Por Uma Educação Crítica em Marketing: O Modelo das Três Dicotomias de Hunt Como Ferramenta Introdutória? “A atitude crítica é filha primogênita da dialética” Délcio Vieira Salomon Autoria: Carolina Machado Saraiva de Albuquerque Maranhão, Fernanda Miranda Vasconcellos Motta, Pedro Cláudio Coutinho Leitão Resumo Pretendeu-se, neste artigo, refletir sobre a utilização do modelo das Três Dicotomias, proposto por Hunt (1976, 2002) como uma ferramenta introdutória ao ensino crítico em marketing. Neste sentido, os autores se propuseram o exercício de enquadramento dos artigos da área de marketing publicados nos anais do Enanpad (1997-2004) nos parâmetros propostos pelo modelo. Percebeu-se que este exercício pode ser uma rica maneira de introduzir o ensino crítico em marketing, mesmo se usando como ferramenta um modelo advindo de uma concepção positivista. Acredita-se que esta abordagem de ensino seja capaz de propiciar aos alunos: (1) A compreensão do processo de construção histórica do marketing; (2) O contato com as principais controvérsias a respeito da disciplina, (3) O questionamento crítico das diferentes perspectivas adotadas pelo marketing; (4) A análise do processo de interação do marketing com a sociedade em que se insere. Ao final do artigo, são apresentadas as conclusões, apontando as principais contribuições desta experiência na promoção de um ensino crítico em marketing, além de ressaltadas algumas limitações referentes a este estudo e propostas algumas alternativas de futuras pesquisas sobre o tema. Introdução Este artigo constitui uma seqüência do projeto iniciado pos Saraiva e Motta, em 2005, que tem como proposta evidenciar a relevância da condução de estudos sobre ensino crítico em marketing, por meio da consideração da diversidade de correntes teóricas que o caracterizam. O ensino de marketing costuma trazer desafios tanto para os alunos quanto para os professores. Os alunos, muitas vezes, rejeitam qualquer aprofundamento conceitual referente à disciplina, sob a alegação de que marketing é prática e não teoria. Tal fenômeno nada mais é do que a conseqüência do que se pode considerar um movimento de “espetacularização” da disciplina. O estereótipo de um profissional eminentemente técnico, cercado por prestígio social, é intensivamente propagado na literatura da área e em cursos sobre o assunto, que se multiplicam no mercado. A imagem do professor que se dedica a compreender com seriedade o marketing, avaliando sua consistência teórica e metodológica, acaba sendo a antítese de tudo isso. Em muitos casos, observa-se que esta condição pragmática do marketing é transmitida no próprio processo de ensino, com os alunos sendo doutrinados nas famosas “aulas-show”, formuladas com fragmentos de teorias, muitas vezes desconexas entre si, que propõem soluções milagrosas. “Muitos professores o fazem com tal propriedade, que aquilo que era apenas uma suposição, ainda necessitando ser testada e validada, passa a ser uma verdade absoluta, tirada da manga em momentos-chave, como panacéia para uma série de problemas na empresa”. (SARAIVA e MOTTA, 2005). 1 Este trabalho tem como objetivo desenvolver uma reflexão sobre o uso de um modelo positivista como ferramenta introdutória ao ensino crítico em marketing. Ao longo do desenvolvimento, percebe-se que mais que uma possibilidade, este exercício pode ser uma ferramenta importante para os professores que se dedicam a um ensino mais consistente, promovendo o reconhecimento da diversidade teórica do marketing e o desenvolvimento de um raciocínio analítico da disciplina. Esta nova postura do aluno frente a área é fundamental porque “o profissional de marketing puramente tecnicista, desprovido de bagagem históricofilosófica e de habilidades analíticas e críticas, torna-se cada vez menos adequado às necessidades contemporâneas”. (SARAIVA e MOTTA, 2005, p.15). Proença et al (2005) corroboram esta idéia comentando que a adoção de uma perspectiva utilitarista do marketing em nada contribui para a consolidação da disciplina como uma área acadêmica, relegando-a às técnicas somente. Na primeira parte do artigo é apresentada, sucintamente, a evolução histórica da teoria de marketing e, de forma mais detalhada, o modelo das Três Dicotomias (HUNT 1976; 2002). Em um segundo momento, realiza-se uma análise da experiência pedagógica realizada por November (2002) com seus alunos, em que o autor adota uma perspectiva hermenêutica no ensino de marketing, através do uso do modelo de Hunt (1976; 2002). Na terceira parte, é realizada a categorização dos artigos dos Enanpad´s (1997 a 2004), de acordo com o modelo estudado, evidenciando-se seus principais resultados. Ao final, são demonstradas as conclusões, destacando-se de que forma este exercício pode gerar um ganho de aprendizado para os estudantes de marketing, bem como apontado caminhos rumo à estruturação do ensino crítico em marketing. Uma incursão no debate acadêmico sobre o escopo e a natureza do marketing A preocupação em sistematizar modelos e esquemas teóricos de marketing não pode ser considerada recente. Desde a década de 40, acadêmicos se dedicam a