Nº33 Jul-Set 2014 Pág. 28-39 Manuela Fiuza Serviço de cardiologia i, centro Hospitalar Lisboa norte, Lisboa, Portugal “Whole” truth in cardiovascular disease Keywords: Whole grains; cardiovascular disease consumo de cereais integrais (“whole grain”) e doença cardiovascular Palavras chave: Grãos integrais; Doença cardiovascular Abstract diet is a key modifiable factor affecting the long-term health and well-being of individuals. Whole grains are universally recommended as part of a healthful diet. A grain is "whole" when the entire grain seed is retained: the bran, germ and the endosperm. The bran and germ components are rich in fiber, vitamins, minerals, antioxidants, and healthy fats. These are the parts removed in the refining process, leaving behind the energy-dense but nutrient-poor endosperm portion of the grain. examples of whole grain foods include wild rice, popcorn, oatmeal, brown rice, barley, wheat berries and flours such as whole wheat. Whole grain food sources have been associated with lowered risk of cardiovascular disease. in addition to protecting against cardiovascular disease, which accounts for one-third of deaths worldwide, there is evidence that whole grains also protect against diabetes and other chronic conditions. The evidence for the role of whole grains in reducing coronary heart disease risk is compelling – it shows that increasing whole grains to 2-4 servings a day can reduce the 28 Resumo A dieta é um importante fator modificável que afeta a saúde e o bem-estar dos indivíduos a longo-prazo. Os grãos integrais são universalmente recomendados como parte de uma dieta saudável. Um grão é «integral» quando toda a semente do grão é retida, ou seja o farelo, o gérmen e o endosperma. Os componentes do farelo e do gérmen são ricos em fibra, vitaminas, minerais, antioxidantes e gorduras saudáveis. São estas as partes retiradas no processo de refinação, deixando o endosperma com elevada densidade energética, mas pobre em nutrientes. São exemplos de alimentos integrais o arroz selvagem, as pipocas, a aveia, o arroz integral, a cevada, os grãos de trigo e farinhas tais como a de trigo integral. As fontes de cereais integrais têm estado associadas a um risco mais baixo de doença cardiovascular. Para além de proteger da doença cardiovascular, que é responsável por um terço das mortes no mundo, existe a evidência de que os grãos integrais protegem da diabetes e de outras doenças crónicas. A evidência do papel dos grãos integrais na redução do risco da doença coronária é convincente – mostra que duas a quatro por- risk of heart disease by as much as 40% – equal to the effect of statin drugs. There is a consistent, inverse association between dietary whole grains and incident cardiovascular disease in epidemiological cohort studies. in light of this evidence, policymakers, scientists, and clinicians should redouble efforts to incorporate clear messages on the beneficial effects of whole grains into public health and clinical practice endeavors. The take-home message is that consumption of generous amounts of whole grains, cereal fiber, total fiber, fruit, or vegetables decreases the risk of cardiovascular disease by about 30%, irrespective of other lifestyle behaviors. These observations encourage us to recommend that at least 3 servings of whole grains be consumed daily. Introduction diet is a key modifiable factor affecting the long-term health and well-being of individuals. Whole grains (WG) are universally recommended as part of a healthful diet. WG are made up of the endosperm, the germ, and the bran of the grain (Figure 1). Most WG wheat kernels are composed of about 80% endosperm (the predominant component of refined flour, which is rich in starch and protein but poor in most micronutrients), 15% bran (a major source of fiber, micronutrients, antioxidants, and phytochemicals), and 5% germ Figure 1 Structure of wheat grain ções de grãos integrais por dia podem reduzir o risco de doença cardíaca até 40% - um valor equivalente ao efeito das estatinas. estudos epidemiológicos de coorte comprovam que há uma associação inversa consistente, entre o consumo de grãos integrais e a incidência de doença cardiovascular. À luz desta evidência, os