PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA LAIANA APARECIDA PEDROSO ERA UMA VEZ UMA ANÁLISE REFLEXIVA DOS CONTOS DE FADAS EM UMA TURMA DE ALFABETIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DA REDE MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ São José 2011 PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA LAIANA APARECIDA PEDROSO ERA UMA VEZ UMA ANÁLISE REFLEXIVA DOS CONTOS DE FADAS EM UMA TURMA DE ALFABETIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DA REDE MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Municipal de São José – USJ, como requisito para a obtenção do grau de licenciada em Pedagogia. Orientadora: Prof.ª. Dr.ª Jaqueline Zarbato Schimitt. São José 2011 LAIANA APARECIDA PEDROSO ERA UMA VEZ UMA ANÁLISE REFLEXIVA DOS CONTOS DE FADAS EM UMA TURMA DE ALFABETIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DA REDE MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para a obtenção do grau de licenciada em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ, avaliado pela seguinte banca examinadora: Orientadora: Profª. Jaqueline Zarbato Schmitt, Drª. Profª. Elisiani Cristina de Souza de Freitas Noronha, Me. Profª. Isabel Christiani Susunday Berois, Me. São Jose, 21 de novembro de 2011. Dedico este trabalho a todos que me ajudaram a concluir mais esta etapa da minha vida, em especial a minha mãe, por acreditar no meu sonho. AGRADECIMENTOS Era uma vez uma menina que cresceu acreditando que os sonhos podiam se tornar realidade, desde que nunca deixasse de sonhar. Durante cada momento de sua vida, foi acompanhada e acolhida por sujeitos capazes de renovar seus anseios. A cada dificuldade encontrada, havia pessoas especiais que mostravam o caminho do sucesso e da felicidade. Quanto mais crescia, mais encontrava sujeitos especiais, que ajudavam, da maneira que podiam, muitas vezes com uma palavra ou um gesto de carinho. Essa menina, que agora é mulher, agradece a todos que passaram pela sua vida e que deixaram uma marca registrada em seu coração. E deseja, do fundo do seu coração, que essas pessoas possam alcançar seus objetivos da mesma forma que ela alcançou: não deixando de acreditar em seus sonhos! Agradecimentos especiais a sua família, bem como à família de seu namorado Felipe, também a ele, aos seus amigos e colegas da turma de Pedagogia 2008/1, aos educadores do curso, à Universidade de São José, à turma de Alfabetização, à educadora da turma, ao Centro Educacional São Luiz e também ás educadoras e estagiárias do SESC Prainha, em especial á educadora Maria Helena. Agradeço em especial à orientação de Jaqueline e á orientadora de estágio no Ensino Fundamental, Elisiani, por suas contribuições nesta pesquisa. Fim de uma etapa, de uma história de lutas e sonhos. Um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade. Raul Seixas RESUMO Esta pesquisa visa apresentar a apropriação dos contos de fadas no processo de alfabetização de uma turma de Educação de Jovens e Adultos. Tendo como objetivo analisar os contos de fadas como elemento de construção de conhecimentos na EJA. Para tal, foram realizadas observações e proposições numa turma da EJA do Município de São José, investigando, através das narrativas, mas também das atividades realizadas com a turma, uma propostas pedagógica de construção de conhecimento a partir do contato com os contos de fadas. Essa pesquisa tem como abordagem central a construção do saber na EJA, isso porque o tema dos contos de fadas é relativamente novo nesta modalidade de ensino. Pensa-se que essa proposta pode trazer novas concepções para o processo de alfabetização, não como uma ‘infantilização’, mas sim como possibilidade de espaço da manutenção da imaginação. Tendo esta pesquisa um resultado positivo, pois, comprovou-se na turma de EJA pesquisada, que os contos de fadas podem contribuir para a aquisição ou aperfeiçoamento de saberes. Palavras-chave: EJA. Alfabetização. Conto de Fadas. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09 2 UM CONTO DE FADAS ATUAL: BREVE APRESENTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO E DA TURMA PESQUISADA....................................................................................... 12 3 UMA VISÃO DOS CONTOS DE FADAS: COMPOSIÇÂO E PERCURSO DA PESQUISA ................................................................................................................ 14 4 A ORIGEM DOS CONTOS .................................................................................... 19 5 O CONTO DE FADAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: ANÁLISES DA PESQUISA .......................................................................................................... 27 5.1 DIÁRIO DE CAMPO: A EXPERIÊNCIA DOS CONTOS DE FADAS EM UMA TURMA DE ALFABETIZAÇÃO DA EJA .................................................................... 27 5.1.1 Um olhar investigador.................................................................................... 27 5.1.2 De um olhar investigador para proposições reveladoras ........................... 35 5.2 OLHAR INVESTIGATIVO E PROPOSIÇÕES REVELADORAS: ANÁLISES DAS DISCUSSÕES ACERCA DOS CONTOS DE FADAS NUMA TURMA DE ALFABETIZAÇÃO DA EJA........................................................................................ 40 5.2.1 Quem são os “personagens” da turma de alfabetização da EJA da Escola Básica Municipal Docilício Vieira da Luz? ............................................................ 41 5.2.2 A instituição como oportunizadora de práticas educativas envolvendo os contos de fadas ....................................................................................................... 46 5.3 AS PROPOSTAS DOS CONTOS DE FADAS PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: “INFANTILIZAÇÃO” OU CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS? ... 49 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 56 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 58 APÊNDICES ............................................................................................................. 60 ANEXO...................................................................................................................... 70 9 1 INTRODUÇÃO A motivação da pesquisa surgiu depois de algumas tentativas de elucidar uma reflexão sobre os contos de fadas e, assim, concretizá-la em algo que fizesse significado para a prática educativa. Devido a este fato, buscou- se contemplar uma temática que fosse relevante tanto para mim, quanto para os educandos participantes da pesquisa, bem como para os futuros leitores deste trabalho. Diante de tal premissa convido-os para se encantarem com as maravilhas e mistérios dos contos de fadas que estão até hoje presentes em nossas memórias, precisando somente de um resgate. Antes de se efetivar a escolha da temática, buscou-se observar qual a participação dos contos de fadas no cotidiano das instituições, observação esta desenvolvida durante a realização dos estágios na Educação Infantil e Ensino Fundamental, que aconteceram na sexta e sétima fases do curso de Pedagogia. Por meio do estágio pode-se constatar estas narrativas através de contações de histórias, contudo, de forma sufocada dentro dos currículos. A partir da curiosidade em trabalhar com contos de fadas, despertou-se também o interesse em investigar como se daria a utilização dos mesmos na Educação de Jovens e Adultos1. Os educadores desta modalidade de educação utilizam-se dos contos de fadas como um recurso para a construção de aprendizagens dos seus educandos? A partir de tal inquietação, listou-se o objetivo desta pesquisa, buscando-se analisar a apropriação de contos de fadas numa turma de alfabetização de EJA. Deste modo, a problemática da pesquisa visa compreender como os contos de fadas podem ser utilizados como recurso de construção ou aprimoramento de conhecimentos em uma turma de Alfabetização da EJA, pertencente à Rede Municipal de Educação de São José – SC. Como se pode analisar os contos de fadas, os quais trazem em suas entrelinhas uma bagagem de ensinamentos acerca do cotidiano das pessoas, tais como: relação de pais e filhos, sexualidade, comportamentos, entre outros? Pensase que muitos desses conteúdos não são percebidos por alguns educadores, uma 1 A partir desse momento, utilizar-se-á a sigla (EJA) sempre que se tratar da Educação de Jovens e Adultos. 10 vez que estes estão em uma procura desenfreada pela alfabetização dos seus educandos, esquecendo-se que existem outras formas de ensinar, além da leitura e cópia. Estas narrativas feéricas, entretanto, podem estar associadas com a construção dos conhecimentos de seus educandos pois falam de seus cotidianos, basta o educador selecionar as histórias que se enquadrem no perfil da turma, para que assim possa desenvolver o seu trabalho no viés da proximidade da realidade do seu educando, ampliando a relação de afetividade entre professor e aluno, pois ambos constroem conhecimentos de forma conjunta. Seguindo estes princípios, pensa-se notória a relevância dos contos de fadas para a construção de saberes, nos quais o sujeito possa refletir acerca das leituras que são apresentadas, para que partir destas, construa seu olhar crítico em relação ao seu universo circundante, às questões políticas e sociais com as quais os contos se relacionam, bem como as reflexões que os mesmos podem proporcionar. O intuito desta pesquisa é incentivar uma reflexão crítica nos educandos de uma turma de Alfabetização da EJA, da Rede Municipal de São José, propiciando assim, momentos de aprendizagem relacionados com a ludicidade, para que a sala de aula não seja um lugar de mera reprodução e “transmissão” de conhecimento, posturas arraigadas na tradição educacional. Uma vez que muitos desses educandos, pelos mais diversos motivos, não tiveram nas suas infâncias a possibilidade ou oportunidade de concretizar ou iniciar os seus estudos, pensa-se que exista uma dupla responsabilidade – da instituição e do educador – de manter este educando na escola, pois, diferentemente das outras modalidades de ensino, estes educandos, em geral, trabalham o dia todo, muitas vezes em serviços braçais e a noite vão para escola. Por isso, é importante buscar alternativas que fujam do tradicionalismo, no qual as regras são severamente impostas e o professor é visto como único detentor do saber, sistema no qual o educando não tem o direito de contribuir com sua opinião, ele é visto como mero receptor do conhecimento. Sabe-se que a educação está buscando novos caminhos, ou pelos menos teoricamente almeja novas propostas de educação, nas quais o educando não deva ser considerado como um sujeito sem conhecimento, pois sua história de vida é carregada de experiências, vivências e ensinamentos. O texto de Paulo Freire (apud Brandão, 2005, p. 58), fala que deve-se 11 trabalhar com os educandos a partir das suas realidades, ou seja, com palavras “geradoras” que partam do cotidiano dos seus educandos. Dialogando-se com seu método, propõe-se uma didática, na qual os educadores trabalhem com histórias “geradoras”, conhecendo melhor o perfil da sua turma, propondo histórias que abordem temas dificilmente discutidos na família, principalmente com educandos da EJA, e, a partir dessas histórias, ampliar os saberes dos seus educandos trazendo informações importantes para seus cotidianos, tais como questões de saúde, de moradia, de política, de preconceito, entre outros. Uma vez que muitos contos de fadas abordam os temas supracitados, ainda que de forma sútil, pensa-se que esta proposta pode estimular os educandos a exporem suas opiniões, pois ao reportar-se à história dos contos de fadas, saberiase que eles eram escritos para adultos, apenas posteriormente foram adaptados para as crianças. No que diz respeito à estrutura, este trabalho foi dividido de forma a explicar e justificar a importância dos contos de fadas na EJA. Assim, apresentar-se-á, primeiramente, as discussões que norteiam teoricamente a pesquisa, e na sequencia, abordar-se-á a metodologia utilizada no campo de análise e ao final, a análise realizada junto a EJA. 12 2 UM CONTO DE FADAS ATUAL: BREVE APRESENTAÇÃO DA INSTITUIÇÃO E DA TURMA PESQUISADA2 A presente pesquisa foi realizada em uma instituição pública da Rede Municipal de Ensino de São José, localizada na Rua Docilício Luz, nº 663, no Bairro São Luiz, no município de São José – Santa Catarina. A seguir, apresentar-se-á um breve histórico da instituição para que se possa compreender melhor o funcionamento e organização da mesma. A instituição iniciou suas atividades no dia 31 de maio de 1976, por meio do Decreto nº 018/76, tendo como prefeito daquele ano, Arnaldo Maichein de Souza. Quando inaugurada, chamava- se Escola Isolada Municipal Docilício Vieira da Luz, recebendo este nome como homenagem a Docilício Vieira da Luz, por ter feito a doação do terreno para a construção da instituição. No ano de 1997, a escola teve a permissão de atender o Ensino Fundamental, de 5ª a 8ª série. Durante alguns anos a instituição teve várias oscilações no que diz respeito a sua nomeação, permeando vários caminhos até chegar à atual denominação Centro Municipal São Luiz. Atualmente atende 277 educandos, distribuídos nos turnos matutino, vespertino e noturno. Separados da seguinte forma: no período matutino, do 1º ao 5º ano, no vespertino da 5ª a 8ª série, e no noturno as turmas de Educação de Jovens e Adultos, este, da Alfabetização ao oitavo ano, porém não há turma de quinto ano, pois não se tem número suficiente de educandos matriculados. A instituição conta com 69 funcionários, sendo 42 docentes, um coordenador da EJA, uma coordenadora do Programa Mais Educação e uma assessora. Sendo assim, apresento-se segundo o Projeto Político Pedagógico da escola (CEI São Luiz, 2009, s.p), um resumo do que seria este programa. No dia 04 de Novembro de 2009, foi inaugurado Programa Mais Educação (Escola Integral) como Projeto Piloto, instituindo a Unidade como a primeira escola do município de São José com ensino em tempo integral. O Programa é um Projeto do Governo Federal em parceira com o Município de São José, que tem como órgão a Secretaria Municipal de Educação. Partindo-se da explanação sobre a história da instituição, chega-se ao perfil da turma pesquisada: um grupo de Alfabetização da Educação de Jovens e Adultos, 2 Dados obtidos através do Projeto Político Pedagógico da Instituição, de 2009. 13 composto somente por cinco educandos com idade entre 30 e 70 anos, sendo três mulheres e dois homens. Ao se observada a turma em questão, percebeu-se que se caracteriza por ser um grupo tímido e com baixa frequência devido a problemas pessoais. Por esses fatores, notou-se que a turma é bem heterogênea em relação aos conhecimentos já adquiridos, se divididos em níveis de aprendizados, ter-se-ia: uma educanda alfabetizada, dois educandos pré- alfabetizados e dois educandos iniciando o processo de compreensão de leitura e escrita. Com mencionado anteriormente, a falta de assiduidade dos educandos influencia no desenvolvimento dos seus aprendizados, porém, na EJA, esse fato é comum, uma vez que esses educandos que estão na busca pela concretização de seus estudos, passam por inúmeras dificuldades, tanto financeiras, quanto pessoais. Muitos deles acordam cedo e trabalham o dia todo para sustentar suas famílias e quando chega a hora de ir para a EJA estão muito cansados, acabando por não ir. E como esta turma possui tais problemas do cotidiano, a educadora procura trabalhar com temas que abordem os conteúdos da sociedade atual, tais como: o preconceito, a falta de informação sobre a sexualidade, questões trabalhistas, entre outros. A educadora busca, em suas aulas, primeiramente, trabalhar com o grupo no geral, discutindo o assunto do dia e, depois, faz atividades diferenciadas para que todos consigam construir seus aprendizados de acordo com seus níveis de compreensão. As vivências destes educandos pensa-se que, assemelham-se com as histórias dos contos de fadas, pois, apesar das dificuldades que encontram em seus cotidianos, desde preconceito até outros problemas diários, estão em busca da concretização dos seus estudos passando por inúmeras barreiras, com esforço e determinação. Espera-se que este conto tenha um final feliz, na qual todos consigam realizar seus sonhos. 