14 | Jornal de Negócios | Quarta-Feira, 1 de Junho de 2011 . Empresas Penas negociadas tornarão contra-ordenações mais céleres Empresas 18 J AM E S STE WART LÍDE R DA U N I DADE DE I N F RA- E STRU TU RAS DA KPM G “É sempre caro rescindir um contrato se já estiver construído ” Apesar dos custos, James Stewart diz que até pode ser melhor para um Governo “rasgar” um contrato de PPP. E que as parcerias são mal vistas pela sociedade também por razões emocionais PEDRO SANTOS GUERREIRO ALEXANDRA NORONHA James Stewart tem já experiência em renegociar contratos no Reino Unido e diz que em qualquerparte domundoécarorescindirumcontrato comumprivado. Qual a sua experiência na renegociação de Parcerias Público-Privadas (PPP) no Reino Unido? Tivemos um novo Governo em Maio e um orçamento no Outono. Oprimeiro-ministro,nasemanaseguinte, lançouo Plano Nacional de Infra-Estruturas do Reino Unido paraenfatizar que isto não é só sobre cortes, mas também sobre investimentos. A situação em Portugal é muito diferente... Quais as opções para os contratos? Os que estão a ser licitados ou complanosparaentraremconcurso têm flexibilidade completa. O custo de parar esses projectos é muito baixo. Apróxima fase – que dizrespeitoacontratosquejáforam assinadosmasqueaindanãocome- çaram aconstrução, e creio que há alguns desses em Portugal – ainda queacarretecustos,nãosãoosmesmos que teriam se estivessem em construção.Aíascoisastendemaficar mais caras, mas se estamos a meio da construção há a opção de parar,oqueaconteceunumcasono ReinoUnido.Quandoestáconstruído, com todo o crédito contraído e na fase operacional, não interessa emquepartedomundoestá.Écaro rescindiro contrato. Pararam um projecto? O que aconteceu depois? O Governo disse que não queria avançarcomoprojecto,canceloua construção,pagouocustodaconstruçãoenãoincorreuemmaiscustos.Écaro, masparaelesfoimelhor do que completaraconstrução. Foi negociado? Não houve conflito? Houve claro. Mas acho que um dosproblemasquetemostidoéque quem embarcou em contratos de PPP,quesãopordefiniçãodelongo termo,nãoantecipouascircunstânciasemqueestamos. UsandooReinoUnidocomoexemplo,muitoin- vestimento em infra-estruturasocialpor15anosfoialteradoparainfra-estruturaeconómica. Foi dada prioridade aisso. Vemos mais projectosdetransportesemenosescolas e hospitais e casas. Em Portugal, no caso das estradas todo o risco de tráfego estava no Governo. Isso pode ser renegociado? Achoqueumadascoisasquetemosquepercebernoscontratosque já existem é que foram assinados comcondiçõesmuitoatraentesnos mercados. Adívida estaria abaixo dos 100 pontos base, o “equity” seria13% a15%. Aparte operacional é o outro lado desses contratos. Numaestrada, os custos operacionaisdoactivosãorelativamentebaixos. Num hospital são muito mais elevados, esãoaindamaiselevados em Portugal do que em outros locaisdaEuropaporqueemPortugal osserviçosclínicosestãoincluídos. Como é que renegociamos? A primeira decisão é se queremos continuar a usar o activo. Se queremoscontinuartemosquerenegociarocontratonamesmabase, O Governo (do Reino Unido) disse que não queria avançar com o projecto. É caro, mas para eles foi melhor do que completar a construção. É preciso uma abordagem apolítica porque os gastos vão ultrapassar ciclos. JAMES STEWART Presidente da unidade de infra-estruturas da KPMG senãoqueremoscontinuarausaro activo,éumaconversadiferente.É umresgateouumareduçãodoâmbito do contrato. Acho que é quase umadiscussãomaisfácil.Anegociação é mais difícil se queremos continuarausaro activo. Aopção para o Governo é dizer que estamos em temposextraordináriosenumaposição em que nuncaesperamos estar. O sector privado está aberto a esse argumento? NoReinoUnido,umministrotomouaresponsabilidadederenegociaroscontratoscomosectorprivado. Não começou com as PPP porquepercebeuqueerammuitomais complicadas.Começoucomoscontratosdecurtaduração:tecnologias, serviços... E então teve reuniões individuais com os CEO dos maiores fornecedoresdogoverno.Disseque precisavadereduzirocustodoscontratos parao governo. E pediupara sugerirmaneirasdepoupardinheiroereduziroâmbitodoscontratos. Mastambémqueriaquereduzissem asmargens.Foiumadiscussãomais fácilporquesãocontratosaté3anos. Jornal de Negócios | Quarta-Feira, 1 de Junho de 2011 | Empresas | 15 . Ana Brígida E STRADAS Reino Unido avança com novas formas de contratação O Reino Unido, à imagem de Portugal, foi um dos primeiros países a avançar com projectos em Parceria Publico-Privada (PPP) e outras formas de colocar empresas a executar tarefas que estavam na esfera pública. Entre algumas experiências mais ou menos falhadas (a gestão das ferrovias por privados, por exemplo, foi um desastre e levou a que fossem renacionalizadas), o Reino Unido está agora a rever o modelo de PPP e as formas de contratação que pode usar. James Stewart