CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO DE FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA AUDIOLOGIA CLÍNICA SÍNDROMES - UMA PERSPECTIVA AUDIOLÓGICA ADRIANA LAYBAUER PORTO ALEGRE 1999 SÍNDROMES - UMA PERSPECTIVA AUDIOLÓGICA Monografia de Conclusão do Curso de Especialização em Audiologia Clínica Orientadora : Mirian Goldenberg ADRIANA LAYBAUER PORTO ALEGRE 1999 Resumo O conhecimento e a interação multidisciplinar dos profissionais que lidam com pacientes sindrômicos, torna-se de vital importância para chamar a atenção destes para a audição. Com o estudo da incidência de perdas auditivas nas síndromes, buscar-se-á um panorama sobre as patologias encontradas. Serão abordados noventa casos encontrados na bibliografia referida, nos quais se apresentam os mais variados tipos e graus de comprometimento, com enfoque direcionado para as defasagens auditivas, a pedra preciosa que será lapidada para um posterior levantamento sobre os tipos de perda auditiva e seu aparecimento nestes casos. Sumário 1.Introdução..........................................................................................................01 2.Justificativa.........................................................................................................03 3.Discussão Teórica..............................................................................................05 4.Considerações Finais.........................................................................................67 5.Referências Bibliográficas..................................................................................73 1. Introdução A audição é um dos sentidos mais importantes e preciosos. Ela possibilita a aquisição da linguagem e a conseqüente integração do homem com o mundo sonoro e social. Este sentido que permeia a sociabilidade e a singularidade, é um foco de preocupação mesmo antes do nascimento de um indivíduo. O acometimento de comprometimentos neste mecanismo impede ou impossibilita de alguma forma a conexão entre linguagem e comunicação. A perda auditiva pode desenvolver-se durante toda a vida de um indivíduo. O aparecimento de tal deficiência depende exclusivamente de suas origens. Determinadas patologias se encontram diretamente relacionadas com este déficit. Em meio a estas, pode-se encontrar uma infinidade de sintomas que caracterizam algumas doenças: as síndromes. De origens genéticas ou não, com características congênitas ou tardias, estas doenças, muitas vezes debilitadoras de órgãos e até de funções vitais, afetam de variadas formas o sistema auditivo. As defasagens geradas dependem diretamente do grau e tipo de comprometimento, bem como da idade na qual esta se instalou. Tendo em vista tais considerações, iniciou-se um levantamento bibliográfico com o intuito de encontrar quais síndromes poderiam acarretar perdas auditivas. Essa busca e explanação destas afecções proporcionam uma apuração sobre que tipos e graus de surdez podem ser encontrados nesta população de indivíduos, e principalmente quais são os problemas auditivos mais 1 incidentes. Com base nesta pesquisa, questiona-se sobre qual ponto o sistema auditivo pode estar lesado, quais estruturas podem estar prejudicadas e, principalmente, o que se pode esperar de cada quadro envolvendo problemas auditivos e síndromes. Outro ponto significativo é a caracterização destas doenças, a fim de um possível reconhecimento deste grupo de indivíduos. Sendo assim, torna-se cada vez mais relevante o conhecimento destas patologias. Com o intuito de auxiliar o diagnóstico audiológico, bem como entender suas possíveis origens, através do auxílio otorrinolaringológico e genético, procura-se detectá-las o mais precocemente, para que sejam evitados ou amenizados, dentre tantos outros problemas, os déficits gerados pela surdez. 2 2. Justificativa Os avanços tecnológicos proporcionados pela medicina genética, auxiliam na detecção etiológica de algumas síndromes, porém, ainda não se atingiu o mapeamento completo do genoma humano. Tal avanço, previsto para o próximo século, determinará o diagnóstico de todas as patologias genéticas. Frente a isso torna-se cada vez mais relevante, o conhecimento relacionado à origem, tipo e grau de comprometimento das síndromes com patologias auditivas. Quando analisada por um ângulo, a audição pode ser apenas mais um acometimento gerado pelas síndromes, porém, este pode desencadear uma série de outros problemas. Estes encontram-se intimamente relacionados à aquisição e desenvolvimento da linguagem, fundamental pilar da fonoaudiologia, e seu mais precioso objeto de estudo. Perante a sociedade, a palavra, síndrome, ainda possui um conotativo de “maldição”, acarretando a seus portadores e familiares, um pesado estigma. Na área da saúde, desperta a curiosidade de alguns e a exaustiva pesquisa de outros. Os que se dedicam a um estudo direcionado nestas doenças, raramente concedem a relevância necessária à audição. Infelizmente, mesmo provocando grandes déficits de desenvolvimento, este inestimável sentido ainda está em segundo plano. O estudo na área das síndromes pode tornar-se estafante e até mesmo divergente, principalmente quando estiver relacionado aos comprometimentos auditivos. Porém, alguns profissionais habilitados ainda não são conhecedores de 3 certos casos neste assunto. A existência de síndromes com aparecimento de deficiência auditiva ainda é pouco citada nos campos da Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia. Será justo uma gama de profissionais enfocar e conhecer apenas as síndromes mais incidentes? Esta despreocupação torna-se compreensível quando se depara com quadros em que o óbito não tarda, e quando os déficits estruturais do organismo possibilitam uma sobrevida com baixa qualidade. Por mais raro, ou por menor que seja a incidência destas afecções, será realmente tão dispensável entender o que ocorre com a audição destes indivíduos? Não estaria na hora deste assunto ser amplamente discutido na formação ou até mesmo nas residências, estágios e pós-graduações dos profissionais deste país? Dentro da perspectiva fonoaudiológica, a integridade auditiva torna-se um ponto crucial, pois sem ela, as áreas afins de seu vasto campo de atuação, desenvolvem-se de maneira deficitária. Espera-se que o conhecimento frente ao aparecimento de problemas auditivos em algumas síndromes, torne-se um ponto fundamental, um objetivo comum entre todos os profissionais da saúde. Com esta integração, ter-se-á força para cada vez mais pesquisar a propensão dos indivíduos frente as síndromes com problemas auditivos associados. 4 3. Discussão Teórica A palavra síndrome distingui-se pelo aparecimento de um conjunto de sintomas característicos de uma doença. RUSSO & SANTOS (1993), referem que ocorre um complexo de sinais e sintomas sem causa completamente definida, verificados em grupo. KATZ (1989), explica que a síndrome é composta por uma anormalidade específica onde o sintoma é vivenciado pelo paciente e o sinal é analisado pelo médico. Sendo assim, as síndromes são responsáveis por um conjunto de anomalias, dentre elas as deficiências auditivas. A perda auditiva associada às síndromes pode estar ou não vinculada à genética, com um defeito cromossômico, com uma transmissão autossômica ou ligada ao sexo, dominante ou recessiva (hereditária). Também pode apresentarse ao nascimento (congênita) ou aparecer tardiamente. GRANATO et al. (1997), consideram o aspecto genético quando os fatores causais encontram-se nas células germinativas, proporcionando ao indivíduo a herança dos genes. Quando a origem não é genética, pode-se suspeitar de distúrbios inflamatórios ou toxicológicos, dentre outros. A forma congênita relaciona-se com a história gestacional. Quando a origem está numa anomalia cromossômica, pode-se encontrar as trissomias de determinados pares cromossômicos dos 23 que constituem o indivíduo normal. Dentro destes 23 pares o ser humano possui 22 pares semelhantes em ambos os sexos (autossomos) e um par que constitui os cromossomos sexuais. 5 A origem autossômica dominante pode ocorrer em ambos os sexos, pois os pares autossomos são transmitidos igualmente. Considera-se dominante quando há presença de um único gene mutante. Já na autossômica recessiva são necessários dois genes anormais simultaneamente. Quando a origem é ligada ao sexo, o par de cromossomos afetado é o do cromossomo sexual. Se for dominante, o portador do gene mutante poderá ser o homem ou a mulher. Porém se a transmissão for recessiva, na maioria das situações, o sexo masculino é mais afetado devido a presença de apenas um cromossomo X, necessário para a manifestação da doença. Independente da origem, pode-se esperar vários tipos e graus de comprometimentos auditivos, que vão desde um hipoacusia condutiva leve até uma hipoacusia mista ou uma disacusia neurossensorial profunda. Na bibliografia revisada obtive relatos de noventa afecções que comprometem a audição. Estas serão descritas em ordem alfabética, sem detenção anatômica nem explicação de termos médicos. Estes relatos servirão de pilares para a construção de uma futura análise estatística sobre as alterações auditivas encontradas. Além destas também farei alusão às síndromes onde a perda auditiva é um dos principais achados patológicos, e, em quais há relevância esta alteração. 6 Síndrome de Albers - Schönberg Descrita por Albers e Schönberg em 1907, como a Síndrome da Osteopetrose, esta enfermidade com herança autossômica recessiva compõemse de traços faciais anormais (testa ampla, ponte nasal achatada, olhos protuberantes, estrabismo e paralisias dos nervos faciais bilateralmente), macrocefalia, cabeça com formato quadrado e ossos escleróticos (SMITH, 1972). GRANATO et al. (1997), referem o aparecimento de osteomielites, comprometimento ocasional do II, V e VII par craniano, hepatoesplenomegalia, anemia e perda auditiva mista ou condutiva. NORTHERN & DOWNS (1989) expõem a escassez de informações audiológicas, mas citam que 25 à 50% dos indivíduos desenvolvem perda auditiva neurossensorial de grau moderado com caráter progressivo ou hipoacusia condutiva. Síndrome do Albinismo A Síndrome do Albinismo origina-se da herança autossômica dominante ou recessiva, ligada ou não ao sexo. As manifestações clínicas desta, compõem-se de características pigmentares como pele clara, cabelos finos, estrabismo, nistagmos, ausência de pigmentos na íris e fotofobia. Outros achados apresentam o aparecimento de surdez bilateral com severos graus de comprometimento (RUSSO & SANTOS, 1993). 