14 3 UMA VISÃO DOS CONTOS DE FADAS: COMPOSIÇÃO E PERCURSO DA PESQUISA Ao longo do percurso acadêmico, atuei em duas instituições particulares de ensino e realizei os estágios curriculares na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. A partir dessas experiências, busquei ter um olhar atento em relação às histórias apresentadas aos educandos, bem como a maneira como a qual os meus colegas de profissão traziam estas leituras para o cotidiano escolar. Com o tempo, percebi que alguns se utilizam destas histórias, como um pano de fundo para entreter as crianças nos momentos de euforia das mesmas e sem contextualização e emoção narravam tais histórias aos pequenos. Debus (2006, p. 87) comenta que Toda hora é hora para contar e ouvir histórias... O que não propomos e desaconselhamos é a motivação, todo um planejamento e busca de estratégia para que a contação seja utilizada num curto período de tempo ou prensada entre horários, como antes do “soninho”, depois da Educação Física ou no horário de espera dos pais, como forma de aquietar. No entanto, questionava-me o porquê do comportamento destes educadores, pois as histórias, bem como os contos de fadas, são recursos lúdicos e significativos para construção de conhecimentos, tendo como fator fundamental a magia que transforma o ambiente. Bettelheim (2007, p. 49) fala que “[...] o conto de fadas convence pelo apelo que exerce sobre a nossa imaginação e pela consumação atraente dos acontecimentos, que nos seduz”. Seria interessante, portanto, que, além de ler para os educandos estas histórias, instigasse suas mais variadas fantasias e proporcionasse momentos encantadores e de imaginação. Diante da observação destas práticas, foram surgindo, no decorrer da realização do curso de Pedagogia, várias inquietações acerca da temática, pois são histórias que até hoje enchem meus olhos de alegria, questionava-me o porquê deste recurso não ser possibilitado às crianças, jovens e adultos. Durante algum tempo estas inquietações foram lapidadas, para encaminhar o Trabalho de Conclusão de Curso, com anseios e receios em relação à concretização da pesquisa. A definição do tema, entretanto, veio confirmar-se no momento da realização 15 do estágio curricular no Ensino Fundamental realizado no sétimo período do curso de Pedagogia, pois, eu e o meu colega de estágio tivemos a ideia de abordar questões referentes ao Meio Ambiente, através do recurso da contação de histórias, tendo como apoio e auxílio à orientadora desta disciplina. Por termos observado anteriormente que a ludicidade não se faz tão presente nesta etapa da educação, como na Educação Infantil, ficamos receosos em pensar qual seria a aceitação da turma diante da nossa proposta. Entretanto, por acreditarmos que a educação não possa ser algo estático, continuamos com a intenção do nosso projeto, e foi um estágio realmente gratificante, surpreendendonos a cada momento. A cada história narrada era uma emoção diferente, pois as crianças se envolviam nas fantasias e recriavam inúmeras situações com alegria. Sentimos que as nossas propostas estavam realmente encantando as crianças, quando em uma das nossas últimas proposições nos vestimos de “Emília” e “Visconde” do “Sítio do Pica-Pau Amarelo” para trabalharmos a alimentação saudável através da contação de história, percebemos ter mexido com o imaginário das crianças. E foi extremamente satisfatório, pois era uma turma que anteriormente apresentava dificuldades em se alimentar corretamente, mas diante da ludicidade da história, experimentaram uma torta de legumes deixada pelos personagens. Desta maneira, demostrou- se o quanto as história podem acrescentar na construção dos saberes destes educandos. Partindo desta satisfação, o estágio auxiliou na construção dos meus conhecimentos, tanto acadêmicos quanto pessoais, pois fez com que refletisse sobre a prática e percebesse que sou uma amante das narrativas. Tendo em mente que sem as histórias a educação torna-se monótona, percebi que se não brincarmos com a ludicidade, se não nos envolvermos na fantasia, seremos meros reprodutores de conteúdos. Devido a esses indicativos em relação à ludicidade, através das contações de histórias e dos contos de fadas no contexto escolar, foquei a minha pesquisa nas contações de histórias, com isso, a minha maior motivação era fazer algo relevante para prática a dos educadores, mostrando que na educação devemos vencer as barreiras do tradicionalismo. Inicialmente realizei alguns levantamentos bibliográficos acerca da contação de histórias na Educação de Jovens e Adultos, pois ainda que seja de forma 16 insipiente nos currículos na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, este recurso é utilizado pelos educadores destas modalidades. Ficava então a minha inquietação sobre o que era feito em relação a este recurso na EJA, pois muitos acreditam que estas histórias infantilizariam os educandos deste seguimento, sendo uma das minhas maiores indagações nesta pesquisa. Contudo, não encontrei teóricos que abordassem a utilização da contação de histórias nesta modalidade de ensino, apesar de me questionar a respeito desta falta de interesse em se estudar esta área, tive que reverter à situação, centrando-me somente nos contos de fadas, pois não tinha embasamento teórico suficiente para solucionar os meus questionamentos. A partir disto, realizei alguns levantamentos bibliográficos em torno dos contos de fadas, bem como suas origens e importância para o cotidiano escolar. Configurando-se assim, inicialmente, uma pesquisa de cunho bibliográfico, que de acordo Lakatos e Marconi (2009, p. 43 e 44) pode ser descrita da seguinte maneira: A pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias é a que especificamente interessa a este trabalho. Trata- se de levantamentos de toda a bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações e imprensa escrita. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto com objetivo de permitir ao cientista “o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de suas informações” (Trujillo, 1974:230). Diante disto, foquei-me em dois teóricos principais para a pesquisa, que abordam de forma geral os contos de fadas, sendo relevante para a compreensão deste recurso nas instituições de ensino. A partir de Merege (2010), ampliaram-se meus conhecimentos em relação à origem dos contos de fadas, tendo como confirmação que estas histórias surgiram através da comunicação dos adultos, proporcionando assim uma base fortemente teorizadora para a futura prática. Com isso, segui o percurso metodológico da pesquisa, focando na área da educação. Não encontrando teóricos para fundamentar especificamente a prática de contos de fadas na educação, aproximei-me de Bettelhem (2007) que argumenta acerca da contribuição dos contos de fadas para a construção pessoal e intelectual do sujeito. Partindo desses teóricos que contribuíram para o aprofundamento do tema, 17 trouxe á discussão uma proposta de implantação desta didática lúdica no contexto escolar, mais especificamente na Educação de Jovens e Adultos, revelando que este processo tem a contribuir para tais educandos. Para que se pudesse comprovar que este recurso é significante para educação, procurei um campo prático de experimentação para a pesquisa. Houve então a possibilidade de transformar o Estágio Curricular na Educação de Jovens e Adultos, em um campo de pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso. Com isso, iniciei, no segundo semestre de 2011, um estudo de campo em uma turma de Alfabetização da EJA, tendo como princípio o conhecimento das histórias de vidas destes educandos, buscando entender suas realidades e suas dificuldades, tanto de aprendizagem como pessoal, sendo imprescindível o levantamento destas questões para a elaboração da prática. De acordo com Gil (2007, p. 72) os estudos de campo [...] procuram muito mais o aprofundamento das questões propostas do que a distribuição das características da população segundo determinadas variáveis. [...] no estudo de campo estuda-se um único grupo ou comunidade em termos de sua estrutura social, ou seja, ressaltando a interação de seus componentes. Assim, o estudo de campo tende a utilizar muito mais técnicas de observação do que de interrogação. Na pesquisa em campo, procurei realizar as observações de forma participativa, ou seja, através dos diálogos com os educandos no desenvolvimento das atividades propostas pela professora, tornando assim uma relação de proximidade entre educandos e acadêmica. Segundo Gil (2007, p. 113) A observação participante, ou observação ativa, consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada. Neste caso, o observador assume, pelo menos até certo ponto, o papel de um membro do grupo. Daí por que se pode definir observação participante como a técnica pela qual se chega ao conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo. Por meio desta proximidade propiciadas pelas observações participativas, tive a oportunidade de relatar o cotidiano escolar dos educandos por meio de registros diários. De acordo com Magalhães e Marincek apud Ostetto (2008, p.15) O diário e o relatório de atividades são instrumentos que auxiliam, organizam e orientam a ação do professor. São espaços de sistematização da ação pedagógica onde o professor organiza seu trabalho através de 18 registros escritos, a partir das reflexões que tece diante das inquietações presentes no seu cotidiano, das perguntas que se faz, das respostas que se busca, das hipóteses que estabelece e de suas dúvidas. Os registros foram significativos para a compreensão das aprendizagens dos educandos. Sendo assim, busquei elaborar a prática diante da percepção dos mesmos em relação à sociedade atual, problematizando questões mundiais. As observações tiveram a duração de sete encontros semanais, sendo realizados nas quintas-feiras no período noturno, tempo destinado para o estágio no cronograma da universidade. Com o término das observações e das construções dos registros, principiaram-se as proposições no campo da pesquisa, com o intuito de investigar a importância dos contos de fadas nesta etapa escolar. Entretanto, como o fator tempo influencia na elaboração qualitativa da pesquisa, decidi contemplar as três primeiras proposições para fundamentar a problemática em questão. Desta forma, contemplaram-se os contos de fadas: “Chapeuzinho Vermelho”, “Cinderela” e o “João e o Pé de Feijão”, pois notei, nas observações, alguns indicativos de que os educandos necessitavam de uma reflexão em relação às questões sociais e pessoais, portanto, estas narrativas serviram de subsídio para a compreensão destas temáticas. Vale ressaltar que, apesar de alguns colegas exclamarem suas descrenças em relação aos contos de fadas como um recurso de aprendizagem na EJA, a caminhada até a conclusão da pesquisa foi prazerosa e reveladora, pois se fez significativa suas conquistas em torno da temática. 19 4 A ORIGEM DOS CONTOS Inúmeros estudos ao longo dos anos, apontam os contos de fadas tiveram origem nos povos da antiguidade, pois acredita-se que as tribos utilizavam-se destas narrativas como forma de entreter seu povoado com suas histórias de lutas. Esta arte era, principalmente, praticada pelos chefes das tribos para expor suas conquistas que serviam para que as crianças e adolescente se inspirarem em seus relatos. Como confirma Merege (2010, p. 7) De modo geral, os teóricos de todas as áreas concordam que o conto de fadas tem origens muito antigas, possivelmente pré- históricas, tendo se iniciado com as histórias contadas pelos xamãs e pelos anciãos das tribos ao redor do fogo. Estudiosos de diversas áreas, mas especificamente da área da história e da antropologia, acreditam que os contos de fadas representam a característica pessoal de cada população, pois nestas histórias estão enraizadas a cultura, os costumes e as crenças dos povos. Trazendo assim, em suas narrativas, um legado histórico de cada parte do mundo, podendo ser utilizado como fonte de conhecimento, pois revelam o cotidiano, bem como os costumes de cada povoado. Como comenta Merege (2010, p. 8) Os historiadores e os antropólogos, por sua vez, procuram situar o conto de fadas em seu contexto histórico, social e cultural, analisando cada versão em relação à sociedade e à época em que foi produzida. Assim, determinar a origem não é tão importante como estabelecer as formas de transmissão, difusão e transformação do conto e identificar os elementos compatíveis com o momento histórico. Nesse tipo de abordagem, portanto, cada conto pode ser apreendido como produto de uma cultura cujos usos, costumes e mentalidades se refletem na narrativa. Estas narrativas, entretanto, geralmente são confundidas com outros gêneros literários, tais com as lendas e os mitos, pois também falam do cotidiano das pessoas e dos seus problemas pessoais. Os contos de fadas, no entanto, diferenciam-se pelo fato da estruturação e organização da narrativa seguirem 20 sempre uma linha de realismo, na qual há sempre um objetivo a ser alcançado pelo herói ou sujeito principal em busca do seu autoconhecimento. A autora Merege (2010, p.8 e 9) aponta que: [...] alguns parâmetros formais podem ser estabelecidos na análise dos textos, pois a linguagem costuma seguir um estilo determinado, existem fórmulas clássicas de abertura (“Era uma vez”) e fechamento dos contos e, o que é de extrema importância, a estrutura narrativa costuma seguir uma linha básica, pelo menos nos registros mais tradicionais. Diante disto chega-se ao questionamento da significância do conto de fadas, e perante as reflexões feitas, entende-se que por definição estas narrativas são carregadas de realismo, que trazem imbuídas em suas linhas o contexto do dia-a-dia dos sujeitos. Machado apud Merege (2010, p 15) melhor define os contos de fadas, argumentando que: [...] os contos de fadas seria a história popular, de origem diferenciada em relação aos clássicos, que surgiu anonimamente no seio do povo e foi sendo recontada durante séculos [...] é também história autoral, escrita ou narrada segundo o modelo aceito para o conto de fadas e evocando a mesma atmosfera de sonho, ideal e sobrenaturalidade. Parte-se do princípio de que os contos de fadas foram disseminando-se ao longo tempo, tornando-se assim evidentes suas contribuições para o aprendizado, pois, desde os primórdios, estas narrativas estimulavam a oralidade e a memorização do sujeito, fortalecendo assim pontos importantes para o desenvolvimento dos seres humanos. Segundo Merege (2010, p. 17) Apesar do significado contido em manifestações artísticas, tais com a pintura rupestre, estas não podem ser consideradas um registro literário. Por isso antes do surgimento da escrita, a única forma de registro era a memorização e a única forma de transmissão era a oral. Poemas extremamente elaborados e extensos foram preservados durante séculos antes de terem uma versão escrita, enquanto os mitos e histórias populares foram sendo recontados ao longo de muitas gerações. De acordo ainda com Merege (2010, p. 17) em algumas regiões da antiguidade tinha-se como tradição a existência de pessoas destinadas e 21 especializadas em difundir as histórias. Tais pessoas acabavam por propagar também as doutrinas relacionadas às religiões e as histórias voltadas para a cultura de seus povos, ou seja, destinavam-se a propiciar momentos de interação com a população para explanar relatos de suas memórias. Com isso a autora segue afirmando que: [...] esses narradores ainda existem em algumas civilizações tradicionais e gozam quase sempre de grande status e, embora alguns sejam (ou pelos menos comecem) jovens, é muito comum que a função seja assumida por idosos, quer pela experiência, que pela posição que lhes cabe na comunidade. (MEREGE, 2010, p. 17) Há relatos de que as mulheres que foram as reais propulsoras destas narrativas, pois como tinham maior proximidade com as crianças, contavam histórias de seus antepassados e de suas vidas, porém as sociedades antigas não as viam com bons olhos, adjetivadas como sujeitos de más índoles. Como Merege (2010, p. 18) explana: [...] a imagem da avó narradora a que nos referimos no início, a existência de uma “Mamãe” e não de um “Papai Ganso”, deriva de uma tradição milenar, segundo a qual, por força de sua permanência junto à moradia e aos filhos e netos pequenos, as mulheres se teriam tornado guardiãs da memória familiar e mesmo tribal, perpetuando-se em gerações de mães, avós e bisavós contadoras de histórias. De acordo com o local e a época em que viveram, essas mulheres foram encaradas como sábias, como bruxas ou como simples alcoviteiras. De qualquer forma, eram detentoras do saber e da tradição populares e continuariam a transmiti-lo, ainda que contra os auspícios da cultura “oficial” letrada. Assim, foram as mulheres, sujeitos de extrema perspicácia, que transmitiram inúmeros contos populares para os Irmãos Grimm3, e estes adaptaram tais narrativas para as crianças. Conforme Merege (2010, p.19) ratifica: [...] as primeiras recolhas do gênero, no final do século XVII, foram feitas por mulheres e foram as mulheres que forneceram a maior parte das versões registradas pelos Irmãos Grimm. Com isso não estamos afirmando, em absoluto, que os contos de fadas foram criados pelas mulheres ou que eram narrados somente por estas, mas os relatos existentes desde a Antiguidade levam a crer que eram as mulheres, em seus serões familiares, na 3 Posteriormente falar-se-á melhor sobre os Irmãos Grimm e suas influências para a propagação dos contos de fadas. 