A L C O O L É M I A E C O N D U Ç Ã O Vai mais um para o caminho?... Reflexões sobre um dos principais factores causais da traumatologia no mundo Hospital São Teotónio - Viseu Sabia que... a recusa em executar o teste do ar expirado corresponde legalmente a uma infracção de desobediência à autoridade Em Portugal... a taxa de alcoolémia máxima já foi de 0,2 g/l em 2001 Introdução O Trauma como entidade nosológica existe desde sempre. Acompanhou a aurora da Humanidade e há-de permanecer até ao seu ocaso. Actualmente representa um problema particular de saúde pública. A patologia traumática constitui a principal causa de morte e incapacidade em idade produtiva, constituindo um sério encargo social e económico, quer para o indivíduo, quer para a família, a sociedade e o estado. O Trauma é reconhecidamente uma entidade complexa, de abordagem multidisciplinar e de causa multifactorial. Representando um dos principais factores causais, o consumo de bebidas alcoólicas assume um peso importante em todas as vertentes do trauma. Associa-se a uma grande parte dos acidentes de viação e de trabalho, à violência social e doméstica, aos maus tratos infantis, a crimes sexuais, entre outros, todos eles capazes de produzir vitimas de trauma. O consumo de Jorge Pereira Jorge Pereira No fim de semana do Rock in Rio Lisboa... em escassas 16 horas, a GNR numa operação de fiscalização na capital, identificou quase 400 condutores alcoolizados, número que corresponde ao valor encontrado em todo o país em circunstâncias normais. Campanha da MADD (Mothers Against Drunk Driving) As campanhas publicitárias das companhias de bebidas alcoólicas... encontram-se em larga medida viradas para a juventude. O melhor exemplo é dado pelos festivais de Verão (exemplo: SuperBock Super Rock). álcool está também associado a importantes sequelas psicológicas do trauma e à recorrência traumática. Pelos motivos aludidos, torna-se importante abordar o consumo de bebidas alcoólicas numa vertente epidemiológica, com o objectivo de prevenir o trauma. O nexo de causalidade estabelecido em numerosos estudos e amplamente divulgado, precisa ser reforçado de forma a que as populações tomem consciência das suas contribuições nocivas. É necessário, sobretudo, avaliar as medidas restritivas existentes, diagnosticar as suas falhas e criar e implementar novas e mais eficazes medidas. O trabalho presente não pretende ser um estudo exaustivo sobre o assunto. Pretende sim ser uma chamada de atenção para a gravidade do problema, sempre tratado com tanta leviandade. Pretende também analisar as várias metodologias existentes noutros países, comparando-as com a realidade nacional, tentando sugerir soluções para o nosso problema. 1 V A I M A I S SINAIS Abril 2003: Foi hoje condenado a 25 anos de prisão o condutor embriagado, protagonista do pior de todos acidentes em contramão até à data, que resultou na morte de 4 outros condutores, em Março de 2002, no IC1. O jovem condutor de 24 anos foi considerado culpado dos crimes de condução perigosa, homicídio simples tentado e dano qualificado e condenado a cumprir a pena máxima da Lei portuguesa, um acontecimento que não tem qualquer precedente em Portugal. Abril 2004: Pelas 21:15 horas deu entrada no Serviço de Urgência do Hospital São Teotónio um indivíduo de 23 anos de idade, vitima de colisão entre duas motorizadas. O condutor do outro veículo, que transportava consigo o filho de 18 meses, foi encontrado morto no local. A PSP que acorreu à Urgência, solicitou a colheita de uma amostra de urina para estupefacientes e recusou, perante o olhar estupefacto dos profissionais de saúde, a amostra de sangue para alcoolémia, argumentando já haverem passado as duas horas do acidente previstas na Lei. A alcoolémia pedida no Hospital, sem validade legal, era de 2,3 g/l. U M P A R A O C A M I N H O ? último proíbe a utilização de bebidas alcoólicas, proibição ainda hoje praticada pelos muçulmanos. O álcool servia como alimento, para O álcool selar pactos, celebrar festivais, encorajar os Alguns primatas superiores, como o guerreiros, seduzir amantes... chimpanzé, consomem frutas apodrecidas A cerveja foi largamente utilizada na apenas para sentir o efeito inebriante dos seus Idade Média. Nessa época, a cerveja era prosucos em fermentação. Por isso, é perfeitaduzida de forma artesanal, restando no produmente aceitável assumir que o Homem primito final uma grande quantidade de resíduos tivo também o tenha feito. E esta deve ter sido extremamente ricos em proteínas e hidratos de a primeira forma de consumo de álcool etílico. carbono. Assim, a cerveja constituía um nutriA fermentação é um processo de transformativo alimento, propriedade aproveitada de ção de açucares em álcool etílico (o único álcoforma bastante curiosa pelos monges. Nas ol adaptado à alimentação) que ocorre de forépocas de jejum, sendo permitido beber, os ma natural através do contacto dos produtos monges bebiam sobretudo cerveja, alimentancom leveduras presentes no ar. Os Historiadodo-se sem necessidade de ingerir nutrientes res especulam que os povos nómadas terão sólidos. Foi mesmo estabelecida uma regra aprendido a fazer cerveja a partir de grãos e conventual que lhes permitia beber 5 litros de água antes de os saberem transformar em pão. cerveja por dia, por pessoa. Não admira que se Contudo, a fermentação regular de frutos e tornassem peritos na produção das mais digrãos na produção de álcool para consumo versas categorias de cerveja. Actualmente, a humano só deve ter ocorrido com o alvorecer