Ignacy Sachs – uma voz sempre atual na sociedade
Autoria: Alexandra Jochims Kruel
Resumo
Em tempos de inevitáveis globalizações, de uma realidade extremamente marcada por
exclusões, iniqüidades e fragmentações, e de extensos debates e da realização de eventos acerca
da sobrevivência do planeta, algumas vozes trazem argumentos de coerência e profundidade,
contribuem essencialmente para com a sociedade em que vivemos, de forma a enriquecê-la
como tal e sobrevivem ao chamado ‘teste do tempo’. Ignacy Sachs é uma dessas pessoas, cuja
contribuição a respeito do desenvolvimento e da sustentabilidade ultrapassa os muros
acadêmicos, é contínua e sempre atual. É uma pessoa comprometida com a vida, com a
sociedade, com o desenvolvimento dos povos, em suas várias dimensões. Seus escritos foram
e continuam a ser produzidos de forma concomitante e coerente com sua trajetória de vida, o
que merece um olhar dedicado, e uma constante retomada. Este artigo dedica-se a apresentar
o trabalho de Sachs, demonstrando sua importância e atualidade, e estrutura-se em alguns
itens. A primeira seção trata-se de uma apresentação do homem e de sua obra, em termos
gerais, e traz-se, no texto, uma breve dedicatória de Cristovam Buarque, que foi um de seus
alunos. Esta seção é claramente biográfica, por considerar-se importante conhecer o autor e o
que o move. A segunda seção traz um panorama sobre seus escritos sobre desenvolvimento,
temas relativos e alguns encontros com teóricos outros. Partindo de uma análise que considera
o mundo “engolido por profunda crise social, agravada pela dilaceração mundial”, marcada
por uma bipolaridade não mais entre primeiro e segundo mundos, mas sim entre norte e sul,
entre ricos e pobres, Sachs traz diversas considerações e recomendações a respeito do
desenvolvimento, ao longo de uma obra de décadas. Ele não aponta um conceito específico de
desenvolvimento, mas ao longo de sua trajetória, e conseqüentemente, em sua produção,
demonstra uma concepção sobre o tema, em que o coloca como pertencente mais à esfera
ética do que econômica. Nesta seção, aponta-se para o chamado tripé do desenvolvimento, em
que o autor defende o desenvolvimento como algo que deve ser simultaneamente includente,
sustentável e sustentado. O texto também aborda algumas considerações de Sachs a respeito
de biodiversidade/biomassa/biotecnologia, espacialidades, urbanidades, além de conversas
com outros autores, como Sen, Toye e Schwartzmann, em relação à pobreza; Tendler, sobre a
cidadania; Mkandawire, a respeito da boa governança. A terceira seção apresenta as
sustentabilidades, propositalmente destacadas do texto, visto que o autor é especialmente
reconhecido por este tema. Trata-se de sustentabilidades em alguns eixos, a saber: a social, a
econômica, a ecológica, a espacial e a cultural. É, enfim, um texto teórico, de retomada de
uma obra, resultante de uma vida dedicada à sociedade e ao seu desenvolvimento.
Introdução
Em tempos de inevitáveis globalizações, de uma realidade extremamente marcada por
exclusões, iniqüidades e fragmentações, algumas vozes – mais ou menos reconhecidas – trazem
argumentos de coerência e profundidade, e atingem um espectro grande de pessoas, seja em
termos de público, seja em termos de quantidade. São pessoas que contribuem essencialmente
para com a sociedade em que vivemos, de forma a enriquecê-la como tal. Algumas delas
sobrevivem ao chamado ‘teste do tempo’, por sua capacidade de trazer contribuições sempre
atuais, a despeito de contextos, em termos de localidades e/ou temporalidades. São pessoas
cujas obras merecem ser retomadas.
Ignacy Sachs é uma dessas pessoas, cuja contribuição a respeito do desenvolvimento e
da sustentabilidade ultrapassa os muros acadêmicos, é contínua e sempre atual. Em tempos de
extensos debates e da realização de eventos acerca da sobrevivência do planeta, Sachs
movimenta-se de forma a efetivar a aproximação entre academia e sociedade. Ele é um dos
responsáveis, já há algumas décadas, por trazer à tona a problemática da sustentabilidade em seus
vários eixos, por debatê-la constantemente e por ampliar e aprofundar os debates, indo além da
questão ambiental, embora sem olvidá-la.
Além do destaque para as questões ambientais, o autor também dedica-se a pensar – e
trabalhar – sobre aspectos pertinentes ao desenvolvimento, como a pobreza, a inclusão, o trabalho,
a internet, a exploração de recursos, dentre outros.
Este artigo dedica-se a apresentar o trabalho de Sachs, demonstrando sua importância
e atualidade, e estrutura-se em alguns itens. É um texto teórico, de retomada de uma obra,
resultante de uma vida dedicada à sociedade e ao seu desenvolvimento.
