JOÃO LUIS ABRANTES BERTOLI UMA AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DE INOVAÇÃO NO BRASIL EM PERSPECTIVA COMPARADA A PAÍSES EUROPEUS FLORIANÓPOLIS-SC 2013 0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SOCIOECONÔMICO - CSE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS JOÃO LUIS ABRANTES BERTOLI UMA AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE DE INOVAÇÃO NO BRASIL EM PERSPECTIVA COMPARADA A PAÍSES EUROPEUS. Monografia submetida ao curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito obrigatório para a obtenção do grau de Bacharelado. Orientador: Prof. Dr. Pablo Felipe Bittencourt FLORIANÓPOLIS – SC 2013 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS A banca examinadora resolveu atribuir a nota 9,0 ao aluno João Luis Abrantes Bertoli na disciplina CNM 5420– Monografia, pela apresentação deste trabalho. Banca examinadora: ______________________________ Prof. Dr. Pablo Felipe Bittencourt ______________________________ Prof. Dr. Helberte João França Almeida ______________________________ MSc. Gabriel Passos de Figueiredo FLORIANÓPOLIS – SC 17/07/2013 2 AGRADECIMENTOS Agradeço aos professores do departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina pela formação que me proporcionaram. Ao meu orientador Pablo Felipe Bittencourt, pelas horas que dedicou a mim neste trabalho. E, principalmente, por ter me mostrado o melhor caminho para se entender inovação. A todos os meus amigos que tive a oportunidade de conhecer em Florianópolis, e em especial aos meus colegas de curso que me ajudaram a fazer da minha experiência universitária única. Também agradeço aos meus amigos de Joinville e Rio Grande, que sem dúvida contribuíram para minha formação como pessoa. À minha namorada Mariana Morais pelos momentos felizes e alegres que dividimos. Também pelo apoio e os conselhos, e, em especial, por ser uma companheira de verdade. À minha irmã, que apesar dos desentendimentos, é uma grande parceira. A todos os meus familiares que me apoiaram e me orientaram nas minhas decisões. Em especial a minha mãe e ao meu pai, Ana Carla Bertoli e José Augusto Bertoli, por todo apoio que me deram. Não esquecendo também os meus avós que para mim são o maior exemplo de vida que eu tenho. 3 RESUMO BERTOLI, João Luis Abrantes. Uma avaliação do Sistema Nacional de Inovação Brasileiro. Monografia – Curso de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013. O presente trabalho tem como objetivo avaliar as características gerais do Sistema Nacional de inovação brasileiro procurando identificar, a partir de indicadores de Inovação, os gargalos e limitantes que afetam o desenvolvimento de inovações de maior impacto. Para isto se traz ao contexto do trabalho as abordagens teóricas neoschumpeterianas das Revoluções Tecnológicas (RT) e dos Sistemas Nacionais de Inovação (SNI). Os dados mostram uma evolução nos principais indicadores de inovação no Brasil, porém ao comparar aos dados da Europa a avaliação é que grande parte das inovações brasileiras possuem baixo impacto e pouca diferenciação de mercado. Isto caracteriza os processos inovativos no Brasil como sendo passivos, os motivos estão ligados às relações dos atores que compõe o SNIB, restringindo a criação de um quadro que favoreça o aprendizado criativo. Palavras-chaves: Inovação-Brasil; Inovação-Limitantes; Sistema Nacional de Inovação Brasileiro; Aprendizado criativo. 4 ABSTRACT This study aims to evaluate the general characteristics of the Brazilian National System of Innovation (BNSI) seeking to identify, based on indicators of innovation, the limiting bottlenecks that affect the development of innovations with greater impact. In order to do this the study brings up to the context the theoretical work of the neoschumpeterians of Revolutions Technology (RT) and the National Systems of Innovation (NSI). The data show an evolution on the main indicators of innovation in Brazil, but when comparing with the data of Europe the assessment is that most Brazilian innovations have low impact and little market differentiation. This characterized the innovative processes in Brazil with liabilities, the reasons for this are connected with the relations of the actors who make up the BNSI, restricting the creation of a framework that encourages creative learning. Keywords: Bottlenecks; Limiting; Brazilian National Innovation System; Creative learning. 5 LISTA DE FIGURAS Quadro 1: Tipos de SNI´s segundo Albuquerque. ........................................................ 31 6 LISTA DE FIGURAS Figura 1: As fases de uma revolução tecnológica. ........................................................ 17 Figura 2: A evolução de uma tecnologia: uma trajetória tecnológica. .......................... 18 Figura 3: Coevolução de um sistema tecnológico e seu entorno para os eletrodomésticos. ............................................................................................................ 19 7 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Percentagem de empresas industriais que inovaram, total e por número de empregados no Brasil e na Europa de 2006 a 2008 – Países Selecionados.................... 41 Tabela 2: Dispêndio de empresas industriais inovativas e sua proporção em relação ao faturamento no Brasil e na Europa – Países Selecionados ............................................. 44 Tabela 3: Percentual de dispêndio em P&D interno sobre o faturamento das firmas por intensidade tecnológica dos setores e o total da manufatura no Brasil e na Europa – Países selecionados. ........................................................................................................ 46 Tabela 4: Pessoal ocupado em atividades internas de P&D nas firmas durante o período de 2006 a 2008 para o Brasil e para a Europa – Países selecionados. ............................ 47 Tabela 5: Principal responsável no desenvolvimento de produto e processo nas empresas que implementaram inovações no Brasil e na Europa - Países selecionados. 48 8 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Evolução da Taxa de Inovação Brasileira ( PINTEC I, II, II e IV). ............ 36 Gráfico 2: Percentual das empresas que implementaram inovações só de produto, só de processo e de produto e processo ( PINTEC I, II, II e IV). ............................................ 37 Gráfico 3: Percentual de empresas que inovaram em todos os setores da economia, em setores da indústria de alta tecnologia e média-alta tecnologia e da toda a manufatura do Brasil e da Europa entre 2006 a 2008 - Países selecionados .......................................... 38 Gráfico 4: Percentual de empresas inovadoras com inovações só de produto, só de processo e de produto e processo para o Brasil e para Europa entre os anos de 2006 a 2008 – Países Selecionados. ........................................................................................... 39 Gráfico 5: Percentagem de empresas que inovaram em produto para o mercado e para a firma como percentual de empresas que inovaram em produto entre os anos de 2006 a 2008 – Países selecionados. ............................................................................................ 40 Gráfico 6: Gastos em P&D interno no Brasil sobre o faturamento das empresas (PINTEC I, II, II e IV). ................................................................................................... 42 Gráfico 7: Gastos em atividades Inovativas no Brasil sobre o faturamento das empresas ( PINTEC I, II, II e IV). .................................................................................................. 43 Gráfico 8: distribuição percentual dos dispêndios em atividades inovativas das indústrias com atividade inovadora no Brasil e na Europa – Países Selecionados. ....... 45 Gráfico 9: Percentual e número de empresas que receberam qualquer tipo de financiamento público no Brasil e na Europa – Países selecionados. ............................ 49 9 SUMÁRIO 1. 1.1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11 Problema .............................................................................................................. 11 1.2. Objetivos.................................................................................................................. 12 1.2.1. Objetivo Geral ..................................................................................................... 12 1.2.2. Objetivos específicos ............................................................................................ 13 1.3. Metodologia ............................................................................................................. 13 2. REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS E O PARADIGMA TECNOECONÔMICO ... 16 2.1. As janelas de oportunidade para o desenvolvimento............................................... 20 2.2. Sistemas Nacionais de Inovação.............................................................................. 23 2.2.1. O Conceito de Sistemas Nacionais de Inovação .................................................. 23 2.2.2. Notas sobre as instituições nos SNIs .................................................................... 27 2.3. O Sistema Nacional de Inovações Brasileiro: Aspectos teóricos e empíricos recentes ........................................................................................................................... 30 3. UMA ANALISE RECENTE DE INDICADORES DE INOVAÇÃO BRASILEIROS EM PERSPECTIVA COMPARADA A PAÍSES EUROPEUS. ........ 35 3.1. Análise de indicadores da atividade de inovação no Brasil..................................... 35 3.2 Esforço em inovação ................................................................................................ 42 3.3 Principais Responsáveis pela Inovação e o papel do Financiamento Público .......... 47 3.4 Síntese....................................................................................................................... 50 4 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 53 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 56 10 1. INTRODUÇÃO 1.1. Problema No Brasil, as inovações caracterizam-se por possuírem baixo impacto, uma vez que não apresentam um diferencial para a indústria que seja capaz de competir com economias mais desenvolvidas. Desta forma, há gargalos e limitações dentro do nosso Sistema Nacional de Inovação (SNI) que restringem o florescimento de inovações de maior impacto. Consequentemente, estes fatores impedem o aproveitamento de oportunidades para o desenvolvimento. Para tanto, em termos iniciais, o objetivo da presente pesquisa é entender estes gargalos e limitações responsáveis pelo baixo impacto das inovações brasileiras. Os dados de inovação das empresas brasileiras (PINTEC) se destacam pelo baixo desempenho no grau de novidade dos produtos, tendo em vista que é o grau de novidade que identifica quão novo um produto é. Os produtos de uma empresa podem ser classificados como novos de três maneiras: o produto pode ser novo apenas para empresa, mas não para o mercado nacional; o produto pode ser novo para o mercado nacional, mas não para o mundo e; o produto pode ser novo para o mundo. O que se supõe é que quanto maior o grau de novidade - ou quanto mais novo o produto for - melhor será para o país, uma vez que o maior grau de novidade de seus produtos representa inovações que possuem um maior impacto na economia nacional. Os dados indicam que a maior parte das inovações no Brasil apresenta um grau de novidade bem baixo, ou seja, que a maioria das inovações em produtos é nova apenas para as empresas. Podemos com isso supor que a indústria brasileira demonstra pouco diferencial em seus produtos e apresenta pouca competitividade. As limitações e os gargalos do Brasil são apontadas como os fatores responsáveis por este fraco desempenho no grau de novidade dos produtos, o que caracteriza nossas inovações como sendo inovações de baixo impacto. Em termos específicos este trabalho tem como objetivo responder a seguinte pergunta, utilizando a abordagem dos Sistemas Nacionais de Inovação e os dados da Pesquisa de Inovação e Tecnologia (PINTEC): Quais são os fatores que impedem o florescimento de inovações de maior impacto no Brasil? 