decisores políticos, os cientistas e os clínicos deveriam redobrar os seus esforços no âmbito da saúde pública e da prática clínica, para difundir mensagens claras sobre os efeitos benéficos dos grãos integrais. A mensagem chave é que o consumo de elevadas quantidades de grãos integrais, de fibras de cereais, de fibras totais, de fruta ou de vegetais, diminuiu o risco de doença cardiovascular em cerca de 30% independentemente de outros comportamentos relacionados com estilos de vida. estas observações estimulam-nos a recomendar que devem ser consumidas diariamente pelo menos três porções de grãos integrais. Introdução A dieta é um importante fator modificável que afeta a saúde e o bem-estar dos indivíduos a longo prazo. Os grãos integrais (Gi) são universalmente recomendados como parte de uma dieta saudável. Os Gi são constituídos pelo endosperma, pelo gérmen e pelo farelo do grão (Figura 1). A maioria dos Gi de trigo é composta por cerca Figura 1 Estrutura do grão de trigo Endosperm Endosperma Bran Germ Farelo Gérmen Wheat Trigo 29 Nº33 Jul-Set 2014 Pág. 28-39 (plant embryo). A refined grain contains only the endosperm and thus provides fewer nutrients and phytochemicals than does the whole grain. WG are cholesterol-free and low in fat, high in dietery fiber and vitamins (specially B-vitamins), and are good sources of minerals (particularly trace minerals). To be considered a “whole grain,” each of the principal components of the grain must be present in the same relative proportion as they exist naturally in the seed. AAcci Board of directors approved the Whole Grain Working Group’s characterization of a whole grain product: “A whole grain food must contain 8 grams or more of whole grain per 30 grams of product.” Several countries recommend consumption of WG, but nutritional recommendations for consumption of WG foods vary across countries. nevertheless they increasingly stress the importance of choosing WG foods as key components of cereal intake. However, actual consumption of WG is invariably lower than the recommendations, in all countries. Table 1 provides a summary of some existing global dietary WG guidelines. The 2010 dietary Guidelines for Americans (dGA) recommends 6–11 servings/d of grains based on an individual’s energy needs, with at least one-half of those servings (at least 3 servings) as WG. in these guidelines, de 80% de endosperma (o componente predominante da farinha refinada, que é rico em amido e proteína, mas pobre na maioria dos micronutrientes), por 15% de farelo (uma maior fonte de fibra, micronutrientes, antioxidantes e fitoquímicos) e por 5% de gérmen (o embrião da planta). Um grão refinado contém apenas o endosperma pelo que fornece menos nutrientes e fitoquímicos do que um grão integral. Os Gi não contêm colesterol, têm pouca quantidade de gordura, são ricos em fibras dietéticas e vitaminas (especialmente vitaminas do complexo B) e são boas fontes de minerais (em particular os elementos traço). Para um produto ser considerado como «cereal integral» deve conter cada um dos principais componentes na mesma proporção relativa em que naturalmente existem no grão. A direção da Associação Americana de Química dos cereais (AAcci) aprovou a caracterização proposta pelo Grupo de estudo dos Grãos integrais de um produto integral: «Os alimentos integrais devem conter 8 g ou mais de cereal integral por cada 30 g desses alimentos». diversos países recomendam o consumo de Gi, variando as recomendações nutricionais para o consumo de alimentos integrais conforme os países. no entanto, salientam cada vez mais a importância da escolha de ali- Table 1 Whole Grains National Recommendations in some countries National recommendations for a 2000 Kcal diet USA 3 servings (=48g) or more of whole grains every day (dM, dry matter) (2010 dietary Guidelines for Americans) Denmark/Sweden 62g whole grain (dM) daily (national Food institute/national Food Administration) Netherlands 6 slices of bread daily, preferably whole grain ≈ 115g whole grain (dM) (netherlands nutrition centre) Germany “At least 30g of dietary fibre daily, especially from whole-grain products, are recommended” (German nutrition Society (dGe)) Switzerland At least 2 portions