A primeira seção trata-se de uma apresentação do homem e de sua obra, em termos
gerais, e traz-se, no texto, uma breve dedicatória de Cristovam Buarque, que foi um de seus
alunos. Esta seção é claramente biográfica, por considerar-se importante conhecer o autor e o
que o move.
A segunda seção traz um panorama sobre seus escritos sobre desenvolvimento, temas
relativos e alguns encontros com teóricos outros. Partindo de uma análise que considera o
mundo “engolido por profunda crise social, agravada pela dilaceração mundial”, marcada por
uma bipolaridade não mais entre primeiro e segundo mundos, mas sim entre norte e sul, entre
ricos e pobres, Sachs traz diversas considerações e recomendações a respeito do
desenvolvimento, ao longo de uma obra de décadas. Ele não aponta um conceito específico de
desenvolvimento, mas ao longo de sua trajetória, e conseqüentemente, em sua produção,
demonstra uma concepção sobre o tema, em que o coloca como pertencente mais à esfera
ética do que econômica. Nesta seção, aponta-se para o chamado tripé do desenvolvimento, em
que o autor defende o desenvolvimento como algo que deve ser simultaneamente includente,
sustentável e sustentado. O texto também aborda algumas considerações de Sachs a respeito
de biodiversidade/biomassa/biotecnologia, espacialidades, urbanidades, além de conversas
com outros autores, como Sen, Toye e Schwartzmann, em relação à pobreza; Tendler, sobre a
cidadania; Mkandawire, a respeito da boa governança.
A terceira seção apresenta as sustentabilidades, propositalmente destacadas do texto,
visto que o autor é especialmente reconhecido por este tema. Trata-se de sustentabilidades em
alguns eixos, a saber: a social, a econômica, a ecológica, a espacial e a cultural.
Ignacy Sachs, o homem e a obra
“Eu tive um percurso excepcional, no sentido de que pouquíssimas pessoas
nasceram na Polônia, se formaram no Brasil, fizeram doutorado na Índia,
trabalharam na Polônia socialista e passaram os últimos 40 anos usando o
aeroporto de Paris como sua base, andando pelo mundo.” (SACHS, 2007b).
Embora passe muito de seu tempo no Brasil, Ignacy Sachs é um cidadão do mundo.
Nascido em Varsóvia, veio para o Brasil ainda adolescente, refugiado da Segunda Grande
Guerra Mundial. Viveu no Brasil por 14 anos, se formou em Economia pela Faculdade de
Ciências Econômicas e Políticas do Rio de Janeiro, e trabalhou na Embaixada da Polônia no
Brasil. Retornou à Polônia, onde trabalhou no Instituto de Relações Internacionais, e tornouse um dos primeiros pesquisadores a dedicar-se ao tema do desenvolvimento e
subdesenvolvimento. Atuou na primeira Conferência de Solidariedade de Bandung e na
tradução da Constituição da Índia.
Da Polônia, foi para a Índia, trabalhando na área diplomática e doutorando-se na
Escola de Economia da Universidade de Delhi, onde defendeu uma tese sobre os modelos do
setor público nos países subdesenvolvidos, publicada no Brasil com o título Capitalismo de
Estado e desenvolvimento. Ao retornar para a Polônia, criou um centro de pesquisas sobre as
economias de países subdesenvolvidos, em Varsóvia, na Escola de Planejamento e Estatística.
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Em 1968, fugindo da perseguição política, foi para a França, onde, desde então e a convite,
integra o corpo docente da École des Hautes Études en Sciences Sociales, local em que foi
criado o Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo, em 1985.
Sachs participou da preparação da Primeira Conferência de Meio Ambiente e
Desenvolvimento da ONU, conhecida como Conferência de Estocolmo, em 1972. À época, a
partir de uma proposta de Maurice Strong, secretário da Conferência, Sachs desenvolveu o
conceito de ecodesenvolvimento, o qual influenciaria na origem do termo desenvolvimento
sustentável. Sachs também atuou como conselheiro especial na Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Cúpula da Terra, em 1992, no Rio de
Janeiro.
Socialista e fortemente influenciado por algumas das teses de Gandhi, Sachs defende-o
como o precursor das boas e modernas teorias de desenvolvimento, “pela maneira como
considerava a massa camponesa como o ator central do processo de desenvolvimento”, pela
sensibilidade às teconologias simples e intermediárias, e ao autocontrole dos indivíduos, no
sentido de limitar suas necessidades, ponto este de suma importância no debate atual sobre
sustentabilidade, especialmente nos países desenvolvidos e industrializados (Estudos
Avançados, 2004, p.357).
Autor de mais de vinte livros sobre desenvolvimento e meio ambiente, foi cronista do
jornal Estado de São Paulo por três anos, entre 1998 e 2001, apresentando os dilemas
enfrentados pelo Brasil, analisando impactos da globalização, refletindo sobre a reforma do
sistema internacional e acompanhando o debate de idéias sobre o desenvolvimento (SACHS,
2002).