cerveja é submetida a múltiplos processos de da agricultura. A actividade agrícola permitiu filtração, perdendo as suas propriedades alia produção de matéria prima necessária à mentares e o seu papel nutricional. fermentação das primeiras bebidas alcoólicas (vinho e cerveja). As primeiras evidências de Enquanto a fermentação cessa quanuma estilo de vida dedicado à agricultura da- do é atingido um grau alcoólico de 14º a 15º, a tam do ano 4.000 a. C. na Suméria e existem aí destilação é um processo artificial, desenvolprovas de produção de álcool de forma regu- vido pelos Árabes por volta do ano 800 d.C., lar. Existe mesmo um painel sumério, em es- que permite atingir um grau alcoólico da orcrita cuneiforme, com a descrição de uma re- dem dos 55º. Os primeiros a utilizar esta meceita de cerveja e dos efeitos da bebida nas todologia na produção de bebidas alcoólicas pessoas. Os Celtas, os Gregos, os Vikings, os foram os Chineses e os Hindus, tendo o proEgípcios, os Romanos... em todas as culturas cesso chegado à Europa apenas no século XI. há registos de produção e consumo de bebidas Assim, nasceram bebidas hoje amplamente alcoólicas. As provisões para a “outra vida” conhecidas, características das regiões onde dos Egípcios incluíam álcool. são produzidas e dos produtos usados: vodka (batata), rum (cana de açúcar), brandy (bagaço), bourbon (milho), whisky (malte), tequilla (cacto)... 1. Dados históricos Julho de 2004: Um bebé de um mês e meio faleceu ontem ao final da tarde no Hospital Distrital de Bragança na sequência de um atropelamento numa passadeira de uma avenida daquela cidade. A mãe e o irmão de 3 anos, sofreram múltiplos traumatismos e encontram-se internados. O condutor, de 28 anos de idade, estava alcoolizado. Segundo informações da PSP o automobilista apresentava uma alcoolémia de 1,58. Apesar de detido, já foi libertado sob medidas leves de coacção. Outubro de 2004: Foi considerado em morte cerebral hoje pelas 12 horas o bombeiro espanhol que deu entrada no Hospital de São Teotónio anteontem à noite. Foi vitima de um choque frontal com um camião que vinha em transgressão, ultrapassando uma outra viatura numa zona de traço contínuo no IP5. O condutor do camião, que escapou ileso, conduzia sob o efeito de álcool e foi detido pela GNR. O jovem fazia parte de um grupo de bombeiros do país vizinho que se prontificou a ajudar no combate aos recentes incêndios fora de época. 2 O lugar das bebidas alcoólicas na cultura moderna continua a ser de enorme importância. “Sair para um copo” é um ritual que serve de desculpa para o encontro de múltiplas pessoas de diferentes níveis sociais e culturais. Na sociedade em que vivemos, as bebidas alcoólicas são utilizadas para alívio A primeira bebida fermentada foi das desigualdades e das tensões provocadas provavelmente o vinho de tâmara, produzido por um estilo de vida cada vez mais exigente, na Mesopotâmia há cerca de 10.000 anos. Sa- por vezes com resultados nefastos. Porém, bemos também que os Egípcios (1.600 a. C.) consumidas com moderação, podem ser conforam grandes produtores de bebidas fermen- sideradas um bom “lubrificante” social. tadas, tendo inclusivamente sido os inventores da palhinha, para beber uma cerveja ainda O alcoolismo e os seus problemas não são um muito rica em impurezas sólidas dos grãos. conceito recente. Como vimos, mesmo em Alguns dos seus textos referem problemas culturas ancestrais já havia a preocupação com sociais com origem na embriaguez. Os Babiló- estes problemas. Mas, à excepção dos países nios terão sido os primeiros a criar leis respei- muçulmanos, a maioria dos esforços para a tantes à regulação das “casas de beber”. Há moderação no consumo têm efeitos nulos ou referências sobre o álcool, e particularmente muito temporários. sobre o vinho, no Velho Testamento, em antigos textos egípcios e babilónios, em tratados místicos da Idade Média e no Alcorão. Este Jorge Pereira V O trauma A I M A I S U M P A R A O Florence Nightingale, trabalhando no Hospital de Scutari, demonstrou o valor dos cuidados A saga do trauma é um reflexo da de enfermagem e graças aos seus esforços se História do Homem. Quando o ser humano reconheceu uma nova classe profissional. começou a caminhar neste planeta, alheio a É, de facto, em tempos de tudo o que o rodeava, a vida devia constituir um perigo constante, resultando muitas vezes guerra que a Medicina de Trauma tem tido as em lesões. O papiro Edwin Smith, escrito entre suas mais significativas evoluções. Desde a 3.000 e 1.600 a.C., descreve uma abordagem Guerra de Secessão, a Guerra Franco-Prussiasistematizada do doente vitima de trauma na e as Guerras Mundiais, todas contribuíram com uma metodologia da “cabeça aos pés” para o desenvolvimento da Medicina e da ainda hoje utilizada. O apogeu da cultura Traumatologia, fundamentalmente pelo maloGrega marcou a fundação da Medicina mo- grado elevado número de casos à disposição. derna, fundamentalmente com Hipócrates de Nessa perspectiva, merecem um lugar de desCós. Foi na Escola de Cós que nasceu a pala- taque a Guerra da Coreia e a Guerra do Vietvra TRAUMA, a partir da tradução da frase name pelos avanços técnicos introduzidos grega “a ferida que possuis não foi por nós durante esses conflitos. Na Coreia foi utilizado criada... “ (ferida:τραυμα) presente em cerâ- pela primeira vez o rim artificial, que evoluiu micas da época, encontradas na ilha de Cós. para os actuais aparelhos de hemodiálise. A Na Idade Média pouco se avançou e foi com o utilização de helicópteros para evacuação