7 O tipo de perda auditiva é referido por NORTHERN & DOWNS (1989), como neurossensorial severa com manifestação congênita. Síndrome de Albright A Síndrome de Albright é também conhecida como displasia fibrosa poliostótica. É nitidamente predominante no sexo feminino, porém sua etiologia é desconhecida. Costuma ser evidenciada entre os 5 e 15 anos de vida. SANVITO (1997), a caracteriza com o aparecimento de pigmentação cutânea anormal (manchas do tipo café-au-lait predominantemente de um lado do corpo), distúrbios endócrinos (a puberdade precoce é o mais evidente e com maior aparecimento), e alterações ósseas. BARAITSER & WINTER (1998), relatam que a união com a displasia fibrosa acarreta o comprometimento ósseo podendo provocar deformidades inclusive do crânio. É relevante salientar que segundo SANVITO (1997), estas alterações podem gerar proptose, cegueira e surdez. 8 Síndrome de Alpers Alpers em 1931, descreveu uma degeneração cerebral progressiva com aparecimento nos dois primeiros anos de vida. Entre os achados, a presença de um evidente atraso no desenvolvimento neuropsicomotor com associação de crises convulsivas. O quadro abrange demência, cegueira cortical, perda auditiva, microcefalia, mioclonias, movimentos coreotetóticos e espasticidade. No primeiro ano de manifestação da síndrome ocorre o óbito (SANVITO, 1997). Síndrome de Alport Alport em 1927, descreveu esta síndrome autossômica dominante, como uma nefrite hereditária com surdez do nervo. O quadro clínico inclui o distúrbio renal progressivo com uremia, associado a surdez e hipertensão arterial. O sexo masculino é sempre mais severamente afetado. O comprometimento auditivo inclui alterações do osso temporal no labirinto membranoso, podendo atingir o gânglio espiral (COSTA et al., 1994). GRANATO et al. (1997), acrescentam alterações oculares como lenticone, esferofaquia, catarata e possível hipofunção vestibular com degeneração do órgão de Corti e/ou estria vascular. Consideram a Síndrome de Alport como responsável por 1% da incidência das perdas auditivas hereditárias. Invariavelmente neurossensorial progressiva, ocorre em 40 à 60% dos indivíduos 9 e pode atingir grau moderado à severo nas altas freqüências, com apresentação habitualmente simétrica e bilateral (NORTHERN &DOWNS, 1989). O aparecimento e a progressão da perda auditiva devem ser levados em consideração devido à relevância do desenvolvimento da linguagem. Para COSTA et al. (1994), há orientação quanto a possível utilização de uma prótese auditiva. Síndrome de Alstrom Descrita por Alstrom e colaboradores em 1959, como um distúrbio visual no primeiro ano de vida de origem autossômica recessiva, com associação em geral de nistagmo e fotofobia (RUSSO & SANTOS, 1993). O quadro clínico inclui a presença de diabetes mellitus na adolescência com surgimento de perda auditiva e obesidade. SIH (1998), acrescenta a retinite e a catarata às alterações visuais, o hipogonadismo e a perda auditiva neurossensorial. 10 Síndrome da Anemia de Fanconi Também conhecida como Síndrome de Panmieloftise ou Pancitopenia de Fanconi, quem a descreveu em 1927, como uma afecção autossômica recessiva. Com incidência aproximada de 1 / 40.000, apresenta como principais características a deficiência no crescimento, anomalias faciais e microcefalia. Pode-se caracterizar estas alterações com hipoplasias ou agenesias do polegar, encurtamento ou agenesia do rádio, baixa estatura, crânio pequeno, pigmentação cutânea em cor castanha, microftalmia, estrabismo, nistagmo ou colobomas (WIEDEMANN et al., 1992). Outros achados têm complementado o quadro clínico. Nestes se incluem anormalidades das orelhas, surdez, oligofrenia, osteoporose e cardiopatias congênitas (SMITH, 1972). A alteração auditiva referida por NORTHERN & DOWNS (1989), tem início em altas freqüências na infância, evoluindo lentamente com caráter neurossensorial progressivo na adolescência. A audição, quando afetada, não é significativa, pois as outras alterações proporcionam uma sobrevida que não ultrapassa dois anos. Atualmente o tratamento propicia mais tempo de vida para o paciente, tornando as necessidades auditivas maiores para o desenvolvimento do mesmo. 11 Síndrome de Anton - Babinski Publicada em 1900, por Anton e posteriormente, em 1914, por Babinski, caracteriza-se por uma lesão cortical extensa e bilateral. Ocorre anosognosia, que é uma negação do indivíduo de sua hemiplegia e de sua cegueira cortical. Manifestações apráxicas, agnósicas e afásicas, são também relatadas, assim como a perda auditiva (SANVITO, 1997). Síndrome de Apert Descrita por Apert em 1906, esta síndrome de rara incidência (1 / 160.000), apresenta acrocefalossindactilia de caráter autossômico dominante. As alterações no esqueleto e crânio incluem disostose craniofacial, fusão dos dedos das mãos e pés (sindactilismo) com “mãos em colher”, proptose bilateral, nariz em sela, orelhas com implantação baixa, palato alto e arcado, retardo mental, ancilose das juntas, hipertelorismo, braquiocefalia, frontal proeminente e achatado com crânio “tipo torre” e perda auditiva (NORTHERN & DOWNS, 1989). Para GRANATO et al. (1997), a possível fixação congênita da platina do estribo reflete numa perda auditiva condutiva com baixa curva timpanométrica e ausência de reflexos. NORTHERN & DOWNS (1989), acrescentam o possível aparecimento de patência anormal do aqueduto da cóclea e o aumento do meato 12 acústico interno (encontrado em explorações cirúrgicas anteriores), o que justificaria a suspeita de um componente neurossensorial em alguns casos. A evolução da síndrome e seu prognóstico dependem da gravidade de suas malformações características, bem como das que podem estar correlacionadas. A mortalidade nos primeiros anos é relativamente alta (WIEDEMANN et al., 1992). Com base nestes dados, a alteração auditiva, quando presente, não é relevante. Síndrome de Arnold - Chiari Esta anomalia foi descrita por Chiari em 1891, como uma malformação decorrente das hidrocefalias. Três anos após, em 1894, Arnold também a cita com presença dentre outras manifestações a meningomielocele lombar e a agenesia da articulação tibiotársica e da rótula esquerda. Chiari em 1895, evidencia o aparecimento de 24 casos com malformações da transição craniovertebral (SANVITO, 1997). O acometimento desta síndrome, segundo o autor, caracteriza-se com o aparecimento nas crianças de sinais de hipertensão intracraniana (cefaléia e papiledema), hidrocefalia e déficit motor com atrofia lingual (quando o comprometimento atinge as estruturas bulbares). LOPES FILHO & CAMPOS (1994), acrescentam outras manifestações como a tontura, desequilíbrio, surdez e o zumbido. Para ele a localização da lesão 13 vestibular é central com perda auditiva neurossensorial, implicando o cerebelo e o tronco cerebral. Síndrome de Carpenter A síndrome foi descrita em 1909, por Carpenter e estabelecida como acrocefalopolissindactilia de herança autossômica recessiva por Tentamy em 1922 (SMITH, 1972). SANVITO (1997), descreve como características a acrocefalia e a assimetria cranial decorrente do desigual fechamento das suturas. Há pregas epicânticas bilaterais com olhos rasgados e para baixo, nariz com dorso achatado, orelhas com baixa implantação e sindactilia na extremidade dos membros. BARAITSER & WINTER (1998), acrescentam que nas mãos ocorre braquidactilia além da sindactilia, e nos pés polidactilia pré-axial. Referem como achados complementares a obesidade, a perda auditiva com configuração mista e problemas dentares. Síndrome Cérebro - Costo - Mandibular 14 A Síndrome Cérebro - Costo - Mandibular possui rara incidência e compõem-se pela Síndrome de Pierre Robin, anomalias múltiplas das costelas, microcefalia e deficiência mental. Há baixa estatura, pregas epicânticas, e pseudartroses nos indivíduos que superam a dificuldade respiratória. Em geral, esta última é a principal responsável por 40% dos óbitos (BARAITSER & WINTER, 1998). WIEDEMANN et al. (1992), citam achados complementares que incluem deficiência auditiva, malformações do Sistema Nervoso Central e pescoço curto. Síndrome CHARGE CHARGE é uma associação de síndromes que compõem coloboma da íris ou retina, anomalias cardíacas, atresia das coanas, anomalias genitais e auditivas. As orelhas costumam estar protuberantes com hélix dobradas ou sem o pilar da anti-hélix. A perda auditiva pode variar entre condutiva e neurossensorial (BARAITSER & WINTER, 1998). 15 Síndrome de Cockayne Trata-se de uma anomalia de origem recessiva, descrita em 1936 por Cockayne, com baixa incidência. Dentre as características, NORTHERN & DOWNS (1989), apontam o nanismo, o progressivo retardo mental, as alterações oculares motoras e auditivas, a microcefalia, a hipersensibilidade da pele à luz solar, o espessamento dos ossos craniais e a desproporção das extremidades longas (com mãos e pés grandes). COSTA et al. (1994), ressaltam a aparência senil do indivíduo devido à ausência de depósitos de lipídeos nos tecidos subcutâneos da face. Do nascimento ao primeiro ano de vida, o indivíduo apresenta normalidade na aparência e no crescimento físico e mental. Passado este período, ocorre o início progressivo das alterações. Geralmente na adolescência ou no início da fase adulta ocorre óbito (SANVITO, 1997). A deficiência auditiva presente no quadro clínico possui caráter progressivo de início tardio do tipo neurossensorial. A utilização do aparelho auditivo exclui muito sucesso devido ao retardo mental e a cegueira progressiva (NORTHERN & DOWNS, 1989). 