A Governança universitária em transformação: a experiência das universidades públicas brasileiras Elizabeth Balbachevsky (USP/UNICAMP) Maria Teresa Kerbauy (UNESP) Neylor De Lima Fabiano (UFSCar) Governança: novos e velhos entendimentos • Governança: neologismo produzido a partir do termo governance, da língua inglesa: • No seu sentido mais tradicional, governance pouco se diferencia do significado do termo Government e, portanto, pode ser entendido como o espaço de autoridade de uma instância política, decisória, etc. • Na literatura moderna de ciência política, o termo governance foi retomado para descrever situações onde ocorre um adensamento deliberado dos canais de comunicação e de coordenação horizontal entre atores situados em diferentes arenas de decisão coletiva ( Benz, 2007 e Maytz, 2003) Esses sistemas são identificados por uma situação de intensa negociação e cooperação entre autoridades públicas e atores privados, integrados por redes estáveis que permitem a convergência de decisões e a emergência de políticas comuns. • Essa coordenação não se faz sem a produção de uma nova realidade institucionais: regras comuns limitam o espaço de autoridade de cada participante da governança Tensões geradas por transformações recentes do ensino superior • MUDANÇAS EXÓGENAS • • MUDANÇAS ENDÓGENAS Emergência de novas áreas de conhecimento caracterizadas por: – Crescimento associado à exploração de novos campos: agenda de pesquisa que se diversifica se expande pela introdução constante de novas subáreas (Regime de busca divergente, transdisciplinaridade) – mudanças radicais na relação entre o natural e o artificial: o próprio momento do conhecimento e da observação se confunde com o design de novos artefatos – alto nível de complementaridade institucional: a produção do conhecimento nas novas áreas do conhecimento depende da mobilização de grupos heterogêneos, tanto do ponto de vista cognitivo, como do ponto de vista de sua inserção institucional • Massificação: ampliação dos custos e portanto, da proporção dos recursos públicos comprometidos com a manutenção da universidade • Expectativas relativas ao papel da universidade no desenvolvimento regional – Nova literatura sobre inovação re-avalia formas de impacto da universidade para o desenvolvimento – Desmonte do modelo linear que articulava a PC&T no pós-guerra Novas dinâmicas da relação entre universidade e sociedade: • Aumento da visibilidade e presença da universidade na sociedade • Ampliação do número de setores da sociedade que percebem seus interesses na atividade das universitária (stakeholders) • Multiplicação de expectativas e demandas colocadas sobre a universidade • Ampliação da utilidade da universidade no cálculo de atores políticos • Aumento da complexidade das demandas internas para apoio na interação com atores externos • Impactos sobre a governança do sistema de ensino superior: – Aumento/reforço da ação regulatória dos governos sobre a Universidade: • Instrumentos de “orientação à distância”: financiamento condicionado a resultados • Instrumentos de avaliação (interna e externa) As respostas da Universidade (pública) a esse cenário • Trajetória recente de diferentes universidades em todo mundo permite identificar dois caminhos: – Enfraquecimento das instâncias decisórias centrais (ampliação da autonomia das unidades da base) para acomodação de modelos acadêmicos conflitantes (experiência de boa parte das Universidades latino-americanas) • Amplia e isola espaços internos da universidade, encarregados de diferentes atividades • A longo prazo, essa alternativa tende a enfraquecer a universidade perante o governo, tornando-a mais vulnerável às pressões políticas – Fortalecimento da capacidade de decisão estratégica da instituição • Postura pró-ativa da instituição para organizar demandas externas e propor/negociar alternativas e soluções • Essa alternativa implica no reforço das instâncias de decisão estratégica e na criação de canais estáveis e sólidos de diálogo com setores da sociedade • Implica no reconhecimento explicito de limites da autonomia, produzindo canais de governança estáveis entre a instituição e seus stakeholders Governança universitária: modelo teórico ( Maasen & Olsen) Dinâmicas institucionais determinadas por