EN T R E V ISTA Por ANDRÉ ZARA fotos RUBENS CHIRI Com a faca nos dentes F ilho de libaneses e comerciantes ram as franquias, lançadas em 2009. do varejo de roupas, Faisal Ismail tem Com uma visão firme para o negócio, o comércio no sangue. No entanto, de- Ismail não vende para investidores cidiu contrariar a tradição da família e que não sejam ou estejam associados seguiu a carreira de dentista. Mesmo a dentistas. Segundo ele, isso garante assim, os ensinamentos aprendidos a qualidade do serviço. No entanto, o nos anos trabalhando na loja dos pais, profissional clínico não administra a em Foz do Iguaçu (PR), serviram para franquia, sendo necessária a figura de criar a rede de franquias de especiali- um gestor profissional, o que garante dades odontológicas Ortoplan. A ideia melhor controle da empresa. para a primeira clínica surgiu quando foi participar de um congresso no Ca- Com o modelo, a Ortoplan fechou 2014 nadá, onde percebeu um modelo de com 41 franquias e faturamento de R$ 12 negócios diferente. Com o projeto na milhões. Contudo, os planos para o futu- cabeça, conheceu o sócio, o também ro são agressivos. Neste ano, espera-se dentista Alessandro Schwertner, dan- chegar a cem unidades e, em 2016, a 200 do início à Ortoplan, em 1998. franquias (inclusive com a compra de redes concorrentes). A expansão inter- 8 edição 39 • julho | agosto • 2015 Com o sucesso, em 2005, os sócios nacional também está nos planos, re- começaram a licenciar a marca para forçando as seis unidades já abertas no amigos. Os testes deram certo e o ca- Paraguai e a primeira franquia no Chile, minho para expandir ainda mais fo- em 2015. Confira a entrevista a seguir. Com uma estratégia agressiva, a Ortoplan, rede de franquias de clínicas odontológicas, quer chegar a cem unidades neste ano e dobrar o número em 2016 edição 39 • julho | agosto • 2015 9 EN T R E V ISTA Faisal Ismail , presidente da Ortoplan Como procurou se capacitar para gerir o novo modelo de negócios? Precisei me capacitar nas áreas de gesoutros franqueadores e empresas para Buscamos alternativas e criamos um modelo de clínica integrada, com todas as especialidades da odontologia, para facilitar a vida do cliente “ “ tão e finanças. Por causa disso, conheci entender como funcionava uma franquia, sendo de saúde ou não. O meu entendimento foi que nós não vendemos produtos, mas a percepção humana do atendimento. Por isso, pensamos em um modelo não para investidores, mas somente para especialistas em odontologia. Esse é nosso diferencial: somos os únicos a negociar apenas com dentistas. Se o investidor quiser uma unidade, tem que se associar ao especialista clínico Como nasceu a Ortoplan? comum, conheci meu sócio Alessandro para ter controle de qualidade. Também Eu sou descendente de libaneses e mi- Schwertner e, em 1º de abril de 1998, em não vendemos para recém-formados. O nha família tem comércio de roupas em Foz do Iguaçu, começamos a Ortoplan. modelo de negócios não está voltado a quem tem pouca experiência clínica. Mas Foz do Iguaçu. No entanto, eu decidi Por que decidiram partir para franquias? isso não o impede de se associar a outro Completei a graduação em 1994 e, em 1995, em um congresso no Canadá, des- Quando abrimos a primeira clínica, em zer mais conhecimento. Isso serve para cobri um modelo de negócios diferente, 1998, focamos na colocação de aparelhos preservar o investidor e a franquia. Não em que as clínicas tinham atendimento dentários. Mas acompanhando o merca- queremos só vender unidades por vender. multidiciplinar, com uma sala grande do, vimos uma mudança no setor. O vo- onde operavam dois ou três consultó- lume de especialistas ortodônticos, que rios ao mesmo tempo. No Brasil, esse trabalham com os aparelhos, começou sistema já era usado, mas apenas na a crescer muito. Isso trouxe dificulda- Os dentistas estão preparados para serem empreendedores? forma acadêmica. Outro grande dife- des e houve