Programa Segunda-feira, 26.10.2015 Romanisches Seminar 10h15 ABERTURA MARIA ANA RAMOS Universität Zürich 10h30 GEORGES GÜNTERT Universität Zürich «Uma imagem emblemática do Livro do Desassossego: as nuvens» 11h15 Pausa 11h45 IDA ALVES Universidade Federal Fluminense «Modernismo(s): Campos e Drummond à janela de nossa contemporaneidade» 12h15 Almoço 14h00 Colóquio Modernismo(s). Fernando Pessoa. Eu e (os) outros. ROSA MARTELO Universidade do Porto «Depois do poeta que era uma literatura inteira» 14h45 FERNANDO CABRAL MARTINS Universidade Nova de Lisboa «Orpheu contra o saudosismo» 15h30 Pausa 16h00 Projeção do filme Conversa Acabada de João Botelho (1982) 18h00 Beberete 26-27 de outubro de 2015 Universität Zürich Karl-Schmid-Strasse 4, 8006 Zürich, KO2-F-152 Terça-feira, 27.10.2015 Cátedra Carlos de Oliveira 10h00 Interuniversitäres Doktoratsprogramm Iberoromanistik ROSA MARTELO Conferência-seminário: «A poesia portuguesa do século XXI» GEORGES GÜNTERT «Uma imagem emblemática do Livro do Desassossego: as nuvens» Se qualquer tentativa para delimitar a extensão do Livro do Desassossego é empresa árdua, também não é fácil definirmos a personalidade do protagonista, Bernardo Soares. Não é suficiente recolher os dados do registo civil e falar dum ajudante de guarda-livros, solteiro, que trabalha para o patrão Vasques e mora na Rua dos Douradores. É impossível tratar um semiheterónimo de Fernando Pessoa como uma personagem de romance realista. Mas há ainda outro aspeto: Bernardo Soares afirma no fragmento 193: "Sou, em grande parte, a mesma prosa que escrevo" chegando a identificar-se com a própria escrita. A sua existência é, portanto, antes de mais nada literária, de modo que quem quisesse defini-la, não poderia limitar a própria perspectiva aos elementos do enunciado, mas deverá ter em conta também o nível da enunciação. Georges Güntert é professor emérito da Universidade de Zurique onde foi professor titular da cátedra de Literatura Italiana e de Literaturas Iberoromânicas desde 1973. No âmbito da literatura portuguesa, publicou em alemão Das fremde Ich: Fernando Pessoa (1971, em tradução portuguesa O eu estranho, 1983). Além disso, publicou numerosos artigos sobre a literatura portuguesa do século XX, como "Estudos sobre Fernando Pessoa" (em Romanische Forschungen, 1984), e "Fernando Pessoa: O Livro do Desassossego, um e múltiplo" (em A Língua Portuguesa em Viagem, 2003). IDA ALVES «Modernismo(s): Campos e Drummond à janela de nossa contemporaneidade» Trata-se de refletir como esses poetas, vozes incontornáveis do Modernismo em língua portuguesa, ecoam na produção poética contemporânea brasileira e portuguesa, a partir de recorte que destaca a relação sujeito e espaço urbano em alguma poesia produzida a partir dos anos 90. O tema da janela e o olhar crítico sobre o mundo e a escrita, paisagens de ruína mas também de sobrevivência. Melancolia e ironia, formas de estar na contemporaneidade. Ida Alves é professora associada de graduação e pós-graduação do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense-UFF, Niterói, Rio de Janeiro, desde 1993. Doutora em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro é Pós-Doutora pela Pontífica Universidade Católica de Minas Gerais (1995) e pela Université Sorbonne Nouvelle - Paris III. É autora de estudos sobre poesia portuguesa e brasileira modernas e contemporâneas, crítica de poesia e, mais especificamente, sobre as relações entre linguagem poética e paisagem na poesia portuguesa e brasileira. É pesquisadora-bolsista do Conselho Nacional de Pesquisa Brasil e integra o grupo international de pesquisa sobre linguagem poética e visualidade LYRA (Universidade do Porto). INSCRIÇÃO Os doutorandos da Universidade de Zurique interessados em realizar um trabalho para obtenção de créditos devem dirigir-se a: [email protected] INFORMAÇÃO www.rose.uzh.ch/doktorat/interuni.html ORGANIZAÇÃO Maria Ana Ramos, Marília Mendes, Andreia Caroline Karnopp, María Luisa Gago Iglesias, Sara Carrilho Cátedra Carlos de Oliveira Interuniversitäres Doktoratsprogramm Iberoromanistik ROSA MARTELO «Depois do poeta que era uma literatura