22 intimidade da sala de fiar ou no trabalho dos campos, que se encarregavam de contar e acrescentar seu ponto às histórias populares. Assim como estes irmãos, outros autores foram significativos para o desenvolvimento destes clássicos da literatura que até hoje estão presentes na memória da humanidade. Dentre estes autores que fizeram seu legado nos contos de fadas, pode-se destacar alguns como: Charles Perrault4, que segundo Merege (2010, p. 47) [...] o grande divisor de águas na história dos contos de fadas foi, sem sombra de dúvida, Charles Perrault, cujos Contos da Mamãe Gansa são considerados o marco do surgimento da Literatura Infantil. As versões que hoje circulam entre nós de contos como Chapeuzinho Vermelho, Pele de Asno e O Gato de Botas partiram diretamente da obra de Perrault. No entanto, essas versões, em sua forma original, são bem diferentes das que se costumam narrar hoje às crianças e, por sua vez, a intenção do autor não era de escrever (apenas) para o público infantil. É nítida a importância de Perrault para a difusão dos contos de fadas, apesar de sua intenção inicial não ser a de escrever para as crianças como foi citado acima, foi assim que ele ficou conhecido mundialmente, deixando um marco relevante para estas narrativas. A mesma autora segue retratando que (2010, p. 51): Embora sua figura assuma, algumas vezes, aspectos cômicos e até grotescos, a Mamãe Gansa foi apresentada aos jovens com o fim de orientá-los no aprendizado da moral. O livro de Perrault, por exemplo, tem como subtítulo Histoires ou contes du temps passa, avec les moralités: as lições de moral eram explicitas em versos constantes do final de cada história. O autor registrado foi Pierre Perrault D’ Armancour, filho de Perrault, que na época tinha estava com dezenoves anos de idade. Nelly Novaes Coelho acredita que o autor não quisesse arriscar sua reputação de escritor “culto” com a publicação de uma literatura popular, que poderia ser considerada frívola. De qualquer forma, a obra agradou em cheio, sendo muitos os que as consideram a primeira obra da literatura voltada especificamente para o público infantil. 4 Charles Perrault nasceu e viveu em Paris e morreu aos 75 anos. O poeta da Academia Francesa não atuou exclusivamente no mundo das letras. Além de trabalhar como advogado, tornou-se superintendente de construções do Rei Sol Luís XIV, posição política em que se destacou ao lado do ministro Colbert. Membro da alta burguesia, Perrault foi imortalizado por criar uma literatura de cunho popular que caiu no gosto infantil e contou também com a aprovação dos adultos. Com pouco mais de 50 anos, trocou o serviço ativo pela educação dos filhos. Movido por esse desejo, começou a registrar as histórias da tradição oral contadas, principalmente, pela mãe ao pé da lareira. (OLIVEIRA, 2011a, s.p) 23 De acordo com o texto de Merege (2010), Perrault não foi somente um dos propulsores dos contos de fadas, mas também um colaborador para a construção de uma nova visão sobre literatura infantil, pois, a partir dele, os olhares voltaram-se também para as crianças, uma vez que as sociedades antigas não as reconheciam como sujeitos, sendo assim, não existiam produtos voltados para elas, diferentemente do contexto atual, no qual há uma imensidão de produtos direcionados às crianças. A publicidade voltada para estes sujeitos, atualmente, alcança grandes índices nos canais televisivos. De acordo com Debus (2006, p. 64) As agências publicitárias com frequência utilizam as imagens das narrativas tradicionais para vender aos consumidores os produtos das empresas que as contratam; vejamos alguns exemplos que ilustram esse fato. A indústria de bebidas Coca-Cola, em campanha veiculada pela Copa do Mundo de 2002, trouxe a fotografia em close-up do jogador de futebol José Arantes do Nascimento, o Pelé, de frente para uma garrafa do refrigerante, seguida do slogan “Mais uma grande história de um gênio e uma garrafa: Pelé e CocaCola juntos na paixão pelo futebol”. É a partir da divulgação dos contos para as crianças, que se começa a ouvir o nome dos Irmãos Grimm, pois estes dois sujeitos transformaram os clássicos populares anteriormente escritos para os adultos em uma linguagem mais acessível aos ouvidos das crianças. Merege (2010, p. 55) elucida que: O plano inicial de Jacob e Wilhelm Grimm era ouvir histórias narradas por pessoas simples e fixá-las no papel, antes que a urbanização e a industrialização viessem a modificá-las irreversivelmente. Assim, puseramse a campo para recolher esses registros, ouvindo vários narradores, dentre os quais se destacou a esposa de um alfaiate do interior, chamada Dorothea Viehmann. Com isso os Irmãos Grimm5 que adaptaram os contos de fadas para o contexto infantil, ficaram, ainda que indiretamente, guardados nas memórias das crianças que puderam ter o contato com estas narrativas que passaram a ser 5 Inseridos num contexto histórico alemão de resistência às conquistas napoleônicas; os Irmãos Grimm recolhem, diretamente da memória popular, as antigas narrativas, lendas ou sagas germânicas, conservadas por tradição oral. Buscando encontrar as origens da realidade histórica germânica, os pesquisadores encontram a fantasia, o fantástico, o mítico em temas comuns da época medieval. Então uma grande Literatura Infantil surge para encantar crianças de todo o mundo. (OLIVEIRA, 2011b, s.p) 24 utilizadas tanto no cotidiano das famílias quanto na escola. De acordo com Merege (2010, p. 57) [...] os Grimm suavizaram a maior parte dos contos de fadas, o que fizeram, em parte, com base nas criticas de vários intelectuais e escritores daquele tempo. No fim, o material concebido inicialmente para servir ao estudo de filólogos e folcloristas acabou sendo expurgado de todo conteúdo “inadequado a crianças”, como referências a sexo ou gravidez pré- nupcial, além de boa parte do humor jocoso que caracteriza as narrativas orais. Os Irmãos Grimm não trabalham sozinhos na difusão e adaptação dos contos de fadas para o contexto infantil, houve inúmeros outros autores que compartilharam suas obras com a humanidade partindo da ideia inicial destes irmãos. Merege6 (2010, p. 57-59) elenca alguns destes autores: [...] Peter Christen Asbjorsen (1813- 1885) e Jorgen Moe (1813- 1882) escreveram o conto A leste do Sol e a oeste da Lua, uma versão “polar” de A bela e a fera [...]. Aleksandr Afanasiev (1826- 1871) [...] escreveu, Contos de fadas russos para crianças. [...] Joseph Jacobs (1874- 1916) deu um grande impulso à divulgação dos contos de fadas, editando, entre 1899 e 1900, a revista Folklore e publicando coletâneas de contos e fábulas do mundo todo. [...] Hans Christian Andersen (1805- 1875) escreveu O patinho feio, A pequena sereia e A pequena vendedora de fósforos. Diante do reconhecimento dos contos de fadas como um gênero literário, destinado tanto para as crianças quanto para os adultos, dissertar-se-á acerca de como estas narrativas surgiram no nosso país. Conforme Merege (2010, p. 62) Como quaisquer outras sociedades tradicionais, os povos indígenas do Brasil também possuíam uma riquíssima literatura oral, transmitida por meio de ritos, cantos e narrativas. Destas, algumas ainda sobrevivem, graças à tradição familiar e tribal de passá-las adiante e aos registros efetuados por antropólogos e folcloristas. A esse material vieram a somar, a partir de 1500, as tradições europeias trazidas pelos colonizadores, como os romances medievais e contos maravilhosos que se encontram na gênese dos contos de fadas. 6 Sugere- se para maior aprofundamento dos conhecimentos em relação a esses autores a leitura do livro: MEREGE, Ana Lúcia. Os contos de fadas: origens, histórias e permanência no mundo moderno. São Paulo: Claridade, 2010. 25 Os contos de fadas se disseminaram no Brasil através de uma junção das histórias dos colonizadores com as dos povos indígenas existentes na época. Com isso, emergiram vários autores brasileiros que se utilizaram das obras estrangeiras para imprimir suas marcas no país e, posteriormente, no mundo, como exemplo pode-se citar Monteiro Lobato7. De acordo com Merege (2010, p. 65) Em Serões de Dona Benta e em Histórias de Tia Nastácia (1937), Lobato adapta e assim contribui para a difusão de vários contos tradicionais, como O bicho Manjaléu, que figura em primeiro lugar tanto nas histórias de Nastácia quanto nos Contos populares do Brasil, de Romero. Com ele, não apenas o conto de fadas, mas toda a literatura para crianças e jovens ganhou novo fôlego, tanto por meio de seu legado como autor quando da grande quantidade de obras que traduziu e/ ou editou, como Alice, Caninos brancos e O grito da selva, de Jack London, Pinóquio, As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain, e ainda contos de fadas de Andersen e Perrault. É através da literatura, portanto, que os contos de fadas passam a ser imortais na memória dos sujeitos. Diante disto, atualmente, existem vários recursos para se apresentar um conto de fadas, tais como livros, filmes, desenhos entre outros. Um dos maiores precursores dos contos de fadas para a televisão é Walt Disney. Como comenta Merege (2010, p. 74) Na primeira metade do século XX, alguns contos de fadas começaram a ser divulgados pela mídia por meio de versões para o cinema, como o desenho animado Branca de Neve (1937), de Walt Disney, e o filme A bela e a fera (1946), de Jean Cocteau. Algumas dessas obras são fiéis à narrativa constante em fontes como Perrault ou os Grimm, mas outras, apesar da excelente realização, contribuíram para passar adiante versões distorcidas dos contos de fadas tradicionais, despojando- os do seu significado, ainda que sem a menor intenção de fazê-lo. Atualmente, os contos de fadas são legitimados como um recurso que, além de encantar, também propiciam a aprendizagem, ainda que, ao longo de seu 7 José Bento Monteiro Lobato nasceu a 18 de abril de 1882 — mas jurava de pé junto ter nascido em 1884 — na cidade de Taubaté. Filho do fazendeiro José Bento Marcondes Lobato e de dona Olímpia Augusta Monteiro Lobato, ele foi, além de inventor e maior escritor da literatura infanto-juvenil brasileira, um dos personagens mais interessantes da história recente desse país. (ROSCHEL, 2011, s.p). 26 desenvolvimento histórico, tiveram que enfrentar inúmeras barreiras para alcançar lugar na sociedade. Como comenta Merege (2010, p. 67): Os contos de fadas, por sua vez, foram encarados durante muito tempo como um entrave ao amadurecimento das crianças e ao seu enfrentamento do mundo real. Na década de 1970, a sociedade americana apregoava que esses contos podiam não apenas idiotizar as crianças, más também “fazer os pais passarem por mentirosos, pois, na era da tecnologia, dificilmente alguém acreditaria em bruxas e princesas”. Felizmente, a partir da mesma década, a opinião de educadores, de psicólogos, como Bettelheim, e de alguns segmentos da sociedade começou a se fazer ouvir, reivindicando para as narrativas maravilhosas seu papel fundamental no processo de crescimento e amadurecimento de cada ser humano. Através desta explanação sobre a origem dos contos de fadas e de sua sobrevivência na sociedade atual, ratifica-se a crença de que a educação necessita de mais “encantamentos” como esses para suas salas de aulas. Pensa-se ser evidente que estas narrativas trazem consigo uma bagagem histórica dos nossos antepassados, mas que, em muitos casos sua utilização no contexto educativo não deixe de evocar uma interação lúdica para se tornar mera “ferramenta” pedagógica. Para Merege (2010, p. 78 e 79) As escolas e as bibliotecas infantis e públicas têm investido na tradicional “hora do conto” para resgatar essas narrativas, e muitos professores e educadores estão se interessando pela velha arte de contar histórias, a qual, nos últimos anos, vem conhecendo um verdadeiro “renascimento”. No entanto, o ato de narrar histórias não se limita ao público infantil ou estudantil, e suas funções são bem mais amplas do que aquelas que se podem perceber, de imediato, numa biblioteca ou sala de aula. É nesse contexto que a presente pesquisa se apresenta, diante de questionamentos sobre a utilização dos contos de fadas na educação, principalmente na EJA. Como apresentou-se, os contos de fadas fizeram história na vida das pessoas e até hoje fazem. Por que não trazer estas narrativas para as instituições como forma de reflexão dos educandos sobre a história e perpetuação dos contos, contextualizando-os em relação as suas realidades? 27 5 O CONTO DE FADAS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: ANÁLISES DA PESQUISA Apesar de não se encontrar material disponível que aborde o conto de fadas como fonte de aprendizagem escolar, tanto teórico quanto livros de conto propriamente ditos, torna-se maior o desafio desta pesquisa, pois se mostra como uma proposta de atuação que possibilita a construção de conhecimento na Educação de Jovens e Adultos. A seguir serão feitas explanações em relação às observações e proposições realizadas em uma instituição pública da Rede Municipal de São José, com uma turma de Alfabetização da EJA e, posteriormente, apresentar-se-á as análises sobre as reflexões realizadas a partir do trabalho com os contos de fadas, trabalho este que foi se construindo e aperfeiçoando durante esta pesquisa. 5.1DIÁRIO DE CAMPO: A EXPERIÊNCIA DOS CONTOS DE FADAS EM UMA TURMA DE ALFABETIZAÇÃO DE EJA8 5.1.1 Um Olhar Investigador Nesta etapa da pesquisa serão apresentadas as discussões produzidas em sala de aula sobre os contos de fadas. Na primeira parte, apresentar-se-á as observações realizadas na sala de aula da EJA, visando analisar de que forma a turma está estruturada, os meios que a professora utiliza para trabalhar o processo de alfabetização e as possibilidades de utilização dos contos de fadas como recurso na aprendizagem. Ao chegar à instituição pública da Rede Municipal de São José, houve uma recepção realizada pela professora orientadora de estágio e pelo diretor da escola. Neste primeiro momento realizou-se uma conversa, sobre os anseios e angústias em relação ao processo de alfabetização na EJA. 8 O estágio foi realizado em trio, porém os relatos foram feitos diante da minha percepção em relação à turma, bem como os aprendizados demonstrados pela mesma. 28 A professora da turma chegou, foi apresentada pelo diretor e trouxe tranquilidade em relação ao estágio, pois, segundo a mesma a turma era tranquila. Dado o tempo para o início da aula, dirigiu-se à sala de informática, pois a professora da turma relatou que havia um tempo que os educandos solicitavam a ida nesta sala. Chegando á sala, a professora apresentou os educandos presentes, e neste primeiro momento, percebeu-se uma certa timidez dos mesmos em relação á presença de estagiárias. A professora deu início à aula e explicou que eles deveriam digitar as frases ou palavras construídas no dia anterior que se encontravam escritas em seus cadernos, sendo assim, cada estagiária se dirigiu a um dos educandos para oferecer ajuda. Apesar da timidez do início, todos aceitaram serem ajudados na construção da atividade. À medida que ajudava-se os educandos, sentia-se que, ao mesmo tempo em que estavam alegres em conhecer esta ferramenta, que era o computador, também estavam receosos com algo que era novo para eles. A partir de observações, percebeu-se que havia somente uma educanda que dominava esta ferramenta, pois havia tido contato com a mesma e também já se encontrava no processo final da alfabetização, facilitando o processo de compreensão. Percebeu-se também que havia um educando que se encontrava no processo inicial de alfabetização, desse modo no dia anterior havia conseguido somente realizar a escrita do seu nome, tendo então um pouco mais de dificuldade em relação aos seus colegas para digitar sua atividade, porém ficou feliz ao conseguir digitar o seu nome na tela do computador. Chegado o momento do intervalo todos se dirigiram ao lanche. E logo após o intervalo, todos foram dirigidos a outra sala, onde a professora perguntou aos educandos como foram suas experiências com o computador, e a maioria se mostrou feliz com a ida a sala de informática, relatando que no início ficaram inseguros, porém depois gostaram da sensação. Com isso a professora comentou que agora iriam mais vezes a sala de informática, para aperfeiçoar seus aprendizados. E assim deu sequência a aula, apresentando aos educandos uma atividade, em folha, relacionada à cultura, 29 especificamente sobre as comidas típicas brasileiras. Fez-se uma discussão com os mesmos em relação à comida que mais gostam de comer. Após tal discussão a professora leu em voz alta, juntamente com os educandos, o pequeno texto que falava sobre as comidas típicas brasileiras e depois solicitou que todos tentassem completar o “caça-palavra” relacionado ao texto. Os educandos deram então início à construção da atividade com auxílio da professora e das estagiárias. Como estava na hora de terminar a aula, a professora solicitou que fizessem em casa, para na próxima aula discutirem. Assim terminou o primeiro dia de estágio, que apesar da ansiedade do começo, foi muito interessante, pois houve uma boa recepção por parte de todos, estimulando a realização do estágio nesta instituição. No dia 26 de agosto, na chegada, havia somente um educando, e com o passar do tempo foram chegando todos os outros. Quando a sala estava composta pelos cincos educandos que compõem a turma, a professora apresentou a proposta do dia: a produção de um cartaz. Solicitou que todos pegassem uma folha utilizada na aula anterior que se referia a uma poesia sobre questões de saúde. Explicou então como seria a construção do cartaz. Inicialmente pediu para que um dos educandos se prontificasse a escrever uma estrofe da poesia em um papel pardo e os demais procurassem em revistas, levadas pela mesma, imagens sobre hábitos saudáveis. Observou-se que ao pedido da professora para que um dos alunos copiasse a estrofe no cartaz, surgiu um desafio para eles e assim todos se esquivaram da realização da atividade. Então, a professora sugeriu que Kênia9 escrevesse, esta ficou um tanto insegura, mais acabou por aceitar a proposta. Dado o início a atividade, todos começaram a fazer o que foi proposto, porém, chegado o momento do intervalo, todos se dirigiram ao lanche. Ao retornar do intervalo, deram continuidade na atividade, e então Kênia terminou de transcrever o trecho e pediu que a professora verificasse se estava correto. Após a correção, a professora solicitou que a educanda passasse a caneta hidrocor por cima das letras. 