de Renascimento e o aparecimento de estudos traumatizados, no Vietname, foi o equivalente anatómicos rigorosos que se iniciou uma nova moderno da ambulância de Larrey. era de compreensão das lesões traumáticas. Actualmente vivemos uma época de Destacam-se alguns nomes como Ambroise viragem. Por um lado, temos um crescimento Paré, William Harvey, entre outros. dos fenómenos traumáticos, quer pelo aumen A dimensão do papel do médico na to da violência nos grandes centros urbanos, abordagem do trauma, sobretudo no trauma quer pelo aumento do tráfego automóvel. Por de guerra, foi revolucionada por Dominique outro lado, dispomos de meios técnicos e farJean Larrey. Cirurgião Chefe de França duran- macológicos como nunca. Por todo o mundo te o Império Napoleónico, Larrey trabalhou na têm-se desenvolvido metodologias de actuamelhoria das condições sanitárias dos centros ção para as diversas classes profissionais no de tratamento, no treino de pessoal médico e sentido de melhorar a prestação de cuidados paramédico e na criação do conceito de trans- em trauma (ATLS®, DSTC®, TNCC®, porte primário de doentes. A ele se deve a PHTLS®), surgiram novos fármacos para invenção da ambulância, um carro puxado a combater complicações (antibióticos de largo cavalo, com a qual fazia chegar os traumati- espectro, factor VIIa recombinante), bem como zados desde o campo de batalha até ao local cuidados de suporte avançado de vida, etc. de tratamento definitivo. Até essa altura, os Contudo, sentimos que ainda há muito a fazer. feridos em combate eram deixados no campo O trauma e o álcool encontraram-se, de batalha até serem recolhidos os sobreviven- tes no final da contenda. Larrey colhia-os o muito provavelmente, muito cedo, neste camais rapidamente possível para os tratar, re- minho. Porém, a preocupação séria com os duzindo de forma apreciável as taxas de mor- efeitos deletérios desta associação são muito recentes. Os efeitos mais visíveis encontram-se bilidade e mortalidade. na sinistralidade rodoviária. Todos os dias entram nos nossos Serviços de Urgência vitimas de trauma, condutores de veículos, com taxas de alcoolémia inacreditavelmente elevadas. O primeiro Código da Estrada legislado em Portugal data de 1954. Nessa altura, as preocupações com a condução sob o efeito do álcool não existiam e o diploma não as menciona. O Código da Estrada publicado no Decreto-Lei 114/94 revoga o antigo e, num artigo (87º), proíbe a condução sob a influência do álcool (alcoolémia superior a 0,5 g/l) e estabelece uma coima de 20.000$00 a 100.000$00. Em Napoleão tinha Larrey em alta consideração caso de alcoolémia superior a 0,8 g/l a coima chegando a dizer “ele é o homem mais virtuopode ascender aos 200.000$00. Muito se evoluso que alguma vez conheci”. iu desde então. Mas, mesmo neste campo, há O advento da Enfermagem desem- muito que pode (ou deve), ainda, ser feito. penhou também um papel crucial na melhoria dos cuidados aos doentes traumatizados. Foi durante a Guerra da Crimeia (1853 a 1856) que Jorge Pereira C A M I N H O ? 2. O álcool e o organismo “In all things there is a poison, and there is nothing without a poison. It depends only on the dose wether a poison is poison or not” Paracelso O álcool é a droga psico-activa recreativa mais usada no nosso país e, talvez, no mundo. É uma droga depressora do sistema nervoso central, apesar de ser utilizada muitas vezes como desinibidora e estimulante. Isto por possuir uma acção bifásica. Em doses baixas tem uma acção ligeiramente estimulante e, à medida que as suas concentrações no sangue vão subindo, a estimulação dá lugar à sedação, ao estupor e ao coma. O álcool, logo após a sua ingestão, é rapidamente absorvido no estômago e na porção proximal do intestino delgado, passando para a circulação sanguínea. Só cerca de 5% do total de álcool absorvido é eliminado directamente através da expiração, saliva, transpiração e urina. O restante necessita de ser metabolizado no fígado, que lentamente produz metabolitos elimináveis, decompondo o álcool à taxa de 0,1 g/l por hora. A velocidade de metabolização do álcool pelo fígado não é modificável, nem usando café, chuveiros gelados, exercício físico ou induzindo o vómito. Existem, no entanto, factores que poderão potenciar os seus efeitos, como o tabaco e medicamentos depressores do sistema nervoso. Portanto, após uma boa noite “bem bebida” é possível ainda ter uma alcoolémia elevada pela manhã. Quando o álcool atinge o cérebro, órgão abundantemente irrigado, rapidamente faz sentir os seus efeitos. 3 V A I M A I S MITOS O álcool dá força: O álcool tem um efeito estimulante e anestesiante, que disfarça o cansaço provocado pelo esforço físico. O resultado é maior cansaço, quando termina o efeito do álcool. U M P A R A O O cérebro é um órgão rico em lípidos e o álcool tem uma solubilidade aumentada nos lípidos, difundindo-se rapidamente no parênquima cerebral. Facilmente se compreende porque o álcool afecta as capacidades físicas e psíquicas de um sujeito quase logo a seguir à sua ingestão. C A M I N H O ? - Peso: as pessoas obesas apresentam um volume de dispersão alcoólica maior, pelo que terão tendência para TAS menores; - Idade e Sexo: factores de ordem hormonal e enzimática parecem produzir diferenças importantes na forma como o álcool é metabolizado. Assim, a capacidade metabólica Logo após a ingestão instala-se uma dos jovens parece ser menor, relativamente O álcool aquece: O álcool é responsável por fase de excitação caracterizada pela desinibi- aos adultos. Na mulher, a