11 Para responder a esta questão, além da introdução, o trabalho apresenta três capítulos e uma conclusão, mostradas na sequência. No capítulo 2 são apresentadas e discutidas questões sobre a teoria das Revoluções Tecnológicas e o Paradigma tecnoeconômico. O objetivo é mostrar em que período, no andar das Revoluções tecnológicas e do Paradigma tecnoeconômico, acontece o surgimento de janelas de oportunidade para o desenvolvimento. È apresentada também a abordagem dos SNI’s (Sistemas Nacionais de Inovação), sua utilidade para as pesquisas de inovação, os elementos que compõem os Sistemas Nacionais de Inovação e suas principais interações e é apresentado os principais gargalos e limitantes recentes do Sistema Nacional de Inovação Brasileiro (SNIB) que restringem o florescimento de inovações de maior impacto no Brasil. O capítulo 3 é realizado uma avaliação dos dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC) em comparação com os dados da Europa (Eurostat), identificando os elementos que venham a permitir inferir sobre os processos de inovação realizados no Brasil. Por último, como considerações finais, o trabalho ressalta os fatores que restringem o desenvolvimento de inovações com maior impacto e aponta a necessidade de uma estratégia para o país aproveitar as janelas de oportunidade e criar maior competitividade para indústria. 1.2. Objetivos 1.2.1. Objetivo Geral Avaliar características do Sistema Nacional de Inovação Brasileiro a partir de indicadores de inovação, procurando ressaltar gargalos que restringem o desenvolvimento de inovações de maior impacto no território brasileiro. 12 1.2.2. Objetivos específicos Os objetivos do trabalho estão divididos em duas competências: i. Apresentar constructos teóricos da abordagem neoshumpeteriana, por entendê-los, como capazes de explicar o baixo nível de inovações de alto impacto das empresas brasileiras. ii. Identificar e avaliar elementos dos processos de inovação típicos das empresas brasileiras, em perspectiva comparada aos de alguns países Europeus. 1.3. Metodologia Para cumprir o primeiro objetivo específico utilizou-se como referência as contribuições teóricas de Carlota Perez sobre as “revoluções tecnológicas” e as “janelas de oportunidades” para o desenvolvimento econômico de países periféricos, assim como as contribuições de Lundvall, sobre Sistemas Nacionais de Inovação (SNI). Especificamente, se faz uma descrição do que Perez e outros autores chamam de revoluções tecnológicas e de paradigma tecnoeconômico, como referências para a compreensão das possibilidades que teoricamente se ampliam nos períodos caracterizados por janelas de oportunidade ao desenvolvimento de economias periféricas. O método de pesquisa do estudo caracteriza-se como analítico-descritivo. O processo analítico consiste no estudo dos dados e das informações coletadas visando à explicação do fenômeno determinado pelo estudioso. A pesquisa descritiva delineia o tema, isto é, o enfoque é dado na descrição de como os agentes conduz ou conduzem a atual situação (GIL; 2002). O referencial teórico/analítico dos Sistemas Nacionais de Inovação (SNIs) se encaixa na perspectiva acima referida, por apoiar a identificação de elementos e suas relações responsáveis pela promoção, difusão e criação de conhecimentos economicamente relevantes, ou seja, de inovações, entendidas como o elemento central do desenvolvimento capitalista, pelos autores da corrente neoschumpeteriana do pensamento econômico. A abordagem dos SNIs pode ser basicamente definida como um conjunto de elementos que se relacionam dentro de um espaço nacional, com foco 13 no desenvolvimento de inovações. Neste espaço, aspectos diversos são considerados, inclusive fatores políticos e financeiros por serem capazes de transformar as estruturas tecnológicas, econômicas e institucionais dos Sistemas Nacionais Inovação (VILASCHI, 2005). A partir desta abordagem buscou-se identificar fatores capazes de explicar, teoricamente, gargalos e limitações do Sistema Nacional de Inovação Brasileiro (SNIB), ou seja, fatores capazes de interferir na capacidade do país de ampliar a frequência de inovações em seu território, mas também de aproveitar eventuais janelas de oportunidade. Para isso, identificamos e apresentamos um conjunto de evidências relacionadas ao sistema nacional de inovações brasileiro. Para cumprir o segundo objetivo específico foi utilizado as informações estatísticas de pesquisa e Inovação, disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em sua Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), os dados são referentes aos anos de 1998 a 2000, de 2001 a 2003, de 2004 a 2005 e de 2006 a 2008. Além destes dados, foram utilizados os dados de inovação do Gabinete de Estatística da União Européia (Eurostat) que é a organização que produz os dados estatísticos para a União Européia. A organização disponibiliza os dados da pesquisa Community Innovation Survey (CIS), que é uma pesquisa de inovação realizada em 27 países membros da União Européia e mais três outros países membros da European Free Trade Association (EFTA). Os dados da CIS utilizados neste trabalho são referentes aos anos de 2006 a 2008 e comparados com os dados no mesmo período da PINTEC. Outra fonte, utilizada para formulação dos dados, é “Manufacturing performance: a scoreboard of indicators” da OECD (ORGANIZATION FOR ECONOMIC COOPERATION AND DEVELOPMENT). Este estudo é uma referência para a divisão de dados em setores de alta tecnologia, média-alta tecnologia, médiabaixa tecnologia e baixa tecnologia. Esta divisão ajuda a analise em setores chaves da economia nacional. Os países selecionados para elaboração das tabelas e gráficos obedeceram as classificações tipológicas dos Sistemas Nacionais de Inovação segundo os trabalhos de Albuquerque (1996 & 1999) e Viotti (2005). Em alguns casos a seleção dos países obedeceu mais o critério da disponibilidade dos dados, pois muitas vezes a Eurostat não disponibiliza algumas informações. Os dados quando divididos em setores de alta, média-alta, média-baixa e baixa tecnologia estão entre estes casos. 14 Os indicadores foram escolhidos entre os principais e mais relevantes para atender os objetivos do presente trabalhando, seguindo em especial a referência de Viotti (2005). Os indicadores analisados são divididos na três seções do capítulo três. A primeira tratados indicadores de atividades inovativas são eles: evolução da Taxa de Inovação Brasileira (PINTEC I, II, II e IV); percentual das empresas que implementaram inovações só de produto, só de processo e de produto e processo ( PINTEC I, II, II e IV); percentual de empresas que inovaram em todos os setores da economia, em setores da indústria de alta tecnologia e média-alta tecnologia e da toda a manufatura do Brasil e da Europa entre 2006 a 2008; percentual de empresas inovadoras com inovações só de produto, só de processo e de produto e processo para o Brasil e para Europa entre os anos de 2006 a 2008; Percentagem de empresas que inovaram em produto para o mercado e para a firma como percentual de empresas que inovaram em produto entre os anos de 2006 a 2008; percentagem de empresas industriais que inovaram, total e por número de empregados no Brasil e na Europa de 2006 a 2008. A segunda seção procurou explorar os principais indicadores relacionados ao esforço em inovar: gastos em P&D interno no Brasil sobre o faturamento das empresas (PINTEC I, II, II e IV); gastos em atividades Inovativas no Brasil sobre o faturamento das empresas ( PINTEC I, II, II e IV); dispêndio de empresas industriais inovativas e sua proporção em relação ao faturamento no Brasil e na Europa; distribuição percentual dos dispêndios em atividades inovativas das indústrias com atividade inovadora no Brasil e na Europa; Percentual de dispêndio em P&D interno sobre o faturamento das firmas por intensidade tecnológica dos setores e o total da manufatura no Brasil e na Europa. A terceira seção do capítulo três trata de dois indicadores que podem dizer muito sobre os processos inovativos em cada país são eles: principal responsável no desenvolvimento de produto e processo nas empresas que implementaram inovações no Brasil e na Europa; Percentual e número de empresas que receberam qualquer tipo de financiamento público no Brasil e na Europa. Por fim, demais materiais bibliográficos, especialmente artigos, livros e outros materiais publicados pelos estudiosos da inovação - principalmente os que trabalham com a abordagem de Sistemas Nacionais de Inovação – também foram utilizados como referência para o presente trabalho. . 15 2. REVOLUÇÕES TECNOLÓGICAS E O PARADIGMA TECNOECONÔMICO A proposta desse capítulo é entender o surgimento de janelas de oportunidades de desenvolvimento produtivo e inovativo, abertas em períodos específicos à países menos desenvolvidos, os quais seriam definidos por regularidades históricas das revoluções tecnológicas identificadas por PEREZ (2009). Para isso, primeiramente buscaremos definir o termo revolução tecnológica e o paradigma tecnoeconômico. Inicialmente podemos definir as revoluções tecnológicas como um conjunto de inovações que dão origem a uma série de trajetórias tecnológicas, as quais são impulsionadas por transformações sociais, que mudam as relações entre os indivíduos dando origem a um novo ‘senso comum’, definido como o paradigma tecnoeconômico; este paradigma é o conjunto das melhores práticas de compartilhar este ‘senso comum’ (PEREZ, 2009). Assim, é possível identificar que uma revolução tecnológica segue uma trajetória, em que pode ser dividida em duas grandes fases, sendo a primeira denominada de Instalação e a segunda de Desprendimento. Cada uma destas duas grandes fases é subdividida em outras duas, a primeira fase do período de instalação é chamada de “irrupção” e a segunda de “frenesi”. As fases do período de desprendimento são denominadas respectivamente de “sinergia” e “maturidade”. Estas duas grandes fases duram em torno de vinte a trinta anos cada uma delas e entre as duas há um período denominado de “intervalo de reacomodação”, que varia para cada revolução, podendo durar alguns anos ou mais uma década (AREND; FONSECA, 2012). A fase de Instalação é caracterizada pela irrupção (figura 1) de novas tecnologias revolucionárias que recebem o suporte de um capital financeiro ocioso, fruto dos períodos finais da revolução anterior. Quando uma revolução encontra-se em suas fases finais, os mercados se apresentam saturados e os investimentos de baixo risco diminuem muito, o que acaba por fazer com que o capital que não encontra os ganhos nas tecnologias da revolução anterior migre para as novas tecnologias, dando origem ao começo de uma nova revolução. Na fase de frenesi o comportamento do capital financeiro por ganhos com a revolução, acaba por gerar uma bolha tecnológicafinanceira que culminará com o colapso e no período de intervalo entre uma fase e outra (AREND; FONSECA, 2012). 16 O colapso tecnológico-financeiro do “intervalo de reacomodação” acaba por produzir uma cobrança em cima do estado por medidas que recomponham a economia, e as mudanças no quadro institucional são comuns de acontecer neste período. As intervenções estatais caracterizam a segunda fase de uma revolução tecnológica, ao contrário do período anterior que é regido pelo capital financeiro, nesta fase, os critérios do capital produtivo são o que regem a revolução, em detrimento do financeiro (AREND; FONSECA, 2012). A fase de desprendimento também é caracterizada pela oportunidade que os países periféricos teriam de ingressar na revolução tecnológica, devido ao estancamento e à saturação que os mercados domésticos dos países centrais, que iniciaram a revolução apresentam. Isso atrairia investimentos produtivos em regiões com mercados potenciais. Assim, é possível que países em desenvolvimento possam se aproveitar de uma internacionalização para se desenvolver e alcançar o patamar tecnológico dos países centrais (AREND; FONSECA, 2012). Figura 1: As fases de uma revolução tecnológica. Fonte: AREND; FONSECA, 2012, a partir de PEREZ (2004)p. 37. Por fim, a fase de maturação do período de desprendimento apresenta os mercados mundiais bastante saturados e as tecnologias que se originaram desta revolução já na maturidade. Novas tecnologias aparecerão e estas conviverão por um 17 tempo simultaneamente com as antigas até que os ganhos se tornem mais atrativos e a nova revolução comece a se sobressair à antiga. Similar a uma revolução tecnológica a trajetória de uma tecnologia individual acompanha o desenvolvimento da revolução. A trajetória tecnológica é um padrão que as tecnologias seguem, quanto ao ritmo e a direção, que começa desde os estágios mais iniciais de introdução no mercado, até a sua maturação. Esta trajetória está dividida em quatro partes, que podem ser acompanhadas na figura 2. A primeira parte é de introdução de uma inovação radical (ou de um novo produto lançado no mercado), tratase de uma fase em que a tecnologia está em ‘experimentação’, até que se encontre o design dominante. A segunda parte é a fase inicial de desenvolvimento de inovações incrementais, é o começo de um processo de difusão e aprimoramento da tecnologia já existente. Figura 2: A evolução de uma tecnologia: uma trajetória tecnológica. Fonte: PEREZ, 2001. A terceira parte é de aceleração das inovações incrementais, as quais crescem se aproximando de um nível em que é possível identificar certo esgotamento, pois nesse estágio os aprimoramentos não acrescentam tanto (em valores) ao produto como no estágio anterior. Por exemplo, na trajetória dos eletrodomésticos, em que nas etapas iniciais se têm o desenvolvimento de produtos como aspiradores, lavadores e secadores, nas etapas finais, por outro lado, o que se vê são inovações incrementais de menor conteúdo tecnológico como a faca elétrica e o abre latas. A quarta fase caracteriza-se por ser uma fase de exaustão de inovações incrementais, o produto chega à maturidade e as vantagens comparativas de custos e produtividade tornam-se mais relevantes na busca por diferenciais de mercado (PEREZ, 2001). 