PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
CURSO DE PEDAGOGIA
LAIANA APARECIDA PEDROSO
ERA UMA VEZ UMA ANÁLISE REFLEXIVA DOS CONTOS DE FADAS EM
UMA TURMA DE ALFABETIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
DA REDE MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
São José
2011
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
CURSO DE PEDAGOGIA
LAIANA APARECIDA PEDROSO
ERA UMA VEZ UMA ANÁLISE REFLEXIVA DOS CONTOS DE FADAS EM
UMA TURMA DE ALFABETIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
DA REDE MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Centro Universitário Municipal de São José – USJ,
como requisito para a obtenção do grau de licenciada
em Pedagogia.
Orientadora: Prof.ª. Dr.ª Jaqueline Zarbato Schimitt.
São José
2011
LAIANA APARECIDA PEDROSO
ERA UMA VEZ UMA ANÁLISE REFLEXIVA DOS CONTOS DE FADAS EM
UMA TURMA DE ALFABETIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
DA REDE MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para a obtenção
do grau de licenciada em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José
– USJ, avaliado pela seguinte banca examinadora:
Orientadora:
Profª. Jaqueline Zarbato Schmitt, Drª.
Profª. Elisiani Cristina de Souza de Freitas Noronha, Me.
Profª. Isabel Christiani Susunday Berois, Me.
São Jose, 21 de novembro de 2011.
Dedico este trabalho a todos que
me ajudaram a concluir mais esta etapa
da minha vida, em especial a minha mãe,
por acreditar no meu sonho.
AGRADECIMENTOS
Era uma vez uma menina que cresceu acreditando que os sonhos podiam se
tornar realidade, desde que nunca deixasse de sonhar.
Durante cada momento de sua vida, foi acompanhada e acolhida por sujeitos
capazes de renovar seus anseios.
A cada dificuldade encontrada, havia pessoas especiais que mostravam o
caminho do sucesso e da felicidade.
Quanto mais crescia, mais encontrava sujeitos especiais, que ajudavam, da
maneira que podiam, muitas vezes com uma palavra ou um gesto de carinho.
Essa menina, que agora é mulher, agradece a todos que passaram pela sua
vida e que deixaram uma marca registrada em seu coração.
E deseja, do fundo do seu coração, que essas pessoas possam alcançar seus
objetivos da mesma forma que ela alcançou: não deixando de acreditar em seus
sonhos!
Agradecimentos especiais a sua família, bem como à família de seu
namorado Felipe, também a ele, aos seus amigos e colegas da turma de Pedagogia
2008/1, aos educadores do curso, à Universidade de São José, à turma de
Alfabetização, à educadora da turma, ao Centro Educacional São Luiz e também ás
educadoras e estagiárias do SESC Prainha, em especial á educadora Maria Helena.
Agradeço em especial à orientação de Jaqueline e á orientadora de estágio
no Ensino Fundamental, Elisiani, por suas contribuições nesta pesquisa.
Fim de uma etapa, de uma história de lutas e sonhos.
Um sonho que se sonha só
é só um sonho que se
sonha só, mas sonho que
se sonha junto é realidade.
Raul Seixas
RESUMO
Esta pesquisa visa apresentar a apropriação dos contos de fadas no processo de
alfabetização de uma turma de Educação de Jovens e Adultos. Tendo como objetivo
analisar os contos de fadas como elemento de construção de conhecimentos na
EJA. Para tal, foram realizadas observações e proposições numa turma da EJA do
Município de São José, investigando, através das narrativas, mas também das
atividades realizadas com a turma, uma propostas pedagógica de construção de
conhecimento a partir do contato com os contos de fadas. Essa pesquisa tem como
abordagem central a construção do saber na EJA, isso porque o tema dos contos de
fadas é relativamente novo nesta modalidade de ensino. Pensa-se que essa
proposta pode trazer novas concepções para o processo de alfabetização, não como
uma ‘infantilização’, mas sim como possibilidade de espaço da manutenção da
imaginação. Tendo esta pesquisa um resultado positivo, pois, comprovou-se na
turma de EJA pesquisada, que os contos de fadas podem contribuir para a aquisição
ou aperfeiçoamento de saberes.
Palavras-chave: EJA. Alfabetização. Conto de Fadas.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09
2 UM CONTO DE FADAS ATUAL: BREVE APRESENTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO E
DA TURMA PESQUISADA....................................................................................... 12
3 UMA VISÃO DOS CONTOS DE FADAS: COMPOSIÇÂO E PERCURSO DA
PESQUISA ................................................................................................................ 14
4 A ORIGEM DOS CONTOS .................................................................................... 19
5 O CONTO DE FADAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: ANÁLISES
DA PESQUISA .......................................................................................................... 27
5.1 DIÁRIO DE CAMPO: A EXPERIÊNCIA DOS CONTOS DE FADAS EM UMA
TURMA DE ALFABETIZAÇÃO DA EJA .................................................................... 27
5.1.1 Um olhar investigador.................................................................................... 27
5.1.2 De um olhar investigador para proposições reveladoras ........................... 35
5.2 OLHAR INVESTIGATIVO E PROPOSIÇÕES REVELADORAS: ANÁLISES DAS
DISCUSSÕES ACERCA DOS CONTOS DE FADAS NUMA TURMA DE
ALFABETIZAÇÃO DA EJA........................................................................................ 40
5.2.1 Quem são os “personagens” da turma de alfabetização da EJA da Escola
Básica Municipal Docilício Vieira da Luz? ............................................................ 41
5.2.2 A instituição como oportunizadora de práticas educativas envolvendo os
contos de fadas ....................................................................................................... 46
5.3 AS PROPOSTAS DOS CONTOS DE FADAS PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS
E ADULTOS: “INFANTILIZAÇÃO” OU CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS? ... 49
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 56
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 58
APÊNDICES ............................................................................................................. 60
ANEXO...................................................................................................................... 70
9
1 INTRODUÇÃO
A motivação da pesquisa surgiu depois de algumas tentativas de elucidar uma
reflexão sobre os contos de fadas e, assim, concretizá-la em algo que fizesse
significado para a prática educativa. Devido a este fato, buscou- se contemplar uma
temática que fosse relevante tanto para mim, quanto para os educandos
participantes da pesquisa, bem como para os futuros leitores deste trabalho.
Diante de tal premissa convido-os para se encantarem com as maravilhas e
mistérios dos contos de fadas que estão até hoje presentes em nossas memórias,
precisando somente de um resgate.
Antes de se efetivar a escolha da temática, buscou-se observar qual a
participação dos contos de fadas no cotidiano das instituições, observação esta
desenvolvida durante a realização dos estágios na Educação Infantil e Ensino
Fundamental, que aconteceram na sexta e sétima fases do curso de Pedagogia.
Por meio do estágio pode-se constatar estas narrativas através de contações
de histórias, contudo, de forma sufocada dentro dos currículos.
A partir da curiosidade em trabalhar com contos de fadas, despertou-se
também o interesse em investigar como se daria a utilização dos mesmos na
Educação de Jovens e Adultos1. Os educadores desta modalidade de educação
utilizam-se dos contos de fadas como um recurso para a construção de
aprendizagens dos seus educandos? A partir de tal inquietação, listou-se o objetivo
desta pesquisa, buscando-se analisar a apropriação de contos de fadas numa turma
de alfabetização de EJA.
Deste modo, a problemática da pesquisa visa compreender como os contos
de fadas podem ser utilizados como recurso de construção ou aprimoramento de
conhecimentos em uma turma de Alfabetização da EJA, pertencente à Rede
Municipal de Educação de São José – SC.
Como se pode analisar os contos de fadas, os quais trazem em suas
entrelinhas uma bagagem de ensinamentos acerca do cotidiano das pessoas, tais
como: relação de pais e filhos, sexualidade, comportamentos, entre outros? Pensase que muitos desses conteúdos não são percebidos por alguns educadores, uma
1
A partir desse momento, utilizar-se-á a sigla (EJA) sempre que se tratar da Educação de Jovens e
Adultos.
10
vez que estes estão em uma procura desenfreada pela alfabetização dos seus
educandos, esquecendo-se que existem outras formas de ensinar, além da leitura e
cópia.
Estas narrativas feéricas, entretanto, podem estar associadas com a
construção dos conhecimentos de seus educandos pois falam de seus cotidianos,
basta o educador selecionar as histórias que se enquadrem no perfil da turma, para
que assim possa desenvolver o seu trabalho no viés da proximidade da realidade do
seu educando, ampliando a relação de afetividade entre professor e aluno, pois
ambos constroem conhecimentos de forma conjunta.
Seguindo estes princípios, pensa-se notória a relevância dos contos de fadas
para a construção de saberes, nos quais o sujeito possa refletir acerca das leituras
que são apresentadas, para que partir destas, construa seu olhar crítico em relação
ao seu universo circundante, às questões políticas e sociais com as quais os contos
se relacionam, bem como as reflexões que os mesmos podem proporcionar.
O intuito desta pesquisa é incentivar uma reflexão crítica nos educandos de
uma turma de Alfabetização da EJA, da Rede Municipal de São José, propiciando
assim, momentos de aprendizagem relacionados com a ludicidade, para que a sala
de aula não seja um lugar de mera reprodução e “transmissão” de conhecimento,
posturas arraigadas na tradição educacional.
Uma vez que muitos desses educandos, pelos mais diversos motivos, não
tiveram nas suas infâncias a possibilidade ou oportunidade de concretizar ou iniciar
os seus estudos, pensa-se que exista uma dupla responsabilidade – da instituição e
do educador – de manter este educando na escola, pois, diferentemente das outras
modalidades de ensino, estes educandos, em geral, trabalham o dia todo, muitas
vezes em serviços braçais e a noite vão para escola.
Por isso, é importante buscar alternativas que fujam do tradicionalismo, no
qual as regras são severamente impostas e o professor é visto como único detentor
do saber, sistema no qual o educando não tem o direito de contribuir com sua
opinião, ele é visto como mero receptor do conhecimento.
Sabe-se que a educação está buscando novos caminhos, ou pelos menos
teoricamente almeja novas propostas de educação, nas quais o educando não deva
ser considerado como um sujeito sem conhecimento, pois sua história de vida é
carregada de experiências, vivências e ensinamentos.
O texto de Paulo Freire (apud Brandão, 2005, p. 58), fala que deve-se
11
trabalhar com os educandos a partir das suas realidades, ou seja, com palavras
“geradoras” que partam do cotidiano dos seus educandos.
Dialogando-se com seu método, propõe-se uma didática, na qual os
educadores trabalhem com histórias “geradoras”, conhecendo melhor o perfil da sua
turma, propondo histórias que abordem temas dificilmente discutidos na família,
principalmente com educandos da EJA, e, a partir dessas histórias, ampliar os
saberes dos seus educandos trazendo informações importantes para seus
cotidianos, tais como questões de saúde, de moradia, de política, de preconceito,
entre outros.
Uma vez que muitos contos de fadas abordam os temas supracitados, ainda
que de forma sútil, pensa-se que esta proposta pode estimular os educandos a
exporem suas opiniões, pois ao reportar-se à história dos contos de fadas, saberiase que eles eram escritos para adultos, apenas posteriormente foram adaptados
para as crianças.
No que diz respeito à estrutura, este trabalho foi dividido de forma a explicar e
justificar a importância dos contos de fadas na EJA. Assim, apresentar-se-á,
primeiramente, as discussões que norteiam teoricamente a pesquisa, e na
sequencia, abordar-se-á a metodologia utilizada no campo de análise e ao final, a
análise realizada junto a EJA.
12
2 UM CONTO DE FADAS ATUAL: BREVE APRESENTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO E
DA TURMA PESQUISADA2
A presente pesquisa foi realizada em uma instituição pública da Rede
Municipal de Ensino de São José, localizada na Rua Docilício Luz, nº 663, no Bairro
São Luiz, no município de São José – Santa Catarina. A seguir, apresentar-se-á um
breve histórico da instituição para que se possa compreender melhor o
funcionamento e organização da mesma.
A instituição iniciou suas atividades no dia 31 de maio de 1976, por meio do
Decreto nº 018/76, tendo como prefeito daquele ano, Arnaldo Maichein de Souza.
Quando inaugurada, chamava- se Escola Isolada Municipal Docilício Vieira da Luz,
recebendo este nome como homenagem a Docilício Vieira da Luz, por ter feito a
doação do terreno para a construção da instituição.
No ano de 1997, a escola teve a permissão de atender o Ensino
Fundamental, de 5ª a 8ª série. Durante alguns anos a instituição teve várias
oscilações no que diz respeito a sua nomeação, permeando vários caminhos até
chegar à atual denominação Centro Municipal São Luiz.
Atualmente atende 277 educandos, distribuídos nos turnos matutino,
vespertino e noturno. Separados da seguinte forma: no período matutino, do 1º ao 5º
ano, no vespertino da 5ª a 8ª série, e no noturno as turmas de Educação de Jovens
e Adultos, este, da Alfabetização ao oitavo ano, porém não há turma de quinto ano,
pois não se tem número suficiente de educandos matriculados.
A instituição conta com 69 funcionários, sendo 42 docentes, um coordenador
da EJA, uma coordenadora do Programa Mais Educação e uma assessora. Sendo
assim, apresento-se segundo o Projeto Político Pedagógico da escola (CEI São Luiz,
2009, s.p), um resumo do que seria este programa.
No dia 04 de Novembro de 2009, foi inaugurado Programa Mais Educação
(Escola Integral) como Projeto Piloto, instituindo a Unidade como a primeira
escola do município de São José com ensino em tempo integral. O
Programa é um Projeto do Governo Federal em parceira com o Município de
São José, que tem como órgão a Secretaria Municipal de Educação.
Partindo-se da explanação sobre a história da instituição, chega-se ao perfil
da turma pesquisada: um grupo de Alfabetização da Educação de Jovens e Adultos,
2
Dados obtidos através do Projeto Político Pedagógico da Instituição, de 2009.
13
composto somente por cinco educandos com idade entre 30 e 70 anos, sendo três
mulheres e dois homens. Ao se observada a turma em questão, percebeu-se que se
caracteriza por ser um grupo tímido e com baixa frequência devido a problemas
pessoais.
Por esses fatores, notou-se que a turma é bem heterogênea em relação aos
conhecimentos já adquiridos, se divididos em níveis de aprendizados, ter-se-ia: uma
educanda alfabetizada, dois educandos pré- alfabetizados e dois educandos
iniciando o processo de compreensão de leitura e escrita.
Com mencionado anteriormente, a falta de assiduidade dos educandos
influencia no desenvolvimento dos seus aprendizados, porém, na EJA, esse fato é
comum, uma vez que esses educandos que estão na busca pela concretização de
seus estudos, passam por inúmeras dificuldades, tanto financeiras, quanto pessoais.
Muitos deles acordam cedo e trabalham o dia todo para sustentar suas famílias e
quando chega a hora de ir para a EJA estão muito cansados, acabando por não ir.
E como esta turma possui tais problemas do cotidiano, a educadora procura
trabalhar com temas que abordem os conteúdos da sociedade atual, tais como: o
preconceito, a falta de informação sobre a sexualidade, questões trabalhistas, entre
outros.
A educadora busca, em suas aulas, primeiramente, trabalhar com o grupo no
geral, discutindo o assunto do dia e, depois, faz atividades diferenciadas para que
todos consigam construir seus aprendizados de acordo com seus níveis de
compreensão.
As vivências destes educandos pensa-se que, assemelham-se com as
histórias dos contos de fadas, pois, apesar das dificuldades que encontram em seus
cotidianos, desde preconceito até outros problemas diários, estão em busca da
concretização dos seus estudos passando por inúmeras barreiras, com esforço e
determinação. Espera-se que este conto tenha um final feliz, na qual todos consigam
realizar seus sonhos.
14
3 UMA VISÃO DOS CONTOS DE FADAS: COMPOSIÇÃO E PERCURSO DA
PESQUISA
Ao longo do percurso acadêmico, atuei em duas instituições particulares de
ensino e realizei os estágios curriculares na Educação Infantil e no Ensino
Fundamental. A partir dessas experiências, busquei ter um olhar atento em relação
às histórias apresentadas aos educandos, bem como a maneira como a qual os
meus colegas de profissão traziam estas leituras para o cotidiano escolar.
Com o tempo, percebi que alguns se utilizam destas histórias, como um pano
de fundo para entreter as crianças nos momentos de euforia das mesmas e sem
contextualização e emoção narravam tais histórias aos pequenos. Debus (2006, p.
87) comenta que
Toda hora é hora para contar e ouvir histórias... O que não propomos e
desaconselhamos é a motivação, todo um planejamento e busca de
estratégia para que a contação seja utilizada num curto período de tempo
ou prensada entre horários, como antes do “soninho”, depois da Educação
Física ou no horário de espera dos pais, como forma de aquietar.
