tatiana py dutra [email protected] zoom 8 D2 QUINTA-FEIRA, 8 DE JANEIRO DE 2015 % 3220-1876 Josh Edelson / AFP Je suis Charlie* O clube de leitura de Zuckerberg Ontem foi um dia triste para o jornalismo. O atentado contra a redação do semanário satírico Charlie Hebdo – uma espécie de O Pasquim francês – terminou com 12 mortos, entre eles, oito jornalistas. Desses, quatro eram renomados cartunistas: Charb, Cabu, Tignous e Wolinski. A crítica e o humor que saíam da ponta de seus lápis – muitas, relacionadas a Maomé – estariam entre os motivos do ataque. Creio que esse triste episódio abre espaço para a discussão sobre liberdade de expressão, respeito, religiosidade e extremismo. Mas, ontem, em redações de todo o mundo se pranteou a perda desses profissionais, que morreram em serviço. E nos quatro cantos do globo, chargistas usaram sua arte para lamentar a perda. Ao lado, um compilado de algumas belas e melancólicas criações de Ruben L. Oppenheimer, Nono, Erlich e Yak. A imagem maior é de autoria do gaúcho Leandro Malósi Dóro, que desabafou: – O atentado me deixou profundamente chateado. Morreu, entre eles, Wolinski, um dos pilares da mudança de comportamento da revolução sexual dos anos 60. A Sony foi atacada pela Coreia do Norte por fazer filme ironizando a ditadura coreana. Agora, 12 mortos em uma revista de humor por publicar charge sobre Maomé. É como se vivêssemos uma guerra da opinião, onde o humor é, como no sentido francês da palavra charge, uma bala de canhão. Dóro compartilha o temor de muitos que, se confirmada a origem do ataque, crie-se uma onda de tensão religiosa e racial. Mas ele lembra que a Igreja Católica, em seus primórdios, e até mesmo o filósofo Sócrates condenaram o humor, por diferentes motivos. – O humor tem a tarefa de criar opinião pública. Ao mesmo tempo, ele é perigoso. Ao longo da história, foi julgado de diferentes formas pela humanidade, inclusive na ditadura brasileira, quando foi essencial para gerar opinião pró-democracia. Todavia, creio que esta é uma das raras vezes em que a reação é a morte dos cartunistas – lamenta. Resta orar por um mundo em que o amor impeça o mal. Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, tem o costume de iniciar o ano com uma lista de resoluções. E para seus objetivos de 2015, ele decidiu contar com a ajuda de seus seguidores. Atrás da meta de ler um livro a cada duas semanas, o milionário criou a página A Year of Books, em sua rede social. Lá, ele vai comentar as obras lidas e promover uma discussão com os internautas, numa espécie de clube de leitura virtual. Como não poderia deixar de ser, a resolução já é um sucesso. Tanto que o primeiro livro escolhido por Zuckerberg, The End of Power (O fim do poder), bombou nas vendas, e (pasmem) já está esgotado no site da Amazon. O título foi anunciado na sua página no Facebook, no último sábado. Seu autor, Moisés Naím, claro, agradeceu a escolha. E que o clube se dissemine, né? Liciane Brun RECOMENDA “Balada Sangrenta” Michael Curtiz A data é histórica para a música e para a cultura pop mundial: se vivo estivesse, Elvis Presley faria 80 anos hoje. Certamente ainda célebre e cultuado, mas longe do jovem topetudo e ousado que surge em Balada Sangrenta (1958), quarto filme protagonizado pelo cantor. Ele herdou o papel que seria de James Dean como Danny, um rebelde em conflito com o pai por abandonar os estudos para virar cantor. Seu sucesso atrai a ira de um chefão do crime (Walter Matthau), que faz tudo para derrubar Danny. Dirigido por Michael Curtiz (de Casablanca) e baseado num romance de Harold Robbins, Balada Sangrenta é um oásis em meio aos musicais e comédias românticas estrelados por Elvis, que desejava ser reconhecido como ator sério. Talvez não tenha conseguido, mas a atuação dele ajuda a fazer deste um filme mais *Eu sou Charlie reprodução facebook