16 Síndrome de Cogan Segundo SANVITO (1997), a Síndrome de Cogan ou Queratite Intersticial não-sifilítica, pode ocorrer associada a periarterite nodosa, mas sua etiologia é desconhecida. Nas suas manifestações são encontrados sintomas audiovestibulares semelhantes aos da doença de Ménière (LOPES FILHO & CAMPOS, 1994). O comprometimento é súbito e geralmente afeta adultos, com dores oculares, náuseas seguidas de vômitos e turvação da visão. Quanto aos acometimentos auditivos, há aparecimento de zumbido, vertigem e perda auditiva neurossensorial, decorrente do envolvimento cocleovestibular. Síndrome de Costen A Síndrome de Costen é conhecida como neuralgia temporomandibular e Síndrome da Articulação Temporomandibular (ATM). SANVITO (1997), a descreve com repentino início, causado por um bocejar forçado, uma vigorosa mastigação ou pela permanência por um longo período da boca aberta. Entretanto, é impossível esclarecer o agente provocador, pois no princípio costuma ser gradual e diversos elementos influenciam seu aparecimento, como a tensão emocional e os espasmos musculares na face. LOPES FILHO & CAMPOS (1994), a caracterizam com dores faciais neurálgicas, tonturas, cefaléia e 17 limitação de movimento na ATM. Outros achados como sensação de plenitude aural, zumbido e hipoacusia, são também relatados. Síndrome de Crouzon Descrita por Crouzon em 1912 como uma disostose craniofacial hereditária, esta afecção possui transmissão autossômica dominante, de freqüência relativamente baixa. O quadro clínico inclui alterações morfológicas que conferem ao indivíduo um aspecto de braquicéfalo (SANVITO,1997). Nas características craniofaciais, referidas por WIEDEMANN et al. (1992), encontramse fronte alta e larga com possível abaulamento na região da fontanela anterior, achatamento na região occipital, exoftalmia e hipertelorismo ocular com órbitas rasas, estrabismo divergente, hipoplasia do maxilar, nariz com forma de “bico de papagaio”, lábio superior curto, palato ogival e prognatismo. Achados como retardo mental, comprometimentos auditivos e visuais também são citados. Para NORTHERN & DOWNS (1989), a deficiência auditiva decorre da deformação do estribo com conseqüente fusão no promontório, anquilose do martelo em direção a parede externa do epitímpano, distorções e estreitamento do espaço da orelha média, ausência da membrana timpânica e estenose ou atresia do canal externo. Apresenta quadro de perda auditiva condutiva, não progressiva em 1/3 dos casos, podendo apresentar surdez mista. 18 Síndrome da Disostose Cleidocraniana A Síndrome da Disostose Cleidocraniana é uma afecção autossômica dominante com grande variabilidade de expressão, que se caracteriza como uma doença esquelética decorrente da ossificação tardia. Pode-se contar com o aparecimento de braquicefalia, aplasia da(s) clavícula(s), hipertelorismo ocular, ombros estreitos e curvados, irregularidade ou ausência de dentes e perda auditiva neurossensorial (GRANATO et al., 1997). NORTHERN & DOWNS (1989), acrescentam o palato alto e arqueado, as fissuras submucosas e o estreitamento dos canais auditivos externos. Não mencionam problemas mentais, mas reportam perda auditiva condutiva ou neurossensorial progressiva ocasional, proveniente do retardo da ossificação. Síndrome DOOR A Síndrome DOOR representa os distúrbios auditivos (Deafness), Onicodistrofia, Onicólise e Retardo. A afecção possui herança autossômica recessiva e o diagnóstico costuma ser sugerido pelo exame das mãos e pés, pois os mesmos são curtos e apresentam ausência ou hipoplasia das unhas e das falanges distais. A fisionomia típica também auxilia no diagnóstico, com presença de ptose bilateral, nariz curto e largo, narinas grandes com extremidades largas. A 19 perda auditiva é identificada pela audiometria de respostas elétricas (BERA) (BARAITSER & WINTER, 1998). Síndrome de Down Down em 1866 comunicou a classificação desta afecção. Em 1959, Lejeune descreveu a apresentação de uma trissomia do cromossomo 21, com incidência aproximada de 1 / 600 nascimentos, com aumento de probabilidade conforme a idade da mãe. O quadro clínico segundo NORTHERN & DOWNS (1989), inclui rosto e nuca achatados, mãos largas e curtas, membros e dedos curtos, anormalidades dentárias, orelhas pequenas, retardo mental com personalidade cordial, afetuosa e amigável, respiração bucal, ponte nasal diminuída, alterações auditivas congênitas e fissuras palpebrais oblíquas. O comprometimento auditivo pode ter origem devido ao estreitamento do canal da orelha externa, a configuração anormal do ouvido e a forte tendência a otite média recidiva. Anomalias nos ossículos também são relatadas. Quanto a perda auditiva, há implicação neurossensorial, condutiva ou mista. Síndrome de Duane A Síndrome de Duane é uma displasia cervicooculoacústica com paralisia congênita do VI nervo cranial (abducente) com surdez e retração do bulbo. Há alteração na movimentação ocular, a cabeça parece estar implantada 20 diretamente no tronco, ocorre aparecimento de fissura palatal e malformações de ouvido (NORTHERN & DOWNS, 1989). Achados incluindo torcicolo e estreitamento da fenda palpebral com retração do globo ocular ao fechar o olho (adução), são descritos por GRANATO et al. (1997). A perda auditiva quando congênita é condutiva devido a atresia, a ausência do meato acústico externo ou por ossículos anormais. Pode também apresentar uma perda neurossensorial com grau severo (NORTHERN & DOWNS, 1989). Em ambos os tipos de deficiência auditiva que podem surgir nesta anomalia, seu tratamento cirúrgico ou protético é significante para o melhor desenvolvimento do indivíduo. Síndrome de Edwards Edwards em 1960 descreveu um quadro caracterizado pela trissomia do 18. (SANVITO, 1997) Com etiopatogenia desconhecida, incidência de 1 caso a cada 5.000 nascimentos, atingindo em maior propensão o sexo feminino, aproximadamente 4/1. O aparecimento da afecção é sugerido pela idade materna. Ao nascimento observa-se o baixo peso, as fissuras palpebrais estreitas, o queixo pequeno, unhas pequenas, a superposição dos segundo e quinto dedos aos outros dois médios e sola do pé convexa (BARAITSER & WINTER, 1998). GRANATO et al. (1997), acrescentam outros achados como hipertonia, orelhas com baixa implantação, atresia do conduto auditivo externo, microftalmia, 21 esterno curto, cardiopatias, deficiência mental e surdez com configuração mista. NORTHERN & DOWNS (1989), referem que a perda auditiva ocorre devido à ausência do tendão do tímpano, anomalias cocleares, ausência de canais semicirculares e malformação do martelo, bigorna e/ou estribo. O óbito ocorre no primeiro ano de vida para 90% destes indivíduos. Síndrome de Ehlers - Danlos Esta anomalia descrita por Van Meekeren, recebeu o nome de Ehlers e Danlos em 1682, devido ao aprofundamento realizado por eles neste quadro clínico específico, com baixa incidência e de herança autossômica dominante e ampla variação de expressão. Dentre as alterações, NORTHERN & DOWNS (1989), apontam a hiperelasticidade, a fragilidade dos vasos sangüíneos (o que auxilia a formação de aneurismas e equimoses), o excesso de fibras elásticas no tecido conjuntivo e o comprometimento cocleovestibular periférico (com tonturas, zumbido e perda auditiva central ou mista). A deficiência auditiva propriamente não é significante devido a todas alterações provocadas pela síndrome. A redução da sobrevida depende do grau e da instalação dos comprometimentos (antes ou após o nascimento). 22 Síndrome de Engelmann BARAITSER & WINTER (1998), descrevem uma associação da displasia craniodiafiseal e displasia diafiseal resultando num alargamento bilateral fusiforme das diáfises dos grandes ossos, com possível esclerótica na base do crânio e aparecimento na fase mais adiantada da afecção de atrofia óptica e surdez. NORTHERN & DOWNS (1989) acrescentam que a perda auditiva ocorre de forma progressiva, variando em alguns casos entre neurossensorial e condutiva. Com o avançar da síndrome, a progressão da distorção facial proporciona ao indivíduo um aspecto grotesco como uma máscara (BARAITSER & WINTER, 1998). Síndrome de Freeman - Sheldon Descrita em 1938 por Freeman e Sheldon como um transtorno muscular com defeitos associados, face assoviadora, hipoplasia das asas do nariz e pé torto. É uma afecção de abaixa incidência com herança autossômica dominante na maioria dos casos (SMITH, 1972). Achados como miopatia subjacente decorrente dos músculos delgados, camptodactilia com desvio ulnar dos dedos, severa escoliose, depressão 23 infranasal longa, e olhos escovados são relatados por BARAITSER & WINTER (1998). WIEDEMANN et al. (1992), referem o aparecimento de surdez parcial em alguns casos. Síndrome de Friedreich A Síndrome de Friedreich tem origem autossômica recessiva, e sua principal anomalia é a ataxia. NORTHERN & DOWNS (1989), descrevem a ataxia como espinocerebelar progressiva de início tardio - entre 7 e 18 anos. Há ocorrência de atrofia ótica, paralisia oculomotora, retinite pigmentosa, catarata, nistagmo, complicações cardíacas e alterações auditivas. O ataque ao sistema nervoso pode indicar lesão cerebelar, piramidal, cordonal posterior e vestibular de tronco cerebral (LOPES FILHO & CAMPOS, 1994). A deficiência auditiva, quando presente, é neurossensorial progressiva com início tardio, e pode estar acompanhada de desequilíbrio. Mediante todo o quadro, que possui evolução lenta e progressiva, podendo levar a morte por episódios infecciosos ou à incapacitação pela incoordenação, a alteração auditiva, quando presente, é insignificante. 24 Síndrome de Garcin Em 1927, Garcin relatou uma anomalia que comprometia unilateralmente todos os nervos cranianos, mesmo com ausência de hipertensão intracraniana. SANVITO (1997), descreve os critérios estabelecidos por Garcin que compreendem os comprometimentos anteriormente citados, associados a ausência de alterações nos tratos longos sensitivos e motores. Como possível causa desta alteração encontra-se a hipótese de sarcomas primários da base do crânio, tumores invasivos da nasofaringe e meningites crônicas da base. LOPES FILHO & CAMPOS (1994), acrescentam que na avaliação otoneurológica encontra-se perda auditiva neurossensorial e paralisia vestibular homolateral. O prognóstico é duvidoso mesmo após tratamento cirúrgico e sessões de radioterapia. Síndrome da Garra de Lagosta Conhecida como a Síndrome EEC do inglês (Ectrodactyly - Ectodermal Dysplasia - Clefting), a Síndrome da garra de Lagosta compõem-se de ectrodactilia associada a displasia ectodérmica e a fendas faciais. A etiopatogenia é genética com transmissão autossômica dominante e expressividade variável. Possui baixa incidência com aproximadamente 100 à 150 casos relatados (WIEDEMANN et al., 1992). A sintomatologia inclui um distúrbio da pele com pigmentação, deformidades peculiares nas mãos ou pés (como garras de lagosta), fissuras 25 labiais, cabelos esparsos, claros e secos, dentes pequenos com possível hipodontia e anodontia. Outros achados como anormalidades nos ductos lacrimais, nas unhas e no órgão urogenital, são freqüentes (BARAITSER & WINTER, 1998). NORTHERN & DOWNS (1989) acrescentam comprometimentos auditivos, com diminuição da função vestibular, anormalidades do ouvido médio e interno acarretando perda auditiva neurossensorial progressiva ou condutiva e mentais em 20% dos casos. A hipoacusia condutiva é referida como achado complementar por WIEDEMANN et al. (1992). Síndrome de Gellé A síndrome da paralisia cruzada do VIII nervo craniano, foi descrita por Gellé em 1901. O quadro clínico é evidenciado pela presença de zumbido, vertigem (que pode ser devido a lesão no nível pontino do nervo), dor auricular e perda auditiva neurossensorial (SANVITO, 1997). Os sintomas de habitual instalação rápida, podem preceder ou suceder lesão contralateral e eventual comprometimento do V e VII nervos cranianos (LOPES FILHO & CAMPOS, 1994). 