Comentários sobre a Prova de Redação do Vestibular UFG/2013-1 Prof. Wellington O tema da Prova de Redação do Vestibular UFG/2013-1 propõe, oportunamente, uma reflexão sobre um quadro da contemporaneidade, de fato, merecedor de atenção. Trata-se da forte tendência – de boa parte dos adultos e dos idosos atuais – à não aceitação da chegada da maturidade, como se fosse possível viver uma eterna infância ou adolescência. Como bem assinala a psicanalista e escritora Maria Rita Kehl, em seu artigo “A teenagização da cultura ocidental” (texto de número 6 da coletânea), a experiência de vida parece estar perdendo seu significado. Quiseram os propositores da prova que os candidatos aprofundassem a reflexão sobre a obsessão pela juventude eterna, verificando se isso poderia reduzir ou ampliar os conflitos intergeracionais. Por um lado, os redatores teriam a possibilidade de se posicionar favoravelmente, apontando que, se os mais velhos se aproximam dos mais novos nas formas de se comportar, inclusive tornando-se mais cúmplices até das transgressões de filhos e netos, as desavenças entre os dois grupos etários poderiam diminuir, ou seja eles se entenderiam melhor. Por outro lado, os redatores poderiam adotar um posicionamento contrário realçando sérios prejuízos, principalmente para os mais novos, decorrentes da desvalorização da experiência, o que esvazia o próprio sentido da vida, ainda de acordo com a visão de Maria Rita Kehl. Isso, é claro, pode deixar filhos e netos com a sensação de desamparo, alimentando certos atritos ou o esfriamento das relações interpessoais. Os que deveriam ter a responsabilidade de passar certas orientações e referenciais – os educadores – aos descendentes estariam se omitindo e, por isso, poderiam ser menosprezados ou hostilizados. Além disso, prejuízo também estaria no descarte do passado e no desprezo pela memória, que Valdo, personagem de Moacyr Scliar, tanto preza e pretende passar ao neto distante. Ao contrário dos últimos vestibulares, em que a coletânea de textos apresentou-se exageradamente longa e difusa, os textos motivadores deste vestibular mostram-se melhor apanhados e, por isso, facilitam a compreensão da integralidade do tema por parte dos candidatos. Nesse sentido, é notório que houve um aprimoramento que é merecedor de destaque. Também requer comentário favorável a utilização de excertos da parte inicial do romance Eu vos abraço, milhões, de Moacyr Scliar. Trata-se de mais uma forma de valorizar as obras literárias de leitura “obrigatória” pelos candidatos. Quanto aos gêneros textuais, a Prova de Redação não revela também nenhuma surpresa, já que as modalidades cobradas estão no rol daquelas que normalmente são exploradas em sala de aula. No caso do manifesto, contudo, merecem ressalvas duas falhas na formulação do final do comando. Primeiro, parece haver uma indefinição entre persuasão e convencimento no segmento “para persuadir os leitores a aderirem às ideias do grupo, utilize estratégias de convencimento...”. Não seriam estratégias próprias da persuasão? Segundo, parece haver uma indução para o candidato adotar um posicionamento correspondente à letra “a” do comando, visto que o substantivo “problemas” usado no encerramento da frase, leva o leitor a considerar apenas negativa a busca pela “juventude eterna”. Nesse caso, seria recomendável uma tentativa de neutralidade. A proposta de carta pessoal soa bastante razoável. Só lamentamos o fato de o nome do autor de Eu vos abraço, milhões – Moacyr Scliar – ter aparecido grafado incorretamente nas suas duas ocorrências: “Moacir Sclyar”/ “Sclyar” – a forma correta é Scliar. Essa é uma distração que se afigura como certo desmerecimento da pessoa do autor. Por fim, quanto à proposta de conto de ficção científica, o comando mostra-se bastante esclarecedor e diretivo, levando o redator a produzir o texto solicitado com segurança. Realça-se, inclusive, a importância do uso de ações e diálogos que possibilitem debater os estímulos aos conflitos intergeracionais ou as inibições deles com a busca pela juventude eterna. Acrescentamos que os nossos alunos, com certeza, encontraram facilidade para lidar com o tema e com os gêneros propostos, uma vez que foram fartamente explorados nas aulas regulares e nas oficinas ou nos plantões. Uma demonstração da exploração de uma temática verdadeiramente afinada com o assunto indicado agora pela Prova de Redação está na quarta proposta de redação do segundo semestre: “É importante ter história para contar?”. Na ocasião, inclusive, falamos bastante sobre a interação entre o velho Valdo, que se dispõe a contar sua história, e o neto, um jovem que parece valorizar muito o que o avô tem para lhe transmitir – o que vai se tornando cada vez mais raro no mundo atual.