18 Figura 3: Coevolução de um sistema tecnológico e seu entorno para os eletrodomésticos. Fonte: PEREZ, 2001 Esta Trajetória tecnológica pode resultar na origem de uma série de outras inovações ligadas ao seu sistema tecnológico, como é exemplificado na figura 3. Um exemplo foi a invenção da televisão, a qual gerou uma série de outros mercados e indústrias especializadas, como canais e programas de televisão e um conjunto de equipamentos que aprimoraram a qualidade e a transmissão da imagem (PEREZ, 2009). Observa-se nas duas figuras que a trajetória de uma tecnologia individual está interconectada a um sistema tecnológico. Este sistema tem como origem uma revolução tecnológica (RT). Uma RT é definida como uma série de avanços tecnológicos transformadores que formam uma constelação de tecnologias interdependentes (PEREZ, 2009). É como a invenção da eletricidade e os aprimoramentos nas redes de transmissão elétrica que permitiram que equipamentos domésticos de maior tecnologia, como geladeira, lavadora, aparelhos de som e televisão, chegassem às casas das famílias de todo o mundo. Mais estritamente, o que define uma Revolução tecnológica são dois fatores básicos: o primeiro trata-se de uma mudança radical em um conjunto de elementos e relações interconectados, que dão origem a novos sistemas tecnológicos; e o segundo, nas palavras da autora: “the capacity to transform profundly the rest of the economy (and eventually society)” (PEREZ, 2009, p. 6). Ainda segundo Perez (2009), este último fator é o que garante que o termo seja chamado de Revolução. Os 19 consumidores se verão com novos mercados e uma nova cultura emergirá. As intuições se sentirão obrigadas a abarcar o contexto com nova regulamentação e novas leis, assim como treinamento especializado e outras facilidades (PEREZ, 2009). Esta capacidade de transformar profundamente toda a economia e a sociedade são influências associadas ao paradigma tecnoeconômico (PEREZ, 2009). Este paradigma é o desdobramento da RT em outras disciplinas, além da economia. Enquanto as novas indústrias tecnológicas se tornam os motores do crescimento, o paradigma tecnoeconômico tem o papel de reorganizar e desenvolver o conteúdo da revolução em produtividade por toda economia (PEREZ, 2009). O paradigma cumpre o seu papel de maneira simultânea ao andamento da revolução, difundindo as ideias e as práticas da nova revolução, transformando estruturas organizacionais, modelos de negócios e estratégias, de forma a superar obstáculos e descobrindo novas formas mais adequadas de produção, rotinas e estruturas (PEREZ, 2009). No começo o impacto é pequeno, mas com o tempo ele se espalha transformando a economia, o território, comportamentos e ideias, até que este novo paradigma torna-se o novo senso comum (PEREZ, 2009). Para cada revolução existe um paradigma tecnoeconômico correspondente. Para que as transformações de uma RT aconteçam por completo é necessário que o ambiente de surgimento seja propício para seu desenvolvimento. Neste sentido, a abordagem dos SNI’s é útil para mostrar os elementos e relações responsáveis pela construção deste ambiente. Todavia, para que estes elementos e relações se desenvolvam em um território nacional, é preciso aproveitar oportunidades de desenvolvimento tecnológico que surgem entre uma revolução e outra, como veremos no item a seguir. 2.1. As janelas de oportunidade para o desenvolvimento Nesta seção o objetivo é entender a abertura de janelas de oportunidades para o desenvolvimento. Estas oportunidades são originadas partir da segunda metade de uma revolução tecnológica e de seu respectivo paradigma e o começo de uma nova; o aproveitamento destas oportunidades proporciona ao país longos períodos de prosperidade e bonança. 20 Uma revolução tecnológica origina um conjunto de sistemas tecnológicos que dão início a uma série de trajetórias, as quais são divididas em quatro fases, como explicadas na seção anterior. A fase inicial é a fase de desenvolvimento e adequação dos produtos e também caracterizada por um conteúdo maior de mão de obra e custos mais elevados na sua fabricação, pois necessita ser testada e as rotinas ainda não estão bem estabelecidas. As últimas fases caracterizam-se por um processo de maturação, as inovações incrementais se tornam menos frequentes, o time to market é muito veloz, os mercados já se encontram saturados, os processos de produção já são bastante rotineiros e mecanizados (PEREZ, 2001). Quando alcança o nível de maturação tecnológica, a produção destes produtos é atraída para a periferia, devido às vantagens de custo oferecidas por estes países, como mão de obra e matéria-prima. Como os processos produtivos já estão bem consolidados torna-se fácil transferi-los para os países menos desenvolvidos, assim, surge desta fase a oportunidade de adquirir a tecnologia e conhecimento da revolução tecnológica que está prestes a acabar. Esta transferência torna possível um processo de inovações locais que, aliados a mercados crescentes, explicam o crescimento da produção e da renda em economias menos desenvolvidas (PEREZ, 2001). Para Carlota Perez (2001) há oportunidade de desenvolvimento para países da periferia quando as inovações atingem a fase de maturação, à medida que as necessidades de vantagens de custo levam a transferir tecnologias para os países da periferia. A absorção destas novas indústrias acaba trazendo consigo necessidades de infraestrutura que ajuda no desenvolvimento à medida que são atendidas. Este fato promove a infraestrutura necessária para receber tais tecnologias e com isto explorar os ganhos financeiros. Para que este processo aconteça com sucesso é necessário que os elementos responsáveis pela criação, promoção e difusão de inovações e suas relações, estejam bem estabelecidos, sendo capazes de gerar um ambiente mais propício para o desenvolvimento de inovações, constituído no que chamamos de Sistemas Nacionais de Inovação, tema discutido na próxima seção. Ainda que a maturação tecnológica de uma revolução signifique o aumento das possibilidades produtivas a países menos desenvolvidos como o Brasil. O aproveitamento das janelas de oportunidade também está relacionado ao conjunto de possibilidades tecnológicas que emergem do surgimento das fases iniciais da nova revolução. Esta fase, que ocorre ao mesmo tempo em que a quarta e última fase da 21 revolução tecnológica anterior, é marcada pela concentração dos conhecimentos relevantes em instituições públicas, como universidades e centros de pesquisa e se torna disponível para o público (PEREZ, 2001). Ocorre que os conhecimentos científicos ainda não foram cristalizados em produtos, ou estão sendo em baixa frequência, como no atual caso das nanotecnologias. Os conhecimentos científicos avançam em áreas do conhecimento com alto potencial de exploração econômica, muitas vezes identificada em estratégias nacionais de desenvolvimento, mas com grandes dificuldades de aplicação tecnológica. Este é o momento em que as janelas de oportunidades para o desenvolvimento se abrem e torna possível que os países alcancem o nível dos mais desenvolvidos. Para que isto ocorra com sucesso há a necessidade de uma bem sucedida estratégia de desenvolvimento tecnológico, que depende das vantagens dinâmicas e externalidades, como as infraestruturas física, social e tecnológica desenvolvidas em cada Sistema Nacional de Inovações (SNI), como será debatido na seção seguinte. Essas vantagens podem ter sido resultado do conhecimento acumulado da fase anterior ou por meio de intensos processos de aprendizagem e melhoramento do meio social e econômico. Como resultado destes processos de aprendizagem e melhoramentos, a estratégia de desenvolvimento capaz de acumular capacidade tecnológica, cria uma base para as novas tecnologias e dinâmicas, o que gera aumentos sistemáticos da produtividade, da renda total e da renda per capita (PEREZ, 2001). Estratégias que deram certo entre países desenvolvidos sempre utilizaram algum nível de imitação, mas como ressalta Carlota Perez (1996) uma exclusiva estratégia de cópia não é a mais adequada para se alcançar o nível dos países desenvolvidos. As experiências nos países latino-americanos de crescimento via substituição de importação comprovam isto. A estratégia de transferência de tecnologia fundada em empresas transnacionais apresentou falhas em alcançar os países desenvolvidos. Muito embora detivesse méritos na criação de um planejamento que originou um conjunto de condutas, práticas e conceitos, adotados pelos principais agentes envolvidos, que se cristalizaram nestes países em formas de instituições (PEREZ, 1996). Nas seções seguintes veremos quais os elementos e suas relações que criam a infraestrutura e capacidade tecnológica para o desenvolvimento do cenário favorável para aproveitar as janelas de oportunidade. Estes elementos e relações dentro do território nacional se constituem no Sistema Nacional de Inovação (SNI). 22 2.2. Sistemas Nacionais de Inovação Com o objetivo de entender as principais relações dos elementos , que melhor promovem, difundem e criam conhecimentos e inovações, o conceito de SNI´s é explorado Analisa-se a relação destes agentes em um ambiente favorável ao florescimento de inovações com impactos maiores para o desenvolvimento econômico. 2.2.1. O Conceito de Sistemas Nacionais de Inovação A primeira definição explícita de Sistema Nacional de Inovação (SNI)¹ remonta aos trabalhos de Freeman (1987) que analisou o processo de crescimento japonês no período 1945-1980. O autor destacou que o crescimento não poderia ser explicado sem se considerar a ênfase dada pela sociedade japonesa aos diversos fatores qualitativos e sistêmicos que afetavam o processo de inovação. Compreendeu os sistemas como “redes de instituições no interior dos setores público e privado cujas atividades e interações iniciam, fortalecem e difundem novas tecnologias” (FREEMAN, 1987). Posteriormente, outros autores, em especial Lundvall (1992) e Nelson (1994) aprofundaram a discussão sobre o conceito de SNI, sistematizando a compreensão da dinâmica da inovação, ao enfatizar diversos aspectos que afetam o desempenho dos sistemas dos diferentes países. Dessa discussão podem-se retirar duas variações do conceito de SNI, ambas explicitando, todavia, que os processos inovativos nas empresas são resultantes de esforços coletivos. Nelson e Rosenberg (1993) apresentam uma concepção mais restrita dos SNI’s com foco nas relações sistêmicas entre os esforços de P&D nas empresas, as organizações de Ciência e Tecnologia (C&T) que incluem universidades, e a política explicitamente dirigida à C&T. Contudo, alertam que as interações institucionais, determinantes ao desempenho inovativo, não presumem, em algum sentido, que o sistema seja conscientemente projetado, ou que as instituições envolvidas estejam envolvidas, de alguma maneira, em trabalhos coerentes. Para esses autores, o conceito teria a propriedade de facilitar o estudo empírico, se os sistemas nacionais de inovação fossem tratados como estruturas que incluem os fatores capazes de influenciar as capacidades tecnológicas nacionais e o avanço tecnológico por consequência. Nesse sentido ressaltam que empresas, laboratórios de 23 pesquisa, universidades, bem como centros de pesquisa governamentais são elementos importantes dessas estruturas. A concepção ampliada de Freeman (1987) e Lundvall (1992) incorpora o amplo conjunto de instituições que afetam direta e indiretamente as estratégias e o desempenho de inovação das firmas. Diferentes instituições e organizações específicas de cada país, como, por exemplo, o setor financeiro e o sistema educacional, são também importantes elementos analíticos do SNI. Mas seriam o aprendizado1 interativo e o processo de inovação os fatores centrais necessários para a compreensão da atual dinâmica econômica, sendo o conhecimento o recurso fundamental para o desenvolvimento de capacitações humanas adequadas aos requisitos da economia moderna. O sucesso econômico de indivíduos, empresas ou economias estaria diretamente relacionado às suas capacidades de construir competências novas e não apenas de ter acesso a informações. Para Lundvall (1992) um sistema de inovações seria constituído por “elementos e relacionamentos que interagem na produção, difusão e uso do novo, e economicamente útil, conhecimento e [...] um sistema nacional abrange elementos e relacionamentos, localizados ou enraizados dentro das fronteiras de um Estado Nação” (LUNDVALL, 1992, p.2). Para clarificar ainda mais vale a pena entender o que Lundvall (2007) chama de “os três ingredientes básicos do SNI” : nacional, sistema e inovação. Segundo Lundvall (1992) os elementos que compõe este sistema estão enraizados dentro das fronteiras do estado nacional, por isso o sistema de inovação é um sistema “Nacional” de inovação. O autor argumenta a importância na realização de estudos no âmbito nacional, dada à relevância histórica do papel da nação, para entender as transformações regionais e também globais. O desenvolvimento de regiões e as transformações globais podem ser fruto de políticas ou estratégias desenvolvidas a nível nacional. O confronto das medidas econômicas tomadas pelos diferentes países é de onde partiu a ideia original desta abordagem (LUNDVALL, 2007). O SNI também pode ser definido como um sistema social e dinâmico: primeiro social porque sua atividade central é o aprendizado e o aprendizado envolve a interação entre os seres humanos (LUNDVALL, 1992); segundo porque as inter-relações e interações dos elementos do sistema dão uma dinâmica peculiar a todos os SNI; em 1 O aprendizado é definido como o “resultado da interação entre agentes envolvidos em um contexto sócio-cultural e institucional” (LUNDVALL, 1992, p.1). 