344 RESENHA ________________________________________________________ Ginástica Rítmica Popular: uma proposta educacional GAIO, R. Ginástica Rítmica Popular: Fontoura, 2007. uma proposta educacional. 2ª edição, Jundiaí: Editora Marília Del Ponte de Assis Graduada em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Especialista em Ginástica Rítmica pela Universidade Norte do Paraná e Especialista em Dança pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Pode-se dizer que muitas vezes os componentes curriculares da Educação Física são tratados erroneamente na escola, tanto por falta de recursos materiais quanto por déficit na formação profissional dos educadores. Percebe-se isso claramente nos discentes de Educação Física que, ao ingressarem no curso superior, apresentam falhas de movimentações básicas e essenciais a todo ser humano, e supõe-se que isso seja resultado dos (des) estímulos que receberam enquanto alunos na Educação Física no ensino fundamental. O livro de Roberta Gaio “Ginástica Rítmica “Popular” – Uma Proposta Educacional”, com 2ª edição ampliada e atualizada, tem como um dos principais objetivos apresentar a Ginástica Rítmica enquanto um conteúdo da Educação Física a ser abordado em espaços escolares e não-escolares, e então, apreciá-la de uma forma “Popular”, como foi intitulada a obra. No período que esteve como docente da Universidade Metodista de Piracicaba/SP, através de um convênio com a Secretaria de Esportes, Lazer e Turismo daquela cidade, a autora idealizou e coordenou um Projeto de Extensão em Ginástica Rítmica e, a partir de experiências adquiridas junto às crianças e jovens, criou princípios pedagógicos, que surgiram após a aplicação da metodologia do lúdico na iniciação da modalidade. A obra, dividida em três capítulos, que nesse momento passo a relatar é fruto das vivências da autora com a comunidade e, da sua relação com o poder público, no desafio de tornar a modalidade acessível, sem descaracterizá-la, como também criar espaços para que as possíveis crianças talentos possam dar continuidade ao treinamento. Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 12, jan./jun. 2008– ISSN 1679-8678 345 No capítulo I, Histórico Geral da Ginástica Rítmica, a autora traça um panorama da Ginástica Rítmica no mundo, no Brasil, e especificamente na cidade de Piracicaba, onde se desenvolveu o projeto “Ginástica Rítmica Popular”. Aborda também o surgimento da modalidade, explanando sobre as influências das correntes da dança, artes cênicas, música e pedagogia na sua evolução histórica, destacando alguns mestres e suas obras. Apresenta de forma clara e objetiva as nomenclaturas que definiram ao longo dos anos essa Ginástica, até chegar a Ginástica Rítmica e seu reconhecimento como modalidade olímpica, porém ainda, essencialmente feminina, nos dizeres da Federação Internacional de Ginástica. Nesse momento a autora aproveita para discutir e comentar questões de gênero, valorizando a participação de meninos e meninas em co-educação no desenvolvimento da modalidade. As principais precursoras da Ginástica Rítmica no Brasil e os principais títulos conquistados pela equipe nacional, comandada pela técnica Bárbara Laffranchi do centro de treinamento da Universidade Norte do Paraná – Londrina/PR também são temas relatados neste capítulo. A autora encerra esse capítulo após apresentar o desenvolvimento da Ginástica Rítmica na cidade de Piracicaba/SP através do seu projeto e destaca argumentos que viabilizam a inclusão dessa modalidade no conjunto de modalidades oferecidas para comunidade pelo poder público. Atividade de baixo custo, praticada pelo sexo masculino e feminino, na faixa escolar ou não, a Ginástica Rítmica Popular não nega o alto nível de desempenho, mas sim, visa “[...] propiciar pedagogicamente às crianças a oportunidade de vivenciarem as atividades motoras baseadas na modalidade, onde o importante é participar... podendo até competir... e quem sabe “vencer”!