menor quantidade uma vasodilatação periférica que provoca, ção, alterações de humor, discurso interminá- relativa de água corporal e a menor capacidavel e, por vezes, demonstrações de extremos de enzimática, produzem uma maior alcoolésimultaneamente, uma sensação de calor e emocionais. À medida que se avança para a mia; uma perda de calor com queda da temperatura fase de depressão, o sujeito mostra excesso de - Consumo de álcool anterior: um central. confiança nas suas capacidades, voz arrastada e distúrbios sensoriais. Continuando a consu- indivíduo com consumo habitual de álcool O álcool mata a sede: A sensação de sede é mir álcool, passará por uma estado confusio- sofrerá os seus efeitos comuns a TAS mais uma resposta fisiológica à falta de água no nal, com descontrolo motor, náuseas e vómi- elevadas que um indivíduo abstémio; organismo. As bebidas alcoólicas não satisfazem esta falta. Pelo contrário, aumentam a perda de água por efeito diurético. Portanto, durante uma refeição, é boa ideia acompanhar um copo de vinho com um outro de água. O álcool é digestivo: O álcool, de facto, aumenta a velocidade de esvaziamento gástrico, podendo mesmo dar uma sensação de estômago vazio. Mas, a médio prazo, produz alterações inflamatórias gastroduodenais como gastrites e úlceras. O álcool alimenta: O álcool não tem qualquer valor nutritivo, uma vez que as calorias nele presente não conseguem ser utilizadas pelo organismo. O álcool é um medicamento: Apesar de conseguir produzir alivio de dores, o álcool não tem qualquer utilidade no tratamento ou cura de nenhuma doença. Na realidade, o álcool nem serve para a desinfecção de feridas. O álcool facilita as relações sociais: O álcool em quantidade moderada tem um efeito desinibidor que parece facilitar a convivência. Mas, na verdade, a incapacidade de controlar os consumos muitas vezes associada, pode prejudicar a relação com os outros, que, com o tempo, se torna pouco profunda e artificial. 4 tos, antes do coma. Uma overdose alcoólica é - Estado físico e psíquico: estados de caracterizada por náuseas, vómitos, respiração fadiga, gravidez, perturbações emocionais e superficial e rápida, palidez e coma, podendo mesmo alterações climáticas podem produzir mesmo levar à morte. aumentos de sensibilidade ao álcool; O álcool, como qualquer outra droga produz dependência e taquifilaxia, cujo síndrome de abstinência é caracterizado por perda de apetite, náuseas, ansiedade, irritabilidade, confusão, alucinações, tremores e suores. Estes sintomas são habitualmente mais intensos às 24-72 horas após a abstinência e podem evoluir para convulsões, delírio e mesmo morte, requerendo cuidados médicos diferenciados. - Hora do dia: a presença de alimentos no estômago atrasa consideravelmente a absorção do álcool pelo que a toma de álcool em jejum produz TAS mais elevadas. Aparentemente, a metabolização do álcool é mais rápida durante a noite, influenciando também a TAS. - Características da bebida: não só a graduação da bebida influência a TAS. O álcool contido numa bebida quente ou gaseificada Um outro aspecto importante, e quaé absorvido mais rapidamente do que de uma se sempre descurado, é o efeito deletério do bebida sem essas características. álcool na resposta ao trauma grave. De facto, numerosos estudos apontam para uma per- É muito difícil prever o efeito que turbação grave dos mecanismos homeostáti- uma bebida poderá ter na TAS em determinacos hemodinâmicos e neuroendócrinos na do momento. A maioria de nós gosta de penpresença de uma intoxicação alcoólica aguda. sar que conhece a sua tolerância ao álcool, mas Esta aumenta a instabilidade hemodinâmica na realidade a sua relação com a TAS é muito presente numa hemorragia grave e atrasa a variável. Quando um sujeito admite estar a subida da pressão arterial média durante a chegar ao seu “ponto crítico”, já há muito que ressuscitação. Além destes efeitos, o alcoólico o ultrapassou, não estando em condições de crónico sofrerá outras complicações durante o efectuar tarefas de responsabilidade, como trauma, mercê das profundas alterações fisio- conduzir. patológicas provocadas pela insuficiência heA TAS é actualmente determinada de pática (hipocoagulação, hipoalbuminémia, duas formas: no ar expirado e no sangue. A baixa imunidade, etc.). determinação no ar expirado utiliza um apareTaxa de alcoolémía no sangue (TAS) lho próprio que faz as conversões necessárias. Este é o método utilizado pelas forças de se Dá-se o nome de alcoolémia à pre- gurança, quer no rastreio quer no diagnóstico. sença de álcool no sangue, exprimindo-se em Em caso de necessidade de confirmação, imgramas de álcool puro por litro de sangue. A possibilidade de realizar o teste no ar expirado este valor chamamos Taxa de Alcoolémia no por parte do utente ou em caso de acidente, é Sangue e serve para quantificar o volume de realizada a colheita de sangue. A colheita deálcool dissolvido no sangue de um indivíduo verá ser efectuada em estabelecimento de sanum determinado momento. A TAS tem uma úde autorizado e a amostra é enviada para o relação directa com o consumo e com os efei- Instituto de Medicina Legal. Só os resultados tos do álcool. Contudo, essa relação varia de fornecidos por esta entidade poderão servir de indivíduo para indivíduo e, no mesmo indiví- prova, apesar do teste ser efectuado em qualduo, varia consoante o momento. Assim, a quer laboratório de análises dos Serviços de TAS depende das seguintes variáveis: Urgência, por razões de ordem clínica. Jorge Pereira V A I M A I S U M P