26 Síndrome de Goldenhar Goldenhar em1952 descreveu esta afecção que apresenta etiologia desconhecida sem evidências de distúrbios hereditários, sustentada em uma possível malformação embrionária nos primeiro e segundo arcos branquiais. A freqüência do aparecimento varia entre 1 / 3.000 e 1 / 5.000. O quadro clínico envolve uma displasia oculoauriculovertebral, apresentando dermóide epibulbar e ou lipodermóide nos olhos, apêndices dérmicos pré-auriculares e fístulas cegas na região do pré-tragos, microtia unilateral, atresia no meato acústico externo em 40 % das orelhas e anomalias vertebrais. Outras manifestações podem ser encontradas como microftalmia, microcórnea, hipoplasia mandibular, paralisia facial e implantação baixa dos cabelos (SANVITO, 1997). A alteração auditiva segundo NORTHERN & DOWNS (1989) é composta por perda tipo condutiva em 40 à 50 % dos casos devido às anomalias anteriormente citadas. WIEDEMANN et al. (1992), referem o mesmo tipo de perda auditiva e acrescentam que o início da manifestação pode ser tardio. GRANATO et al. (1997), citam uma ocasional perda neurossensorial em decorrência de malformações da orelha interna. 27 Síndrome de Gregg Esta Síndrome caracteriza-se pela Embriofetopatia Rubeólica, é a Síndrome da Rubéola Materna. Origina-se de uma infecção intra-uterina pelo vírus da rubéola, adquirido pela mãe durante o primeiro trimestre de gestação. A incidência é relativamente alta, chegando a atingir aproximadamente 1 caso para cada 2.000 partos (WIEDEMANN et al., 1992). Segundo SANVITO (1997), os comprometimentos abrangem a presença de catarata, microftalmia, surdez, anomalias cardíacas e do Sistema Nervoso Central. RUSSO & SANTOS (1993), referem que a perda auditiva varia de grau moderado à profundo com configuração neurossensorial. Síndrome de Hajdu - Cheney BARAITSER & WINTER (1998), referem a Síndrome de Hajdu Cheney com herança provavelmente autossômica dominante. A caracterizam pela presença de anomalias do crânio, baixa estatura, tendência anormal para fraturas, queda precoce dos dentes, acro-osteólise (revelada na radiografia), mobilidade anormal das articulações e persistência de fontanelas e suturas cranianas. WIEDEMANN et al. (1992), acrescentam a peculiaridade facial, com rosto largo, sobrancelhas hirsutas, hipoplasia do maxilar e mandíbula, boca larga e lábios finos. Achados como voz rouca e grossa, perda auditiva condutiva, 28 deficiência visual e osteoporose generalizada com deformação dos corpos vertebrais também são descritos. Síndrome de Hallgren A Síndrome de Hallgren possui origem recessiva e leva o nome do descobridor, que em 1959, relatou um quadro clínico composto por alterações oculares, auditivas e mentais. Segundo NORTHERN & DOWNS (1989), o paciente pode apresentar retinite pigmentosa, ataxia progressiva e retardo mental em 25% dos casos. Com a evolução da doença pode ocorrer psicose. Quanto a audição, 90% apresentam perda auditiva neurossensorial severa e congênita. LOPES FILHO & CAMPOS (1994), acrescentam a presença de um possível nistagmo espontâneo e de uma usual esquizofrenia. Referem a ataxia como vestibulocerebelar e a perda auditiva como neurossensorial, presente aparentemente desde o nascimento e de grau profundo. Na síndrome de Hallgren a alteração auditiva é significativa devido ao aparecimento precoce e ao acentuado grau de perda. 29 Síndrome de Harboyan A Síndrome de Harboyan é composta por uma distrofia corneal de Fehr de origem recessiva com detecção pelos 5 à 9 anos. É uma distrofia corneal congênita e progressiva que conduz lentamente à cegueira, próximo da quarta década de vida. A perda auditiva também é presente e progressiva, com início geralmente mais tardio e do tipo neurossensorial (NORTHERN & DOWNS, 1989). Síndrome de Herrmann Descrita em 1964, por Herrmann e colaboradores como uma síndrome de herança dominante com aparecimento na terceira ou quarta década de vida. Esta anomalia envolve o quadro de fotomielono, diabetes mellitus, nefropatia e surdez. Ocorrem distúrbios do Sistema Nervoso (epilepsia, com aparecimento tardio de demência devido às mudanças de personalidade), fotomioclonia, hemiparesia progressiva para a articulação das palavras, ataxia branda e problemas renais (NORTHERN & DOWNS, 1989). Os autores referem ainda que a perda auditiva apresenta origem tardia e caracteriza-se de forma neurossensorial progressiva. 30 Síndrome de Hipertensão Perilinfática Esta afecção caracteriza-se por um defeito no modíolo, ou por aquedutos cocleares alargados, proporcionando um fácil acesso para o espaço perilinfático do liquor. A perda auditiva pode ser progressiva ou flutuante, afetando uni ou bilateralmente com configuração mista ou neurossensorial (LOPES FILHO & CAMPOS, 1994). Síndrome de Hunter Conhecida como mucopolissacaridose tipo II, de rara incidência 1 / 50.000, foi descrita em 1917, por Hunter como uma afecção hereditária de transmissão recessiva ligada ao sexo, afetando apenas o sexo masculino. SANVITO (1997), destaca entre as características o crânio escafocefálico, hipertelorismo ocular, macroglossia, dentes espaçados e amplos e ausência de opacidade da córnea (o que permite o diagnóstico diferencial com a Síndrome de Hurler). Outros achados são descritos como mãos em garra (devido a rigidez articulatória), surdez, cardiopatias e nanismo. NORTHERN & DOWNS (1989), acrescentam falha no crescimento, retardo mental e presença de perda auditiva leve em 50% dos casos, de natureza provavelmente mista, neurossensorial e condutiva, com tendência a disfunção tubária. 31 O prognóstico de sobrevida segundo WIEDEMANN et al. (1992), depende do tipo da afecção. O tipo A apresenta uma evolução rápida e progressiva com óbito geralmente antes dos 15 anos. Já o tipo B, possui lenta evolução, com morte na idade adulta, discreta ou ausente deficiência mental e óbito provocado por possível insuficiência cardíaca. Síndrome de Hurler Descrita em 1919, por Hurler, como uma mucopolissacaridose tipo I que afeta ambos os sexos, com característica hereditária autossômica recessiva de incidência estimada em 1 / 100.000. O quadro clínico relatado por GRANATO et al. (1997), inclui gargolismo com macrocefalia, abdome proeminente, orelha de baixa implantação, hipertelorismo, prega epicântica, baixa estatura, involução do desenvolvimento neuropsicomotor, face progressivamente grosseira, lábios grossos, dentes afastados, cabelos grossos e hepatoesplenomegalia. RUSSO & SANTOS (1993), referem um aumento do baço e fígado, cegueira e perda auditiva neurossensorial profunda. A evolução da patologia relatada por SANVITO (1997), prevê quadro fatal com óbito antes dos 10 anos de idade decorrente de infeções respiratórias ou insuficiência cardíaca. 32 Síndrome de Jervell & Lange - Nielsen Descrita em 1957, por Jervell & Lange Nielsen como uma alteração hereditária recessiva com complicações cardiovasculares. Nestes indivíduos, encontra-se perda auditiva neurossensorial severa à profunda e acessos variáveis com períodos breves e longos de inconsciência nos desmaios. A morte ocorre possivelmente por parada cardíaca (BALLANTYNE et al., 1995). Acrescentando, LOPES FILHO & CAMPOS (1994) relatam episódios de hipoxemia cerebral do tipo Adams Stokes e o aparecimento congênito da alteração auditiva. Referem como orientação, a utilização de prótese auditiva, reforçando a relevância da alteração. Segundo NORTHERN & DOWNS (1989), esta alteração é responsável por 0,3% dos indivíduos congenitamente surdos. Síndrome de Kallmann A Síndrome de Kallmann caracteriza-se pelo hipogonadismo hipogonadotrófico familiar, associado à anosmia com aparecimento em ambos os sexos. A ectopia testicular, a agenesia ou hipoplasia renal unilateral podem ser encontradas em alguns casos. Achados como daltonismo, surdez, fissura, cardiopatia congênita e trombocitopatia, complementam a sintomatologia desta síndrome (WIEDEMANN et al., 1992). 33 Síndrome de Keutel A Síndrome de Keutel possui transmissão autossômica recessiva e baixa incidência com poucos casos descritos. Caracteriza-se por braquitelefalangismo, surdez, fisionomia típica e calcificação anormal nas cartilagens (da árvore traqueobrônquica, nas epífises dos ossos longos, no nariz e na orelha). O braquitelefalangismo aparece com últimas falanges dos dedos curtos. A perda auditiva pode ser condutiva ou mista, e a face apresenta configuração anormal do nariz e hipoplasia do terço médio (WIEDEMANN et al., 1992). Síndrome de Klippel - Feil Descrita por Mc May e Maran em 1696, esta afecção de etiologia heterogênea, com casos autossômicos dominantes ou recessivos e de incidência aproximada de 1 / 50.000, apresenta brevicole e displasia cervicooculoacústica. O quadro clínico é composto por hipoacusia, tontura, pescoço curto e com mobilidade limitada, implantação baixa do cabelo e defeitos esqueléticos. A perda auditiva é neurossensorial, congênita e não progressiva (LOPES FILHO & CAMPOS, 1994). Os comprometimentos auditivos segundo NORTHERN & DOWNS (1989), variam entre uma perda auditiva neurossensorial severa à 34 profunda e uma condutiva moderada. O fator determinante situa-se no local da lesão. Estudos radiológicos do osso temporal demonstram desde estreitamento até ausência do meato acústico externo ou cavidade da orelha média com possíveis deformações dos ossículos. As estruturas da cóclea podem estar subdesenvolvidas com ausência de canais semicirculares, e até ausência do VIII nervo craniano. GRANATO et al. (1997), admitem a presença de perda do tipo neurossensorial, condutiva ou mista. Síndrome de Kniest A Síndrome de Kniest é uma afecção hereditária de transmissão autossômica dominante, composta por desproporcional deficiência estatural, cifoescoliose, perfil achatado da face e comprometimentos auditivo e visual (WIEDEMANN et al., 1992). BARAITSER & WINTER (1998), referem possíveis complicações respiratórias, protuberância dos olhos, fenda palatina, miopia e perda auditiva neurossensorial. 