24 terceiro, os processos de inovação acontecem entre fenômenos micro e macro, nos quais as macroestruturas condicionam a dinâmica em nível micro, assim como os processos a nível micro dão forma às macroestruturas. Ao pensar desta maneira os Sistemas Nacionais de Inovação, podem ser vistos como um complexo que coevoluí e se auto-organiza (LUNDVALL, 2007). A inovação dentro desta abordagem segue a linha de Schumpeter (1961), que vê a inovação como novas combinações de materiais e forças, porém o que difere novas combinações de invenções é a introdução destas a um mercado pelo empresário. Lundvall (2007) acrescenta ainda ao conceito de inovação os processos de difusão e uso do novo, já que segundo ele novos produtos e processos ganham mais atratividade a partir de uma ampla utilização. O processo de inovação, nesta perspectiva pode ser considerado um fenômeno e é diferenciado pelo seu impacto no desempenho econômico, que é medido pelas transformações que a inovação pode proporcionar nas pessoas, na organização técnica e produtiva e na sociedade (LUNDVALL, 2007). De maneira geral a abordagem dos Sistemas Nacionais de Inovação tem como principal propósito contribuir para o entendimento teórico dos processos de aprendizado interativo e inovação. Apesar disso, ele acaba por atender outros propósitos, por tratar de forma ampliada os fenômenos responsáveis pelo desenvolvimento econômico, tendo como centro da análise a inovação e o aprendizado interativo (LUNDVALL,1992). Assim, ele pode ser também uma ferramenta para políticas de estado, como veremos mais adiante. A utilidade desta abordagem dos SNI’s pode ser defendida com base em três argumentos. O primeiro trata da utilidade para o governo em entender o contexto específico do sistema nacional na ordem de realizar intervenções para promover inovações. Uma política referente de uma análise errônea do contexto nacional pode levar a uma atenuação das fraquezas do SNI. O exemplo clássico é considerar os investimentos em P&D como fonte única para o desenvolvimento tecnológico, quando existem elementos de difusão, de interação e qualitativos que afetam a promoção e o desenvolvimento de inovações. O segundo argumento é entender quão diferente e diverso eles trabalham, tendo em vista que alguns sistemas investem pesado em ciência e tecnologia enquanto outros se apropriam destas pesquisas (LUNDVALL, 1992). Existem sistemas que possuem um alto grau de absorção e de dinamismo tecnológico. Por causa disso adquirem e 25 reproduzem o aprendizado se aproveitando dos trabalhos desenvolvidos em outros países. Para o terceiro e último, Lundvall (1992) defende que apreender com as experiências dos outros países pode facilitar a formulação de estratégias que visam aproveitar oportunidades de desenvolvimento. Dentro de um mundo que é caracterizado por uma mudança radical (Revoluções Tecnológicas) em uma fundação Tecnoeconômica (Paradigma Tecnoeconômico), o sucesso de um SNI em explorar uma oportunidade técnica pode ser diverso. Uma estratégia que opta pela simples cópia de produtos estrangeiros pode não levar aos resultados desejados como se aprendeu no passado. Lundvall (2001), ainda indica alguns elementos que agem na direção de estimular a atividade inovativa dentro dos sistemas de inovação: além dos laboratórios de P&D, o aprendizado que se desenvolve nas firmas a partir de rotinas internas, o learnig by doing, o learning by interacting, o learnig by using. Nesse processo de acúmulo de experiências, as instituições, entendidas como rotinas, procedimentos e normas particulares, agiriam no sentido de diminuir a incerteza intrínseca do processo inovativo de cada sistema nacional de inovação. Nesta perspectiva, atualmente os trabalhos de Lundvall e do grupo de Aalborg têm se preocupado com os processos de construção de competência (relacionados à educação e ao treinamento), com os relacionamentos inter e intra-industriais e com a dinâmica do mercado de trabalho como elementos importantes dos SNI (LUNDVALL, 2007). A preocupação teve como base um estudo do Sistema Nacional de Inovação dinamarquês conhecido como projeto DISKO. O trabalho inicia a partir da criação de um método de estudo que analise os elementos e as relações do SNI em diferentes níveis micro e macro. O resultado mostrou que as interações entre, as inovações técnicas em hardware e software, aliado a mudança organizacional e as redes por onde correm as informações são fundamentais, não somente para o processo inovativo, também para o grau em que as inovações se repercutem em desempenho econômico. Outra conclusão é que as formas organizacionais, os recursos humanos e o posicionamento nas redes de informação que promovem a inovação são muito semelhantes aos que promovem adaptações e aprendizados organizacionais. Ao comparar estes resultados a de outros países é possível perceber diferenças na microestrutura dos sistemas de inovação, que estão ligadas ao mercado de trabalho, ao sistema educacional e a possíveis regimes de bem estar-social (LUNDVALL, 2007). 26 Os trabalhos de Freeman, Lundvall e Nelson e demais autores que seguiram a linhagem do Sistema Nacional de Inovação realizaram uma construção teórica que analisa a inovação como um fenômeno em que o conhecimento e o aprendizado são, respectivamente, o insumo e a ferramenta para que o processo inovação ocorra. A abordagem permite um estudo mais detalhado dos elementos e as relações responsáveis pela promoção, difusão do conhecimento útil, além de oferecer base para elaboração de políticas e estratégias de desenvolvimento. Estas políticas para serem bem sucedidas são necessárias para a construção de competência e de um quadro instrucional que promova o ambiente necessário para que as inovações floresçam como veremos na próxima seção. 2.2.2. Notas sobre as instituições nos SNIs As instituições possuem um papel fundamental para o desenvolvimento das trajetórias tecnológicas, primeiro por influenciar em todo o conhecimento e aprendizado e também por oferecem a estabilidade necessária para a evolução e para transformação. O objetivo dessa seção é apresentar o papel das instituições que influenciam as trajetórias tecnológicas e demonstrar, brevemente, como os processos de aprendizado são de alguma forma, influenciados por aspectos institucionais. As instituições são entendidas como organismos que apresentam a característica de possuir estabilidade, o que transmite a segurança necessária no transcorrer de uma trajetória tecnológica. São elas que consolidam as rotinas e processos necessários para o melhor aproveitamento das inovações ao longo de sua evolução. Além disso, as instituições possuem um importante papel no “esquecimento” de alguns processos cristalizados em períodos anteriores, os quais se dão pelo desligamento de instituições ou parte delas; este fenômeno é fundamental para impulsionar novas trajetórias tecnológicas e acabar com a inércia, consequência do choque de uma RT que esta por acabar e outra que esta por começar (LUNDVALL, 1992). O aprendizado é um processo que envolve a interação entre as pessoas. Estas pessoas possuem hábitos, os quais nada mais são do que comportamentos regulares que ajudam a lidar com a complexidade do dia a dia. Quando estes hábitos se tornam comuns entre um grupo de pessoas eles dão origem a diferentes tipos de regularidades do comportamento, como normas, tradições, regras e leis. De maneira objetiva as 27 instituições são estes conjuntos hábitos, rotinas, regras, normas e leis, que regulam as relações entre as pessoas e suas formas de interação (LUNDVALL, 1992). O conjunto de regularidades comportamentais - as instituições - facilita as práticas sociais, contribuindo, inclusive, para que o aprendizado não seja sempre um “eterno recomeço”. Os costumes, tradições, leis e normas são mecanismos que fixam nas pessoas os comportamentos mais adequados para a interação uma com as outras. Desta maneira as instituições são vistas como o regulador das interações humanas. O fato de parte de o aprendizado depender destas interações, já comprova, em grande parte, a influência que as instituições possuem no processo de aprendizado em uma economia moderna. Esta função de regulação revela o papel principal das instituições de ser ‘guia’ as relações entre pessoas (LUNDVALL, 1992). Porém além desta função, as instituições possuem outras, não tão diretas, mas que dão a elas o caráter de estabilidade para reprodução da sociedade. O caráter estável que as instituições possuem está ligado ao fato de apresentarem as seguintes subfunções: elas reduzem as incertezas, coordenam o uso do conhecimento, mediam conflitos e promovem incentivos ao sistema de inovações (LUNDVALL, 1992). Essa estabilidade é totalmente necessária para as mudanças tecnológicas, primeiramente porque uma quantia de estabilidade é necessária para inovação já estabelecida, para que possa se aproveitar os ganhos originados a partir de inovações incrementais dentro das trajetórias tecnológicas. Neste sentido, uma política institucional de sempre incentivar inovações radicais pode não ser a medida mais adequada, pois ela estaria deixando de aproveitar ao máximo os ganhos provindos das trajetórias das inovações. Em segundo lugar a estabilidade é necessária porque as inovações radicais dependem do comportamento institucionalizado. Empresas e demais instituições dependem da criação de rotinas que facilitem o aprendizado dos funcionários quanto a novas rotinas que buscam se estabelecer ao implementar processos e até produtos novos, o que também aumenta a capacidade de lidar com a maioria das decisões tecnológicas (LUNDVALL, 1992). As mudanças tecnológicas ocasionadas por transformações, frutos do começo de uma nova revolução, criam forças que também transformam o quadro institucional. Trocando, mudando ou, por vezes, dando fim a instituições que nos períodos passados ocupavam papéis fundamentais. A forma como as instituições lidam com estas 28 transformações é simples: esquecendo o que é desnecessário e concentrando forças e sinergias no novo (LUNDVALL, 1992). Por vezes as instituições podem ser as responsáveis por atrasos nos processos de aprendizado, mas são elas que criam as pré-condições para que estas se desenvolvam de maneira plena dentro das trajetórias. Sem as instituições o processo de renovação tecnológico seria muito mais complicado (LUNDVALL, 1992). Na economia, o papel de esquecer no crescimento do conhecimento está intimamente conectado ao papel de desativar velhas atividades econômicas (LUNDALL, 1992). Para as firmas, é mais rentável concentrar suas forças em uma nova tecnologia do que dividi-la junto a uma que provavelmente venha a perder força. Isto acontece pelo desligamento de atividades, mesmo que estas foram, em algum momento, atividades-chaves para o crescimento e que adquiriram muito prestígio durante este período. Muitas vezes, isto pode gerar conflitos que impedem o desenvolvimento de novas rotinas e processos. Em algumas firmas, por se adotar rotinas muito rígidas de trabalho, há dificuldade em internalizar novas rotinas necessárias para se adequar às mudanças, o que muitas vezes resulta em uma grande demissão de funcionários, ou uma reestruturação de todo um departamento, ou até a falência. Por isso, uma maior flexibilidade dentro das firmas é recomendável para os processos de aprendizado. Enfim, por ser a ‘guia’ na relação entre as pessoas, às instituições acabam por influenciar nas interações humanas. Como o processo de aprendizado envolve interações sociais, o quadro institucional acaba influenciando todos os processos de aprendizado, fornecendo a estabilidade necessária para a evolução das trajetórias tecnológicas e permitindo um aproveitamento dos ganhos desta trajetória, por meio da garantia do desenvolvimento de inovações incrementais. Assim como a transformação deste quadro permite criar as pré-condições para o surgimento de novas trajetórias tecnológicas. O papel institucional é propiciar um ambiente que promova o aproveitamento máximo das trajetórias tecnológicas, para isto é necessário tanto a cristalização de um quadro institucional favorável como a flexibilização deste quando novas tecnologias estiverem no inicio do seu desenvolvimento. 