Foi aluno de Kalecki e foi professor de pessoas conhecidas, como Cristovam Buarque,
o qual dedica-lhe homenagens, e o compara a outros grandes, como Josué de Castro, Celso
Furtado e Darcy Ribeiro, como professores importantes para sua formação intelectual. A
Sachs, Buarque (2002, p.11-26) dedica o seguinte texto:
Um dia o jornalista Gilberto Dimenstein fez uma enquete entre diversas pessoas
perguntando qual tinha sido o professor de sua vida. Fui incluído entre os
consultados. Minha primeira lembrança foi a de um irmão marista, no Ginásio de
São Luis, Recife, o irmão Carlos [...]. Sem o irmão Carlos eu provavelmente teria
outra formação [...]. Viver é rodear-se de professores, aprendendo coisas todos os
dias.
Mas a verdadeira formação intelectual chega na juventude e na primeira fase da vida
adulta e, neste sentido, meus grandes professores foram Josué de Casto, Celso
Furtado, Darcy Ribeiro e Ignacy Sachs.
Do primeiro [...], devo o sentimento de que o desenvolvimento econômico [...] não é
capaz de atender às necessidades de todos. Com ele, percebi pela primeira vez que
as pessoas não comem o que as indústrias produzem [...]. A Celso Furtado devo a
compreensão da dinâmica do processo social brasileiro [...]. De Darcy, aprendi [...] a
importância da ousadia e do inusitado, o gosto pelo surpreendente. [...] Mas Darcy
também, tal como Celso Furtado, me abriu a percepção do processo histórico [...].
Mas foi de Sachs que recebi a mais forte influência. Porque foi meu professor direto,
meu orientador durante quase três anos e, desde então, por trinta anos, uma pessoa
que me influencia em, pelo menos, doze aspectos: [...] a descoberta do valor da
Natureza [...], entender o papel da tecnologia [...], a heterodoxia [...], o
surpreendente [...], o rigor [...], o cosmopolita [...], o crítico [...], o local [...], a
generosidade [...], o pragmatismo [...], a modéstia [...], o humanismo
É conhecido como um ecossocioeconomista, por sua concepção de desenvolvimento,
que combina crescimento econômico, preservação ambiental e eqüidade social. Sua
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contribuição é de tal forma considerada, que Sachs é tema de pelo menos dois livros:
Desenvolvimento e meio ambiente no Brasil – a contribuição de Ignacy Sachs e Pour aborder
le XXIème siècle avec le developpement.
Dotado de grande senso de humor e de grande crítica social, Sachs possui uma recente
interessante autobiografia, em que ‘conversa’ com seus leitores, contando detalhes, histórias e
folguedos sobre sua infância, as fugas da Polônia, a vinda para o Brasil, as idas para a Índia e
para a França, o trabalho na ONU, as muitas atuações em atividades diversas sobre o
desenvolvimento, as perseguições sofridas e, principalmente, aponta para sua
responsabilidade para com a sociedade (SACHS, 2009).
É, enfim, uma pessoa comprometida com a vida, com a sociedade, com o
desenvolvimento dos povos, em suas várias dimensões. Seus escritos foram e continuam a ser
produzidos de forma concomitante e coerente com sua trajetória de vida, o que merece um
olhar dedicado, e uma constante retomada.
A seguir, algumas considerações sobre as teorizações do autor e seus diálogos com
outros autores dedicados aos estudos do desenvolvimento.
Algumas teorizações de Sachs e alguns diálogos com outros autores
Partindo de uma análise que considera o mundo “engolido por profunda crise social,
agravada pela dilaceração mundial” (SACHS, 1997, p.3), marcada por uma bipolaridade não
mais entre primeiro e segundo mundos, mas sim entre norte e sul, entre ricos e pobres, Sachs
traz diversas considerações e recomendações a respeito do desenvolvimento, ao longo de uma
obra de décadas.
Sachs não aponta um conceito específico de desenvolvimento, mas ao longo de sua
trajetória, e conseqüentemente, em sua produção, demonstra uma concepção sobre o tema, em
que o coloca como pertencente mais à esfera ética do que econômica (SACHS, 1986).
Defendendo o que convencionou chamar tripé do desenvolvimento, o apresenta como algo
que deve ser, simultaneamente: includente, do ponto de vista social, sustentável, do ponto de
vista ecológico e sustentado (economicamente viável), do ponto de vista econômico (Estudos
Avançados, 2004; SACHS, 2003; 2004; FACHIN, 2008), conforme a fala a seguir, emitida
em entrevista:
Precisamos cuidar para tratar do meio ambiente como algo não separado do
problema social. O desenvolvimento sustentável deve ser, ao mesmo tempo, um
desenvolvimento includente. O ponto de partida desse debate deve ser formado pelo
seguinte tripé: os objetivos de desenvolvimento são sempre sociais e éticos ou, pelo
menos, deveriam ser; existem condicionantes ecológicas, que devem ser explicitadas
e respeitadas, sendo que, para que as coisas aconteçam, é preciso dar lhes uma
viabilidade econômica, porque não adianta lançar idéias bonitas no ar, se elas não se
materializam; e, finalmente, a criação de um Estado pró-ativo que regule o mercado
(FACHIN, 2008).
