UMA VISITA AO OCEANÁRIO TIPO DE DISCURSO E RECORDAÇÃO DE INFORMAÇÃO Sally Rebelo Isabel Matta ISPA [email protected] Num estudo prévio (Matta, Rebelo & Martins, 2004), durante uma visita ao Oceanário de Lisboa 135 crianças do 1º ano do 1º Ciclo foram divididas em três grupos. Na zona dos pinguins estes grupos receberam informação: (1º)- num formato narrativo ou (2º) num formato descritivo ou ( 3º) não receberam informação verbal. Foi passado um pós-teste imediato e um diferido (uma semana mais tarde) afim de avaliar o que as crianças recordavam da situação. Um procedimento semelhante foi agora utilizado com 108 crianças de 9-11 anos de idade do 4ºano de escolaridade. De acordo com vários trabalhos desenvolvidos na sequência da teoria de Vygotsky, os resultados obtidos nestes dois trabalhos revelam a importância da verbalização da informação durante a visita para posterior recordação. Revelam ainda que, a estrutura enquadradora do tipo narrativo é adequada nesta situação pois, para além de não inibir a efabulação e capacidade de inventar, não funcionou como distractor na observação e retenção da informação exterior, mas sobretudo, facilitou a retenção da informação previamente verbalizada e organização desta recordação. Palavras-Chave: Memória; Organizadores Cognitivos; Scripts e Narrativas; Representações de Acontecimentos Introdução A linguagem é um instrumento sócio-cultural com uma importância fundamental ao nível do desenvolvimento. O seu papel é crucial na memória tendo sido empiricamente mostrada uma associação entre o desenvolvimento das competências linguísticas em crianças e a sua capacidade de recordação ( Walkenfeld, 2000 in Nelson & Fivush, 2004)) . A linguagem tem também um papel ao nível da sistematização e organização dos acontecimentos reais e sua representação. Possibilitando uma re-organização da experiência vivida, uma reconstrução a um nível simbólico de uma experiência agida. Embora sofrendo grandes progressos no decurso do primeiro ciclo de escolaridade a apropriação da estrutura esquemáticas (scripts e narrativas) começa muito cedo. Existindo trabalhos que evidenciam o esforço da criança, nos primeiros três/ quatro anos de vida para compreender acontecimentos, relatos e histórias assim como para aprender a narrar acontecimentos (Bruner, 1990; Fivush & Hamond, 1990;Matta, 2000; 2004; Nelson, 1986; 1996). As estruturas esquemáticas (cenas, scripts e histórias) são estruturas representacionais que fornecem um conjunto organizado de expectativas sobre uma situação e, embora o seu interesse desenvolvimental tenha sido evidenciado há já vários anos (Mandler, 1979; Nelson & Gruendel, 1981; Schank & Abelson, 1977), são frequentes os trabalhos empíricos explorando o 3817 seu potencial enquanto organizadores da actividade social, comunicativa e cognitiva. A hipótese geral teórica é que estas estruturas representacionais naturais podem ser activadas em determinadas situações e orientar a sua compreensão, a acção da criança e até a sua posterior recordação. A influência das estruturas organizadoras individuais na memorização e recordação de informação tem sido evidenciada em múltiplos trabalhos sobre o desenvolvimento da memória infantil, mas existem estudos que têm explorado o efeito das condições de apresentação da informação na sua retenção posterior. Uma organização do tipo esquemático tem–se revelado favorável na recordação de histórias, acontecimentos e listas de objectos ( Hudson & Nelson, 1983; Mandler, 1990; Mistry & Lange, 1985). A linguagem funciona como organizador da memória, e resultados de Pipe (1996, citado por Nelson & Fivush, 2000), mostram como a recordação do acontecimento é facilitada quando o adulto assume uma verbalização do acontecimento, narrando e descrevendo, por oposição a uma enunciação do acontecimento, seguida de uma entrada directa nas acções. Um dos factores importantes para uma boa recordação e organização de um acontecimento, reside na presença de relações causais e temporais entre os elementos (Bauer & Mandler, 1990; Fivush & Hudson, 1990; White & Low, 2002) e a narrativa verbal a acompanhar um acontecimento aumenta o grau de compreensão de relações causais, temporais, condicionais e significações associadas gerando uma representação mais rica e organizada na memória. (Nelson, 1993;1996; Nelson & Fivush, 2000; 2004). A