29 2.3. O Sistema Nacional de Inovações Brasileiro: Aspectos teóricos e empíricos recentes O objetivo desta seção é apresentar os fatores que condicionam o até então chamado Sistema Nacional de Inovação Brasileiro (SNIB). Para contemplar este objetivo se considera em primeiro lugar, a caracterização dos tipos SNI em que o Brasil é agrupado, pois os SNI´s dos países periféricos possuem aspectos em que se diferenciam dos países centrais. Em segundo, os elementos responsáveis por restringir o desenvolvimento de inovações de maior impacto. Neste sentido, faz-se uma análise dos pontos que afetam negativamente o SNIB e que dão origem a um quadro de limitação e de gargalos ao desenvolvimento de inovações. Como já foi explicando anteriormente os estudos que resultaram na origem da abordagem dos SNI´s começou a partir de analises de políticas públicas dentro OCDE (LUNDVALL, 2007). O conceito do SNI é muito útil para as discussões sobre as dinâmicas tecnológicas nos diferentes países, porém ao analisar países que não são membros da OCDE é possível formular criticas a abordagem (ALBUQUERQUE, 1999). Os trabalhos de Albuquerque (1996 & 1999), visam complementar a perspectiva teórica criando uma tipologia que agrupa países com SNI´s maduros, SNI`s na frente do processo de “catching up” e SNI´s atrás do processo de “catching up”, ou também os chamados SNI´s não-maduros. Os trabalhos de Nelson (1993) sobre a diversidade dos SNI´s, a discussão de Freeman (1995) sobre as diferentes características de alguns SNI´s (Japão, URSS, latino-americanos e países do leste asiático) e o trabalho de Patel & Pavitt (1994) sugerindo que os SNI´s devem ser medidos e comparados serviram de referência para o trabalho de Albuquerque (1999) que consiste em uma tentativa em criar uma tipologia para os SNI´s, em especial aos países que não são membros da OCDE. Albuquerque (1999) realiza uma divisão dos SNI´s não maduros em subtipos, por apresentarem algumas características que os diferenciam em alguns aspectos. Estas características estão, em suma, apresentadas na figura quatro. 30 Quadro 1: Tipos de SNI´s segundo Albuquerque Tipo Países características Bélgica, Dinamarca, Alemanha, França, Irlanda, Itália, Holanda, Inglaterra, Aústria, Suíça, Canadá, Estado Unidos, Japão, Austrália e Nova Zelândia e Israel. Presença de um SNI que capacita os países membros deste grupo a permancerem ou estarem muito próximos a fronteira tecnológica Coréia do Sul, Taiwan e Singapura SNI´s com grande dinamismo tecnológico e uma capacitação criativa, capaz de absorver tecnologia e repercutir na forma de inovações incrementais Subtipo SNI´s Maduros SNI´s a frente do "catching up" SNI´s atrás do "catching up" (SNI's não- maduros) - - Estrutura de Ciência e Tecnolôgia Antiga e Ineficiente (ECTAI) Existência de uma infraestrutura básica México, Argentina, Brasil, Chile, Venezuela, em ciência e tecnológica; baixo África do Sul, Indía, Grécia, Espanha e investimento das firmas em inovação; Portugal (Coréia do Sul, Taiwan e Singapura presença de um sistema educacional com em 1981) problemas e sérios gargalos; existência de um "gap" entre publicações e patentes. Países ex-socialistas; probelmas no sistema educacional; baixo nível de P&D Países do Centro e Leste Rússia, Bulgária, República Tcheca, Slovakia, e Ciência e engenharia; P&D em firmas Europeu (PCEE) Hungria, Polônia e Romenia apresenta um nível baixo comparado com os países do mesmo grupo; "Asian cubs" Indonésia, Malásia, Filipinas e Tailândia Outros países Turquia, China e Paquistão Estrutura ciêntifíca com alguma atividade similar aos paises do ECTAI; Fontes educacionais são importantes; alto nível de difusão tecnológica; dos países com SNI´s nã maduros são os que estão mais próximos do "catching up". Estes países possuem um SNI rudimentar e alguns autores preferem afirmar a inexistência de um SNI. Fonte: Elaboração própria, Albuquerque (1996 & 1999). Como pode ser observado na quadro1 o Brasil esta junto aos países com SNI´s não maduros, dentro do subtipo de países com uma estrutura de ciência e tecnologia antiga e ineficiente. Os motivos para esta caracterização estão centrados nas limitantes e gargalos que condicionam os processos inovativos no Brasil, não permitindo que o catching up, resultante da absorção tecnológica, capacite o SNI brasileiro para desenvolver Inovações com maior impacto (AREND; FONSECA, 2012). Outra classificação tipológica é de Viotti (2005), que separa os SNI´s dos países centro dos da periferia. Para Viotti (2005) a inovação é um fenômeno raro nestes últimos países, por isso classifica os sistemas destes países como Sistemas Nacionais de Aprendizado, que são divididos em dois tipos: o Sistema Nacional de Aprendizado Ativo, no qual a absorção conquistada através do aprendizado tecnológico resulta em significativos aperfeiçoamentos, que também são consideradas como inovações incrementais; e o segundo tipo, definido como um Sistema Nacional de Aprendizado Passivo, em que as mudanças resultadas dos processos de absorção, aprendizado 31 tecnológico, são em sua maioria pequenas adaptações às condições locais (VIOTTI, 2005). A classificação de Albuquerque (1996 & 1999) é semelhante à de Viotti (2005) e neste trabalho serve como referência para seleção dos países para formulação de indicadores e para a melhor compreensão das características dos Sistemas de Inovação de cada país . Apesar disso, utilizaremos a definição de Viotti (2005) referente aos Sistemas de Aprendizado ativo e passivo, pois os sistemas nacionais de inovação em países em desenvolvimento de fato são incompletos em seu quadro institucional, como argumenta Albuquerque (1996), porém as características passivas nos processos de inovação nos países em desenvolvimento são mais bem expostas e claras na categorização de Viotti (2005), e que não deixa de caracterizá-los como um sistema com deficiências em seu quadro institucional. As razões que fazem com que os processos inovativos no Brasil possuam esta característica passiva estão divididas em três domínios. Segundo Vilaschi (2005) estes domínios são: econômico, institucional e tecnológico. Os aspectos provindos deles limitam a ação dos elementos do SNIB. Esta investigação tem como foco os fatores mais recentes, os quais as consequências podem ser observadas nos períodos atuais. No domínio econômico, as políticas macroeconômicas de controle de preço, características dos anos 90, foram positivas para a economia, porém apresentaram um efeito negativo no desenvolvimento industrial (COUTINHO, 2003). A alta taxa de juros permitiu a apreciação do real frente às outras moedas, o que incentivou as importações e desestimulou as exportações. Isto, em muitos casos, acabou destruindo a produção interna e levando à contração de uma porção significativa da indústria local (VILASCHI, 2005). A vulnerabilidade financeira das empresas de capital brasileiro também foi o preço pago pelo alto custo do capital. A competitividade era cada vez menor frente à parcela de produtos que eram importados e frente às empresas multinacionais que adentravam o mercado brasileiro. Estas grandes corporações traziam suas subsidiárias para dentro do país, que em sua maioria não tinham o interesse de levar consigo os departamentos de P&D (LEMOS et al., 2003), fazendo com que o desenvolvimento fosse limitado a inovações de pouco valor agregado. Atividades que englobam mais valor, mais complexidade, como design e grandes projetos, ficam alocados na matriz no exterior (LEMOS et al., 2003). 32 No domínio institucional o país parece ter sido caracterizado por um pensamento voltado para curto-prazo. Nos governos, isto é resultado de uma cultura de políticas que privilegiam aquilo que tem mais apelo popular (JAGUARIBE, 1987). Vários projetos voltados para avanços em Ciência e Tecnologia acabaram sendo engavetados por falta de apoio político e falta de financiamento. Nas empresas os cenários em que os empresários e funcionários se acostumaram a trabalhar sempre privilegiaram práticas e ações que venham a trazer o lucro máximo em menos tempo (LEMOS et al., 2003), os quais não vislumbravam atividades mais arriscadas como as típicas de inovação. Tanto o cenário inflacionário da década de 1980 até meados da década 1990, seguidos das restrições macroeconômicas do pós-real parecem ter contribuído para isso. A falta de visão institucional encontra argumentação ao referir as transformações do atual Paradigma Tecnoeconômico (PTE) das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), como destaca Vilaschi (2005). Medidas institucionais intencionais para o desenvolvimento tecnológico das TIC´s não recebiam o apoio necessário para sua continuidade. A abordagem dos SNI’s, então, nunca saia dos debates acadêmicos e das prateleiras (VILASCHI, 2005). Dentro do domínio tecnológico houve alguns projetos no começo da década de 1990 direcionados a introduzir no país as TIC’s, mas que devido à falta de estabilidade e flexibilidade institucional-financeira não obtiveram continuidade e êxito. Outros programas só tiveram algum sucesso na década seguinte, o resultado foram atrasos no ingresso brasileiro na trajetória das TIC´s. Basicamente os elementos do SNIB dentro do domínio tecnológico se limitam à disponibilidade de serviços de educação, tecnologia e treinamento (VILASCHI, 2005). Tratando-se destes elementos houve a ampliação do número de vagas disponíveis, mas a principal crítica é a rigidez nos currículos dos cursos universitários (VILASCHI, 2005). As mudanças e transformações tornam-se demandas dos aglomerados industriais por competências que detenham a capacitação necessária para lidar com o novo. O quadro institucional acadêmico deve garantir o atendimento dessas demandas. Outro problema é destacado por Perez (1996; 2010), ao apontar que nos países latino-americanos ocorreu um distanciamento da academia com o setor produtivo. Muitos projetos acadêmicos se concentram em temas que não tem tanta relação com o contexto em que a economia nacional estava e, possivelmente, ainda está inserida. 33 Em suma, as políticas econômicas brasileiras criaram um cenário de estabilidade de preço, mas de contração industrial no domínio econômico. Isto pode ser uma das razões de muitas empresas incorporarem uma cultura curto-prazista nas tomadas de decisões sem muita visão de longo-prazo. A mesma cultura parece estar instituída no estado onde os projetos de desenvolvimento tecnológico não recebem o apoio que é necessário. Este quadro institucional não dispõe de prover a estabilidade necessária para que as transformações tecnológicas ocorram de maneira exitosa, limitando o domínio tecnológico aos elementos básicos de um Sistema Nacional de Inovação. Estes fatores que condicionam o desenvolvimento do SNIB leva-o a ser caracterizado como um Sistema Nacional de Inovação não maduro, com uma estrutura de ciência e tecnologia antiga e ineficiente. No capítulo a seguir veremos se nos anos em que foi realizado a Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), houve alguma mudança significativa neste quadro. 