“ (p. 52) Ela pode ser praticada em qualquer lugar, numa nova perspectiva de esporte, com prazer, criatividade, espontaneidade e valorização das possibilidades de movimento de cada um, sem que somatotipo, habilidades ou outros fatores venham a excluir qualquer participação. Já no capítulo II, A criança “vivendo, crescendo e aprendendo” a autora aborda o desenvolvimento da motricidade da criança na faixa escolar, bem como trata de aspectos afetivo-sociais e do sistema nervoso a nível maturacional. Após fazer uma breve explanação de suas idéias sobre política educacional, política econômica e política esportiva e como estas se refletem na criança e nos jovens brasileiros, ela divide o capítulo em momentos, a saber: Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 12, jan./jun. 2008– ISSN 1679-8678 346 1º Momento: Da psicomotricidade à motricidade - aborda conceitos relacionados ao Eu corporal – a identidade da criança, bem como estruturação das noções espacial e temporal; 2º Momento: Aspectos neurofuncionais – referentes ao desenvolvimento humano desde o período embrionário até os primeiros anos de vida, bem como formação e desenvolvimento específicos do sistema nervoso face aos outros sistemas do organismo; 3º Momento: Aspectos afetivo-sociais do desenvolvimento - trata das relações da criança com a família, a escola e a Educação Física. Intitulado de “Ginástica Rítmica ”Popular”: a desmistificação de um esporte” no capítulo III, a autora descreve o projeto e suas características fundamentais. Inicialmente, são apresentadas generalidades da Ginástica Rítmica enquanto modalidade regida pela Federação Internacional de Ginástica, bem como seus aparelhos, elementos corporais e critérios de julgamento presentes no Código de Pontuação. Bases indispensáveis da Ginástica Rítmica, os elementos corporais devem ser executados coordenados ao manejo dos aparelhos; dessa combinação surge uma seqüência coreográfica que, para os árbitros, determina o grau de dificuldade praticado pela ginasta, o nível de qualidade de execução e o valor artístico da composição. Das ações realizadas no projeto, surgem os princípios norteadores da Ginástica Rítmica Popular, que passo a relatar sinteticamente: Princípio nº 1 - Os movimentos corporais são construídos a partir nos movimentos naturais que as crianças apresentam; Princípio nº 2 - Os aparelhos são utilizados sem a obrigatoriedade de seguir as normas de cor, peso e tamanho; e os movimentos obrigatórios fundamentais também não possuem regras; Princípio nº 3 - O/A professor/a deve incentivar e orientar os/as alunos/as na criação e exploração de seus próprios aparelhos e possibilidades de manuseio e movimento; Princípio nº 4 - Deve ser proporcionada à criança a oportunidade de identificar as diversas formas que se tem de usar o corpo no solo, de modo a produzir movimentos acrobáticos e pré-acrobáticos; Princípio nº 5 - A presença do lúdico e a não descaracterização da modalidade; Princípio nº 6 - Presença de atividades ritmadas, baseadas no canto, na mímica, e nas brincadeiras; Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 12, jan./jun. 2008– ISSN 1679-8678 347 Princípio nº 7 - Vivenciar a modalidade por um grupo amplo, composto por pessoas de qualquer idade, sexo, apresentando deficiências ou não. Deixando as diferenças de lado, visando um ambiente de igualdade e inclusão social. Entendemos então, que não só nos 13x13 podemos praticar a Ginástica Rítmica. Nesta proposta, ela pode ser praticada em qualquer lugar, com aparelhos diferentes e interessantes, visando uma nova visão desta modalidade, a fim de que ela seja executada com prazer, espontaneidade e criatividade, valorizando as potencialidades de cada um. Portanto, faz-se necessário repensar a Educação Física sendo aplicada principalmente no âmbito escolar, local aonde esta venha a ser comprometida com o ser humano, numa proposta dirigida aos alunos e as alunas, em sua totalidade, visando o ser humano como fim em si mesmo. Nesse momento final, convido os/as profissionais de Educação Física, em especial os/as que trabalham na escola, a lerem o livro, e que esse possa auxiliá los/las na inclusão da Ginástica Rítmica no planejamento pedagógico, na árdua tarefa de ampliar a cultura corporal das crianças e jovens brasileiro Data de recebimento: 01/ 03//09 Data de aceite: 31/03/09 Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. You are free: to copy, distribute and transmit the work; to adapt the work. You must attribute the work in the manner specified by the author or licensor Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 12, jan./jun. 2008– ISSN 1679-8678