este intento. As primeiras publicações indicam duas razões para se estudar o tema: (1) os estudantes de marketing produzem poucas generalizações, princípios ou teorias significantes e compreensivas; e (2) a crença de que os problemas fundamentais do marketing e seus procedimentos ainda não foram suficientemente abordados (BAKER, 2000). O tema voltou ao centro do debate, no início da década de 80, com uma edição especial do Journal of Marketing (1983), exclusivamente dedicada a esta questão. A partir de então, o debate sobre teoria de marketing tem sido freqüente, incluindo uma nova edição do Journal of Marketing (1999) sobre os caminhos propostos para a disciplina, sendo o desenvolvimento teórico apontado como crucial no processo de consolidação da área (DAY e MONTGOMERY, 1999). Na introdução do seu livro Marketing Theory: Evolution e Evaluation, Sheth, Gardner e Garret (1988) fazem uma pesquisa histórica das escolas de pensamento do marketing. As razões que os motivaram a desenvolver este estudo apresentam-se como sendo as cinco maiores controvérsias do marketing: O que é, ou poderia ser a perspectiva dominante em marketing? O que é, ou poderia ser, a relação entre marketing e sociedade? O que é, ou poderia ser, o domínio próprio da teoria de marketing? Marketing é ciência ou uma arte padronizada? É realmente possível criar uma teoria geral de marketing? 2 A corrente européia do marketing, representada por Baker (2000), apresenta uma abordagem mais substancial, através dos pilares função e filosofia que devem ser trabalhados conjuntamente por empresas e escolas. Infelizmente, o que se encontra na realidade, é que os pesquisadores que se envolvem em temáticas mais críticas do marketing, tais como Firat et al (1995), Holbrook (2000); Brown et al. (1996, 2000); Svensoon (2001) e Boje (2005) têm sido preteridos em benefício dos trabalhos práticos, focados em resultados imediatos. O discurso teórico, que abarca a consideração mais ampliada do papel da disciplina e de suas implicações, em longo prazo, não é o encontrado nos programas das disciplinas de marketing para a sociedade. É necessário pensar sobre os rumos que os próprios acadêmicos da disciplina a estão traçando para ela. Hunt (2002, p. 153), já alertava para esta disfunção, destacando as principais críticas dos estudantes quanto ao ensino de marketing: “Um curso muito teórico é difícil de ser entendido. Ele é mais conjectural do que factual. Ele não está relacionado com o mundo real. Ele não é prático o suficiente”. O autor, contudo, defende que estas são alegações injustificadas, fruto de um sistema de ensino que, muitas vezes, camufla o trabalho árduo que necessita ser feito e apresenta uma realidade fácil, ilusória, de entretenimento. Segundo o autor, são justamente as teorias robustas, bem construídas, que são submetidas à crítica por parte da academia, que acabam por oferecer os mais precisos indicadores para a atuação gerencial. Deste modo, a alegação de que a avaliação de tais teorias pelos alunos torna a aprendizagem excessivamente “teórica”, no sentido de ser descolada da realidade ou pouco aplicável a ela, é equivocada. Estas idéias sustentam a proposta deste artigo de que o ensino de marketing não tem feito jus a toda a riqueza e diversidade da produção existente, resultando, muitas vezes, em um processo enfadonho para os alunos e em uma missão inglória para os professores. Muitas vezes, os professores, buscando apresentar aulas mais envolventes e participativas, acabam levando um simulacro da realidade para a sala-de-aula, por meio de uma série de colagens de fragmentos de teorias e de conjecturas que não evidenciam maior preocupação com a coerência e mesmo com a eficácia das ações propostas. O Modelo das Três Dicotomias de Hunt: uma proposta integradora Shelby Hunt, aclamado como um dos mais importantes teóricos de epistemologia do Marketing, foi o ganhador do prêmio “Harold H. Maynard Award”, com o artigo “The Nature and Scope of Marketing”, no qual apresenta o Modelo das Três Dicotomias. A proposta deste modelo é categorizar os estudos de marketing de acordo com as seguintes dicotomias: macro ou micro; positivo ou normativo; e lucrativo ou não-lucrativo. Conforme Hunt (1976, 2002), o modelo proposto representa a possibilidade de solucionar as principais controvérsias da área: o marketing visto como ciência ou arte e a definição de seu escopo. Ele estabelece-se como um modelo taxonômico do marketing, envolvendo, assim, a maior parte de seus fenômenos, questões, esquemas, modelos, teorias e pesquisas. O autor se inspirou na apresentação de Kotler, em 1972, que demonstrou uma classificação do fenômeno de marketing em quatro paradigmas: micro/macro e positivo/normativo. Adicionando as categorias lucrativo/não-lucrativo e desenvolvendo a operacionalização de 3 cada uma das oito células propostas no modelo, Hunt (1976, 2002) o consolidou, passando a defini-lo como um “paradigma geral do marketing” (ARNDT, 1982). Através da classificação dos trabalhos em uma das oito células existentes, é possível desvendar o objetivo e a natureza do conceito de marketing utilizado. Esta