XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. UMA PERSPECTIVA SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO CONCEITO DE LOGÍSTICA Carolina Luisa dos Santos Vieira (UFSC) [email protected] Carlos Manuel Taboada Rodriguez (UFSC) [email protected] Este trabalho tem como objetivo investigar o desenvolvimento do conceito de logística, organizando e estruturando idéias propostas por diversos pesquisadores, identificando formas de construção e evolução do conceito, principalmente durantee o último século, a fim de direcionar a compreensão e aplicação de um conceito correto e completo de logística. Para isso, uma revisão de literatura foi realizada, levando a uma comparação qualitativa entre diversos modelos, analisando suas diferenças, similaridades e concatenação de idéias. Foram identificadas similaridades na forma de organizar a evolução do conceito, embora o embasamento teórico dos pesquisadores não seja o mesmo. Aparentemente, alguns conceitos ficaram fixos/validados a partir da sua popularização e aplicação, mais do que o próprio ineditismo do conceito. Foi possível ainda identificar marcos importantes na evolução do conceito de logística, como as décadas de 50, 80 e 90. No fundo, o foco da logística continua sendo nas atividades entre um ponto de origem e um ponto de consumo, mas agora com fatores globais envolvidos. Palavras-chaves: Logística, Conceito, Desenvolvimento, Revisão de Literatura XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. 1. Introdução 2 Muitas vezes, a logística é considerada meramente uma função operacional que tem a habilidade de reduzir custos e viabilizar melhorias locais. Mas, do ponto de vista estratégico, tem capacidade de proporcionar vantagem competitiva no mercado ao oferecer ao cliente o nível de serviço desejado (MEARS-YOUNG; JACKSON, 1997; BOWERSOX, 2007). Este nível de serviço está diretamente ligado aos valores de lugar, tempo, informação e qualidade. A logística atua então, segundo Christopher (2009), na criação de um “plano único para o fluxo de produtos e de informação ao longo de um negócio”. Isto traduz-se na agregação de valor para o cliente final, que, como afirma Porter (2004), tem a capacidade de transformar um produto comum em um produto que pode ser altamente diferenciado. Considerando ainda que a visão do cliente é fator decisivo no desempenho financeiro da organização, (DRUCKER, 1954 apud MENTZER; MIN; BOBBITT, 2004), a logística está totalmente de acordo com o objetivo da firma – maximizar o lucro. Naturalmente a implementação da logística direciona as empresas à integração e ao estabelecimento de alianças. Isto, de forma mais abrangente, leva ao gerenciamento da cadeia de suprimentos, onde fornecedores e clientes são parceiros na criação de um fluxo contínuo do ponto de origem ao consumidor final. Além disso, dadas as tendências de globalização nas últimas décadas, este fluxo têm se tornado cada vez mais multinacional. Por isso, Meixmell e Gargeya (2005), Moller (1995) e Christopher (2009) enfatizam a necessidade de lidar cada vez mais com o gerenciamento de cadeias de suprimento globais, que apresentam elos nas localidades mais diversas. De fato, num trabalho sobre perspectivas futuras da logística, LaLonde e Masters (1990) sugeriram que mudanças no estilo de vida aumentam a demanda e expectativas com relação à qualidade, variedade e nível de serviço, levando o conceito de logística à forma como o conhecemos hoje, induzindo ao Supply Chain Management (SCM). Parece então imprescindível que a logística seja bem aplicada e gerenciada pelas organizações, a fim de que possam se manter sólidas no ambiente competitivo em que estão inseridas e formular estratégias e planejamentos consistentes. Para isso, faz necessário conhecer o seu conceito, seus objetivos e benefícios, bem como suas perspectivas de desenvolvimento futuro. Moller (1995) sugere que um campo de estudo, como a logística, deva ser abordado a partir de diferentes visões, para que se possa ter uma compreensão clara do fenômeno como um todo. Numa perspectiva mais acadêmica, segundo Klaus (2009), os programas acadêmicos de Logística ainda são muito influenciados por outras áreas, como Marketing, Modelagem Econômica, Pesquisa Operacional, Engenharia, Gerenciamento e Teoria das Organizações, etc. Essa característica multidisciplinar faz com que a logística tenha ainda um pouco de dificuldade em encontrar sua identidade científica. Nesse sentido, organizar a idéia de vários autores sobre o desenvolvimento do conceito de logística auxilia a definir uma estrutura para o entendimento do tema. Como será observado, embora os autores apresentem diversas abordagens da construção do conceito do ponto de vista científico, mostra-se possível identificar tendências e conjuntos de idéias comuns durante o período de desenvolvimento considerado. Primeiramente, algumas definições necessárias para a compreensão integral do processo de desenvolvimento de conceitos são apresentadas, como paradigmas, modelos e ideologias, não se esquecendo de tratar a questão dos custos transacionais. Em seguida o artigo trabalha o desenvolvimento do conceito da logística. Algumas linhas gerais são apresentadas sobre a definição de logística, a fim de que o entendimento dos modelos apresentados seja mais claro e direto. Seis modelos evolutivos em específico são analisados e, após, confrontados na intenção de encontrar pontos em comum e similaridades no progresso das idéias. Tendo em mãos essas informações avalia-se então o conceito de logística, levando em consideração características de escopo e abrangência, culminando na sugestão de um novo conceito. Por XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. fim são apresentadas considerações sobre as direções futuras da logística, bem como sobre o envolvimento dessa disciplina com o mundo empresarial. 