A INFLUÊNCIA DA UNIVERSIDADE NA FORMAÇÃO DO PENSAMENTO ADULTO DIAS, Marília Silva1 - UFS / IFS LIMA, Erida Souza2 - UFS / UFMG GT8 – Espaços educativos, Currículo e Formação Docente (Sabres e Práticas) Resumo Este artigo teve por objetivo analisar a formação do pensamento adulto, tomando como ponto de partida os aspectos cognitivos e a influência da universidade, partindo de pressupostos fundamentais como o processo mental, a mediação do docente e a formação do conhecimento nas universidades. Pensa melhor quem frequenta uma universidade? O conhecimento que se adquire na formação acadêmica influencia na forma de pensar do adulto? Esse conhecimento é adquirido ou transmitido? Estas e outras indagações serão respondidas ao longo deste artigo, de acordo com as várias leituras e conclusões a que chegamos em relação ao tema abordado. Palavras-chave: pensamento adulto. universidade. conhecimento. formação. Resumen Este artículo tuvo por objetivo analizar la formación del pensamiento adulto, tomando como punto de partida los aspectos cognitivos y la influencia de la universidad, partiendo de presupuestos fundamentales como el proceso mental, la mediación del docente y la formación del conocimiento en las universidades. ¿Piensa mejor quién frecuenta una universidad? ¿El conocimiento que se adquiere en la formación académica influí en la forma de pensar del adulto? Ese conocimiento es adquirido o transmitido? Estas y otras indagaciones serán contestadas a lo largo de este artículo, de acuerdo con las diversas lecturas y conclusiones a que llegamos en relación al tema abordado. Palabras-llave: pensamiento adulto. universidad. conocimiento. formación. Introdução 1 Mestranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Sergipe (UFS); Professora efetiva do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS). Email: [email protected] 2 Mestranda em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Sergipe (UFS); Especialização em andamento em Ensino de Línguas Mediado por Computador pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Email: [email protected] 1 A universidade tem um papel permanente: gerar saber de nível superior para viabilizar o funcionamento da sociedade. Tanto é que vemos no interior das instituições universitárias a presença de opiniões, atitudes e projetos opostos que exprimem divisões e contradições sociais. Isto ocorre porque a cultura na qual o indivíduo está inserido e as experiências pessoais são diversas e devem ser consideradas no momento em que tentamos compreender como ocorre o processo de formação do pensamento adulto e qual a influência da universidade sobre ele. Pensa melhor quem freqüenta uma universidade? O conhecimento que se adquire na formação acadêmica influencia na forma de pensar do adulto? Esse conhecimento é adquirido ou transmitido? Estas e outras indagações serão respondidas ao longo deste artigo, de acordo com as várias leituras e conclusões a que chegamos em relação ao tema abordado. A Formação do Pensamento Adulto O pensamento adulto está dividido em dois segmentos: o pós-formal e o dialético. Podemos definir o pensamento pós-formal como “o tipo de pensamento adulto que serve para resolver problemas da vida real (...) e é mais dialético, ou seja, capaz de combinar elementos contraditórios em um todo global” (BERGER e THOMPSON) Este tipo de pensamento está bastante influenciado pela carga emocional e pela subjetividade com que os indivíduos tentam resolver os problemas do cotidiano. De acordo com os estudos de Blanchard (1989), quanto mais maduro é um adulto, mais objetiva e mais potente será sua forma de pensamento. Já o pensamento dialético, “se caracteriza por entender os prós e os contra, vantagens e desvantagens e possibilidades e limitações inerentes a cada idéia e ao curso de cada ação (...) o pensamento dialético implica na integração constante das crenças e experiências próprias com todas as contradições e incoerências com as que encontram (BERGER e THOMPSON) Podemos dizer, então, que o pensamento dialético é a visão que o próprio indivíduo tem dele mesmo e do mundo que o cerca. Suas conclusões não são uma verdade absoluta, ao contrário, é uma visão relativista. Tudo depende da maneira como cada um vê determinada situação. Para o pensamento dialético, o oposto daquilo que se 2 acredita também deve ser levado em consideração no momento em que se constrói um pensamento para que, desta maneira, chegue-se a uma conclusão satisfatória. Além destas duas formas de pensar, muitos pesquisadores consideram as responsabilidades, experiências e preocupações da idade adulta como fatores que afetam o raciocínio moral. De acordo com os estudos de Pascarella e Terenzini (1991): (...)