possibilidade do modelo reforça sua importância como ferramenta introdutória para o ensino crítico de marketing. Apesar de ser fruto de uma tentativa positivista de Hunt para classificar o marketing, suas ambigüidades e abrangência oferecem aos alunos um conjunto de informações que os estimularão a refletir sobre o marketing, inclusive questionando a abordagem positivista na qual muitas vezes ele é apresentado. A dimensão lucrativa compreende todos os estudos que adotam uma perspectiva de orientação para o lucro, enquanto a não-lucrativa engloba os estudos de organizações cujos objetivos declarados não incluem a realização de lucro. A dimensão positiva adota a perspectiva de descrever, explicar, predizer e entender as atividades e fenômenos de marketing. Em contraste, a normativa adota a perspectiva de prescrever o que as organizações e indivíduos deveriam fazer ou que tipos de sistemas de marketing a sociedade deveria ter. O pano de fundo para o “deveria” pode ser mais ético/moral ou instrumental/racional. A dimensão micro e macro, “das três dicotomias é a mais ambígua” (HUNT, 2002, p. 12) e tem sua origem nos conceitos de micro e macroeconomia. A micro se referente às atividades de unidades individuais (empresas, consumidores ou domicílios) e macro à aplicação a um nível mais alto de agregação, tais como sistemas de marketing ou grupos de consumidores. O modelo das Três Dicotomias é apresentado a seguir: MODELO DAS TRÊS DICOTOMIAS Positivo Setor Lucrativo Micro (1) Problemas, questões, teorias e pesquisas referentes a: a) Comportamento do consumidor individual; b) Como as empresas determinam preços; c) Como as empresas determinam produtos; d) Como as empresas determinam promoções; e) Como as empresas determinam canais de distribuição; f) Estudos de casos de práticas de marketing. Normativo (2) Problemas, questões, teorias e pesquisas referentes a como as empresas devem: a) Determinar o marketing mix; b) Tomar decisões de preço; c) Tomar decisões de produto; d) Tomar decisões de promoções; e) Tomar decisões de embalagem; f) Tomar decisões de compra; g) Tomar decisões de marketing internacional; h) Organizar seus departamentos de marketing; i) Controlar seus esforços de marketing; j) Planejar sua estratégia de marketing; k) Aplicar a teoria de sistemas aos problemas de marketing; l) Administrar estabelecimentos de varejo; m) Administrar estabelecimentos de atacado; n) Implementar o conceito de marketing. 4 Macro Micro Setor NãoLucrativo Macro (3) Problemas, questões, teorias e pesquisas referentes a: a) Padrões agregados de consumo; b) Abordagem institucional de marketing; c) Abordagem commodity de marketing; d) Aspectos legais de marketing; e) Marketing comparativo; f) A eficiência dos sistemas de marketing; g) Se os pobres pagam mais; h) Se o marketing prejudica ou impulsiona o desenvolvimento econômico; i) Relações de poder e conflito em canais de distribuição; j) Se as funções de marketing são universais; k) Se o conceito de marketing é consistente com os interesses dos consumidores. (5) Problemas, questões, teorias e pesquisas referentes a: a) Compra, pelos consumidores, de bens públicos; b) Como organizações que não visam lucro determinam preços; c) Como organizações que não visam lucro determinam produtos; d) Como organizações que não visam lucro determinam promoções; e) Como organizações que não visam lucro determinam canais de distribuição; f) Estudos de casos de marketing aplicado a bens públicos (7) Problemas, questões, teorias e pesquisas referentes a: a) Estrutura institucional para bens públicos; b) Se a propaganda televisiva influencia as eleições; c) Se a propaganda de utilidade pública influencia o comportamento; d) Se os sistemas de distribuição existentes para bens públicos são eficientes; e) Como os bens públicos são reciclados (4) Problemas, questões, teorias normativas e pesquisas referentes a: a) Como o marketing pode ser mais eficiente; b) Se a distribuição custa muito caro; c) Se a divulgação é socialmente desejável; d) Se a soberania do consumo é desejável; e) Se a estimulação da demanda é desejável; f) Se os pobres deviam pagar mais caro; g) Que tipo de leis de regulamentação do mercado são ideais; h) Se os sistemas verticais de marketing são socialmente desejáveis; i) Se o marketing deveria ter responsabilidades sociais especiais; (6) Problemas, questões, modelos normativos e pesquisas referentes a como as organizações que não visam lucro devem: a) Determinar o marketing mix (marketing social); b) Tomar decisões de preço; c) Tomar decisões de produto; d) Tomar decisões de promoções; e) Tomar decisões de embalagem; f) Tomar decisões de compra; g) Tomar decisões de marketing internacional; h) Organizar seus esforços de marketing; i) Controlar seus esforços de marketing; j) Planejar sua estratégia de marketing; k) Aplicar a teoria de sistemas aos problemas de marketing. (8) Problemas, questões, modelos normativos e pesquisas referentes a : a) Se a sociedade deve permitir que os políticos sejam vendidos como pasta de dentes; b) Se a demanda por bens públicos deve ser estimulada; c) Se o baixo conteúdo informacional