2. Metodologia Com o objetivo de identificar como se deu o desenvolvimento do conceito de logística, bem como seu estado atual de pesquisa, uma revisão de literatura em base de dados secundária foi feita. Escolheram-se quatro bases de dados de periódicos: Science Direct, Emerald, Springer e Scielo, nas quais se realizou a pesquisa utilizando o seguinte conjunto de palavras chave: teoria da logística, conceito da logística, papel da logística, princípios da logística, história da logística, perspectivas da logística e teoria da logística. Estas palavras forma pesquisadas em todo o texto do artigo. Empregou-se também livros de autores reconhecidos na área de logística, como Bowersox (2007), Christopher (2009) e Novaes (2007), além da tese de doutorado de Moller (1995). Após a leitura desses trabalhos, identificaram-se aqueles que apresentavam uma estrutura evolutiva do conceito, tanto do ponto de vista prático, como é o caso de Ballou (2006) e Kent e Flint (1997), quanto de um ponto de vista mais científico, como proposto por Johannessen e Solem (2002) e Moller (1995). Foi dada preferência a artigos mais atuais com o intuito de identificar modelos já consistentes do desenvolvimento conceitual da logística. Também influenciou o fato de que a maior parte dos livros e artigos identifica o desenvolvimento efetivo da logística após a segunda guerra mundial, ou seja, a partir de 1950. Seis modelos evolutivos foram selecionados e analisados, direcionando atenção à forma como foram construídos. Após, procurou-se realizar uma comparação qualitativa entre eles, a fim de visualizar suas diferenças, similaridades e concatenação de idéias. Discutiu-se também o estado atual do conceito de logística, bem como suas perspectivas futuras. 3. Alguns conceitos importantes para compreender o desenvolvimento da Logística Primeiramente, ao se falar em conceitos, mostra-se interessante definir essa palavra. Será utilizada aqui a definição proposta pelo dicionário Aurélio, a qual diz que um conceito consiste na representação dum objeto pelo pensamento, por meio de suas características gerais. É a formulação de um pensamento, uma idéia ou uma opinião por meio de palavras. No desenvolvimento deste estudo, serão adotados, assim, alguns conceitos sobre os procedimentos da ciência, que auxiliam na compreensão da estrutura evolutiva científica proposta pelas pesquisas utilizadas. Também, a idéia de custo total da operação será revista com algumas considerações interessantes. 3.1 Paradigmas, Modelos e Ideologias Em seu trabalho, Kuhn (2006) definiu como uma sociedade científica enxerga o mundo. Segundo o autor, núcleos de idéias comuns, suposições e crenças guiam e influenciam o trabalho de uma comunidade científica. Kuhn (2006) denominou esses núcleos de paradigmas. Para o autor, o próprio fato de estudar certo tema já leva à utilização de suposições para que observações e pensamentos sejam coerentes, tanto consciente quanto subconscientemente. Ainda, Morgan (1990 apud MEARS-YOUNG; JACKSON, 1997) afirma que essas suposições fornecem bases para a pesquisa, levando o pesquisador a ver e interpretar o mundo de uma perspectiva, em detrimento de outra. Paradigmas podem ser utilizados, dessa forma, para explicar como o conhecimento da logística se constrói. Um paradigma, de acordo com Kuhn (2006), leva à formalização de um modelo. Modelos representam, dessa forma, “conjuntos de hipóteses sobre a estrutura ou comportamento de um sistema, pelas quais se procura explicar ou prever, dentro de uma teoria científica, as propriedades do sistema” (Dicionário Aurélio). 4 XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. Outro ponto importante é o conceito de ideologia. Para o escopo deste trabalho não são necessárias considerações sobre as teorias de Marx, Lênin ou Mannheim, que tratam dessa discussão. Apesar da diversidade de definições, acredita-se que os autores que o utilizaram adotaram um sentido mais simples da palavra, similar àquele retratado nos dicionários, onde a ideologia consiste num conjunto de pensamentos e idéias de um grupo, que expressa e reforça relações, traduzindo uma dada situação. 3.2 Custos totais e custos transacionais Como a logística trata também de relacionamentos, mostra-se necessário introduzir o conceito de custos transacionais, idéia desenvolvida por Ronald Coase. De acordo com Coase (1960), esses são os custos incorridos quando se faz uma troca econômica. Por exemplo, vamos considerar um cliente fazendo um compra em um varejista. O custo da compra não será o custo da mercadoria em si, mas sim toda energia e esforço despendidos para ir até a loja, escolher o seu produto, tempo de espera na fila do caixa, etc. Assim, de acordo com Chikán (2001), as idéias básicas de custos transacionais podem ser aplicadas tanto aos relacionamentos internos quanto aos externos à empresa, ou até mesmo podem estar relacionados aos serviços oferecidos por uma empresa. No que tange o conceito de custo total, Bowersox (2007) afirma que este inclui todos os gastos necessários para se executar as exigências da logística, o que não significa necessariamente o menor custo para cada função logística. Dessa maneira, é natural que os custos transacionais sejam considerados dentro dos custos totais logísticos. 