35 Síndrome Lácrimo-Aurículo-Dento-Digital (LADD) A Síndrome LADD é uma afecção hereditária autossômica dominante com expressividade variável, que apresenta hipoplasia, agenesia ou atresia do aparelho lacrimal, das glândulas e/ou ductos e anormalias de dentes, dedos e orelhas (WIEDEMANN et al., 1992). BARAITSER & WINTER (1998) ressaltam que ocorrem malformações das orelhas às vezes em forma de taça. Há presença de perda auditiva neurossensorial ou condutiva. Síndrome de Laurence - Moon - Biedl - Bardet As principais manifestações desta síndrome de herança recessiva foram descritas por Laurence e Moon em 1865, e, posteriormente, por Bardet e Biedl em 1920. Dentre as alterações descritas por NORTHERN & DOWNS (1989), encontram-se doença ocular com retinite pigmentosa, retardo mental, hipogenitalismo, hipogonadismo, obesidade, polidactilismo e paraplegia espástica com perda auditiva neurossensorial. SANVITO (1997), apresenta a baixa estatura e anomalias dentárias com sinais associados. 36 Síndrome de Leopard Esta afecção também chamada de síndrome da lentiginose múltipla, possui origem hereditária autossômica dominante de variável expressividade. É denominada Leopard devido às iniciais que envolvem o quadro clínico Lentiginose, alterações Eletrocardiográficas, hipertelorismo Ocular, estenose Pulmonar, Anomalias dos genitais, Retardo do crescimento e Distúrbios da audição (WIEDEMANN et al., 1992). O aparecimento da deficiência auditiva neurossensorial ocorre em 15 % dos casos. A presença de sardas e pequenas manchas (marrom – escuro) localizadas no pescoço e parte posterior do tronco acompanham a doença integumentária pigmentaria. Outros achados como alteração cardíaca, hipertelorismo ocular, estenose pulmonar, anomalia de genitália e retardo do crescimento físico fazem parte desta afecção (NORTHERN & DOWNS, 1989). A evolução e o prognóstico da perda auditiva é significante quando instalado ao quadro. Síndrome de Lermoyez Esta afecção de ocorrência rara, conhecida como “a vertigem que faz ouvir”, costuma ocorrer entre a terceira e quarta década de vida. Tratam-se dos mesmos sintomas da doença de Ménière, porém diferindo nas reações, pois o 37 zumbido e a progressiva deficiência auditiva neurossensorial, desaparecem ou são amenizados durante a crise vertiginosa. Ambos, os ouvidos, podem ser afetados pelo comprometimento cocleovestibular (SANVITO, 1997). Síndrome da Mão - Audição A Síndrome da Mão - Audição tem origem na herança dominante e sua sintomatologia é composta pela inutilização do músculo da mão e surdez. Ocorrem contrações congênitas com invalidação dos músculos dos dedos (desprovidos de dor), anormalidades das mãos e perda auditiva congênita uni ou bilateral com variados graus (NORTHERN & DOWNS, 1989). Síndrome de Marfan A Síndrome de Marfan é uma afecção de herança autossômica dominante. Possui como características a doença craniofacial e do esqueleto, hipermobilidade da junta, aracnodactilismo, escoliose, deslocamento do cristalino e anormalidades cardíacas (BARAITSER & WINTER, 1998). WIEDEMANN et al. (1992), referem a presença de gigantismo decorrente do exagerado crescimento longitudinal dos membros, com aracnodactilia, escassez de tecido adiposo, face longa e estreita, peito de pombo ou peito infundibuliforme. NORTHERN & DOWNS (1989), acrescentam a associação de surdez ao quadro sintomático, porém de forma incomum. 38 Síndrome de Maroteaux - Lamy Maroteaux e Lamy descreveram em 1962, uma anormalidade com caráter autossômico recessivo composta por pinodisostoses (SMITH, 1972). Dentre suas principais características, WIEDEMANN et al. (1992), destacam a baixa estatura, face com nariz largo e em sela e diastemas dentários. Lábios polpudos, turvação das córneas, abdômen volumoso e inteligência normal também fazem parte da sintomatologia. Referem que a incidência é de 1 caso para cada 100.000 nascimentos. SANVITO (1997), acrescenta a surdez ao quadro clínico, além do envolvimento cardíaco e respiratório, o que pode mais tarde levar ao óbito. Síndrome de Marshall A Síndrome de Marshall caracteriza-se pela presença do nariz em sela e da miopia severa. A transmissão é dominante e apresenta achados como catarata congênita e surdez. De grau moderado, a perda auditiva é congênita, progressiva e com configuração neurossensorial (NORTHERN & DOWNS, 1989). 39 Síndrome de Melnick - Needles A Síndrome de Melnick - Needles é uma afecção com baixa incidência composta por osteodisplasia com transmissão autossômica dominante ou dominante ligada ao sexo, tornando-se praticamente letal para o sexo masculino. Envolve como características a baixa estatura, bochechas cheias e salientes, olhos protuberantes, queixo pequeno, deficiente alinhamento dentário, testa saliente, micrognatia e alterações radiológicas (BARAITSER & WINTER, 1998). WIEDEMANN et al. (1992), referem que o desenvolvimento intelectual é normal. O fato de em alguns casos o tórax estar estreito pode acabar comprometendo a respiração. Eventualmente observa-se presença de surdez. Síndrome de Meyer - Schwickerath Esta Síndrome tem herança autossômica dominante e é também chamada como Síndrome Óculo - Dento - Digital, devido aos comprometimentos como microcórnea, hipoplasia das asas do nariz, hipoplasia do esmalte dentário e sindactilia (BARAITSER & WINTER, 1998). WIEDEMANN et al. (1992) referem que há sindactilia dos dedos IV e V de ambas as mãos, além de displasia, hipoplasia ou agenesia da segunda falange de um ou vários dedos do pé. Relatam também achados como perda auditiva 40 condutiva, possíveis alterações neurológicas, anomalias generalizadas nos pêlos e cabelos. Síndrome da Microvilopatia Intestinal A Síndrome da Microvilopatia Intestinal provoca o aparecimento de mecanismos enzimáticos defeituosos no intestino delgado. Essas alterações acarretam uma glicemia normal ou baixa insulinopenia, hipoacusia e tonturas (LOPES FILHO & CAMPOS, 1994). Síndrome de Möbius Síndrome composta por displasia facial, de origem autossômica dominante com esporádica ocorrência. A doença do sistema nervoso inclui paralisia facial bilateral congênito devido a comprometimento do VI e VII nervos cranianos, com oftalmoplegia de variados graus, deformações de orelha externa, micrognatia, ausência de mãos, pés ou dedos, retardo mental, paralisia lingual e estrabismo (WIEDEMANN et al., 1992). 41 A audição pode ser afetada por comprometimentos dos nervos, ou pelas deformidades, o que segundo NORTHERN & DOWNS (1989), poderá acarretar uma perda auditiva neurossensorial e ou condutiva congênita. Síndrome de Mohr Descrita em 1941, por Mohr, como uma síndrome orofaciodigital tipo II de baixa incidência e de transmissão autossômica recessiva. O indivíduo pode apresentar deformidades na face, na boca e nos dedos das mãos, fissura labial, língua lobulada, raiz nasal larga, perda auditiva, poli e sindactilia e hipoplasia mandibular (NORTHERN & DOWNS, 1989). WIEDEMANN et al. (1992), comentam que quando presente, o distúrbio auditivo possui caráter condutivo devido a malformação da bigorna. Síndrome de Morquio Descrita por Morquio em 1929, como uma afecção de herança autossômica recessiva, atualmente reconhecida como uma mucopolissacaridose tipo IV, de início precoce entre o primeiro e o segundo ano de vida. De incidência estimada em 1 / 100.000, seu quadro clínico predomina as alterações ósseas. Dentre elas se destacam o tórax geralmente curto (em 42 forma de barril, com formato de quilha na porção anterior) e cifose dorsolombar conferindo uma postura semiagachada com acentuado nanismo. Nas extremidades distais dos membros superiores, encontram-se punhos aumentados e mãos disformes. As anomalias esqueléticas podem desenvolver paraplegia espástica. A face característica apresenta boca ampla, proeminência maxilar, nariz curto e dentes separados. A córnea pode estar opacificada (SANVITO, 1997). Quanto à audição, WIEDEMANN et al. (1992), descrevem o aparecimento de perda auditiva progressiva neurossensorial a partir da primeira década de vida. O prognóstico tem melhorado devido às medidas terapêuticas. A sobrevida dos indivíduos é de aproximadamente 20 anos. Síndrome de Muckle - Wells A Síndrome de Muckle - Wells caracteriza-se pelo surgimento de urticárias, nefrite e amiloidose. As urticárias são periódicas e ocorrem devido a uma reação vascular da pele com coceiras e manchas, associadas ao mal-estar e calafrio. Dores repetidas nas juntas e membros também são freqüentes com início entre a primeira e segunda década de vida. A nefropatia e a deficiência renal são precedidas pela amiloidose. A surdez é progressiva tornando-se severa por volta dos 30 e 40 anos. Ela aparece paralela à deficiência renal e aos problemas 43 endócrinos e metabólicos. A configuração da perda auditiva tem característica neurossensorial (NORTHERN & DOWNS, 1989). Síndrome de Münchmeyer A Síndrome de Münchmeyer acomete ambos os sexos e caracteriza-se pela presença de fibrodisplasia ou miosite ossificante progressiva com herança autossômica dominante. SANVITO (1997), refere que o início das manifestações costuma ocorrer na primeira infância com uma tumefação muscular na região cérvico-escapulo-dorsal, acompanhada de um aumento da consistência muscular (com limitações de movimentos articulares e aumento da temperatura local). BARAITSER & WINTER (1998), enfocam a localização das lesões principalmente sobre a coluna vertebral, articulações do ombro e mandíbula. Apontam outros achados como a surdez e a calvice. WIEDEMANN et al. (1992), acrescentam que a perda auditiva associada não é rara e pode chegar à surdez completa, aparecem também anomalias dos dentes e atraso da maturação sexual. O prognóstico é desfavorável acarretando o óbito aproximadamente aos 20 anos de vida decorrente das insuficiências cardíacas ou pneumopatias desencadeadas pela rigidez da caixa torácica. 