9 Os nomes expostos no diário de campo são fictícios, para que se possa preservar a identidade dos educandos. 30 Concluída a tarefa, a professora observou que ficaram alguns erros na escrita, e então colou alguns pedaços de papel para arrumar as palavras, e assim pediu para que a mesma educanda completasse o que faltou, a educanda ficou receosa, pois comentou que a atividade foi difícil e pediu então que a professora terminasse. Depois que a professora terminou de completar a palavra, convidou os educandos para colar suas imagens, e assim alguns começaram a colar. Ao término da colagem, a professora solicitou que todos escrevessem seus nomes no cartaz, pois a produção foi de todos da turma. Neste momento alguns educandos tiveram um pouco de dificuldade para escrever, sendo auxiliados pela professora. Terminada toda a produção, a professora pediu licença para buscar uma fita adesiva para colar o cartaz na parede e, neste momento os educandos comentaram que não ficaram satisfeitos com a atividade, pois já sabiam recortar imagens, eles queriam mesmo era escrever em seus cadernos. Com a volta da professora, começaram a colar a fita adesiva no cartaz para pendurá-lo, neste momento foram auxiliados pela filha de uma das educandas, pois não sabiam ao certo como colar a fita. Com a conclusão da produção, a professora parabenizou a todos pela atividade realizada e desejou- lhes uma boa noite e um bom final de semana. Assim encerrou-se a segunda observação na turma de Alfabetização de Jovens e Adultos, ficando com um ponto importante o questionamento dos educandos em relação à atividade proposta, deixando como reflexão para a construção da nossa futura prática nesta turma. No dia 1º de Setembro, a professora iniciou a aula, trazendo dois mapas do mundo, um deles em forma de globo e outro em forma de cartaz, com isso, fez-se uma discussão inicial com os educandos sobre o que sabiam em relação ao mapa. E como no momento havia somente dois educandos, a professora pediu que se aproximassem do mapa pendurado no quadro, para que assim pudessem identificar onde se encontrava o nosso país e verificar que, apesar da diferença de forma dos dois mapas, ambos eram iguais. Os educandos, neste momento, relatam-se suas dificuldades para encontrar o nosso país no mapa, pois, segundo eles é muito pequeno e difícil de achar. 31 A professora deu sequencia a aula, entregando uma folha para os educandos, com atividades relacionadas aos mapas, pediu para que inicialmente encontram-se o nosso país em um mapa desenhado na folha, e depois o pintassem de verde. Neste momento chegou mais uma educanda e a professora repetiu a atividade que havia feito com outros, acerca da compreensão do mapa. Logo após a pintura do país, todos foram para o intervalo. Após o intervalo a professora solicitou que dois educandos transcrevessem os nomes dos estados brasileiros de um mapa para outro, sendo esta uma das atividades que constava na folha anteriormente citada. Como um dos educandos ainda não tinha terminado a pintura de seu mapa, a professora pediu para os demais que dessem sequencia as suas atividades. Na atividade de transcrição das palavras uma das educandas pediu auxílio à professora, pois sentia um pouco de dificuldade em organizar as palavras dentro de seu mapa, chegou a comentar que algumas palavras eram grandes para caber em um espaço pequeno. Enquanto a professora auxiliou esta educanda, os estagiários deram auxilio para outra, e ao, mesmo tempo, foram feitas discussões com relação aos estados brasileiros que se encontram em níveis elevados de poluição e sobre o desenvolvimento do país. Terminados então a atividade e a discussão, a educanda mostrou à professora sua atividade completa, esta deu parabéns à educando e pediu que tentasse fazer a próxima atividade, que consistia em localizar no seu mapa países com um determinado número de letras e completar os quadrados. Chegado o momento do final da aula, a professora solicitou que os educandos guardassem suas atividades, pois iriam usar novamente no dia seguinte, desejando- lhes uma boa noite. Diante das observações desta aula, percebeu-se que os educandos não compreenderam muito a questão do nosso estado estar localizado dentro do Brasil, porém a professora comentou que daria continuidade a esses estudos. Com isto, fechou-se mais uma observação, ressaltando o quanto é importante o professor observar os aprendizados dos seus educandos na aula proposta, para que assim possa planejar suas próximas aulas, ficando este questionamento como embasamento para subsidiar nossa futura prática. 32 No dia 08 de Setembro, a professora iniciou a aula comunicando à turma que devido ao número pequeno de educandos, não iniciariam uma nova temática. Com isso, inicia a aula fazendo atividades diferenciadas, primeiramente pede para a educanda que esta alfabetizada para fazer uma produção textual contendo um titulo e no mínimo sete linhas. E para os outros educandos, que escrevam quatro sílabas no quadro, respectivamente, “so”, “ma”, “da”, “vi” e pede que, a partir destas, formulem palavras. Durante a realização das atividades, os estagiários sentaram-se com os educandos para auxiliá-los, percebeu-se que gostaram dessa atenção individual, pois ficava mais fácil para solucionar suas dúvidas. Após a conclusão do texto da educanda, a mesma chamou a professora para observar se sua atividade estava correta e, com isso a professora, passou uma nova atividade que consistia em situações problemas transcrita no quadro para que a educanda solucionasse. E para os outros educandos, passou no quadro números pares, para que os mesmos dessem sequencia. No começo ficaram confusos acerca do que deveriam fazer, mas com o auxilio da professora e das estagiárias, conseguiram realizar a atividade. Diante de um auxílio mais próximo, pode-se observar o capricho dos educandos com os seus cadernos, sempre apagando as letras que saiam um pouco da linha. Algo que foi relevante neste dia foi o fato de que quando uma educanda terminou a atividade e começou guardar os seus materiais dizendo que estava na hora de ir embora, outro educando olhou no relógio, e disse que faltavam dez minutos ainda, podendo assim escrever mais coisas. Percebemos então o valor que os educandos dão para o momento que estão ali, valorizando qualquer minuto para construir suas aprendizagens. Todos terminaram suas atividades e a professora os desejou boa noite, concluiu-se assim mais um dia de observação. No dia 22 de Setembro, dirigiu-se novamente à instituição para observar a turma de Alfabetização da EJA, foi a partir dessa observação que elucidou-se o pensamento em resgatar os contos de fadas de uma forma que contribuísse para o aprendizado dos educandos. Segue abaixo o relato desta aula, comprovando o 33 quanto é importante trazer didáticas diferenciadas para trabalhar com temas muitas vezes difíceis de dialogar. Neste dia a professora iniciou a aula entregando um pequeno texto para que cada educando lesse. Assim que todos terminaram a leitura, a professora trouxe uma reportagem que falava sobre o alto índice de pessoas com AIDS na região do Município de Biguaçu. Concluída a leitura, a mesma lançou uma discussão para a turma sobre sexualidade, doenças sexualmente transmissíveis, e o preconceito em torno dessas doenças. No começo os educando ficaram receosos de expor suas opiniões e dúvidas, porém a educadora foi incentivando-os a relatar suas conclusões a cerca da temática. Diante disto, uma das educandas se manifestou comentando que um tempo atrás, sua filha, ainda adolescente, começou a se envolver com um rapaz mais velho, que estava fazendo um serviço em sua rua. A mesma continuou relatando que tentou por inúmeras vezes que a sua filha não se encontrasse com o rapaz, chegando ao ponto de quebrar o seu celular perante a vizinhança. Com isso, a professora questionou se ela informou a sua filha sobre os métodos contraceptivos, sobre as doenças que podem ser adquiridas através de relações sem camisinha. A educanda respondeu, dizendo que “Não!”, pois, segundo ela, vai esperar sua filha fazer quinze anos. A professora explicou a importância de informar sua filha sobre essas situações e o quanto é perigoso não esclarecer as suas dúvidas, a educanda comentou que acreditava que a sua filha sabia através das primas e amigas que são um pouco mais velhas. A professora, juntamente com os outros educandos, comentou o quanto é arriscado deixar essa responsabilidade para as amigas, pois as mesmas, muitas vezes não sabem a maneira certa de agir. Infelizmente a educanda não se convenceu do contrário, e relatou que na sua época não se tinha informação, adquiria-se através do tempo, entretanto, pode-se perceber que a educanda também não tinha a informação correta sobre sexualidade, ficando em dúvida quando a professora questionou os educandos sobre como são transmitidas essas doenças. Uma educando perguntou se AIDS se transmitia através do beijo. Diante desta pergunta, a professora esclareceu suas dúvidas, e retomou o texto entregue no começo da aula, pedindo que os educandos acompanhassem sua leitura feita em 34 voz alta. O texto tratava de uma campanha feita pelo Governo para conscientizar a população sobre as doenças sexualmente transmissíveis, mais especificamente sobre a AIDS. Concluída a leitura, a professora escreveu duas questões no quadro referentes ao texto e as discussões realizadas anteriormente e todos construíram as resposta juntos, com um pouco da opinião de cada um. Quando estavam construindo as respostas, aconteceu uma infeliz situação, um dos educandos que se dirigia a sua casa, acabou por desmaiar. Todos ficaram assustados no início, porém, quando tudo se acalmou, a professora relatou que essa situação havia acontecido algumas vezes, e que o educando simula desmaios quando quer chamar a atenção ou quando é contrariado. Após este fato, a professora encerrou as atividades do dia. No dia 29 de Setembro, ao chegar à sala, a professora se deparou somente com duas educandas, a professora relata que, provavelmente, a falta dos outros educandos deu-se pelo fato de que a mesma havia comentado, no dia anterior, que trabalharia com a matemática e comentou que os educandos sentem insegurança quando se trata desta disciplina, tendo em vista que a matemática é concebida como um “terror” para os educandos em geral. A proposta do dia era trabalhar com questões matemáticas, a professora iniciou escrevendo no quadro situações-problema de adição e subtração, que abrangem o cotidiano da população, como a ida ao supermercado e solicitou que os educandos copiassem em seus cadernos. Devido à presença somente de duas educandas houve, maior atenção por parte da professora perante a resolução das atividades. Com isso a professora notou que uma das educandas sentia dificuldades em resolver uma das questões, por isso transcreveu a conta no quadro e pediu que solucionassem juntos o problema, fazendo com que a educanda percebesse seus erros e acertos. Diante da conclusão das resoluções das questões-problema, a professora escreveu novamente no quadro uma atividade, que consistia na colocação dos números em ordem crescente e decrescente. E com a conclusão da atividade, a professora encerrou a aula, desejando uma boa noite para os educandos. Através dessas questões, concluiu-se a etapa de observações, tendo em 35 mente que os contos de fadas poderiam contribuir para o aprendizado dos educandos, pois iriam dialogar com a realidade dos mesmos, de uma forma que resgatasse suas memórias e que levassem em consideração suas histórias de vida. 5.1.2 De um olhar investigador para proposições reveladoras No dia 13 de Outubro, se iniciou as intervenções na turma de Alfabetização da EJA, neste dia compareceram somente três educandos. Primeiramente, relatou-se aos educandos a proposta de trabalhar as disciplinas através dos contos de fadas, orientando-os de que se estaria durante todo percurso do estágio, fazendo uma troca de conhecimentos, valorizando assim seus saberes. Dando início a proposta do dia, questionou-se os educandos acerca dos seus conhecimentos em relação aos contos de fadas, se sabiam o que era e se já haviam tido contado com estas narrativas. Os educandos responderam inicialmente que não sabiam ao certo o significavam os contos de fadas. Diante disto, perguntou-se se eles já ouviram falar de “Chapeuzinho Vermelho”, “Branca de Neve e os Sete Anões”, (Vide Apêndice) entre outros. Obteve-se então como resposta dos mesmos que “sim”. A partir de suas respostas, realizou-se uma breve explicação em relação à origem dos contos de fadas, para amenizar suas visões em relação à estas narrativas que, muitas vezes, são compreendidas somente como literatura para as crianças. Comentou-se que os primeiros contos foram feitos para os adultos, com intuito de registrar suas histórias, que com o tempo foram sendo modificadas. Relatou-se que algumas narrativas traziam em suas entrelinhas tragédias, como corte de pés, até mutilações de corpos, destacando-se que estas histórias faziam parte das primeiras versões registradas.10 A partir dessas explanações os educandos demostraram um sentimento de surpresa, e foi através disso que foram convidados a ouvirem uma versão da história de “Chapeuzinho Vermelho” publicado para as crianças, evidenciando o ponto em 10 Fonte: BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Tradução de Arlene Caetano. São Paulo: Paz e Terra, 2007. 21ª edição revista. 