daily of whole grain products (Swiss Society for nutrition Food Pyramid) Adapted from Health Grain Forum 12 Dec. 2012 30 Tabela 1 Recomendações para o consumo de grãos integrais em alguns países Recomendações Nacionais para uma dieta de 2000 Kcal EUA 3 porções (=48gr) ou mais de grãos integrais por dia (PS, peso seco) (2010 Dietary Guidelines for Americans) Dinamarca/Suécia 62 gr de grãos integrais (PS) por dia (National Food Institute/National Food Administration) Holanda 6 fatias de pão por dia, de preferência pão integral ≈ 115 gr de grãos integrais (PS) (Netherlands Nutrition Centre) Alemanha «Recomenda-se pelo menos 30 gr de fibras alimentares por dia, especialmente provenientes de produtos integrais» (German Nutrition Society (dGe)) Suíça Pelo menos 2 porções diárias de produtos integrais (Swiss Society for Nutrition Food Pyramid) Adaptado de Health Grain Forum 12 Dez. 2012 foods with at least 51% of the total weight as WG ingredients or at least 8 g of WG/ounceequivalent (~28 g) were identified as foods that provided a substantial amount of WG1. The possible ways in which WG intake may exert health effects, is that the dietary fibre and associated components, oligosaccharides, and the resistant starch that reach the colon are fermented by intestinal microflora to short chain fatty acids (ScFA) which may inhibit inflammation and thus improve insulin sensitivity and blood lipid profile. Other bioactive components present in WG, can affect colonic fermentation (“antioxidants”, polyphenols and phytate) or may lower homocysteine concentrations (choline, betaine) and thus improve vascular function (Figure 2). Whole grains and cardiovascular diseases cardiovascular diseases (cVd), including coronary heart disease, ischemic heart disease, stroke and peripheral vascular disease are the most common causes of death in developed countries. data from observational studies show that a diet high in WG has been linked with a lower relative risk of heart disease2-7. These studies have suggested a favourable association mentos integrais como componentes chave da ingestão de cereais. contudo o consumo real de Gi é invariavelmente inferior ao recomendado em todos os países. A Tabela 1 mostra um resumo de algumas das recomendações sobre Gi na alimentação. As 2010 Dietary Guidelines for Americans (DGA) recomendam a ingestão diária de seis a onze porções de cereais baseadas nas necessidades energé- duas a quatro porções de grãos integrais por dia podem reduzir o risco de doença cardíaca até 40% - um valor equivalente ao efeito das estatinas ticas dos indivíduos, correspondendo pelo menos metade dessas porções (mínimo de 3) a Gi. nestas Recomendações, os alimentos em que os ingredientes de cereais integrais correspondam a pelo menos 51% do seu peso total ou que tenham pelo menos 8 g de grãos integrais/onça (equivalente a ~28 g) foram 31 Nº33 Jul-Set 2014 Pág. 28-39 Figure 2 Some suggested mechanisms for metabolic benefits of whole grain. Adapted from HEALTHGRAIN EU project (FP6-514008, 2005-2010) Whole grain intake Dietary fibre Bioactive components Oligo-saccharides Resistant starch colonic fermentation GI Antioxidant/antiinflammatory status insulin sensitivity Type 2 diabetes between WG food intake and markers of cardiovascular health8-10. in the nurses' Health Study4, which included over 75,500 women, after 12 years of follow-up, the 20% of patients who ate the most WG products had a relative risk of coronary heart disease of 0.67 compared with 20% with the lowest intake. This study also examined the relationship of WG intake and risk of ischemic stroke, and an inverse association was observed between WG intake and ischemic stroke risk, with the relative risk for ischemic stroke in the highest quintile (median intake 2.7 servings/day) being 0.69 (95% ci, 0.50–0.98, p=0.04 for trend) relative to the lowest quintile (median intake 0.13 servings/day). no such inverse relationship was observed for refined grain intake. The iowa Women's Health Study2, had nearly identical results, with a relative risk of 0.7 between the highest and lowest quintiles of WG consumption. 