A R A O C A M I N H O ? Tendo em conta as variações indivi- craniano, doenças digestivas e do sistema nerduais e os múltiplos factores que modificam a voso central. TAS, um guia genérico para manter a TAS abaixo de 0,5 g/l inclui: (1) duas bebidas standard na primeira hora e não mais de uma bebida por hora após a primeira hora para o homem e (2) uma bebida standard na primeira hora e não mais de uma bebida por hora após a primeira hora para a mulher. E o que chamamos uma bebida standard? Bem, o volume permitido varia de bebida para bebida, mas de uma forma geral, podemos dizer que o copo medida está adaptado à bebida (cálice para a aguardente, taça para o vinho e copo para a cerveja). As seguintes sugestões também poderão ser úteis: - Evitar “shots”; - Evitar misturas - é muito fácil perder a conta do número de bebidas; - Iniciar com água ou uma bebida de baixa graduação. Também se pode alternar bebidas alcoólicas com não alcoólicas. A condução A graduação A graduação é o volume, em percentagem, de álcool puro por litro de bebida. Exprime-se em graus e varia de bebida para bebida. As bebidas fermentadas têm uma graduação que vai de 3º a 15º e as destiladas poderão atingir os 55º. Isto significa que uma bebida fermentada pode ter 30 ml a 150 ml de álcool por litro e as destiladas poderão chegar aos 550 ml de álcool por litro de bebida. Jorge Pereira Em 1987, a Organização Mundial de Saúde definiu os parâmetros aceitáveis de consumo de bebidas alcoólicas. Segundo esses conceitos, podem consumir bebidas alcoólicas os indivíduos saudáveis e apenas em doses moderadas e às principais refeições. Um homem adulto normal não deve consumir mais do que 24 gramas de álcool por dia, o que equivale, em média, a 250 ml de vinho ou 3 copos médios de cerveja, repartidos pelas 2 principais refeições. A mulher adulta não deverá consumir mais do que 16 gramas de álcool, equivalendo a 2 copos de vinho ou 2 copos de cerveja. A ingestão de bebidas alcoólicas destiladas deve ser excepcional. Não devem consumir bebidas alcoólicas as crianças e jovens até aos 18 anos, mulheres grávidas ou a amamentar, todas as pessoas durante o trabalho e a condução rodoviária, doentes alcoólicos e pessoas com história de traumatismo A área do trauma onde a influência do álcool é mais visível é a sinistralidade rodoviária. Apesar da influência do álcool em todas as áreas da traumatologia, é na condução que os seus efeitos são mais mediáticos, melhor mensuráveis e onde se tem trabalhado mais na vertente profilática. Uma condução segura requer atenção a diversos acontecimentos em simultâneo e uma capacidade de reacção rápida quando algo inesperado acontece. O condutor precisa estar alerta, ter uma boa acuidade visual e uma coordenação física óptima. Uma alteração nestas capacidades pode significar a diferença entre a vida e a morte. E o álcool é capaz de perturbar todas elas. Como veremos, o Código da Estrada proíbe a condução a qualquer indivíduo com uma TAS superior ou igual a 0,5 g/l. Porém, isto não significa que taxas inferiores sejam inofensivas. 5 V A I M A I S CASOS REAIS No Verão de 1979, uma adolescente de 18 anos gozava as primeiras férias depois de ter concluído o liceu. Tinha assegurado a entrada na Faculdade de Letras de Lisboa no Outono que se seguia. Naquela noite, decidiu aceitar o convite do primo para ir ao Cinema. Partiram, conduzidos por um vizinho, um amigo de 21 anos a quem o pai oferecera um carro novo havia poucas semanas. A mãe da jovem estava descansada. Conhecia todos eles e sabia não bebiam bebidas alcoólicas. Pelas 3 da manhã, a mãe acordou sobressaltada com uma sensação estranha de que algo estaria errado. Já não voltou à cama. Passou a noite no alpendre da casa, com vista sobre a estrada, aguardando o regresso dos jovens. Mas foi a Policia que apareceu, eram sete da manhã. As notícias não eram boas. Por volta das 2 da manhã, quando regressavam da cidade por uma estrada larga e com boa visibilidade, foram apanhados por um condutor embriagado que se despistou numa curva. Os dois rapazes haviam morrido. A sua filha estava viva, mas em coma. Acordou algumas semanas depois com lesões cerebrais irreversíveis que a impediam de caminhar, comer ou mesmo comunicar. Hoje, com 44 anos, a jovem sobrevive, enclausurada num mundo só seu, graças aos cuidados prestados diariamente pela sua mãe ,que a tem acompanhado desde então. Deixou de viver a sua vida normal para se dedicar de alma e coração a uma filha que podia ter sido a sua maior felicidade. Não tivesse sido um jovem embriagado que, por sinistra ironia, escapou ileso ao acidente e nunca quis saber do destino da jovem e da mãe, a quem arruinou as vidas. U M P A R A O O risco de acidente começa a aumentar logo com o primeiro copo. A capacidade de conduzir fica reduzida com uma taxa de 0,3 g/l, manifestando-se por várias alterações das capacidades físicas e psíquicas do indivíduo: desinibição com audácia descontrolada (“julga-se o melhor condutor do mundo”); redução do campo visual e da audição com perda de vigilância em relação ao meio envolvente; dificuldade na percepção das cores; dificuldade na percepção das distâncias e velocidades, com prejuízo da visão estereoscópica e nocturna; aumento do tempo de reacção com lentificação e descoordenação motoras e uma diminuição marcada da resistência à fadiga. Estes efeitos vão-se potenciando à medida que se continua a ingerir álcool. Com efeito, regista-se já a partir de uma TAS de 0,3 g/l uma aumento do número de acidentes, relativamente a quem conduz sem beber. As