36 que o lobo mau engana a menina. Após a contextualização da história, lançou-se uma discussão aos educandos em relação aos dias atuais, quem seriam os lobos maus de hoje? Será que as crianças são tão ingênuas como era a “Chapeuzinho Vermelho”? Esses questionamentos foram grandes propulsores para se abordar inúmeros assuntos nesta proposta, pois sentiu-se que quando se jogou a discussão para o dia-a-dia dos educandos, estes sentiram-se mais a vontade para relatar suas vivências. Com isso a discussão percorreu vários caminhos, e um deles que se destacou, foi quando Tânia relatou que os seus filhos do primeiro casamento moram com o pai, e que nenhum deles, sendo ainda adolescentes, continuaram seus estudos. Perguntou-se a ela, o porquê? E a mesma respondeu que eles não veem futuro nos estudos. Indagou-a sobre as opiniões dos seus filhos em relação a ela está dando continuidade a suas aprendizagens. Ela comentou que eles dizem que ela está perdendo seu tempo, e que seus filhos não são os únicos a falar isto, mas todos que a conhecem. Ela demostrou, porém, que está satisfeita com a educação, e quando é questionada sobre a continuidade, diz que gostaria de ingressar em uma faculdade. Tânia respondeu que, como trabalha de auxiliar de limpeza na Fundação de Educação Especial, gosta muito da área da educação, tendo vontade fazer uma faculdade de Pedagogia. Parabenizou-se a ela pelo desejo, e a incentivou-se a não dar ouvidos àqueles que não acreditam na educação, pois quem tem anseios vai além. A mesma agradeceu, e comenta que gostaria de se especializar na área da educação especial, pois como trabalha em uma instituição de educação, observa que eles são felizes mesmo com suas dificuldades. Relatou que quando começou neste serviço reclamava muito da vida, porém aprendeu com os mesmos que se deve dar valor a vida. Descreveu também o fato de gostar muito de idosos, pois trabalhou por algum tempo em um hospital, e adorava ajudar os idosos, mesmo não sendo sua função, gostava de parar para dar comida a eles. Concluiu sua fala relatando que está em dúvida entre a área da educação e a da saúde, deixando bem claro que vai romper com as barreiras que existem entre 37 sua família, e vai conquistar seu desejo. A discussão cessou com a chegada do intervalo. Após o intervalo retornou-se a proposição, registrando no quadro um questionamento, que uniu a história com as discussões feitas em sala, referindo-se ao porquê de atualmente existir tanta maldade e violência. A partir desta questão, fez-se um diálogo com os educandos com o intuito de construir-se uma resposta coletivamente e foi extremante importante esta discussão porque todos contribuíram com sua opinião. Chegando-se a conclusão de que existe tanta violência e maldade nos dias de hoje, por conta da falta de amor e respeito entre os sujeitos, tanto na família, quanto na sociedade. Levantou-se também uma dúvida em relação ao porquê dos lobos maus de hoje em dia agirem de maneira tão violenta, será que eles sofreram maus-tratos em suas infâncias? Se deixou esse questionamento no ar, para que cada um refletisse individualmente. E, por fim, o grupo chegou à conclusão de que os lobos maus de hoje em dia são os assassinos, os bandidos, os estupradores, e todos aqueles que fazem maldade com um sujeito independente da idade. Neste momento Tânia trouxe um relato de sua vida, comentando que há pouco tempo morava em uma comunidade menos favorecida, e que trabalhava com venda de passes juntamente com sua atual marido. Sendo assim, todo início de mês eles recebiam uma boa quantia de dinheiro com a venda dos passes. Um dia, um assaltante ficou a noite toda esperando que eles saíssem da casa, segundo o relato de amigos, para assaltá-los. Quando seu marido saiu na porta de casa, e ela voltou para a cama, ouviu um barulho, e rapidamente a voz do cônjuge pedindo que abrisse a porta. Foi quando a abriu, e viu que seu marido tinha levado um tiro, relatando assim que como a vida de uma pessoa honesta nos dias de hoje está difícil, pois ela e o marido tiveram tanto perdas pessoais como financeiras, e com o bandido não aconteceu nada, nem foi preso, porque não foi pego em flagrante. Encerrou-se a primeira preposição, mostrando que os contos de fadas também fazem parte do cotidiano adulto, e que, ao refletir-se acerca de suas temáticas, eles podem torna-se um grande mediador no processo de ensinoaprendizagem, conscientizando os educandos a se tornarem seres críticos. 38 Como o intuito era resgatar os contos de fadas, e por meio deles fazer uma reflexão crítica reportando-se ao cotidiano dos educandos, pensou-se em levar, na segunda proposição, o conto de fadas “Cinderela”, que aborda várias temáticas sociais. Como se aprendeu durante o percurso acadêmico, o educador, primeiramente, deve instigar e propiciar aos educandos um momento de explanação de seus conhecimentos. E foi dessa forma que se principiou a proposição do dia. Perguntou-se aos educandos se já tinham ouvido falar deste conto de fadas, e obteve-se como resposta, que “sim”, porém, não sabiam ao certo associar o nome do conto como o objetivo da história. Desta forma, apresentou-se oralmente uma versão dos Irmãos Grimm do conto “Cinderela”, que traz em suas entrelinhas outro estilo de história de uma forma mais “agressiva”, diferente daquele que é conhecido atualmente. Após a exposição da história, os educandos comentaram que realmente não tinham ideia de que existiam outras versões do mesmo conto, ficando surpresos com o estilo desta história. Diante disto, abriu-se uma discussão sobre o conto, questionando-os acerca da proximidade desta história com a sociedade atual, bem como, acerca de que elementos poder-se-ia elencar da narrativa que dialogassem com nosso contexto sócio-cultural. O diálogo foi extremamente relevante para a pesquisa, pois se conseguiu pontuar algumas questões que estão fortemente envolvidas no processo de construção do caráter do sujeito. Tais como os fatores negativos que influenciam nesta construção, a ganância, a falsidade, o tráfico de órgãos, o desrespeito na família; temas estes encontrados na história e abordados em sala. Cristiano relatou que mora com os pais e que tem muito respeito pelos mesmos, deixando claro que os outros irmãos não têm a mesma visão que ele, aparecendo somente em épocas de festas. Declarou sua crítica em relação ao desrespeito que existe atualmente entre pais e filhos, que se vê diariamente nos noticiários uns matando aos outros, seja por dinheiro ou por ganância. Partindo deste relato, chegou-se a um questionamento referente aos descasos existente em alguns processos de adoções, nos quais muitas famílias 39 acabam por perfilhar crianças e adolescente para abusá-los tanto sexual quanto fisicamente, lhes expondo a maus-tratos. Não se pode julgar se estes descasos são específicos de famílias com filhos adotivos, pois há casos de pais, independente da classe social, que vendem seus filhos para o tráfico de órgãos. Quando se abordou essa questão, os educandos não tinham noção do que se referia este tráfico, e quando foi exposto a eles, ficaram estagnados, não acreditaram que existam sujeitos capazes de tanta crueldade. Foi desse modo que se fechou a discussão do dia, mostrando aos educandos que os contos de fadas, apesar de serem visto por muitas pessoas somente como literatura infantil, tem muito a acrescentar nos aprendizados dos sujeitos independente da idade. Vale ressaltar alguns questionamentos: os contos, que foram elaborados há muitos anos, retratam conflitos sociais e familiares a partir de uma realidade concreta? Tais acontecimentos também se passavam naquele período? No último dia de proposição, resolveu-se abordar o conto de fadas “João e o Pé de Feijão”, com o intuito de resgatar esta narrativa para que assim se pudesse relacionar com a realidade dos educandos. Iniciou-se a proposta do dia, convidando os educandos a comentar seus conhecimentos em relação à história, obtendo como resposta que não se recordavam ao certo do que se tratava o conteúdo do conto. Com isso, convidou-se os educandos a apresentarem o conto do dia, por meio de uma leitura em voz alta, por ser uma turma pequena e tímida, buscou-se dessa forma aproximar os educandos das estagiárias, a fim de romper as barreiras de inseguranças dos mesmos em relação a quem vem ensinar e aprender junto com eles. A proposta foi aceita pelos educandos e, dessa maneira começou-se a explanação da história, percebeu-se que no decorrer da leitura os educandos estavam mais confiantes e demonstravam maior interesse pela história. Dessa maneira, notou-se o quanto é importante o educador estar atento aos indícios dos educandos, para que a qualquer momento possa reverter seu planejamento, a fim de proporcionar uma relação de troca entre educador/educando. Dando sequencia a proposta, procurou-se realizar um diálogo sobre o quê o conto trazia em seu contexto que pudéssemos nos reportar à atualidade. 40 E o grupo chegou à conclusão de que o conto aborda a questão do consumo descontrolado, que o personagem da história compra os objetos sem se preocupar com seu real problema, que é falta de comida. Neste momento Tânia relata que antigamente era extremamente consumista, não podendo passar um dia sem comprar um sapato ou uma roupa, e na maioria das vezes, nem utilizava o objeto adquirido. O que a deixava feliz era fazer inúmeras compras, para pelo menos dizer possuía algo, mesmo que fosse para ficar dentro do guarda- roupas. Comentou-se aos educandos que muitas pessoas ficam com dívidas por anos por conta desse exagero na compra de produtos que não são utilizados, algumas pessoas chegam a passar fome para adquirir uma vestimenta. E ao se dialogar com os educandos, percebeu-se que este consumo incontrolável tende a prejudicar o sujeito, obviamente que todos às vezes fogem um pouco do controle com seus gastos, mas não pode ser algo constante, pois, diferentemente da história, não se tem atualmente um pé de feijão para salvar. Diante desta discussão, propor-se aos educandos algumas situaçõesproblema, relacionadas ao consumo diário, tais como: as compra em supermercados, lojas, entre outros. Tendo como intuito conscientizar os educandos da necessidade de controlarem seus gastos e investirem em algo que desse maior retorno, não esquecendo que a vida não é apenas trabalhar, havendo necessidade de que se tenha momentos de diversão, mas sempre com planejamento. Dessa forma encerrou-se a terceira proposição, deixando o grupo de estágio satisfeito com a proposta de trabalhar as disciplinas através dos contos de fadas, rompendo com a visão de que estas histórias fazem parte apenas do cotidiano infantil. 5.2 OLHAR INVESTIGATIVO E PROPOSIÇÕES REVELADORAS: ANÁLISES DAS DISCUSSÕES ACERCA DOS CONTOS DE FADAS NUMA TURMA DE ALFABETIZAÇÃO DA EJA A partir da construção das observações e das proposições, pensou-se de que forma seria realizada a análise da pesquisa desenvolvida com a turma. Depois de muito se pensar, chegou-se à conclusão de que para a elaboração de um conto de 41 fadas, precisa-se de alguns requisitos primordiais, tais como: os personagens, o contexto em que se passa a trama e o conteúdo que aborda. As análises desta pesquisa, portanto, não poderiam ser diferentes da construção de um conto de fadas, pois os educandos foram de extrema relevância, bem como a instituição e os conteúdos que foram abordados nas proposições como forma de aquisição de conhecimentos. Partindo-se destes princípios serão descritas as análises a fim de confirmar a importância da ludicidade, bem como os contos de fadas para o contexto escolar, especificamente a maneira como tal conteúdo foi abordado nesta pesquisa, pensando-se uma didática para a Educação de Jovens e Adultos. 5.2.1 Quem são os “personagens” da turma de alfabetização da EJA da Escola Básica Municipal Docilício Vieira da Luz? Durante o processo de construção da pesquisa, buscou-se interagir com a turma pesquisada no intuito de conhecer os “personagens” principais desta análise, bem como suas particularidades e seus objetivos na Educação de Jovens e Adultos. Sendo assim, as observações e as proposições foram extremamente relevantes para a aquisição destes elementos primordiais a confirmação da temática. A possibilidade de ter contato com as histórias de vida destes sujeitos serviu como um fator beneficiador para a compreensão de suas dificuldades pessoais e da maneira como suas aprendizagens se desenvolvem. Estes sujeitos deixam bastante claro em suas explanações os inúmeros contratempos que precisam enfrentar ao voltar a uma instituição de ensino. Ressaltando que em suas vivências encontram alguns pontos de desigualdade existentes na sociedade atual, tais como: o preconceito, a exclusão do mercado devido a não posse de um diploma e o próprio descrédito dos seus familiares em relação à Educação de Jovens e Adultos. Pode-se notar a falta de um desses elementos citados na fala da educanda Tânia, a qual afirma que: [...] as opiniões dos seus filhos em relação a ela estar dando continuidade a 42 suas aprendizagens. Comentou assim, que eles dizem que ela está só perdendo seu tempo ali, e que seus filhos não são os únicos a falar isto, mas sim todos que a conhecem. (Diário de Campo, Proposição). Vale ressaltar que, inicialmente, houve uma dificuldade em interagir com os educandos, pois demonstravam insegurança em expor suas trajetórias de vida, bem como, seus conhecimentos. Com o passar do tempo, entretanto, foram confidenciando que alguns fatores, como os apontados anteriormente, acabaram por influenciar em suas posturas na sala de aula, porque não estão acostumados a expor suas opiniões. Os mesmos relatam que na infância, não tinham este tipo de diálogo em sala de aula. De acordo com Laffin (2011, p. 251) isso acontece por que: Os estudantes da EJA em sua maioria vivenciam cotidianamente desigualdades sociais e raciais perante o mundo, no qual se inclui a escola, que também é desigual, o que não pode traduzir-se num determinismo causal de condições de sucesso na escola, e, no caso da EJA, não pode significar uma fragilização e aligeiramento da escolarização na relação com o saber científico, com o conhecimento. Desta forma, procurou-se planejar proposições que pudessem proporcionar momentos de reflexão por parte dos educandos, com objetivo de valorizar seus conhecimentos e de romper com suas aversões em relação ao processo de ensinoaprendizagem. Isso porque, segundo Schmitt (2010, p.27) Os primeiros dias de aula são de grande importância para “quebrar” as possíveis resistências e começar a construção de uma relação de confiança. São, também, momentos propícios para, por exemplo, conhecer o grupo quanto às experiências escolares já vividas; as profissões que, atualmente, desempenham ou a forma como ganham a vida; as cidades de origem; os grupos familiares e as expectativas em relação ao futuro. No decorrer da realização das propostas, foi possível ver a mudança de comportamento dos educandos perante a presença da pesquisadora, ficando mais seguros em perguntar, em opinar e discutir sobre os assuntos apresentados. O intuito destas propostas, portanto, era poder conhecer o cotidiano dos educandos para que se pudesse transportar suas histórias de vida para os contos de fadas, como forma de refletir sobre os mesmos. Em uma dessas explanações os educandos revelam suas complicações em 43 ter que trabalhar durante o dia inteiro em serviços braçais, ter que cuidar do lar, da família e ter que conciliar isso tudo com as aulas na EJA. Com isso, salientam que o cansaço físico que sentem no período noturno, horário destinado para as aulas de EJA desta instituição pesquisada, faz com que não consigam se dedicar plenamente aos estudos e como também não possuem horários livres para tal atividade, os estudos ficam reservados somente para o momento de realização de suas atividades escolares, na instituição. Como apresenta Laffin (2011, p.260) Uma das particularidades do trabalho da EJA que emerge nos dados é uma flexibilidade que se constrói em termos de organização metodológica e curricular, possibilitando lidar com os diferentes ritmos de aprendizagem e com as diferenças de apropriação do conhecimento. Assim, ao longo da permanência em sala de aula com esses sujeitos, pode-se conhecer as especificidades do grupo, bem como as particularidades existentes nesta modalidade de ensino, que é a EJA. Ficando notória a necessidade de uma flexibilidade nos currículos da modalidade, favorecendo assim uma melhor adesão dos educandos ao programa. Estes reconhecimentos das singularidades dos sujeitos da turma foram favoráveis para a compreensão dos níveis de alfabetização que se encontram atualmente, revelando que há três tipos distintos de aquisição de escrita e de leitura no grupo. Podemos notar que há diferentes níveis de aprendizagem na turma, sendo assim, há educandos que se encontram no início da alfabetização, começando a conhecer as letras e compreender seus significados. A partir destas pontuações, um fato chamou bastante a atenção, pois há uma educanda já alfabetizada na turma e como o grupo se identifica como Alfabetização de Jovens e Adultos, ficou a indagação. Buscou-se na instituição entender como se dá o processo de regulamentação da EJA, para compreender melhor a situação desta educanda. Obtendo-se como resposta, que infelizmente não há uma turma que dê sequencia a alfabetização na instituição, havendo um salto para o quinto ano, devido à falta de educandos interessados neste ano. Desta forma, orientou-se a educanda a ir para outra instituição da região que ofereça a continuidade nos seus estudos, 44 mas a educanda comentou que não tem condições financeiras para se locomover a outra instituição, que necessita de um meio de transporte, pois fica longe de sua moradia, e continua relatando que não se sente segura para passar para uma turma adiante. Partindo destas respostas, procurou-se trazer para as proposições momentos que fizessem com que os educandos refletissem acerca da importância de dar continuidade aos seus estudos, sendo um fator beneficiador para suas vidas. E com o passar do desenvolvimento da pesquisa, pode-se perceber uma postura diferenciada na fala da educanda, reconhecendo o valor da educação. Tendo outro ponto de vista em relação aos desafios de dar continuidade aos seus estudos, percebendo que pode ir além. Na narrativa da aluna fica explícito a importância de estudar: Tânia responde que como trabalha de auxiliar de limpeza na Fundação de Educação Especial, gosta muito da área da educação, tendo vontade de fazer uma faculdade de Pedagogia. [...] Concluiu sua fala, dizendo que está em dúvida entre a área da educação e a da saúde, deixando bem claro que vai romper com essas barreiras que existem entre sua família, e vai conquistar