inteira» Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen e Mário Cesariny têm em comum um reconhecido fascínio pela obra de Fernando Pessoa. Mas também partilham algum distanciamento relativamente a determinados aspectos da escrita pessoana: "se queria que a palavra poética se confundisse com o marulhar do meu próprio sangue, só me restava escrever exatamente de costas para ele [Pessoa]", resumiu Eugénio de Andrade. Como se manifesta esta relação ambivalente? Que podem dizer-nos estes autores acerca das dificuldades de escrever depois de um poeta que era uma literatura inteira? Rosa Maria Martelo é professora associada com agregação na Facul-dade de Letras da Universidade do Porto e investigadora principal do Grupo Intermedialidades do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, a cuja Direcção pertence. Doutorada em Literatura Portuguesa, tem privilegiado o estudo da poesia portuguesa e das poéticas modernas e contemporâneas. No âmbito da Literatura Comparada e dos Estudos Interartísticos, os seus trabalhos têm-se centrado nas relações palavra/imagem, particularmente nos diálogos da poesia moderna e contemporânea com o cinema. Algumas publicações no âmbito do ensaio: A Forma Informe – Leituras de Poesia (2010), O Cinema da Poesia (2012). Co-organizou a antologia Poemas com Cinema (2010). Faz parte da Rede de Pesquisa Internacional LyraCompoetics e dirige com Paulo de Medeiros a revista Elyra. Fernando Cabral Martins é professor na Universidade Nova de Lisboa. Principais livros publicados: Os ensaios Cesário Verde ou a Transformação do Mundo (1988); O Modernismo em Mário de SáCarneiro (1994); O Trabalho das Imagens (2000); Julio. O Realismo Mágico (2005); Introdução ao Estudo de Fernando Pessoa (2014). Fez, entre outras, a edição (organização, prefácio e notas) de Poemas Completos, de Mário de Sá-Carneiro (1996). Coordenou o Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, com noventa colaboradores (2008). Publicou também livros de ficção. ROSA MARTELO Conferência-seminário: «A poesia portuguesa no século XXI» Há 100 anos, a revista Orpheu veio agitar decisivamente as águas da poesia portuguesa, acabando por transformar-se no emblema de uma geração. Cem anos depois, em 2015, talvez seja de perguntarmos se, no contexto das poéticas actuais, sobrevivem questões como a valorização da ruptura, a relevância da autorreflexividade, a busca da impessoalidade no lirismo ou a valorização de uma linguagem (distintamente) poética. Não estaremos já perante um horizonte de escrita muito diferente? FILME Conversa Acabada Realização: João Botelho (1982) SALA Universität Zürich, Karl Schmid-Strasse 4, 8006 Zürich, sala KO2-F-152. FERNANDO CABRAL MARTINS Beberete na Cafetaria do Romanisches Seminar (ZUG), Zürichbergstr. 8, 8032 Zürich. É conhecida a presença do Simbolismo no Orpheu. Não há incompatibilidade entre as duas poéticas, mas, antes, continui-dade. Ora, apesar da proximidade entre Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, Orpheu ergue-se contra o Saudosismo, entendendo-o como corrente nacionalista que vira as costas ao exterior para se concentrar numa espécie de sensibilidade linguística lusíada. Assim, a noção de aportuguesamento por destradicionalização é impenetrável para os saudosistas, mas letra de lei não-escrita para Orpheu – que é movido por um pensamento construtivo fundamental. Por outro lado, as proclamações de Almada Negreiros e de Álvaro de Campos em 1916 e 1917 serão um exercício vanguardista em que a dimensão política passa para primeiro plano. Aí, o modo de pensamento é tipicamente destrutivo. «Orpheu contra o saudasismo» Sinopse: No início deste século, em profunda crise política e moral da sociedade portuguesa (uma confusa República, com restos de monarquia podre), um encontro e um momento de catástrofe: Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro reinventam a língua, o modo de dizer, pagando os riscos da sua aventura. Um rebenta a solidão no fogo dos heterónimos, que lhe permitem prolongar a existência; o outro despedaça o corpo e a própria vida, na vertigem dispersa de poemas e novelas. A história desse encontro, os textos, a amizade e a morte.