…en comparación con los estudiantes del primer año, los del último curso tienen mejores habilidades orales y de comunicación escrita, razonan mejor de manera abstracta, piensan más críticamente y son mas diestros en el uso de la razón y la evidencia para abordar problemas mal estructurados para los cuales no existen respuestas correctas que puedan verificarse, tienen mayor flexibilidad intelectual ya que pueden mejor más de un aspecto de un asunto complejo y pueden desarrollar marcos abstractos más sofisticados para vencer a la complejidad. É esta teoria que serve de base para as conclusões a que chegamos acerca deste tema. Outras pesquisas também comprovam que os estudos universitários submergem o aluno em uma nova realidade que o faz pensar mais e melhor. Aqui não se leva em consideração somente a formação do pensamento, mas também, a qualidade do mesmo. O estudante universitário está, a todo tempo, recebendo novos conhecimentos e cada vez mais, aprofundando-os, o que faz com que o nível do pensamento siga na mesma direção. Segundo William Perry (1981), “esta progressão é um produto do entorno universitário: quando os estudantes alcançam um nível novo, seus colegas, professores, a leitura ou o trabalho em sala de aula estimulam novas perguntas que abrem o caminho até o próximo nível.” Para Berger e Thompson (1989), com esta afirmação, William reconheceu que este processo de desenvolvimento não termina na universidade, mas sim continua durante toda a idade adulta. Para o desenvolvimento do pensamento, o aprendiz tem um papel central porque não há desenvolvimento sem a aprendizagem construída no ambiente sóciohistórico-cultural, visto que o individuo possui processos de desenvolvimento movidos por mecanismos de aprendizagem acionados externamente e para que 3 este processo ocorra de maneira satisfatória, deve haver um intercâmbio entre informação genética e experiência real do meio socialmente construído. Desenvolver-se significa construir conhecimentos cada vez mais complexos, amplos, móveis ou plásticos. Seria passar de fases de um desenvolvimento mental para outro, interagindo aspectos madurativos, biológicos e culturais, produzindo processos mentais superiores. Para isso, Vigotski (1984) elabora três conceitos fundamentais: Nível de desenvolvimento real (NDR) Nível de desenvolvimento potencial (NDP) Zona de desenvolvimento proximal (ZDP) Comparando as observações com o pensamento de Vigotski, nos aprofundaremos somente no NDR, que é a capacidade do indivíduo de atingir novos conhecimentos, sob a influência de estímulos mediadores. Esses conhecimentos são adquiridos através da elaboração do pensamento que, por sua vez, recebem estímulos na formação universitária, seja por meio de provas, materiais áudio-visuais, discussões, seminários, etc. É a compreensão do sistema de atividades das funções mentais como a fonte que estrutura todas essas atividades superiores, e esta, é construída por via do pensamento. A construção do pensamento sugere a interação de inúmeras habilidades cognitivas, o relacionamento com o outro e as mais variadas opiniões e formas de pensar. Ainda em conformidade com o pensamento de Vigotski (1984), o pensamento se realiza através da interrelação e está influenciado por aquilo que é externo. A Influência da Universidade Baseadas nessa teoria, podemos dizer que está obvio que a universidade influencia na formação do pensamento adulto, que é estabelecida de uma forma mais crítica, mais profunda, mais elaborada. “Al promover el desarrollo crítico del alumno, la universidad establece una misión de enseñanza reflexiva, inclusiva, permitiendo que el alumno pueda comprender las relaciones que vive entre las experiencias que se presentan, para que, de esta manera, pueda mediarlas, creando nuevos significados, condicionando nuevas 4 interacciones y acciones bajo su pensar y su actuar.” (THEOBALDO, 2005) A universidade deve incentivar o aluno na busca pelo desenvolvimento consistente do raciocínio, visando uma maior produção de conhecimentos e conceitos mais elaborados e eficientes. Theobaldo (2005) nos aponta para o pensamento reflexivo como a substituição de conexões imediatas e superficiais por relações complexas que possam contar com o auxílio de habilidades cognitivas em sua construção. Saber utilizá-las é saber construir pensamentos mais consistentes. O sócio-interacionismo tem papel fundamental na formação desse pensamento, uma vez que nos aponta novos caminhos para a compreensão do desenvolvimento psicológico a partir da gênese social do indivíduo. Tal desenvolvimento, segundo essa teoria, só pode seguir seu curso caso ocorra a apropriação da cultura e de novas formas de conhecimento e das ações que o