seu desejo. (Diário de Campo, Proposição). Ficou evidente nesta fala a necessidade de que se aborde um assunto do cotidiano, fazendo com que os educandos reflitam acerca de seus entendimentos, pois, este momento só veio a se confirmar a partir de uma discussão de um assunto corriqueiro transferido de um dos contos de fadas, que proporcionou a ampliação dos conhecimentos e enriqueceu a discussão. Desta forma, observou-se que a metodologia de se conhecer a realidade dos educandos, para que depois se pudesse selecionar os contos de fadas de acordo com a necessidade de abordar alguns assuntos referentes à saúde, e desenvolvimento pessoal, entre outros, é uma maneira efetiva de aproximar educação e cotidiano, principalmente quando se trata de adultos. Obteve-se, de modo geral, dos educandos da turma, que as dificuldades do dia-a-dia atrapalham na presença em sala de aula, pois como anteriormente, existem alguns fatores que predominam no momento de decisão de ir para a instituição. Estas dificuldades são suficientes para a evasão dos educandos da escola, principalmente os da EJA. Outro temor dos educandos é a disciplina de matemática, sendo 45 convencionada pelos estudantes como uma matéria difícil de compreender. Este temor era compartilhado pelos educandos da turma de Alfabetização, pois estes também não gostavam da aula quando se tratava da matemática. Uma educanda, quando sabia ou desconfiava que na próxima aula teria algo que envolve-se esta disciplina, não comparecia na escola, deixando claro que não gostava de matemática, que esta lhe causava pavor. Por isso, buscou-se trazer em uma das propostas a disciplina de matemática, porém, anteriormente contextualizada, partindo de uma discussão de um dos contos de fadas que se referia ao exagero no consumo diário. Desta forma, levou-se para os educandos situações-problema do seu dia-a-dia, tais como: a ida ao supermercado, a realização de compras em lojas, entre outros, envolvendo a matemática sem que se precisasse comentar que se estava trabalhando com tal disciplina. Ao proporem-se estas situações, notou-se que os educandos sentiram-se mais a vontade com a matemática e observaram a necessidade de controlar seus gastos. Tornando assim a atividade significante, pois não envolveu somente a matemática, mas toda uma discussão que se fez entorno da realidade da população atual, trabalhando com o contexto dos educandos. De acordo Schmitt (2010, p. 69) O grande desafio é romper com os limites que restringem a atividade escolar à mera repetição de conteúdos. Procurar a formulação de propostas que integram os conteúdos das diferentes disciplinas, diferentes abordagens na explicação da realidade presente interna e externamente à escola configura-se como o maior desafio a ser enfrentado. Nestes momentos, nos quais se trazia propostas para que os educandos trabalhassem conjuntamente, era perceptível que não se sentiam a vontade em interagir em grupo, demonstrando que gostavam mais de responder individualmente em seus cadernos. Ao longo das atividades, que sempre tinham como proposta inicialmente discutir os contos de fadas em grupo, foi se percebendo que começaram a ter confiança de expor suas opiniões em sala e de fazer a troca de conhecimento entre si e com a proponente. Enfim, conhecer e compreender as histórias destes sujeitos participantes da modalidade da EJA foi extremamente relevante para aquisição de conhecimentos e 46 experiências que abrangeu todos os itens aprendidos durante o percurso acadêmico. Tais como as dificuldades diárias, a flexibilidade no currículo e no horário, os desníveis de aprendizagens, que somados tornam-se um desafio para o educador, porém, deve-se ter um olhar diferenciado para estes sujeitos que procuram na EJA romper com as desigualdades existentes na sociedade, como forma de melhorar sua qualidade de vida. Portanto, trazer as reflexões dos contos para este contexto escolar foi desafiador diante das dificuldades apresentadas pelos educandos, principalmente a insegurança de comentar suas opiniões, entretanto notou-se a quebra de visões enraizadas sobre a utilização de propostas semelhantes a esta na EJA. 5.2.2 A instituição como oportunizadora de práticas educativas envolvendo os contos de fadas Optou-se pela realização desta pesquisa em uma turma de Alfabetização da Educação de Jovens e Adultos da Rede Municipal de São José devido ao desafio da temática, bem como a possibilidade de unir o estágio curricular nesta modalidade com o Trabalho de Conclusão de Curso. Seguindo a atual estrutura curricular da universidade, o estágio na EJA é realizado na última fase do curso de Pedagogia, sendo assim, as aulas durante todo o percurso acadêmico são ministradas a noite, mesmo horário destinado às aulas desta modalidade de ensino, ficando inviável a conclusão da pesquisa em outro momento. Por isso, procurou-se concretizar o trabalho diante da oportunidade de fazer uma junção das disciplinas acadêmicas. Entretanto, devido ao pequeno número de pólos da EJA existentes na região de São José que aceitam a realização de estágios, sendo o município mais próximo da moradia dos educandos, ficou decidido pela universidade e pelas escolas conveniadas que o estágio nesta área seria realizada em trios, Consta no Referencial curricular da EJA do Município de São José (2008, p.10) que: Atualmente a Educação de Jovens e Adultos de São José está presente em 19 escolas da rede municipal, atendendo a alunos entre 15 e 70 anos, desde o nível da Escolarização Inicial (1º segmento), passando pelo II segmento do Ensino Fundamental até o Ensino Médio e pretende, a cada ano, ampliar a oferta para suprir a demanda existente no município, se assim for necessário. 47 Vale ressaltar, portanto, que o estágio desta disciplina acadêmica foi realizado em trio segundo a proposta da universidade, porém as percepções das observações, das proposições e das análises desta pesquisa foram feitas por mim, aprofundando as análises para a pesquisa de trabalho de conclusão de curso. Seguindo a explanação do estágio na Educação de Jovens e Adultos, será apresentado a seguir as observações e as relações constituídas entre acadêmica/ instituição, em especial com a coordenação e a educadora da modalidade. Observou-se que a instituição está organizada para acolher seus educandos, sendo constituída por espaços tranquilos, de interação harmoniosa entre educandos/coordenação e educadores. Segundo o Referencial curricular de EJA do município de São José (2008, p. 10) Vale destacar ainda que os cursos oferecidos no município são frequenciais com avaliação do processo, permitindo um acompanhamento maior dos alunos, como também uma participação maior dos mesmos no que se refere às atividades desenvolvidas no espaço escolar, propiciando uma interação entre os educandos de diversas faixas etárias. A procura por esta modalidade na instituição é significante por se tratar de um bairro consideravelmente pequeno. Há indícios de que alguns educandos que se inscreveram, até o momento não compareceram às salas de aulas, ou seja, as adesões na EJA hoje em dia ainda são inferiores às outras modalidades da educação, sendo causada devido à fatores socioeconômicos que influenciam no cotidiano desta faixa etária. Quando os educandos acabam por ingressar na EJA há um desafio para a instituição em envolver estes sujeitos com todas estas dificuldades em permanecer na escola que, antigamente, os excluiu do processo de ensino. Segundo o referencial curricular da EJA do município de São José (2008, p. 10) [...] a Secretaria Municipal da Educação, com o Setor Pedagógico, responsável pela Educação de Jovens e Adultos, orienta as equipes pedagógicas das escolas quanto à exceção do aluno trabalhador, o qual possui amparo legal no que diz respeito à frequência obrigatória, ou seja, se o educando comprovar que está trabalhando e que o turno de trabalho comprometerá a chegada no horário estabelecido pela escola, este será 48 devidamente orientado para que consiga acompanhar os conteúdos trabalhados em sala de aula e não seja prejudicado por causa disso. No momento, é oferecido, pela escola pesquisada, turmas de Educação de Jovens e Adultos da Alfabetização até o oitavo ano, havendo um rompimento de turma no quinto ano, pois, segundo a educadora da turma, não há pessoas matriculadas para este fase da EJA atualmente. O Referencial curricular da EJA do município de São José (2008, p. 13) aponta que: Para dar prosseguimento aos estudos dos educandos da escolarização inicial de Adultos é oferecido o segundo segmento do Ensino Fundamental a a – 5 a 8 série, cuja distribuição ficou caracterizada da seguinte maneira: a a primeira fase, referente a 5 série; segunda fase, referente a 6 série; a a terceira fase, referente a 7 série e quarta fase, referente a 8 série. Infelizmente, não se teve contato diretamente com as outras turmas, além da turma pesquisada, porém, pode se notar que a educadora planeja suas aulas através das dificuldades de aprendizagens dos educandos e por meio de dois livros didáticos especializados para a área. Desta forma, contempla as disciplinas de modo geral, trabalhando de forma a correlacionar todas em uma proposta. Segundo o Referencial curricular de EJA do município de São José ( 2008, p 11) A Alfabetização de Adultos no processo de escolarização inicial foi mais uma modalidade de ensino oferecida no município de São José e buscou contemplar aquelas pessoas que estavam há muito tempo afastadas da escola e que necessitavam da escolaridade mínima para garantir seus empregos e acompanhar seus filhos nas produções escolares. Ao longo do contato com a turma, pode-se elucidar alguns questionamentos em relação aos seus anseios com a Educação de Jovens e Adultos, obviamente que se sabe que o grupo é uma pequena parcela do grande número de educandos que existem atualmente na EJA. Mesmo assim, tinha-se como propósito conhecer um pouco de seus objetivos, para que se pudesse ver como se configura o perfil destes educandos. Inicialmente, relatam que por problemas pessoais na infância não tiveram a oportunidade de começar ou realizar seus estudos. E agora, adultos, procuram na 49 Educação de Jovens e Adultos, sanar alguns problemas sociais. Existem casos na turma de educandos que procuraram na Educação de Jovens e Adultos, uma forma de aprender os conteúdos necessários para retirar a carteira de habilitação e que foram gostando e permanecem até hoje no grupo. Portanto, segundo o Caderno de Educação de Jovens e Adultos (2008, p.29) [...] é um sujeito que busca respostas às contradições de uma sociedade capitalista marcada pela desigualdade, pela competição no mercado de trabalho, pelo surgimento das novas tecnologias que exigem o domínio de instrumentos da cultura letrada. Conhecer a instituição e os sujeitos da EJA foi relevante para a aquisição de embasamentos práticos, sendo suficientes para a adequação do tema e elaboração das propostas. Trazendo assim fontes essências para a ampliação das discussões acerca dos contos de fadas. 5.3 AS PROPOSTAS DOS CONTOS DE FADAS PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: “INFANTILIZAÇÃO” OU CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS? Ao se apresentar a proposta temática, surgiram várias inquietações quanto a possibilidade de concretizá-la, ou não, para a Educação de Jovens e Adultos. Muitas vezes ocorreram questionamentos por parte de colegas e docentes, de como seriam feitas as proposições sem que “infantilizasse” estes sujeitos da EJA. A ânsia de desmitificar os rótulos enraizados na EJA, que os tratam muitas vezes com certo desmérito, fez-se com que a pesquisa se tornasse mais desafiadora, ao ponto de se repensar algumas vezes se estava-se no caminho certo. Trazer para o contexto escolar da EJA reflexões a parti dos contos de fadas gerou muitos descréditos e é a partindo desse viés desafiador que se inicia a explanação deste subcapitulo. Inicialmente tinha-se em mente o seguinte questionamento: porquê de não propiciar estes momentos de reflexão para os educandos, principalmente para os da EJA? Depois, ao longo das interações com a turma, pode-se perceber que, os contos de fadas surgiram como forma dos adultos comprovarem suas histórias, no intuito de a passarem a diante. De acordo com Bettelheim (2007, p. 36 e 37) 50 Algumas histórias folclóricas e de fadas se desenvolveram a partir dos mitos; outras foram a eles incorporadas. Ambas as formas incorporam a experiência cumulativa de uma determinada sociedade, uma vez que os homens desejavam relembrar a sabedoria passada e transmiti-la às gerações futuras. Assim, com o contato com estas narrativas de diversas formas, por meio de livros, filmes, desenhos, propagandas, entre outros, foi possível inserir os contos de fadas na aprendizagem de jovens e adultos. Algo que é tão significante para a humanidade, pois permanece há anos em nossas gerações, não poderia deixar de ser um elemento formador na educação. As opções pelos contos que seriam discutidos em sala não foram escolhidos aleatoriamente, sem compreensão dos mesmos. Primeiramente, observou-se a turma para ver quais as dificuldades de aprendizagens, quais os temas que necessitavam ser abordados para sanar dúvidas. Chapeuzinho vermelho: análise com a turma Escolheu- se os contos que mais dialogavam com o perfil dos educandos, para que assim se pudesse fazer toda uma explanação em torno deles. O primeiro conto apresentado ao grupo foi a do Chapeuzinho Vermelho 11 tendo resistências por muitos uma vez que traz em seu título o diminutinho “inho”, remetendo-se a tal diminutivo, tende-se a questionar o que este pode agregar na aprendizagem dos educandos, em especial os da EJA. Sobre o conto Bettelheim, (2007, p. 236 e 237) destaca que: A ameaça de devoração é o tema central de “Chapeuzinho Vermelho” assim como de “João e Maria”. As mesmas constelações psicológicas básicas recorrentes no desenvolvimento de cada pessoa podem levar aos mais diversos destinos e personalidades humanas, dependendo de quais sejam as outras experiências do indivíduo e de como ele as interprete para si próprio. Do mesmo modo, um número limitado de temas básicos retratam, nas histórias de fadas, aspectos bastante diversos da experiência humana; tudo depende de como tal tema é elaborado e em que contexto os acontecimentos se dão. 11 ROSSI, Vera. História do Chapeuzinho Vermelho, Disponível em: <www.contandohistoria.com/chapeuzinhovermelho.htm> Acesso em: 04, out. 2011. 51 Antes de fazer uma discussão com os educandos acerca do que este conto aborda, perguntou-se quais eram os seus conhecimentos em relação aos contos de modo geral. Percebeu-se, que neste momento, os educandos demonstraram surpresa com a temática. Entretanto, buscou-se tranquilizá-los sobre a significância dos mesmos para o processo de construção de seus saberes, tendo em vista que estes contos surgiram dos adultos como mencionado anteriormente. Desta forma, propor-se revalidar a proposta de novamente trazer estes contos para o universo adulto, como forma de relacionar a realidade com a ficção, para retirar o que é essencial para reflexão dos educandos. Após esta introdução os educandos demonstraram interesse em conhecer estes contos, pois como foi relatado pelos mesmos, não haviam tido contato diretamente com estas narrativas em suas infâncias e nem nos dias de hoje. Almejando envolver os educandos nesta temática, como intuito de confirmar a sua relevância para a EJA, explanou-se oralmente o conto “Chapeuzinho Vermelho” para que os educandos tivessem proximidade com o tema proposto. Após esta exposição da temática e do conto, buscou-se valorizar os conhecimentos dos educandos, com um momento de “escuta” das suas opiniões em relação o que esta narrativa aborda e o que se poderia transpor para a realidade atual. Apesar de, inicialmente, tímidos acabaram por destacar vários assuntos deste conto, sendo estes discutidos em sala de aula com forma de refletir sobre estas questões que acontecem no cotidiano e que muitas vezes não se tem as informações necessárias para elucidar estas situações, portanto, os momentos de troca de conhecimentos que aconteceram nesta proposta foram relevantes para que cada um pudesse sanar suas dúvidas ou aprender com o conto apresentado. Um destes pontos que se destacou foi sobre a ideia de retirar o lobo mau da história e fazer uma discussão em relação a quem é ou são estes sujeitos hoje em dia. O grupo, ao dialogar, chegou à conclusão de que os “lobos maus” da atualidade estão disfarçados em nossa sociedade e são sujeitos capazes de fazer crueldades com outras pessoas, destacando o caso dos estupradores, dos assassinos e bandidos. Bettlheim (2007, p. 243) aborda uma concepção de lobo: O comportamento do lobo começa a fazer sentido na versão dos Irmãos 52 Grimm se admitirmos que, para apanhar Chapeuzinho Vermelho, o lobo teria que primeiro dar fim à avó. Enquanto a mãe (avó) estiver por perto, Chapeuzinho Vermelho não será dele. A turma escolheu analisar a fundo a personalidade destes sujeitos olhando pelas duas óticas, ou seja, pensou-se na vítima e no agressor. Salientando que, talvez, os agressores de hoje, também foram às vítimas do passado, obviamente que não justificando seus comportamentos agressivos, porém pondo-se em discussão essa possibilidade como influenciadora de seus comportamentos. Depois de realizarem todas estas discussões acerca do conto de fadas apresentado, foi proposto para os educandos que transferissem suas opiniões orais para a escrita, ou seja, explanar o porquê de tanta maldade no mundo atual. Ficando sugerido pelo grupo que atualmente existe tanta crueldade na sociedade, pois falta amor no coração das pessoas e respeito em família. Desta forma, pode-se perceber que os educandos compreenderam a dinâmica do trabalho, pois conseguiram trazer o conto para a realidade e fazer suas argumentações acerca do mesmo, tendo um momento para passarem suas percepções para o caderno. Cinderela: análise com a turma Dando sequência às análises de como o conto pode ser um elemento de construção ou aperfeiçoamento de conhecimento na EJA, apresentou-se a segunda proposição, que tinha como intuito abordar o conto da “Cinderela12”, que carrega em sua essência as consequências de ser ganancioso. De acordo com Bettlheim (2007, p. 325) Ao que todos dizem, “Cinderela” é o conto de fadas mais conhecido, e provavelmente também mais apreciado. É um conto bastante antigo; ao ser registrado na China durante o século IX d.C., já possuía uma história. O incomparavelmente minúsculo tamanho do pé como um sinal de virtude, destinção e beleza extraordinária, assim como o sapatinho feito de material precioso, são facetas que indicam uma origem oriental, se bem que não necessariamente chinesa. 