32 Homocysteine Blood lipids CVD considerados como alimentos com uma quantidade considerável de Gi1. Os mecanismos pelos quais a ingestão de Gi exercem efeitos na saúde, consistem no facto de as fibras alimentares e os componentes associados, os oligossacarídeos, e o amido resistente que chegam ao cólon, serem fermentados pela microflora intestinal em ácidos gordos de cadeia curta que inibem a inflamação e assim melhoram a sensibilidade à insulina e o perfil lipídico do sangue. Outros componentes bioactivos presentes nos Gi podem afetar a fermentação do cólon («antioxidantes», polifenóis e fitato) ou podem diminuir as concentrações de homocisteína (colina e betaína) e deste modo melhorar a função vascular (Figura 2). Grãos integrais e doenças cardiovasculares As doenças cardiovasculares (dcV), incluindo a doença coronária e a doença isqué- Figura 2 Alguns mecanismos sugeridos para os benefícios metabólicos dos grãos integrais. Adaptado do projecto HEALTHGRAIN EU (FP6-514008, 2005-2010)) Ingestão de grãos integrais Fibras alimentares Oligossacarídeos Amido resistente Componentes bioactivos Fermentação do colon Índice Glicémico estado antiinflamatório/antioxidante Sensibilidade à insulina Diabetes tipo 2 The Health Professional Follow-up Study10,16, a prospective cohort study showed after 14 years similar evidence of benefit with a relative risk of 0.82 between the extreme quintiles of WG intake. Those in the highest quintile of added bran intake had a relative risk of coronary heart disease of 0.70, relative to those with no intake of added bran. Added germ showed no benefit. This study also examined the association between WG intake (grams per day) and risk of incident hypertension (HTn). WG intake was measured at baseline and with administration of each follow-up food frequency questionnaire. A total of 9,227 cases of incident HTn were reported over the 18 years of follow-up. in multivariate-adjusted analyses, comparing the extreme quintiles of consumption, WG intake was inversely associated with risk of HTn (RR=0.81; 95% ci: 0.75-0.87, p<0.0001). in those in the highest quintile of WG intake (46g a day) the Homocisteína Lípidos no sangue DCV mica do coração, os acidentes vasculares cerebrais e a doença arterial periférica, são as causas mais frequentes de morte nos países desenvolvidos. dados provenientes de estudos observacionais mostram que uma dieta rica em Gi tem estado relacionada com um risco relativo mais baixo de doença cardíaca2-7. estes estudos sugeriram uma associação favorável entre a ingestão de alimentos integrais e marcadores de saúde cardiovascular8-10. no Nurses’ Health Study4, que incluiu mais de 75 500 mulheres, após doze anos de seguimento, as 20% que comiam uma maior quantidade de produtos integrais, apresentaram um risco relativo de doença coronária de 0,67, quando comparada com as 20% que ingeriram menor quantidade. este estudo examinou também a relação entre a ingestão de Gi e o risco de acidente vascular cerebral isquémico. Foi observada uma associação inversa entre a ingestão de Gi e o risco de AVc isqué- 33 Nº33 Jul-Set 2014 Pág. 28-39 incidence of hypertension was reduced by 19% compared to those with the lowest intake (3g a day), independent of sodium intake. Total bran intake was also inversely associated with a 15% risk reduction in the highest versus lowest quintiles of intake. The authors concluded that there was an independent inverse association between WG intake and incident HTn in men. Bran may play an important role in this association. in the Atherosclerosis Risk in communities (ARic) study12, a prospective cohort study, the relationship between incident heart failure (HF) (death or hospitalization) and consumption of seven food categories (WG, fruits and vegetables, fish, nuts, high-fat dairy, eggs, red meat) were studied. during a mean follow-up period of 13 years, 1,140 cases of incident HF were identified. HF hazard ratios were calculated on a one serving per day difference in each food group intake. The multivariateadjusted HF risk for WG intake was 0.93 (95% ci: 0.87, 0.99; p<0.05) for each one serving per day difference in consumption. This association remained significant independent of intakes of the other food categories analyzed. The authors concluded that in their large, population-based sample of