bebidas alcoólicas, mesmo que tomadas ocasionalmente, pelas perturbações que provocam, são responsáveis por um elevado número de acidentes e um elevado número de mortes. O risco de se ver envolvido num acidente cresce à medida que aumenta a alcoolémia: - 0,5 g/l aumenta o risco 2 vezes - 0,8 g/l aumenta o risco 5 vezes - 1,2 g/l aumenta o risco em 20 vezes - 2 g/l aumenta o risco em 80 vezes - Uma alcoolémia de 3 a 5 g/l apresenta-se habitualmente com coma e mais de 5 g/l pode ser mortal. Uma chamada de atenção em especial para os jovens. Em virtude do seu estado de espirito próprio, a procura de novas experiências e uma maior sensação de invulnerabilidade, aliada a um efeito mais acentuado do álcool, fazem com que este grupo etário goze de um particular risco de envolvimento em acidentes de viação. Os acidentes ocorrem essencialmente à noite e durante os fins-de-semana. Com vista à sua segurança e à dos restantes Extraído de “Estranha forma de utentes da via pública, estes sujeitos deveriam vida” de José Carlos Marques e Miguel ser alvo de medidas especiais de prevenção, que serão abordadas neste trabalho. Nascimento Grande Reportagem de 13 de Agosto de 2005 C A M I N H O ? pelas doenças cardiovasculares e o cancro. Além de causa importante de mortalidade, o trauma também produz morbilidade grave capaz de ferir o tecido económico e social, já que afecta principalmente indivíduos em idade produtiva. O estado vegetativo, as tetra e paraplégias, os múltiplos graus de incapacidade laboral e até mesmo o síndrome de pósstress traumático, são algumas das inúmeras sequelas que incapacitam o indivíduo para o trabalho e, eventualmente, para a vida social, aumentando os encargos familiares e da sociedade. Não existem estatísticas globais para o trauma, e os perfis estatísticos variam de país para país. Os dados que obtemos dos Estados Unidos da América revelam taxas de mortalidade da ordem dos 146 por 100.000 habitantes (incluem todas as causas de trauma previstas no ICD-10), valor que se tem mantido estável nos últimos anos apesar do decréscimo das mortes por homicídio. Os acidentes de viação representam a principal causa de mortalidade em trauma (à volta de 50%) e as quedas são a principal causa global de trauma, com perto de 800.000 internamentos e 11,5 milhões de lesões. Nos Estados Unidos, a frequência das lesões por arma de fogo varia de estado para estado, sendo responsável por cerca de 20% do total dos óbitos. Este padrão de mortalidade é o mais vezes encontrado, apesar das excepções: um estudo realizado na Cidade do Cabo em 1999, encontrou-se uma taxa de trauma por violência de 55%, cerca de 60% por lesão penetrante. Neste estudo, a sinistralidade rodoviária apenas contribuiu com 25%. Este estudo tinha como objectivo verificar a relação do uso da álcool e drogas com o trauma, não fornecendo dados sobre a mortalidade. Parece ser um dado global que a taxa de mortalidade por trauma é maior no sexo masculino. A causa para este facto, actualmente, não está completamente esclarecida. Aparentemente, as mulheres são mais cuidadosas, quer ao volante, quer na realização de outro tipo de tarefas. Os dados apresentados pelo Comité Europeu da Organização Mundial de Saúde apontam para um total de 800.000 mortes devidas a trauma no ano de 2002 na Europa (Documento de trabalho da 55ª Sessão - Bucareste 2005). As causas são variáveis com os países, sendo que no geral, a causa traumática mais comum na Europa é o suicídio com 164.000 mortes, seguido pela sinistralidade rodoviária com O trauma 127.000. Estes dados não são característicos O trauma como entidade nosológica dos distintos países da União Europeia. Em é a principal causa de morte no grupo etário Portugal a principal causa é a sinistralidade entre o ano e os 44 anos de vida. Se conside- rodoviária, assim como na Alemanha, França e rarmos todos os grupos etários, esta doença Espanha, por exemplo. O estudo SARTRE 3 ocupa o terceiro lugar, apenas ultrapassado (Social Attitudes to Road Traffic Risk in Eu- 3. Dados estatísticos 6 Jorge Pereira V A I M A I S U M P A R A O rope) identifica diversos comportamentos de risco associados à sinistralidade rodoviária, referindo que os condutores sabem da existência desses riscos mas continuam a praticar os mesmos comportamentos. São eles o excesso de velocidade, o (não) uso do cinto de segurança e ... claro, o álcool. matar os erros. O registo de feridos graves versus ligeiros é também deficiente. Podemos verificar isto na prática, quando o agente de autoridade regista como grave qualquer doente que fique internado, nem que seja umas horas para vigilância do seu estado, quando a definição proposta pela Direcção-Geral de Viação implica um internamento superior a 24 Em Portugal, a taxa de mortalidade horas. De qualquer modo, a conduta negligenpor causas externas (E47 a E56 do ICD - 9) é de te na condução é responsável por mais de me50,2 por 100.000 habitantes, sendo que a região tade dos homicídios em Portugal. Segundo de Lisboa e Vale do Tejo contribui com 171,8 Luís Miranda Pereira, Director-Geral dos Serpor 100.000 habitantes. A grande fatia é repre- viços Prisionais, 78% do total dos homicídios sentada, como já foi aludido, pelos acidentes correspondem a crimes cometidos nas estrade viação. Em 2001, os 42.521 acidentes de das, em que 90,1% dos condutores são alvo de viação foram responsáveis por 1.466 mortes e pena suspensa. 