Guiando-se por este sentido, Sachs aborda diversos temas importantes: o
desenvolvimento propriamente dito e o maldesenvolvimento (como um opositor ao
desenvolvimento); desenvolvimento e crescimento econômico; pobreza e exclusão social;
participação, direitos políticos e descentralização; trabalho decente; políticas públicas,
planejamento e Estado; espacialidades (desenvolvimento rural e urbanidades) e
sustentabilidades, dentre outros, com menor ênfase, mas não menos importância, tais como
impactos da Internet e custo da vida.
Sobre desenvolvimento e crescimento econômico, enquanto uma corrente crê no
desenvolvimento econômico como um sinônimo de crescimento econômico, outros
consideram este um fato superado: o crescimento econômico, embora seja indispensável para
o desenvolvimento, é insuficiente para a melhoria das condições de vida das populações. A
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primeira corrente deriva dos pensadores clássicos da economia, Adam Smith e David Ricardo,
e é representada por vários autores chamados neoclássicos. A segunda corrente traz teóricos
críticos e mais envolvidos com questões sociais de uma forma mais subjetiva: fome, pobreza,
desigualdade. São representantes nessa corrente: Myrdal, Amartya Sen, Celso Furtado e o
próprio Ignacy Sachs (1995; 1997), dentre muito outros.
Sobre este tema, Sachs aponta que no dizer desenvolvimento existe um dizer da
necessidade de se liberar do reducionismo economicista (SACHS, 1986; Estudos Avançados,
2004), e que os aspectos distributivos e qualitativos não podem ser negligenciados (SACHS,
1995; 1997). Citando Louis Emmerij, Sachs (1995) diz que
“ninguém poderia contestar o fato de que o crescimento econômico seja, a longo
prazo, eficiente para alcançar os objetivos sociais e lutar contra a pobreza, mas de 3
a 5 gerações podem ser necessárias para chegar a essa meta. Em outros termos, o
período de transição seria humanamente insuportável e politicamente irresponsável”.
Tal fala reforça a ênfase que Sachs expõe ao rejeitar as idéias de que é preciso esperar
pelo crescimento, para então partir para a distribuição (1993), e de que a exclusão social é um
mal necessário como preço pelo progresso (Estudos Avançados, 2004).
Enquanto alguns autores defendem a busca pelo rompimento do estado estacionário
através da criação de novos patamares de crescimento e desenvolvimento econômico, por
meio de inovações tecnológicas, expansão do comércio mundial e exportação de capitais,
como pensadores clássicos (SOUZA, 2007), outros defendem o ‘crescimento zero’. Há, ainda,
os que não se colocam em nenhum extremo, como Furtado (2000). Sachs coloca-se favorável
ao crescimento e desenvolvimento econômico por meio da recuperação do mercado interno e
da criação intensiva de emprego (Estudos Avançados, 2004; SACHS, 2004), e do
ordenamento de um sistema monetário internacional com taxas cambiais relativamente
estáveis e moedas alinhadas (SACHS, 1997). Ele defende que a economia das nações não
pode ser asfixiada, o que acontece em muitos países cujas dívidas externas são extremas, em
relação às suas condições de desempenho. O autor também defende a renegociação das
dívidas, respeitando-se a capacidade de pagamento de cada país devedor, apoiando-se em uma
coordenação e na solidariedade entre estes devedores (Estudos Avançados, 2004).
Retomando, pois, a concepção do tripé do desenvolvimento, também o crescimento
deve ser socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável (SACHS 1986; Estudos
Avançados, 2004).
Outro grande tema diz respeito à pobreza, à exclusão social e à desigualdade. De
acordo com Toye (2007), a pobreza usualmente é entendida como um tipo de falta
generalizada, e pessoas pobres seriam pessoas privadas de coisas que elas precisam para viver
uma vida normal. Ou seja, na mesma direção apontada primeiramente por Sen (1999), em que
a pobreza é, claramente, uma questão de privação. Toye (2007) faz um tipo de levantamento
sobre a atitude a adotar em relação à pobreza, tendo-se como opções o alívio, a redução e a
eliminação da pobreza, sendo o alívio uma contemporização do problema, a eliminação um
enfrentamento de cunho utópico; e a redução como algo entre as outras possibilidades, mais
resoluta e realista, e em geral, a forma escolhida de ação. Sachs, por sua vez, retoma Indira
Gandhi, que referiu que a pobreza é a pior das poluições, não sendo possível dissociar as
problemáticas social e ambiental (Estudos Avançados, 2004), que os ricos já não precisam dos
pobres, e talvez por isso tentam esquecê-los (SACHS, 1995), e que erradicá-la, melhorando as
condições sociais, é a prioridade primeira (SACHS, 1997). Sachs adota, pois, uma posição
radical neste aspecto.