linguagem do outro enquanto estruturante da experiência e sua memorização tem sido empiricamente validada na construção de memórias de acontecimentos (Nelson, & Fivush, 2004; Matta, Rebelo & Martins, 2004; Haden, Ornstein, Eickerman & Didow, 2001). Num estudo por nós previamente realizado Matta e Rebelo, (2004) foi efectuada uma análise das recordações de crianças com idades compreendidas entre os 6 e 7 anos anos de idade, recordações essas, referentes a um acontecimento real – visita ao Oceanário. Através desta análise foi possível verificar a influência das variáveis independentes – existência ou não de informação verbal a acompanhar a visita e o tipo de formato discursivo adoptado (narrativo/descritivo) na posterior recordação do acontecimento. Vimos que na globalidade, e na avaliação imediata e em diferido, que o grupo que recebeu informação verbal durante a visita ao Oceanário (Grupo com Verbalização) recordava mais informação verdadeira que as crianças do grupo que não recebeu informação verbal (Grupo sem Verbalização). Esta diferença é susceptível de ser atribuída à recordação da informação verbalizada pelo experimentador, uma vez que as diferenças encontradas na recordação de informação exterior, no primeiro momento de avaliação a favor do grupo sem Verbalização, se atenuaram com o tempo. 3818 As informações verbais dadas pelo adulto facilitaram a produção da representação do acontecimento apresentado mas as crianças que receberam as informações no âmbito de uma história revelaram maior retenção de informação externa e da verbalizada. Estas diferenças face ao grupo que recebeu as instruções em formato descritivo atenuam-se com o tempo no que se refere à informação não verbalizada, pois na avaliação posterior só se encontram diferenças na retenção da informação que havia sido verbalizada durante a visita. Metodologicamente semelhante ao estudo que acabamos de referir, o presente trabalho desenrolou-se também durante uma visita ao Oceanário mas com crianças do 4º ano de escolaridade. As questões orientadoras deste estudo abordam a importância da linguagem como organizador da memória. • Será que a retenção/recordação em crianças dos 9 aos 11 anos de idade é influenciada pela existência de verbalização durante o acontecimento? • Será que a retenção/recordação em crianças dos 9 aos 11 anos de idade é influenciada pelo tipo de discurso (narrativo/descritivo) apresentado? Surgem assim as hipóteses: • Os sujeitos a quem é apresentado o acontecimento com verbalização retêm/recordam mais informação. • Os sujeitos a quem é apresentado o acontecimento com o tipo de discurso narrativo retêm/recordam mais informação. Método Objectivos Os objectivos deste trabalho são: verificar se a verbalização das informações assim como a estrutura do discurso utilizado (narrativo / descritivo) influência a retenção de informação referente a uma visita ao Oceanário de crianças de 9-11 anos de idade. Amostra Neste estudo participaram 108 sujeitos, entre os 9 e 11 anos de idade do 4º Ano do 1º Ciclo do Ensino Básico. Os sujeitos foram divididos em grupos equivalentes (N=36) e independentes: grupo com verbalização narrativa, com verbalização descritiva e sem verbalização. O número total de sujeitos do sexo feminino é equivalente ao número total de sujeitos do sexo masculino. 3819 Situação e Procedimentos Na sequência de um trabalho previamente desenvolvido (Matta, Rebelo & Martins, 2004 ; Rebelo, 2002) o local escolhido para o desenrolar do estudo foi o Oceanário de Lisboa. Os procedimentos foram antecipadamente apresentados e aprovados pela equipe representante do Oceanário de Lisboa. Os guias foram sujeitos a uma formação sobre os procedimentos a adoptar de modo a garantir a constância da situação experimental, diminuindo os efeitos da variável guia. As escolas foram seleccionadas e foi solicitado às professoras para não trabalharem com as crianças temáticas do Oceanário, antes e/ou depois da sua visita. Caso o fizessem foi pedido que não focassem as lontras marinhas. Deste modo não seria dada informação adicional sobre esta espécie. O experimentador encontrava-se presente na aula dada anteriormente à visita dentro do Oceanário, permitindo assim uma familiarização com as crianças antes da situação experimental, assim como durante a visita. O acontecimento decorreu durante uma fracção