44 Síndrome de Norrie Este quadro de degeneração oculoacústicocerebral congênito e progressivo é raro e afeta apenas o sexo masculino, pois apresenta herança recessiva ligada ao sexo. NORTHERN & DOWNS (1989), relatam que 1/3 dos indivíduos encontra-se com graves retardos, 1/3 com retardos moderados e o outro terço com inteligência normal. A perda auditiva é progressiva com início tardio, geralmente bilateral e simétrica em 1/3 dos casos com configuração neurossensorial. SANVITO (1997), refere alterações oculares com opacidade do vítreo e da córnea, cataratas e lesões das células sensoriais da retina. Síndrome das Orelhas Baixas A Síndrome das Orelhas Baixas é composta pela doença craniofacial com deformidades ocorridas pela baixa colocação das orelhas, bilateralmente, em geral. O retardo mental aparece em aproximadamente 50% dos casos. A perda auditiva é condutiva de leve à severa, variando uni ou bilateralmente (NORTHERN & DOWNS, 1989). 45 Síndrome Oral - Facial - Digital I e II Na Síndrome Oral - Facial - Digital tipo I encontra-se herança ligada ao cromossomo X, o que a torna letal para indivíduos do sexo masculino. No tipo II a herança é autossômica recessiva (BARAITSER & WINTER, 1998). WIEDEMANN et al. (1992), relatam o primeiro tipo com língua lobulada, freios intra-orais hipertróficos, processos alveolares sulcados, anomalias nos pés e mãos, surdez e face característica (apresentando milhos proeminentes, nariz com raiz larga e distropia do canto). BARAITSER & WINTER (1998), relatam que no segundo tipo a fisionomia é similar à do primeiro, porém o nariz pode apresentar a ponta bífida. A perda auditiva é condutiva e há polidactilia pós-axial e sindactilia cutânea. Síndrome de Paget Osteíte deformante com manifestações neurológicas polimorfas. As deformidades esqueléticas ocorrem no crânio e nos longos ossos das pernas. A progressão é contínua e conforme RUSSO & SANTOS (1994), tem início na fase adulta. Relatam uma possível perda auditiva devido às deformidades ósseas, variando entre o tipo condutivo e neurossensorial, conforme o local lesionado. SANVITO (1997), acrescenta o possível comprometimento do VIII nervo craniano devido a invaginação basilar. Tal alteração acarretaria numa surdez progressiva neurossensorial com compressão do nervo e alterações da 46 própria cóclea. KATZ (1989), relata o possível aparecimento de zumbidos e vertigem. Síndrome de Patau Em 1957, Bartholin descreveu aparentemente esta afecção, porém em 1960, Patau e colaboradores a tornaram de conhecimento geral caracterizando-a pela trissomia do 13 (SMITH, 1972). Os achados nesta afecção são similares ao da trissomia do 18. Encontra-se também retardo psicomotor, surdez, discrania, alterações oftálmicas, hemangiomas capilares, e malformações dos órgãos internos (SANVITO, 1997). O prognóstico não é bom, segundo BARAITSER & WINTER (1998), o óbito atinge 45% dos indivíduos no primeiro mês, 70% até o sexto mês e 86% ao décimo segundo mês. O índice de sobrevida é muito baixo mesmo após os cinco anos. Síndrome de Pendred Pendred em 1896, descreveu uma afecção composta por gota e surdez profunda, de origem congênita autossômica recessiva, com incidência de 1 / 14.500. Entre as características NORTHERN & DOWNS (1989), referem que o 47 aparecimento das alterações auditivas é variável, mas a gota ocorre por volta dos oito anos de idade (com casos de presença ao nascimento). O aparecimento de retardo mental e anormal função vestibular são acrescidos por LOPES FILHO & CAMPOS (1994). Referem-nos também que a perda auditiva é neurossensorial. NORTHERN & DOWNS (1989), graduam a perda como moderada para profunda e de detecção já no primeiro ou segundo ano de idade, de forma simétrica em sua maioria. Síndrome de Perrault No ano de 1951, Perrault descreveu uma afecção que apresentava como características uma hipoplasia uterina, displasia gonadal e surdez. O quadro auditivo é composto por perda bilateral e simétrica com reservado predomínio nas altas freqüências. Freqüentemente a instalação ocorre na adolescência ou no início da fase adulta com expressão progressiva e lenta (COSTA et al., 1994). Síndrome de Pierre Robin Esta síndrome é caracterizada pela combinação típica de hipoplasia da mandíbula com glossoptose e fissura palatina. Sua incidência é aproximadamente 48 de 1 / 30.000. É considerada geneticamente heterogênea com possível origem numa malformação do primeiro arco. NORTHERN & DOWNS (1989) caracterizam esta afecção como uma doença craniofacial -esquelética, com ocorrência de retardo mental associado (20% dos casos), amputações congênitas, deslocamento do quadril, hidrocefalia, microcefalia, anomalias do esterno e úvula bífida. As orelhas podem estar deslocadas para uma posição abaixo do lugar normal, e a perda auditiva quando presente, é congênita de caráter condutivo ou neurossensorial. SANVITO (1997), acrescenta anormalidades como sindactilia, nanismo, catarata, glaucoma e microftalmia. Quanto a audição refere perda tipo condutiva. GRANATO et al. (1997) associam uma perda mista ao quadro clínico. Síndrome de Ramsay Hunt Esta síndrome caracteriza-se pela instalação de um agente viral (herpes zoster) no gânglio geniculado do VII nervo craniano. O aparecimento de vesículas herpéticas acompanham o quadro álgico, com localização no meato acústico externo e ou na membrana timpânica. A paralisia facial periférica homolateral, a vertigem aguda e a perda auditiva unilateral neurossensorial são também descritas por SANVITO (1997) como acompanhantes do quadro álgico. ALBERNAZ (1981), acrescenta o 49 aparecimento de um edema intenso no meato acústico interno, provocando a paralisia facial, que raramente regride completamente. Síndrome de Refsum Descrita por Refsum em 1946, como uma afecção hereditária recessiva, apresentando retinite pigmentosa, neuropatia periférica e ataxia cerebelar. Outras manifestações clínicas são observadas por NORTHERN & DOWNS (1989) como cegueira noturna (devido a retinite), desgaste muscular, ictiose, polineurite e obesidade. Quanto à audição, 50% dos casos apresentam perda neurossensorial progressiva. LOPES FILHO & CAMPOS (1994), referem ainda a presença de hipoacusia, tontura, zumbido e possíveis lesões vestibulares de localização central. Síndrome Renogenital A Síndrome Renogenital é uma afecção de origem recessiva composta por anomalias renais e deformações dos genitais internos. Quanto à audição, a perda auditiva é do tipo condutivo com graus que variam entre moderado e severo. Essa deficiência ocorre devido às deformações do ouvido médio com 50 presença de orelhas baixas e canais externos estenóticos (NORTHERN & DOWNS, 1989). Síndrome de Richards - Rundle Em 1959, Richards e Rundle descreveram o aparecimento correlacionado de acentuada surdez, deficiência mental, ataxia, atrofia muscular e hipogonadismo com origem hereditária autossômica recessiva. Além dessas alterações, encontram-se nistagmo, desordens do sistema nervoso e ausência de reflexos tendinosos profundos (NORTHERN & DOWNS, 1989). Quanto à alteração auditiva, SANVITO (1997) relata perda neurossensorial severa e progressiva com início precoce, evoluindo para profunda entre os 5 ou 6 anos de idade. Síndrome de Robert É uma afecção hereditária monogênica de transmissão autossômica recessiva com expressão variável e incidência extremamente baixa. Ocorre decorrente da utilização de talidomida e 50% dos óbitos acontecem ao nascimento ou nas primeiras semanas de vida. NORTHERN & DOWNS (1989) relatam um distúrbio no esqueleto com ausência congênita de uma ou ambas as tíbias, perônio curto ou malformado associado a perda auditiva neurossensorial 51 congênita de grau severo. WIEDEMANN et al. (1992) acrescentam o aparecimento de fissura palatina e oligofrenia. Síndrome de Saethre - Chotzen A Síndrome de Saethre - Chotzen é uma afecção hereditária de transmissão autossômica dominante que se caracteriza pela acrocefalossindactilia tipo III. SANVITO (1997) cita achados como braquicefalia, hipoplasia dos maxilares, hipertelorismo, órbitas rasas, ptose palpebral, malformações auriculares, clavículas curtas e sindactilia. Refere também a presença de deficiência mental, surdez, estatura baixa, estrabismo e malformações renais. BARAITSER & WINTER (1998), acrescentam a assimetria facial, o nariz em bico e as orelhas com baixa implantação. Síndrome de Sanfilippo 52 Sanfilippo e colaboradores em 1963, descreveram um quadro de mucopolissacaridose do tipo III com etiologia autossômica recessiva (SMITH, 1972). WIEDEMANN et al. (1992), referem a fisionomia grosseira com nariz em sela, lábios cheios e polpudos, macroglossia, sobrancelhas densas (fundidas às vezes na linha média), distúrbios de comportamento (com agressividade e demência), estatura acima do normal na primeira década seguida de diminuição de crescimento longitudinal e hepatomegalia. Citam que a incidência é de 1 caso para cada 30.000 nascimentos. Outros achados incluem a rigidez das articulações, hipertricose difusa, surdez e pescoço curto. O prognóstico não é bom, pois além do tratamento ser sintomático, o óbito ocorre antes da segunda década de vida, alguns anos após a evolução do quadro (SANVITO, 1997). Síndrome SHORT A Síndrome SHORT caracteriza-se pelo aparecimento de baixa estatura e atraso do crescimento intra-uterino (Short stature), articulações hiperflexíveis e/ou hérnias inguinais (Hyperrextensibility of joints or hérnia-inguinal or both), olhos encovados (Ocular depression), anomalia de Rieger (Rieger anomaly) e atraso da dentição (delaye Teething) (WIEDEMANN et al., 1992). Achados complementares como distúrbios auditivos, atraso da fala, micrognatismo, atraso da idade óssea, escassez de tecido adiposo subcutâneo e 53 configuração triangular de face são também citados por WIEDEMANN et al. (1992), nesta afecção com transmissão autossômica recessiva. Síndrome de Shprintzen Também conhecida como Síndrome Velocardiofacial, essa afecção de transmissão