da propaganda política é socialmente desejável; d) Se deveria ser permitido ao exército usar propaganda para obter recrutas. Fonte: adaptado de Hunt (1976, 2002) Com base no modelo apresentado, há a possibilidade de classificação de todos os estudos de marketing, independentemente da concepção epistemológica que o pesquisador tenha da área, reforçando sua possibilidade de utilização como introdução ao ensino crítico. Estudiosos eminentemente técnicos, tais como Hyman et al (1991), que analisam o marketing sob uma perspectiva consultiva, o classificariam nas células normativas (2) lucrativo/normativo/micro ou (4) lucrativo/normativo/macro. Já os teóricos que dedicam sua carreira à caracterização do marketing como ciência (BAKER, 2000; HUNT, 1983), classificariam o marketing nas células (1) lucrativo/positivo/micro (3) lucrativo/positivo/macro (5) não-lucrativo/positivo/micro e (7) não-lucrativo/positivo/macro. Os que incluem no escopo do marketing as instituições sem fins lucrativos (KOTLER e LEVY, 1969, ENIS, 1973 e LOVELOCK, 1978), por seu turno, poderiam classificar seus estudos de acordo com as células (6) não-lucrativo/normativo/micro, (8) nãolucrativo/normativo/macro. 5 Como todo modelo apresentado à academia, este foi criticado sendo considerado por Robin (1977, 1978) desnecessário e confuso. Os principais ataques foram desenvolvimento impreciso de como deve ser realizada a classificação dos fenômenos de marketing nas oito células do modelo. São também apontadas deficiências na estruturação teórica do modelo, que, segundo Etgard (1977, p.146) “é fraca e falha em passar no teste de exclusividade do escopo teórico que se propõe abarcar”. Apesar de todas as críticas recebidas, Hunt (1976, 2002), manteve a estrutura original, não agregando modificações substanciais ao modelo. Ao longo do tempo, inclusive, o autor continuou reafirmando sua importância e explicando a estrutura científica do modelo, por meio de inúmeros artigos (1978 e 2002). As principais sugestões de alteração do modelo proposto foram as de Arndt (1982) e Hyman et al (1991). Arndt (1982) propôs novas dimensões para facilitar a compreensão das dicotomias. Assim, a dimensão “foco de análise” abarcaria os níveis positivo/normativo; a dimensão “nível de agregação” estaria relacionada aos níveis micro/macro; e a dimensão “objetivos das organizações e outras entidades”, referir-se-ia aos níveis lucrativo/nãolucrativo. Hyman et al (1991), por sua vez, questionaram a dimensão positiva, proposta para o modelo das três dicotomias. O que realmente constitui a ciência positiva do marketing? Nós acreditamos que quase todos os fenômenos de marketing são fenômenos normativos, quase todos os problemas de marketing são problemas normativos, quase todas as teorias de marketing são teorias normativas e quase todas as respostas de marketing são respostas normativas (...). Se marketing é normativo, nem seus critérios nem sua aspiração deveriam ser aquelas das ciências positivas (HYMAN et al, 1991, p. 6). O modelo das três dicotomias, apesar das críticas, vem sendo, desde a sua proposição, considerado e defendido como um instrumento importante para o marketing por diversos acadêmicos. Para Arndt (1982) este modelo apresenta-se como sucesso indiscutível para a classificação dos fenômenos de marketing, já que é maciçamente aceito pela comunidade acadêmica. Confirmando a solidez do modelo, Gumucio (1977, p. 8) afirma que “Hunt direciona o leitor, passo-a-passo, na construção de uma consistente base teórica de que o marketing pode, ao menos em algumas dimensões, ser ciência”. Experiência Hermenêutica de Peter November no Ensino de Marketing Peter November, professor da Victoria University of Wellington (Nova Zelândia), propôs a utilização do modelo das Três Dicotomias como ferramenta pedagógica para o aprimoramento do ensino de teoria do marketing. Ele acreditava que o exercício de classificação dos artigos no modelo era capaz de otimizar o processo de compreensão do conteúdo da disciplina e sua trajetória. No artigo “Teaching Marketing Theory: a hermeneutic approach” (NOVEMBER, 2002), o autor relata sua experiência com a aplicação desta metodologia de ensino, baseada em uma abordagem interpretativista. Foram estabelecidos diversos recursos com o objetivo de estimular os alunos a refletirem sobre o marketing, gerando discussões e comparando visões diferentes acerca da disciplina. A ferramenta que alicerçou este seu trabalho foi justamente o modelo das Três Dicotomias que, conforme November (2002), mostrou-se muito útil na estruturação de uma visão crítica, por parte dos alunos, quanto aos artigos teóricos estudados. 