dá o exemplo do metro, o “cross rail” que vai custar 16 mil milhões de libras (18,4 mil milhões de euros) e que, segundo o responsável “é muito grande para PPP”. Deste modo o Estado optou por chamar a si a contratação e escolher uma empresa pública, com gestão proveniente do sector privado, para prestar o serviço. Este modelo, aliás, é muito semelhante ao que o Estado português aplicou nas estradas, em que assinou um contrato de concessão com uma empresa de capitais públicos, a Estradas de Portugal, que depois ficou a gerir o sistema. As PPP tem 25 anos de prazo. É maisdifícil. As PPP são muito mal vistas... Acho que as PPP são sempre criticadasnomundo.Sempretiverammáimagem.AsPPPassustam os sindicatos porque herdaruma destasparceriaséumatransferência de serviços do público para o privado. Quando háumaconversasériaresolve-se esse problema. Mas a transferência é sempre emocionaleháquemnãogoste. Em Portugal há sempre uma grande discussão sobre que projectos fazer. É importante ter um consenso? O que toda a gente tem que acordaré que o facto de os governos mudarem as prioridades não noslevamuitolongeeaumenta os custos.Éprecisoterumaabordagemmaisapolíticaporqueosgastosvãoultrapassarciclospolíticos. Umdosbenefíciosdeumplanode infra-estruturas é que cada responsável político estámais sujeito acríticas dos outros colegas. Portagens geraram em 2010 menos 12 milhões de receita Circularam nas auto-estradas portuguesas menos 500 veículos em média por dia MARIA JOÃO BABO, BRUXELAS* [email protected] Otráfegonasauto-estradasportuguesasdiminuiu2,2%noanopassado,comasreceitasdeportagem areduzirem-se 1,7% face a2009. De acordo com dados da ASECAP, a associação europeia das concessionárias de auto-estradas epontescomportagem,queestáa realizaro seu congresso anual em Bruxelas,Portugalfoiumdosúnicos países associados, a par da Croáciae Hungria, onde as receitas de portagem diminuíram em 2010. No total, a cobrança de portagensnarededasseteconcessionárias nacionais rendeu menos 12 milhões do que em 2009, passando de 737,94 para 725,31 milhões de euros. Nos últimos seis anos, apenasem2010foiregistadauma quebradas receitas. No conjunto dos 20 países que estão representados naASECAP, asportagensgerarammais4,4%de receitaem2010. O tráfego médio diário nas auto-estradas portuguesas diminuiu,porseulado,de21milveículos em 2009 para pouco mais de 20.500 em 2010, dos quais 1.000 pesados. Já quanto ao número de subscritoresdeidentificadoreselectrónicos para pagamento de portagem, Portugal registou umasubidade11%noanopassado,passan- 20.500 Número de automóveis que circularam diariamente nas autoestradas portuguesas em 2010, dos quais 1.000 pesados. Nos últimos seis anos, apenas em 2010 foi registada uma quebra das receitas. dode2,36para2,63milhões,devidoessencialmenteàintroduçãode portagens electrónicas nas três Scutdo Norte a15 de Outubro. Portugal mantém-se assim comooterceiropaíseuropeucom maior número de subscritores de identificadores electrónicos, depoisdaItália,com7,6milhões,eda França,com3,8milhões.Espanha mantém-senaquartaposição,com mais de 1,8 milhões. Noanopassadoabriramaotráfegomais5,9quilómetrosdeautoestrada em Portugal, passando a redeemoperaçãoaterumaextensão de 1.701,3 quilómetros. O investimento em novas secções de auto-estrada foi no ano passadode167,2milhõesdeeuros ede87,1milhõesdeeurosemalargamentos e áreas de serviço, sendo assim, dos últimos seis anos, aquele em que o investimento atingiuo valormais baixo. *A jornalista viajou a convite da Brisa Na Holanda, o “bom comportamento” vale cinco euros A Brisa está a testar na Holanda novos conceitos de gestão da mobilidade, através da BNV Mobility, sociedade detida em partes iguais pelo grupo português e pela consultora de infra-estruturas holandesa NedMobiel e que foi ontem apresentada no congresso da ASECAP. A BNV tem neste momento em curso um projecto de gestão de congestionamentos em áreas metropolitanas em Roterdão e vai iniciar um segundo em Utrecht no próximo mês de Julho. “O objectivo é reduzir o tráfego nas horas de ponta”, explicou Dirk Grevink, CEO da BNV Mobility, na apresentação, explicando que para isso são dados incentivos aos condutores que se comprometam a não utilizar essas estradas a determinadas horas. Para isso a BNV deu a todos os clientes um “smartphone” com uma aplicação específica, através da qual diariamente tem de dizer se vão utilizar a estrada nas horas de ponta. Se se comprometerem a não utilizar, recebem cinco euros por dia “de recompensa por bom comportamento”, explicou Dirk Grevink. A empresa controla se a informação prestada é ou não verdadeira através de GPS. O objectivo inicial era que com estes incentivos o tráfego nas horas de ponta fosse reduzido em 5%, tendo a BNV conseguido já uma redução média da ordem dos 8%, ou seja, 800 veículos. Pub