Sobre a exclusão social, considera-se que sua concepção de exclusão envolve a idéia
de algo que permita compreender a dinâmica e o caráter processual dos mecanismos que
envolvem a pobreza e traz implícita a temática da desigualdade e da privação de algo que
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outros possuem. Neste aspecto, Sachs (1995) refere Marshall Wolfe, que distingue vários
tipos de exclusão: dos meios de subsistência livelihoods, de serviços sociais de proteção e
redes de segurança, da cultura do consumo, do processo de escolhas políticas, das bases de
organização popular e de solidariedade e, por fim, da aptidão de compreender o que está
acontecendo. Para Schwartzman (2007), o termo ‘exclusão’ é inseparável do de cidadania, a
qual se realizaria pelo alcance de todos aos direitos civis, políticos e sociais, reforçando a
defesa de Sachs (1995), que coloca que o exercício efetivo de todos os direitos (políticos,
cívicos, sociais, econômicos e culturais) devem ser estendidos ao conjunto da população, que
incluem o direito ao desenvolvimento individual e coletivo e ao trabalho, instrumentos que
permitam as pessoas reivindicarem seus direitos.
Além disso, Sachs (1995) considera que deve ser fortalecida a capacidade de as
populações para se responsabilizarem por boa parte das decisões que lhes dizem respeito,
harmonizando-se as políticas públicas e as ações ligadas à prática da cidadania. Ou seja,
cidadania também faz refletir sobre participação e descentralização, cujo ideário é a obtenção
de instituições locais mais fortes, governos locais mais capazes e uma sociedade civil mais
atuante (TENDLER, 1998), aspecto este que, para Bandeira (1999), seria a principal causa de
sucesso de políticas, programas e projetos de desenvolvimento.
Além da participação, importa a transparência, o que para autores como Mkandawire
(2007), denomina-se boa governança, com uma concepção de ser algo desenvolvedor
econômica e estruturalmente de forma responsável e sustentável, em condições globais
altamente competitivas, democrático e socialmente inclusivo. Neste sentido, as considerações
de Sachs são coerentes a tais colocações, uma vez que, para ele, as estratégias de
desenvolvimento devem ser desenhadas e implementadas com a participação popular
(SACHS, 1993) e o futuro das políticas de desenvolvimento passa pelo conceito de
desenvolvimento negociado e pactuado pelos parceiros do processo, pela definição clara do
que cada um faz e contribui (Estudos Avançados, 2004). Além disso, o autor defende políticas
de capacitação e a cooperação pela troca de experiências entre cidades, além de estudos
comparativos, para o encontro de modelos, estímulo de imaginação social e aproveitamento
de sucessos e fracassos como espelhos para as próprias dúvidas (SACHS, 1993).
Sobre o trabalho, mais especificamente o emprego, o tema foi e vem sendo apropriado
dentro de um espectro maior, o do desenvolvimento social, sendo abordado em eventos e
documentos das Nações Unidas, como a Declaração de Copenhagen, cuja proposta foi um
programa de ação, baseado na erradicação da pobreza, na expansão de emprego produtivo e
na redução do desemprego e integração social (UNITED NATIONS, 1995). Sachs pode ser
responsabilizado por influenciar na confecção de produções como esta, visto que sua trajetória
esteve sempre vinculada às instituições como a Organização das Nações Unidas, e pela sua
concepção do tripé do desenvolvimento, englobando os aspectos social, ambiental e
econômico. O autor defende que o trabalho inclui socialmente, e que a inclusão pelo trabalho
conjuga objetivos econômicos e sociais contribuindo para o aumento da renda e do bem estar
social, além de oferecer uma solução permanente, pois não requer financiamentos recorrentes,
como as políticas compensatórias (SACHS, 2003; 2004). Sachs (2004) também aponta que o
exercício ao direto do trabalho promove auto-estima, oferece oportunidades para autorealização e avanço na escala social.
Por outro lado, denuncia má repartição da carga de trabalho socialmente necessário,
exacerbado pela mecanização (SACHS, 1986), aumentos de subempregos e trabalhos
precarizados, e uma epidemia mundial de crescimento sem emprego, a jobless growth
(SACHS, 2004), e argumenta que (no Brasil, especialmente) a maior parte dos empregos está
nos empreendimentos de pequeno porte, em que as pessoas mal conseguem sobreviver e
vivem até mesmo na informalidade, fadados a viver em condições de ociosidade forçada ou
como ‘meros’ assistidos. E questiona: o que fazer com essas pessoas, como criar formas para
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que elas saiam da informalidade, como criar condições para que sua competitividade não seja
unicamente espúria, mas sim real, ...? (Estudos Avançados, 2004)
Assim sendo, contrário à noção de que empregos precários e subempregos devam ser
minorados por políticas assistenciais, e de que o crescimento por si só não basta para
assegurar uma economia com intensidade de emprego satisfatória, defende o crescimento
puxado pelo emprego (SACHS, 2004), a geração de oportunidades do que ele denomina
trabalho decente, ou seja, razoável em termos de remuneração dentro das condições de seu
país, de condições de trabalho e de relações de trabalho (Estudos Avançados, 2004; SACHS,
2003; 2004). Para ele, a questão dos empregos importa muito para a formulação de estratégias
de desenvolvimento includente; e sua maximização deve ser objeto de estudos e de
negociações entre os poderes públicos, empresários e trabalhadores, com vistas à construção
do que ele convencionou chamar sinergias positivas (SACHS, 2003).