African-American and white adults WG intake was associated with lower HF risk. An inverse association between WG intake and cardiovascular disease has been consistently demonstrated in multiple observational studies. Some are summarised in Table 2. even after allowing for the many confounding factors mentioned above, substantial positive effects are still seen for cVd and stroke. Two meta-analyses of WG and cVd found a protective effect of WG on cVd. Kelly et al13 made a systematic review and a meta-analysis of nine randomized clinical trials (RcT) (eight oat, one rye), and reported a significantly lower total cholesterol and LdLcholesterol concentrations with higher WG intake. Seven of these studies reported lower total cholesterol and LdL cholesterol with oatmeal foods compared to the control foods, with a significant weighted mean dif- 34 mico com um risco relativo de 0,69 (intervalo confiança 95%, 0,50-0,98, p=0,04 - tendência) no quintil mais elevado (ingestão média de 2,7 porções diárias) comparativamente ao quintil mais baixo (ingestão média de 0,13 porções/dia). não se verificou relação inversa no caso da ingestão de grãos refinados. O estudo Iowa Women’s Health Study2, apresentou resultados quase idênticos, com um risco relativo de 0,7 entre os quintis de mais elevado e de mais baixo do consumo de Gi. À luz desta evidência, os decisores políticos, os cientistas e os clínicos deveriam redobrar os seus esforços no âmbito da saúde pública e da prática clínica, para difundir mensagens claras sobre os efeitos benéficos dos grãos integrais no estudo Health Professional Follow-up Study10-16, um estudo prospetivo de coorte mostrou, após catorze anos, uma evidência semelhante de benefício com um risco relativo de 0,82 entre os quintis extremos, relativos à ingestão de Gi. Os indivíduos pertencentes ao quintil mais elevado da ingestão adicionada de farelo tiveram um risco relativo de doença coronária de 0,70, quando comparados com aqueles que não tiveram adição de farelo. A inclusão de gérmen não trouxe qualquer benefício. este estudo também examinou a associação entre a ingestão de Gi (gramas por dia) e o risco de hipertensão arterial (HTA). A ingestão de Gi foi medida no início e no seguimento através de questionários de frequência alimentar. Houve uma incidência total de 9227 ference of -0.19mmol of total cholesterol/L. Mellen et al14, in a meta-analysis, quantified observational evidence on WG intake and clinical cardiovascular events. Seven prospective cohort studies with quantitative measures of dietary WG and clinical cardiovascular outcomes were identified for pooled analysis. Six studies provided information for demographic adjusted analyses and seven for riskfactor-adjusted analyses. Based on event estimates adjusted for cardiovascular risk factors, greater WG intake (pooled average 2.5 servings per day vs. 0.2 servings per day) was associated with a 21% lower risk of cVd increasing whole grains to 2-4 servings a day can reduce the risk of heart disease by as much as 40% – equal to the effect of statin drugs. events (OR 0.79; 95% ci: 0.73-0.85). The findings were similar when analyses were restricted to studies that provided genderspecific results for men (OR: 0.82; 95% ci: 0.73-0.92) and women (OR: 0.79; 95% ci: 0.68-0.91). Similar estimates were noted for other cVd outcomes, including incident cHd, stroke and fatal cVd. The authors’ concluded that evidence from prospective cohort studies consistently showed an inverse association between dietary WG and incident cVd in epidemiological cohort studies. in one interventional study, the Whole Heart Study15, investigated the effect of substituting WG for refined grains on cVd risk markers. Subjects (n=266; BMi>25kg/m2) who routinely consumed few WG products were randomized to consume 60g WG per day for eight weeks or 60g WG per day for eight weeks and then 120g WG per day for eight more weeks. Markers of cVd risk (BMi, percent body fat, waist circumference; fasting casos de HTA durante um seguimento de 18 anos. em análises multivariadas ajustadas, ao comparar os extremos dos quintis de consumo, a ingestão de Gi foi inversamente associada ao risco de HTA (RR=0,81; intervalo de confiança 95%: 