6 A importância do uso deste modelo deve-se à sua capacidade de apresentar ao aluno as principais dimensões referentes ao escopo da disciplina, sem se deixar influenciar por uma ou outra corrente predominante, apenas categorizando-as como dimensões diversas e complementares de um mesmo construto: o marketing. Assim, perspectivas consultivas e científicas, direcionadas ao lucro ou ao benefício social, convivem harmonicamente no modelo, ocupando seus próprios espaços, sem haver necessidade da criação de simulacros ou artifícios para transformá-las em algo que, originariamente, não são. Nesse sentido, o estudante percebe que a escolha de uma determinada perspectiva para abordar um problema de marketing representa somente uma de suas múltiplas possibilidades de análise ao mesmo tempo em que se depara com grande parte da bagagem teórica vinculada à disciplina, não se apoiando no equivocado contraste teoria versus prática. Outra importante contribuição do modelo das Três Dicotomias, segundo November (2002), é a provocação de discussões entre os alunos a respeito da classificação dos estudos de marketing. Como o modelo é uma abstração teórica da realidade encontrada, têm-se limites muito tênues entre as categorias de análise, o que gera, necessariamente, uma reflexão sobre o que cada um compreende como sendo a contribuição principal dos artigos analisados, envolvendo a estruturação de uma defesa de suas idéias através da construção de argumentos. Os resultados advindos desta metodologia utilizada por November (2002) estimularam, então, os autores deste artigo a problematizarem sobre o uso do modelo da três dicotomias como ferramenta introdutória ao ensino crítico de marketing. O modelo de Hunt: iniciando uma proposta de ensino crítico em marketing Pretende-se, neste artigo, estabelecer algumas diretrizes para o uso do modelo das três dicotomias de Hunt (1976, 2002) em sala de aula, despertando nos alunos o interesse pela compreensão do marketing como disciplina acadêmica e não apenas como um conjunto de ferramentas gerenciais. Antes de ir a campo e testar esta metodologia nos alunos, os autores deste artigo se propuseram este exercício, a fim de experimentá-lo e adequá-lo para a realidade nacional, procurando pesquisar sobre a orientação epistemológica dos trabalhos de marketing produzidos neste contexto. Os classificados foram os da área de marketing publicados nos Anais do Enanpad, no período de 1997 a 2004, totalizando um universo de 331 artigos, distribuídos da seguinte forma: Ano de Publicação Quantidade de artigos da área de marketing publicados nos anais do Enanpad 1997 27 1998 29 1999 30 2000 43 2001 40 2002 51 2003 51 2004 60 FONTE: Dados Primários/2006 A escolha do Enanpad como fonte de dados deve-se à sua representatividade como foro de discussão em relação à produção científica nacional em Administração e Marketing. É 7 inegável o ganho qualitativo e quantitativo que vem sendo agregado ao Enanpad, a cada ano, tanto em termos da diversidade dos temas tratados quanto em relação à quantidade e qualidade dos artigos submetidos ao congresso. Antes de passar à apresentação e análise dos dados obtidos, é fundamental, contudo, relatar como se deu o processo de categorização dos artigos, uma vez que ele simboliza o caminho percorrido pelos pesquisadores, servindo como referencial para sua utilização em sala-deaula. Para categorizar os artigos, cada autor classificou primeiramente um terço do total e, posteriormente, todos foram revisados de forma conjunta, possibilitando-se a discussão sobre os parâmetros adotados para a classificação e uma reflexão sobre escopo e amadurecimento do marketing no contexto brasileiro. Na tabela apresentada a seguir são apresentados os principais resultados provenientes do exercício de categorização dos artigos de marketing do ENANPAD nas categorias previstas no modelo das Três Dicotomias (HUNT 1976; 2002). CLASSIFICAÇÃO DOS ARTIGOS ENANPAD NO MODELO DAS TRÊS DICOTOMIAS Célula 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Total (1) Positivo/Lucrativo/Micro 37% 38% 37% 40% 60% 49% 61% 48% 48% (3) Positivo/Lucrativo/Macro 11% 28% 7% 14% 8% 12% 6% 10% 11% (5) Positivo/Não-Lucrativo/Micro 11% 7% 10% 7% 3% 2% 5% 5% (7) Positivo/Não-Lucrativo/Macro 7% 3% 9% 8% 6% 3% 5% (2) Normativo/Lucrativo/Micro 21% 43% 23% 33% 30% 19% (4) Normativo/Lucrativo/Macro 41% 28% 29% 3% 12% (6) Normativo/Não-Lucrativo/Micro 2% 2% 1% (8) Normativo/Não-Lucrativo/Macro FONTE: Dados Primários/2006 Por meio desta tabela, é demonstrada a incidência, ano a ano, das dimensões abordadas no modelo estudado, evidenciando-se, inclusive, o impacto benéfico que a ampliação da quantidade de trabalhos aceitos têm gerado para o enriquecimento, em termos de diversidade de abordagens para o Encontro. Observa-se que a maior parte das publicações (48%), demonstrada pela somatória dos resultados anuais, encaixa-se na dimensão (1) positiva/lucrativa/micro. Em seguida, tem-se o segundo maior percentual, localizado na dimensão (2) normativa lucrativa, micro (19%). Este resultado pode ser considerado extremamente favorável, evidenciando que a maior parte dos artigos vinculados ao Encontro tem ênfase na proposição e teste de modelos de análise, questões de pesquisa e hipóteses e no desenvolvimento de conceitos. O que é louvável, uma vez que Proença et al (2005, p. 4) comentam que, em muitos casos, os autores de marketing, (...) preferem relatar casos, descrever o que aconteceu. Falta desenhar um quadro de análise, articular relacionamento entre os conceitos para possibilitar o desenvolvimento de proposições. Hipóteses. (...) A