Sobre as espacialidades, Sachs traz reflexões e contribuições aos assuntos
desenvolvimento rural e problemas urbanos. Sobre o primeiro assunto, desenvolvimento
rural, entendido com o objetivo de promoção de alternativas de sustento fora de atividades
estritamente agrícoolas (SACHS, 1993), o autor aponta para vários aspectos:
• defesa da mudança de políticas de cultivo para sistemas de produção, com
ênfase maior aos pequenos produtores, recomendando os manejos sustentáveis
(prevenção de poluidores de solo e água, defesa dos produtos orgânicos, de
técnicas alternativas e de práticas de conservação de recursos, de combinação
de técnicas tradicionais e de ponta) e aumento da produtividade das terras em
uso, e não da expansão agrícola em terrras marginais e florestas (SACHS,
1993);
• as prioridades da agricultura em assegurar alimentação para todos,
proporcionar empregos, melhorar a subsistência e a segurança da renda nas
áreas rurais (SACHS, 1993). Sachs (1995) argumenta que a agricultura pode
assumir papel motor no desenvolvimento em alguns países, com as condições
de concentração em culturas que precisam de bastante mão-de-obra e de
prática de manejo cuidadoso dos solos, da água e dos micronutrientes, com a
ajuda de tecnologias intensivas ligadas a conhecimentos científicos;
• o uso da tecnologia e da ciência sob o trinômio biodiversidade-biomassasbiotecnologias, de forma a se abrir o leque de produtos, como alimentos,
fertilizantes, energia, materiais de construção, fármacos, cosméticos, etc,
enfatizando-se a recomendação de prudência e bioética (Estudos Avançados,
2004);
• aceleração e efetivação de reforma agrária, não limitada à distribuição de terra,
mas também englobando o acesso ao crédito, aos conhecimentos e ao mercado,
contando-se com uma política de apoio à agricultura familiar (Estudos
Avançados, 2004), a qual gera mais oportunidades de empregos e renda para as
populações rurais do que as lavouras intensivas em mecanização (FACHIN,
2008).
No outro ‘pólo’ das espacialidades, Sachs (1993) trata dos problemas urbanos, e alega
ser preciso cuidá-los simultaneamente aos problemas rurais. O autor aponta para o fato de
que existe uma realidade de explosão urbana, em que os pobres urbanos são as principais
vítimas da destruição ambiental, vivendo em miséria, sujeitos à poluição, sem acesso a
infraestruturas, serviços adequados e moradias decentes, e assim, acumulam-se as
necessidades não atendidas (SACHS, 1993). Além disso, ressalta que, no contexto urbano, as
fontes de conflitos e violência endêmica (relações interétnicas, interculturais e interreligiosas), apresentam-se de forma mais aguda, sobretudo quando tal mescla se sobrepõe à
exclusão social (SACHS, 1995).
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Para lidar com o que o autor chama de desafio urbano, ele recomenda considerar a
singularidade das várias configurações de cada cidade (configurações naturais, culturais,
sociais, políticas, históricas e de tradição), ou seja, considerar a diversidade dos problemas
como um valor cultural de fundamental importância, de forma a se buscar estratégias
proativas e inovadoras de desenvolvimento urbano, baseadas em eqüidade social, prudência
ecológica e eficiência urbana. Tais estratégias devem considerar os modelos institucionais e
gerenciais; novas formas de associação entre a sociedade civil, empresas e autoridades
públicas; mudança de políticas de oferta para de capacitação e estímulo a iniciativas e
criatividade popular; esforço contínuo para eliminação de desperdícios e poupança de
recursos; gestão competente do pluralismo tecnológico e esforço de pesquisa de novas
soluções tecnológicas, as quais devem ficar à disposição e estar acessíveis aos países em
desenvolvimento (SACHS, 1993).
Sachs também pondera sobre políticas públicas, planejamento e papel do Estado, em
relação ao desenvolvimento. Ele defende que, na elaboração de políticas públicas, em seu
planejamento, é necessário tratar, simultaneamente, de cinco temas: paz, economia, meioambiente, justiça e democracia, tomando as condições de vida como ponto de partida dos
esforços em prol do desenvolvimento (SACHS, 1995). Considera cinco dimensões de
sustentabilidade: social, econômica, ecológica, espacial e cultural, e defende ser preciso atuar
buscando encontrar equilíbrio entre as formas de capital (humano, natural, físico, financeiro),
o quadro institucional e os recursos culturais (SACHS, 1993).