12 Grixx. História da Cinderela: versão dos Irmãos Grimm Disponível em: <http://folkstories.blogspot.com/2005/07/cinderella-verso-dos-irmos-grimm.html>. Acesso em: 01 out. 2011. 53 Procurou-se, inicialmente, perguntar aos educandos seus conhecimentos sobre o conto apresentado, para que dessa forma se pudesse conhecer quais eram os seus saberes em relação a esta narrativa e assim trazer o conto para a sala de aula. Como desta vez os educandos demostraram conhecer o conto, porém não lembravam ao certo o desenrolar da história, apresentou-se uma breve explanação para reavivar suas memórias. Isso é importante porque, muitos deles, mesmo ouvindo falar do conto, não tiveram na infância a possibilidade de ouvir esses contos. Esta apresentação inicial se fez necessária para compreender o nível de conhecimento dos educandos acerca da temática e como este conto, em especial, trazia situações de injustiças feitas pelos personagens da história. Questionou-se bastante como uma parte da humanidade almeja seus sonhos utilizando outras pessoas como “escada”, esta característica se configura como falsidade, ganância, desrespeito entre outras posturas, e o que chama mais atenção nestas situações, é que não são realizadas somente entre pessoas desconhecidas, mas também com pessoas próximas. O grupo deixou claro suas manifestações contra todas estas posturas que tendem a prejudicar as pessoas, salientando que, apesar das dificuldades que encontram no dia- a- dia, buscam sempre respeitar o próximo, independente de raça, cor ou gênero. O objetivo de trabalhar os contos de fadas, não ficou somente restrito em fazer estas discussões que foram significativas, mas também, trazer atividades que se relacionassem aos mesmos em diálogo com outras disciplinas, tais com: a literatura, a escrita e o raciocínio matemático; para assim aprimorar a aprendizagem dos educandos, através de caça-palavras, de situações-problemas, entre outros. Vendo que, estes pontos, fazem-se necessários para a continuidade da construção de conhecimentos dos educandos no processo de reflexão sobre os contos e possibilita trabalhar com as dificuldades apresentadas pelos mesmos. Nesta proposta, buscou-se trabalhar com a literatura e com a escrita a partir das temáticas discutidas em sala, elencando-se as palavras que foram mais significativas nos diálogos e trabalhando com a proposta de construção de novas palavras a partir das mesmas. 54 Desta forma, possibilitaram-se reflexões e, por meio delas trabalhou-se com o desenvolvimento da aprendizagem dos educandos, tornando-se necessária a junção do diálogo teórico com a prática. João e o pé de feijão: análise com a turma Nesta terceira proposta, apresentou-se o conto “João e Pé de Feijão13” para o grupo, porém, como nas proposições anteriores, fazia-se oralmente a explanação do conto, neste dia, procurou-se convidar os educandos para que fizessem uma leitura oralmente do mesmo, como se tratava de um conto pequeno, tinha-se esta possibilidade. Observou-se que a mudança da proposta inicial foi extremamente positiva, pois os educandos demonstraram-se satisfeitos em fazer parte da atividade e, com isso, trabalhou-se o desenvolvimento da leitura. Depois da explanação da história, a turma chegou à conclusão de que o conto poderia ser relacionado com o consumismo exagerado da sociedade atual, na qual se tem a preocupação de gastar dinheiro demasiadamente. Segundo Bettlheim (2007, p. 255) Os contos de fadas lidam sob forma literária com os problemas básicos da vida, particularmente os inerentes à luta para adquirir maturidade. Previnem contra as consequências destrutivas caso não se consiga desenvolver admonitórios com os irmãos mais velhos em “As Três Penas”, as irmãs de criação em “Cinderela” e o lobo em “Chapeuzinho Vermelho”. Observa-se que, este fator é um ponto negativo para a condição de vida da humanidade, tendo relato em sala de uma educanda que se encaixava nesta característica anteriormente citada. E que, a partir da discussão, sentiu a importância de controlar seus gastos, adquirindo somente as coisas necessárias para manter uma vida saudável. 13 Autor desconhecido. História do João e o pé de feijão. Disponível em: <www.historiasinfantis.eu/joao-e-o-pe-de-feijao/> Acesso em: 05, out. 2011. 55 Como o conto abordava esta questão que é tão atual, procurou-se trabalhar com o raciocínio matemático contemplando situações do cotidiano, com o objetivo de correlacionar a história com a disciplina de matemática e com as discussões feitas em sala. O relato dos contos permitiu ampliar as noções que os educandos da EJA possuíam sobre a relação entre teoria e prática, permitindo que fizessem correlações entre o que se lê em sala e sua vivência. Mesmo que diretamente os contos não falassem sobre suas vidas, eles conseguiram relacionar, o que, entendeu-se que se deu pela metodologia que foi utilizada, não ficando somente na leitura dos contos, mas permitindo, através do uso de outros recursos e discussões, que os educandos conseguissem transpor o conhecimento para suas vidas. 56 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao repensar as didáticas apresentadas em sala de aula, principalmente para a Educação de Jovens e Adultos, pensa-se notória a contribuição dos contos de fadas para esta modalidade de educação, uma vez que, na pesquisa abordou-se diversas temáticas sociais importantes para os jovens e adultos, fazendo-os pôr em discussão, conhecer e compreender aspectos da vida social. Tendo alcançado os objetivos da pesquisa que era analisar as contribuições dos contos de fadas para a EJA. Segundo as minhas percepções, a realização da pesquisa foi extremamente importante para a construção de conhecimento tanto de forma pessoal quanto acadêmica, pois consegui romper com as barreiras da incerteza da qualificação da temática e acreditar que minhas intuições tinham uma lógica. Alguns pontos foram significativos na construção do trabalho: primeiramente poder ver de perto a transformação dos educandos, tanto em questões pessoais quantos de aprendizagem, através de uma temática que incialmente era só uma proposta, mas que se confirmou com a satisfação dos educandos; depois ver que as temáticas e os contos foram relevantes para os educandos e que puderam confirmar que o importante não é simplesmente o conteúdo, mas a forma como ele é apresentado. Obviamente que, em toda caminhada na vida há dificuldades e esta não seria diferente, por isso, ao longo da pesquisa, teve-se problemas em encontrar referenciais teóricos que contribuíssem para a mesma. A timidez dos educandos inicialmente também foi um fator preocupante para a realização das proposições. Entretanto, estas complicações foram encaradas como desafios a serem superados, tendo em mente que, quando almejamos muito alguma coisa e corremos atrás para concretizá-los, colhemos bons frutos e se não conseguimos colher, é porque ainda não chegou ao final. Trabalhar com os contos de fada numa turma de adultos foi um desafio, prazeroso e instigante, pois era preciso inserir os contos de uma maneira que fosse importante para os educandos em seu processo de aprendizagem, mas que ao mesmo tempo permitisse que usassem sua imaginação, que falassem de seus sonhos, de suas vidas. Neste processo pude, conhecer as histórias dos educandos, suas 57 dificuldades, os anseios, os medos, a relação com a escola. O que só foi possível através dos relatos dos contos, que permitiu que os educandos expusessem suas concepções. E pode-se dizer que esta pesquisa, teve bons frutos, pois desmitificou algumas concepções sobre o uso dos contos na EJA, permitindo reavaliar a utilização de alguns temas em tais instituições. Essas estão cheias de rótulos, de métodos padronizados e de metodologias extremamente estigmatizadas. Os próprios educandos trouxeram as contribuições para a discussão sobre o conto, o que permitiu que fizessem as interelações com o saber produzido em sala de aula e com vivência. 58 REFERÊNCIAS AUTOR DESCONHECIDO. História do João e o pé de feijão. Disponível em: <www.historiasinfantis.eu/joao-e-o-pe-de-feijao/> Acesso em: 05 out.2011. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Paulo Freire, o menino que lia o mundo: uma história de pessoas, de letras e palavras. Participação Ana Maria Araújo Freire. São Paulo: Editora UNESP, 2005 il. (Série Paulo Freire) Disponível em: <http://books.google.com.br/books?id=S3XKSGxpvfoC&printsec=frontcover&dq=pau lo+freire&hl=ptBR&ei=5VybTqnwIYXz0gHWi93cBA&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=6&ve d=0CEoQ6AEwBTgK#v=onepage&q&f=false> Acesso em: 15 out. 2011. BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Tradução de Arlene Caetano. 21ª edição revista. São Paulo: Paz e Terra, 2007. CEI SÃO LUIZ. Projeto Político Pedagógico. 2009, s.p. DEBUS, Eliane. Festaria de brincança: a leitura literária na Educação Infantil. São Paulo: Paulus, 2006. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. – 5ª ed. – 8ª reimpr. – São Paulo: Atlas, 2007. GRIXX. História da Cinderela: versão dos Irmãos Grimm. Disponível em: <http://folkstories.blogspot.com/2005/07/cinderella-verso-dos-irmos-grimm.html>. Acesso em: 01 out. 2011. LAFFIN, Maira Hermínia Lages Fernandes. Educação de jovens e adultos e educação na diversidade. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2011. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos – 7ª ed. – 4ª reimpr. – São Paulo: Atlas, 2009. MEREGE, Ana Lúcia. Os contos de fadas: origens, histórias e permanência no mundo moderno. São Paulo: Claridade, 2010. 59 OLIVEIRA, Cristiane Madanêlo de. Charles Perrault (1628-1703). Disponível em: <http://www.graudez.com.br/litinf/autores/perrault/perrault.htm>. Acesso em: 08 out. 2011 a. OLIVEIRA, Cristiane Madanêlo de. Irmãos Grimm: Jacob e Wilheim (entre 1975 e 1863). Disponível em: <http://www.graudez.com.br/litinf/autores/grimm/grimm.htm>. Acesso em: 09 out. 2011b. OSTETTO, Luciana Esmeralda. Educação Infantil: Saberes e fazeres da formação de professores. Campinas, SP: Papirus, 2008. (Coleção Alegre). Disponível em: <http://books.google.com.br/books> Acesso em: 05 nov. 2011. SÃO JOSÉ. Caderno da Educação de Jovens e Adultos. Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Setor Pedagógico, 2008. SCHMITT, Jaqueline Zarbato. Propostas pedagógicas e metodológicas para educação de jovens e adultos: livro didático. Palhoça: Unisul Virtual, 2010. ROSCHEL, Renato. Bancos de Dados Folha: Monteiro Lobato. Disponível em: <http://almanaque.folha.uol.com.br/monteirolobato.htm > Acesso em: 09 out. 2011. ROSSI, Vera. História do Chapeuzinho Vermelho, Disponível em: <www.contandohistoria.com/chapeuzinhovermelho.htm> Acesso em: 04 out. 2011. 60 APÊNDICE Planos de Aula e Os Contos Trabalhados 14 14 Como o estágio na Educação de Jovens e Adultos é realizado em trios por falta de pólos, os planos de aulas foram elaborados por: Camila Teixeira, Laiana A.Pedroso e Tatiane C. dos Santos. Cabe ressaltar que as análises da pesquisa foram realizadas individualmente. 61 PLANO DE AULA N° 1 Instituição: CEM SÃO LUIZ Turma: Alfabetização Turno: Noturno N° de alunos: 5 Dados de Identificação Duração da aula: 19h00min ás 21h00min Data: 11/10/2011 Acadêmicas: Camila Teixeira, Laiana A.Pedroso Tatiane C. dos Santos Conhecer o conto de fada, levando em conta a sua Objetivo geral relação com a sociedade atual. Objetivos específicos Conteúdo Estratégias Recursos Avaliação Critérios de Avaliação Referências Discutir sobre a história contada, fazendo uma ponte com a realidade. Refletir sobre a temática apresentada, através dos questionamentos proposto. Primeiro Momento: Apresentação de algumas versões de “Lobo mal”, “Chapeuzinho Vermelho” de forma oral. Segundo Momento: Discussão sobre as questões de valores que estão embutidas na história. Pontos na história que relembram a vida na nossa sociedade: pessoas de má índole, crianças ingênuas, a importância da conversa com os filhos e criança sobre a realidade social. Terceiro Momento: Perguntas referentes à história destacando os pontos de maior significado. Questionamentos e as respostas transcritas no quadro: construção coletiva; reflexão para relacionar a história contada para a nossa realidade - quem poderia ser o “lobo mal”, nos dias de hoje? Chapeuzinho Vermelho relação com crianças que mentem para os pais? Aula expositiva-dialogada Quadro Giz de quadro Histórias Os educandos serão avaliados diante da participação nas atividades propostas. Participação ROSSI, Vera. História do Chapeuzinho Vermelho, Disponível em: <www.contandohistoria.com/chapeuzinhovermelho.htm > Acesso em: 04 out. 2011. 62 HISTÓRIA: Chapeuzinho Vermelho (Vera Rossi) Era uma vez [...] uma menina que morava com sua mãe numa casinha, perto de um bosque. Chapeuzinho Vermelho era o seu nome porque sempre usava uma capa e chapéu vermelhos. Um dia, sua mãe fez deliciosos doces e os colocou dentro de uma cestinha. Minha filha,vá levar estes doces para a vovó. Mas tome cuidado, não para pelo caminho, nem fale com nenhum estranho. - Está bem, mamãe. Ao atravessar o bosque, encontrou um lobo que lhe perguntou: - Aonde vai, menina? - Minha avó está adoentada, vou levar estes doces para ela. - Oh! Coitada, disse o lobo. - Leve também estas flores. Deu um maço de flores a Chapeuzinho Vermelho, que agradeceu e seguiu caminho. O lobo chegou primeiro à casa da vovó. Fingindo ser a netinha, bateu na porta e foi recebido. Entrou no quarto engoliu a vovó, vestiu suas roupas e deitou em sua cama. Em seguida, chegou Chapeuzinho Vermelho. A menina entrou e, ao ver a vovó deitada, exclamou: - Que orelhas e olhos grandes! E o lobo respondeu: - São para te ouvir e ver melhor. - E essa boca enorme?- É para te engolir melhor, gritou o lobo, pulando da cama para agarrá-la. Mas a menina foi mais rápida, saltou pela janela e desapareceu na floresta. Logo adiante, encontrou um lenhador a quem pediu ajuda. O lenhador entrou na casa da vovó e lutou muito com o lobo malvado. Abriu-lhe a barriga com o machado e salvou a vovó que saiu de lá assustada. O susto tinha passado e os três juntos, o lenhador, Chapeuzinho Vermelho e a vovó comemoraram com uma festa aquela inesquecível aventura. 63 PLANO DE AULA N° 2 Instituição: CEM SÃO LUIZ Turma: Alfabetização Turno: Noturno N° de alunos: 5 Dados de Identificação Duração da aula: 19h00min ás 21h00min Data: Acadêmicas: Camila Teixeira, Laiana A.Pedroso Tatiane C. dos Santos Conhecer o conto de fada, levando em conta a Objetivo geral sua relação com a sociedade atual. Estimular o processo de ensino aprendizagem dos educando, através da construção de novas Objetivos específicos palavras. Refletir sobre seus conhecimentos perante a temática proposta. Primeiro Momento: Conversar com os educandos sobre seus conhecimentos a cerca do conto clássico, a Cinderela, fazendo questionamentos: Se já conhecem a história? O que pensam da história? O que pensam destes contos de fadas de modo geral? Se em suas infâncias tinham contato com estas narrativas? Conteúdo Estratégias Recursos Avaliação Critérios de Avaliação Referências Segundo Momento: Apresentação oral do conto da Cinderela escrito pelos irmãos Grimm, focando as irmãs da Cinderela se dão por culpa de suas ganâncias. Terceiro Momento: Atividade de português: formulação de novas palavras, através da palavra FAMILÍA. Separação e quantificação de sílabas Aula Dialogada e descritiva Quadro, giz, caderno, livro com a história. Avaliar o interesse e a participação dos educandos Participação Grixx. História da Cinderela: versão dos Irmãos Grimm. Disponível em: <http://folkstories.blogspot.com/2005/07/cinderellaverso-dos-irmos-grimm.html>. Acesso em: 01 out. 2011. 