34 3. UMA ANALISE RECENTE DE INDICADORES DE INOVAÇÃO BRASILEIROS EM PERSPECTIVA COMPARADA A PAÍSES EUROPEUS. Este capítulo tem como objetivo analisar os fatores que permitem inferir nos processos de inovação no Brasil, através dos dados de inovação da pesquisa do IBGE de inovação tecnológica (PINTEC) em comparação com os dados disponíveis da Europa (Eurostat). Até agora, o quadro institucional, econômico e tecnológico que se tem no Brasil não cria as condições necessárias para o desenvolvimento de inovações com maior impacto. Viotti (2005) defende que em países em desenvolvimento a inovação é um fenômeno raro, devido ao fato destes países serem dominados por um processo de aprendizado tecnológico e não um processo de inovação, o que os caracterizam como um sistema nacional de aprendizado ou sistema nacional de mudança técnica (VIOTTI, 2005). Viotti et. al. (2005) argumenta que o Brasil estaria incluso nesta última tipologia. Seu argumento é baseado nos dados de inovação tecnológica do IBGE referentes ao período de 1998 a 2000. O motivo principal é que segundo os dados, as inovações no Brasil estavam concentradas em aquisição de máquinas e equipamentos e possuem um baixo grau de novidade, resultando em um quadro predominante de inovações em processo e em produto de baixo em impacto. Veremos brevemente como este quadro evoluiu das pesquisas anteriores até a pesquisa mais recente de 2008 e compararemos o resultado desta evolução com os dados de inovação dos países europeus. 3.1. Análise de indicadores da atividade de inovação no Brasil. Os dados de inovação da PINTEC passaram por uma evolução, tanto quantitativamente, quanto qualitativamente desde a primeira pesquisa (1998 a 2000). A melhora nos resultados dos dados de inovação veio acompanhada de um período de crescimento econômico, que segundo a própria PINTEC (2010) pode ter sido o responsável pela evolução dos indicadores. O resultado positivo dos processos 35 inovativos no Brasil, nesta seção, é comparado com os dos Sistemas Nacionais Inovação e Sistemas Nacionais de aprendizado mais maduros e mais evoluídos. A ideia é avaliar se a evolução nos dados de inovação indica uma mudança nos processos inovativos brasileiros, que o caracterizam como um sistema de aprendizado relativamente pobre (VIOTTI, 2005). A partir disso a investigação dos dados começa pela análise de alguns indicadores que mostram a evolução no Brasil, como é apresentado no gráfico 1 que trata da taxa de inovação brasileira desde a primeira pesquisa até a última. Este indicador mede o percentual de empresas que implementaram algum tipo de inovação dentre as empresas pesquisadas. Observe que a maior diferença entre as taxas de inovação de uma pesquisa em relação a anterior é a de 2004-2005 para 2006-2008. Um crescimento de 4,20% de uma pesquisa para a outra. Em relação à primeira pesquisa da PINTEC (1998-2000) para última o crescimento é de 7,1%. Gráfico 1: Evolução da Taxa de Inovação Brasileira ( PINTEC I, II, II e IV). Fonte: IBGE (2004; 2005; 2006; 2010), elaboração própria. O gráfico 2 mostra o percentual de empresas que inovaram apenas em produtos, em processo e em produto e processo ao mesmo tempo, ou seja, a taxa de inovação para essas empresas. Ao analisar os dados percebe-se que no período de 1998 a 2000 havia predominância de inovações em processo, o que muda para outras pesquisas. As inovações de processo englobam aquisição de máquinas, equipamentos e software, que no caso brasileiro apresentam uma proporção bastante significativa Este tipo de inovação não engloba nas empresas tanto diferencial como uma inovação de produto ou outro de tipo de inovação de processo mais complexa. Passar de uma dominância de 36 inovações apenas de processo, para inovações de produto e processo é um sinal de uma evolução qualitativa positiva. As análises do gráfico 6, apoiam esse argumento. Gráfico 2: Percentual das empresas que implementaram inovações só de produto, só de processo e de produto e processo ( PINTEC I, II, II e IV). Fonte: IBGE (2004; 2005; 2006; 2010), elaboração própria. O gráfico 3 apresenta as taxas de inovação total, e agrupada segundo setores de alta tecnologia, média-alta tecnologia e de toda a manufatura (indústria da transformação) para o Brasil e a Europa. Esta divisão foi feita com base no próprio Eurostat (2010) e também no OCDE Scoreboard (1994), que define os setores de alta, média-alta, média-baixa e baixa tecnologia. Nos dados referentes à taxa de inovação, foi utilizada apenas a classificação de Alta e média-alta tecnologia por indisponibilidade de dados do Eurostat referentes à média-baixa e baixa tecnologia. O gráfico mostra que a taxa de inovação de toda indústria no Brasil é maior que países como Espanha, França e Holanda, o que evidencia a evolução do número de empresas inovadoras no país. O bom resultado comparado a estes países pode encontrar razão também pelo mal resultado deles (Espanha, França e Holanda), os quais em outras pesquisas possuíam taxas maiores de inovação (VIOTTI, 2005). Apesar disso, nos setores de alta e média-alta tecnologia o Brasil esta atrás de todos os países selecionados. Em relação às empresas manufatureiras o Brasil tem seu número mais alto apenas que a Espanha. Este é um resultado muito ruim, especialmente porque os setores de alta e média-alta tecnologia são setores chaves para o aproveitamento de janelas de oportunidade e pode indicar uma falta de dinâmica comparando estes setores a setores de outros países. Os setores industriais de alta tecnologia são aqueles setores “protagonistas” do atual paradigma tecnológico, por serem novos na indústria é necessário um alto esforço 37 em pesquisa e desenvolvimento para inovar. São eles os responsáveis pelas mais recentes trajetórias tecnológicas e são setores chaves para se criar uma base para os próximos paradigmas. Um novo paradigma precisa da capacidade tecnológica fruto do paradigma anterior, assim como os microprocessadores do atual paradigma não existiriam sem a energia elétrica (PEREZ, 2001). Países com setores de alta tecnologia mais desenvolvidos terão melhores condições de ingressar sua indústria em novas trajetórias tecnológicas. Por isso estes setores são estratégicos para economia nacional e devem ser motivo para elaboração de políticas públicas de desenvolvimento tecnológico (OLIVEIRA, 2006). Gráfico 3: Percentual de empresas que inovaram em todos os setores da economia, em setores da indústria de alta tecnologia e média-alta tecnologia e da toda a manufatura do Brasil e da Europa entre 2006 a 2008 - Países selecionados Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria. O gráfico quatro mostra o percentual de empresas inovadoras que implementaram inovações somente em produto, somente em processo e em produto e processo. Como já vimos as empresas inovadoras brasileiras passaram de uma percentagem maior em inovações só de processo para inovações em processo e produto. Este tipo de inovação é o que predomina na maioria dos países selecionados, o que indica um resultado positivo, porém as empresas com inovações de processo ocupam um espaço bastante representativo no Brasil. O número de empresas com inovações só de processo só é menor que as empresas inovadoras espanholas. Isto também é corroborado pelo alto dispêndio neste tipo de atividade inovativa – aquisição de máquinas e equipamentos – que representa a maior parcela do total de dispêndio em inovação no Brasil (tabela 3 e gráfico 8). 38 O percentual de empresas que inovaram apenas em produto só não é o mais baixo, porque a Espanha apresenta uma percentagem menor que a brasileira. Estes dados indicam um sistema de mudança técnica ou de aprendizagem com características passivas, pois as inovações em produto em sua grande maioria são novas apenas para firma, além de grande parte das inovações de processo estar centrada na aquisição de máquinas e equipamentos. Gráfico 4: Percentual de empresas inovadoras com inovações só de produto, só de processo e de produto e processo para o Brasil e para Europa entre os anos de 2006 a 2008 – Países Selecionados. Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria. Entre as empresas que inovaram em produto apenas 19% implementaram inovações de produto novo para o mercado, os outros 81% inovaram somente para firma (gráfico 5). A percentagem de empresas que inovaram em produto para o mercado no período de 2006-2008 é muito baixa entre os países selecionados e também abaixo de resultados de pesquisas anteriores (VIOTTI et al, 2005). Este dado comparado aos países Europeus dá suporte ao argumento de que as inovações produzidas no Brasil possuem baixo grau de novidade e pouca diferenciação de mercado, que são características de um sistema passivo de aprendizagem. 39 Gráfico 5: Percentagem de empresas que inovaram em produto para o mercado e para a firma como percentual de empresas que inovaram em produto entre os anos de 2006 a 2008 – Países selecionados. Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria. É curioso observar que neste caso, países com altas taxas de inovação, como a Alemanha, possuam empresas que inovaram em produto para o mercado menor que países que possuem taxas de inovação menores, como Itália e Holanda, por exemplo. Provavelmente isto se deve ao fato de que na pesquisa do Eurostat se considera “inovação para o mercado” aquela empresa que é pioneira para o negócio em que atua. Empresas de países como Alemanha trabalham em um nível mais global, enquanto as empresas de países como Holanda e Itália em um nível mais doméstico, isto é o que provavelmente gera as diferenças (VIOTI et al, 2005). No Brasil a “inovação de mercado” considera apenas o mercado nacional. A pesquisa trabalha desta maneira para evitar que firmas que trabalhem em mercados abaixo do nível nacional sejam consideradas neste número. Assim uma empresa que trabalha em mercados regionais ou locais e inova para estes mercados não é incluída neste indicador (VIOTI et al, 2005).. Na tabela 1 é possível analisar a percentagem de empresas industriais que inovaram por tamanho. No Brasil a taxa de inovação esta concentrada nas empresas de 250 empregados ou mais, enquanto as empresas com 50 a 249 empregados estão com a taxa de inovação mais baixa entre países selecionados. Entre as pequenas empresas o número é maior que muitos países europeus, o que pode ser reflexo de um período de desenvolvimento que o país viveu durante o período da pesquisa. 40 Tabela 1: Percentagem de empresas industriais que inovaram, total e por número de empregados no Brasil e na Europa de 2006 a 2008 – Países Selecionados. Países Bélgica Dinamarca Alemanha França Itália Holanda Espanha Suécia Noruega Brasil Taxa de inovação (%) de 10 a 49 empregados (%) de 50 a 249 empregados (%) 250 empregados ou mais (%) 48 43 64 35 40 35 32 45 40 38 44 61 51 71 49 52 58 49 58 55 41 77 71 87 73 70 74 75 78 66 60 38 60 28 30 37 31 40 35 37 Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria. Mesmo assim a diferença entre pequenas e médias empresas com a taxa de inovação das grandes empresas reflete uma das características da indústria brasileira a alta concentração. Tendo em vista ainda que as pequenas empresas representam 80% das empresas pesquisadas, as médias empresas como 17% e as grandes apenas 4% e são estas últimas que possuem o percentual mais elevado de inovação. Os indicadores de resultado indicam uma evolução num conjunto de principais dados de inovação no Brasil. A taxa de inovação cresceu significativamente e melhorou a posição brasileira frente aos países europeus, além do país passar de uma predominância de empresas inovativas em inovações de processo, para o predomínio de empresas com inovações de produto e processo, que é o frequente em países desenvolvidos. Apesar da evolução nestes indicadores os setores de alta e média alta tecnologia parecem não possuir a mesma dinâmica inovativa que nos países desenvolvidos. Além disso, as empresas brasileiras ainda apresentam uma grande dificuldade em trazer maior diferenciação para os seus produtos e ainda há uma significativa parcela das empresas que inovam em atividades de baixa complexidade. Na próxima seção isto ficará mais claro quando analisarmos as proporções de dispêndios em atividades inovativas e a percentagem do dispêndio pelo total do faturamento. 