4. Perspectivas sobre o desenvolvimento da Logística É de consenso comum que, ao já se ter uma idéia básica de onde se pretende chegar, fica mais simples a construção e compreensão do caminho para o objetivo. Por isso, antes de examinar perspectivas sobre o desenvolvimento da logística na busca de uma base comum, serão apresentadas definições gerais do tema em questão. O primeiro questionamento que se faz ao abordar a logística consiste em saber, de fato, a sua definição. O dicionário Aurélio apresenta dois conceitos, um derivado do grego e outro do francês. Para o fim a que se propõe este trabalho, a derivação francesa consiste naquela mais interessa: Parte da arte da guerra que trata do planejamento e da realização de: a) projeto e desenvolvimento, obtenção, armazenamento, transporte, distribuição, reparação, manutenção e evacuação de material (para fins operativos ou administrativos); b) recrutamento, incorporação, instrução e adestramento, designação, transporte, bem-estar, evacuação, hospitalização e desligamento de pessoal; c) aquisição ou construção, reparação, manutenção e operação de instalações e acessórios destinados a ajudar o desempenho de qualquer função militar; d) contrato ou prestação de serviços. Já entre autores e pesquisadores da área, como Novaes (2007), Ballou (2006), Mentzer, Min e Bobbitt (2004) e Arlbjorn e Halldorsson (2001), um conceito bastante difundido como definição de logística é aquele proposto pelo Council of Supply Chain Management Professionals (CSCMP): Logística é o processo de planejar, implementar e controlar de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos do consumidor. Se fizermos já neste momento uma comparação, mesmo que superficial, entre o conceito apresentado pelo dicionário e aquele pelo CSCMP, vemos que a base da Logística mostra-se um tanto similar, apesar do primeiro fazer alusão estritamente ao campo militar. O estudo de atividades como armazenamento, transporte, distribuição e movimentação se incorporou com facilidade ao ambiente empresarial. 5 XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. Apesar da progressão do conceito ter acontecido de fato após a segunda guerra mundial, a logística vem sendo aplicada, mesmo que de uma forma rudimentar, desde o Egito antigo. Relatos históricos já no livro do Gênesis abordam a utilização de armazéns na estocagem de colheitas (LUNA, 2007). Entretanto, segundo Bowersox (2007), antes dos anos 50 havia somente uma implementação puramente funcional, sem uma base teórica formal. Essa falta de reconhecimento, de acordo com Christopher (2007), proveio da insuficiente compreensão dos benefícios da logística integrada. Na realidade, de acordo com Mentzer, Min e Bobbitt (2004), o maior crescimento do conceito começou a partir dos anos 80, quando as empresas reconheceram a logística como uma fonte de vantagem competitiva, impulsionada ainda pela popularização do Sistema de Produção Toyota. Com o desenvolvimento cada vez mais aprofundado de ferramentas como a pesquisa operacional, que trouxe forte subsídio matemático à resolução de problemas logísticos, além de todo o suporte oferecido pelas tecnologias de informação e teorias organizacionais, a logística começou a ganhar espaço e confiança dos empresários e pesquisadores como uma ciência de alto valor. Nas descrições a seguir, mostra-se importante ter em mente que embora cada período, paradigma ou ideologia estejam aqui representados como intervalos discretos, o processo evolutivo entre eles manifesta-se de forma bastante suave, como sugerem Kent e Flint (1997). 4.1 Paradigmas de Moller Utilizando o conceito de paradigmas, Moller (1995) procura definir como se deu o desenvolvimento do conceito logístico. Apesar de a definição de logística adotada pelo autor focar no fluxo de materiais, o fluxo de informações está implícito durante toda a definição e análise dos paradigmas, não alterando assim o modo como são construídos. A tabela 1 explicita os paradigmas de Moller (1995) para a logística, dando uma breve descrição de sua composição. 6 Paradigma Descrição Clássico Abordagem clássica analítica da logística, levando já em consideração o conceito de custo total. O uso de modelos matemáticos e da pesquisa operacional. Iniciou basicamente com problemas de transporte após a segunda guerra mundial. Genérico Foco na visão de sistemas e uso de ferramentas táticas. As funções são bem delimitadas, não havendo muita integração, até mesmo com clientes e fornecedores. Entretanto, é percebida a importância da informação. Emergência do MRP. Conceitual Influência das idéias de Porter, elevando à logística ao nível estratégico de vantagem competitiva. O serviço ao cliente é visto como fator importante, levando a organização a observar mais atentamente o ambiente em que está inserida. Aumento do relacionamento com fornecedores e clientes a partir da difusão da idéia de cadeias de suprimento. Integrado A logística passa a ser pró-ativa na estratégia corporativa. É vista como um fator integrante de processos, departamentos, funções, etc., que