O que fazer quando há desafetos na equipe?
Por Marco Tulio Zanini – responde
Gerencio, há um ano, uma equipe de oito pessoas em uma empresa de médio porte. Cerca de três
meses atrás comecei a notar uma certa animosidade entre duas funcionárias bastante talentosas,
com as quais nunca tive problemas anteriormente. Percebi que elas passaram a se evitar e mal se
olham durante o expediente. Como considero a sinergia entre os colaboradores, o
compartilhamento de informações e o clima organizacional como fatores importantes para o bom
resultado do trabalho, fui investigar o que estava acontecendo. Em uma conversa com a secretária,
fiquei sabendo que o caso é estritamente pessoal: aparentemente, uma "roubou" o namorado da
outra, que também trabalha na empresa, mas em outro departamento. Agora, não sei como
abordar as duas para tentar resolver essa questão, pois não quero parecer intrometido ou
fofoqueiro. Também não queria me envolver na vida pessoal das funcionárias, ainda que o lado
profissional tenha sido afetado. Procurei o RH e me disseram que não há política proibindo
namoro entre colaboradores. O que devo fazer?
Gerente comercial, 30 anos
Resposta:
No ambiente de trabalho no Brasil, vida profissional e vida pessoal se misturam com facilidade.
Estudos da antropologia e da cultura organizacional em nosso país apontam para esse fato.
Inequivocamente, esse é um traço do modelo brasileiro de gestão. Questões relacionadas à vida
pessoal dos empregados são transferidas facilmente para o ambiente de trabalho, podendo afetar
severamente as relações profissionais e as rotinas de produção, como nesse caso que nos relata.
A princípio, a vida pessoal dos empregados não deve ser objeto de interesse das empresas.
Círculos de amizade, preferência sexual, hobbies ou vida familiar são relações de fórum pessoal, e
a empresa deve zelar pela privacidade de seus colaboradores. Não cabe aos gestores arbitrar sobre
as idiossincrasias nos relacionamentos entre os empregados. Tais peculiaridades não são de
competência da gestão empresarial.
Em que medida os assuntos que envolvem o relacionamento entre colaboradores passa a ser
objeto de interesse da empresa? Quando passam a afetar as rotinas de trabalho e se tornam a
causa de falta de eficiência e cooperação. Portanto, a indisposição na relação entre funcionários
não é, em um primeiro momento, da competência dos gestores - a não ser que isso se torne um
problema do time e afete o rendimento do trabalho.
Se isso está ocorrendo, caberá a você alertar as funcionárias em questão que essa animosidade
entre elas não prejudique o desempenho da equipe. Não cabe a você arbitrar a relação amorosa ou
buscar promover a reconciliação entre ambas. Aqui, é importante entender o seu papel como
gestor: essa não é matéria de sua competência. Cabe a você zelar pelo bom desempenho da equipe
e, consequentemente, pela boa relação entre os colaboradores.
Se, pela razão desse conflito, os resultados estão sendo prejudicados, caberá uma advertência
solicitando que as partes entendam que qualquer problema fora do âmbito profissional não deve
afetar o rendimento da equipe. Se, contudo, ainda assim houver perda de desempenho, caberá a
você tentar romper essa animosidade entre ambas inibindo a interação entre elas - por exemplo,
alocando uma delas em outra equipe.
Seres humanos não são máquinas. Como somos suscetíveis a conflitos de interesse, mau humor e
dias ruins, muitas vezes ao longo da nossa vida teremos que enfrentar situações de discordâncias,
animosidades, brigas e indisposições com os outros.
Deve haver, no entanto, a consciência sobre a maturidade e a responsabilidade para com o
ambiente de trabalho e o desempenho. A empresa não representa o espaço ideal e não é
responsável por resolver problemas que envolvem conflitos pessoais. O local de trabalho não é um
ambiente privado e não deve apresentar tolerância aos caprichos pessoais de seus colaboradores.
Espera-se que os funcionários tenham disciplina pessoal e entendam que são responsáveis por
seus atos, comportamentos, entregas pertinentes as suas atividades e pelo zelo em criar uma
atmosfera positiva no ambiente de trabalho.
Portanto, o meu conselho é: converse, busque elevar a consciência sobre o papel de cada uma no
trabalho e a manutenção de um bom ambiente. Se não for suficiente, leve a questão a uma decisão
que impeça a perda do rendimento do trabalho. Afinal, essa e a sua tarefa como gestor. Boa sorte!
Marco Tulio Zanini é professor e coordenador do mestrado executivo em gestão
empresarial da Fundação Getulio Vargas e consultor da Symballein
Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas
no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não do Valor
Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas
informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso
dessas informações. As perguntas devem ser enviadas para:
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