indivíduo realiza, constituindo, desta maneira, suas características internas. Assim sendo, a aquisição de novos conhecimentos não ocorre pela simples copia ou imitação, mas pelo resultado das interações externas internalizadas que acometem o indivíduo no transcurso de seu desenvolvimento. Tais interações externas podem ser construídas no ambiente universitário, caracterizando-o como locus fomentador destas interações e mediações. Enquanto instituição social, a universidade é responsável em promover a construção de novos saberes e conhecimentos e é, ainda, o lugar para a aquisição de informações, habilidades, valores, etc, a partir de seu contato com a realidade, o meio ambiente e outras pessoas. Los procesos de adquisición y de producción de los conocimientos en las universidades, colaboran para la socialización y la formación crítica, siendo la formación su función primordial, pues constituye los fines, es decir, la finalidad primera y la última de la universidad. Entretanto, a universidade não é a única instituição capaz de promover o desenvolvimento deste tipo de pensamento, mas é o ambiente fecundo criado pela sociedade para manter, criar e divulgar conhecimentos e formar cidadãos, buscando qualificação, inovação e crítica. 5 Além das questões citadas, há que se levar em consideração a formação das universidades atuais e o perfil dos estudantes que conquistam um título universitário. A universidade está cada vez mais diversificada e heterogênea, já que tem se multiplicado o número de instituições que oferecem cursos superiores e consequentemente, o número de estudantes com acesso a ela. Todavia, o perfil dos estudantes está mudando. Como resposta, as universidades também se diversificaram e criaram seus mecanismos de captação discente, tanto em termos de estrutura física como em estrutura curricular. Podemos observar uma predominância na oferta de cursos presenciais com duração média de 4 a 5 anos, mas podemos perceber, nitidamente, a formação de cursos de menor duração (2 a 3 anos) e de cursos à distância que exigem um ambiente diferenciado em relação ao estudo tradicional; e como já falamos anteriormente, do ambiente sócio-interacional como um dos fatores com influência direta na construção do pensamento, vale ressaltar a nova formação das mesmas. Todavia, os estudos de Pascarella y Trenzini (1991), mostram que: “(…) aunque la experiencia universitaria de cada uno se ve afectada de muchas maneras por las diferencias entre esos centros, el impacto directo de tales diferencias en el crecimiento cognitivo es reducido.” Pensa melhor quem frequenta uma universidade? Ainda de acordo com Pascarella y Terenzini (1991): “(…) los estudiantes que asisten a la universidad cultivan varias habilidades intelectuales que van desde la competencia verbal hasta el razonamiento abstracto, independiente de la universidad a la que asistan.” Estes pesquisadores também descobriram que: “factores como el nivel de contacto entre los estudiantes y el cuerpo docente, el grado de énfasis en las formas de instrucción individualizadas y con sesiones de prácticas (…), el nivel del profesorado y la implicación personal de los estudiantes en la vida intelectual y cultural de la universidad pueden tener un impacto significativo sobre la magnitud del crecimiento cognitivo durante los años universitarios.” E ainda que: 6 “la elección de una especialización también influye en el crecimiento del razonamiento formal y del pensamiento crítico, pero principalmente en los temas y problemas asociados a esa área temática.” É objetivo da universidade não só proporcionar novas formas de pensar como também preparar o aluno para que aprenda e desenvolva o raciocínio durante toda a vida. A Formação do Conhecimento Em contrapartida, temos em Jean Piaget uma visão de desenvolvimento com ênfase nos fatores sociais dentro da explicação do desenvolvimento intelectual. Os estudos de Piaget se centralizam na formação do conhecimento e em sua definição, mas através de uma perspectiva biológica e psicológica. Para Piaget, não existe descontinuidade entre o pensamento da criança, do adolescente e do adulto. Para ele, os pensamentos estão interconectados entre si (em suas fases) e vão se desenvolvendo uns a partir dos outros. Esse processo, por sua vez, se efetua através de um mecanismo autorregulatório que consiste no processo de equilíbrio progressivo do organismo com o meio em que o individuo está inserido. Na visão de Piaget: “el conocimiento no procede de la experiencia única de los objetos tampoco de una programación innata pre-formada en el sujeto, pero de construcciones sucesivas con elaboraciones constantes de estructuras nuevas.” (PIAGET. 