analisa o fluxo do material e da informação como uma entidade única, desde a primeira matéria-prima até o cliente final. A análise da performance logística entra como ponto crucial do desempenho da firma. Tabela 1 – Paradigmas de Moller (1995) Analisando com atenção os quatro paradigmas propostos, pode-se compreender como as idéias sobre a logística evoluíram. Como mostra o autor em sua tese, nem sempre um novo paradigma era capaz envolver e solucionar todas as questões relativas à nova situação da indústria e do mercado. A partir do momento que um paradigma não era mais suficiente para representar a realidade da logística, pessoas ligadas à área e pesquisadores passaram a procurar uma nova forma de compreender o conceito e organizar suas funções. Tendo isso em mente, procurou-se desenvolver um novo paradigma, chamado de Logística Integrada, visando englobar cinco perspectivas logísticas principais: a estratégica, a organizacional, a administrativa, a de manufatura e a tecnológica. De fato, as organizações que desejam estar integralmente inseridas num ambiente competitivo não devem seguir um paradigma limitado, mas sim adotar a integração como meta da organização. Esta integração, através do fluxo contínuo, visa adaptar a estrutura disponível ao fluxo, e não o fluxo à estrutura. Isso significa planejamento de estruturas físicas e administrativas de acordo com o fluxo logístico, o que se mostra evidentemente mais vantajoso do que supor uma estrutura para então tentar moldar o fluxo a essa forma. 4.2 Eras evolutivas de Kent e Flint Kent e Flint (1997) utilizaram uma forma mais prática de encontrar um modelo para o desenvolvimento da logística. Os autores consultaram diretamente importantes acadêmicos de logística, através de entrevistas que previam perguntas em três tópicos principais: (i) a evolução da logística, (ii) contribuições chave para a logística, e (iii) expectativas para o futuro. Da análise das respostas obtidas foi possível identificar seis eras de desenvolvimento da logística: da fazenda ao mercado, funções segmentadas, funções integradas, foco no consumidor, logística como fator de diferenciação e expansão de fronteias, conforme pode ser observado na tabela 3. Era Descrição 1) Da fazenda ao mercado Período anterior às guerras mundiais, onde o foco das atividades era simplesmente no transporte e armazenagem. 2) Funções Segmentadas Até o fim da década de 50. Aparecem as atividades logísticas, mas elas ainda são vistas como funções diferentes dentro da organização. A influência militar começa a ser mais profunda, levando a desenvolvimentos da engenharia com foco na logística. 3) Funções Integradas Início dos anos 60. Abordagem mais sistêmica da logística e o conceito de custo total se popularizam. Existe um objetivo de integração das atividades logística, mesmo que ainda de uma forma interna. 4) Foco no Consumidor Nos anos 70 a idéia de serviço ao consumidor passou a ser um ponto de debate importante, com o aumento da influência do Marketing. 5) Logística como fator de diferenciação No início dos anos 80 a logística passou a ser vista como um fator de diferenciação na empresa. Nesse sentido, a visão estratégica da logística passou a ter peso dentro da firma. Conceitos como cadeia de suprimentos, canais de distribuição, eficiência e tecnologia de informação ganharam destaque. 6) Expansão de Fronteiras Essa era diz respeito à metade da década de 90 até os dias atuais. A percepção do cliente e seu comportamento diante do sistema logístico passaram a ser levados em consideração. Surgem as redes logísticas, logística internacional e atividades multifuncionais. XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. Tabela 3 – Eras de Kent e Flint (1997) É interessante observar que, aqui, já são feitas algumas previsões para os rumos da logística, através a configuração de redes e internacionalização. A partir da análise desses eventos, segundo uma das fontes da pesquisa realizada, o que a logística tem feito traduz-se em encorajar a empresa a compreender a importância do fluxo de material de informações – bem como o fato de que tudo isso está ligado à criação de valor como uma parte do objetivo da firma. 4.3 Ideologias de Johannessen e Solem Fazendo o uso do conceito de ideologias, Johannessen e Solem (2002) procuram identificar a evolução do pensamento organizacional da logística. Segundo os autores, a organização logística segue duas formas de compreender a realidade e a natureza humana, denominadas ontologias organizacionais: sistemas mecânicos, gerando o pensamento de criação de valor, e sistemas orgânicos, que leva à geração de princípios da organização, e ascensão do pensamento integrativo. Dessas ontologias derivam-se então quatro ideologias básicas, que delineiam as visões sobre a criação de valor organizacional. Da vertente de sistemas mecânicos vemos a formação das ideologias: mecanicista, com a idéia de criação de valor, e de processos, que leva à logística moderna de orientação ao consumidor. Já no que tange os sistemas orgânicos, suas ideologias são: a sócio-técnica, que incorpora a idéia da necessidade de atividades sociais do ser humano, e a de redes, afirmando que a cooperação nos relacionamentos consiste na base da criação de vantagem competitiva. De uma maneira geral, essas ideologias se desdobram nos princípios e práticas adotadas pelas organizações. A tabela 2 define cada