No entanto, questionava-me o porquê do comportamento destes educadores,
pois as histórias, bem como os contos de fadas, são recursos lúdicos e significativos
para construção de conhecimentos, tendo como fator fundamental a magia que
transforma o ambiente. Bettelheim (2007, p. 49) fala que “[...] o conto de fadas
convence pelo apelo que exerce sobre a nossa imaginação e pela consumação
atraente dos acontecimentos, que nos seduz”.
Seria interessante, portanto, que, além de ler para os educandos estas
histórias, instigasse suas mais variadas fantasias e proporcionasse momentos
encantadores e de imaginação.
Diante da observação destas práticas, foram surgindo, no decorrer da
realização do curso de Pedagogia, várias inquietações acerca da temática, pois são
histórias que até hoje enchem meus olhos de alegria, questionava-me o porquê
deste recurso não ser possibilitado às crianças, jovens e adultos.
Durante algum tempo estas inquietações foram lapidadas, para encaminhar
o Trabalho de Conclusão de Curso, com anseios e receios em relação à
concretização da pesquisa.
A definição do tema, entretanto, veio confirmar-se no momento da realização
15
do estágio curricular no Ensino Fundamental realizado no sétimo período do curso
de Pedagogia, pois, eu e o meu colega de estágio tivemos a ideia de abordar
questões referentes ao Meio Ambiente, através do recurso da contação de histórias,
tendo como apoio e auxílio à orientadora desta disciplina.
Por termos observado anteriormente que a ludicidade não se faz tão presente
nesta etapa da educação, como na Educação Infantil, ficamos receosos em pensar
qual seria a aceitação da turma diante da nossa proposta. Entretanto, por
acreditarmos que a educação não possa ser algo estático, continuamos com a
intenção do nosso projeto, e foi um estágio realmente gratificante, surpreendendonos a cada momento. A cada história narrada era uma emoção diferente, pois as
crianças se envolviam nas fantasias e recriavam inúmeras situações com alegria.
Sentimos que as nossas propostas estavam realmente encantando as
crianças, quando em uma das nossas últimas proposições nos vestimos de “Emília”
e “Visconde” do “Sítio do Pica-Pau Amarelo” para trabalharmos a alimentação
saudável através da contação de história, percebemos ter mexido com o imaginário
das crianças.
E foi extremamente satisfatório, pois era uma turma que anteriormente
apresentava dificuldades em se alimentar corretamente, mas diante da ludicidade da
história, experimentaram uma torta de legumes deixada pelos personagens. Desta
maneira, demostrou- se o quanto as história podem acrescentar na construção dos
saberes destes educandos.
Partindo desta satisfação, o estágio auxiliou na construção dos meus
conhecimentos, tanto acadêmicos quanto pessoais, pois fez com que refletisse
sobre a prática e percebesse que sou uma amante das narrativas. Tendo em mente
que sem as histórias a educação torna-se monótona, percebi que se não brincarmos
com a ludicidade, se não nos envolvermos na fantasia, seremos meros reprodutores
de conteúdos.
Devido a esses indicativos em relação à ludicidade, através das contações de
histórias e dos contos de fadas no contexto escolar, foquei a minha pesquisa nas
contações de histórias, com isso, a minha maior motivação era fazer algo relevante
para prática a dos educadores, mostrando que na educação devemos vencer as
barreiras do tradicionalismo.
Inicialmente realizei alguns levantamentos bibliográficos acerca da contação
de histórias na Educação de Jovens e Adultos, pois ainda que seja de forma
16
insipiente nos currículos na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, este recurso
é utilizado pelos educadores destas modalidades.
Ficava então a minha inquietação sobre o que era feito em relação a este
recurso na EJA, pois muitos acreditam que estas histórias infantilizariam os
educandos deste seguimento, sendo uma das minhas maiores indagações nesta
pesquisa.
Contudo, não encontrei teóricos que abordassem a utilização da contação de
histórias nesta modalidade de ensino, apesar de me questionar a respeito desta falta
de interesse em se estudar esta área, tive que reverter à situação, centrando-me
somente nos contos de fadas, pois não tinha embasamento teórico suficiente para
solucionar os meus questionamentos.
A partir disto, realizei alguns levantamentos bibliográficos em torno dos contos
de fadas, bem como suas origens e importância para o cotidiano escolar.
Configurando-se assim, inicialmente, uma pesquisa de cunho bibliográfico, que de
acordo Lakatos e Marconi (2009, p. 43 e 44) pode ser descrita da seguinte maneira:
A pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias é a que especificamente
interessa a este trabalho. Trata- se de levantamentos de toda a bibliografia
já publicada, em forma de livros, revistas, publicações e imprensa escrita.
Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo
que foi escrito sobre determinado assunto com objetivo de permitir ao
cientista “o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação
de suas informações” (Trujillo, 1974:230).
Diante disto, foquei-me em dois teóricos principais para a pesquisa, que
abordam de forma geral os contos de fadas, sendo relevante para a compreensão
deste recurso nas instituições de ensino. A partir de Merege (2010), ampliaram-se
meus conhecimentos em relação à origem dos contos de fadas, tendo como
confirmação que estas histórias surgiram através da comunicação dos adultos,
proporcionando assim uma base fortemente teorizadora para a futura prática.
Com isso, segui o percurso metodológico da pesquisa, focando na área da
educação. Não encontrando teóricos para fundamentar especificamente a prática de
contos de fadas na educação, aproximei-me de Bettelhem (2007) que argumenta
acerca da contribuição dos contos de fadas para a construção pessoal e intelectual
do sujeito.
Partindo desses teóricos que contribuíram para o aprofundamento do tema,
17
trouxe á discussão uma proposta de implantação desta didática lúdica no contexto
escolar, mais especificamente na Educação de Jovens e Adultos, revelando que
este processo tem a contribuir para tais educandos.
Para que se pudesse comprovar que este recurso é significante para
educação, procurei um campo prático de experimentação para a pesquisa. Houve
então a possibilidade de transformar o Estágio Curricular na Educação de Jovens e
Adultos, em um campo de pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso.
Com isso, iniciei, no segundo semestre de 2011, um estudo de campo em
uma turma de Alfabetização da EJA, tendo como princípio o conhecimento das
histórias de vidas destes educandos, buscando entender suas realidades e suas
dificuldades, tanto de aprendizagem como pessoal, sendo imprescindível o
levantamento destas questões para a elaboração da prática. De acordo com Gil
(2007, p. 72) os estudos de campo
[...] procuram muito mais o aprofundamento das questões propostas do que
a distribuição das características da população segundo determinadas
variáveis. [...] no estudo de campo estuda-se um único grupo ou
comunidade em termos de sua estrutura social, ou seja, ressaltando a
interação de seus componentes. Assim, o estudo de campo tende a utilizar
muito mais técnicas de observação do que de interrogação.
Na pesquisa em campo, procurei realizar as observações de forma
participativa, ou seja, através dos diálogos com os educandos no desenvolvimento
das atividades propostas pela professora, tornando assim uma relação de
proximidade entre educandos e acadêmica. Segundo Gil (2007, p. 113)
A observação participante, ou observação ativa, consiste na participação
real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação
determinada. Neste caso, o observador assume, pelo menos até certo
ponto, o papel de um membro do grupo. Daí por que se pode definir
observação participante como a técnica pela qual se chega ao
conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo.
Por meio desta proximidade propiciadas pelas observações participativas, tive
a oportunidade de relatar o cotidiano escolar dos educandos por meio de registros
diários. De acordo com Magalhães e Marincek apud Ostetto (2008, p.15)
O diário e o relatório de atividades são instrumentos que auxiliam,
organizam e orientam a ação do professor. São espaços de sistematização
da ação pedagógica onde o professor organiza seu trabalho através de
18
registros escritos, a partir das reflexões que tece diante das inquietações
presentes no seu cotidiano, das perguntas que se faz, das respostas que se
busca, das hipóteses que estabelece e de suas dúvidas.
Os registros foram significativos para a compreensão das aprendizagens dos
educandos. Sendo assim, busquei elaborar a prática diante da percepção dos
mesmos em relação à sociedade atual, problematizando questões mundiais.
As observações tiveram a duração de sete encontros semanais, sendo
realizados nas quintas-feiras no período noturno, tempo destinado para o estágio no
cronograma da universidade.
Com o término das observações e das construções dos registros,
principiaram-se as proposições no campo da pesquisa, com o intuito de investigar a
importância dos contos de fadas nesta etapa escolar.
Entretanto, como o fator tempo influencia na elaboração qualitativa da
pesquisa, decidi contemplar as três primeiras proposições para fundamentar a
problemática em questão.
Desta forma, contemplaram-se os contos de fadas: “Chapeuzinho Vermelho”,
“Cinderela” e o “João e o Pé de Feijão”, pois notei, nas observações, alguns
indicativos de que os educandos necessitavam de uma reflexão em relação às
questões sociais e pessoais, portanto, estas narrativas serviram de subsídio para a
compreensão destas temáticas.
Vale ressaltar que, apesar de alguns colegas exclamarem suas descrenças
em relação aos contos de fadas como um recurso de aprendizagem na EJA, a
caminhada até a conclusão da pesquisa foi prazerosa e reveladora, pois se fez
significativa suas conquistas em torno da temática.
19
4 A ORIGEM DOS CONTOS
Inúmeros estudos ao longo dos anos, apontam os contos de fadas tiveram
origem nos povos da antiguidade, pois acredita-se que as tribos utilizavam-se destas
narrativas como forma de entreter seu povoado com suas histórias de lutas. Esta
arte era, principalmente, praticada pelos chefes das tribos para expor suas
conquistas que serviam para que as crianças e adolescente se inspirarem em seus
relatos. Como confirma Merege (2010, p. 7)
De modo geral, os teóricos de todas as áreas concordam que o conto de
fadas tem origens muito antigas, possivelmente pré- históricas, tendo se
iniciado com as histórias contadas pelos xamãs e pelos anciãos das tribos
ao redor do fogo.
Estudiosos de diversas áreas, mas especificamente da área da história e da
antropologia, acreditam que os contos de fadas representam a característica pessoal
de cada população, pois nestas histórias estão enraizadas a cultura, os costumes e
as crenças dos povos. Trazendo assim, em suas narrativas, um legado histórico de
cada parte do mundo, podendo ser utilizado como fonte de conhecimento, pois
revelam o cotidiano, bem como os costumes de cada povoado. Como comenta
Merege (2010, p. 8)
Os historiadores e os antropólogos, por sua vez, procuram situar o conto de
fadas em seu contexto histórico, social e cultural, analisando cada versão
em relação à sociedade e à época em que foi produzida. Assim, determinar
a origem não é tão importante como estabelecer as formas de transmissão,
difusão e transformação do conto e identificar os elementos compatíveis
com o momento histórico. Nesse tipo de abordagem, portanto, cada conto
pode ser apreendido como produto de uma cultura cujos usos, costumes e
mentalidades se refletem na narrativa.
Estas narrativas, entretanto, geralmente são confundidas com outros gêneros
literários, tais com as lendas e os mitos, pois também falam do cotidiano das
pessoas e dos seus problemas pessoais. Os contos de fadas, no entanto,
diferenciam-se pelo fato da estruturação e organização da narrativa seguirem
20
sempre uma linha de realismo, na qual há sempre um objetivo a ser alcançado pelo
herói ou sujeito principal em busca do seu autoconhecimento. A autora Merege
(2010, p.8 e 9) aponta que:
[...] alguns parâmetros formais podem ser estabelecidos na análise dos
textos, pois a linguagem costuma seguir um estilo determinado, existem
fórmulas clássicas de abertura (“Era uma vez”) e fechamento dos contos e,
o que é de extrema importância, a estrutura narrativa costuma seguir uma
linha básica, pelo menos nos registros mais tradicionais.
Diante disto chega-se ao questionamento da significância do conto de fadas,
e perante as reflexões feitas, entende-se que por definição estas narrativas são
carregadas de realismo, que trazem imbuídas em suas linhas o contexto do dia-a-dia
dos sujeitos. Machado apud Merege (2010, p 15) melhor define os contos de fadas,
argumentando que:
[...] os contos de fadas seria a história popular, de origem diferenciada em
relação aos clássicos, que surgiu anonimamente no seio do povo e foi
sendo recontada durante séculos [...] é também história autoral, escrita ou
narrada segundo o modelo aceito para o conto de fadas e evocando a
mesma atmosfera de sonho, ideal e sobrenaturalidade.
Parte-se do princípio de que os contos de fadas foram disseminando-se ao
longo tempo, tornando-se assim evidentes suas contribuições para o aprendizado,
pois, desde os primórdios, estas narrativas estimulavam a oralidade e a
memorização
do
sujeito,
fortalecendo
assim
pontos
importantes
para
o
desenvolvimento dos seres humanos. Segundo Merege (2010, p. 17)
Apesar do significado contido em manifestações artísticas, tais com a
pintura rupestre, estas não podem ser consideradas um registro literário.
Por isso antes do surgimento da escrita, a única forma de registro era a
memorização e a única forma de transmissão era a oral. Poemas
extremamente elaborados e extensos foram preservados durante séculos
antes de terem uma versão escrita, enquanto os mitos e histórias populares
foram sendo recontados ao longo de muitas gerações.
De acordo ainda com Merege (2010, p. 17) em algumas regiões da
antiguidade tinha-se como tradição a existência de pessoas destinadas e
21
especializadas em difundir as histórias. Tais pessoas acabavam por propagar
também as doutrinas relacionadas às religiões e as histórias voltadas para a cultura
de seus povos, ou seja, destinavam-se a propiciar momentos de interação com a
população para explanar relatos de suas memórias.
Com isso a autora segue
afirmando que:
[...] esses narradores ainda existem em algumas civilizações tradicionais e
gozam quase sempre de grande status e, embora alguns sejam (ou pelos
menos comecem) jovens, é muito comum que a função seja assumida por
idosos, quer pela experiência, que pela posição que lhes cabe na
comunidade. (MEREGE, 2010, p. 17)
Há relatos de que as mulheres que foram as reais propulsoras destas
narrativas, pois como tinham maior proximidade com as crianças, contavam histórias
de seus antepassados e de suas vidas, porém as sociedades antigas não as viam
com bons olhos, adjetivadas como sujeitos de más índoles. Como Merege (2010, p.
18) explana:
[...] a imagem da avó narradora a que nos referimos no início, a existência
de uma “Mamãe” e não de um “Papai Ganso”, deriva de uma tradição
milenar, segundo a qual, por força de sua permanência junto à moradia e
aos filhos e netos pequenos, as mulheres se teriam tornado guardiãs da
memória familiar e mesmo tribal, perpetuando-se em gerações de mães,
avós e bisavós contadoras de histórias. De acordo com o local e a época
em que viveram, essas mulheres foram encaradas como sábias, como
bruxas ou como simples alcoviteiras. De qualquer forma, eram detentoras
do saber e da tradição populares e continuariam a transmiti-lo, ainda que
contra os auspícios da cultura “oficial” letrada.
Assim, foram as mulheres, sujeitos de extrema perspicácia, que transmitiram
inúmeros contos populares para os Irmãos Grimm3, e estes adaptaram tais
narrativas para as crianças. Conforme Merege (2010, p.19) ratifica:
[...] as primeiras recolhas do gênero, no final do século XVII, foram feitas por
mulheres e foram as mulheres que forneceram a maior parte das versões
registradas pelos Irmãos Grimm. Com isso não estamos afirmando, em
absoluto, que os contos de fadas foram criados pelas mulheres ou que eram
narrados somente por estas, mas os relatos existentes desde a Antiguidade
levam a crer que eram as mulheres, em seus serões familiares, na
3
Posteriormente falar-se-á melhor sobre os Irmãos Grimm e suas influências para a propagação dos
contos de fadas.
22
intimidade da sala de fiar ou no trabalho dos campos, que se encarregavam
de contar e acrescentar seu ponto às histórias populares.
Assim como estes irmãos, outros autores foram significativos para o
desenvolvimento destes clássicos da literatura que até hoje estão presentes na
memória da humanidade. Dentre estes autores que fizeram seu legado nos contos
de fadas, pode-se destacar alguns como: Charles Perrault4, que segundo Merege
(2010, p. 47)
[...] o grande divisor de águas na história dos contos de fadas foi, sem
sombra de dúvida, Charles Perrault, cujos Contos da Mamãe Gansa são
considerados o marco do surgimento da Literatura Infantil. As versões que
hoje circulam entre nós de contos como Chapeuzinho Vermelho, Pele de
Asno e O Gato de Botas partiram diretamente da obra de Perrault. No
entanto, essas versões, em sua forma original, são bem diferentes das que
se costumam narrar hoje às crianças e, por sua vez, a intenção do autor não
era de escrever (apenas) para o público infantil.