Especificamente em termos econômicos e democráticos, defende a ênfase ao
empreendedorismo coletivo – cooperativas, associações, consórcios –, de forma a se
conseguir melhores condições de negociações (sem contudo burlar a legislação trabalhista), a
desburocratização do processo de entrada na economia formal, a simplificação fiscal e
previdenciária, bem como a acessibilidade a tecnologias, ao crédito e ao mercado (Estudos
Avançados, 2004).
Em termos gerais, porém, considerando-se que as políticas públicas devem trazer
soluções a demandas da sociedade, Sachs (1993; 1995) aponta que tais soluções, em termos
radicais, devem se reportar às raízes do problema, e nao aos seus sintomas, e que é preciso
pautá-las no princípio de eqüidade, ou seja, aplicar tratamento desigual aos desiguais (Estudos
Avançados, 2004). Assim sendo, políticas assistenciais voltadas para os pobres são
necessárias, mas por si sós, não trazem soluções duráveis (SACHS, 1995), não devendo ser,
pois, consideradas como soluções radicais, mas ainda assim, guiadas para serem equânimes.
Nesta lógica, de defesa do planejamento de soluções e de políticas públicas, Sachs
defende o papel do Estado, como Estado-Nação, de importância imprescindível. Ao Estado,
Sachs atribui um perfil de ator atuante, proativo, enxuto, limpo, promotor de desenvolvimento
e regulador de um mercado que tenha também uma função social, que organize e conduza o
processo de negociação entre os atores do desenvolvimento, que proteja, por meio de
estratégias nacionais, as nações contra os efeitos negativos da globalização. Em outras
palavras, algo entre o Estado onipresente e o Estado mínimo, mas sempre um Estado forte
(Estudos Avançados, 2004; SACHS, 1995; 2007).
O planejamento da nação cabe, pois, ao Estado, e Sachs defende que um discurso
normativo é indispensável para precisar um projeto nacional mobilizado, que reconhece o
passado que é vivo, e que também está voltado para o futuro (SACHS, 1995). Nesta linha,
cabe relembrar Celso Furtado e sua defesa de um projeto nacional discutido, negociado, que
surja de um grande debate social, que resulte de um planejamento estratégico, flexível, que
crie condições que empurrem os atores para determinadas condições, que seja negociado entre
Estado, empresários, trabalhadores e sociedade civil, que seja pactuado com objetivos e
obrigações (Estudos Avançados, 2004).
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As sustentabilidades
As sustentabilidades foram separadas propositalmente dos demais temas. Isto porque
Sachs é muito conhecido pela defesa da sustentabilidade, e mais ainda pela sustentabilidade
em termos ambiental e social. Todavia, a trajetória de Sachs a respeito do desenvolvimento
está muito além disso. Ao tratar do tema sustentabilidade, Sachs não se atém a um ou outro
aspecto em específico. Embora introduzida no debate por questões ambientais, a
sustentabilidade tem diversas facetas. Sustentabilidade quer dizer perenidade (SACHS, 1997),
e este conceito foi associado à desenvolvimento, adjetivando-o, para o que comumente se
conhece por desenvolvimento sustentável, o que, para autores como Nixon (2003), não passa
de um oxímoro, algo inalcançável.
Se, por um lado, a concepção de desenvolvimento sustentável leva alguns a
defenderem a sustentabilidade ecológica, exclusivamente em termos de ecosfera, como Nixon
(2003), por outro, conduz muitos outros a defenderem uma concepção mais ampla, enfocando
dimensões como a própria ecologia, mas também a econômica, social, cultural, territorial,
tecnológica e política, como Sachs, ao longo de sua trajetória o que, inclusive, influencia a
atuação de vários pesquisadores, a exemplo de Lage e Barbieri (2001). Como apontado por
Redclift (2002), cada vez mais, a ‘sustentabilidade’ foi se separando do meio ambiente e
sendo confundida com questões como eqüidade, governabilidade e justiça social, ou seja,
sendo usada como um sufixo para quase todas as coisas que são julgadas como desejáveis.
Não é exatamente o entendimento de Sachs. O autor não se afastou do meio ambiente. Na
realidade, o autor associou meio ambiente e outras questões, de uma forma imbricada,
conforme o que segue.