uma das ideologias abordadas. Ontologia Ideologia Descrição Sistemas Mecânicos Mecanicista Administração clássica, onde a logística é vista como unidade organizacional separada. Busca pelo controle total e restrição de acesso a informações. Estruturas verticais, onde o relacionamento com fornecedores e clientes é restrito à alta gerência. Influencia do Fordismo. Processos Introdução do sistema Toyota de produção, com procura ao fluxo eficiente. Idéia de que a informação deve ser compartilhada, numa organização por processos. Estrutura horizontalizada, onde construir relacionamento com fornecedores e clientes é importante. Influência do Toyotismo. Sócio-técnica Gestão voltada para relações humanas e autonomia nas decisões as atividades são divididas por equipes, onde se busca uma produção eficiente e estável. Menor envolvimento com clientes e fornecedores. Influência do Volvismo. Redes Ideologia de processos estendida para incluir efetivamente tanto cientes e fornecedores internos, quanto externos. Visão de cadeias de suprimentos integradas, e busca por ações cooperativas. O compartilhamento de informações é vital, e aparece a utilização de prestadores de serviço logístico. Globalização. Sistemas Orgânicos Tabela 2 – Ideologias de Johennessen e Solem (2002) As ideologias, que são foco da organização logística quando administradas, parecem delinear o crescimento e desenvolvimento do conceito de logística, da mesma forma que o os 9 XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. paradigmas de Moller (1995) o fazem. Se observarmos as direções ideológicas como uma representação da evolução, é possível encontrar uma ordem quase que cronológica para o desenvolvimento da logística. Auxilia também nessa distinção a influência de cada ideologia por um modelo produtivo específico. Importância é dada por Johannessen e Solem (2002), também, na maneira como cada ideologia encara a questão da mudança para a evolução da logística. Na mecânicista e na sócio-técnica, procura-se organizações muito estáveis. São negócios mais “engessados”, onde o tipo de teoria na qual elas se baseiam não prevê ações para situações de mudança inesperada. Na ideologia de processo, a mudança constitui fator intrínseco do mercado. Como a organização é voltada para atender o mercado, ela prevê que deve estar preparada para receber mudanças. Por fim, na ideologia de redes, a criação de uma rede estável pode trazer a idéia de certa previsibilidade, mas, no entanto, a mudança é vista como parte to sistema total. E essa habilidade de adaptação constitui fator inerente das relações integrativas da logística. 4.4 Evolução do Ballou Ballou (2006) não faz uma divisão tão minuciosa de eras quanto Kent e Flint, ou até mesmo em paradigmas ou ideologias. Sua segmentação está relacionada com sua experiência na educação, pesquisa e prática da logística, não estando ligada explicitamente a uma metodologia científica. Neste ínterim, Ballou divide a logística em passado, presente e futuro. Existe uma ordem de fatos, mas a subdivisão principal é em geral delimitada por algum acontecimento importante. A tabela 5 mostra um resumo dos períodos evolutivos propostos por Ballou. 10 Período Descrição Passado Pouco esforço na integração e balanceamento de atividades. Surgimento da distribuição física como uma área de estudo. Após os anos 60, o conceito de custo total se tornou mais importante. Integração com as áreas de marketing e produção, mas ainda com pouco foco no fluxo do produto. Presente Popularização dos conceitos de SCM. Gerenciamento integrado dos processos do fluxo de produtos através das funções e nos canais da cadeia. Maior noção da necessidade de redução de custos. Entretanto, a integração entre vários membros ainda é inexpressiva, mas há um esforço conjunto para trabalhar com pelo menos o próximo elo. Futuro Ênfase na operação da cadeia de suprimentos para aumento global dos lucros. Gerenciamento global de custos. Relacionamento colaborativo e cooperativo, com grande volume de troca de informações. Necessidade de habilidades psicológicas e em comportamento organizacional. Tabela 5 – Períodos de Ballou (2006) Neste caso, a logística é descrita a partir dos anos 50. Antes disso, ela era vista meramente como uma disciplina militar, de atividades fragmentadas, e de pouca atenção ao fluxo de produtos e informações. Segundo o autor, a partir daí, o conceito de custo total serviu de base para o gerenciamento integrado das atividades. A distribuição passou a ser uma atividade integrada ao marketing, e o suprimento, a ser visto como uma atividade logística. As idéias de cadeias de suprimento integradas permearam o ambiente industrial e corporativo. Entretanto, no período presente, o autor aponta que conceito de cadeia de suprimentos não tem sido utilizado no seu escopo global. Apesar do desenvolvimento teórico avançado, a aplicação prática da logística parece estar ainda um passo atrás. Mas, mesmo assim, as previsões para o futuro são promissoras: expansão de fronteiras com a globalização, foco mais estratégico e relacionamentos colaborativos, além da troca intensiva de informações. 