É nítida a importância de Perrault para a difusão dos contos de fadas, apesar
de sua intenção inicial não ser a de escrever para as crianças como foi citado acima,
foi assim que ele ficou conhecido mundialmente, deixando um marco relevante para
estas narrativas. A mesma autora segue retratando que (2010, p. 51):
Embora sua figura assuma, algumas vezes, aspectos cômicos e até
grotescos, a Mamãe Gansa foi apresentada aos jovens com o fim de
orientá-los no aprendizado da moral. O livro de Perrault, por exemplo, tem
como subtítulo Histoires ou contes du temps passa, avec les moralités: as
lições de moral eram explicitas em versos constantes do final de cada
história. O autor registrado foi Pierre Perrault D’ Armancour, filho de
Perrault, que na época tinha estava com dezenoves anos de idade. Nelly
Novaes Coelho acredita que o autor não quisesse arriscar sua reputação de
escritor “culto” com a publicação de uma literatura popular, que poderia ser
considerada frívola. De qualquer forma, a obra agradou em cheio, sendo
muitos os que as consideram a primeira obra da literatura voltada
especificamente para o público infantil.
4
Charles Perrault nasceu e viveu em Paris e morreu aos 75 anos. O poeta da Academia Francesa
não atuou exclusivamente no mundo das letras. Além de trabalhar como advogado, tornou-se
superintendente de construções do Rei Sol Luís XIV, posição política em que se destacou ao lado do
ministro Colbert. Membro da alta burguesia, Perrault foi imortalizado por criar uma literatura de cunho
popular que caiu no gosto infantil e contou também com a aprovação dos adultos. Com pouco mais
de 50 anos, trocou o serviço ativo pela educação dos filhos. Movido por esse desejo, começou a
registrar as histórias da tradição oral contadas, principalmente, pela mãe ao pé da lareira.
(OLIVEIRA, 2011a, s.p)
23
De acordo com o texto de Merege (2010), Perrault não foi somente um dos
propulsores dos contos de fadas, mas também um colaborador para a construção de
uma nova visão sobre literatura infantil, pois, a partir dele, os olhares voltaram-se
também para as crianças, uma vez que as sociedades antigas não as reconheciam
como sujeitos, sendo assim,
não
existiam produtos
voltados
para
elas,
diferentemente do contexto atual, no qual há uma imensidão de produtos
direcionados às crianças. A publicidade voltada para estes sujeitos, atualmente,
alcança grandes índices nos canais televisivos. De acordo com Debus (2006, p. 64)
As agências publicitárias com frequência utilizam as imagens das narrativas
tradicionais para vender aos consumidores os produtos das empresas que
as contratam; vejamos alguns exemplos que ilustram esse fato. A indústria
de bebidas Coca-Cola, em campanha veiculada pela Copa do Mundo de
2002, trouxe a fotografia em close-up do jogador de futebol José Arantes do
Nascimento, o Pelé, de frente para uma garrafa do refrigerante, seguida do
slogan “Mais uma grande história de um gênio e uma garrafa: Pelé e CocaCola juntos na paixão pelo futebol”.
É a partir da divulgação dos contos para as crianças, que se começa a ouvir o
nome dos Irmãos Grimm, pois estes dois sujeitos transformaram os clássicos
populares anteriormente escritos para os adultos em uma linguagem mais acessível
aos ouvidos das crianças. Merege (2010, p. 55) elucida que:
O plano inicial de Jacob e Wilhelm Grimm era ouvir histórias narradas por
pessoas simples e fixá-las no papel, antes que a urbanização e a
industrialização viessem a modificá-las irreversivelmente. Assim, puseramse a campo para recolher esses registros, ouvindo vários narradores, dentre
os quais se destacou a esposa de um alfaiate do interior, chamada
Dorothea Viehmann.
Com isso os Irmãos Grimm5 que adaptaram os contos de fadas para o
contexto infantil, ficaram, ainda que indiretamente, guardados nas memórias das
crianças que puderam ter o contato com estas narrativas que passaram a ser
5
Inseridos num contexto histórico alemão de resistência às conquistas napoleônicas; os Irmãos
Grimm recolhem, diretamente da memória popular, as antigas narrativas, lendas ou sagas
germânicas, conservadas por tradição oral. Buscando encontrar as origens da realidade histórica
germânica, os pesquisadores encontram a fantasia, o fantástico, o mítico em temas comuns da época
medieval. Então uma grande Literatura Infantil surge para encantar crianças de todo o mundo.
(OLIVEIRA, 2011b, s.p)
24
utilizadas tanto no cotidiano das famílias quanto na escola.
De acordo com Merege (2010, p. 57)
[...] os Grimm suavizaram a maior parte dos contos de fadas, o que fizeram,
em parte, com base nas criticas de vários intelectuais e escritores daquele
tempo. No fim, o material concebido inicialmente para servir ao estudo de
filólogos e folcloristas acabou sendo expurgado de todo conteúdo
“inadequado a crianças”, como referências a sexo ou gravidez pré- nupcial,
além de boa parte do humor jocoso que caracteriza as narrativas orais.
Os Irmãos Grimm não trabalham sozinhos na difusão e adaptação dos contos
de fadas para o contexto infantil, houve inúmeros outros autores que compartilharam
suas obras com a humanidade partindo da ideia inicial destes irmãos. Merege6
(2010, p. 57-59) elenca alguns destes autores:
[...] Peter Christen Asbjorsen (1813- 1885) e Jorgen Moe (1813- 1882)
escreveram o conto A leste do Sol e a oeste da Lua, uma versão “polar” de
A bela e a fera [...]. Aleksandr Afanasiev (1826- 1871) [...] escreveu, Contos
de fadas russos para crianças. [...] Joseph Jacobs (1874- 1916) deu um
grande impulso à divulgação dos contos de fadas, editando, entre 1899 e
1900, a revista Folklore e publicando coletâneas de contos e fábulas do
mundo todo. [...] Hans Christian Andersen (1805- 1875) escreveu O patinho
feio, A pequena sereia e A pequena vendedora de fósforos.
Diante do reconhecimento dos contos de fadas como um gênero literário,
destinado tanto para as crianças quanto para os adultos, dissertar-se-á acerca de
como estas narrativas surgiram no nosso país. Conforme Merege (2010, p. 62)
Como quaisquer outras sociedades tradicionais, os povos indígenas do
Brasil também possuíam uma riquíssima literatura oral, transmitida por meio
de ritos, cantos e narrativas. Destas, algumas ainda sobrevivem, graças à
tradição familiar e tribal de passá-las adiante e aos registros efetuados por
antropólogos e folcloristas. A esse material vieram a somar, a partir de
1500, as tradições europeias trazidas pelos colonizadores, como os
romances medievais e contos maravilhosos que se encontram na gênese
dos contos de fadas.
6
Sugere- se para maior aprofundamento dos conhecimentos em relação a esses autores a leitura do
livro: MEREGE, Ana Lúcia. Os contos de fadas: origens, histórias e permanência no mundo
moderno. São Paulo: Claridade, 2010.
25
Os contos de fadas se disseminaram no Brasil através de uma junção das
histórias dos colonizadores com as dos povos indígenas existentes na época. Com
isso, emergiram vários autores brasileiros que se utilizaram das obras estrangeiras
para imprimir suas marcas no país e, posteriormente, no mundo, como exemplo
pode-se citar Monteiro Lobato7. De acordo com Merege (2010, p. 65)
Em Serões de Dona Benta e em Histórias de Tia Nastácia (1937), Lobato
adapta e assim contribui para a difusão de vários contos tradicionais, como
O bicho Manjaléu, que figura em primeiro lugar tanto nas histórias de
Nastácia quanto nos Contos populares do Brasil, de Romero. Com ele, não
apenas o conto de fadas, mas toda a literatura para crianças e jovens
ganhou novo fôlego, tanto por meio de seu legado como autor quando da
grande quantidade de obras que traduziu e/ ou editou, como Alice, Caninos
brancos e O grito da selva, de Jack London, Pinóquio, As Aventuras de
Huckleberry Finn, de Mark Twain, e ainda contos de fadas de Andersen e
Perrault.
É através da literatura, portanto, que os contos de fadas passam a ser
imortais na memória dos sujeitos. Diante disto, atualmente, existem vários recursos
para se apresentar um conto de fadas, tais como livros, filmes, desenhos entre
outros. Um dos maiores precursores dos contos de fadas para a televisão é Walt
Disney. Como comenta Merege (2010, p. 74)
Na primeira metade do século XX, alguns contos de fadas começaram a ser
divulgados pela mídia por meio de versões para o cinema, como o desenho
animado Branca de Neve (1937), de Walt Disney, e o filme A bela e a fera
(1946), de Jean Cocteau. Algumas dessas obras são fiéis à narrativa
constante em fontes como Perrault ou os Grimm, mas outras, apesar da
excelente realização, contribuíram para passar adiante versões distorcidas
dos contos de fadas tradicionais, despojando- os do seu significado, ainda
que sem a menor intenção de fazê-lo.
Atualmente, os contos de fadas são legitimados como um recurso que, além
de encantar, também propiciam a aprendizagem, ainda que, ao longo de seu
7
José Bento Monteiro Lobato nasceu a 18 de abril de 1882 — mas jurava de pé junto ter nascido em
1884 — na cidade de Taubaté. Filho do fazendeiro José Bento Marcondes Lobato e de dona Olímpia
Augusta Monteiro Lobato, ele foi, além de inventor e maior escritor da literatura infanto-juvenil
brasileira, um dos personagens mais interessantes da história recente desse país.
(ROSCHEL, 2011, s.p).
26
desenvolvimento histórico, tiveram que enfrentar inúmeras barreiras para alcançar
lugar na sociedade. Como comenta Merege (2010, p. 67):
Os contos de fadas, por sua vez, foram encarados durante muito tempo
como um entrave ao amadurecimento das crianças e ao seu enfrentamento
do mundo real. Na década de 1970, a sociedade americana apregoava que
esses contos podiam não apenas idiotizar as crianças, más também “fazer
os pais passarem por mentirosos, pois, na era da tecnologia, dificilmente
alguém acreditaria em bruxas e princesas”. Felizmente, a partir da mesma
década, a opinião de educadores, de psicólogos, como Bettelheim, e de
alguns segmentos da sociedade começou a se fazer ouvir, reivindicando
para as narrativas maravilhosas seu papel fundamental no processo de
crescimento e amadurecimento de cada ser humano.
Através desta explanação sobre a origem dos contos de fadas e de sua
sobrevivência na sociedade atual, ratifica-se a crença de que a educação necessita
de mais “encantamentos” como esses para suas salas de aulas. Pensa-se ser
evidente que estas narrativas trazem consigo uma bagagem histórica dos nossos
antepassados, mas que, em muitos casos sua utilização no contexto educativo não
deixe de evocar uma interação lúdica para se tornar mera “ferramenta” pedagógica.
Para Merege (2010, p. 78 e 79)
As escolas e as bibliotecas infantis e públicas têm investido na tradicional
“hora do conto” para resgatar essas narrativas, e muitos professores e
educadores estão se interessando pela velha arte de contar histórias, a
qual, nos últimos anos, vem conhecendo um verdadeiro “renascimento”. No
entanto, o ato de narrar histórias não se limita ao público infantil ou
estudantil, e suas funções são bem mais amplas do que aquelas que se
podem perceber, de imediato, numa biblioteca ou sala de aula.
É nesse contexto que a presente pesquisa se apresenta, diante de
questionamentos
sobre
a
utilização dos
contos
de
fadas
na
educação,
principalmente na EJA.
Como apresentou-se, os contos de fadas fizeram história na vida das pessoas
e até hoje fazem. Por que não trazer estas narrativas para as instituições como
forma de reflexão dos educandos sobre a história e perpetuação dos contos,
contextualizando-os em relação as suas realidades?
27
5 O CONTO DE FADAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: ANÁLISES
DA PESQUISA
Apesar de não se encontrar material disponível que aborde o conto de fadas
como fonte de aprendizagem escolar, tanto teórico quanto livros de conto
propriamente ditos, torna-se maior o desafio desta pesquisa, pois se mostra como
uma proposta de atuação que possibilita a construção de conhecimento na
Educação de Jovens e Adultos.
A seguir serão feitas explanações em relação às observações e proposições
realizadas em uma instituição pública da Rede Municipal de São José, com uma
turma de Alfabetização da EJA e, posteriormente, apresentar-se-á as análises sobre
as reflexões realizadas a partir do trabalho com os contos de fadas, trabalho este
que foi se construindo e aperfeiçoando durante esta pesquisa.
5.1DIÁRIO DE CAMPO: A EXPERIÊNCIA DOS CONTOS DE FADAS EM UMA
TURMA DE ALFABETIZAÇÃO DE EJA8
5.1.1 Um Olhar Investigador
Nesta etapa da pesquisa serão apresentadas as discussões produzidas em
sala de aula sobre os contos de fadas. Na primeira parte, apresentar-se-á as
observações realizadas na sala de aula da EJA, visando analisar de que forma a
turma está estruturada, os meios que a professora utiliza para trabalhar o processo
de alfabetização e as possibilidades de utilização dos contos de fadas como recurso
na aprendizagem.
Ao chegar à instituição pública da Rede Municipal de São José, houve uma
recepção realizada pela professora orientadora de estágio e pelo diretor da escola.
Neste primeiro momento realizou-se uma conversa, sobre os anseios e angústias
em relação ao processo de alfabetização na EJA.
8
O estágio foi realizado em trio, porém os relatos foram feitos diante da minha percepção em relação
à turma, bem como os aprendizados demonstrados pela mesma.
28
A professora da turma chegou, foi apresentada pelo diretor e trouxe
tranquilidade em relação ao estágio, pois, segundo a mesma a turma era tranquila.
Dado o tempo para o início da aula, dirigiu-se à sala de informática, pois a
professora da turma relatou que havia um tempo que os educandos solicitavam a ida
nesta sala.
Chegando á sala, a professora apresentou os educandos presentes, e neste
primeiro momento, percebeu-se uma certa timidez dos mesmos em relação á
presença de estagiárias.
A professora deu início à aula e explicou que eles deveriam digitar as frases
ou palavras construídas no dia anterior que se encontravam escritas em seus
cadernos, sendo assim, cada estagiária se dirigiu a um dos educandos para oferecer
ajuda. Apesar da timidez do início, todos aceitaram serem ajudados na construção
da atividade.
À medida que ajudava-se os educandos, sentia-se que, ao mesmo tempo em
que estavam alegres em conhecer esta ferramenta, que era o computador, também
estavam receosos com algo que era novo para eles.
A partir de observações, percebeu-se que havia somente uma educanda que
dominava esta ferramenta, pois havia tido contato com a mesma e também já se
encontrava no processo final da alfabetização, facilitando o processo de
compreensão.
Percebeu-se também que havia um educando que se encontrava no processo
inicial de alfabetização, desse modo no dia anterior havia conseguido somente
realizar a escrita do seu nome, tendo então um pouco mais de dificuldade em
relação aos seus colegas para digitar sua atividade, porém ficou feliz ao conseguir
digitar o seu nome na tela do computador.
Chegado o momento do intervalo todos se dirigiram ao lanche. E logo após o
intervalo, todos foram dirigidos a outra sala, onde a professora perguntou aos
educandos como foram suas experiências com o computador, e a maioria se
mostrou feliz com a ida a sala de informática, relatando que no início ficaram
inseguros, porém depois gostaram da sensação.
Com isso a professora comentou que agora iriam mais vezes a sala de
informática, para aperfeiçoar seus aprendizados. E assim deu sequência a aula,
apresentando aos educandos uma atividade, em folha, relacionada à cultura,
29
especificamente sobre as comidas típicas brasileiras. Fez-se uma discussão com os
mesmos em relação à comida que mais gostam de comer.
Após tal discussão a professora leu em voz alta, juntamente com os
educandos, o pequeno texto que falava sobre as comidas típicas brasileiras e depois
solicitou que todos tentassem completar o “caça-palavra” relacionado ao texto.
Os educandos deram então início à construção da atividade com auxílio da
professora e das estagiárias. Como estava na hora de terminar a aula, a professora
solicitou que fizessem em casa, para na próxima aula discutirem.
Assim terminou o primeiro dia de estágio, que apesar da ansiedade do
começo, foi muito interessante, pois houve uma boa recepção por parte de todos,
estimulando a realização do estágio nesta instituição.
No dia 26 de agosto, na chegada, havia somente um educando, e com o
passar do tempo foram chegando todos os outros. Quando a sala estava composta
pelos cincos educandos que compõem a turma, a professora apresentou a proposta
do dia: a produção de um cartaz. Solicitou que todos pegassem uma folha utilizada
na aula anterior que se referia a uma poesia sobre questões de saúde.
Explicou então como seria a construção do cartaz. Inicialmente pediu para
que um dos educandos se prontificasse a escrever uma estrofe da poesia em um
papel pardo e os demais procurassem em revistas, levadas pela mesma, imagens
sobre hábitos saudáveis.
Observou-se que ao pedido da professora para que um dos alunos copiasse a
estrofe no cartaz, surgiu um desafio para eles e assim todos se esquivaram da
realização da atividade.
Então, a professora sugeriu que Kênia9 escrevesse, esta ficou um tanto
insegura, mais acabou por aceitar a proposta. Dado o início a atividade, todos
começaram a fazer o que foi proposto, porém, chegado o momento do intervalo,
todos se dirigiram ao lanche.