0,75-0,87, p <0,0001). nos que se incluem no quintil mais elevado de consumo de grãos integrais (46gr por dia) a incidência de hipertensão foi 19% mais reduzida do que nos que se incluem no consumo mais baixo (3 g por dia), independentemente da ingestão de sódio. A ingestão total de farelo foi inversamente associada a uma redução de risco de 15% de HTA no quintil mais elevado versus o quintil mais baixo. Os autores concluíram que houve uma associação inversa independente entre a ingestão de Gi e a incidência de HTA nos homens. O farelo pode ter um papel importante nesta associação. no estudo Atherosclerosis Risk in Communities12, um estudo prospetivo de coorte, foram analisadas as relações entre a probabilidade de insuficiência cardíaca (ic) (morte ou internamento) e o consumo de sete categorias de alimentos (Gi, fruta e vegetais, peixe, nozes, laticínios gordos, ovos e carne vermelha). durante um período médio de seguimento de 13 anos, foi identificada uma incidência de 1140 casos de ic. As taxas de risco da ic foram calculadas com base na diferença de uma porção diária em cada grupo de alimentos. O risco multivariado-ajustado de ic na diferença de consumo diário por cada porção de Gi foi de 0,93 (intervalo de confiança 95%: 0,87- 0,99; p<0,05). esta associação foi considerada significativa independentemente da ingestão de outras categorias de alimentos analisadas. nesta vasta amostra, baseada na população afro-americana e em adultos brancos, os autores concluíram que a ingestão de Gi estava associada a um risco mais baixo de ic. Uma associação inversa entre a ingestão de Gi e a doença cardiovascular foi consistentemente demonstrada em múltiplos estudos observacionais. Alguns estão resumidos na Tabela 2. Mesmo após considerar os múltiplos fatores confundentes acima mencionados, os 35 Nº33 Jul-Set 2014 Pág. 28-39 plasma lipid profile, glucose and insulin) were measured at baseline, eight and 16 weeks. no significant differences in cVd risk markers were found between the control and the averaged intervention groups between groups. Another interventional study, the Health Professionals Follow-Up Study16, came out with different conclusions. This prospective cohort study, examined the association between WG intake (grams per day) and risk of incident hypertension (HTn) in a cohort from the Health Professionals Follow-Up Study (n=31,684 males, baseline age 40-75 years). WG intake was measured at baseline and with administration of each follow-up food fre- in light of this evidence, policy-makers, scientists, and clinicians should redouble efforts to incorporate clear messages on the beneficial effects of whole grains quency questionnaire. A total of 9,227 cases of incident HTn were reported over the 18 years of follow-up. in multivariate-adjusted analyses, comparing the extreme quintiles of consumption, WG intake was inversely associated with risk of HTn, (RR=0.81; 95% ci: 0.75-0.87, p<0.0001). Those in the highest quintile of WG intake (46g a day) the incidence of hypertension was reduced by 19% compared to those with the lowest intake (3g a day), independent of sodium intake. Total bran intake was also inversely associated with a 15% risk reduction in the highest versus lowest quintiles of intake. The authors concluded that there was an independent inverse association between WG intake and incident HTn in men. Bran may play an important role in this association. 36 efeitos positivos substanciais são ainda visíveis na dcV e no acidente vascular cerebral. duas meta-análises de Gi e de dcV encontraram um efeito preventivo dos Gi na dcV. Kelly et al13 fizeram uma revisão sistemática e uma meta-análise de nove ensaios clínicos aleatorizados (oito com aveia e um com centeio) em que, com consumos mais elevados de Gi, apresentaram um colesterol total e concentrações de colesterol-LdL significativamente mais baixos. Sete destes estudos relataram que o colesterol total e o colesterol LdL são mais baixos com a ingestão de alimentos com aveia quando comparados com os alimentos de controlo com uma significativa diferença média ponderada de 0,19mmol/L (7,3mg/dl) do colesterol total. numa meta-análise de estudos observacionais, Mellen et al14 quantificaram a evidência