4.5 Evolução Integrativa de Novaes Em seu livro, Novaes (2007) dedica uma seção exclusivamente para tratar da evolução da logística. Apesar de citar a presença de atividades logísticas, como armazenagem e transporte, durante o desenvolvimento do comércio moderno, sua classificação aborda a logística moderna que, segundo ele, originou-se durante a segunda guerra mundial. O autor propõe uma estrutura baseada na evolução de acordo com o tipo de integração obtida entre as atividades logísticas e empresas. Apesar de citar a presença de atividades logísticas, como armazenagem e transporte, durante o desenvolvimento do comércio moderno, sua classificação aborda a logística moderna que, segundo ele, originou-se durante a segunda guerra mundial. Como podemos ver, de acordo com a tabela 6, essa abordagem concorda com a idéia de que a cadeia de suprimentos consiste de fato numa evolução da logística. Fica fácil, assim, compreender esse desenvolvimento quando se percebe que a cadeia de suprimentos consiste na representação da integração logística máxima, muito embora várias organizações ainda não tenham chegado nesse estágio de desenvolvimento. O SCM integrou efetivamente os elementos principais da cadeia de forma estratégica e sistêmica. Isso, sem dúvida, evidencia uma evolução, ou aprimoramento, das práticas logísticas tradicionais (NOVAES, 2007). Fase Descrição 1) Atuação Segmentada Período após a segunda guerra mundial. Tinha-se uma visão fragmentada das atividades, com sistemas otimizados separadamente, com o estoque servindo como pulmão. Enfoque nas atividades de transporte. 2) Integração Rígida Décadas de 60 e 70. Diferenciação dos produtos oferecidos levou à procura da racionalização de estoques ao logo da cadeia. Passamos a uma integração dois a dois, e a visão de custos totais começa a ser introduzida. Entretanto, a integração é em curto prazo e o planejamento conjunto meramente operacional. 3) Integração Flexível Final da década de 80. Forte influência do EDI possibilitou uma integração mais dinâmica. A satisfação do cliente, tanto interno quanto final, ganha grande importância. Além disso, a popularização da filosofia Lean trouxe benefícios para estabelecimento da melhoria contínua e foto nos custos totais. 4) Integração Estratégica Visão estratégica da Logística. Utilização vasta das tecnologias de informação e comprometimento real na formação de parceiras entre fornecedores e clientes. Surgimento de empresas virtuais e consolidação do conceito de SCM. Tabela 6 – Evolução integrativa de Novaes (2007) 4.6 Evolução de Klaus Uma abordagem um pouco diferente é apresentada por Klaus (2009), ao dividir em seções a evolução da logística. É possível alinhar essas seções uma após da outra, e identificar períodos cronológicos evolutivos, como apresentado na tabela 4. Seção 1960s-1970s 1980s 1990s 2000s Onda de Conhecimento Logística do Marketing e Distribuição Física JIT, Logística Industrial JIT, Logística Industrial SCM, ECR Instrumentalização e Modelagem matemática Estudos de roteirização, dimensionamento de lotes e estoques Planejamento de recursos, ERP Configuração de Redes Complexas Riscos e Logística Reversa Industrialização de Linhas de Produção e Linhas de Produção e Benchmarking, Benchmarking, Eng. XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. Padrões de serviços Eng. de serviços Engenharia Sistemas de fluxo de materiais, Armazenagem E-commerce, E-logistics RFID e Internet Dinâmicas de Fluxo Toyota, Logística Lean Resposta eficiente ao Cliente, Logística Lean Novas aplicações de conhecimentos Sistemas autônomos de gerenciamento Governança de redes e estruturas serviços logísticos Padrões Integração interorganizacional Tabela 4 – Seções de Klaus (2009) Seis linhas de desenvolvimento são apresentadas: (i) onda de conhecimento, que mostra idéias centrais da atenção à logística; (ii) instrumentalização e modelagem matemática, que introduz a modelagem matemática e a pesquisa operacional, além do conceito de custo total; (iii) industrialização de serviços logísticos, trazendo a logística como departamento e seu relacionamento com as linhas de produção, conceitos de prestadores de serviço e benchmarking; (iv) engenharia, tratando de hardware e software, cooperação interdisciplinar e desenvolvimento tecnológico; (v) dinâmica de fluxo, apresentando sistemas de racionalização e melhoria, a filosofia Lean e controle dinâmico do fluxo pelos clientes; e, (vi) integração inter-organizacional, uma corrente mais atual mostrando a implantação de cadeias de suprimento, redes e governança. Observando a evolução do conceito de logística proposta por Klaus (2009), pode-se perceber que o SCM não está tomando o lugar da logística, como já foi sugerido. Mas sim evidencia uma ampliação do conceito ao se aplicar o pensamento de cadeias e redes à logística, fato com o qual concordam também Novaes (2007) e Ballou (2006). O autor ainda sugere uma expansão à direita da tabela, vendo oportunidades de desenvolvimento da maior interação entre agentes, redes, aplicação criativa de ferramentas como Just in Time, bem como extensão a outras áreas fora da manufatura, como logística de pessoas, sistemas de saúde, e transporte público. 