Ao retornar do intervalo, deram continuidade na atividade, e então Kênia
terminou de transcrever o trecho e pediu que a professora verificasse se estava
correto. Após a correção, a professora solicitou que a educanda passasse a caneta
hidrocor por cima das letras.
9
Os nomes expostos no diário de campo são fictícios, para que se possa preservar a identidade dos
educandos.
30
Concluída a tarefa, a professora observou que ficaram alguns erros na
escrita, e então colou alguns pedaços de papel para arrumar as palavras, e assim
pediu para que a mesma educanda completasse o que faltou, a educanda ficou
receosa, pois comentou que a atividade foi difícil e pediu então que a professora
terminasse.
Depois que a professora terminou de completar a palavra, convidou os
educandos para colar suas imagens, e assim alguns começaram a colar. Ao término
da colagem, a professora solicitou que todos escrevessem seus nomes no cartaz,
pois a produção foi de todos da turma. Neste momento alguns educandos tiveram
um pouco de dificuldade para escrever, sendo auxiliados pela professora.
Terminada toda a produção, a professora pediu licença para buscar uma fita
adesiva para colar o cartaz na parede e, neste momento os educandos comentaram
que não ficaram satisfeitos com a atividade, pois já sabiam recortar imagens, eles
queriam mesmo era escrever em seus cadernos.
Com a volta da professora, começaram a colar a fita adesiva no cartaz para
pendurá-lo, neste momento foram auxiliados pela filha de uma das educandas, pois
não sabiam ao certo como colar a fita. Com a conclusão da produção, a professora
parabenizou a todos pela atividade realizada e desejou- lhes uma boa noite e um
bom final de semana.
Assim encerrou-se a segunda observação na turma de Alfabetização de
Jovens e Adultos, ficando com um ponto importante o questionamento dos
educandos em relação à atividade proposta, deixando como reflexão para a
construção da nossa futura prática nesta turma.
No dia 1º de Setembro, a professora iniciou a aula, trazendo dois mapas do
mundo, um deles em forma de globo e outro em forma de cartaz, com isso, fez-se
uma discussão inicial com os educandos sobre o que sabiam em relação ao mapa. E
como no momento havia somente dois educandos, a professora pediu que se
aproximassem do mapa pendurado no quadro, para que assim pudessem identificar
onde se encontrava o nosso país e verificar que, apesar da diferença de forma dos
dois mapas, ambos eram iguais. Os educandos, neste momento, relatam-se suas
dificuldades para encontrar o nosso país no mapa, pois, segundo eles é muito
pequeno e difícil de achar.
31
A professora deu sequencia a aula, entregando uma folha para os educandos,
com atividades relacionadas aos mapas, pediu para que inicialmente encontram-se o
nosso país em um mapa desenhado na folha, e depois o pintassem de verde. Neste
momento chegou mais uma educanda e a professora repetiu a atividade que havia
feito com outros, acerca da compreensão do mapa. Logo após a pintura do país,
todos foram para o intervalo.
Após o intervalo a professora solicitou que dois educandos transcrevessem os
nomes dos estados brasileiros de um mapa para outro, sendo esta uma das
atividades que constava na folha anteriormente citada. Como um dos educandos
ainda não tinha terminado a pintura de seu mapa, a professora pediu para os demais
que dessem sequencia as suas atividades.
Na atividade de transcrição das palavras uma das educandas pediu auxílio à
professora, pois sentia um pouco de dificuldade em organizar as palavras dentro de
seu mapa, chegou a comentar que algumas palavras eram grandes para caber em
um espaço pequeno.
Enquanto a professora auxiliou esta educanda, os estagiários deram auxilio
para outra, e ao, mesmo tempo, foram feitas discussões com relação aos estados
brasileiros que se encontram em níveis elevados de poluição e sobre o
desenvolvimento do país.
Terminados então a atividade e a discussão, a educanda mostrou à
professora sua atividade completa, esta deu parabéns à educando e pediu que
tentasse fazer a próxima atividade, que consistia em localizar no seu mapa países
com um determinado número de letras e completar os quadrados.
Chegado o momento do final da aula, a professora solicitou que os
educandos guardassem suas atividades, pois iriam usar novamente no dia seguinte,
desejando- lhes uma boa noite.
Diante das observações desta aula, percebeu-se que os educandos não
compreenderam muito a questão do nosso estado estar localizado dentro do Brasil,
porém a professora comentou que daria continuidade a esses estudos.
Com isto, fechou-se mais uma observação, ressaltando o quanto é importante
o professor observar os aprendizados dos seus educandos na aula proposta, para
que assim possa planejar suas próximas aulas, ficando este questionamento como
embasamento para subsidiar nossa futura prática.
32
No dia 08 de Setembro, a professora iniciou a aula comunicando à turma que
devido ao número pequeno de educandos, não iniciariam uma nova temática.
Com isso, inicia a aula fazendo atividades diferenciadas, primeiramente pede
para a educanda que esta alfabetizada para fazer uma produção textual contendo
um titulo e no mínimo sete linhas. E para os outros educandos, que escrevam quatro
sílabas no quadro, respectivamente, “so”, “ma”, “da”, “vi” e pede que, a partir destas,
formulem palavras.
Durante a realização das atividades, os estagiários sentaram-se com os
educandos para auxiliá-los, percebeu-se que gostaram dessa atenção individual,
pois ficava mais fácil para solucionar suas dúvidas.
Após a conclusão do texto da educanda, a mesma chamou a professora para
observar se sua atividade estava correta e, com isso a professora, passou uma nova
atividade que consistia em situações problemas transcrita no quadro para que a
educanda solucionasse. E para os outros educandos, passou no quadro números
pares, para que os mesmos dessem sequencia. No começo ficaram confusos acerca
do que deveriam fazer, mas com o auxilio da professora e das estagiárias,
conseguiram realizar a atividade.
Diante de um auxílio mais próximo, pode-se observar o capricho dos
educandos com os seus cadernos, sempre apagando as letras que saiam um pouco
da linha.
Algo que foi relevante neste dia foi o fato de que quando uma educanda
terminou a atividade e começou guardar os seus materiais dizendo que estava na
hora de ir embora, outro educando olhou no relógio, e disse que faltavam dez
minutos ainda, podendo assim escrever mais coisas. Percebemos então o valor que
os educandos dão para o momento que estão ali, valorizando qualquer minuto para
construir suas aprendizagens.
Todos terminaram suas atividades e a professora os desejou boa noite,
concluiu-se assim mais um dia de observação.
No dia 22 de Setembro, dirigiu-se novamente à instituição para observar a
turma de Alfabetização da EJA, foi a partir dessa observação que elucidou-se o
pensamento em resgatar os contos de fadas de uma forma que contribuísse para o
aprendizado dos educandos. Segue abaixo o relato desta aula, comprovando o
33
quanto é importante trazer didáticas diferenciadas para trabalhar com temas muitas
vezes difíceis de dialogar.
Neste dia a professora iniciou a aula entregando um pequeno texto para que
cada educando lesse. Assim que todos terminaram a leitura, a professora trouxe
uma reportagem que falava sobre o alto índice de pessoas com AIDS na região do
Município de Biguaçu. Concluída a leitura, a mesma lançou uma discussão para a
turma sobre sexualidade, doenças sexualmente transmissíveis, e o preconceito em
torno dessas doenças.
No começo os educando ficaram receosos de expor suas opiniões e dúvidas,
porém a educadora foi incentivando-os a relatar suas conclusões a cerca da
temática. Diante disto, uma das educandas se manifestou comentando que um
tempo atrás, sua filha, ainda adolescente, começou a se envolver com um rapaz
mais velho, que estava fazendo um serviço em sua rua. A mesma continuou
relatando que tentou por inúmeras vezes que a sua filha não se encontrasse com o
rapaz, chegando ao ponto de quebrar o seu celular perante a vizinhança.
Com isso, a professora questionou se ela informou a sua filha sobre os
métodos contraceptivos, sobre as doenças que podem ser adquiridas através de
relações sem camisinha. A educanda respondeu, dizendo que “Não!”, pois, segundo
ela, vai esperar sua filha fazer quinze anos.
A professora explicou a importância de informar sua filha sobre essas
situações e o quanto é perigoso não esclarecer as suas dúvidas, a educanda
comentou que acreditava que a sua filha sabia através das primas e amigas que são
um pouco mais velhas.
A professora, juntamente com os outros educandos, comentou o quanto é
arriscado deixar essa responsabilidade para as amigas, pois as mesmas, muitas
vezes não sabem a maneira certa de agir.
Infelizmente a educanda não se convenceu do contrário, e relatou que na sua
época não se tinha informação, adquiria-se através do tempo, entretanto, pode-se
perceber que a educanda também não tinha a informação correta sobre
sexualidade, ficando em dúvida quando a professora questionou os educandos
sobre como são transmitidas essas doenças.
Uma educando perguntou se AIDS se transmitia através do beijo. Diante
desta pergunta, a professora esclareceu suas dúvidas, e retomou o texto entregue
no começo da aula, pedindo que os educandos acompanhassem sua leitura feita em
34
voz alta. O texto tratava de uma campanha feita pelo Governo para conscientizar a
população sobre as doenças sexualmente transmissíveis, mais especificamente
sobre a AIDS.
Concluída a leitura, a professora escreveu duas questões no quadro
referentes ao texto e as discussões realizadas anteriormente e todos construíram as
resposta juntos, com um pouco da opinião de cada um.
Quando estavam construindo as respostas, aconteceu uma infeliz situação,
um dos educandos que se dirigia a sua casa, acabou por desmaiar. Todos ficaram
assustados no início, porém, quando tudo se acalmou, a professora relatou que essa
situação havia acontecido algumas vezes, e que o educando simula desmaios
quando quer chamar a atenção ou quando é contrariado.
Após este fato, a professora encerrou as atividades do dia.
No dia 29 de Setembro, ao chegar à sala, a professora se deparou somente
com duas educandas, a professora relata que, provavelmente, a falta dos outros
educandos deu-se pelo fato de que a mesma havia comentado, no dia anterior, que
trabalharia com a matemática e comentou que os educandos sentem insegurança
quando se trata desta disciplina, tendo em vista que a matemática é concebida como
um “terror” para os educandos em geral.
A proposta do dia era trabalhar com questões matemáticas, a professora
iniciou escrevendo no quadro situações-problema de adição e subtração, que
abrangem o cotidiano da população, como a ida ao supermercado e solicitou que os
educandos copiassem em seus cadernos.
Devido à presença somente de duas educandas houve, maior atenção por
parte da professora perante a resolução das atividades. Com isso a professora notou
que uma das educandas sentia dificuldades em resolver uma das questões, por isso
transcreveu a conta no quadro e pediu que solucionassem juntos o problema,
fazendo com que a educanda percebesse seus erros e acertos.
Diante da conclusão das resoluções das questões-problema, a professora
escreveu novamente no quadro uma atividade, que consistia na colocação dos
números em ordem crescente e decrescente.
E com a conclusão da atividade, a professora encerrou a aula, desejando
uma boa noite para os educandos.
Através dessas questões, concluiu-se a etapa de observações, tendo em
35
mente que os contos de fadas poderiam contribuir para o aprendizado dos
educandos, pois iriam dialogar com a realidade dos mesmos, de uma forma que
resgatasse suas memórias e que levassem em consideração suas histórias de vida.
5.1.2 De um olhar investigador para proposições reveladoras
No dia 13 de Outubro, se iniciou as intervenções na turma de Alfabetização
da EJA, neste dia compareceram somente três educandos.
Primeiramente, relatou-se aos educandos a proposta de trabalhar as
disciplinas através dos contos de fadas, orientando-os de que se estaria durante
todo percurso do estágio, fazendo uma troca de conhecimentos, valorizando assim
seus saberes.
Dando início a proposta do dia, questionou-se os educandos acerca dos seus
conhecimentos em relação aos contos de fadas, se sabiam o que era e se já haviam
tido contado com estas narrativas. Os educandos responderam inicialmente que não
sabiam ao certo o significavam os contos de fadas. Diante disto, perguntou-se se
eles já ouviram falar de “Chapeuzinho Vermelho”, “Branca de Neve e os Sete
Anões”, (Vide Apêndice) entre outros. Obteve-se então como resposta dos mesmos
que “sim”.
A partir de suas respostas, realizou-se uma breve explicação em relação à
origem dos contos de fadas, para amenizar suas visões em relação à estas
narrativas que, muitas vezes, são compreendidas somente como literatura para as
crianças. Comentou-se que os primeiros contos foram feitos para os adultos, com
intuito de registrar suas histórias, que com o tempo foram sendo modificadas.
Relatou-se que algumas narrativas traziam em suas entrelinhas tragédias,
como corte de pés, até mutilações de corpos, destacando-se que estas histórias
faziam parte das primeiras versões registradas.10
A partir dessas explanações os educandos demostraram um sentimento de
surpresa, e foi através disso que foram convidados a ouvirem uma versão da história
de “Chapeuzinho Vermelho” publicado para as crianças, evidenciando o ponto em
10
Fonte: BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Tradução de Arlene Caetano.
São Paulo: Paz e Terra, 2007. 21ª edição revista.
36
que o lobo mau engana a menina.
Após a contextualização da história, lançou-se uma discussão aos educandos
em relação aos dias atuais, quem seriam os lobos maus de hoje? Será que as
crianças são tão ingênuas como era a “Chapeuzinho Vermelho”?
Esses questionamentos foram grandes propulsores para se abordar inúmeros
assuntos nesta proposta, pois sentiu-se que quando se jogou a discussão para o
dia-a-dia dos educandos, estes sentiram-se mais a vontade para relatar suas
vivências.
Com isso a discussão percorreu vários caminhos, e um deles que se
destacou, foi quando Tânia relatou que os seus filhos do primeiro casamento moram
com o pai, e que nenhum deles, sendo ainda adolescentes, continuaram seus
estudos.
Perguntou-se a ela, o porquê? E a mesma respondeu que eles não veem
futuro nos estudos.
Indagou-a sobre as opiniões dos seus filhos em relação a ela está dando
continuidade a suas aprendizagens. Ela comentou que eles dizem que ela está
perdendo seu tempo, e que seus filhos não são os únicos a falar isto, mas todos que
a conhecem. Ela demostrou, porém, que está satisfeita com a educação, e quando é
questionada sobre a continuidade, diz que gostaria de ingressar em uma faculdade.
Tânia respondeu que, como trabalha de auxiliar de limpeza na Fundação de
Educação Especial, gosta muito da área da educação, tendo vontade fazer uma
faculdade de Pedagogia.
Parabenizou-se a ela pelo desejo, e a incentivou-se a não dar ouvidos
àqueles que não acreditam na educação, pois quem tem anseios vai além. A mesma
agradeceu, e comenta que gostaria de se especializar na área da educação
especial, pois como trabalha em uma instituição de educação, observa que eles são
felizes mesmo com suas dificuldades.
Relatou que quando começou neste serviço reclamava muito da vida, porém
aprendeu com os mesmos que se deve dar valor a vida. Descreveu também o fato
de gostar muito de idosos, pois trabalhou por algum tempo em um hospital, e
adorava ajudar os idosos, mesmo não sendo sua função, gostava de parar para dar
comida a eles.
Concluiu sua fala relatando que está em dúvida entre a área da educação e a
da saúde, deixando bem claro que vai romper com as barreiras que existem entre
37
sua família, e vai conquistar seu desejo. A discussão cessou com a chegada do
intervalo.
Após o intervalo retornou-se a proposição, registrando no quadro um
questionamento, que uniu a história com as discussões feitas em sala, referindo-se
ao porquê de atualmente existir tanta maldade e violência.
A partir desta questão, fez-se um diálogo com os educandos com o intuito de
construir-se uma resposta coletivamente e foi extremante importante esta discussão
porque todos contribuíram com sua opinião. Chegando-se a conclusão de que existe
tanta violência e maldade nos dias de hoje, por conta da falta de amor e respeito
entre os sujeitos, tanto na família, quanto na sociedade.
Levantou-se também uma dúvida em relação ao porquê dos lobos maus de
hoje em dia agirem de maneira tão violenta, será que eles sofreram maus-tratos em
suas infâncias? Se deixou esse questionamento no ar, para que cada um refletisse
individualmente.
E, por fim, o grupo chegou à conclusão de que os lobos maus de hoje em dia
são os assassinos, os bandidos, os estupradores, e todos aqueles que fazem
maldade com um sujeito independente da idade.
Neste momento Tânia trouxe um relato de sua vida, comentando que há
pouco tempo morava em uma comunidade menos favorecida, e que trabalhava com
venda de passes juntamente com sua atual marido. Sendo assim, todo início de mês
eles recebiam uma boa quantia de dinheiro com a venda dos passes. Um dia, um
assaltante ficou a noite toda esperando que eles saíssem da casa, segundo o relato
de amigos, para assaltá-los.