41 3.2 Esforço em inovação Esta seção tem como objetivo analisar os principais dados relacionados ao esforço das empresas dos países em inovar. Busca-se entender e avaliar a evolução do esforço em inovar no Brasil, quanto ao volume e a proporção dos dispêndios em determinadas atividades inovativas, como também alguns outros indicadores relevantes para se compreender fatores que interferem nos processos de inovação. Assim, é possível identificar onde esta concentrada os maiores esforços em inovação e as deficiências que resultam nos indicadores de vistos na seção anterior. Os gráficos 6 e 7 mostram os gastos em P&D interno no Brasil e os gastos em atividades inovativas sobre faturamento das empresas, respectivamente, que seguem comportamentos distintos. Enquanto os gastos em P&D apresentam uma leve evolução, desde a primeira pesquisa, os gastos totais em atividades inovativas parecem apresentar uma queda. Gráfico 6: Gastos em P&D interno no Brasil sobre o faturamento das empresas (PINTEC I, II, II e IV). Fonte: IBGE (2004; 2005; 2006; 2010), elaboração própria. Os gastos que envolvem atividades inovativas, que são atividades como, capacitação, aquisição de software novo e também P&D (OSLO, 2008), apresentam um comportamento diferente sobre o total do faturamento. Ao contrário dos gastos em P&D que apresentam uma tendência de alta, os gastos em atividades inovativas apresentam não uma tendência clara, mas nas pesquisas posteriores a primeira PINTEC a porcentagem é mais baixa. Isto pode indicar que os ganhos frutos do crescimento econômico não estão se revertendo em investimentos para atividades inovativas , 42 porém é possível concluir que a atividade de P&D parece estar ganhando mais importância dentro da indústria brasileira. Gráfico 7: Gastos em atividades Inovativas no Brasil sobre o faturamento das empresas ( PINTEC I, II, II e IV). Fonte: IBGE (2004; 2005; 2006; 2010), elaboração própria. Na Tabela 2 é possível analisar os dispêndios em atividades inovativas em proporção ao faturamento das empresas industriais brasileiras comparando-as com as europeias. No Brasil o maior gasto das empresas inovativas é a aquisição de máquinas e equipamentos, o que confirma o que havíamos constatado nos dados do gráfico 6. Enquanto que na maioria dos países classificados por Viotti como sistemas nacionais de inovação (Alemanha, França e Itália) e sistemas nacionais de aprendizado ativo (Suécia, Noruega e Holanda), os dispêndios maiores são em pesquisa e desenvolvimento. Dentro dos países selecionados apenas Portugal e República Tcheca possuem um gasto percentual em P&D interno as suas firmas, sobre o faturamento, menor que o brasileiro. No caso de gastos em P&D externo não há país com percentagem menor que o Brasil. O motivo pode estar relacionado a fato destas empresas não ofertarem a demanda tecnológica, que as empresas brasileiras procuram o que é provável por o Brasil não oferecer um quadro favorável para que as relações de cooperação floresçam. O baixo desempenho neste indicador também pode encontrar razão na falta de capacitação tecnológica dentro das firmas brasileiras e na baixa escala que elas trabalham já que as pequenas empresas são a parte mais significativa da pesquisa. 43 Tabela 2: Dispêndio de empresas industriais inovativas e sua proporção em relação ao faturamento no Brasil e na Europa – Países Selecionados Países Bélgica República Tcheca Alemanha Estonia Irlanda Espanha França Itália Holanda Austria Portugal Finlândia Suécia Noruega Croacia Brasil Dispêndio em P&D interno (%) 2.01 0.69 2.28 0.49 1.34 0.96 2.84 1.07 2.21 2.43 0.74 3.45 5.40 0.92 0.82 0.80 Dispêndio na Dispêndio na aquisição de aquisição de Dispêndio em Total P&D maquinaria, outro P&D externo equipamentos conhecimento e software externo (%) 0.88 0.44 0.51 0.16 0.60 0.30 0.62 0.27 0.77 0.44 0.22 0.67 1.89 0.37 0.15 0.12 (%) 2.89 1.13 2.79 0.66 1.94 1.27 3.46 1.33 2.99 2.87 0.96 4.11 7.29 1.29 0.96 0.93 (%) 1.22 1.94 1.42 3.44 3.07 0.55 0.71 1.08 0.99 0.93 1.84 0.97 1.37 0.16 1.72 1.40 (%) 0.04 0.04 0.11 0.12 0.40 0.16 0.18 0.09 0.04 0.07 0.04 0.07 0.13 0.05 0.11 0.09 Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria. O gráfico 8 reforça o que já foi dito a respeito à predominância de inovações referentes à aquisição de máquinas, equipamentos e softwares. O gráfico trata da proporção do dispêndio em atividades inovativas, a diferença na distribuição dos dispêndios no Brasil em relação a outros países confirma a representatividade deste tipo de inovação. 44 Gráfico 8: distribuição percentual dos dispêndios em atividades inovativas das indústrias com atividade inovadora no Brasil e na Europa – Países Selecionados. Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria. A tabela 3 mostra a percentagem dos gastos em P&D interno em relação ao total do faturamento das empresas de acordo com a intensidade tecnológica dos setores e também da manufatura. Como a definição se um setor é de alta, média-alta, média-baixa e baixa tecnologia é de acordo com sua intensidade em P&D, é lógico que a percentagem sobre o faturamento em P&D interno é maior para as empresas de alta tecnologia e menor para o resto. O que a tabela mostra é que mesmo naqueles setores em que se supõe uma alta intensidade em P&D as empresas brasileiras destinam muito pouco dos seus ganhos. O gasto percentual em P&D sobre o total do faturamento das empresas de alta tecnologia na Espanha é quase três vezes maior, mesmo tendo uma taxa de inovação de toda indústria menor que a brasileira. Isto também justifica o baixo desempenho das empresas que inovaram nestes setores no Brasil. 45 Tabela 3: Percentual de dispêndio em P&D interno sobre o faturamento das firmas por intensidade tecnológica dos setores e o total da manufatura no Brasil e na Europa – Países selecionados. Países Alemanha Bélgica Espanha França Itália Hungria Polonia Romenia Slovenia Brasil Alta tecnologia Média-alta tecnologia Média-baixa tecnologia Baixa tecnologia Manufatura (%) (%) (%) (%) (%) 7.70 9.56 3.80 5.70 3.35 1.20 0.65 0.47 8.82 1.32 3.13 1.33 0.92 2.46 1.36 0.38 0.23 0.48 1.08 1.15 0.53 0.30 0.29 0.64 0.25 0.11 0.06 0.06 0.45 0.43 0.31 0.26 0.30 0.30 0.23 0.08 0.06 0.03 0.20 0.41 2.18 1.16 0.64 1.58 0.74 0.42 0.13 0.17 1.27 0.64 Fonte: Eurostat (2010) IBGE (2010), elaboração própria. Em países como Alemanha, Bélgica, França, Itália e até na Espanha a diferença entre o gasto em P&D nos setores de alta tecnologia e média-alta são bem grandes, mas no Brasil esta a diferença é bem pequena. É possível que mesmo nestes setores no Brasil, os dispêndios sejam maiores em outros tipos de atividade, o que indica possíveis limitações de competitividade nestes setores também. Outro ponto que pode ser destacado é que o baixo esforço destes setores neste indicador no Brasil revela uma tendência do país se manter atrasado em relação aos países desenvolvidos e longe da fronteira tecnológica. A Tabela 4 reforça o baixo esforço das empresas em Pesquisa e Desenvolvimento. O número de pessoas envolvidas em atividades de P&D no Brasil é o mais baixo entre os países selecionados. Nesta tabela os dados foram coletados no ano de 2008 com exceção da Alemanha em que os dados disponíveis são de 2007. A França chega ter um número nove vezes maior que brasileiro. 46 Tabela 4: Pessoal ocupado em atividades internas de P&D nas firmas durante o período de 2006 a 2008 para o Brasil e para a Europa – Países selecionados. Total Países Pessoal ocupado em P&D Bélgica República Tcheca Alemanha (2007) Espanha França Hungria Holanda Polônia Slovenia Finlândia Brasil 41,207 32,745 364,669 137,303 243,530 14,043 64,343 17,596 7,394 41,762 45,342 Empresas inovadoras Pessoal ocupado em P&D por empresa 7,029 9,256 81,341 26,951 25,872 3,261 9,663 10,129 1,578 3,908 41,262 5.86 3.54 4.48 5.09 9.41 4.31 6.66 1.74 4.69 10.69 1.10 Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria. Enfim, a análise dos dados referente ao dispêndio em atividades inovativas e em pessoal ocupado em P&D deixa claro que o resultado das empresas inovadoras brasileiras é fruto de um esforço concentrado em atividades como aquisição de máquinas, equipamentos e software. Outro problema é que apesar dos gastos em P&D serem o segundo maior dispêndio das empresas que inovaram, o esforço parece ser muito pequeno, apesar da evolução nos dispêndios em relação às pesquisas anteriores do IBGE. Em países com Sistemas Nacionais de Inovação e Sistemas Nacionais de Aprendizado ativo os dispêndios maiores são justamente nesta atividade, o que indica a permanência de características de um sistema passivo de aprendizagem. 3.3 Principais Responsáveis pela Inovação e o papel do Financiamento Público Nesta seção analisaremos alguns dados que as pesquisas dispõem, considerados importantes para entender os processos inovativos em cada país. São eles: os principais responsáveis pela inovação dentro das empresas inovadoras, as fontes de informação mais importantes e as empresas que receberam algum tipo de financiamento público. 47 O primeiro indicador permite avaliar se as empresas são muito dependentes de instituições ou de outras empresas para inovar. No Brasil entre as empresas que inovaram em produto, o principal responsável é a própria empresa ou outras empresas do grupo (86% dos casos), enquanto que na maioria dos países europeus cerca de 70% das inovações tem a empresa como principal fonte. Ao passo que o desenvolvimento em cooperação com outra empresa ou instituto, assim como, o desenvolvimento da inovação por outra empresa, revelaram-se menos intensos no Brasil, comparativamente. isso pode estar relacionado a demanda relativamente menos intensa por conhecimentos tecnológicos das inovações de menor impacto, típicas do Brasil. Tabela 5: Principal responsável no desenvolvimento de produto e processo nas empresas que implementaram inovações no Brasil e na Europa - Países selecionados. Produto Países Bélgica Bulgaria República Tcheca Alemanaha Espanha França Itália Holanda Aústria Polônia Portugal Romania Finlândia Suécia Noruega Croacia Brasil empresa ou grupo 3,496 1,677 3,979 35,528 9,964 14,311 25,979 4,619 3,546 4,788 5,003 2,944 1,700 3,944 1,476 989 21,849 71% 73% 69% 67% 83% 83% 72% 67% 72% 69% 72% 78% 67% 71% 73% 61% 86% Processo desenvolvido cooperação com por outra outra empresa empresa ou ou instituto institutos 1,068 281 1,276 11,415 1,043 2,487 8,095 1,732 999 1,032 1,409 552 724 1,240 368 409 1,937 22% 12% 22% 22% 9% 14% 22% 25% 20% 15% 20% 15% 28% 22% 18% 25% 8% 393 355 510 5,736 1,062 463 1,964 510 362 1,126 550 285 125 380 181 219 1,579 8% 15% 9% 11% 9% 3% 5% 7% 7% 16% 8% 8% 5% 7% 9% 14% 6% empresa ou grupo 2,969 1,564 3,609 24,460 13,663 13,135 23,689 2,259 2,536 4,427 5,379 3,900 1,531 2,581 949 952 4,779 61% 68% 50% 53% 68% 69% 59% 38% 50% 56% 62% 77% 53% 53% 59% 45% 14% cooperação com outra empresa ou instituto 1,510 303 2,323 14,218 1,716 4,007 12,681 2,092 1,661 1,532 2,435 770 1,076 1,782 408 723 1,280 31% 13% 32% 31% 8% 21% 32% 35% 33% 19% 28% 15% 37% 37% 25% 34% 4% desenvolvido por outra empresa ou institutos 415 449 1,317 7,570 4,849 1,765 3,656 1,602 832 1,911 819 366 266 504 247 451 28,196 8% 19% 18% 16% 24% 9% 9% 27% 17% 24% 9% 7% 9% 10% 15% 21% 82% Fonte: Eurostat (2010) e IBGE (2010), elaboração própria. Os principais responsáveis por inovar em processo no Brasil são outras empresas ou institutos. Na Europa a maioria das empresas que inovaram em processo tem como principal responsável a própria empresa ou outra empresa do grupo, com diferenças menores ou maiores em relação à segunda posição. Em segundo lugar, no Brasil o principal responsável indicado pelas empresas inovadoras em processo foi a própria empresa ou outra empresa do grupo. Neste caso, na Europa, esta colocação ficou com inovações em cooperação com outra empresa ou instituto, para a maioria dos países. O motivo para o principal responsável pelas inovações de processo ser outra empresa ou instituto é o fato de as inovações em processo no Brasil serem na grande 48 maioria voltadas à aquisição de máquinas e equipamentos. O que indica que as empresas brasileiras possuem dependência de outras empresas e institutos para a realização de inovações. O pequeno número de empresas cujo principal responsável pela inovação em processo é cooperação com empresas ou institutos indica uma baixa sinergia entre as empresas e o quadro institucional. O que leva a concluir que existe uma baixa interação entre os elementos do Sistema Nacional de Inovação brasileiro (VIOTTI, 2005). O segundo dado, que pode ser observado no Gráfico 9, mostra o percentual total de empresas que receberam algum tipo de financiamento público para inovação sobre as empresas que inovaram. O objetivo é avaliar o apoio que as empresas obtêm dos governos para atividades inovativas, em termos de financiamento. A falta de financiamento pode ser uma barreira grande para o desenvolvimento de atividades inovativas. O financiamento público é fundamental na promoção, difusão e uso conhecimento útil, especialmente para inovações mais complexas que exigem formas de financiamento em maior escala. Gráfico 9: Percentual e número de empresas que receberam qualquer tipo de financiamento público no Brasil e na Europa – Países selecionados. Fonte: Eurostat (2010) IBGE (2010), elaboração própria. Entre as empresas industriais dos países selecionados somente Portugal com 12% das empresas que receberam qualquer tipo de financiamento público ficou abaixo do Brasil. Nos outros países o percentual é maior que 16% que é número no Brasil. Ainda que a diferença entre empresas que receberam financiamento no Brasil para os países europeus seja bastante elevada, esta diferença já foi maior em outras pesquisas, como na primeira pesquisa da PINTEC (VIOTTI, 2005). A diminuição desta diferença 49 deve encontrar razão em dois motivos; o primeiro é que o financiamento público para inovação aumentou no Brasil do período da primeira pesquisa para 2008, prova disso foram os programas pró-inovação e juro zero lançados pela Finep e dos cartões do BNDES que possibilitam a compra de máquinas e equipamentos a juros mais baixos que praticados pelo mercado (MACANEIRO; CHEROBIM, 2009). Em segundo lugar boa parte do financiamento para inovação na Europa vinha de fundos da União Européia (VIOTTI, 2005), os quais, com a crise, que teve início em 2008, devem ter-se reduzido Em suma, as empresas brasileiras têm como principal responsável pelas inovações a própria empresa ou outra empresa do grupo em inovações de produto. Em processo o principal responsável pela inovação para a maioria das empresas no Brasil, são outras empresas ou institutos, diferentemente da maioria das empresas dos países da Europa que atribuíram como principal responsável a própria empresa ou outra empresa do grupo. Como principal fonte de informação as empresas no Brasil atribuíram, assim como as europeias, a própria empresa ou outra empresa do grupo. Em termos de financiamento público a inovação o resultado brasileiro melhorou mas continua muito abaixo dos países europeus mais avançados. 