14 5. Visão panorâmica da logística Com o objetivo de organizar o conhecimento disponível sobre a evolução do conceito de logística, e oferecer uma visão panorâmica do que foi desenvolvido nesse campo até o presente momento, realizou-se uma comparação qualitativa e cronológica dos modelos evolutivos propostos pelos autores estudados. Esta abordagem nos permite compreender de forma mais holística o desenvolvimento da logística, ao avaliar a concatenação de idéias de diversos autores. A partir daí é possível então formular um conceito correto do tema no seu estado da arte e avaliar sua forma de utilização. Nos trabalhos em que os autores citaram décadas nas quais as idéias se desenvolveram, o início da década foi utilizado como ponto de partida. Vale ressaltar que a transição entre uma etapa e outra não é absolutamente discreta, como representado na figura 1, mas sim um processo suave na evolução das idéias e suposições. Somente no caso de Johannessen e Solem (2002) vemos que, para uma das ideologias, pode-se considerar uma evolução paralela. O critério utilizado para essa consideração, além da própria definição das ideologias, foram os períodos de desenvolvimento das teorias produtivas que influenciaram as ideologias. Assim, a divisão de cada etapa dos modelos apresentados é apenas uma aproximação para fins de representação; uma delimitação exata mostra-se até mesmo inviável. Figura 1 – Visão Conjunta e comparativa entre modelos evolutivos Além do desenvolvimento tecnológico, como redes complexas, RFID e E-logistics, muitas das partes do conceito de logística já foram tratadas de alguma forma por autores fora do período de evolução cronológico em que são consideradas. Parece que alguns conceitos ficaram fixos/validados a partir da sua popularização e aplicação, mais do que o próprio ineditismo do conceito. Claro que para a consolidação do conhecimento em teoria é requerida certa quantidade de pesquisa e aceitação científica, mas isso não significa que as idéias não tivessem sido propostas anteriormente. Como exemplo, observa-se a citação de Heskett sobre uma cadeia de suprimentos de farinha já em 1964, muito antes da ascensão do conceito de SCM no meio empresarial: Cada transferência de produtos de uma empresa para a próxima requer a coordenação da demanda e suprimento entre as diferentes instituições do canal de distribuição, desde o produtor de grãos até o consumidor final da farinha. (HESKETT, 1964 apud BALLOU, 2006, tradução nossa) Todos os autores apresentaram uma evolução significativa do conceito de logística a partir dos anos 50; o fim da segunda guerra mundial mostra-se como um marco muito importante no desenvolvimento da logística, quase como um divisor de águas. Vê-se também que as subdivisões parecem se encontrar em alguns pontos distintos. Talvez um autor ou outro sugira XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. pontos diferentes dentro de cada estágio, mas a base acaba sendo muito comum entre as décadas. Embora alguns períodos evolutivos sejam mais longos e outros mais curtos, observase um consenso de mudança de pensamento por volta dos anos 80, e outro após a segunda metade da década de 90. Como já discutido anteriormente, o primeiro ponto pode ser visto como um período de reconhecimento da logística como fonte de vantagem competitiva. Já o segundo parece estar intimamente ligado com o desenvolvimento expressivo e aplicação de tecnologias de informação, bem como implementação e projeto de cadeias e redes logísticas. Neste ponto também é dada ênfase à importância da avaliação do desempenho logístico que, segundo Moller (1995), consiste na medição do alcance do nível de serviço desejado. Estendeu-se o gráfico até o ano de 2020 a fim de mostrar que, de acordo com os autores pesquisados, os últimos períodos têm permanecido constantes durante certo tempo, sem previsão de mudança eminente. Estes intervalos vigentes apresentam, na prática, que há ainda muito a ser implementado. Ademais, autores como Ballou (2006), Kent e Flint (1997) e Klaus (2009) oferecem previsões para o desenvolvimento da logística num futuro próximo, com destaque para o uso de tecnologia de informação e governança de cadeias de suprimento. 5.1 Voltando ao conceito de logística Arlbjorn e Halldorsson (2001) sugerem que não existe uma definição universal sobre o que é o conhecimento, mas sim sua discussão deve começar com a palavra “depende”. Isso se aplica ao conceito de logística quando observamos um comparativo da evolução do conceito e seu uso pelas empresas. Dependendo da situação em que cada empresa se encontra, ela poderá utilizar este ou aquele paradigma, modelo ou ideologia. Por isso, como aponta Klaus (2009), não se pode dizer que os conceitos passados deixaram de valer, ou que só se deva considerar o estado da arte (embora isso seja bastante interessante). A chegada ao estado da arte é um processo de desenvolvimento dentro da própria organização, através do qual será possível usufruir da teoria como um todo. As idéias porpostas por Moller (1995) também corroboram com esta suposição. Através da figura 2, ele mostra que as complexidades organizacional e tecnológica influenciam diretamente a profundidade do conceito de logística adotado. De acordo com os modelos analisados, o grau de desenvolvimento do conceito vai ao encontro do nível de integração entre os componentes da cadeia, tanto no que diz respeito ao fluxo de produtos quanto ao de informações. Por isso, sugere-se aqui outro conceito de logística, baseado naquele proposto pelo CSCMP: é o processo de planejar, implementar, gerenciar e controlar de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, serviços e informações associados, cobrindo desde um ponto de origem até um ponto de consumo, com o objetivo de atender aos requisitos do cliente. A diferença está justamente em considerar a logística abrangendo de um ponto de origem a um ponto de consumo, não tendo necessariamente que englobar a cadeia como um todo. Nem todas as empresas de uma cadeia estão preparadas para funcionar integradas. Segundo FabbeCostes e Jahre (2008), o número de participantes incluídos na integração de uma cadeia de suprimentos varia, indo de duas, a três ou mais empresas, até a configuração da cadeia completa. Até mesmo uma empresa que funcione de forma mais isolada pode estar empregando o conceito da logística internamente. Ou seja, o cliente pode ser tanto a próxima organização a jusante quanto o cliente final, e até mesmo um departamento dentro da própria firma. Desse modo, parece correto afirmar que todas essas organizações podem aplicar logística. 