da visita ao Oceanário de Lisboa, mais propriamente na zona da “Floresta de Kelp”, que corresponde à secção das lontras marinhas e algumas espécies de corais. Neste local, a um dos grupos foi apresentada informação sobre as lontras marinhas de forma narrativa, enquanto que a outro foi apresentada de forma descritiva. Ao restante dois, não foi apresentada qualquer informação adicional à proveniente do estímulo visual. Foi solicitado às crianças que se sentassem, que estivessem sossegadas e que prestassem atenção à informação envolvente. Às crianças dos grupos narrativo e descritivo foi dado um tempo (cerca de 3 minutos) para observarem o recinto antes de se proceder à transmissão de informação. Aos grupos sem verbalização, que apenas passou pela observação não sendo transmitia qualquer informação, foi dado um período superior de observação, visto os grupos narrativo e descritivo continuavam a beneficiar do estímulo visual durante a transmissão da informação. A elaboração dos instrumentos, o texto narrativo e descritivo, desde a escolha de informação e linguagem utilizada, ao modo com esta seria transmitida, e ainda a base sustentativa do procedimento foram baseados num estudo de Rebelo (2002), havendo o 3820 cuidado de seguir a estrutura típica de uma história, sugerida por Mandler (1984) e adoptada por Cohen, (1996). Seguidamente é apresentado o texto narrativo final. Texto Narrativo Era uma vez uma pequena lontra marinha chamada Micas, que quando pequena, vivia com os pais, a Amália e o Eusébio, aqui no grande Oceanário de Lisboa. Certo dia ao ver o seu reflexo na água, perguntou a seus pais: - “Porque sou tão diferente dos meus amigos?”. Ao que a mãe respondeu: - “Querida, parecemos todos diferentes, mas temos boas qualidades em comum. Vê o teu pêlo… é farto e grosso como os nossos amigos ursos. E os teus bigodes… são longos como os dos gatos. As tuas patas dianteiras são parecidas com mãos e tens pestanas como os Homens. És muito brincalhona com os macaquinhos. Sem esquecer as tuas barbatanas, que te fazem nadar depressa como os peixes.”. - “Vês filha, afinal não és tão diferente dos teus amigos, pois não?” Disse o pai. “Vá, agora vamos comer a tua comida preferida… abalones.”. Ao que a Micas saltou de alegria. Assim, a Micas ficou muito satisfeita com a explicação dos pais e mais satisfeita ainda com os abalones, pois ela sempre fora muito gulosa! Baseado no texto narrativo foi construído um texto descritivo, este constituído pela mesma informação, variando apenas o seu formato de discurso. Texto Descritivo - Aqui, no grande Oceanário de Lisboa vivia uma pequena lontra marinha, chamada Micas, com os pais, a Amália e o Eusébio. - As lontras são diferentes dos outros animais, mas têm boas qualidades muito parecidas. - Têm um pêlo farto e grosso como os ursos. - Bigodes longos como os gatos. - Patas dianteiras parecidas com mãos. - Pestanas como os Homens. - São brincalhonas com os macacos. - E têm barbatanas que as fazem nadar depressa como os peixes. -Procedimento A Micas é muito gulosa, a sua comida preferida são os abalones. O procedimento desta situação experimental desenrolou-se em seis fases. 3821 Numa fase inicial, ocorreu um contacto com o Oceanário de Lisboa, onde foi apresentada ao sector educação uma breve descrição da pertinência do estudo, objectivos, hipótese geral e método, tendo sido a resposta, por parte destes, afirmativa quanto ao prosseguimento do estudo. Com um membro do staff destacado para apoiar a situação experimental, foi pedido a cada criança para contarem toda a informação retida do acontecimento. Após a visita foi conduzida uma entrevista imediata e individual (pós-teste imediato). Explicou-se qual o momento da visita específico a ser recordado (lontras marinhas). As respostas foram gravadas via áudio. O tempo dado às crianças foi ilimitado, sendo dada como terminada a entrevista quando a criança dizia mais nada se lembrar. A última fase desenrolou-se dentro da Escola uma semana após a apresentação do acontecimento. Em cada Escola foi cedido um local calmo onde o experimentador poderia entrevistar as crianças sem ser interrompido. Neste contacto foram novamente recolhidos dados (entrevista diferida). As instruções dadas e os cuidados foram os mesmos do anterior momento de avaliação (entrevista imediata). Descodificação e Tratamento