comunidade prefere adotar supostas teorias, normativas, que seriam mais especulações. Outro dado importante diz respeito à predominância de artigos que abordam o marketing na dimensão lucrativa, uma vez que 67% deles enquadram-se nesta categoria. Esta constatação pode indicar uma preocupação dos pesquisadores em demonstrarem a relevância da disciplina no processo de tomada de decisão gerencial, tanto em termos positivos, envolvendo a 8 proposição e teste de modelos, como em termos normativos, evidenciando prescrições úteis aos decisores. Nas dimensões (5) positivo/não lucrativo/micro e (7) positivo/não lucrativo/macro, observa-se um resultado equilibrado, pois ambas estabeleceram-se em 5%. Comparativamente aos estudos direcionados ao setor lucrativo, os estudos de organizações que não visam lucro estão em proporção significativamente menor. Uma possível explicação talvez seja o fato de que uma parcela dos estudiosos de marketing pode não estar devidamente mobilizada para a realização de pesquisas nesta área, uma vez que este setor ainda é alvo de polêmicas, provocando desconhecimento do tema por muitos gestores. Outro dado interessante corresponde à porcentagem global de artigos concentrados nas dimensões micro (73%) versus macro (27%) do modelo. Tal resultado parece evidenciar que há, realmente, uma preocupação maior com os benefícios da disciplina pode agregar ao meio empresarial, que com seu impacto na sociedade. Em relação a temáticas eminentemente ligadas à categoria macro, destacam-se os estudos nacionais sobre auto-crítica (VIEIRA, 1998; 1999; e 2000; FARIAS, 2004; KOVACS et al, 2004; CARDOSO e FARIA, 2004), etnomarketing (BARROS, 2002; JAIME Jr. 2000, ROCHA e BARROS, 2004; VILAS BOAS, SETTE e ABREU, 2004; NEVES e GIGLIO, 2004), cultura e consumo (ROCHA et al, 1999), ética (HUERTAS e URDAN, 2002), meta análise (RÉVILLION, 2001; BOTELHO e MACERA, 2001), pós-modernismo (CASOTTI, 1998; LENGLER, VIEIRA e FACHIN, 2000) e teoria crítica e marketing (VIEIRA et al, 2002). Vieira et al (2002, p.1), ao empreenderem uma análise sobre os artigos de marketing apresentados nos Enanpad´s, ressaltam que: As publicações da área de Marketing estão fortemente orientadas pelas ciências empírico-analíticas. Este fato traz à tona uma lacuna no discurso crítico das teorias de Marketing. Verifica-se, portanto, a necessidade de também se adotar uma perspectiva emancipatória na tentativa de capturar a essência de um projeto filosófico diferente. Eles ainda complementam que a maioria dos estudos de marketing acaba tendo como foco o processo de “fazer” marketing, ao invés de caminharem em direção a uma reflexão crítica a respeito de como estão sendo conduzidos os estudos da área. Este esforço de análise dos artigos publicados nos anais do Enanpad evidencia, então, exatamente o que se propõe neste artigo: que há um fenômeno, possivelmente advindo da base de formação dos estudiosos (alunos e professores), que faz com que eles se preocupem em versar sobre os aspectos técnicos e conceituais do marketing, mas não sobre o processo de estudo crítico da disciplina. Ã luz da problemática deste artigo, são feitas as algumas observações. Primeiramente, é importante destacar a complexidade envolvida na tarefa de classificação dos artigos de marketing dentro das categorias propostas pelo modelo. Durante todo o processo, a busca pela objetividade foi entremeada por dúvidas e, conseqüentemente, por debates a respeito de qual seria a melhor forma de classificação, com base nos parâmetros propostos para o modelo. Observou-se que há uma subjetividade inerente ao modelo, presente na compreensão do escopo do marketing. Pedagogicamente, o que se ganha com isto, é a possibilidade se trabalhar a diversidade do marketing, reforçando sua vinculação à área das ciências sociais aplicadas. Por esta sua filiação, os fatos abordados na disciplina não se apresentam como 9 dados externos ao indivíduo. Pelo contrário, são decorrentes do processo dialético de construção da realidade. Esta pode ser uma oportunidade de demonstrar ao aluno a necessidade da responsabilidade e comprometimento do pesquisador frente ao objeto de estudo e, portanto, aceitar a subjetividade como integrante deste processo de descoberta e análise de teorias. Apropriandose do pensamento de Schaff (1983, p. 292) sobre o trabalho dos historiador, tem-se que se não se pode desfazer desta propriedade [subjetividade], inerente de certa maneira a sua ‘essência’, o sujeito que a conhece pode tomar consciência dela, compreender que ela é indissociável de todo a produção de conhecimento (...) e deve fazê-lo sob pena de ver desqualificado o nível de sua reflexão científica Outra contribuição pedagógica ao ensino crítico de marketing é a compreensão das limitações de um modelo. Domingues (2004, p. 59) esclarece que “modelos não são meros decalques do ‘real’, mas construções do espírito que só existem na teoria e que têm por função, não descrever o real empírico, mas justificar (dar razão) ao que se pensa dele ou sobre ele”. Portanto, o papel de um modelo não é (ou não deveria ser) encerrar os debates, prevendo todas as