autossômica dominante é composta por oligofrenia discreta ou moderada, fissura palatina ou submucosa (com voz anasalada) e anomalias do aparelho cardiovascular. A fisionomia é típica com nariz saliente de dorso largo e asas hipoplásicas, face estreita e longa, micrognatismo com má oclusão e malformações discretas das orelhas (WIEDEMANN et al., 1992). Achados complementares são também descritos pelos autores como a microcefalia, a baixa estatura e a presença de escolioses. Quanto aos problemas auditivos, há indicação de aparelhos para amenizar desvios de fala e fonoterapia. Síndrome de Stickler No ano de 1965, Stikler e colaboradores descreveram um quadro sintomatológico com transmissão autossômica dominante que envolvia miopia 54 com alterações vítreo-retinianas, Síndrome de Pierre Robin, displasia epifisária e perda auditiva neurossensorial (SMITH, 1972). BARAITSER & WINTER (1998), sugerem aos recém nascidos que apresentam a Síndrome de Pierre Robin um exame e acompanhamento oftalmológico devido a semelhança com a mesma. INTERNET? refere que a perda ocorre em aproximadamente em 15% dos casos com comprometimento neurossensorial ou misto. Síndrome da Supressão do Braço Longo do 18º Cromossomo A Síndrome da Supressão do Braço Longo do 18º Cromossomo foi descoberta por De Grouchy e colaboradores em 1964. É composta por um desequilíbrio genético e deficiência mental associada a problemas visuais e auditivos (com perda auditiva condutiva e atresia do conduto auditivo externo) (SMITH, 1972). NORTHERN & DOWNS (1989), referem que a deficiência auditiva está associada à anomalias do ouvido externo e médio e aos estudos sobre o osso temporal que revelam colapsamentos da membrana de Reissner em toda cóclea, com aqueduto coclear hipoplástico e membrana tectorial retraída e rolada. As microcefalias, as mudanças retinais, as saliências nos dedos em grande número, 55 as cardiopatias, os rins em forma de ferradura, os defeitos da espinha e as anormalidades dos pés são também característicos. Síndrome de Taybi Taybi em 1962, descreveu a ocorrência de uma afecção oto-palatodigital, rara de origem hereditária, podendo apresentar transmissão recessiva ligada ao sexo, assim como transmissão dominante autossômica com expressão limitada pelo sexo. O quadro clínico envolve surdez, fissura palatina e extremidades distais dos dedos com pontas tortas (SMITH, 1972). Outros achados incluem ponte nasal largamente espaçada, dando ao rosto feições de pugilista com orelhas pequenas colocadas de maneira rebaixada, escapula como asa, boca torta para baixo, retardo mental leve, perda auditiva congênita e obliqüidade dos olhos no sentido inferior. A perda auditiva ocorre às anormalidades ossiculares com aparecimento congênito (NORTHERN & DOWNS, 1989). WIEDEMANN et al. (1992), acrescentam a freqüente presença de perda auditiva de condução com moderado grau. 56 Síndrome de Towner - Brocks Na Síndrome de Towner-Brocks a surdez neurossensorial é uma das principais manifestações clínicas, além do ânus imperfurado e das malformações da mão e microtia. A herança é autossômica dominante com variável expressão (SIH, 1998). BARAITSER & WINTER (1998), acrescentam que as hélix auriculares são excessivamente dobradas e as depressões pré-auriculares também podem estar presentes, acarretando um componente condutivo na perda auditiva neurossensorial característica. Sídrome de Treacher Collins Afecção de origem hereditária autossômica dominante, com expressão variável, é também conhecida como síndrome de Treacher - Collins Franceschetti e síndrome de Franceschetti - Zwahlen - Klein e tem como característica a disostose mandibulofacial. GRANATO et al. (1997), relatam a presença de perda auditiva condutiva, geralmente bilateral, decorrente das malformações do canal auditivo externo (com agenesia ou estenose), e malformações da cadeia ossicular com normalidade do estribo. Há hipoplasia de mandíbula e maxila, “boca de peixe”, microtia ou anotia, fístulas pré-auriculares e fissuras palpebrais de sentido inferior. SAFFER & MOCELLIN (1989), relatam possíveis hipodesenvolvimentos na 57 mastóide. NORTHERN & DOWNS (1989), acrescentam a presença de uma alteração neurossensorial, além de condutiva, em decorrência da hipoplasia do canal semicircular horizontal e anormalidades do labirinto e do vestíbulo (ósseo e membranoso). WIEDEMANN et al. (1992), sugerem como tratamento o exame precoce de audição e a utilização de próteses auditivas, além da indicação de cirurgias plásticas. Síndrome de Turner Esta alteração cromossômica caracteriza-se pela monossomia do cromossomo X, o que acarreta o seu aparecimento apenas no sexo feminino. Estudos realizados na Dinamarca, revelam que a incidência da síndrome é aproximadamente de 32 / 100.000 (GRANATO et al., 1997). O quadro clínico característico é composto por estatura subnormal (com ritmo de crescimento resultando numa estatura de aproximadamente 1,37m), infantilismo sexual (com hipodesenvolvimento da vagina, útero e mamas), e pescoço alado (com pregas cutâneas bilaterais da apófise mastóide até o ombro). Os achados complementares incluem implantação baixa dos cabelos, palato alto e estreito, hipoplasia mandibular, orelhas malformadas e retardo mental moderado (SANVITO, 1997). NORTHERN & DOWNS (1989), comentam que a perda auditiva pode ser do tipo neurossensorial, condutiva ou mista. A maior incidência é do tipo 58 neurossensorial bilateral simétrico, no alcance das freqüências médias, apesar de perdas congênitas já serem também observadas. Os outros tipos de perda atribuem-se a infeções freqüente de orelha média. Síndrome de Usher Descrita por Usher em 1914 como uma anomalia autossômica recessiva composta por alterações oculares associadas a perda auditiva (MAUDONNET et al., 1997). O quadro clínico inclui perda progressiva da visão (evoluindo para uma possível cegueira), dificuldades de enxergar à noite e retinite pigmentosa. O aparecimento de retardo mental, vertigem, psicose, perda do olfato e epilepsia podem aparecer como doenças adicionais. A perda auditiva é do tipo neurossensorial bilateral variando de grau moderado à severo. SANVITO (1997) comenta a relevância da perda auditiva em decorrência dos possíveis retardos de linguagem, e caracteriza a perda como neurossensorial progressiva. GRANATO et al. (1997), relatam uma subdivisão em três grupos desta afecção. No primeiro, a alteração ocular tem início por volta dos 10 anos e a perda auditiva é congênita e profunda (devido a ausência de função vestibular), representando cerca de 90% dos casos. O segundo, constitui aproximadamente 10% dos casos, a função vestibular é normal ou levemente alterada, a retinite pigmentar inicia aos 20 anos, e a audição apresenta alteração nas freqüências 59 altas. O terceiro é responsável por 1% dos casos e com aparecimeto de retinite pigmentar com início tardio e perda progressiva com disfunção vestibular. Síndrome de Van Buchem A Síndrome de Van Buchem é um distúrbio recessivo que compreende a hypertosis corticalis generalisata. Essa afecção envolve a osteosclerose generalizada sobre o esqueleto com freqüente paralisia do VII nervo cranial e surdez. A fisionomia do indivíduo parece como a de um leão com o maxilar quadrado. O quadro inicia na adolescência com estreitamento dos forames do crânio acarretando perdas visual e auditiva e paresia do nervo craniano. A deficiência auditiva possui configuração mista e neurossensorial (NORTHERN & DOWNS, 1989). Síndrome de Van Der Hoeve A Síndrome de Van Der Hoeve é uma afecção com transmissão autossômica dominante composta pela osteogênese imperfeita. A sintomatologia inclui fragilidade óssea, esclerótica azulada, dentinogênese imperfeita, surdez e face triangular com frontal alto. A perda auditiva tem início na segunda década de vida. Possui caráter condutivo decorrente da fixação do estribo ou da fratura da 60 cadeia ossicular, atingindo aproximadamente 60% dos indivíduos (GRANATO et al., 1997). NORTHERN & DOWNS (1989), acrescentam que existe um alto percentual de óbito na infância. Relatam em estudos do osso temporal que pode ocorrer uma formação óssea imatura ou diminuída na cápsula ótica e ossículos. Para amenizar a perda auditiva condutiva, referem a cirurgia otológica. Citam também o aparecimento de perda auditiva neurossensorial em altas freqüências. Evidenciam que a incidência da síndrome varia entre 2 à 5 casos a cada 100.000 nascimentos. SIH (1998), adiciona que pode existir comprometimento misto da perda auditiva em alguns casos. Síndrome de Vogt - Koyanagi Harada LOPES FILHO & CAMPOS (1994), descrevem a caracterização desta afecção com associação de perda auditiva neurossensorial, vertigem, uveíte, alopecia, vitiligo e poliose. SANVITO (1997), relata ainda a presença de meningincefalite com persistente encefaléia, confusão mental e sonolência. A perda auditiva ocorre devido ao envolvimento do VIII nervo craniano. O aparecimento das alterações tem início provável na fase adulta entre os 20 e 50 anos de idade e afeta ambos os sexos. Síndrome de Von Recklinghausen 61 Doença hereditária autossômica dominante de incidência relativamente elevada com estimativa de 1 / 2.500 a 1 / 3.300 e de lenta progressão. Também denominada como neurofibromatose, entre suas alterações encontram-se manchas cor de café com leite associadas a tumores cutâneos e múltiplos neurinomas (podendo atingir o VIII par craniano uni ou bilateralmente) (NORTHERN & DOWNS, 1989). LOPES FILHO & CAMPOS (1994), acrescentam a presença de zumbido, tontura e possível retardo mental. COSTA et al. (1994), caracterizam a perda auditiva como neurossensorial progressiva e orientam a utilização de prótese auditiva até a cirurgia, onde o objetivo é preservar ao máximo a audição. O quadro clínico pode evoluir para uma degeneração maligna dos tumores do sistema nervoso central ocorrendo óbito. Síndrome de Waardenburg Esta afecção descrita por Waardenburg em 1951, com característica autossômica dominante, é responsável por 1 a 7% dos casos de deficiência auditiva. Sua incidência estimada na Holanda é de 1 / 42.000 pessoas, com 4% de surdez congênita. O indivíduo, segundo NORTHERN & DOWNS (1989), apresenta os seguintes percentuais de alteração: mecha branca na parte da frente do cabelo (20%), deslocamento lateral do canto medial