Quando seu marido saiu na porta de casa, e ela voltou para a cama, ouviu um
barulho, e rapidamente a voz do cônjuge pedindo que abrisse a porta. Foi quando a
abriu, e viu que seu marido tinha levado um tiro, relatando assim que como a vida de
uma pessoa honesta nos dias de hoje está difícil, pois ela e o marido tiveram tanto
perdas pessoais como financeiras, e com o bandido não aconteceu nada, nem foi
preso, porque não foi pego em flagrante.
Encerrou-se a primeira preposição, mostrando que os contos de fadas
também fazem parte do cotidiano adulto, e que, ao refletir-se acerca de suas
temáticas, eles podem torna-se um grande mediador no processo de ensinoaprendizagem, conscientizando os educandos a se tornarem seres críticos.
38
Como o intuito era resgatar os contos de fadas, e por meio deles fazer uma
reflexão crítica reportando-se ao cotidiano dos educandos, pensou-se em levar, na
segunda proposição, o conto de fadas “Cinderela”, que aborda várias temáticas
sociais.
Como
se
aprendeu
durante
o
percurso
acadêmico,
o
educador,
primeiramente, deve instigar e propiciar aos educandos um momento de explanação
de seus conhecimentos. E foi dessa forma que se principiou a proposição do dia.
Perguntou-se aos educandos se já tinham ouvido falar deste conto de fadas,
e obteve-se como resposta, que “sim”, porém, não sabiam ao certo associar o nome
do conto como o objetivo da história. Desta forma, apresentou-se oralmente uma
versão dos Irmãos Grimm do conto “Cinderela”, que traz em suas entrelinhas outro
estilo de história de uma forma mais “agressiva”, diferente daquele que é conhecido
atualmente.
Após a exposição da história, os educandos comentaram que realmente não
tinham ideia de que existiam outras versões do mesmo conto, ficando surpresos com
o estilo desta história.
Diante disto, abriu-se uma discussão sobre o conto, questionando-os acerca
da proximidade desta história com a sociedade atual, bem como, acerca de que
elementos poder-se-ia elencar da narrativa que dialogassem com nosso contexto
sócio-cultural.
O diálogo foi extremamente relevante para a pesquisa, pois se conseguiu
pontuar algumas questões que estão fortemente envolvidas no processo de
construção do caráter do sujeito. Tais como os fatores negativos que influenciam
nesta construção, a ganância, a falsidade, o tráfico de órgãos, o desrespeito na
família; temas estes encontrados na história e abordados em sala.
Cristiano relatou que mora com os pais e que tem muito respeito pelos
mesmos, deixando claro que os outros irmãos não têm a mesma visão que ele,
aparecendo somente em épocas de festas.
Declarou sua crítica em relação ao desrespeito que existe atualmente entre
pais e filhos, que se vê diariamente nos noticiários uns matando aos outros, seja por
dinheiro ou por ganância.
Partindo deste relato, chegou-se a um questionamento referente aos
descasos existente em alguns processos de adoções, nos quais muitas famílias
39
acabam por perfilhar crianças e adolescente para abusá-los tanto sexual quanto
fisicamente, lhes expondo a maus-tratos. Não se pode julgar se estes descasos são
específicos de famílias com filhos adotivos, pois há casos de pais, independente da
classe social, que vendem seus filhos para o tráfico de órgãos.
Quando se abordou essa questão, os educandos não tinham noção do que se
referia este tráfico, e quando foi exposto a eles, ficaram estagnados, não
acreditaram que existam sujeitos capazes de tanta crueldade.
Foi desse modo que se fechou a discussão do dia, mostrando aos educandos
que os contos de fadas, apesar de serem visto por muitas pessoas somente como
literatura infantil, tem muito a acrescentar nos aprendizados dos sujeitos
independente da idade. Vale ressaltar alguns questionamentos: os contos, que
foram elaborados há muitos anos, retratam conflitos sociais e familiares a partir de
uma realidade concreta? Tais acontecimentos também se passavam naquele
período?
No último dia de proposição, resolveu-se abordar o conto de fadas “João e o
Pé de Feijão”, com o intuito de resgatar esta narrativa para que assim se pudesse
relacionar com a realidade dos educandos.
Iniciou-se a proposta do dia, convidando os educandos a comentar seus
conhecimentos em relação à história, obtendo como resposta que não se
recordavam ao certo do que se tratava o conteúdo do conto.
Com isso, convidou-se os educandos a apresentarem o conto do dia, por
meio de uma leitura em voz alta, por ser uma turma pequena e tímida, buscou-se
dessa forma aproximar os educandos das estagiárias, a fim de romper as barreiras
de inseguranças dos mesmos em relação a quem vem ensinar e aprender junto com
eles.
A proposta foi aceita pelos educandos e, dessa maneira começou-se a
explanação da história, percebeu-se que no decorrer da leitura os educandos
estavam mais confiantes e demonstravam maior interesse pela história.
Dessa maneira, notou-se o quanto é importante o educador estar atento aos
indícios dos educandos, para que a qualquer momento possa reverter seu
planejamento, a fim de proporcionar uma relação de troca entre educador/educando.
Dando sequencia a proposta, procurou-se realizar um diálogo sobre o quê o
conto trazia em seu contexto que pudéssemos nos reportar à atualidade.
40
E o grupo chegou à conclusão de que o conto aborda a questão do consumo
descontrolado, que o personagem da história compra os objetos sem se preocupar
com seu real problema, que é falta de comida.
Neste momento Tânia relata que antigamente era extremamente consumista,
não podendo passar um dia sem comprar um sapato ou uma roupa, e na maioria
das vezes, nem utilizava o objeto adquirido. O que a deixava feliz era fazer inúmeras
compras, para pelo menos dizer possuía algo, mesmo que fosse para ficar dentro do
guarda- roupas.
Comentou-se aos educandos que muitas pessoas ficam com dívidas por anos
por conta desse exagero na compra de produtos que não são utilizados, algumas
pessoas chegam a passar fome para adquirir uma vestimenta.
E ao se dialogar com os educandos, percebeu-se que este consumo
incontrolável tende a prejudicar o sujeito, obviamente que todos às vezes fogem um
pouco do controle com seus gastos, mas não pode ser algo constante, pois,
diferentemente da história, não se tem atualmente um pé de feijão para salvar.
Diante desta discussão, propor-se aos educandos algumas situaçõesproblema,
relacionadas
ao
consumo
diário,
tais
como:
as
compra
em
supermercados, lojas, entre outros.
Tendo como intuito conscientizar os educandos da necessidade de
controlarem seus gastos e investirem em algo que desse maior retorno, não
esquecendo que a vida não é apenas trabalhar, havendo necessidade de que se
tenha momentos de diversão, mas sempre com planejamento.
Dessa forma encerrou-se a terceira proposição, deixando o grupo de estágio
satisfeito com a proposta de trabalhar as disciplinas através dos contos de fadas,
rompendo com a visão de que estas histórias fazem parte apenas do cotidiano
infantil.
5.2 OLHAR INVESTIGATIVO E PROPOSIÇÕES REVELADORAS: ANÁLISES DAS
DISCUSSÕES ACERCA DOS CONTOS DE FADAS NUMA TURMA DE
ALFABETIZAÇÃO DA EJA
A partir da construção das observações e das proposições, pensou-se de que
forma seria realizada a análise da pesquisa desenvolvida com a turma. Depois de
muito se pensar, chegou-se à conclusão de que para a elaboração de um conto de
41
fadas, precisa-se de alguns requisitos primordiais, tais como: os personagens, o
contexto em que se passa a trama e o conteúdo que aborda.
As análises desta pesquisa, portanto, não poderiam ser diferentes da
construção de um conto de fadas, pois os educandos foram de extrema relevância,
bem como a instituição e os conteúdos que foram abordados nas proposições como
forma de aquisição de conhecimentos.
Partindo-se destes princípios serão descritas as análises a fim de confirmar a
importância da ludicidade, bem como os contos de fadas para o contexto escolar,
especificamente a maneira como tal conteúdo foi abordado nesta pesquisa,
pensando-se uma didática para a Educação de Jovens e Adultos.
5.2.1 Quem são os “personagens” da turma de alfabetização da EJA da Escola
Básica Municipal Docilício Vieira da Luz?
Durante o processo de construção da pesquisa, buscou-se interagir com a
turma pesquisada no intuito de conhecer os “personagens” principais desta análise,
bem como suas particularidades e seus objetivos na Educação de Jovens e Adultos.
Sendo assim, as observações e as proposições foram extremamente relevantes
para a aquisição destes elementos primordiais a confirmação da temática.
A possibilidade de ter contato com as histórias de vida destes sujeitos serviu
como um fator beneficiador para a compreensão de suas dificuldades pessoais e da
maneira como suas aprendizagens se desenvolvem.
Estes sujeitos deixam bastante claro em suas explanações os inúmeros
contratempos que precisam enfrentar ao voltar a uma instituição de ensino.
Ressaltando que em suas vivências encontram alguns pontos de desigualdade
existentes na sociedade atual, tais como: o preconceito, a exclusão do mercado
devido a não posse de um diploma e o próprio descrédito dos seus familiares em
relação à Educação de Jovens e Adultos.
Pode-se notar a falta de um desses elementos citados na fala da educanda
Tânia, a qual afirma que:
[...] as opiniões dos seus filhos em relação a ela estar dando continuidade a
42
suas aprendizagens. Comentou assim, que eles dizem que ela está só
perdendo seu tempo ali, e que seus filhos não são os únicos a falar isto,
mas sim todos que a conhecem. (Diário de Campo, Proposição).
Vale ressaltar que, inicialmente, houve uma dificuldade em interagir com os
educandos, pois demonstravam insegurança em expor suas trajetórias de vida, bem
como, seus conhecimentos.
Com o passar do tempo, entretanto, foram confidenciando que alguns fatores,
como os apontados anteriormente, acabaram por influenciar em suas posturas na
sala de aula, porque não estão acostumados a expor suas opiniões. Os mesmos
relatam que na infância, não tinham este tipo de diálogo em sala de aula.
De acordo com Laffin (2011, p. 251) isso acontece por que:
Os estudantes da EJA em sua maioria vivenciam cotidianamente
desigualdades sociais e raciais perante o mundo, no qual se inclui a escola,
que também é desigual, o que não pode traduzir-se num determinismo
causal de condições de sucesso na escola, e, no caso da EJA, não pode
significar uma fragilização e aligeiramento da escolarização na relação com
o saber científico, com o conhecimento.
Desta forma, procurou-se planejar proposições que pudessem proporcionar
momentos de reflexão por parte dos educandos, com objetivo de valorizar seus
conhecimentos e de romper com suas aversões em relação ao processo de ensinoaprendizagem. Isso porque, segundo Schmitt (2010, p.27)
Os primeiros dias de aula são de grande importância para “quebrar” as
possíveis resistências e começar a construção de uma relação de
confiança. São, também, momentos propícios para, por exemplo, conhecer
o grupo quanto às experiências escolares já vividas; as profissões que,
atualmente, desempenham ou a forma como ganham a vida; as cidades de
origem; os grupos familiares e as expectativas em relação ao futuro.
No decorrer da realização das propostas, foi possível ver a mudança de
comportamento dos educandos perante a presença da pesquisadora, ficando mais
seguros em perguntar, em opinar e discutir sobre os assuntos apresentados.
O intuito destas propostas, portanto, era poder conhecer o cotidiano dos
educandos para que se pudesse transportar suas histórias de vida para os contos de
fadas, como forma de refletir sobre os mesmos.
Em uma dessas explanações os educandos revelam suas complicações em
43
ter que trabalhar durante o dia inteiro em serviços braçais, ter que cuidar do lar, da
família e ter que conciliar isso tudo com as aulas na EJA.
Com isso, salientam que o cansaço físico que sentem no período noturno,
horário destinado para as aulas de EJA desta instituição pesquisada, faz com que
não consigam se dedicar plenamente aos estudos e como também não possuem
horários livres para tal atividade, os estudos ficam reservados somente para o
momento de realização de suas atividades escolares, na instituição. Como
apresenta Laffin (2011, p.260)
Uma das particularidades do trabalho da EJA que emerge nos dados é uma
flexibilidade que se constrói em termos de organização metodológica e
curricular, possibilitando lidar com os diferentes ritmos de aprendizagem e
com as diferenças de apropriação do conhecimento.
Assim, ao longo da permanência em sala de aula com esses sujeitos, pode-se
conhecer as especificidades do grupo, bem como as particularidades existentes
nesta modalidade de ensino, que é a EJA. Ficando notória a necessidade de uma
flexibilidade nos currículos da modalidade, favorecendo assim uma melhor adesão
dos educandos ao programa.
Estes reconhecimentos das singularidades dos sujeitos da turma foram
favoráveis para a compreensão dos níveis de alfabetização que se encontram
atualmente, revelando que há três tipos distintos de aquisição de escrita e de leitura
no grupo.
Podemos notar que há diferentes níveis de aprendizagem na turma, sendo
assim, há educandos que se encontram no início da alfabetização, começando a
conhecer as letras e compreender seus significados.
A partir destas pontuações, um fato chamou bastante a atenção, pois há uma
educanda já alfabetizada na turma e como o grupo se identifica como Alfabetização
de Jovens e Adultos, ficou a indagação. Buscou-se na instituição entender como se
dá o processo de regulamentação da EJA, para compreender melhor a situação
desta educanda.
Obtendo-se como resposta, que infelizmente não há uma turma que dê
sequencia a alfabetização na instituição, havendo um salto para o quinto ano, devido
à falta de educandos interessados neste ano. Desta forma, orientou-se a educanda
a ir para outra instituição da região que ofereça a continuidade nos seus estudos,
44
mas a educanda comentou que não tem condições financeiras para se locomover a
outra instituição, que necessita de um meio de transporte, pois fica longe de sua
moradia, e continua relatando que não se sente segura para passar para uma turma
adiante.
Partindo destas respostas, procurou-se trazer para as proposições momentos
que fizessem com que os educandos refletissem acerca da importância de dar
continuidade aos seus estudos, sendo um fator beneficiador para suas vidas.
E com o passar do desenvolvimento da pesquisa, pode-se perceber uma
postura diferenciada na fala da educanda, reconhecendo o valor da educação.
Tendo outro ponto de vista em relação aos desafios de dar continuidade aos seus
estudos, percebendo que pode ir além.
Na narrativa da aluna fica explícito a
importância de estudar:
Tânia responde que como trabalha de auxiliar de limpeza na Fundação de
Educação Especial, gosta muito da área da educação, tendo vontade de
fazer uma faculdade de Pedagogia. [...] Concluiu sua fala, dizendo que está
em dúvida entre a área da educação e a da saúde, deixando bem claro que
vai romper com essas barreiras que existem entre sua família, e vai
conquistar seu desejo. (Diário de Campo, Proposição).
Ficou evidente nesta fala a necessidade de que se aborde um assunto do
cotidiano, fazendo com que os educandos reflitam acerca de seus entendimentos,
pois, este momento só veio a se confirmar a partir de uma discussão de um assunto
corriqueiro transferido de um dos contos de fadas, que proporcionou a ampliação
dos conhecimentos e enriqueceu a discussão.
Desta forma, observou-se que a metodologia de se conhecer a realidade dos
educandos, para que depois se pudesse selecionar os contos de fadas de acordo
com a necessidade de abordar alguns assuntos referentes à saúde, e
desenvolvimento pessoal, entre outros, é uma maneira efetiva de aproximar
educação e cotidiano, principalmente quando se trata de adultos.
Obteve-se, de modo geral, dos educandos da turma, que as dificuldades do
dia-a-dia atrapalham na presença em sala de aula, pois como anteriormente,
existem alguns fatores que predominam no momento de decisão de ir para a
instituição. Estas dificuldades são suficientes para a evasão dos educandos da
escola, principalmente os da EJA.
Outro temor dos educandos é a disciplina de matemática, sendo
45
convencionada pelos estudantes como uma matéria difícil de compreender. Este
temor era compartilhado pelos educandos da turma de Alfabetização, pois estes
também não gostavam da aula quando se tratava da matemática.
Uma educanda, quando sabia ou desconfiava que na próxima aula teria algo
que envolve-se esta disciplina, não comparecia na escola, deixando claro que não
gostava de matemática, que esta lhe causava pavor.
Por isso, buscou-se trazer em uma das propostas a disciplina de matemática,
porém, anteriormente contextualizada, partindo de uma discussão de um dos contos
de fadas que se referia ao exagero no consumo diário. Desta forma, levou-se para
os educandos situações-problema do seu dia-a-dia, tais como: a ida ao
supermercado, a realização de compras em lojas, entre outros, envolvendo a
matemática sem que se precisasse comentar que se estava trabalhando com tal
disciplina.
Ao proporem-se estas situações, notou-se que os educandos sentiram-se
mais a vontade com a matemática e observaram a necessidade de controlar seus
gastos. Tornando assim a atividade significante, pois não envolveu somente a
matemática, mas toda uma discussão que se fez entorno da realidade da população
atual, trabalhando com o contexto dos educandos. De acordo Schmitt (2010, p. 69)
O grande desafio é romper com os limites que restringem a atividade
escolar à mera repetição de conteúdos. Procurar a formulação de propostas
que integram os conteúdos das diferentes disciplinas, diferentes
abordagens na explicação da realidade presente interna e externamente à
escola configura-se como o maior desafio a ser enfrentado.