na relação de ingestão de Gi e de eventos cardiovasculares clínicos. Sete estudos de coorte prospetivos com medidas quantitativas do consumo de Gi e de resultados cardiovasculares clínicos foram identificados para uma análise agrupada. Seis estudos forneceram informação para análises demograficamente ajustadas e sete para análises ajustadas aos fatores de risco. Baseada em estimativas de eventos ajustadas aos fatores de risco cardiovasculares, uma maior ingestão de Gi (média agrupada de 2,5 porções diárias versus 0,2 porções diárias) foi associada a um risco inferior de 21% de eventos cardiovasculares (RR 0,79; intervalo de confiança 95%: 0,730,85). As constatações foram semelhantes quando as análises foram restringidas a estudos que providenciaram resultados específicos relativamente ao género nos homens (RR 0,82; intervalo de confiança 95%: 0,73-0,92) e nas mulheres (RR 0,79; intervalo de confiança 95%: 0,68-0,91). Foram observadas estimativas semelhantes para outros resultados da dcV, incluindo a probabilidade de dc, de acidente vascular cerebral e de dcV fatal. Os autores concluíram que a evidência de estudos prospetivos de coorte mostrou consistentemente uma associação inversa entre os Gi alimentares e a probabilidade de dcV em es- Conclusions dietary WG have been inversely associated with cardiovascular risk factors, atherosclerosis, and incident cVd. in light of this consistent evidence, policy-makers, scientists, and clinicians should redouble efforts to incorporate clear messages on the beneficial effects of WG into public health and clinical practice endeavors. And the new U.S. dietary Guidelines suggest a new graphic representation summarizing key messages, called “MyPlate”, according to which, one-half of the grain content should be composed of whole grains. The Healthy eating plate is another recent proposal from the Public Health and Medicine departments of Havard University recommending that all of the grain content should consist of whole grains.23 The take-home message is that consumption of generous amounts of WG, cereal fiber, total fiber, fruit, or vegetables decreases the risk of cHd by about 30%, irrespective of other lifestyle behaviors. These observations encourage us to recommend that at least 3 servings of WG be consumed daily. tudos epidemiológicos de coorte. num estudo de intervenção, o Whole Heart Study15, procedeu-se à investigação do efeito da substituição de Gi por grãos refinados relativamente aos marcadores de risco da dcV. indivíduos (n=266; iMc > 25 kg/m2) que rotineiramente consumiram menos produtos integrais, foram aleatorizados para consumir 60 g de Gi por dia durante oito semanas ou 60 g de Gi por dia durante oito semanas e 120 g de Gi por dia durante mais oito semanas. Os marcadores de risco da dcV (iMc, percentagem de massa gorda, perímetro abdominal; perfil lipídico plasmático em jejum, glicose e insulina) foram medidos no início, às oito e às dezasseis semanas. nos grupos, não foram encontradas diferenças nos marcadores de risco da dcV entre o controlo e a média dos grupos de intervenção. Outro estudo de intervenção, o Health Professionals Follow-Up Study 16, chegou a conclusões diferentes. neste estudo prospetivo de coorte examinou-se a associação entre inges- *** Table 2 Summary of large scale observational studies showing a benefit of increase whole grain consumption on CVD risk. Adapted from HEALTHGRAIN Forum – 12 Dec 2012 Study Data Source Reported Association/Outcome Reference Health Professionals Follow-Up (42,850 adult men), 14 year follow-up 18% reduction in coronary heart disease (Jensen et al 2004)11 Nurse’s Health Study (75,521 adult women), up to 12 year follow-up 36% reduction in ischemic stroke (Liu et al 2000)20 Iowa Women’s Fealth Study (38,470 postmenopausal women), 9 year of follow-up 18% reduction in all cardiovascular disease deaths (Jacobs et al 1999)21 18% reduction in coronary heart disease Iowa Women’s Health Study (34,491 postmenopausal women), 9 year of follow-up 30% reduction in ischemic heart disease death (Jacobs et al 1998)3 U.S., Boston adult 535 men and women 52% reduction in cVd mortality (Sahyoun et al 2006)22 Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC) Study (15,972 adult men and women) 11 year follow-up 23% reduction in all-cause mortality 28% reduction in incidente coronary artery (Steffen et al 2003)12 37 Nº33 Jul-Set 2014 Pág. 28-39 Tabela 2 Resumo de estudos observacionais de grande escala comprovando um benefício do aumento do consumo de grãos integrais no risco de DCV (adaptado de HEALTHGRAIN Forum - 12 Dez 2012) Estudos Resultados Health Professional Follow-up (42 850 homens adultos) 14 anos de seguimento 18% de redução de doença coronária Nurse’s Health Study (75 521 mulheres adultas) até 12 anos de seguimento 36% de redução de acidentes vasculares cerebrais (Liu et al isquémicos 2000)20 Iowa Women’s Health Study (38 470 mulheres pós-menopausicas), 9 anos de seguimento 18% de redução de todas as mortes por doença (Jacobs et al cardiovascular 1999)21 18% de redução de doença coronária Iowa Women’s Health Study (34 491 mulheres pós-menopausicas), 9 anos de seguimento 30% de redução de mortes por doença isquémica do coração (Jensen et al 2004)11 (Jacobs et al 1998)3 U.S. Boston 535 homens e mulheres 52% de redução de mortalidade cV adultos (Sahyoun et al 2006)22 Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC) Study (15 972 homens e mulheres adultos), 11 anos de seguimento (Steffen et al 2003)12 23% de redução de mortalidade global 28% de redução na incidência de doença coronária tão de Gi (gramas por dia) e o risco de probabilidade de hipertensão (HTA) num coorte proveniente do estudo Health Professionals Follow-Up Study (n=31 684 homens, idade basal – 40 a 75 anos). A ingestão de Gi foi medida no início e em cada visita de seguimento com questionários de frequência alimentar. A incidência de um total de 9227 casos de HTA foi encontrada durante os 18 anos de seguimento. em análises multivariadas ajustadas, ao comparar os quintis mais e menos elevados de consumo, a ingestão de Gi foi inversamente associada com o risco de HTA (RR=0,81; intervalo de confiança 95%: 0,75 – 0,87, p <0,0001). nos que se situam no quintil mais elevado de ingestão de Gi (46g por dia) a incidência de hipertensão foi reduzida em 19% quando comparada com os que se situam no quintil de ingestão mais baixa (3 g por dia) independentemente do consumo de sódio. A ingestão total de farelo foi também inversamente associada a uma redução de 38 Referência risco de 15% no quintil mais elevado versus o quintil menos elevado. Os autores concluíram que havia uma associação inversa independente entre a ingestão de Gi e a probabilidade de HTA nos homens. O farelo pode ter um papel importante nesta associação. Conclusão Os Grãos integrais na alimentação foram inversamente associados aos fatores de risco cardiovasculares, à aterosclerose e à probabilidade de dcV. em face desta evidência consistente, os decisores políticos, os cientistas e os clínicos devem redobrar esforços para, no âmbito da saúde pública e da prática clínica, integrar mensagens claras sobre os efeitos benéficos do consumo de Gi. As Recomendações de Alimentação dos estados Unidos da América (2010 Dietary Guidelines for Americans) sugerem uma nova representação gráfica que resume as mensagens importantes, denominada MyPlate em que se aconse- lha que 50% dos cereais sejam integrais. O Healthy eating plate, ou Prato Saudável, é uma outra proposta recente das Faculdades de Saúde Pública e de Medicina da Universidade de Harvard em que se recomenda que todos os cereais sejam integrais.23 A mensagem chave é que o consumo de elevadas quantidades de Gi, de fibras de ce- reais, de fibras totais, de fruta ou de vegetais diminuiu o risco de dc em cerca de 30% independentemente de outros comportamentos relacionados com os estilos de vida. estas observações estimulam-nos a recomendar que devem ser consumidas pelo menos três porções de grãos integrais diariamente. References / Bibliografia 1- USdA and U.S. department of Health and Human Services. dietary Guidelines for Americans; 2010. Available from: http://www.cnpp.usda.gov/dietaryguidelines.htm. 13- Kelly SAM, Summerbell cd, Brynes A, et al. Wholegrain cereals for coronary heart disease. cochrane database of Systematic Reviews 2007, issue 2. Art. no.: cd005051. 2-Anderson JW. 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