltou a ser telefonista, chefiou o setor,
até entrar no curso de Secretariado na Unisinos. Foi quando se tornou secretária do
diretor-presidente Adalberto José Leist, para depois assumir a função estratégica que
ocupa atualmente.
A trajetória de Elisa Strack, que começou a trabalhar na Paquetá com 15 anos de idade, ilustra não só a cultura de valorização dos colaboradores que sempre pontuou a história da empresa, como ainda revela que as premissas laborais e estratégicas estabelecidas pelo grupo, desde sua fundação, são garantia de um futuro promissor. O presidente
Adalberto José Leist destaca justamente a política de governança corporativa adotada
como um dos fatores que trazem horizontes de expansão para a Paquetá: “Uma política de governança é uma necessidade em toda a evolução dos negócios. É extremamente
interessante porque, como os negócios são diversificados, nós precisamos de gente com
capacidade para olhar, não só a indústria ou só o varejo, mas o conjunto. Então, isso está
sendo muito importante. A governança começa a nos indicar caminhos e soluções. Estamos indo muito bem. Numa evolução muito grande”.
174
70 ANOS PAQUETÁ
Da mesma forma, seu filho Tobias Leist, no cargo de vice-presidente, compartilha do
otimismo em relação ao que a Paquetá poderá alcançar nos anos que estão por vir. “Acredito em um futuro brilhante para a Paquetá. Afinal, temos um DNA imutável, de uma empresa séria, que sempre tentou implementar o melhor, buscando qualidade em seus produtos. Também temos muitos e bons parceiros, colaboradores comprometidos e somos
muito bem vistos como fabricantes e vendedores de sapatos”, ressalta Tobias. De olho no
2000
que virá mais adiante, o vice-presidente se sente à vontade, inclusive, para admitir algo
que ainda falta para a Paquetá: “Entendo que a Paquetá deveria ter alguma marca de sapato masculino. Se temos segmento feminino muito bom, do varejo à indústria, se temos
um segmento infantil com marca forte, um setor esportivo consolidado, só falta mesmo
o sapato masculino. Gostaria de ver, no futuro, uma marca de calçado para homens nos
catálogos da Paquetá”.
Para Tobias Leist, os rumos que a empresa irá trilhar, com decisões estratégicas bem planejadas, levam a um destino de plena expansão, ancorado na diversificação dos negócios hoje
consolidados. “A Paquetá conseguiu o que pretendia, sem depender de um negócio exclusivo,
como chegamos a ser dependentes de exportação em décadas anteriores. Hoje, temos 194 lojas multimarcas e mais de 200 franquias. Temos indústria exportadora e indústria de marca
própria, com capacidade fabril de fazer até 14 milhões de pares de sapatos por ano. Acredito
que todos esses negócios têm chance de crescer ainda mais. É só nos estruturarmos adequadamente e fazermos um bom trabalho. Tenho convicção de que a Paquetá pode, e vai ser, em
pouco tempo, a empresa número 1 no que se refere a calçados. Independentemente, se for
mais indústria ou mais varejo. Somos competentes nas duas frentes”, conclui o vice-presidente, que se guia pelo legado deixado por seu avô Arlindo Weber, em especial, mas também pelos
outros pioneiros que fundaram uma pequena fábrica de sapatos há 70 anos.
175
EMPRESA DE
CLASSE MUNDIAL
COMPLETA 70 ANOS
SEMPRE CONECTADA ÀS
TENDÊNCIAS E AOS
CENÁRIOS QUE ENVOLVEM
O UNIVERSO DOS SAPATOS.
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A Paquetá nasceu na cidade de Sapiranga,
onde até hoje mantém sua sede principal.
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2015
A
o longo de sete décadas, o mundo se transformou, a realidade brasileira tornou-se muito distinta daquela de tempos atrás, e a Paquetá, atenta à história
que evoluía, nunca deixou de se renovar. Sob nova identidade corporativa,
Paquetá − The Shoe Company, chegou ao novo milênio como uma empresa
que, sem perder a essência forjada por seus pioneiros em 1945, desempenha uma atuação
de reconhecido destaque como protagonista do setor calçadista em âmbito internacional.
Ao completar 70 anos, em junho de 2015, a Paquetá mostra-se cada vez mais forte do
ponto de vista institucional, industrial e comercial. Com atuação em 14 países, comemora seu septuagésimo ano de existência na condição de uma empresa respeitada por sua
trajetória em busca da constante qualidade em todos os seus produtos e serviços. Sua
estrutura fabril é composta de sete unidades, dedicadas à fabricação de calçados femininos, esportivos e infantis, com capacidade de produzir até 14 milhões de pares por ano.
Sua força no varejo se traduz em mais de 190 lojas multimarcas e mais de 200 franquias.
E sua solidez é bem representada por seus 18.500 colaboradores.
