Assembleia ou arrastão? - Israel Pinheiro, professor do Departamento de Política da UFBA e
ex-presidente da Apub-Sindicato
Como professor de política, sempre ensinei aos meus alunos que a política é o reino do
imponderável. Nunca sabemos exatamente o que vai acontecer amanhã e nunca temos uma boa
explicação para o que nos acontece hoje. A coisa anda muito pelo mundo da imensa complexidade
do ser humano na dimensão aqui do coletivo. O ufanismo ou a frustração de sentido social tem o
seu epicentro nos indivíduos. E como somos, individualmente muito diferentes, sempre
demoramos muito para chegar ao momento da confluência coletiva, que sempre entendemos que
chegou tarde.
Boa parte de nossas IFES (Instituições Federais de Ensino Superior) neste momento está em um
acelerado processo de mobilização e é forte o sentimento de greve entre nossos professores.
Simplesmente a coisa estourou . Não vamos aqui buscar as “causas”. Não que isto não seja
importante, mas que não é o escopo desta pretensa pequena nota. O que queremos trazer à baila
é a natureza, completamente inusitada das nossas assembleias neste momento de repique do
autodenominado movimento docente.
A assembleia do dia 29/05, que proclamou greve aqui na UFBA, já foi muito estranha.Lá os nossos
professores em sua grande maioria queriam a greve. Foram lá para isto. Havia um clima de greve
nas fisionomias. Até aqui estamos no mais normal dos mundos. O que é muito estranho é que
havia uma claque organizada de estudantes, militantes de algum partido aguerrido,
“revolucionário”, de criação recente, porque nos meus trinta anos de vida sindical, dentro ou fora
da APUB, nunca vi algo semelhante. Os nossos partidos políticos sempre existiram, mas tinham
limites e cerimônias para intervir no movimento sindical. Agora não, a coisa é escancarada. Eles
vaiavam duramente os professores que diziam qualquer coisa, imagino eu, em desacordo com os
seus chefes e aplaudiam efusivamente aqueles que faziam o contráio. O que estava ali muito claro
era o controle e intimidação dos professores, algo, portanto, planejado, por certo. Intimidação que
funcionou. Das dezenas dos “nossos” que estavam lá, somente três falaram e foram vaiados. Este
que escreve estas linhas, protestou veemente e inutilmente contra as vaias de estudantes a
professores. Havia ali uma perigosa inversão de valores, patrocinada, certamente por quem não
pertencia ou não se identificava com a classe dos professores.
Na reunião do CONSUNI na semana passada, que tratou das greves que estão ocorrendo na
Universidade neste momento, a professora, nossa representante naquele Conselho Superior, foi
vaiada pelos estudantes amontoados nos espaços que lhes restavam, porque disse coisas que não
eram do agrado desta plateia muito particular e não usual no recinto. Ela os enfrentou, portanto
há esperanças. Na nossa última assembleia, a do dia 26 na reitoria, a situação estava muito pior.
A intimidação já começava com os cartazes agressivos e desrespeitosos com aqueles que pensam
diferente do partido único instalado nas nossas assembleias, desde o 29 de maio passado. Desta
vez a claque estava muito maior e também muito mais agressiva. E o que é pior, acho que desta
vez intimidaram mesmo os professores. Nenhum dos “nossos” falou. Eles falaram sozinhos. Se
este era o objetivo, foram vitoriosos. Não valia a pena, não ia ter significação nenhuma ali a nossa
palavra. Este, pelo menos foi meu sentimento para não ir lá. Aquilo ali não era exatamente uma
assembleia de professores, aquilo ali era um arrastão. O comportamento era de turba. Levavam
tudo o que queriam. Começaram impondo à mesa suas “regras”, que era exatamente violar todas
as regras, as mais comezinhas, do movimento sindical.
A mesa de uma assembleia é composta pela direção do sindicato, que convida quem ela acha
importante estar lá. A professora Eloisa Pinto, nossa vice-presidente em exercício, que
dirigia a mesa, já havia anunciado que alguém do “comando” estaria na mesa. Mas os
comandantes foram lá e impuseram quem eles queriam e quantos.