de Dados Após a transcrição das recordações das crianças, foi possível dividir a informação recordada nas seguintes categorias gerais e específicas: Categorias Gerais Categorias Específicas Definição Informação verdadeira dada Informação Verbalizada pelo experimentador durante o acontecimento. Informação Verdadeira Informação verdadeira mas não Informação Não Verbalizada dada pelo experimentador durante o acontecimento. Informação não verdadeira e Informação Inventada não dada pelo experimentador durante o acontecimento. Tabela 1 – Categorias Gerais e Específicas da informação recordada e sua definição. Uma análise de conteúdo dos registos áudio das recordações livres das crianças levou a uma divisão, em unidades mínimas de informação. 3822 Visto, geralmente, as recordações não serem verbalizadas com as palavras exactas utilizadas pelo experimentador, recordações semelhantes do ponto de vista semântico, foram classificadas como informação verbalizada. Resultados Os dados relativos à recordação da Floresta de Kelp da visita ao Oceanário, a partir dos relatos das crianças, que haviam recebido ou não informação verbal, no pós-teste imediato e em diferido está representada no Quadro 1 e Figura 1. No Quadro 1 apresenta-se uma síntese dos resultados encontrados nos três grupos experimentais no primeiro e segundo pós-testes, relativamente ao total de informação relatada pelas crianças e sua distribuição pelas categorias InformaçãoVerdadeira (Verbalizada e Exterior) e Inventada. Grupos da Situação Experimental Total Grupos Grup Descrit 1º Grup Narrat 2º 1º Com Verbaliz 2º 1º 2º Grupo S/Verbaliz 1º 2º Informações 7.05 7.39 18.31 16.25 12.68 11.82 3.58 3.58 Verbalizadas (4.67) (4.69) (14.14) (9.20) (9.67) (8.51) (1.92) (1.29) Informações 5.83 5.03 4.22 3.58 5.03 4.31 4.33 5.31 Não Verbaliz (3.80) (2.99) (2.92) (2.66) (3.46) (2.90) (2.77) (2.07) Informações 12.89 12.42 22.53 19.83 17.71 16.13 7.92 8.89 Verdadeiras (7.28) (6.73) (10.68) (8.62) (10.29) (8.54) (3.47) (2.57) Informações 1.17 1.36 2.89 3.11 2.03 2.24 1.33 1.36 Inventadas (1.23) (1.25) (2.34) (2.61) (2.05) (2.21) (1.12) (1.22) Total 14.06 13.78 25.42 22.94 19.74 18.36 9.25 10.25 Informações (7.96) (7.37) (11.71) (9.88) (3.75 (2.94) (11.47) (9.81) Relatadas Quadro 1—Médias e Desvios-padrões (entre parênteses) relativos aos Grupos Com Verbalização (Descritivo e Narrativo) e Sem Verbalização na entrevista imediata (1º) e em diferido (2º). Uma primeira análise global entre dos resultados revela uma supremacia dos grupos que receberam informação verbal (Grupo narrativo + descritivo) face ao grupo que não recebeu informação verbal (Grupo S/ verbaliz) na entrevista imediata e na entrevista em diferido: 3823 - Total de informação relatada (imediata t= 5.76, p<001; diferido t=4.84, p<.001 - Total de informação verdadeira recordada (imediato t=5.54, p<.001; diferido t=4.96, p<001) - Total de informação verbalizada (imediato t=5.57, p<.001; diferido t= 5.76, p<001) Não existem diferenças significativas na recordação da informação não verbalizada, assim como na avaliação imediata na informação inventada, embora posteriormente, o grupo com verbalização tenha inventado mais informação (t=2.21, p=029). Comparação entre o Grupo Descritivo e Narrativo e Sem Verbalização A análise comparativa entre os grupos Descritivo, Narrativo e o grupo Sem Verbalização mostra que existem diferenças significativas inter-grupos a vários níveis. Assim, a Análise de Variância dos resultados da entrevista imediata revela na que não existem diferenças no número de informações Não verbalizadas recordadas, mas sim no: - Total de Informações Relatadas (F= 34.69, p<001) - Na informação Verdadeira (F=33,26, p<001) - Na recordação da Informação Verbalizada (F=49.86, p<001) - E no número de enunciados Inventados (F=11,82, p<001) O teste post-hoc de Tukey permite verificar que : O grupo que recebeu instruções em formato Narrativo revelou uma superioridade relativamente ao grupo Descritivo e ao grupo Sem Verbalização no. - Total de Informação Recordada (P<001), - Na recordação da informação previamente Verbalizada (p<001) - Na informação Verdadeira (p<001). Este grupo revelou ainda uma superioridade na informação inventada relativamente ao grupo Descritivo. O grupo Descritivo recorda significativamente mais informação que o grupo de Não verbalização no primeiro momento de avaliação na: quantidade total de informação Relatada (p=0.46) e na informação Verdadeira recordada (p=020). 