Desde sempre, a marca da evolução e da inovação está presente em tudo o que envolve
a participação da Paquetá. São provas dessa determinação diferentes ações mercadológicas
desenvolvidas neste ano de comemorações. Um exemplo é o lançamento da coleção feminina
Donna para Walk Run − DNWR, composta por sete peças de roupas produzidas com tecidos
de alta tecnologia e design exclusivo, à venda nas lojas Paquetá Esportes. Outro exemplo contempla o público infantil, que ganhou o tênis Ortopé estica -epuxa, no qual borrachinhas resistentes, coloridas e colecionáveis são usadas no lugar dos cadarços tradicionais, estimulando
a criatividade e propiciando maior interatividade com a criançada. Também é destaque o lançamento da coleção inverno 2015 da marca própria Dumond, com campanha protagonizada
pela atriz Laura Neiva, da Rede Globo, que recebeu expressiva cobertura da mídia.
Assim, quando atua no presente sob a perspectiva do futuro, a Paquetá sabe exatamente o que persegue: continuar sendo uma empresa de referência, com marcas admiradas e preferidas em todos os mercados nos quais está representada.
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2015
Em seus diferentes segmentos de atuação, a Paquetá mantém
a essência de suas atividades ligadas ao universo dos sapatos.
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Nossa essência
Os colaboradores do grupo Paquetá, desde o começo de nossa história, representaram parcela decisiva para o sucesso da empresa. Uma trajetória sempre movida a muitas mãos, e que hoje são milhares. Temos orgulho de todos, que, com seu comprometimento nas mais diferentes atividades, asseguram a contínua evolução na diversidade
de negócios da Paquetá. Afinal, está nas pessoas a nossa verdadeira essência.
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70 ANOS PAQUETÁ
Paquetá – The Shoe Company
Diretoria Executiva
Conselho de Administração
Adalberto José Leist
Presidente
Adalberto José Leist
Clóvis João José Kautzmann
Tobias Leist
Conselheiro Externo
Vice-presidente
Iara Weber Leist
Diretora Corporativa
Jorge Strassburger
Diretor Corporativo
Lioveral Bacher
Diretor Corporativo
Elvin Delmonego
Diretor Financeiro
Romeu Klein
Diretor Jurídico
Sabrina Lisboa Marques
Diretora de Recursos Humanos
Neori Molter
Conselho Consultivo
Adalberto José Leist
Iara Weber Leist
Jorge Strassburger
Lioveral Bacher
Tobias Leist
Conselheiros Externos
Francisco Cirne Lima
Ruy Lopes Filho
A diretoria executiva, da esq. p/ dir:
Elvin Delmonego, Lioveral Bacher,
Iara Weber Leist, Jorge Strassburger,
Adalberto José Leist, Romeu Klein,
Tobias Leist e Sabrina Lisboa Marques.
187
Referências bibliográficas
CALANDRO, Maria Lucrécia; CAMPOS,
FROEHLICH, Cristiane. A dinâmica das
Silvia Horst. Arranjo Produtivo Localizado
competências organizacionais −
Calçadista Sinos-Paranhana. Porto Alegre:
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Dissertação (Mestrado em Administração)
COSTA, Achyles Barcelos da.; PASSOS,
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(Unisinos), São Leopoldo, 2006.
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MAGALHÃES, Dóris Rejane Fernandes.
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Sapiranga − 50 Anos de Município. Mais
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Cristiane.Trajetória empresarial em
de 200 Anos de História. Porto Alegre:
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cluster calçadista brasileiro: o caso da
Jornal “O Ferrabraz” − Edições esparsas das
Paquetá Calçados. Ensaios FEE, Porto
décadas de 1950 e 1960, Sapiranga.
Alegre, v. 29, n. 2, p. 385-408. 2008.
Revista “Paquetá 60 Anos − Uma história
FLECK, Lucio. A História de Sapiranga.
de Trabalho, Ética e Compromisso com
Santa Maria: Pallotti 1994.
o Futuro”. Edição especial das áreas de
Desenvolvimento Humano, Marketing,
Treinamento e Capacitação da Paquetá.
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188
Créditos / Iconografia
Fotos
Acervo Piccadilly − págs. 65 e 69.
Acervo Daiby Calçados S/A – pág. 50.
Arquivo Agência RBS − págs. 56 (dir.),
Acervo Família Bohlke −
págs. 20 (esq. alto) e 62 (alto).
Acervo Museu Nacional do Calçado/Novo
Hamburgo − págs. 02, 20 (dir. alto), 26 (dir.),
38 (dir.), 66, 67 e 123 (esq. abaixo).
Acervo Museu Joaquim Felizardo/Porto
Alegre − pág. 62 (dir. abaixo).
Acervo Museu Municipal Adolfo Evaldo
Lindenmeyer/Sapiranga − págs. 19, 20
(abaixo) 32, 33 (esq.), 39, 44 (dir.), 45 (esq.),
49 (meio e dir. alto e abaixo) e 53 (alto).
62 (esq. abaixo) e 64.
Carlos Edler − págs. 04, 13, 72 (dir. alto),
142 (esq. abaixo), 150 (esq, alto e dir. meio),
Pedro Haase Filho − pág. 27 (dir.) e
180 (dir. alto) e 183 (dir. abaixo).
Reproduções
Acervo Família Carraro − pág. 117.