64 HISTÓRIA: Cinderela (Grixx) A mulher de um homem rico ficou muito doente. Quando ela percebeu que a morte se aproximava, chamou sua única filha ao seu leito e disse: "Filha querida, seja boa e piedosa que o bom deus sempre lhe protegerá. Eu estarei no céu olhando pra você e nunca te abandonarei". Dito isso, ela fechou os olhos e morreu. Todos os dias a moça visitava o túmulo de sua mãe. Ela chorava e se mantinha piedosa e boa. Quando o inverno veio, a neve cobriu o túmulo com uma manta branca e quando o sol da primavera a derreteu, o homem encontrou uma nova esposa. A mulher trouxe consigo duas filhas que eram bonitas e agradáveis de rosto, mas más e feias de coração. Começava um período ruim para a pobre moça. "Essa pata-tonta vai sentar-se na sala de visitas conosco?," elas perguntavam. "Se quer comer o pão, terá que trabalhar para ganhá-lo. Trabalhará na cozinha." Elas tiraram suas belas roupas, vestiramna com um camisolão cinza e velho e lhe calçaram com sapatos de madeira. "Olhem só para a princesa orgulhosa! Como está fora de moda," elas gritavam, riam e a levavam para a cozinha. Lá ela tinha que trabalhar pesado durante todo o dia, se acordava antes de o sol nascer, carregava água, acendia o fogo, cozinhava e lavava. Além disso, as irmãs ainda a maltratavam de todas as formas imagináveis - gozavam dela e derramavam as ervilhas e lentilhas nas cinzas do fogão para que ela tivesse que catar tudo de novo. Ao anoitecer, quando ela já estava cansada de tanto trabalhar, ela não tinha uma cama onde dormir e acabava deitando-se ao lado do forno, nas cinzas. Por isso ela sempre parecia suja e empoeirada e foi então que começaram a chamá-la Cinderela. Um dia, o pai estava indo para a feira e perguntou às duas irmãs o que queriam que ele trouxesse para elas. "Belos vestidos," disse uma delas, “Pérolas e jóias," disse a outra. "E você, Cinderela", perguntou ele, "o que você quer?" "Pai, traga-me o primeiro galho de árvore que bater em seu chapéu quando estiver voltando para a casa". Então ele comprou belos vestidos, pérolas e jóias para as enteadas, voltando para a casa, quando cavalgava por um bosque, um ramo de uma aveleira passou pelo seu chapéu. Então ele quebrou o ramo e levou consigo. Quando chegou em casa, ele deu às enteadas o que haviam pedido, e para Cinderela ele deu o ramo da aveleira. Cinderela agradeceu, foi até o túmulo de sua mãe, plantou o ramo que ganhou de seu pai, e chorou tanto que as lágrimas chegaram ao chão e regaram a planta. O pequeno ramo cresceu e transformou-se em uma árvore frondosa. Três vezes por dia Cinderela sentava-se sob a árvore, chorava e rezava. Um passarinho branco sempre vinha para a árvore e se Cinderela expressasse um desejo, o passarinho jogava para ela o que ela pedira. Um dia o rei anunciou que haveria uma festa que duraria três dias para a qual todas as moças jovens e bonitas do reino estavam convidadas para que o príncipe escolhesse sua noiva. Quando as duas irmãs souberam que estavam convidadas, ficaram eufóricas, chamavam Cinderela e diziam, "pentei nossos cabelos, engraxe nossos sapatos e ajude-nos a nos vestir, porque nós vamos ao casamento no palácio real". Cinderela obedecia e chorava, porque ela queria ir com elas para o baile, e implorava à madastra que a deixasse ir. "Você, Cinderela", disse ela, "coberta de pó e sujeira como você sempre está. Você não tem roupas nem sapatos, e nem ao menos sabe dançar". E mesmo assim Cinderela continuava pedindo. Depois de um tempo a madrasta disse, "E despejei um prato de lentilhas nas cinzas, se você conseguir catar todas em duas horas, deixará você vir conosco." A moça foi até a porta dos fundos e chamou “Mansas pombinhas e rolinhas. E todas as aves do céu. Venham me ajudar a catar as lentilhas. As boas no prato, As ruins no papo". Logo duas pombinhas brancas entraram pela janela da cozinha, em seguida as rolinhas, e por último todas as aves do céu, vieram numa revoada e pousaram nas cinzas. As pombinhas balançavam a cabeça e começaram a catar e os outros passarinhos fizeram o 65 mesmo. Logo juntaram todos os grãos bons no prato. Não tinha passado nem uma hora quando acabaram o serviço e se foram. A moça, contente, levou o prato para a madrasta. Ela acreditava que com isso poderia ir ao baile com elas. Mas a madrasta disse, “Não, Cinderela, você não tem roupas e não sabe dançar. Você seria motivo de risos". Como Cinderela começou a chorar, a madrasta disse: se você conseguir catar dois pratos de lentilhas das cinzas em uma hora, poderá ir conosco. Ela achava que desta vez, Cinderela não conseguiria. Quando a madrasta derramou os dois pratos de lentilhas nas cinzas, a moça foi até a porta dos fundos e chamou "Mansas pombinhas e rolinhas E todas as aves do céu Venham me ajudar a catar as lentilhas. As boas no prato, As ruins no papo". Logo duas pombinhas brancas entraram pela janela da cozinha, em seguida as rolinhas, e por último todas as aves do céu, vieram numa revoada e pousaram nas cinzas. As pombinhas balançavam a cabeça e começaram a catar e os outros passarinhos fizeram o mesmo. Logo juntaram todos os grãos bons no prato. Não tinha passado nem meia hora quando acabaram o serviço e se foram. A moça estava muito feliz achando que agora ela teria permissão para ir ao baile. Mas a madrasta disse: “Isso não adianta nada. Você não pode ir conosco, pois não tem roupas e não sabe dançar. Só nos faria passar vergonha". Dito isso, ela virou as costas e partiu com suas orgulhosas filhas. Enquanto não tinha ninguém em casa, Cinderela foi ao túmulo de sua mãe, sentou-se sob a árvore e disse "Balance e se agite, árvore adorada, me cubra toda de ouro e prata". O passarinho entregou-lhe um vestido de ouro e prata e sapatos de seda com bordados de prata. Ela vestiu-se com pressa e foi ao baile. A madrasta e as irmãs não a reconheceram e pensaram que deveria ser uma princesa estrangeira de tão bela que ela estava em seu vestido dourado. Elas nem imaginavam que podia ser Cinderela, e acreditavam que ela estava suja em casa, sentada ao lado do fogão catando lentilhas. O príncipe se aproximou dela, pegou sua mão e dançou com ela. Ele não quis dançar com nenhuma outra moça, não soltou a mão dela por um único instante e, se alguém a convidava para dançar, ele dizia "Ela é minha dama". Dançaram até tarde da noite, e então ela quis ir embora. Mas o príncipe disse: "Eu te acompanho", pois ele queria saber a que família tão bela moça pertencia. Ela conseguiu escapar-se dele e se escondeu no pombal. O príncipe esperou em frente à casa até que o pai de Cinderela veio e ele disse que a moça desconhecida havia se escondido no pombal. O pai de Cinderela pensou, "Deve ser Cinderela". Trouxeram um machado e uma picareta e quebraram o pombal em pedacinhos, mas já não tinha ninguém lá dentro. Quando chegaram em casa, encontraram Cinderela com suas roupas sujas deitada nas cinzas à luz mortiça de uma lamparina. O que aconteceu foi que Cinderela se escapou rápido pela parte de trás do pombal e correu até a aveleira. Lá ela tirou suas belas vestes, deixou-as sobre o túmulo de sua mãe e o passarinho as levou. Então ela voltou pra casa e deitou-se nas cinzas vestida com seu camisolão. No dia seguinte, a festa recomeçou. A madrasta e as irmãs foi de novo. Cinderela foi até a aveleira e disse "Balance e se agite, árvore adorada, Me cubra toda de ouro e prata". Logo o passarinho lhe entregou um vestido ainda mais bonito que o da noite anterior. E quando Cinderela apareceu no baile com seu vestido, todos ficaram espantados com tanta beleza. O príncipe, que estava esperando por ela, logo pegou sua mão e não dançou com nenhuma outra moça. Quando outros vinham e a convidavam para dançar, ele dizia "Ela é minha dama". Quando anoiteceu, ela quis ir embora e o príncipe a seguiu para ver em que casa ela entraria. Mas ela se escapou se escondendo no jardim de sua casa. Lá havia uma árvore alta e bela que dava peras maravilhosas. Ela subiu ágil como um esquilo e o príncipe não sabia onde ela estava. Ele esperou até que o pai dela veio e disse a ele, "A moça desconhecida se escapou de mim e acredito que ela tenha subido na pereira". O pai pensou: "Deve ser Cinderela". Trouxeram um machado e derrubaram a árvore, mas já não 66 havia ninguém lá. Quando chegaram em casa, encontraram Cinderela com suas roupas sujas deitada nas cinzas à luz mortiça de uma lamparina. O que aconteceu foi que Cinderela se escapou rápido pela parte de trás do pombal e correu até a aveleira. Lá ela tirou suas belas vestes, deixou-as sobre o túmulo de sua mãe e o passarinho as levou. Então ela voltou pra casa e deitou-se nas cinzas vestida com seu camisolão. No terceiro dias, quando a madrasta e as irmãs já tinham saído, Cinderela foi mais uma vez até o túmulo de sua mãe e disse para a aveleira "Balance e se agite árvore adorada, Me cubra toda de ouro e prata". E o passarinho lhe trouxe um vestido que ainda mais esplêndido e magnificente que os outros e sapatinhos de ouro. E quando ela chegou ao baile, todos emudeceram de admiração. O príncipe dançou apenas com ela e para todos que a convidavam para dançar, ele dizia: "Ela é minha dama". Quando a noite chegou, Cinderela quis ir embora e o príncipe estava ansioso para ir com ela. Mas ela escapou-se tão rápido que ele não conseguiu segui-la. O príncipe, desta vez, usou a inteligência: mandou que passassem piche na escadaria e, quando a moça passou, o sapato do pé esquerdo ficou grudado. O príncipe pegou o sapatinho: era pequenino, gracioso e todo de ouro. Na manhã seguinte, ele disse a seu pai que não se casaria com nenhuma moça, a não ser a dona do pé que coubesse neste sapato. As duas irmãs estavam felizes, pois tinham pás pequenas. A mais velha entrou no quarto com o sapato e tentava calçá-lo enquanto sua mãe olhava. Mas ela não conseguiu colocar o sapato por causa de seu dedão do pé. O sapato era muito pequeno para ela. Então a mãe lhe deu uma faca e disse: "Corta o dedão, quando você for rainha, não precisará andar muito a pé". A moça cortou fora o dedão, forçou o pé para dentro do sapato, disfarçou a dor e foi ver o príncipe. Ele colocou-a na garupa de seu cavalo e saiu com ela como se fosse sua noiva. Eles tinham que passar pelo túmulo da mãe de Cinderela, e quando por lá passaram, da aveleira duas pombinhas cantaram: “Olhe para trás, olhe para trás, há sangue no sapato, o sapato é pequeno demais, sua noiva lhe espera muito atrás”. Então ele olhou para o pé dela e viu o sangue pingando. Ele deu meia volta com o cavalo e levou a falsa noiva de volta para a casa, e disse para a outra irmã calçar o sapato. Ela colocou seus dedos do pé sem problemas, mas deu calcanhar era largo demais. A madrasta deu-lhe uma faca e disse: "Corta fora um pedaço do teu calcanhar, quando fores rainha não precisarás andar a pé". A moça cortou um pedaço de seu calcanhar, forçou seu pé para dentro do sapato, disfarçou a dor e foi ver o príncipe. Ele colocou-a na garupa de seu cavalo e saiu com ela como se fosse sua noiva. Quando passaram pela aveleira, duas pombinhas cantaram "Olhe para trás, olhe para trás, há sangue no sapato, o sapato é pequeno demais, sua noiva lhe espera muito atrás". Ele olhou para o pé dela e viu o sangue escorrendo pelo sapato e manchando a meia de vermelho. Ele deu meia volta com o cavalo e levou a noiva falsa de volta para casa. "Esta também não é a noiva certa," disse ele, "vocês não têm outra filha?" "Não," disse o homem, "temos apenas a pequena e raquítica ajudante de cozinha, filha de minha ex-mulher, mas não é possível que ela seja a noiva." O príncipe pediu para vê-la, mas a mulher disse "oh, não! Ela está sempre muito suja. Não está apresentável. Mas o príncipe insistiu e Cinderela foi chamada. Ela primeiro lavou suas mãos e o rosto, e curvou-se diante do príncipe que entregou-lhe o sapatinho de ouro. Ela sentou-se em um banquinho, tirou o pesado sapato de madeira, e calçou o sapatinho de ouro, que serviu como uma luva. Ela ergueu-se e o príncipe olhou para o seu rosto e reconheceu a bela moça com quem tinha dançado e disse: "Esta é a noiva verdadeira". A madrasta e suas filhas estavam horrorizadas e ficaram pálidas de raiva, ele, entretanto, colocou Cinderela sobre seu cavalo e levou-a consigo Quando passaram pela aveleira, as duas pombinha cantaram: "Olhe para trás, olhe para trás, não tem sangue no sapato, que não lhe é apertado, É com a noiva certa que estás". 67 E depois de cantar, as duas pombinhas pousaram nos ombros de Cinderela, uma no direito, a outra no esquerdo, e sicaram sentadinhas lá. Na cerimônia do casamento do príncipe, as duas irmãs falsas foram e queriam ficar de bem com Cinderela e dividir com ela a boa fortuna que teve. Quando os noivos chegaram à igreja, a mais velha estava à direita e a mais nova à esquerda, e as pombinhas arrancaram um olho de cada uma das irmãs. Depois, quando voltavam, a mais velha estava à esquerda e a mais nova à direita, e as pombinhas arrancaram o outro olho de cada uma delas. E então, por sua maldade e falsidade, elas foram punidas com a cegueira até o fim de suas vidas. 68 PLANO DE AULA N° 3 Instituição: CEM SÃO LUIZ Turma: Alfabetização Turno: Noturno N° de alunos: 5 Dados de Identificação Duração da aula: 19h00min ás 21h00min Data: Acadêmicas: Camila Teixeira, Laiana A. Pedroso Tatiane C. dos Santos Reconhecer o conto de fada, como uma forma de Objetivo geral aprendizagem, envolvendo a matemática. Raciocinar perante as situações problemas. Reconhecer seus conhecimentos diante das Objetivos específicos atividades propostas. Primeiro Momento: Apresentaremos oralmente a história “João e o Pé de Feijão”. Conteúdo Estratégias Recursos Avaliação Critérios de Avaliação Referências Segundo Momento: Discussão sobre as questões da matemática que a história traz perante seus cotidianos. Terceiro Momento: Atividade de matemática, através de situações-problemas. Aula expositiva-dialogada Quadro Giz de quadro. Iremos avaliar os alunos através da resolução das situações-problemas, percebendo a participação e o comprometimento na realização do exercício. Interesse e participação. Autor desconhecido. História do João e o pé de feijão. Disponível em: <www.historiasinfantis.eu/joao-e-o-pe-de-feijao/> Acesso em: 05 out.2011. 69 HISTÓRIA: João e o pé de feijão (Autor desconhecido) Era uma vez uma pobre viúva. Ela tinha um filho muito rebelde e esbanjador. O seu pai tinha sido um homem muito rico, até que um dia um gigante roubou sua harpa mágica e a galinha dos ovos de ouro. O pai morreu pobre. O pouco que restou o menino acabou com tudo, por ser um grande esbanjador. A única coisa que sobrou foi uma vaquinha. Um dia não tendo mais o que comer, a mãe pediu ao menino: – Vá à cidade e venda nossa vaquinha para que possamos comprar pão. Assim o menino foi levar a vaquinha ao mercado. No caminho encontrou um açougueiro que lhe propôs: – Troco sua vaca por uns grãos mágicos de feijão. O que acha? João achando que fosse uma grande oferta, acabou aceitando. Quando o menino chegou a casa, a mãe ficou furiosa com a troca que o menino havia feito. Ela pegou os grãos de feijão e os jogou pela janela. A mãe foi dormir chorando porque não tinham o que comer. Na manhã seguinte, João acordou bem cedo e com muita fome. Ficou espantado quando viu um pé de feijão tão grande que chegava ao topo do céu. João que gostava de aventuras resolveu subir nele. Depois de subir algumas horas encontrou um castelo entre as nuvens. A porta do castelo estava aberta e ele resolveu entrar. Dentro do castelo encontrou o malvado gigante dormindo. Era o mesmo gigante que tinha roubado a harpa mágica e a galinha dos ovos de ouro. O menino foi até a outra sala do castelo e encontrou a harpa mágica e a galinha dos ovos de ouro. Quando o menino pegou a harpa e a galinha, esta começou a cacarejar e o gigante despertou com o barulho. O gigante ainda conseguiu ver o menino fugindo. O menino desceu mais que depressa pelo pé de feijão. O gigante foi atrás, mas como não tinha a mesma agilidade, o gigante não conseguiu alcançar João. Quando João o desceu pegou um machado e cortou a árvore. A árvore caiu e o gigante levou um tombo muito grande. Com a queda o gigante acabou morrendo. João contou a aventura para sua mãe que ficou muito orgulhosa com a coragem do menino. De posse da harpa mágica e da galinha dos ovos de ouro, João e sua mãe nunca mais sentiu fome. Viveram felizes para sempre. 70 ANEXO Autorização da Escola Docilicio Vieira da Luz para a Realização da Pesquisa. 71