ACOLHIMENDO A MULHER VITIMADA SEXUALMENTE: DISCURSOS DE
PROFISSIONAIS DE UMA EQUIPE MULTI DISCIPLINAR
A violência sexual contra a mulher é uma forma de controle e subordinação da sexualidade
feminina e tem recebido crescente atenção da sociedade, exigindo a implantação de ações
de prevenção e tratamento de agravos mulher. Vem sendo referida de maneiras diferentes
ao passar dos tempos, era denominada intra-familiar passando depois a denominação de
violência contra a mulher, violência doméstica e por fim violência do gênero1. Na
perspectiva do acolhimento a mulheres vitimas de violência sexual em unidades de
referência para este atendimento, e considerando que as ações implementadas por
profissionais partem de sua percepção e entendimento acerca do fenômeno em foco, este
estudo buscou respostas para o seguinte questionamento: qual a percepção da equipe
multiprofissional acerca do acolhimento frente à mulher vítima de violência sexual? Nesse
contexto, os resultados deste estudo subsidiarão informações sobre a atuação dos
profissionais de saúde em uma unidade especializada, para melhoria da assistência da
saúde à mulher vítima deste tipo de agressão e direcionar os acadêmicos e profissionais
interessados nesta temática. OBJETIVO: investigar a percepção de uma equipe
multiprofissional frente ao acolhimento à mulher vítima de violência sexual. MÉTODO:
Trata-se de um estudo de caráter descritivo com abordagem qualitativa. A pesquisa foi
realizada em um hospital público de referência em atendimento às mulheres vítimas de
violência sexual do município de João Pessoa. A opção por esse local relaciona-se às
atividades laborais de profissionais que atuam frente a mulheres vítimas de violência
sexual. A população foi constituída por todos os profissionais que atuam no atendimento as
mulheres vítima de violência sexual. A amostra foi composta por 01 (um) médico(a), 01
(um) enfermeiro(a), 01(um) psicólogo(a) e 01 (um) assistente social que atuem na equipe
multiprofissional do Programa de Apoio as Mulheres Vítimas de Violência Sexual
(PAMVVS), tendo como critério de inclusão da amostra apresentarem disponibilidade e
interesse em participar do estudo. Na coleta de dados optou-se pelo questionário como
instrumento, contendo questões pertinentes aos objetivos do estudo, composto de forma
mista, as pesquisadoras obedeceram às recomendações contidas na Resolução nº 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde (CNS), os dados foram analisados através da Técnica do
Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). RESULTADOS: Para caracterização dos
participantes do estudo foram consideradas as seguintes variáveis: profissão, sexo, e estado
civil. A amostra constou de 04 (quatro) participantes, sendo 01 médico, 01 enfermeiro, 01
psicólogo e 01 assistente social. Destes participantes evidencio-se que 03 são do sexo
feminino e 01 do sexo masculino. Em relação ao estado civil, 01 é viúvo, 02 são
divorciados e 01 vive em união estável. Conforme os dados obtidos na investigação,
dispomos os discursos dos sujeitos participantes do estudo em forma de discurso coletivo,
donde extraiu-se as idéias centrais (IC), seguidos de análise e discussões. Quanto ao
questionamento “Para você, o que é acolhimento?” O discurso dos participantes do
estudo, possibilitou a extração de duas idéias centrais, a saber: IC 1) Atendimento em
ambiente adequado . DSC - ... inicialmente deve-se ter um espaço físico bastante
adequado...
ambiente
estritamente
sigiloso...
sala
adequada
para
exames
e
procedimentos... sala sem interferências... espaço de escuta. IC 2) Atendimento
humanizado. DSC - ... acolhimento médico humanizado... ato ou efeito de acolher...
atenção, consideração... recepção carinhosa... é ver a pessoa como todo... é ouvir....
recebimento do paciente com respeito e dignidade. Considerando as idéias centrais 1 e 2
ressalta-se que a adequação do ambiente para garantir conforto, espaço para diálogos,
encontros e trocas é uma sugestão para a implantação do acolhimento nos serviços de
saúde, mas, se faz necessário entender que o acolhimento não envolve só espaço físico e
sim um posicionamento ético do profissional, onde o individuo compartilha as angústias e
se responsabiliza em abrigar outrem, destacando-se ainda que a humanização das ações
receptoras dos usuários é uma possibilidade de entendimento do acolhimento, e que
contribui positivamente para a implantação do mesmo na dinâmica das unidades. Em
resposta ao questionamento “Como você entende a relação equipe – mulher
violentada?” Identificamos uma idéia central, IC 1) Relação acolhedora. DSC - ...
pautada no respeito para evitar uma segunda violência ... na escuta ... no acolhimento ...
estabelecendo vinculo de confiança e segurança... sem fazer juízo de valores. Estabelecer
relações acolhedoras entre usuário e profissionais de saúde onde existe o compromisso e
responsabilidade pela saúde do usuário, valorizando o doente e não a doença é um desafio
para mudança do modelo de atenção a saúde fundamentada na visão biomédica. Com base
no exposto, manter uma relação acolhedora com as usuárias do programa torna o
atendimento humanizado, vale ressaltar que tal atitude estabelece um vinculo de confiança
e respeito fortalecendo um elo que é alicerce importante para a continuidade da assistência.
CONCLUSÃO: Entende-se que a violência sexual é uma violação dos direitos humanos,
reprodutivos e sexuais da mulher; causando agravos imediatos e tardios. Diante desses
agravos à saúde da mulher, se faz necessário que os serviços de saúde estejam preparados
para receber de forma acolhedora pessoas em situação de violência. Baseando-se nos
resultados obtidos, pode-se observar que a percepção acerca do acolhimento é intrínseca de
cada individuo e os seus discursos apresentam uma visão relacionada a postura do
profissional e a estrutura física do serviços, contudo vale ressaltar que para promover um
atendimento acolhedor também se faz necessário que a equipe promova suas ações
voltadas para resolutividade das necessidades das usuárias, fortalecendo a busca pela
integralidade e da equidade, afim de garantir a satisfação e continuidade do tratamento por
parte destas mulheres.
Descritores: Acolhimento, Violência sexual, Compreensão
1. Rezende Edson José Carpintero, Araújo Tânia Maria, Moraes Maria Antonieta Siqueira,
Santana Judith Sena da Silva, Radicchi Ronaldo. Lesões buco-dentais em mulheres em
situação de violência: um estudo piloto de casos periciados no IML de Belo Horizonte,
MG. Rev. bras. epidemiol. [periódico on line]. 2007 [capturado em 01 mar 2012] ; 10(2):
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2. Garcia Marilúcia Vieira, Ribeiro Lindioneza Adriano, Jorge Miguel Tanús, Pereira
Gustavo Resende, Resende Alexandra Pires. Caracterização dos casos de violência contra a
mulher atendidos em três serviços na cidade de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. Cad.
Saúde Pública [periodic on line]. 2008 [capturado em 01 mar 2012]; 24(11): 2551-2563.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102311X2008001100010&lng=en
3. Oliveira Eleonora Menicucci de, Barbosa Rosana Machin, Moura Alexandre Aníbal
Valverde M de, von Kossel Karen, Morelli Karina, Botelho Luciane Francisca Fernandes
et al . Atendimento às mulheres vítimas de violência sexual: um estudo qualitativo. Rev.
Saúde Pública [periodico on line]. 2005 [capturado em 01 mar 2012] ; 39(3): 376-382.
Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003489102005000300007&lng=en.
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