152, 157 (dir. abaixo), 159 (esq. alto),
Acervo Museu Municipal Adolfo Evaldo
165 (esq.), 168, 169, 172 (esq. alto e abaixo),
Lindenmeyer/Sapiranga −
173 (dir. alto) e 184 (alto).
págs. 18 (esq. alto), 34, 46, 49 (alto à esq.),
Duda Bussolin – 180 (meio abaixo),
53 (meio), 58 e 76 (esq.).
183 (dir. alto), 184 (esq. abaixo) e
Acervo Paquetá − págs. 24, 28 (abaixo), 33
185 (dir. alto).
(dir.), 37, 38 (esq.), 41 (meio), 57 (dir.), 134,
Genaro Joner − págs. 07, 09, 12, 14 (meio),
15, 18 (abaixo), 27 (meio), 28 (dir.), 29 (dir.),
30 (esq. e meio), 31 (dir.), 88, 122 (abaixo),
143, 150 (esq. e meio alto), 158,
159 (dir. alto e abaixo) e
181 (esq. e dir., acima).
Acervo Paquetá − págs. 06, 08, 21, 22, 23,
137 (meio), 138, 142 (alto e dir. abaixo), 146,
Acervo Pedro Haase Filho −
25, 26 (esq.), 27 (esq.), 28 (esq.),
148 (alto no meio), 150 (dir. alto e abaixo),
pág. 41 (esq. abaixo).
29 (dir.), 30 (dir.), 49 (esq. abaixo), 52,
151, 154 (dir. e abaixo), 155, 156,
53 (esq. abaixo), 68, 72 (meio), 77 (meio),
157 (alto e esq. abaixo), 159 (esq.alto e dir.
Jornal O Ferrabraz − págs. 44 (esq.),
78, 81, 82, 87 (meio e abaixo), 90, 93, 94, 97,
abaixo), 162,163, 164, 165 (dir.),
98, 99, 101,105 (alto e esq. abaixo), 107, 110,
172 (dir. alto), 173 (esq. alto, meio e abaixo),
112, 113, 114, 120, 121, 122 (alto),
177 (dir.), 180 (dir. abaixo), 181 (dir. abaixo),
123 (alto e dir. abaixo), 126, 127, 130, 131,
182, 183 (esq. alto e dir. abaixo),
133, 136, 137 (dir.), 142 (dir. alto), 144, 148
185 (esq. alto e abaixo) e guardas.
(dir. esq. alto meio e abaixo), 149, 154 (dir.),
159 (meio), 160, 167, 172 (dir. meio),
180 (esq. abaixo), 184 (dir. abaixo) e 187.
Acervo Pessoal Nereu Carraro − págs. 92 e
Márcia Tavares − págs. 03, 14 (esq.),
31 (esq.), 176 (esq.), 177 (esq.), 178,
180 (esq. e meio alto), (esq. e dir. meio).
56 (esq.), 57 (esq.), 72 (abaixo) e 77 (dir.).
Documentos
Acervo Escola Luterana de Ensino Médio
São Mateus/Sapiranga –
pág. 72 (esq. alto).
Acervo Paquetá − págs. 18 (dir. alto), 40,
41 (dir.), 43, 45 (dir.), 53 (dir. abaixo),
76 (dir.), 86, 87 (alto), 93 (esq.), 135.
105 (dir. abaixo).
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© 2015 Paquetá
Todos os direitos de edição reservados.
Projeto Editorial
Libretos
Quati Produções Editoriais
Coordenação Editorial
Pesquisa
Paulina Bacher Paiva
Luiz Afonso Franz
Shana Lima
Gilda Jerusia da Costa Carraro
Edição e Textos
Editoração
Libretos
Pedro Haase Filho
Arte e Design Gráfico
Revisão
Clô Barcellos
Henrique Erni Gräwer
Produção Executiva
Desenhos (abertura capítulos)
Andrea Ruivo
Kaue Machado da Silva
Reportagem
Tratamento de Imagens
Marlova Assef
Nico Noronha
Paulo César Teixeira
Maximiliano Dias / Estúdio MX
Agradecimentos
Anelise Blos, Elisa Elena Strack, Ida Helena Thon,
Museu Municipal Adolfo Evaldo Lindenmeyer/Sapiranga,
Museu Nacional do Calçado/Novo Hamburgo, Manoela Pedrazzi Haase,
Nadir Schmitt Carraro, Pedro Enrique Perelló e Sílvia Bauer,
pela contribuição na produção deste livro.
E a todos os sócios, familiares, parceiros, gestores, colaboradores
e ex-colaboradores que ajudaram a contar a história da Paquetá
através de seus depoimentos.
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Sede
Av. 20 de Setembro, 4411
Centro– Cep 93800-000
Sapiranga – Rio Grande do Sul
Brasil
www.paquetatheshoecompany.com.br
Formato
23cm x 20cm
Mancha
14 x 15 cm
Tipologia
Sanuk Pro
Papel Couche fosco 150 g/m2 (capa)
Off-set 160 alta alvura g/m2 (guardas)
Couche fosco 150 g/m2 (miolo)
Número de páginas 192
Tiragem1300
Impressão e acabamento
Gráfica Pallotti
Ano 2015
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UMA HISTÓRIA