críticas, mas o contrário: estimular a sua análise com interferência de múltiplas variáveis e pontos de vista, constituindo-se em um arcabouço inicial para a condução de diversos estudos. Assim, constata-se que o exercício de enquadramento dos artigos em cada um dos parâmetros previstos no modelo, pode introduzir o ensino crítico em marketing. A atenção deve ser dada, portanto, ao exercício de classificação e não ao modelo em si, uma vez que, advindo de uma abordagem positivista, ele não permitiria o exercício crítico. Por que então escolher um modelo positivista para este tipo de perspectiva de ensino? Várias razões podem ser enumeradas: (1) o positivismo é, ainda, a corrente dominante no marketing; (2) os alunos estão familiarizados com estes tipos de modelos; (3) Hunt é um importante autor da epistemologia do marketing; (4) o modelo abrange todo o escopo do marketing e se propõe a solucionar as controvérsias da área; e (5) o mais importante, o modelo é ambíguo, o que levaria os alunos a um confronto com suas crenças, já que não estão acostumados a terem que refletir, argumentar e discordar de um modelo apresentado. Por uma Educação Crítica em Marketing A busca por metodologias que possam promover uma educação crítica parece não ser um problema somente do marketing, encontrando-se semelhante inclusive na área de Física. Isso é evidenciado nos relatos de Richard Feynman (2000, p. 244), prêmio Nobel de Física, ao descrever sua passagem como professor visitante no Departamento de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ilustrando a falta de contextualização e aprofundamento na forma como o ensino brasileiro é conduzido: Depois de muita investigação, descobri que os estudantes tinham decorado tudo, mas não sabiam o significado de nada (...). Estava tudo decorado e, no entanto, nada tinha sido traduzido para palavras com significado (...) Não via como eles podiam aprender alguma coisa daquela maneira. Ali estava ele (aluno) a falar de movimento de inércia, mas não se discutia a dificuldade em abrir uma porta, empurrando-a. Feynman (2000, 245), então, conclui, desolado, sobre a experiência vivida com o grupo de alunos brasileiros: 10 Descobri mais uma coisa (...) posso demonstrar-vos que não é ciência, mas memorização, em todas as circunstâncias. (...) Não concebia que alguém pudesse ser educado por este sistema de autotransmissão, no qual as pessoas passam em exames e ensinam outras a passar em exames, mas ninguém sabe nada. Em uma pesquisa sobre a formação dos professores de marketing no Brasil, Bacelar et al (2005) perceberam o baixo índice de publicação, inclusive no Enanpad, já que trabalhos publicados na área de Ensino e Pesquisa em Administração, existente desde 2001, apenas três são aplicados à área de marketing: um deles se refere ao perfil do profissional de marketing e não a seu ensino (MOLINA et al., 2001), outro trata de questões de pesquisa acadêmica em Marketing (SAUERBRONN e CERCHIARO, 2004) e o terceiro, único a abordar o ensino de Marketing, apresenta uma forma diferente de aplicação de uma técnica tradicional, o método de caso, em uma disciplina de marketing para graduação em administração (CAMPOS e LIMEIRA, 2003). Soma-se a estas contribuições, os trabalhos de Saraiva e Motta (2005) e o próprio trabalho de Bacelar et al (2005), ambos publicados na última edição do Enanpad. Essa escassez de material revela o desprestígio da atividade de ensino na área. Persiste, no imaginário acadêmico, principalmente da graduação, que qualquer abordagem que exija uma maior capacidade analítica e crítica é entediante e não leva a nada. O professor passa até situações constrangedoras, como pode ser percebido pelo depoimento de uma docente entrevistada por Bacellar et al (2005): Embora o professor, é... é... eu fui entendendo isso com o tempo, ele... ele... é uma... é uma profissão que tá muito próxima do ator, do artista. Muitas vezes eu falo, gente, não era para eu ser artista, mas a gente tem que ser artista, tem que ser uma atriz muitas vezes, tem que representar, porque o aluno também quer essa representação, né ? Isso é uma coisa muito cansativa também. Assim, se torna cada vez mais difícil mostrar aos alunos que praticamente muitas das ferramentas propostas como inovadoras pela literatura derivam, na verdade, de um complexo trabalho de background realizado por diversos teóricos, muitas vezes remontando ao início e meados do século XX. Bacellar et al (2005), nesse sentido, comentam que novos métodos no ensino de marketing têm sido implantados, mas, basicamente, o que fazem é reafirmar a mentalidade tradicional, impondo uma ênfase exacerbada na prática. É importante quebrar este ciclo, considerando-se o argumento de Vieira et al (2002) de que a única maneira de iniciar alguém num mundo do trabalho científico é dar-lhe uma experiência do que tal mundo realmente é: uma arena de dissenso, de múltiplas versões que nem sempre se encaixam umas nas outras. Torna-se de suma importância, portanto, a consideração de novas formas pedagógicas que resgatem e valorizem o “velho marketing”, para que se possa compreender que muito do que