dos olhos (95 - 99%), proeminência 62 da raiz nasal, hiperplasia da porção média das sobrancelhas (50%) e heterocromia ou íris bicolor (45%). A configuração dos lábios como “flecha de cupido”, proeminência maxilar, fissuras palatais e perda auditiva também podem ocorrer. GRANATO et al. (1997), subdividem a síndrome em três diferentes tipos, seguindo conforme as características supra citadas em função do cromossomo lesado. Quanto a audição, AQUINO et al. (1997), citam presença de perda genética neurossensorial congênita, variando de leve para severa, com alterações uni ou bilaterais apresentando ou não características progressivas. NORTHERN & DOWNS (1989), referem achados histopatológicos com ausência do órgão de Corti e atrofia do gânglio espiral. LOPES FILHO & CAMPOS (1994), acrescentam à alteração auditiva a presença de tonturas devido as anomalias vetibulares. Para COSTA et al. (1994), a perda atinge caráter progressivo nos casos de manifestação tardia e quando instalada precocemente tende a ser simétrica, porém de intesidade variável, ocorrendo em sua maioria de forma severa à profunda. Nessa síndrome a perda auditiva possui grande significância para o bom prognóstico do paciente. A utilização de prótese auditiva é fator decisivo. Síndrome de Wernicke O aparecimento desta afecção ocorre pela deficiência de tiamina e usualmente pelo alcoolismo crônico. O quadro clínico é composto por encefalopatia, vertigem, perda auditiva neurossensorial, alteração na marcha, 63 confusão mental e oftalmoplegia. Os núcleos vestibulares concentram as principais lesões (LOPES FILHO & CAMPOS, 1994). Segundo SANVITO (1997), a encefalopatia, costuma ser precedida por um agravamento dos distúrbios nutricionais acompanhadas por emagrecimento, sonolência e apatia. Síndrome de Wildervanck Esta afecção de herança multifatorial é caracterizada por um complexo malformativo com pescoço curto, anomalias faciais e alterações auditivas com ocorrência quase exclusiva no sexo feminino. Dentre as características do quadro clínico, inclui-se a raiz nasal, maxilar e o zigoma achatados, nariz estreito e longo, ouvidos proeminentes, fístulas pré auriculares, músculos do pescoço mal desenvolvidos e rosto estreito alongado. A assimetria facial assemelha-se a encontrada na síndrome de Klippel Feil, podendo ocorrer retração do globo ocular e paralisia do VI nervo. A perda auditiva congênita é do tipo neurossensorial (NORTHERN & DOWNS, 1989). WIEDEMANN et al. (1992), acrescentam que o distúrbio auditivo pode ser condutivo, variando uni ou bilateralmente com graus moderado a grave e com possível manifestação tardia. 64 4. Considerações Finais A audição, sentido precioso e inigualável do organismo humano, é responsável pela capacidade de captar e interpretar os sons. A perda auditiva pode acarretar um maior ou menor retardo do complexo processo comunicativocognitivo, onde estão implícitos fatores como o momento que ocorre a instalação da doença, o grau de comprometimento do problema e o tipo de alteração resultante. A perda auditiva decorrente da associação dos quadros sindrômicos faz com que suas deficiências compreendam vários déficits, além dos auditivos. Sendo assim, faz-se expressivo ressaltar que a audição não envolve apenas um sistema corporal ou um órgão, mas sim, antes de tudo, um ser humano. Os autores referidos abordam satisfatoriamente a etiologia, a sintomatologia e a caracterização das síndromes. Porém, a audição ainda é pouco aprofundada. Raros são os que se detém em delinear as alterações auditivas. As anormalidades referidas na sintomatologia das síndromes abordadas, afetam algumas estruturas do organismo, conforme descrição a seguir (TABELA 1). 65 TABELA 1 SINTOMATOLOGIA NÚMERO DE APARECIMENTO PERCEN. RELATIVO (%) Anormalidades Abdominais 4 17 12 28 10 3 90 8 8 20 21 9 25 8 28 11 23 46 32 Anormalidades Cardíacas Anormalidades Genitais Anormalidades Ósseas Anormalidades Renais Disfunção Endócrina e Metabólica Perda Auditiva Região da Pele Região da Pele Região das Orelhas Região de Extremidades dos Membros Região do Capilar Região do Crânio Região do Pescoço, Tórax e Vértebras Região do S.N.C. Região Maxilar e Mandíbular Região Nasal Região Ocular Região Oral 4,4 18,8 13,3 31,1 11,1 3,3 100 8,8 8,8 22,2 23,3 10 27,7 8,8 31,3 12,2 25,5 51,1 35,5 Conforme a tabela demonstrativa, pode-se verificar que a audição ainda não está recebendo a atenção devida (TABELA 1). A análise desses resultados tem como base os achados descritos como freqüentes e ocasionais em todos as afecções relatadas. A etiologia das afecções descritas anteriormente, encontram-se referenciadas na tabela (TABELA 2). 66 TABELA 2 ETIOLOGIA Autossômica Dom. ou Rec. Autossômica Dominante Autossômica Recessiva Cromossômica Desconhecida Ligada ao Sexo Dom. Ligada ao Sexo Dom. ou Rec. Ligada ao Sexo Rec. Outros Fatores Causais NÚMERO DE APARECIMENTO PERCEN. EVIDENCIADO (%) 1 28 24 5 3 1 1 4 23 1,1 31,1 26,7 5,6 3,3 1,1 1,1 4,4 25,6 Nesta amostragem, evidenciou-se o aparecimento do alto percentual nas etiologias compostas por fatores causais diversificados (25,6%), nas afecções autossômicas dominantes (31,1%) e nas autossômicas recessivas (26,7%). Valores inferiores foram observados na origem cromossômica (5,6%), na correlacionada ao sexo (1,1%), na autossômica com caráter dominante ou recessivo (1,1%) e, (3,3%) nas de origem desconhecida ( GRÁFICO 1 - página 90). A instalação da perda auditiva é maior nos quadros congênitos (58%) de incidência, como pode ser observado no levantamento realizado e demonstrado no gráfico percentual (GRÁFICO 2). 67 GRÁFICO 1 Origem Etiológica 35 30 20 % 25 15 10 Outras Ligada ao Sexo Dom. ou Rec. Desconhecida Autossômica Recessiva Autossômica Dom. ou Rec. 5 0 Causas GRÁFICO 2 INSTALAÇÃO DA PERDA AUDITIVA Sem Referência dos Autores 11% Congênita Tardia Tardia 31% Congênita 58% 68 Sem Referência dos Autores Esta informação vem acrescentar a necessidade de um diagnóstico precoce visto que o desenvolvimento da criança estará prejudicado desde o início de sua vida cronológica. A tabela a seguir é o principal responsável pelo início desta pesquisa, pela incansável busca dos possíveis comprometimentos que as síndromes provocariam na perspectiva audiológica (TABELA 3 ). TABELA 3 Perdas auditivas Neurossensorial Condutiva Mista Neurossensorial ou Condutiva Neurossensorial ou Mista Condutiva ou Mista Neurossensorial - Condutiva ou Mista Sem Especificação Número de Aparecimento 44 10 3 10 3 2 6 12 Percen. evidenciado (%) 48,90 11,10 3,30 11,10 3,30 2,20 6,70 13,40 Os achados são assustadores, pois refletem em sua grande maioria casos com comprometimentos neurossensoriais. Na relação percentual destes achados conclui-se a seguinte representação gráfica ( GRÁFICO 3). 69 GRÁFICO 3 Tipo de Perda Auditiva % 50,00 45,00 40,00 35,00 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 1 Configuração Com base nestes resultados, busca-se o entendimento quanto à importância da audição nestes quadros, bem como, a detecção precoce da perda auditiva. Ross Mark (1992), define o que entendo como necessário para trabalhar com este seleto grupo de pacientes: “ Qualquer coisa que façamos, é necessário ter em mente, que quando testamos e tratamos uma criança pequena com deficiência auditiva, nós também estamos lidando com os pais, seus sonhos por seu filho e, mais além, o que fazemos tem um impacto que transcende tempo e lugar. São as crianças e suas famílias que precisam viver com as consequências de nossas ações precoces.” 70 5. Referências Bibliográficas ALBERNAZ, P.M. Otorrinolaringologia prática. São Paulo, Sarvier, 1989. AQUINO, T.J.M.; OLIVEIRA, J.A.A.; LIMA,W.T.A .; MOTONAGA,S.M.;FERES, M.C.L.C. Waardenburg e perda auditiva- implicações clínicas e aconselhamento genético. Rev. Bras. De Otorrino. ,63 (4): 353-59,1997. BALLANTYNE, J.; MARTIN,M.C.; MARTIN,A . Surdez. Porto Alegre, Artes Médicas, 1995. Quinta edição. 312p BARAITSER, M. & WINTER,R.M. Atlas colorido de síndromes da malformação congênita. São Paulo, Manole,1998. 233p COSTA,S.S.; CRUZ,O .L.; OLIVEIRA,J.A . Otorrinolaringologia - princípios e prática. Porto Alegre, Artes Médicas,1994. 15-285 GRANATO,L.; PINTO,c.f.; RIBEIRO,M.Q. Perda auditiva de origem genética. In: LOPES FILHO, O . Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo. Roca,1997. P.25-57 KATZ,J. Tratado de audiologia clínica. São Paulo, Manole, 1989. Terceira 71 edição. LOPES FILHO,O .; & CAMPOS, C.A . H. Tratado de otorrinolaringologia. São Paulo, Roca,1994. 481-970 MAUDONNET,O .; MAUDONNET,E.; SILVA, A . Síndrome de Usher. Rev. Bras.de Otorrino.,63(1):41-45,1997. NAUMANN, H.H. Differential diagnosis in otorhinolaryngology. http://www.hcnet.usp.br/otorrino/ 1-15,1999. NORTHERN, J.L.& DOWNS,M.P. Audição em crianças. São Paulo, Manole,1989. 421p RUSSO, I.C.P. & SANTOS, T.M.M. A prática da audiologia clínica. São Paulo,Cortez, 1993. Quarta edição. 253p ____________________________.Audiologia infantil. São Paulo, Cortez, 1994. Quarta edição. 231p SAFFER,M.;MOCELLIN,M. Otorrinolaringologia pediátrica. Rio de Janeiro, 72 Medsi,1989. Terceira edição. SANVITO,W.L. Síndromes neurológicas. São Paulo, Atheneu, 1997. Segunda edição. 599p SIH, T. Otorrinolaringologia Pediátrica. Rio de Janeiro, Revinter, 1998. 404p SMITH,D.W. Atlas de malformaciones somáticas en el niño aspestos genéticos, embriológicos y clinicos. Barcelona, Pediátrica, 1972. 368p VALENTIN JÚNIOR, M.;ZONATO,A.I.;BOGAR,P.;BENTO,R.F. Síndrome de Towner-Brocks associada à malformação de ouvido esterno e médio. Arquivos da Fundação de Otorrinolaringologia.,1(1):50-54, 1997. WIEDEMANN, H.R.; KUNZE,J;DILBERN,H. Atlas de síndromes dismórficas. São Paulo, Manole,1992. Terceira edição. 73 clínicas Referências Bibliográficas das Ilustrações 1. Todas as figuras precedidas de (*) , foram retiradas do seguinte livro : BARAITSER, M. & WINTER,R.M. Atlas colorido de síndromes da malformação congênita. São Paulo, Manole,1998. 233p 2. Todas as figuras precedidas de (**), foram retiradas do seguinte livro : WIEDEMANN, H.R.; KUNZE,J;DILBERN,H. Atlas de síndromes clínicas dismórficas. São Paulo, Manole,1992. Terceira edição. 3. Todas as figuras precedidas de (***), foram retiradas do seguinte livro : NORTHERN, J.L.& DOWNS,M.P. Audição em crianças. São Manole,1989. 421p 74 Paulo, 75