57.044 feridos, cerca de 10% dos quais graves. Dos diversos tipos de utente envolvido, o condutor parece ser a vitima mais frequente (em 55,8% do total), seguido do passageiro (30,6%) e do peão (13,6%). Apesar de tudo, os números têm vindo a diminuir de forma gradual, como se verifica pelo quadro seguinte. Mas, há autores que afirmam que estes números não são reais, principalmente no que toca à mortalidade. C A M I N H O ? - O afogamento é, no Canadá, a segunda causa acidental de morte em vitimas com menos de 65 anos, responsável por 551 mortes em 1998. O álcool esteve envolvido em 42% das mortes de vitimas com 18 anos e em 36% do total de adultos. Dos 50 acidentes náuticos mortais em 2000, em 46% houve envolvimento de taxas de alcoolémia superiores às permitidas por lei. Em 2001 o álcool foi considerado pelas autoridades o factor condicionante em 50% dos acidentes com vitimas mortais. - Neste país, em 1992, houve 86.076 hospitalizações relacionadas com o álcool. A principal causa destes internamentos é a queda, com cerca de 20% do total, seguido pela síndrome de abstinência (17%) e a sinistralidade rodoviária (13%). O grande número de hospitalizações por queda revela a sua gravidade, sendo uma pequena percentagem do total de doentes que acorrem aos Serviços de Urgência por esse motivo. Num Centro de Trauma de Ontário, nos anos de 2000/01, 27% dos doentes admitidos por queda tinham TAS superiores ou iguais a 0,8 g/l. - Os incêndios são considerados uma calamidade por todas as sociedades. No Canadá, em 1992, o prejuízo causado por incêndios ascendeu aos 1,24 mil milhões de dólares. Nesse ano, das 6.701 mortes atribuídas ao álcool, 2% resultaram de incêndios. O álcool “As estatísticas não são fiáveis” é o titulo de um artigo de Valentina Marcelino em que entrevista Luís Manuel Escudeiro, investigador da área da segurança rodoviária, professor da Universidade Técnica de Lisboa e formador em condução defensiva avançada. Para este autor, a contagem das mortes na estrada feita pelas entidades oficiais é errada, uma vez que há vitimas que não são contadas. Apesar de haver dados que apontam para uma responsabilidade do álcool nos diversos aspectos do trauma, é na sinistralidade rodoviária que o seu efeito é indiscutível. Os estudos realizados noutras áreas não têm sido muito conclusivos no estabelecimento de uma relação causa-efeito. Assim é com a violência, com os crimes sexuais, com os acidentes de - 22% dos Canadianos afirmam contrabalho, etc. No acidente de viação, essa rela- sumir bebidas alcoólicas durante o seu trabação está perfeitamente estabelecida, em diverlho. A baixa de produtividade anual devida ao sos estudos. álcool (por absentismo, má performance, aciMas, deixemos os números falar por si... A dentes de trabalho, etc.) custou ao Estado 4,1 MADD (Mothers Against Drunk Driving), mil milhões de dólares. divisão do Canadá, em parceria com o Centre - Das 310 pessoas hospitalizadas no for Addiction and Mental Health publicaram uma resenha estatística sobre o tema “álcool, Ontário em 1999 por acidentes desportivos, trauma e condução” cuja consulta se reco- 37% fizeram TAS e destas, 21% tinham TAS menda (www.madd.ca). Vejamos, a titulo de superior ao legal. As vitimas que acabam por falecer durante o transporte ou já no Hospital não são contabilizadas, aparecendo mais tarde nos registos com outra causa de morte. Caso flagrante é o dos doentes vitimas de trauma que acabam por falecer nas Unidades de Cuidados Intensivos em falência orgânica e sépsis. Existe exemplo, os dados sobre o Canadá, país calmo um factor de correcção utilizado oficialmente do ponto de vista socio-político, rico e com (aumenta mortalidade em 14%), mas, segun- pouca projecção mediática: do Luís Escudeiro, não é suficiente para colJorge Pereira 7 V A I M A I S INACREDITÁVEL “Vários estudos efectuados demonstram que não existe relação directa entre o número de mortes na estrada e os limites legais de alcoolémia, demonstrou a ANEBE Associação Nacional de Empresas de Bebidas Espirituosas - que lançou uma campanha destinada aos jovens condutores (...) a “100% Cool”. O país europeu com menor número de mortes na estrada por efeito do álcool é o Reino Unido, precisamente o país com uma taxa de alcoolémia mais alta, a saber, de 0,8 g/ l. (...) A França, que em 1995 reduziu a taxa legal de 0,7 para 0,5 g/l, apresenta uma taxa de mortalidade nas estradas superior aos seus países vizinhos, mais em concreto, a Bélgica (0,5 g/l), a Alemanha (0,8 g/l), a Itália (0,8 g/ l) e a Suíça (0,8 g/l).” É inacreditável a forma como se podem manipular os dados de modo a que sejam favoráveis à nossa opinião. De facto, este artigo publicado no site da Galp (fastaccess), revela que a ANEBE é tendenciosa. Não poderia ser de outra forma, pois cabe-lhe defender os seus direitos, ou seja, a promoção das bebidas alcoólicas. Ou será que alguém acredita que a ANEBE tem por “objectivo o combate aos problemas de carácter social relacionados com o consumo excessivo ou inadequado de bebidas alcoólicas”, como é referido no artigo? Uma Associação constituída pelas principais empresas produtoras de bebidas espirituosas (Bacardi®, Martini®, Ricard®, Caves Aliança®...)