fatores internos Dinâmicas institucionais determinadas por fatores externos Atores internos compartilham normas e objetivos Modelo humboltiano: governo de pares Lógica: identidade Critério de avaliação: qualidade científica Dinâmica: com. científica Universidade como instrumento de política nacional Lógica: administrativa Critério: resultado político Dinâmica: decisões gov. Atores têm percepções conflitivas sobre normas e objetivos Representação de interesses, Lógica: representação Qualidade: acomodação dos interesses Dinâmica: barganha interna Empresa de serviços operando em mercados competitivos Comunidade de serviços Qualidade: responsividade Dinâmica: respostas à pressões competitivas O caso em análise: • Fundada em 1968, presente em três cidades do Estado de • São Paulo. • Seus quatro centros - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia (CCET), Centro de Educação e Ciências Humanas (CECH) e Centro de Ciências Agrárias (CCA) estão divididos em 32 departamentos. • Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FAI), instituída em 1992 e atua como interface junto aos órgãos de fomento e coordena a extensão. • Em 2006, a Universidade submeteu ao Ministério da Ciência e Tecnologia seu plano de criar o Núcleo de Gestão Tecnológica para cumprir as exigências da Lei da Inovação, instituindo a política de inovação tecnológica e a Agência de Inovação. A partir de então a Agência, vinculada diretamente à reitoria, passou a tratar das questões de propriedade intelectual na universidade : • A Agência é constituída por uma Diretoria Executiva, composta de diretor e vice-diretor indicados pelo reitor, e pela Comissão Especial de Propriedade Intelectual, responsáveis por analisar a viabilidade técnica e econômica dos pedidos de depósito • equipe da Agência de Inovação é formada por 11 profissionais, em sua totalidade ligada à FAI • A Agência possui mecanismos que obrigam o processo de patenteamento a transitar por ela, de forma a proporcionar um tratamento adequado e avaliar a pertinência de sua divulgação. Segundo seu dirigente “todos os convênios com empresas passam pela agência. Modo de operação • A Agência possui grau de integração com duas diferentes instancias da Universidade: – Estratégico, com as unidades de pesquisa. Nesse caso a agência tem uma postura passiva dado que, segundo seu dirigente já existe por parte dos pesquisadores uma identificação com a mesma, onde é possível encontrar proteção para a propriedade intelectual. – Tático e operacional, com os órgãos de comunicação social da universidade. • Para superar os conflitos referentes à diversidade cultural entre cientistas e empresários a agência promove cursos de capacitação realizados em parceria como INPI onde “ os próprios pesquisadores são um ponto de disseminação da cultura da inovação”. Algumas observações preliminares • Modelo global de governança: democrático, com eleição direta de reitor • Alta descentralização das decisões relativas às atividades de docência e pesquisa • Relativa autonomia das atividades ligadas à cooperação empresarial, patenteamento, etc • Novos desafios colocados pela recente expansão e criação de novos campi • Diferenças nas dinâmicas e lógicas a partir do qual a universidade é percebida por diferentes setores internos e externos Percepções da universidade a partir de diferentes stakeholders Dinâmicas institucionais Dinâmicas institucionais determinadas por fatores internos determinadas por fatores externos Atores internos compartilham normas e objetivos Departamentos e programas de pósgraduação, lideranças acadêmicas Ministério e setores do poder público Agências de C&T Políticos regionais e locais Atores têm percepções conflitivas sobre normas e objetivos Organizações sindicais e movimentos políticos internos à instituição e suas associações nacionais Lideranças acadêmicas com forte inserção em atividades de prestação de serviços para empresas Existe convergência de percepções nas agências • Questões centrais: • Grau de convergência das percepções entre a Agência de inovação e seus aliados estratégicos internos • Mecanismos de compatibilização entre as diferentes percepções • De onde vem o dinamismo da instituição • Capacidade de resposta e o impacto dessas respostas para o ambiente interno