16 XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. Fonte: Moller (1995) Figura 2 – Paradigmas de Moller de acordo com as complexidades Outrossim, a difusão da logística como fator estratégico e o aumento do relacionamento entre as empresas leva à evolução desde conceito integrativo ao gerenciamento da cadeia de suprimentos, como sugerem todos os autores considerados. De forma ainda mais abrangente, dadas as tendência de globalização nos últimos anos, vê-se também a configuração de redes de empresas. Ou seja, da logística passa-se ao conceito de cadeias de suprimentos, que levam ao conceito de redes, de acordo com a globalização dos relacionamentos. 6. Considerações finais Identificar e analisar a organização e construção do conceito da logística, principalmente durante o último século, traduziu-se como objetivo deste estudo. Ao realizar um panorama comparativo das propostas dos pesquisadores, vê-se claramente que existem similaridades na forma de organizar a evolução do conceito, muito embora o embasamento teórico não seja o mesmo. Alguns autores constroem modelos a partir de ideologias, outros a partir de paradigmas. Outros ainda utilizaram-se da pesquisa prática e de sua experiência na área para delinear modelos. Apesar de todo o desenvolvimento teórico exposto, a integração logística ainda apresenta alguns desafios. Através da análise outros trabalhos sobre integração, Chikán (2001) aponta que a conexão entre manufatura e vendas ainda é mais forte do que entre manufatura e compras. Isso indica que já internamente a integração está sendo parcial, dificultando a visão da cadeia como um todo. Isso pode ser, segundo o autor, uma conseqüência das políticas orientadas ao consumidor, que acabam dando maior ênfase a jusante. Segundo Daugherty, Ellinger e Gustin (1997), várias firmas já têm percebido que, se a atividades logísticas estiverem mais conjuntamente coordenadas, os custos totais podem ser reduzidos, o serviço ao cliente pode ser melhorado e os conflitos interdepartamentais substancialmente reduzidos. Essas são organizações que estão desenvolvendo sistemas logísticos integrados, com o objetivo de alcançar um determinado nível de serviço aos menores custos possíveis. Daugherty, Ellinger e Gustin (1996) discutem ainda que esta logística integrada pode incluir também o planejamento, alocação e controle de recursos financeiros e humanos destinados ao suporte à manufatura e operações de compra. Moller (1995) também assinala que no escopo da logística integrada é necessário gerenciar esses tipos de recursos. Entretanto, Arlbjorn e Halldorsson (2001) apontam para o fato de ser indispensável certo cuidado ao incluir tantos aspectos (como fluxos financeiros e recursos humanos) no conceito de logística, correndo o risco de levar em conta quesitos que dizem respeito a outras áreas administrativas. A função desta integração está em conectar a logística com essas outras áreas e com os elos da cadeia, fornecendo informações para, aí sim, auxiliar no planejamento, alocação e controle de tais recursos. 17 XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. Não é difícil, dessa maneira, esconder a curiosidade em saber que direção de fato está tomando a logística. Abordagens como a logística reversa, logística dinâmica e logística verde, que leva em consideração a variável ambiental num momento de preocupações climáticas, vêm se tornando cada vez mais populares. Ainda, Meixell e Gargeya (2005) afirmam que a expansão da cadeia de suprimentos para elos internacionais vem delinear o que denominamos de cadeia de suprimentos global. Embora agora o escopo da análise seja mais complexo no que tange à integração, ainda mais quando se trata de terceirização de serviços e de países em desenvolvimento (que possuem deficiências em infra-estrutura e telecomunicações, mas que por outro lado oferecem vantagens de custos reduzidos), os requisitos logísticos continuam sendo os mesmos: qualidade, quantidade, entrega, preço e serviço. Vale destacar que medidas de desempenho sólidas destes tópicos têm um valor ainda maior na análise cadeia global. Então, no fundo, o foco continua sendo nas atividades entre um ponto de origem e um ponto de consumo, mas agora com fatores globais envolvidos. Mudam as estruturas de custo, e entram em cena os desafios e complicações de uma logística global. 18 7. Referências ARLBJORN, J. S. & HALLDORSSON, A. Logistics knowledge creation: reflections on content, context and processes.International Journal Of Physical Distribution And Logistics Management. Vol.32, n.1, p. 22-40, 2002. BALLOU, R. H. 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