é hoje considerado novo deriva de debates que se iniciaram há bastante tempo. Ao resgatar essa essência do marketing, levantando a bibliografia científica da área e exercitando seu confronto frente ao modelo de Hunt (1976, 2002), espera-se que os alunos compreendam que há um esforço de consolidação da disciplina como campo científico do saber. Cada aluno, segundo Vieira et al (2002) deve ser conduzido à maturidade do senso 11 crítico, tendo sua opinião, ou adesão de opiniões, cuidadosamente formada através da observação e análise em um processo de evolução constante. Uma questão relevante para o ensino crítico em marketing, conforme abordado neste artigo é a utilização da hermenêutica como método de análise dos textos adotados. Para que os alunos reflitam criticamente sobre o marketing, a bibliografia utilizada deve ser capaz de levantar questionamentos acerca do tema, mais do que respondê-los. Assim, a proposta envolve a adoção de artigos publicados em periódicos acadêmicos e anais de congressos científicos, e não apenas a utilização de livros didáticos e revistas comerciais que enfocam o tema de uma maneira usualmente pragmática. Através das reflexões desenvolvidas, acredita-se que o exercício de classificação dos artigos no modelo tem o potencial de auxiliar os alunos a: • • • • • • • Confrontarem suas crenças sobre o que é marketing (normalmente visto pela perspectiva normativa) com o que pode ser o marketing como campo de conhecimento (perspectiva positiva); Exercitarem a estruturação de esquemas teóricos mentais para classificarem e buscarem compreender os estudos científicos sobre o tema, ampliando, assim, o conhecimento sobre todo o escopo do marketing; Enxergarem que estes esquemas teóricos mentais prestam-se a abrir os horizontes dos estudiosos para a diversidade de temáticas ligadas à área, e não para engessar a disciplina, impedindo a agregação de novos conhecimentos e de contribuições vindas de outras áreas de conhecimento; Perceberem que um mesmo fenômeno em marketing (comportamento do consumidor, por exemplo), pode ser estudado sob várias perspectivas diferentes, por vezes complementares e por vezes contraditórias, e que isto implicará em problematizações específicas e em metodologias diferenciadas, que levarão ao aprimoramento evolutivo da disciplina; Experimentarem vivenciar situações que levem ao questionamento a respeito de quão isento de valores e julgamentos o estudioso consegue ser e de forma tal situação define as características da disciplina; Compreenderem que tão importante quanto ao objeto de estudo em si é a forma como ele é problematizado pelo pesquisador, enfatizando-se a relação dialética da construção do conhecimento; Responsabilizarem-se por suas escolhas como profissionais, sabendo lidar com seus referenciais subjetivos na proposição de teorias, buscando incorporar objetividade na aplicação destas aos fenômenos de mercado e evitando a valorização de estudos sem consistência, efêmeros. Limitações e sugestões de estudos futuros Uma limitação a ser destacada refere-se à subjetividade que, certamente, se fez presente no esforço de classificação dos artigos por parte dos pesquisadores, conforme já foi mencionado anteriormente neste trabalho. Outra limitação evidenciada consistiu no fato de esta metodologia proposta de análise do modelo de Hunt (1976, 2002) ter sido apenas experimentada pelos pesquisadores, e não utilizada junto ao público-alvo delimitado, que são os estudantes de marketing. Assim, apesar de haver fortes indícios de sucesso, apresentado no decorrer do texto, não é possível afirmar que esta metodologia realmente surta os efeitos esperados junto ao público, podendo também haver variações de sua eficácia de aplicação 12 relacionadas a características peculiares, tais como grau de maturidade, interesse pelo tema, etc. Parece provável que esta metodologia seja mais bem recebida em programas de pósgraduação em ensino de marketing do que em programas de graduação, embora não se saiba avaliar o que ela efetivamente poderia causar em uma ou outra instância. As sugestões de estudos futuros são: • • • Aplicar este estudo no ambiente empírico e registrar as percepções dos alunos em relação ao trabalho de desenvolvimento crítico proposto, comparando, inclusive, as reações e benefícios sentidos em relação a alunos de graduação e pós-graduação; Utilizar-se de outros modelos de análise do escopo do marketing, como o de Enis (1973), por exemplo, para a avaliação dos artigos do Enanpad no mesmo período avaliado por este trabalho, a fim de verificar discrepâncias de escopo e buscar compreender em que um modelo difere do outro e em que eles se complementam; Desenvolver estudos metateóricos do escopo do marketing, como os propostos por Bartels (1983) com o objetivo de construir um parâmetro brasileiro acerca do escopo do marketing. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARNDT, Johan. The conceptual domain of marketing: evaluation of Shelby Hunt’s three dichotomies model. European Journal of Marketing, United Kingdom, v. 16, n. 1, p.27-36, 1982. 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