Nestes momentos, nos quais se trazia propostas para que os educandos
trabalhassem conjuntamente, era perceptível que não se sentiam a vontade em
interagir em grupo, demonstrando que gostavam mais de responder individualmente
em seus cadernos.
Ao longo das atividades, que sempre tinham como proposta inicialmente
discutir os contos de fadas em grupo, foi se percebendo que começaram a ter
confiança de expor suas opiniões em sala e de fazer a troca de conhecimento entre
si e com a proponente.
Enfim, conhecer e compreender as histórias destes sujeitos participantes da
modalidade da EJA foi extremamente relevante para aquisição de conhecimentos e
46
experiências que abrangeu todos os itens aprendidos durante o percurso
acadêmico. Tais como as dificuldades diárias, a flexibilidade no currículo e no
horário, os desníveis de aprendizagens, que somados tornam-se um desafio para o
educador, porém, deve-se ter um olhar diferenciado para estes sujeitos que
procuram na EJA romper com as desigualdades existentes na sociedade, como
forma de melhorar sua qualidade de vida.
Portanto, trazer as reflexões dos contos para este contexto escolar foi
desafiador diante das dificuldades apresentadas pelos educandos, principalmente a
insegurança de comentar suas opiniões, entretanto notou-se a quebra de visões
enraizadas sobre a utilização de propostas semelhantes a esta na EJA.
5.2.2 A instituição como oportunizadora de práticas educativas envolvendo os
contos de fadas
Optou-se pela realização desta pesquisa em uma turma de Alfabetização da
Educação de Jovens e Adultos da Rede Municipal de São José devido ao desafio da
temática, bem como a possibilidade de unir o estágio curricular nesta modalidade
com o Trabalho de Conclusão de Curso.
Seguindo a atual estrutura curricular da universidade, o estágio na EJA é
realizado na última fase do curso de Pedagogia, sendo assim, as aulas durante todo
o percurso acadêmico são ministradas a noite, mesmo horário destinado às aulas
desta modalidade de ensino, ficando inviável a conclusão da pesquisa em outro
momento. Por isso, procurou-se concretizar o trabalho diante da oportunidade de
fazer uma junção das disciplinas acadêmicas.
Entretanto, devido ao pequeno número de pólos da EJA existentes na região
de São José que aceitam a realização de estágios, sendo o município mais próximo
da moradia dos educandos, ficou decidido pela universidade e pelas escolas
conveniadas que o estágio nesta área seria realizada em trios, Consta no
Referencial curricular da EJA do Município de São José (2008, p.10) que:
Atualmente a Educação de Jovens e Adultos de São José está presente em
19 escolas da rede municipal, atendendo a alunos entre 15 e 70 anos,
desde o nível da Escolarização Inicial (1º segmento), passando pelo II
segmento do Ensino Fundamental até o Ensino Médio e pretende, a cada
ano, ampliar a oferta para suprir a demanda existente no município, se
assim for necessário.
47
Vale ressaltar, portanto, que o estágio desta disciplina acadêmica foi realizado
em trio segundo a proposta da universidade, porém as percepções das
observações, das proposições e das análises desta pesquisa foram feitas por mim,
aprofundando as análises para a pesquisa de trabalho de conclusão de curso.
Seguindo a explanação do estágio na Educação de Jovens e Adultos, será
apresentado a seguir as observações e as relações constituídas entre acadêmica/
instituição, em especial com a coordenação e a educadora da modalidade.
Observou-se que a instituição está organizada para acolher seus educandos,
sendo constituída por espaços tranquilos, de interação harmoniosa entre
educandos/coordenação e educadores. Segundo o Referencial curricular de EJA do
município de São José (2008, p. 10)
Vale destacar ainda que os cursos oferecidos no município são frequenciais
com avaliação do processo, permitindo um acompanhamento maior dos
alunos, como também uma participação maior dos mesmos no que se refere
às atividades desenvolvidas no espaço escolar, propiciando uma interação
entre os educandos de diversas faixas etárias.
A procura por esta modalidade na instituição é significante por se tratar de um
bairro consideravelmente pequeno. Há indícios de que alguns educandos que se
inscreveram, até o momento não compareceram às salas de aulas, ou seja, as
adesões na EJA hoje em dia ainda são inferiores às outras modalidades da
educação, sendo causada devido à fatores socioeconômicos que influenciam no
cotidiano desta faixa etária.
Quando os educandos acabam por ingressar na EJA há um desafio para a
instituição em envolver estes sujeitos com todas estas dificuldades em permanecer
na escola que, antigamente, os excluiu do processo de ensino. Segundo o
referencial curricular da EJA do município de São José (2008, p. 10)
[...] a Secretaria Municipal da Educação, com o Setor Pedagógico,
responsável pela Educação de Jovens e Adultos, orienta as equipes
pedagógicas das escolas quanto à exceção do aluno trabalhador, o qual
possui amparo legal no que diz respeito à frequência obrigatória, ou seja, se
o educando comprovar que está trabalhando e que o turno de trabalho
comprometerá a chegada no horário estabelecido pela escola, este será
48
devidamente orientado para que consiga acompanhar os conteúdos
trabalhados em sala de aula e não seja prejudicado por causa disso.
No momento, é oferecido, pela escola pesquisada, turmas de Educação de
Jovens e Adultos da Alfabetização até o oitavo ano, havendo um rompimento de
turma no quinto ano, pois, segundo a educadora da turma, não há pessoas
matriculadas para este fase da EJA atualmente. O Referencial curricular da EJA do
município de São José (2008, p. 13) aponta que:
Para dar prosseguimento aos estudos dos educandos da escolarização
inicial de Adultos é oferecido o segundo segmento do Ensino Fundamental
a
a
– 5 a 8 série, cuja distribuição ficou caracterizada da seguinte maneira:
a
a
primeira fase, referente a 5 série; segunda fase, referente a 6 série;
a
a
terceira fase, referente a 7 série e quarta fase, referente a 8 série.
Infelizmente, não se teve contato diretamente com as outras turmas, além da
turma pesquisada, porém, pode se notar que a educadora planeja suas aulas
através das dificuldades de aprendizagens dos educandos e por meio de dois livros
didáticos especializados para a área. Desta forma, contempla as disciplinas de modo
geral, trabalhando de forma a correlacionar todas em uma proposta. Segundo o
Referencial curricular de EJA do município de São José ( 2008, p 11)
A Alfabetização de Adultos no processo de escolarização inicial foi mais
uma modalidade de ensino oferecida no município de São José e buscou
contemplar aquelas pessoas que estavam há muito tempo afastadas da
escola e que necessitavam da escolaridade mínima para garantir seus
empregos e acompanhar seus filhos nas produções escolares.
Ao longo do contato com a turma, pode-se elucidar alguns questionamentos
em relação aos seus anseios com a Educação de Jovens e Adultos, obviamente que
se sabe que o grupo é uma pequena parcela do grande número de educandos que
existem atualmente na EJA. Mesmo assim, tinha-se como propósito conhecer um
pouco de seus objetivos, para que se pudesse ver como se configura o perfil destes
educandos.
Inicialmente, relatam que por problemas pessoais na infância não tiveram a
oportunidade de começar ou realizar seus estudos. E agora, adultos, procuram na
49
Educação de Jovens e Adultos, sanar alguns problemas sociais.
Existem casos na turma de educandos que procuraram na Educação de
Jovens e Adultos, uma forma de aprender os conteúdos necessários para retirar a
carteira de habilitação e que foram gostando e permanecem até hoje no grupo.
Portanto, segundo o Caderno de Educação de Jovens e Adultos (2008, p.29)
[...] é um sujeito que busca respostas às contradições de uma sociedade
capitalista marcada pela desigualdade, pela competição no mercado de
trabalho, pelo surgimento das novas tecnologias que exigem o domínio de
instrumentos da cultura letrada.
Conhecer a instituição e os sujeitos da EJA foi relevante para a aquisição de
embasamentos práticos, sendo suficientes para a adequação do tema e elaboração
das propostas. Trazendo assim fontes essências para a ampliação das discussões
acerca dos contos de fadas.
5.3 AS PROPOSTAS DOS CONTOS DE FADAS PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS
E ADULTOS: “INFANTILIZAÇÃO” OU CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS?
Ao se apresentar a proposta temática, surgiram várias inquietações quanto a
possibilidade de concretizá-la, ou não, para a Educação de Jovens e Adultos. Muitas
vezes ocorreram questionamentos por parte de colegas e docentes, de como seriam
feitas as proposições sem que “infantilizasse” estes sujeitos da EJA.
A ânsia de desmitificar os rótulos enraizados na EJA, que os tratam muitas
vezes com certo desmérito, fez-se com que a pesquisa se tornasse mais
desafiadora, ao ponto de se repensar algumas vezes se estava-se no caminho certo.
Trazer para o contexto escolar da EJA reflexões a parti dos contos de fadas
gerou muitos descréditos e é a partindo desse viés desafiador que se inicia a
explanação deste subcapitulo.
Inicialmente tinha-se em mente o seguinte questionamento: porquê de não
propiciar estes momentos de reflexão para os educandos, principalmente para os da
EJA? Depois, ao longo das interações com a turma, pode-se perceber que, os
contos de fadas surgiram como forma dos adultos comprovarem suas histórias, no
intuito de a passarem a diante. De acordo com Bettelheim (2007, p. 36 e 37)
50
Algumas histórias folclóricas e de fadas se desenvolveram a partir dos
mitos; outras foram a eles incorporadas. Ambas as formas incorporam a
experiência cumulativa de uma determinada sociedade, uma vez que os
homens desejavam relembrar a sabedoria passada e transmiti-la às
gerações futuras.
Assim, com o contato com estas narrativas de diversas formas, por meio de
livros, filmes, desenhos, propagandas, entre outros, foi possível inserir os contos de
fadas na aprendizagem de jovens e adultos. Algo que é tão significante para a
humanidade, pois permanece há anos em nossas gerações, não poderia deixar de
ser um elemento formador na educação.
As opções pelos contos que seriam discutidos em sala não foram escolhidos
aleatoriamente, sem compreensão dos mesmos. Primeiramente, observou-se a
turma para ver quais as dificuldades de aprendizagens, quais os temas que
necessitavam ser abordados para sanar dúvidas.
Chapeuzinho vermelho: análise com a turma
Escolheu- se os contos que mais dialogavam com o perfil dos educandos,
para que assim se pudesse fazer toda uma explanação em torno deles.
O primeiro conto apresentado ao grupo foi a do Chapeuzinho Vermelho 11
tendo resistências por muitos uma vez que traz em seu título o diminutinho “inho”,
remetendo-se a tal diminutivo, tende-se a questionar o que este pode agregar na
aprendizagem dos educandos, em especial os da EJA. Sobre o conto Bettelheim,
(2007, p. 236 e 237) destaca que:
A ameaça de devoração é o tema central de “Chapeuzinho Vermelho” assim
como de “João e Maria”. As mesmas constelações psicológicas básicas
recorrentes no desenvolvimento de cada pessoa podem levar aos mais
diversos destinos e personalidades humanas, dependendo de quais sejam
as outras experiências do indivíduo e de como ele as interprete para si
próprio. Do mesmo modo, um número limitado de temas básicos retratam,
nas histórias de fadas, aspectos bastante diversos da experiência humana;
tudo depende de como tal tema é elaborado e em que contexto os
acontecimentos se dão.
11
ROSSI, Vera. História do Chapeuzinho Vermelho,
Disponível em: <www.contandohistoria.com/chapeuzinhovermelho.htm>
Acesso em: 04, out. 2011.
51
Antes de fazer uma discussão com os educandos acerca do que este
conto aborda, perguntou-se quais eram os seus conhecimentos em relação aos
contos de modo geral. Percebeu-se, que neste momento, os educandos
demonstraram surpresa com a temática.
Entretanto, buscou-se tranquilizá-los sobre a significância dos mesmos para o
processo de construção de seus saberes, tendo em vista que estes contos surgiram
dos adultos como mencionado anteriormente. Desta forma, propor-se revalidar a
proposta de novamente trazer estes contos para o universo adulto, como forma de
relacionar a realidade com a ficção, para retirar o que é essencial para reflexão dos
educandos.
Após esta introdução os educandos demonstraram interesse em conhecer
estes contos, pois como foi relatado pelos mesmos, não haviam tido contato
diretamente com estas narrativas em suas infâncias e nem nos dias de hoje.
Almejando envolver os educandos nesta temática, como intuito de confirmar a
sua relevância para a EJA, explanou-se oralmente o conto “Chapeuzinho Vermelho”
para que os educandos tivessem proximidade com o tema proposto. Após esta
exposição da temática e do conto, buscou-se valorizar os conhecimentos dos
educandos, com um momento de “escuta” das suas opiniões em relação o que esta
narrativa aborda e o que se poderia transpor para a realidade atual.
Apesar de, inicialmente, tímidos acabaram por destacar vários assuntos deste
conto, sendo estes discutidos em sala de aula com forma de refletir sobre estas
questões que acontecem no cotidiano e que muitas vezes não se tem as
informações necessárias para elucidar estas situações, portanto, os momentos de
troca de conhecimentos que aconteceram nesta proposta foram relevantes para que
cada um pudesse sanar suas dúvidas ou aprender com o conto apresentado.
Um destes pontos que se destacou foi sobre a ideia de retirar o lobo mau da
história e fazer uma discussão em relação a quem é ou são estes sujeitos hoje em
dia. O grupo, ao dialogar, chegou à conclusão de que os “lobos maus” da atualidade
estão disfarçados em nossa sociedade e são sujeitos capazes de fazer crueldades
com outras pessoas, destacando o caso dos estupradores, dos assassinos e
bandidos. Bettlheim (2007, p. 243) aborda uma concepção de lobo:
O comportamento do lobo começa a fazer sentido na versão dos Irmãos
52
Grimm se admitirmos que, para apanhar Chapeuzinho Vermelho, o lobo
teria que primeiro dar fim à avó. Enquanto a mãe (avó) estiver por perto,
Chapeuzinho Vermelho não será dele.
A turma escolheu analisar a fundo a personalidade destes sujeitos olhando
pelas duas óticas, ou seja, pensou-se na vítima e no agressor. Salientando que,
talvez, os agressores de hoje, também foram às vítimas do passado, obviamente
que não justificando seus comportamentos agressivos, porém pondo-se em
discussão essa possibilidade como influenciadora de seus comportamentos.
Depois de realizarem todas estas discussões acerca do conto de fadas
apresentado, foi proposto para os educandos que transferissem suas opiniões orais
para a escrita, ou seja, explanar o porquê de tanta maldade no mundo atual.
Ficando sugerido pelo grupo que atualmente existe tanta crueldade na
sociedade, pois falta amor no coração das pessoas e respeito em família. Desta
forma, pode-se perceber que os educandos compreenderam a dinâmica do trabalho,
pois conseguiram trazer o conto para a realidade e fazer suas argumentações
acerca do mesmo, tendo um momento para passarem suas percepções para o
caderno.
Cinderela: análise com a turma
Dando sequência às análises de como o conto pode ser um elemento de
construção ou aperfeiçoamento de conhecimento na EJA, apresentou-se a segunda
proposição, que tinha como intuito abordar o conto da “Cinderela12”, que carrega em
sua essência as consequências de ser ganancioso. De acordo com Bettlheim (2007,
p. 325)
Ao que todos dizem, “Cinderela” é o conto de fadas mais conhecido, e
provavelmente também mais apreciado. É um conto bastante antigo; ao ser
registrado na China durante o século IX d.C., já possuía uma história. O
incomparavelmente minúsculo tamanho do pé como um sinal de virtude,
destinção e beleza extraordinária, assim como o sapatinho feito de material
precioso, são facetas que indicam uma origem oriental, se bem que não
necessariamente chinesa.
12
Grixx. História da Cinderela: versão dos Irmãos Grimm
Disponível em: <http://folkstories.blogspot.com/2005/07/cinderella-verso-dos-irmos-grimm.html>.
Acesso em: 01 out. 2011.
53
Procurou-se, inicialmente, perguntar aos educandos seus conhecimentos
sobre o conto apresentado, para que dessa forma se pudesse conhecer quais eram
os seus saberes em relação a esta narrativa e assim trazer o conto para a sala de
aula.
Como desta vez os educandos demostraram conhecer o conto, porém não
lembravam ao certo o desenrolar da história, apresentou-se uma breve explanação
para reavivar suas memórias. Isso é importante porque, muitos deles, mesmo
ouvindo falar do conto, não tiveram na infância a possibilidade de ouvir esses
contos.
Esta apresentação inicial se fez necessária para compreender o nível de
conhecimento dos educandos acerca da temática e como este conto, em especial,
trazia situações de injustiças feitas pelos personagens da história.