diminuição de pacientes. É um fato, reconhecido pela classe, que rencial era utilizar o que hoje se chama Por isso, buscamos alternativas e cria- os dentistas têm pouco conhecimento técnico em saúde bucal [TSB], que é o mos um modelo de clínica integrada, de empreendedorismo. As faculdades inadimplência. Poucos são os dentistas para cidades acima de 100 mil habitan- temos competitividade de precificação. profissional similar ao enfermeiro do com todas as especialidades da odon- dispõem de um modelo ultrapassado, que buscam esse conhecimento. tes. Há um ano e meio, começamos a Oferecemos preço justo para ter quali- médico. Ele tem formação e aptidões tologia, para facilitar a vida do cliente. focado exclusivamente na formação desenhar um novo modelo para cida- dade. A faixa etária está concentrada muito acima de um simples auxiliar, A mudança exigiu adaptações e acaba- clínica, e pecam em não preparar o alu- des menores por causa da demanda entre seis e 45 anos, com um padrão de o que permite otimizar o tempo de mos até desenvolvendo um software de no para o mercado. O dentista tem uma de regiões com até 80 mil habitantes. atendimento familiar também aos sába- atendimento. Com o dentista auxilia- gestão para nos ajudar. Com a alteração, diferença grande em relação ao médico, Quais são os formatos estabelecidos para as unidades da Ortoplan? Esses locais requerem menos investi- dos. Por isso, as clínicas oferecem sem- do pelo TSB, é possível atender o dobro em 2005, começamos a testar um mo- que possui proteção de empresas como A rede oferece dois modelos de negócios. mentos, pelo menor fluxo e pela me- pre internet, café e espaço para crianças. de clientes sem perder qualidade. Eu delo de licenciamento de marca. Fizemos hospitais e laboratórios. Os dentistas As clínicas no formato padrão Plus, mais nor estrutura. Como muitas vezes atendemos a família fiquei com a ideia na cabeça, mas pre- um teste com amigos e atingimos seis não, assim como psicólogos e fisiote- amplas e com no mínimo três consul- cisava de um parceiro clínico e finan- clínicas. Com o sucesso, em 2007, procu- rapeutas. Esses profissionais têm difi- tórios, e o modelo de microfranquias ramos uma empresa especializada para culdade em alavancar o negócio, pois Smart, que pode ser aberto com um ou Quem é o cliente-alvo das franquias? familiar conjugado”), o mesmo dentis- ceiro para viabilizar o negócio, por ser novo na profissão e não ter o capital formatar a franquia. Em 2009, lançamos não foram treinados para entender de dois consultórios. Nós começamos em Focamos no público das classes B e C. mo grupo. Em termos de tratamentos, financeiro. Por meio de um amigo em o modelo no mercado. gestão e lidar com pessoas, custos e 2009 só com modelo Plus, que é padrão Não miramos a linha popular, pois não os mais buscados são na parte estética, ser dentista e a "ovelha negra" [risos]. 10 edição 39 • julho | agosto • 2015 dentista mais experiente, o que vai tra- toda (chamamos isso de “tratamento ta pode ficar horas tratando um mes- edição 39 • julho | agosto • 2015 11 EN T R E V ISTA Faisal Ismail , presidente da Ortoplan agressiva: chegar a 200 franquias. Esse tas brasileiros estão entre os três me- A Ortoplan já tem seis unidades no Paraguai e planeja expandir para outros países. Como estão se preparando para o crescimento internacional? lhores do mundo, muitos estrangeiros Temos unidades no Paraguai pela pro- com cautela, pois em algumas regiões, de países como Canadá, EUA, Portugal ximidade geográfica com nossa unida- como o Nordeste, as questões logísti- e Espanha nos procuram. Esses clientes de master em Foz do Iguaçu e por eu cas são complicadas. Isso não quer dizer buscam duas coisas: a qualidade e o pre- ser professor de cursos no país há 15 que não podemos ter franquias, já que ço. No Canadá, por exemplo, um trata- anos. Temos grande expertise lá, mas estamos abrindo em Salvador [BA] e já mento de canal custa, em média, US$ 2 não foi fácil, pois é uma cultura dife- temos unidade de sucesso em São Luís. mil. No Brasil, sai por US$ 200. Ou seja, rente. Tivemos vários problemas no co- Mas, para dar um atendimento corre- com o mesmo nível de atendimento, ele meço até alinhar a operação. Abrimos to ao franqueado, precisamos primeiro vem se divertir e paga menos. uma primeira clínica, em 2013, da qual viabilizar o modelo Plus, principalmente somos sócios em 20%, para entender em capitais, para dar suporte ao sistema Como é a relação com a concorrência? a operação e desenvolver estratégias Smart no interior. Em 2009, analisamos o mercado e já e meio, analisamos a operação de ex- existiam outras franqueadoras no pansão. Hoje, temos uma unidade que nosso segmento. Sabemos que há um atende os franqueados e desenvolve- O momento econômico brasileiro pode atrapalhar esse planejamento? preconceito por estarmos no interior mos com uma agência local de pu- É fato que alguns setores da economia e precisamos romper barreiras para blicidade a divulgação de forma in- têm problemas e outros, não. A crise competir nacionalmente. A estraté- dependente. A operação no Paraguai não é para todo mundo e ela sempre gia foi buscar regiões fora do interior responde por 11% do nosso faturamen- apresenta oportunidades. Somos oti- e do Paraná para nos dar mais visibili- to e a meta é chegar a 20%. Nós esta- mistas e investimos no País, que já vi- dade. Por isso, procuramos parceiros mos também negociando a abertura da veu e viverá novamente esses momen- em Porto Alegre [RS], São Luís [MA], primeira unidade no Chile, o que deve tos difíceis. A estratégia atual é focar Rio de Janeiro e Brasília. Hoje, existem ocorrer até dezembro. O país foi esco- mais no público B para obter fatura- mais de 40 franqueadoras no nosso lhido pela sua estabilidade, por estar mento melhor. É uma forma de traba- setor no País, mas sabemos que pou- no Mercosul e por ter características lhar a carteira de clientes e buscar no- cos conseguem manter qualidade pelo parecidas com o Brasil. vos consumidores. Toda estratégia deve ortodontia e implante dental. Uma coisa que tem crescido, e temos apostado, é a prevenção para crianças a partir dos três anos. Falando especificamente da clínica de Foz de Iguaçu, ainda trabalhamos com turismo de saúde. Como os dentis- de de comprar redes competidoras, o que vemos acontecer em breve. Já estamos em nove Estados e negociando para abrir unidades em outros, mas ser medida e modificada, se necessário. Nós fazemos isso a cada 15 dias e é bem das em outros públicos. Nós nascemos Quais são os planos para o futuro da franquia? voltados às classes B e C. A diferencia- Terminamos 2014 com 41 franquias mento, no Brasil, em que precisamos ção é agregar valor ao atendimento e abertas, com faturamento acima dos olhar para dentro do negócio para se ao tratamento clínico. Nas nossas uni- R$ 12 milhões e crescimento de 36% na fortalecer. O importante é não deixar a dades, também é obrigatório ter um rede. Outro fato importante foi que os empresa recuar. Quem deixa isso acon- administrador, pois o dentista não faz franqueados iniciaram a replicação da tecer não enxerga que existe um mo- gestão. Nossa visão é que o dentista é segunda unidade, o que mostra confian- mento de atenção, não de preocupação. o especialista clínico e o gerente dirige ça. Para este ano, queremos ter cem uni- É preciso, sim, fazer as renegociações a operação. Não há tempo para gerir dades e faturamento de R$ 20 milhões. com fornecedores, mas cortar custos e clinicar. Para o ano que vem, temos uma meta têm DNA diferente, geralmente foca- edição 39 • julho | agosto • 2015 nado à concorrência e à possibilida- diferentes do Brasil. Durante um ano perfil e pela estrutura do negócio. Elas 12 movimento está diretamente relacio- complexo, mas imprescindível no mo- é a última opção. & edição 39 • julho | agosto • 2015 13