CULTURA DESIGN Ventos do norte Por alguma razão associamos o melhor – e mais simples, e mais funcional... – design aos países escandinavos. Estas são algumas das ideias mais frescas, nascidas na Suécia POR GABRIELA LOURENÇO, EM ESTOCOLMO J á caiu a noite em Estocolmo, na Suécia, apesar de serem ainda cinco da tarde. As pegadas vão ficando marcadas no chão coberto de neve, enquanto atravessamos a cidade e nos encolhemos dentro do casaco que nos protege dos 6 graus abaixo de zero. Lojas, galerias, museus, hotéis, estações de metro e tantos outros espaços não escondem que esta é a Semana do Design por aqui. Há exposições, fazem-se intervenções, mostram-se as novidades de pequenas e grandes marcas, organizam-se festas em torno de cadeiras, mesas, candeeiros e tantas outras peças recém-nascidas... Se as ruas se vestiram de branco, o mesmo não aconteceu na Northern Light Fair, a feira de mobiliário, iluminação e têxteis, onde, todos os anos, se encontram designers, produtores, fabricantes, jornalistas e amantes de design do globo inteiro, à espreita do que há de novo. Dentro de um gigantesco pavilhão (cerca de 40 mil metros quadrados), a tradicional cor sueca concorreu com muitas outras – das cores primárias aos tons mais vibrantes e a tonalidades pastel, os gostos não se discutiram. Este ano, participaram designers de 32 países, mas, como sempre, foram sobretudo os nórdicos que aproveitam a feira (com um novo nome nesta edição) para mostrar o que têm andado a criar. Não é por acaso que o design escandinavo tem sido vendido enquanto conceito – trabalho artesanal, matérias-primas naturais como a madeira, de qualidade, duradouras e acolhedoras, cores e linhas simples, a função a ditar a forma. Entre as propostas dos grandes nomes do design escandinavo (como o trio de arquitetos e designers suecos Claesson Koivisto Rune que apresentou uma dezena de novas peças na feira, produzidas por diferentes marcas) e as dos emergentes da zona Greenhouse (dedicada aos designers independentes, recém-licenciados ou ainda estudantes de design), mostrou-se um mundo de objetos que ditam as mais recentes tendências. 98 v 22 DE MARÇO DE 2012 THOMAS BERNSTRAND Parece uma ideia «ovo de Colombo» – como é que ninguém tinha pensado nisto antes?! Depois de ter estado num jardim em Paris e de ter visto que as pessoas se sentam em cadeiras soltas e não apenas em bancos fixos de jardim (e de imaginar o trabalhão que, depois, alguém teria para as arrumar), o designer sueco Thomas Bernstrand, 46 anos, criou as cadeiras Share (editadas pela marca Nola, de Estocolmo). Para as usar, basta introduzir uma moeda que, depois, é devolvida quando a cadeira é, de novo, presa às outras (como nos carrinhos de supermercado). «Gosto de desenhar mobiliário de exterior», diz, «porque, assim, posso ir ver depois como é que as pessoas o estão a utilizar.» JENS FAGER Apresentou-se, em 2008, na Greenhouse da Feira de Estocolmo, logo depois de terminar o curso, com a coleção Raw – um castiçal, uma mesa, uma cadeira e um banco. Hoje, com 32 anos, é um dos meninos bonitos do novo design sueco. As peças foram produzidas pela dinamarquesa Muuto, uma marca criada há cinco anos, que trabalha com designers escandinavos, dos consagrados aos recém-licenciados. «Desafiamo-los a usarem a tradição mas inovando», resume Morten Kaaber, da Muuto. INGA SEMPÉ Foi a homenageada este ano na Feira de Estocolmo. A designer francesa Inga Sempé, 43 anos, divide o seu trabalho por França e pelos países nórdicos (passou por Portugal inserida no projeto Matéria da ExperimentaDesign). «Gosto que as minhas peças sejam diferentes daquilo que já existe, que não sejam aborrecidas. Gosto de simplicidade com um twist», diz Inga, que elege os candeeiros como os objetos que prefere desenhar pela multiplicidade de formas que pode fazer nascer (uma cadeira, mais coisa menos coisa, é sempre uma cadeira, diz…). Este foi produzido pela sueca Wastberg. FREDRIK MATSSON Começou por estudar carpintaria e acabou por se tornar num dos nomes sonantes do design sueco. Aos 38 anos criou um castiçal, inspirado num outro que encontrou em casa dos pais e reduzindo-o a três peças que se conjugam em modelos diferentes. As peças foram produzidas pela Gallery Pascale, uma pequena galeria em Estocolmo, dirigida pela francesa Pascale Cottard-Olsson, que já editou obras de mais de 30 designers suecos. FORM US WITH LOVE Há seis anos três rapazes suecos licenciaram-se e criaram uma nova marca: Form Us With Love. Este ano, não houve quem não desse por John Löfgren, Jonas Pettersson e Petrus Palmér – ou melhor, pelas suas novas peças. Um candeeiro onde se pode carregar o telemóvel, cadeiras e mesas com montagem intuitiva e sem necessidade de usar ferramentas ou uma jarra que se constrói com arcos de mármore, «como um lego exclusivo». 22 DE MARÇO DE 2012 v 99