Questionou-se bastante como uma parte da humanidade almeja seus sonhos
utilizando outras pessoas como “escada”, esta característica se configura como
falsidade, ganância, desrespeito entre outras posturas, e o que chama mais atenção
nestas situações, é que não são realizadas somente entre pessoas desconhecidas,
mas também com pessoas próximas.
O grupo deixou claro suas manifestações contra todas estas posturas que
tendem a prejudicar as pessoas, salientando que, apesar das dificuldades que
encontram no dia- a- dia, buscam sempre respeitar o próximo, independente de
raça, cor ou gênero.
O objetivo de trabalhar os contos de fadas, não ficou somente restrito em
fazer estas discussões que foram significativas, mas também, trazer atividades que
se relacionassem aos mesmos em diálogo com outras disciplinas, tais com: a
literatura, a escrita e o raciocínio matemático; para assim aprimorar a aprendizagem
dos educandos, através de caça-palavras, de situações-problemas, entre outros.
Vendo que, estes pontos, fazem-se necessários para a continuidade da
construção de conhecimentos dos educandos no processo de reflexão sobre os
contos e possibilita trabalhar com as dificuldades apresentadas pelos mesmos.
Nesta proposta, buscou-se trabalhar com a literatura e com a escrita a partir
das temáticas discutidas em sala, elencando-se as palavras que foram mais
significativas nos diálogos e trabalhando com a proposta de construção de novas
palavras a partir das mesmas.
54
Desta forma, possibilitaram-se reflexões e, por meio delas trabalhou-se com o
desenvolvimento da aprendizagem dos educandos, tornando-se necessária a junção
do diálogo teórico com a prática.
João e o pé de feijão: análise com a turma
Nesta terceira proposta, apresentou-se o conto “João e Pé de Feijão13” para o
grupo, porém, como nas proposições anteriores, fazia-se oralmente a explanação do
conto, neste dia, procurou-se convidar os educandos para que fizessem uma leitura
oralmente do mesmo, como se tratava de um conto pequeno, tinha-se esta
possibilidade.
Observou-se que a mudança da proposta inicial foi extremamente positiva,
pois os educandos demonstraram-se satisfeitos em fazer parte da atividade e, com
isso, trabalhou-se o desenvolvimento da leitura.
Depois da explanação da história, a turma chegou à conclusão de que o conto
poderia ser relacionado com o consumismo exagerado da sociedade atual, na qual
se tem a preocupação de gastar dinheiro demasiadamente. Segundo Bettlheim
(2007, p. 255)
Os contos de fadas lidam sob forma literária com os problemas básicos da
vida, particularmente os inerentes à luta para adquirir maturidade. Previnem
contra as consequências destrutivas caso não se consiga desenvolver
admonitórios com os irmãos mais velhos em “As Três Penas”, as irmãs de
criação em “Cinderela” e o lobo em “Chapeuzinho Vermelho”.
Observa-se que, este fator é um ponto negativo para a condição de vida da
humanidade, tendo relato em sala de uma educanda que se encaixava nesta
característica anteriormente citada. E que, a partir da discussão, sentiu a importância
de controlar seus gastos, adquirindo somente as coisas necessárias para manter
uma vida saudável.
13
Autor desconhecido. História do João e o pé de feijão.
Disponível em: <www.historiasinfantis.eu/joao-e-o-pe-de-feijao/>
Acesso em: 05, out. 2011.
55
Como o conto abordava esta questão que é tão atual, procurou-se trabalhar
com o raciocínio matemático contemplando situações do cotidiano, com o objetivo
de correlacionar a história com a disciplina de matemática e com as discussões
feitas em sala.
O relato dos contos permitiu ampliar as noções que os educandos da EJA
possuíam sobre a relação entre teoria e prática, permitindo que fizessem correlações
entre o que se lê em sala e sua vivência. Mesmo que diretamente os contos não
falassem sobre suas vidas, eles conseguiram relacionar, o que, entendeu-se que se
deu pela metodologia que foi utilizada, não ficando somente na leitura dos contos,
mas permitindo, através do uso de outros recursos e discussões, que os educandos
conseguissem transpor o conhecimento para suas vidas.
56
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao repensar as didáticas apresentadas em sala de aula, principalmente para
a Educação de Jovens e Adultos, pensa-se notória a contribuição dos contos de
fadas para esta modalidade de educação, uma vez que, na pesquisa abordou-se
diversas temáticas sociais importantes para os jovens e adultos, fazendo-os pôr em
discussão, conhecer e compreender aspectos da vida social. Tendo alcançado os
objetivos da pesquisa que era analisar as contribuições dos contos de fadas para a
EJA.
Segundo as minhas percepções, a realização da pesquisa foi extremamente
importante para a construção de conhecimento tanto de forma pessoal quanto
acadêmica, pois consegui romper com as barreiras da incerteza da qualificação da
temática e acreditar que minhas intuições tinham uma lógica.
Alguns pontos foram significativos na construção do trabalho: primeiramente
poder ver de perto a transformação dos educandos, tanto em questões pessoais
quantos de aprendizagem, através de uma temática que incialmente era só uma
proposta, mas que se confirmou com a satisfação dos educandos; depois ver que as
temáticas e os contos foram relevantes para os educandos e que puderam confirmar
que o importante não é simplesmente o conteúdo, mas a forma como ele é
apresentado.
Obviamente que, em toda caminhada na vida há dificuldades e esta não seria
diferente, por isso, ao longo da pesquisa, teve-se problemas em encontrar
referenciais teóricos que contribuíssem para a mesma. A timidez dos educandos
inicialmente também foi um fator preocupante para a realização das proposições.
Entretanto, estas complicações foram encaradas como desafios a serem
superados, tendo em mente que, quando almejamos muito alguma coisa e corremos
atrás para concretizá-los, colhemos bons frutos e se não conseguimos colher, é
porque ainda não chegou ao final.
Trabalhar com os contos de fada numa turma de adultos foi um desafio,
prazeroso e instigante, pois era preciso inserir os contos de uma maneira que fosse
importante para os educandos em seu processo de aprendizagem, mas que ao
mesmo tempo permitisse que usassem sua imaginação, que falassem de seus
sonhos, de suas vidas.
Neste processo pude, conhecer as histórias
dos educandos, suas
57
dificuldades, os anseios, os medos, a relação com a escola. O que só foi possível
através dos relatos dos contos, que permitiu que os educandos expusessem suas
concepções.
E pode-se dizer que esta pesquisa, teve bons frutos, pois desmitificou
algumas concepções sobre o uso dos contos na EJA, permitindo reavaliar a
utilização de alguns temas em tais instituições. Essas estão cheias de rótulos, de
métodos padronizados e de metodologias extremamente estigmatizadas.
Os próprios educandos trouxeram as contribuições para a discussão sobre o
conto, o que permitiu que fizessem as interelações com o saber produzido em sala
de aula e com vivência.
58
REFERÊNCIAS
AUTOR DESCONHECIDO. História do João e o pé de feijão. Disponível em:
<www.historiasinfantis.eu/joao-e-o-pe-de-feijao/> Acesso em: 05 out.2011.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Paulo Freire, o menino que lia o mundo: uma
história de pessoas, de letras e palavras. Participação Ana Maria Araújo Freire. São
Paulo: Editora UNESP, 2005 il. (Série Paulo Freire)
Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=S3XKSGxpvfoC&printsec=frontcover&dq=pau
lo+freire&hl=ptBR&ei=5VybTqnwIYXz0gHWi93cBA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6&ve
d=0CEoQ6AEwBTgK#v=onepage&q&f=false>
Acesso em: 15 out. 2011.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Tradução de Arlene
Caetano. 21ª edição revista. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
CEI SÃO LUIZ. Projeto Político Pedagógico. 2009, s.p.
DEBUS, Eliane. Festaria de brincança: a leitura literária na Educação Infantil. São
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GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. – 5ª ed. – 8ª reimpr.
– São Paulo: Atlas, 2007.
GRIXX. História da Cinderela: versão dos Irmãos Grimm. Disponível em:
<http://folkstories.blogspot.com/2005/07/cinderella-verso-dos-irmos-grimm.html>.
Acesso em: 01 out. 2011.
LAFFIN, Maira Hermínia Lages Fernandes. Educação de jovens e adultos e
educação na diversidade. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina,
2011.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho
científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório,
publicações e trabalhos científicos – 7ª ed. – 4ª reimpr. – São Paulo: Atlas, 2009.
MEREGE, Ana Lúcia. Os contos de fadas: origens, histórias e permanência no
mundo moderno. São Paulo: Claridade, 2010.
59
OLIVEIRA, Cristiane Madanêlo de. Charles Perrault (1628-1703).
Disponível em: <http://www.graudez.com.br/litinf/autores/perrault/perrault.htm>.
Acesso em: 08 out. 2011 a.
OLIVEIRA, Cristiane Madanêlo de. Irmãos Grimm: Jacob e Wilheim (entre 1975 e
1863).
Disponível em: <http://www.graudez.com.br/litinf/autores/grimm/grimm.htm>.
Acesso em: 09 out. 2011b.
OSTETTO, Luciana Esmeralda. Educação Infantil: Saberes e fazeres da formação
de professores. Campinas, SP: Papirus, 2008. (Coleção Alegre).
Disponível em: <http://books.google.com.br/books>
Acesso em: 05 nov. 2011.
SÃO JOSÉ. Caderno da Educação de Jovens e Adultos. Secretaria Municipal de
Educação e Cultura. Setor Pedagógico, 2008.
SCHMITT, Jaqueline Zarbato. Propostas pedagógicas e metodológicas para
educação de jovens e adultos: livro didático. Palhoça: Unisul Virtual, 2010.
ROSCHEL, Renato. Bancos de Dados Folha: Monteiro Lobato.
Disponível em: <http://almanaque.folha.uol.com.br/monteirolobato.htm >
Acesso em: 09 out. 2011.
ROSSI, Vera. História do Chapeuzinho Vermelho, Disponível em:
<www.contandohistoria.com/chapeuzinhovermelho.htm> Acesso em: 04 out. 2011.
60
APÊNDICE
Planos de Aula e Os Contos Trabalhados 14
14
Como o estágio na Educação de Jovens e Adultos é realizado em trios por falta de pólos, os planos
de aulas foram elaborados por: Camila Teixeira, Laiana A.Pedroso e Tatiane C. dos Santos. Cabe
ressaltar que as análises da pesquisa foram realizadas individualmente.
61
PLANO DE AULA N° 1
Instituição: CEM SÃO LUIZ
Turma: Alfabetização
Turno: Noturno
N° de alunos: 5
 Dados de Identificação
Duração da aula: 19h00min ás 21h00min
Data: 11/10/2011
Acadêmicas: Camila Teixeira,
Laiana A.Pedroso
Tatiane C. dos Santos
Conhecer o conto de fada, levando em conta a sua
 Objetivo geral
relação com a sociedade atual.







 Objetivos específicos
 Conteúdo
 Estratégias
 Recursos
 Avaliação
 Critérios de Avaliação
 Referências
 Discutir sobre a história contada, fazendo uma
ponte com a realidade.
 Refletir sobre a temática apresentada, através dos
questionamentos proposto.
Primeiro Momento: Apresentação de algumas
versões de “Lobo mal”, “Chapeuzinho Vermelho” de
forma oral.
Segundo Momento: Discussão sobre as questões de
valores que estão embutidas na história.
Pontos na história que relembram a vida na nossa
sociedade: pessoas de má índole, crianças ingênuas,
a importância da conversa com os filhos e criança
sobre a realidade social.
Terceiro Momento: Perguntas referentes à história
destacando os pontos de maior significado.
Questionamentos e as respostas transcritas no
quadro: construção coletiva; reflexão para relacionar a
história contada para a nossa realidade - quem
poderia ser o “lobo mal”, nos dias de hoje?
Chapeuzinho Vermelho relação com crianças que
mentem para os pais?
 Aula expositiva-dialogada
 Quadro
 Giz de quadro
 Histórias
Os educandos serão avaliados diante da participação
nas atividades propostas.
Participação
ROSSI, Vera. História do Chapeuzinho Vermelho,
Disponível em:
<www.contandohistoria.com/chapeuzinhovermelho.htm
> Acesso em: 04 out. 2011.
62
HISTÓRIA: Chapeuzinho Vermelho
(Vera Rossi)
Era uma vez [...] uma menina que morava com sua mãe numa casinha, perto de um bosque.
Chapeuzinho Vermelho era o seu nome porque sempre usava uma capa e chapéu
vermelhos. Um dia, sua mãe fez deliciosos doces e os colocou dentro de uma cestinha. Minha filha,vá levar estes doces para a vovó. Mas tome cuidado, não para pelo caminho,
nem fale com nenhum estranho. - Está bem, mamãe.
Ao atravessar o bosque, encontrou um lobo que lhe perguntou: - Aonde vai, menina?
- Minha avó está adoentada, vou levar estes doces para ela.
- Oh! Coitada, disse o lobo. - Leve também estas flores.
Deu um maço de flores a Chapeuzinho Vermelho, que agradeceu e seguiu caminho.
O lobo chegou primeiro à casa da vovó. Fingindo ser a netinha, bateu na porta e foi
recebido. Entrou no quarto engoliu a vovó, vestiu suas roupas e deitou em sua cama. Em
seguida, chegou Chapeuzinho Vermelho.
A menina entrou e, ao ver a vovó deitada, exclamou: - Que orelhas e olhos grandes!
E o lobo respondeu: - São para te ouvir e ver melhor.
- E essa boca enorme?- É para te engolir melhor, gritou o lobo, pulando da cama para
agarrá-la.
Mas a menina foi mais rápida, saltou pela janela e desapareceu na floresta. Logo adiante,
encontrou um lenhador a quem pediu ajuda.
O lenhador entrou na casa da vovó e lutou muito com o lobo malvado.
Abriu-lhe a barriga com o machado e salvou a vovó que saiu de lá assustada.
O susto tinha passado e os três juntos, o lenhador, Chapeuzinho Vermelho e a vovó
comemoraram com uma festa aquela inesquecível aventura.
63
PLANO DE AULA N° 2
Instituição: CEM SÃO LUIZ
Turma: Alfabetização
Turno: Noturno
N° de alunos: 5
 Dados de Identificação
Duração da aula: 19h00min ás 21h00min
Data:
Acadêmicas: Camila Teixeira,
Laiana A.Pedroso
Tatiane C. dos Santos
Conhecer o conto de fada, levando em conta a
 Objetivo geral
sua relação com a sociedade atual.
 Estimular o processo de ensino aprendizagem dos
educando, através da construção de novas
 Objetivos específicos
palavras.
 Refletir sobre seus conhecimentos perante a
temática proposta.
Primeiro Momento: Conversar com os educandos
sobre seus conhecimentos a cerca do conto clássico,
a Cinderela, fazendo questionamentos: Se já
conhecem a história? O que pensam da história? O
que pensam destes contos de fadas de modo geral?
Se em suas infâncias tinham contato com estas
narrativas?







 Conteúdo




Estratégias
Recursos
Avaliação
Critérios de Avaliação
 Referências
Segundo Momento: Apresentação oral do conto da
Cinderela escrito pelos irmãos Grimm, focando as
irmãs da Cinderela se dão por culpa de suas
ganâncias.
Terceiro Momento: Atividade de português:
formulação de novas palavras, através da palavra
FAMILÍA. Separação e quantificação de sílabas
 Aula Dialogada e descritiva
 Quadro, giz, caderno, livro com a história.
Avaliar o interesse e a participação dos educandos
Participação
Grixx. História da Cinderela: versão dos Irmãos
Grimm.
Disponível em:
<http://folkstories.blogspot.com/2005/07/cinderellaverso-dos-irmos-grimm.html>.
Acesso em: 01 out. 2011.
64
HISTÓRIA: Cinderela
(Grixx)
A mulher de um homem rico ficou muito doente. Quando ela percebeu que a morte se
aproximava, chamou sua única filha ao seu leito e disse: "Filha querida, seja boa e piedosa
que o bom deus sempre lhe protegerá. Eu estarei no céu olhando pra você e nunca te
abandonarei".
Dito isso, ela fechou os olhos e morreu. Todos os dias a moça visitava o túmulo de sua mãe.
Ela chorava e se mantinha piedosa e boa. Quando o inverno veio, a neve cobriu o túmulo
com uma manta branca e quando o sol da primavera a derreteu, o homem encontrou uma
nova esposa.
A mulher trouxe consigo duas filhas que eram bonitas e agradáveis de rosto, mas más e
feias de coração. Começava um período ruim para a pobre moça. "Essa pata-tonta vai
sentar-se na sala de visitas conosco?," elas perguntavam. "Se quer comer o pão, terá que
trabalhar para ganhá-lo. Trabalhará na cozinha." Elas tiraram suas belas roupas, vestiramna com um camisolão cinza e velho e lhe calçaram com sapatos de madeira.
"Olhem só para a princesa orgulhosa! Como está fora de moda," elas gritavam, riam e a
levavam para a cozinha. Lá ela tinha que trabalhar pesado durante todo o dia, se acordava
antes de o sol nascer, carregava água, acendia o fogo, cozinhava e lavava.