Resta a nós, agradecer a generosidade dos nossos novos chefes, porque podiam sim
sozinhos na mesa e acabar de uma vez com o “sindicato pelego”. Não o fizeram
existência da APUB hoje é alguma coisa útil para eles, já que em política nada é de
quem sabe, talvez tenham pensado nos 817 professores que não atenderam a sua
boicote ao referendo organizado pelo sindicato e foram lá votar. Afinal de contas,
também é uma coisa que não existe na política.
ter ficado
porque a
graça. Ou
ordem de
a burrice
Ato seguido, falaram sozinhos, aprovaram tudo o que queriam também sozinhos e sozinhos hoje
são os donos da UFBA. Nada se move hoje nesta universidade, se eles não querem. Levam a sua
turba e resolvem o assunto. A qualquer momento começam a espancar professores, só os
“pelegos” e “traidores”, por certo. Já estão falando em destituir a profa. Ana Alice, nossa
representante no CONSUNI porque disse lá coisas que eles não gostaram. Como, com que regras?
Afinal a professora foi eleita, mas parece que isto é o de menos... Já marcaram uma assembleia
para modificar o estatuto da APUB (tirando o artigo 16, o do plebscito). Um estatuto que passou
por longas discussões no interior da categoria. Mais de mil professores o aprovaram. E agora em
uma simples assembleia, com o número que tenha, eles querem jogar no lixo todo este trabalho.
Eu irei lá protestar. É o que me resta.
Enfim, muitos colegas nossos ficaram extremamente insatisfeitos com todas as concessões que a
diretoria do sindicato fez aos nossos comandantes na mesa da ultima assembleia. Para este
nossos colegas, o sindicato saiu dalí completamente desfigurado. Eu até concordo com a
desfiguração, mas entendo as razões dos dirigentes da Entidade. Eles foram eleitos para nos
representar ali. Precisam levar isto até o fim, fazendo tudo o que podem e foi o que fizeram. Um
confronto ali com os comandantes e podia ser o fim do sindicato. Há um clamor entre os
professores pela unidade do movimento , uma unidade que por certo, só poderá ser feita se for
pelos dois lados da pendenga, quando um não quer, dois não brigam, já dizia a avó do Varela.
A unidade dos comandantes é a unidade deles. Não respeitaram nada que a APUB fez ou propôs.
Passaram por cima de tudo. Não gostavam de uma coisa, entrava a turma do barulho e resolvia.
Era na base do vai ou racha. Esta é a unidade deles. A APUB, no entanto, ouvindo, como sempre a
voz de seus associados, está disposta a buscar a unidade, fazendo sacrifícios imensos. Foi o que
fizemos naquela assembleia com a desaprovação de muitos dos nossos apoiadores, por termos ido
“longe demais”. Mas tudo neste mundo tem um limite. É preciso entender que a APUB hoje não
está reduzida a uma secretaria dos comandantes. O prof. João Augusto disse com todas as letras
lá na mesa da última assembleia que a APUB está filiada ao PROIFES e que não vai mandar
ninguém para comando nacional de outra entidade. Isto e mais algumas coisas desta natureza,
nós devemos garantir. Afinal, somente 149 votaram pelo greve e são 2800 os filados ao sindicato.
Minimamente devem ser espeitados. Eles sabem da nossa responsabilidade na condução da
Entidade. Acompanharam todo este processo. Sabem, por exemplo, que o PROIFES não podia
abandonar uma mesa de negociação, partindo para uma greve intempestiva, se este processo
estava tendo um curso normal com perspectivas de um “final feliz”.
Mas já em 3 de junho, o Conselho Deliberativo do PROIFES saiu com indicativo de greve, porque o
governo não compareceu a uma reunião no fim de maio. Na segunda falha do governo,
convocamos uma assembleia de greve para o dia 26 passado. Tudo isto, porque não fazemos a
greve pela greve ou com objetivos alheios à categoria que representamos. Não é demasiado
lembrar que estas pessoas a quem nos dirigimos nesta nota, não estavam nestas assembleias,
mesmo porque são numerosas, mas merecem da nossa parte o mesmo respeito e acatamento de
sua opinião. E somente o plebiscito podem fazer este registro. É bom lembrar também que os
comandantes pongaram no movimento, pois até bem pouco tempo atrás não ganhavam eleição.
Nem chegavam a se candidatar. O que acontecerá com eles depois dos agitados dias que vivemos
neste momento na IFES?
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