1976) Está implícito nessa ótica de Piaget que o homem é possuidor de uma estrutura biológica que o possibilita desenvolver o mental, mas esse fato por si não garante o desencadeamento de fatores que propiciarão seu desenvolvimento, visto que este só passará a partir da interação do sujeito com o objeto a conhecer. Por sua vez, a relação com o objeto, ainda que essencial, da mesma maneira também não é condição suficiente do desenvolvimento cognitivo humano, uma vez que para tanto é preciso, ainda, o exercício do raciocínio. 7 Simplificando ao máximo, o desenvolvimento do pensamento humano, no modelo piagetiano, é explicado segundo o pressuposto de que existe uma conjuntura de relações interdependentes entre o sujeito conhecedor e o objeto a conhecer. Esses fatores que são complementares envolvem mecanismos bastante complexos e intrincados que englobam o entrelaçamento de fatores que são complementares, tais como: o processo de amadurecimento do organismo, a experiência com objetos, a vivência social e sobre tudo, o equilíbrio do organismo ao meio. Devemos considerar que para se avançar no desenvolvimento intelectual, é preciso que o ambiente promova condições para transformações cognitivas, ou seja, é necessário que se estabeleça um conflito cognitivo que demande um esforço do indivíduo para superá-lo a fim de que o equilíbrio do organismo seja reestabelecido e assim, sucessivamente. Desta maneira, esse processo de transformação vai depender sempre de como o indivíduo vai elaborar e assimilar suas interações com o meio. Neste caso, podemos considerar a universidade como um ambiente ideal para que o intelecto se desenvolva, mas esse desenvolvimento não está garantido uma vez que, se o indivíduo não interage com o meio, não busca mecanismos para elaborar pensamentos mais aprofundados ou não busca gerar conflito entre o que se sabe e o que se busca ou se deve saber, a produção do conhecimento não será concretizada. O papel do meio no funcionamento do indivíduo é relegado a um plano secundário, pois permanece ainda, a predominância do indivíduo em detrimento das influências que o meio exerce na construção do conhecimento. Conclusão Considerando o exposto acima, podemos sugerir que o pensamento cumpre seu papel dentro do processo mental, pois e ele que atribui significado às palavras ditas. Para a universidade, reservamos o papel de atuar como mediadora nesse processo de formação intelectual, principalmente ao concluirmos que a aprendizagem é socialmente mediadora, é uma experiência compartilhada na qual o êxito dessa aprendizagem dependerá da capacidade da instituição de ensino, representada pelo professor, em fomentar nos alunos a capacidade destes em legitimar o 8 conhecimento próprio, construindo novas habilidades intelectuais, desenvolvendo assim a autonomia do pensamento. O docente é o mediador desse processo interacionista e a universidade é seu ambiente, na qual a interação entre ambos estimula a construção do conhecimento continuamente criado e recriado. Portanto, a universidade é estrutural e intencionalmente finalizada para a produção do conhecimento e formação humana. Desta maneira, seus significados estão interconectados aos processos de socialização, ao desenvolvimento do pensamento crítico que implica na capacidade de reflexão autônoma e fundamentada e, consequentemente na estrutura da sociedade que é enriquecida por pessoas que conseguirão fundamentar o pensamento crítico. Assim, é importante ressaltar que a formação do pensamento se faz melhor quando o indivíduo está inserido em um ambiente que favorece o desenvolvimento da reflexão crítica. A universidade cumpre esse papel, mas ainda que não garanta a qualidade do intelecto, podemos dizer que, ao menos, oferece as ferramentas necessárias para que essa qualidade se concretize. A formação do pensamento crítico permitirá ao aluno superar o conhecimento superficial podendo englobar uma série de conhecimentos mais complexos a fim de que se possa formar cidadãos capazes de discernir, atuar e mobilizar a sociedade. 9 REFERÊNCIAS BERGER, Kathleen Stassen, THOMPSON, Ross A., Psicología del Desarrollo: Adultez y Vejez, Editorial Médica Panamericana MADRUGA, Juan Antonio García, MARTÍNEZ, Francisco Gutiérrez, LOPEZ, Nuria Carriedo, Psicología Evolutiva II, desarrollo cognitivo y lingüístico, volumen I, Universidad Nacional de Educación a Distancia. NONAKA, Ikujiro, TAKEUCHI, Hirotaka, Criação de conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 1997 THEOBALDO, M. C., A Educação para Pensar o Pensamento (www.bibvirt.usp.br, acessado en 10-05-2013, às 20:24) VYGOTSKI, L.S., A Formação Social da Mente, SP, editora Martins Fontes, 1984. www.unucseh.ueg.br, acessado em 12-05-2013, às 20:09. 10 11