Além disso, as irmãs ainda a maltratavam de todas as formas imagináveis - gozavam dela e
derramavam as ervilhas e lentilhas nas cinzas do fogão para que ela tivesse que catar tudo
de novo. Ao anoitecer, quando ela já estava cansada de tanto trabalhar, ela não tinha uma
cama onde dormir e acabava deitando-se ao lado do forno, nas cinzas. Por isso ela sempre
parecia suja e empoeirada e foi então que começaram a chamá-la Cinderela.
Um dia, o pai estava indo para a feira e perguntou às duas irmãs o que queriam que ele
trouxesse para elas. "Belos vestidos," disse uma delas, “Pérolas e jóias," disse a outra. "E
você, Cinderela", perguntou ele, "o que você quer?"
"Pai, traga-me o primeiro galho de árvore que bater em seu chapéu quando estiver voltando
para a casa". Então ele comprou belos vestidos, pérolas e jóias para as enteadas, voltando
para a casa, quando cavalgava por um bosque, um ramo de uma aveleira passou pelo seu
chapéu. Então ele quebrou o ramo e levou consigo. Quando chegou em casa, ele deu às
enteadas o que haviam pedido, e para Cinderela ele deu o ramo da aveleira.
Cinderela agradeceu, foi até o túmulo de sua mãe, plantou o ramo que ganhou de seu pai, e
chorou tanto que as lágrimas chegaram ao chão e regaram a planta. O pequeno ramo
cresceu e transformou-se em uma árvore frondosa. Três vezes por dia Cinderela sentava-se
sob a árvore, chorava e rezava. Um passarinho branco sempre vinha para a árvore e se
Cinderela expressasse um desejo, o passarinho jogava para ela o que ela pedira. Um dia o
rei anunciou que haveria uma festa que duraria três dias para a qual todas as moças jovens
e bonitas do reino estavam convidadas para que o príncipe escolhesse sua noiva. Quando
as duas irmãs souberam que estavam convidadas, ficaram eufóricas, chamavam Cinderela
e diziam, "pentei nossos cabelos, engraxe nossos sapatos e ajude-nos a nos vestir, porque
nós vamos ao casamento no palácio real". Cinderela obedecia e chorava, porque ela queria
ir com elas para o baile, e implorava à madastra que a deixasse ir.
"Você, Cinderela", disse ela, "coberta de pó e sujeira como você sempre está. Você não tem
roupas nem sapatos, e nem ao menos sabe dançar". E mesmo assim Cinderela continuava
pedindo. Depois de um tempo a madrasta disse, "E despejei um prato de lentilhas nas
cinzas, se você conseguir catar todas em duas horas, deixará você vir conosco."
A moça foi até a porta dos fundos e chamou “Mansas pombinhas e rolinhas. E todas as
aves do céu. Venham me ajudar a catar as lentilhas. As boas no prato,
As ruins no papo".
Logo duas pombinhas brancas entraram pela janela da cozinha, em seguida as rolinhas, e
por último todas as aves do céu, vieram numa revoada e pousaram nas cinzas. As
pombinhas balançavam a cabeça e começaram a catar e os outros passarinhos fizeram o
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mesmo. Logo juntaram todos os grãos bons no prato. Não tinha passado nem uma hora
quando acabaram o serviço e se foram.
A moça, contente, levou o prato para a madrasta. Ela acreditava que com isso poderia ir ao
baile com elas. Mas a madrasta disse, “Não, Cinderela, você não tem roupas e não sabe
dançar. Você seria motivo de risos". Como Cinderela começou a chorar, a madrasta disse:
se você conseguir catar dois pratos de lentilhas das cinzas em uma hora, poderá ir conosco.
Ela achava que desta vez, Cinderela não conseguiria.
Quando a madrasta derramou os dois pratos de lentilhas nas cinzas, a moça foi até a porta
dos fundos e chamou "Mansas pombinhas e rolinhas E todas as aves do céu Venham me
ajudar a catar as lentilhas. As boas no prato, As ruins no papo".
Logo duas pombinhas brancas entraram pela janela da cozinha, em seguida as rolinhas, e
por último todas as aves do céu, vieram numa revoada e pousaram nas cinzas. As
pombinhas balançavam a cabeça e começaram a catar e os outros passarinhos fizeram o
mesmo. Logo juntaram todos os grãos bons no prato. Não tinha passado nem meia hora
quando acabaram o serviço e se foram. A moça estava muito feliz achando que agora ela
teria permissão para ir ao baile.
Mas a madrasta disse: “Isso não adianta nada. Você não pode ir conosco, pois não tem
roupas e não sabe dançar. Só nos faria passar vergonha". Dito isso, ela virou as costas e
partiu com suas orgulhosas filhas.
Enquanto não tinha ninguém em casa, Cinderela foi ao túmulo de sua mãe, sentou-se sob a
árvore e disse "Balance e se agite, árvore adorada, me cubra toda de ouro e prata".
O passarinho entregou-lhe um vestido de ouro e prata e sapatos de seda com bordados de
prata. Ela vestiu-se com pressa e foi ao baile. A madrasta e as irmãs não a reconheceram e
pensaram que deveria ser uma princesa estrangeira de tão bela que ela estava em seu
vestido dourado. Elas nem imaginavam que podia ser Cinderela, e acreditavam que ela
estava suja em casa, sentada ao lado do fogão catando lentilhas.
O príncipe se aproximou dela, pegou sua mão e dançou com ela. Ele não quis dançar com
nenhuma outra moça, não soltou a mão dela por um único instante e, se alguém a
convidava para dançar, ele dizia "Ela é minha dama".
Dançaram até tarde da noite, e então ela quis ir embora. Mas o príncipe disse: "Eu te
acompanho", pois ele queria saber a que família tão bela moça pertencia. Ela conseguiu
escapar-se dele e se escondeu no pombal. O príncipe esperou em frente à casa até que o
pai de Cinderela veio e ele disse que a moça desconhecida havia se escondido no pombal.
O pai de Cinderela pensou, "Deve ser Cinderela". Trouxeram um machado e uma picareta e
quebraram o pombal em pedacinhos, mas já não tinha ninguém lá dentro.
Quando chegaram em casa, encontraram Cinderela com suas roupas sujas deitada nas
cinzas à luz mortiça de uma lamparina.
O que aconteceu foi que Cinderela se escapou rápido pela parte de trás do pombal e correu
até a aveleira. Lá ela tirou suas belas vestes, deixou-as sobre o túmulo de sua mãe e o
passarinho as levou. Então ela voltou pra casa e deitou-se nas cinzas vestida com seu
camisolão.
No dia seguinte, a festa recomeçou. A madrasta e as irmãs foi de novo. Cinderela foi até a
aveleira e disse "Balance e se agite, árvore adorada, Me cubra toda de ouro e prata".
Logo o passarinho lhe entregou um vestido ainda mais bonito que o da noite anterior. E
quando Cinderela apareceu no baile com seu vestido, todos ficaram espantados com tanta
beleza. O príncipe, que estava esperando por ela, logo pegou sua mão e não dançou com
nenhuma outra moça. Quando outros vinham e a convidavam para dançar, ele dizia "Ela é
minha dama".
Quando anoiteceu, ela quis ir embora e o príncipe a seguiu para ver em que casa ela
entraria. Mas ela se escapou se escondendo no jardim de sua casa. Lá havia uma árvore
alta e bela que dava peras maravilhosas. Ela subiu ágil como um esquilo e o príncipe não
sabia onde ela estava. Ele esperou até que o pai dela veio e disse a ele, "A moça
desconhecida se escapou de mim e acredito que ela tenha subido na pereira". O pai
pensou: "Deve ser Cinderela". Trouxeram um machado e derrubaram a árvore, mas já não
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havia ninguém lá. Quando chegaram em casa, encontraram Cinderela com suas roupas
sujas deitada nas cinzas à luz mortiça de uma lamparina.
O que aconteceu foi que Cinderela se escapou rápido pela parte de trás do pombal e correu
até a aveleira. Lá ela tirou suas belas vestes, deixou-as sobre o túmulo de sua mãe e o
passarinho as levou. Então ela voltou pra casa e deitou-se nas cinzas vestida com seu
camisolão.
No terceiro dias, quando a madrasta e as irmãs já tinham saído, Cinderela foi mais uma vez
até o túmulo de sua mãe e disse para a aveleira "Balance e se agite árvore adorada, Me
cubra toda de ouro e prata".
E o passarinho lhe trouxe um vestido que ainda mais esplêndido e magnificente que os
outros e sapatinhos de ouro. E quando ela chegou ao baile, todos emudeceram de
admiração. O príncipe dançou apenas com ela e para todos que a convidavam para dançar,
ele dizia: "Ela é minha dama".
Quando a noite chegou, Cinderela quis ir embora e o príncipe estava ansioso para ir com
ela. Mas ela escapou-se tão rápido que ele não conseguiu segui-la. O príncipe, desta vez,
usou a inteligência: mandou que passassem piche na escadaria e, quando a moça passou,
o sapato do pé esquerdo ficou grudado. O príncipe pegou o sapatinho: era pequenino,
gracioso e todo de ouro.
Na manhã seguinte, ele disse a seu pai que não se casaria com nenhuma moça, a não ser a
dona do pé que coubesse neste sapato. As duas irmãs estavam felizes, pois tinham pás
pequenas. A mais velha entrou no quarto com o sapato e tentava calçá-lo enquanto sua
mãe olhava. Mas ela não conseguiu colocar o sapato por causa de seu dedão do pé. O
sapato era muito pequeno para ela. Então a mãe lhe deu uma faca e disse:
"Corta o dedão, quando você for rainha, não precisará andar muito a pé".
A moça cortou fora o dedão, forçou o pé para dentro do sapato, disfarçou a dor e foi ver o
príncipe. Ele colocou-a na garupa de seu cavalo e saiu com ela como se fosse sua noiva.
Eles tinham que passar pelo túmulo da mãe de Cinderela, e quando por lá passaram, da
aveleira duas pombinhas cantaram: “Olhe para trás, olhe para trás, há sangue no sapato, o
sapato é pequeno demais, sua noiva lhe espera muito atrás”.
Então ele olhou para o pé dela e viu o sangue pingando. Ele deu meia volta com o cavalo e
levou a falsa noiva de volta para a casa, e disse para a outra irmã calçar o sapato. Ela
colocou seus dedos do pé sem problemas, mas deu calcanhar era largo demais. A madrasta
deu-lhe uma faca e disse: "Corta fora um pedaço do teu calcanhar, quando fores rainha não
precisarás andar a pé".
A moça cortou um pedaço de seu calcanhar, forçou seu pé para dentro do sapato, disfarçou
a dor e foi ver o príncipe. Ele colocou-a na garupa de seu cavalo e saiu com ela como se
fosse sua noiva. Quando passaram pela aveleira, duas pombinhas cantaram
"Olhe para trás, olhe para trás, há sangue no sapato, o sapato é pequeno demais, sua noiva
lhe espera muito atrás".
Ele olhou para o pé dela e viu o sangue escorrendo pelo sapato e manchando a meia de
vermelho. Ele deu meia volta com o cavalo e levou a noiva falsa de volta para casa.
"Esta também não é a noiva certa," disse ele, "vocês não têm outra filha?"
"Não," disse o homem, "temos apenas a pequena e raquítica ajudante de cozinha, filha de
minha ex-mulher, mas não é possível que ela seja a noiva." O príncipe pediu para vê-la, mas
a mulher disse "oh, não! Ela está sempre muito suja. Não está apresentável. Mas o príncipe
insistiu e Cinderela foi chamada.
Ela primeiro lavou suas mãos e o rosto, e curvou-se diante do príncipe que entregou-lhe o
sapatinho de ouro. Ela sentou-se em um banquinho, tirou o pesado sapato de madeira, e
calçou o sapatinho de ouro, que serviu como uma luva. Ela ergueu-se e o príncipe olhou
para o seu rosto e reconheceu a bela moça com quem tinha dançado e disse:
"Esta é a noiva verdadeira".
A madrasta e suas filhas estavam horrorizadas e ficaram pálidas de raiva, ele, entretanto,
colocou Cinderela sobre seu cavalo e levou-a consigo Quando passaram pela aveleira, as
duas pombinha cantaram: "Olhe para trás, olhe para trás, não tem sangue no sapato, que
não lhe é apertado, É com a noiva certa que estás".
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E depois de cantar, as duas pombinhas pousaram nos ombros de Cinderela, uma no direito,
a outra no esquerdo, e sicaram sentadinhas lá.
Na cerimônia do casamento do príncipe, as duas irmãs falsas foram e queriam ficar de bem
com Cinderela e dividir com ela a boa fortuna que teve. Quando os noivos chegaram à
igreja, a mais velha estava à direita e a mais nova à esquerda, e as pombinhas arrancaram
um olho de cada uma das irmãs. Depois, quando voltavam, a mais velha estava à esquerda
e a mais nova à direita, e as pombinhas arrancaram o outro olho de cada uma delas. E
então, por sua maldade e falsidade, elas foram punidas com a cegueira até o fim de suas
vidas.
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PLANO DE AULA N° 3
Instituição: CEM SÃO LUIZ
Turma: Alfabetização
Turno: Noturno
N° de alunos: 5
 Dados de Identificação
Duração da aula: 19h00min ás 21h00min
Data:
Acadêmicas: Camila Teixeira,
Laiana A. Pedroso
Tatiane C. dos Santos
Reconhecer o conto de fada, como uma forma de
 Objetivo geral
aprendizagem, envolvendo a matemática.
 Raciocinar perante as situações problemas.
 Reconhecer seus conhecimentos diante das
 Objetivos específicos
atividades propostas.







Primeiro Momento: Apresentaremos oralmente a
história “João e o Pé de Feijão”.
 Conteúdo
 Estratégias
 Recursos
 Avaliação
 Critérios de Avaliação
 Referências
Segundo Momento: Discussão sobre as questões
da matemática que a história traz perante seus
cotidianos.
Terceiro Momento: Atividade de matemática,
através de situações-problemas.
 Aula expositiva-dialogada
 Quadro
 Giz de quadro.
Iremos avaliar os alunos através da resolução das
situações-problemas, percebendo a participação e o
comprometimento na realização do exercício.
Interesse e participação.
Autor desconhecido. História do João e o pé de
feijão.
Disponível em:
<www.historiasinfantis.eu/joao-e-o-pe-de-feijao/>
Acesso em: 05 out.2011.
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HISTÓRIA: João e o pé de feijão
(Autor desconhecido)
Era uma vez uma pobre viúva. Ela tinha um filho muito rebelde e
esbanjador. O seu pai tinha sido um homem muito rico, até que um dia um
gigante roubou sua harpa mágica e a galinha dos ovos de ouro. O pai
morreu pobre. O pouco que restou o menino acabou com tudo, por ser um
grande esbanjador.
A única coisa que sobrou foi uma vaquinha. Um dia não tendo mais o que comer, a mãe
pediu ao menino: – Vá à cidade e venda nossa vaquinha para que possamos comprar pão.
Assim o menino foi levar a vaquinha ao mercado. No caminho encontrou um
açougueiro que lhe propôs: – Troco sua vaca por uns grãos mágicos de feijão. O que acha?
João
achando
que
fosse
uma
grande
oferta,
acabou
aceitando.
Quando o menino chegou a casa, a mãe ficou furiosa com a troca que o
menino havia feito. Ela pegou os grãos de feijão e os jogou pela janela.
A
mãe
foi
dormir
chorando
porque
não
tinham
o
que
comer.
Na manhã seguinte, João acordou bem cedo e com muita fome. Ficou
espantado quando viu um pé de feijão tão grande que chegava ao topo do céu. João que
gostava de aventuras resolveu subir nele.
Depois de subir algumas horas encontrou um castelo entre as nuvens.
A porta do castelo estava
aberta
e
ele
resolveu
entrar.
Dentro
do
castelo encontrou o malvado gigante dormindo. Era o mesmo gigante que
tinha roubado a harpa mágica e a galinha dos ovos de ouro.
O menino foi até a outra sala do castelo e encontrou a harpa mágica
e a galinha dos ovos de ouro. Quando o menino pegou a harpa e a galinha,
esta começou a cacarejar e o gigante despertou com o barulho.
O gigante ainda conseguiu ver o menino fugindo. O menino desceu mais
que depressa pelo pé de feijão. O gigante foi atrás, mas como não tinha
a mesma agilidade, o gigante não conseguiu alcançar João. Quando João
o desceu pegou um machado e cortou a árvore.
A árvore caiu e o gigante levou um tombo muito grande. Com a queda o
gigante acabou morrendo. João contou a aventura para sua mãe que ficou
muito orgulhosa com a coragem do menino. De posse da harpa mágica e da galinha dos
ovos de ouro, João e sua mãe nunca mais sentiu fome. Viveram felizes para sempre.
70
ANEXO
Autorização da Escola Docilicio Vieira da Luz para a Realização da Pesquisa.
71
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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO