Opinião 31 (*) Silvana Artioli Schellini O oftalmologista e a O Oftalmologia brasileira Sistema Único de Saúde (SUS) que foi implantado na década de 80, tem entre os seus princípios a universalidade e a integralidade do cuidado, princípios que não serão atingidos se os médicos brasileiros não participarem ativamente das mudanças que estão ocorrendo por determinação do Ministério da Saúde (MS). No tocante a Oftalmologia, os oftalmologistas possuem interessantes propostas que poderiam melhorar em muito a atenção para com as doenças oculares. Apesar das inúmeras ações que o Conselho Brasileiro de Oftalmologia sempre realizou, assim como as realizadas por iniciativa dos próprios oftalmologistas, a organização de programas e políticas a serem instituídos em todo o território nacional deve ser do “Estado”. Primeiro ponto: as “filas” para atendimento existem porque a hierarquização nas especialidades médicas e não apenas na Oftalmologia, não existe. Equipamentos oftalmológicos são caros. Não se pode ter e não há necessidade de se ter um consultório oftalmológico por Unidade Básica de Saúde. Há sim necessidade, e vários de nós já trabalham neste sentido, de fazermos o matriciamento de agentes de saúde, ou de outros profissionais, que deverão trabalhar realizando triagens eficientes e que realmente separem os casos que precisam da atuação do médico oftalmologista. O treinamento desses agentes de saúde poderia levar a redução das filas que existem, nas quais muitas vezes há casos que não necessitam de exame a ser feito pelo oftalmologista. Na Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP, neste ano de 2014, estamos iniciando um curso à distância para transferência de competência em Atenção Básica. Há módulos de todas as especialidades médicas e os oftalmologistas estão integrados na equipe. Para o ano de 2015, estaremos oferecendo um curso de especialização neste sentido. O formato de ensino à distância deve ser estimulado em um País continente e desigual e acredito muito que poderíamos, com o auxílio do Ministério da Saúde, atingir locais longínquos, trabalhando para a formação de recursos humanos diferenciados em escala ampliada. Segundo ponto: com a base estruturada, teríamos que pensar na atenção oftalmológica no nível secundário. Levando em conta que o Brasil possui cerca de 5.500 municípios e que número de habitantes é variável, há que se ter medidas para diferentes realidades. Para as grandes cidades, é importante ter as clínicas para exame de refração, tendo em vista que a grande e maciça demanda em Oftalmologia é o exame refracional. As clínicas devem estar alinhadas com as políticas de saúde do Ministério da Saúde e localizadas de acordo com as regionais de saúde. Para municípios pequenos, em especial os menores que 20.000 habitantes, a assistência pode ser feita por Unidades Móveis equipadas para o atendimento de exame refracional. O investimento em equipamentos oftalmológicos não se justifica para a montagem dos consultórios permanentes nas pequenas cidades pelo custo/efetividade. As Unidades Móveis existem em todo o mundo. E um parênteses agora é importante. Na Itália, Unidades Móveis equipadas para fotodocumentação do fundo-de-olho e exame angiofluoresceinográfico, com operação dos equipamentos por técnicos e transmissão das imagens via internet para centros onde estão retinólogos que analisam as imagens, fizeram com que o número de cegos por retinopatia diabética fosse reduzido. As clínicas oftalmológicas e as Unidades Móveis seriam o equivalente aos serviços de atenção secundária na óptica do SUS. O terceiro ponto está relacionado com os pequenos procedimentos cirúrgicos. Muito importante valorizar as doenças prevalentes em nosso meio, como o pterígio e os tumores palpebrais (benignos e malignos). Os oftalmologistas precisam participar de ambientes cirúrgicos ambulatoriais de forma rotineira e não apenas em campanhas, já que muitas doenças nunca foram contempladas nos “mutirões”. O quarto ponto está relacionado com os casos mais complexos, que necessitam de cirurgias como catarata e outras, ou acompanhamento crônico. É nos serviços terciários que existem as condições para este tipo de ação contra doenças que cegam e que representam ainda grandes causas de cegueira em países como o nosso, onde a catarata segue sendo uma grande causa de cegueira. Quero lembrar que as condições de atenção à saúde ocular atualmente não são conhecidas. Há desestruturação geral dos serviços de atendimento em Oftalmologia. Um grande levantamento diagnóstico da situação atual seria necessário para a instalação e escalonamento da assistência, inclusive para estabelecer referência e contra referência de forma organizada. Os oftalmologistas brasileiros, tenho certeza, gostariam muito de auxiliar nesta tarefa! (*)Silvana Artioli Schellini, diretora da Faculdade de Medicina (período de 2011/2015), membro do Conselho Universitário da UNESP Jornal Oftalmológico Jota Zero | Maio/Junho 2014