Sachs (1993) defende a existência de cinco dimensões, ou ainda, pilares da
sustentabilidade, os quais devem ser considerados simultaneamente:
ƒ Sustentabilidade social, cujo objetivo é a construção de uma civilização do
“ser”, na qual haja maior eqüidade na distribuição do “ter” e da renda, para a
melhoria dos direitos e das condições de vida da população, de forma também
a abranger as necessidades materiais e não materiais das pessoas (SACHS,
1993);
ƒ Sustentabilidade econômica, possibilitada por alocação e gestão eficientes de
recursos e fluxo regular de investimento público e privado, bem como uma
avaliação mais em termos macrossociais do que somente por critérios de
lucratividade microempresarial (SACHS, 1993);
ƒ Sustentabilidade ecológica, considerado aspecto central no tema
desenvolvimento (Estudos Avançados, 2004), refere-se e pode ser
incrementada pela intensificação do uso de recursos potenciais dos vários
ecossistemas com danos mínimos aos sistemas de sustentação da vida; pela
limitação de consumo de combustíveis fósseis e recursos esgotáveis,
substituindo-os por recursos renováveis e inofensivos; pela redução de volume
de poluição e de resíduos, adotando-se reciclagem de energia e de recursos;
pela autolimitação de consumo material pelos ricos (países e camadas sociais);
pela intensificação de pesquisa de tecnologias limpas e pela definição de regras
de proteção ambiental (SACHS, 1993);
ƒ Sustentabilidade espacial, que se volte a uma configuração rural-urbana mais
equilibrada e para uma distribuição territorial melhor no que diz respeito a
assentamentos urbanos e atividades econômicas, com ênfase em: concentração
excessiva de pessoas nas regiões metropolitanas; destruição de ecossistemas
frágeis por processos descontrolados e desorganizados de colonização;
promoção de projetos de agricultura regenerativa e agroflorestamento por parte
9
ƒ
de pequenos produtores; industrialização descentralizada e associada a
tecnologias de nova geração (especialmente biomassa); estabelecimento de
uma rede de reservas naturais e de biosfera, para a proteção da biodiversidade
(SACHS, 1993);
Sustentabilidade cultural, para a
“busca das raízes endógenas dos modelos de modernização e sistemas rurais
integrados de produção; privilegiando processos
de mudança no seio da
continuidade cultural e traduzindo o conceito normativo de ecodesenvolvimento em
uma pluralidade de soluções particulares, que respeitem as especificidades de cada
ecossistema, de cada cultura e de cada local” (SACHS, 1993, p.27).
Enfim, e resumidamente, Sachs (1995; Estudos Avançados, 2004) defende que é
preciso que haja dedicação ao que ele chama de um jogo de harmonização, de forma a
compatibilizar os objetivos sociais, econômicos e ambientais (espaciais e culturais incluídos)
referentes ao desenvolvimento, e que neste jogo, é necessário, então, mudar os padrões de
oferta e de demanda, haja vista que os atuais padrões de consumo no mundo estão além da
capacidade de reposição da biosfera, o que impacta diretamente sobre os recursos naturais,
tipos de energia, tecnologias e localizações espaciais das produções. Tal jogo, por outro lado,
impacta na modificação de estilos de vida e, conseqüentemente, dos referidos padrões de
consumo (SACHS, 1986; 1993), algo que requer um esforço hercúleo em termos de educação
e conscientização, algo nominado pelo autor como exercício de auto-restrição ou de autolimitação (SACHS, 1993).
Algumas considerações
Ignacy Sachs é um autor e um ator de referência para diversos temas, principalmente
para o do desenvolvimento. A despeito das manifestações a respeito de sua produção, é
referência não apenas pelo que defende ou lança para o campo, mas também por sua
amplitude de influência, visto que é vinculado de forma bastante forte a instituições como as
Nações Unidas. Ao longo de sua produção, demonstra estar atento aos acontecimentos e
tendências mundiais, principalmente em termos econômicos e institucionais, e ao que dizem
os ‘grandes nomes’, como Amartya Sen, Stiglitz e Fukuyama (SACHS, 2002).
É importante apontar que Sachs é bastante conhecido por sua defesa em prol do meio
ambiente. Todavia, seu interesse está na sustentabilidade como um todo, que conforme
demonstrado, não se atém exclusivamente aos aspectos ecológicos. O autor vê a
sustentabilidade como algo muito maior, algo que permeia toda a realidade social, e, a partir
de sua percepção, reflete e produz sobre os temas que considera fazerem parte do que é o
desenvolvimento: assim sendo, o ambiente passa a ser a realidade social.
É interessante também observar que o autor não se atém às reflexões teóricas. Sachs
caminha pela realidade, traz considerações e comparações a respeito dos países que lhe
conquistaram (Brasil e Índia) e faz recomendações, apontando para possibilidades em termos
práticos e chamando para a responsabilidade de governos, empresários e sociedade civil como
um todo. Em outras palavras, ora o autor é reflexivo, ora prescritivo.
Sachs é, pois, alguém que assumiu para si a tarefa de aproximar-se da sociedade, de
compartilhar seu conhecimento e de valorizar o que empiricamente se aproxima dele.
Vivencia uma postura de atuação comprometida com a inovação, com a transformação histórica
da sociedade (GRAMSCI apud KONDER, 1992). E por vivenciá-la, compartilhando, merece
ser lembrado e retomado.
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Ignacy Sachs – uma voz sempre atual na sociedade