3.4 Síntese Ao longo das pesquisas de inovação tecnológica do IBGE os principais indicadores de resultado inovativo e esforço para inovar apresentam uma evolução. No período de 2006 a 2008 no Brasil 38% das empresas implementaram algum tipo de inovação. Este percentual aumentou significativamente em relação às pesquisa anteriores e nos deixa a frente de países como Espanha (32%), França (35%) e Holanda (35%). No setor de alta tecnologia, 56% das empresas brasileiras implementaram algum tipo de inovação, em comparação com países da Europa. Este é o pior resultado dentro dos países selecionados. Países como Alemanha (91%), Noruega (90%) e Bélgica (86%) apresentam uma taxa de inovação muito superior a brasileira e são os que possuem as maiores taxas neste setor. Entre as empresas dos setores de média-alta tecnologia o desempenho se repete. O percentual de 47% das empresas que inovaram é pior se comparado com os países da Europa, para estes os que mais inovaram foram 50 Alemanha (87%), Bélgica (64%), Irlanda (63%), Suécia (63%) e Noruega (63%). O desempenho das empresas brasileiras dentro de todo o setor manufatureiro repete o resultado de todas as empresas industriais (38%) e é o desempenho mais baixo comparado aos países europeus. No quadro das empresas brasileiras que implementaram inovações, 17% implementaram só inovações de produto, 39% só de processo e 44% de produto e processo. Em relação a primeira pesquisa da PINTEC o resultado evoluiu de uma predominância de inovações de processo para empresas que inovaram em produto e processo. Apesar disto as inovações de processo ainda são bem representativas no quadro de empresas que inovaram. Apenas 19% das empresas que inovaram em produto implementaram uma inovação de produto nova para o mercado no Brasil, ao comparar este desempenho aos países europeus constata-se um resultado muito abaixo. O país europeu com percentual mais baixo é a Alemanha, pois suas empresas trabalham em um nível mais globalizado do que doméstico, ainda assim seu resultado é mais que o dobro que o brasileiro. No Brasil a taxa de inovação esta concentrada nas empresas com mais de 250 empregados e estas representam apenas 4% das empresas da pesquisa de inovação tecnológica do IBGE. Nas empresas que implementaram inovação a atividade inovativa com maior dispêndio é a aquisição de máquinas, equipamentos e software. Isto reforça a representatividade das inovações de processo nas empresas que inovaram brasileiras. O baixo esforço em atividades de pesquisa e desenvolvimento é preocupante, especialmente nos setores de alta e média-alta tecnologia, já que este tipo de atividade é responsável na maioria dos casos para o desenvolvimento de inovações com maior diferenciação e impacto. O principal responsável para o desenvolvimento de inovações para as empresas que inovaram em produto no Brasil é a própria empresa ou outra empresa do grupo assim como para os países europeus. Em processo o principal responsável foi outra empresa ou instituto, enquanto que na Europa na maioria dos países o escolhido foi a própria empresa ou outra empresa do grupo. Apenas 16% das empresas brasileiras receberam algum tipo de financiamento público, embora este resultado tenha aumentado ele é superior apenas que o de Portugal (12%) entre os países selecionados. 51 O resultado da Pesquisa de Inovação Tecnológica do IBGE para o período de 2006 a 2008 apresenta uma evolução nos dados de inovação tanto quantitativa quanto qualitativa. Apesar disto, ainda não foi o suficiente para alterar as características passivas em nosso Sistema Nacional de Aprendizado, que possui predominantemente inovações de processo de pouca relevância e inovação com baixo grau de novidade e que revelam a baixa diferenciação dos produtos brasileiros frente as empresas dos outros países. 52 4 CONCLUSÃO Os principais gargalos e limitações do Sistema Nacional de Inovação brasileiro ou Sistema de Aprendizado passivo são identificados nos domínios econômico, institucional e tecnológico. Estes domínios são compostos por elementos que em suas relações dão origem a um quadro de fatores que condicionam o desenvolvimento de inovações de maior impacto. Os resultados da pesquisa de inovação tecnológica do IBGE, de 2000 a 2008, mostram que apesar de uma evolução nos dados de inovação este quadro se mantém. Os elementos institucionais do SNI brasileiro são insuficientes na promoção da estabilidade necessária para o desenvolvimento e a evolução das trajetórias tecnológicas. Embora o financiamento público as atividades inovativas tenha aumentado, o quadro institucional, ao invés de promover ações de longo prazo, parece dar mais apoio àquilo que é mais imediatista. Isto acaba por condicionar decisões de investimentos e de projetos tantos no meio privado quanto público, o resultado não é favorável ao aprendizado criativo. Os elementos dentro dos outros domínios dão suporte a este cenário negativo, no caso das políticas econômicas, nos últimos anos, foi conquistada a estabilidade monetária, porém o custo foi pago foi à contração da indústria. Dentro do domínio tecnológico a infraestrutura é básica, projetos tecnológicos que pretendiam ir além foram engavetados, pois tinham o apelo político necessário, como foi o caso dos projetos voltados para Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). O resultado deste quadro desenvolvido no Brasil dificulta o desenvolvimento de inovações com maior impacto e diferenciação, que poderiam gerar uma competitividade da indústria nacional maior. O resultado são processos inovativos que em sua maioria são resultados de inovações em processo voltadas para aquisição de máquinas, equipamentos e software e inovações de produto em que a grande maioria possui um baixo grau de novidade, ou seja, são inovações novas somente para firma. Outro resultado deste quadro também se reflete nos setores de alta e média-alta tecnologia, nos quais o percentual das empresas que inovaram é baixo se comparado aos países com Sistemas Nacionais de Inovação mais maduros. O esforço para inovar em P&D também é baixo em setores em que este tipo de atividade deveria ser bem superior aos outros, e que no caso europeu o são. Estes setores dependem ainda mais de um 53 quadro econômico, institucional e social mais favorável por serem setores novos e que necessitam de investimentos com maior escala. No caso de países como o Brasil é importante o apoio do governo a projetos que promovam e desenvolvam inovações, pois estes setores são setores chaves do atual paradigma da Tecnologia Informação Comunicação (VILASCHI, 2005). Todos estes aspectos resultam em uma avaliação sobre inovação no Brasil com características passivas e por isso a classificação de Viotti (2005) como um Sistema Nacional de Aprendizado passivo se encaixa melhor para o caso brasileiro. O sistema brasileiro é caracterizado pela dominância de inovações de baixo grau de novidade e pouca diferenciação de mercado. Isto é preocupante especialmente quando se observa os setores do atual paradigma tecnoeconômico, os setores de alta tecnologia, que seguem a mesma caracterização que a indústria em geral. Prova disto é o baixo dispêndio em P&D que estes setores possuem. Tendo em vista que as janelas de oportunidade para o desenvolvimento se abrem ao final de um paradigma e ao início de outro, para que se possa aproveitar a abertura desta janela é necessário que o país desenvolva uma capacitação tecnológica do paradigma que esta em suas fases finais, aproveitando-se das forças que conduzem as tecnologias aos países periféricos (PEREZ, 2001). É importante que ao longo de um processo de catching up o país desenvolva capacitação criativa que repercuta em inovações com impactos cada vez maiores. Caso o contrário o país pode cair em uma armadilha de catching up dependente, que é quando um país depende sempre de transferência tecnológica fruto das fases finais de uma revolução para alcançar a fronteira (AREND; FONSECA, 2012). Para que isso não ocorra é necessário um esforço do quadro institucional que condicione positivamente o desenvolvimento dos setores de alta tecnologia, para aproveitar rapidamente a oportunidade de absorção tecnológica e os pequenos ganhos frutos das fases finais de uma trajetória tecnológica, repercutindo os ganhos para toda a indústria. Desta maneira, cria-se uma base para o florescimento de um novo paradigma e assim se dá início a um processo que começa com inovações localizadas até que evolua e dê origem a inovações com impactos econômicos cada vez maiores. Uma estratégia de desenvolvimento deve trabalhar para o desenvolvimento gradual das inovações aproveitando as janelas de oportunidade que se abrem entre uma revolução e outra para dar início a trajetórias de longos períodos de crescimento (PEREZ, 2001). 54 Um exemplo de estratégia é argumentado por Perez (2010) que propõe uma estratégia para desenvolvimento dos países latinos americanos, baseado nas oportunidades originadas das fases finais do paradigma das TIC´s e da identificação de áreas de potencial tecnológico que a América Latina possua, vantagens comparativas em relação aos outros países, em especial à Ásia. Segundo Perez (2010) a dotação de recursos naturais é uma vantagem que os países da América Latina têm sobre os outros, e que o seu desenvolvimento pode gerar capacidades para indústrias de biotecnologia e ciência dos materiais que indicam serem, possivelmente, alguns dos futuros protagonistas da próxima revolução tecnológica. O presente trabalho procurou fazer uma análise a nível nacional da atividade inovativa no Brasil, através da abordagem neoschumpeteriana. É possível que as questões estudadas aqui possam repercutir em novos estudos, tanto do autor, como dos leitores. Deixo aqui algumas sugestões de possíveis trabalhos futuros: Fatores institucionais que a afetam as transformações tecnológicas no Brasil; Estudo dos setores de Alta e média-alta tecnologia em países periféricos; Os condicionantes do aprendizado criativo no Brasil; e por último, sugiro uma exploração de uma estratégia de desenvolvimento tecnológico, como fez Perez para América Latina, porém um estudo centrado apenas para o Brasil. Enfim, no Brasil, o desenvolvimento de inovações possui limitantes e gargalos que condicionam as ações dos atores e que tornam a inovação uma acontecimento raro. O resultado da avaliação deste quadro é a contínua predominância de características nos processos de inovação no Brasil, que o permitem classifica-lo como um Sistema Nacional de aprendizado passivo. Para superar os fatores que impedem o desenvolvimento é necessária uma estratégia de desenvolvimento tecnológico que capacite criativamente o sistema brasileiro e que desenvolva um ambiente favorável para o florescimento de inovações de maior impacto, aproveitando as oportunidades frutos das fases finais de uma revolução tecnológica e começo de outra. 55 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE E. M. Sistema nacional de inovação no Brasil: uma análise introdutória a partir de dados disponíveis sobre a ciência e a tecnologia. Revista Economia Política. 1996. ______. National System of Innovation and Non-OECD Countries: Notes about a Rudimentary and a Tentative of “Typology”. Brazilian Journal of Political Economy. v. 19, n. 4, p. 35-52, 1999. ANDERSEN, E. S. 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