3824 Na avaliação em diferido estes resultados mantêm-se na globalidade. Assim existem diferenças significativas no: - Total de Informações Relatadas (F= 28.88, p<001) - Na informação Verdadeira (F=26.68, p<001) - Na recordação da Informação Verbalizada (F=42.13, p<001) - No número de enunciados inventados (F=11,21, p<001 - E ainda na Informação Não Verbalizada (F=4.54, p=013). O teste post-hoc de Tukey permite verificar que a superioridade da recordação no grupo que recebeu a informação em formato Narrativo comparativamente com os outros dois, se mantém ao nível do : - Total de Informação Recordada (p<001), - Na recordação da informação previamente Verbalizada (p<001) - Na informação Verdadeira (p<001). - Na informação Inventada (p<001) Este grupo revelou no entanto uma menor recordação da informação que não havia sido previamente verbalizada relativamente ao grupo da Não verbalização. A análise revelou ainda que o grupo Descritivo se revelou superior ao grupo Sem Verbalização na recordação da informação Verbalizada (p<001) e na informação Verdadeira (p=059). Conclusão e Discussão Á semelhança dos resultados encontrados em estudos prévios (Matta, Rebelo & Martins, 2004) a importância da verbalização de informações para posterior recordação em crianças é evidente no trabalho agora apresentado. A comparação entre o grupo que recebeu informação verbal, durante a visita à Floresta de Kelly no Oceanário de Lisboa, e o grupo a quem não foi dada informação verbal revelou claramente, uma superioridade, por parte das crianças a quem foi dada informação verbal, não só na recordação da informação previamente verbalizada pelo guia, como no total de informação recordada e informação verdadeira, esta supremacia mantém-se da avaliação imediata para a avaliação em diferido. A comparação inter-grupos não deixa dúvidas: ambos os formatos de discurso utilizados na manipulação experimental se revelaram benéficos. Quer na situação Descritiva quer na situação Narrativa as crianças recordam mais informação Verdadeira relativa à visita, que na situação em que o guia não deu informações verbais. Mas a comparação entre estes dois grupos de crianças que receberam informações verbais mostra claramente, que o formato 3825 narrativo foi o que se revelou mais adaptado a esta situação. Com efeito, as crianças que receberam informações segundo um formato narrativo foram as que mais recordaram informação relativa à visita. As nossas previsões iniciais que: os sujeitos a quem fosse apresentado o acontecimento com verbalização recordariam mais informação e que a quem fosse apresentado o acontecimento de forma narrativa beneficiariam ao nível da recordação, foram ambas confirmadas com este grupo de crianças. A importância da linguagem do outro na organização do episódio a recordar, a visita à floresta de Kelly é evidenciada de novo neste trabalho com crianças do final do 1º Ciclo de escolaridade. A verbalização de informações a acompanhar a informação visual foi fundamental na construção de representações associadas ao acontecimento e sua memorização. (Haden, Ornstein, Eickerman & Didow, 2001; Matta, Rebelo & Martins, 2004; Nelson, 1993; Nelson & Fivush, 2000; 2004). Por outro lado, lembremos os trabalhos que mostram que o desenvolvimento da linguagem da criança vem associado à capacidade de recordação (Walkenfeld, 2000) e a importância das estruturas esquemáticas, nomeadamente da estrutura narrativa na organização da experiência agida (Bruner, 1990; Fivush & Hamod, 1990; Matta, 2004; Matta, Rebelo & Martins, 2004; Nelson, 1985; Nelson, 1993; Nelson & Fivush, 2000; 2004). Neste trabalho a narrativa revelou-se como um tipo de discurso de particular interesse uma vez que o contar uma história o decorrer da visita foi central na posterior recordação ajudando a criança a organizar e memorizar a sua experiência. Referências Bruner, J (1990) Acts of Meaning, Harvard. University Press Bauer, P. & Mandler, J.M. (1990) Remembering what happened next: Very young children’s recall of event sequences In R. Fivush & J.A. Hudson (Eds) Knowing and remembering in young children (pp. 9-30) Cambridge: Cambridge University Press Cohen, G. 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