? Na realidade, a maioria dos estudos demonstra uma relação directa entre a taxa de mortalidade e a TAS, de tal forma que existe mesmo uma tabela de risco de acordo com a TAS. A afirmação do artigo, em que compara os dados da França com os países vizinhos é verdadeira. Contudo, esquecem-se de dizer que no mês em que entrou em vigor a diminuição da TAS, houve um decréscimo de 4% na taxa de mortalidade. Este dado não parece ser importante, para a ANEBE. Que relação entre as mortes na estrada e os limites de alcoolémia? - pergunta o 8 U M P A R A O C A M I N H O ? titulo do artigo. Uma relação muito Mortes em acidentes em que o álcool foi um factor contribuinte (extraído de Crash facts estreita - respondo eu. 2001) - Na violência e no crime existem múltiplos factores modificadores do comportamento, como o álcool e as drogas psicoactivas, e é difícil discernir, por vezes, o papel desempenhado por cada um. Contudo, os dados Canadianos referem que, em 1995, 2% das mortes atribuídas ao álcool resultaram de violência. Reclusos em prisões federais confessam o uso de álcool num grande número de ocasiões. 38% dos reclusos por crimes graves afirmam ter cometido os crimes sob influência do álcool. Dos homicidas, 34% estariam ébrios e 24% estariam ébrios e sob influência de drogas ilícitas. Com a agravante de, para indivíduos com menos de 20 anos, o risco de morte ser maior com uma TAS menor. Isto deve-se quer a uma menor capacidade de metabolização do álcool por sistemas enzimáticos menos “maduros”, quer por uma menor experiência de condução e de evicção do perigo. - Cerca de 27% dos suicídios no homem e 17% na mulher foram atribuídos ao álcool, em 1992. Como já foi dito anteriormente, a relação causa-efeito não se encontra efectivamente determinada, mas os números são, no mínimo, curiosos. Se consultarmos a publicação da MADD, apercebemo-nos que os dados para os Estados Unidos, Europa e Austrália não são muito diferentes nas suas relações com o álcool. Mas, é na sinistralidade rodoviária que encontramos uma relação causa efeito sólida. O álcool perturba seriamente a capacidade de conduzir, sendo os seus efeitos crescentes com a TAS, correspondendo um risco cada vez maior. A este respeito, o que se tem visto nos últimos anos é um crescendo de responsabilidade pela sinistralidade causada pelo álcool por parte de um grupo etário mais jovem. Na tabela seguinte, de origem neozelandesa (Crash facts 2001) apercebemo-nos que é entre os 15 e os 29 anos que o álcool contribui para o maior número de mortes (cerca de 52%). Idade Condutores Passageiros Outros utentes 0-14 0 11 5 15-19 22 32 6 20-24 44 25 6 25-29 37 17 9 30-39 50 11 12 40-49 19 11 9 50-59 8 3 8 60+ 11 3 12 total 191 113 57 O gráfico apresentado, da mesma fonte, já demonstra que esses dados são tidos em conta, uma vez que a legislação possui duas TAS legais máximas. 0,3 g/l para jovens e 0,8 g/l para maiores de 20 anos. Portanto, a juventude deve ser uma seria preocupação, quer pelo seu próprio envolvimento, quer pelo envolvimento de outros. Infelizmente, isso não é assim, pelo menos no nosso país, como veremos. Por outro lado, o problema da condução sob o efeito do álcool parece ser um problema do sexo masculino. Vários estudos apontam que mais de 80% dos condutores envolvidos em acidentes fatais sob efeito do álcool são homens. E, curiosamente, 66% desses condutores não possuem uma licença de condução ou se possuem não se encontra legal. A grande maioria destes acidentes fatais são causados por indivíduos que conduzem automóveis (veículos de 4 rodas ligeiros). Porém, na Nova Zelândia, uma pequena percentagem (inferior a 10%) é devida a motociclos, e menos de 1% condutores de camião. Em Portugal, há um peso importante do grupo de condutores de motorizada, com uma distribuição etária bastante diversificada. Os tipos de acidente mais mortais, com condutor sob efeito do álcool são as colisões frontais e os despistes. Estes acidentes Jorge Pereira V A I M A I S têm maior probabilidade de acontecer entre as 21 horas de sexta-feira e as 9 horas de domingo. Este padrão chama a atenção, mais uma vez, para os jovens, pois trata-se do horário utilizado por eles nas suas saídas de fim-desemana. U M P A R A O C A M I N H O ? bidas alcoólicas, sobretudo bebidas destiladas e cerveja, de forma semanal e não acompanhado por refeições. Em contraste, as regiões banhadas pelo Mediterrâneo, cuja cultura foi modificada pela ocupação romana, viram os seus hábitos ser modificados para um consumo moderado de vinho, de forma diária e acompanhando as principais refeições. São regiões de clima mais ameno, onde a cultura da vinha rapidamente se adaptou. Das antigas províncias romanas, somente o Reino Unido regressou aos seus padrões de origem, sendo os restantes países, entre os quais Portugal, produtores e consumidores de vinho. Porém, nas últimas décadas, e sobretudo desde os anos 60, os padrões de consumo do sul da Europa têm vindo a modificar-se. Começa a ver-se um padrão misto. Durante a semana há um consumo moderado, sobretudo às refeições, e ao fim-de-semana, associado a manifestações sociais, culturais e recreativas, há um consumo exagerado de cerveja e bebidas destiladas. 65,3 litros de cerveja. Em 1999 Portugal ocupava o 3º lugar no ranking europeu, apenas vencido pelo Luxemburgo e pela Irlanda, mantendo o consumo per capita de 11 litros anuais. O nosso país situa-se entre os de maior produção e consumo vinícola do mundo. E o elevado consumo tem uma relação forte com a elevada produção. Em 1999 a produção foi de 7,8 milhões de hectolitros, ocupando o 9º lugar como produtor mundial. A produção de cerveja foi de 6,8 milhões de hectolitros, valor também nada desprezível. Cada português gasta anualmente 150 Euros em bebidas alcoólicas, mais do que em pão ou leite. Este valor médio transforma-se em 1.500 Euros, no caso dos doentes alcoólicos. Apesar de tudo, as coisas têm vindo a melhorar. Segundo dados da publicação World Drink Trends, em 2002 fomos o 7º consumidor mundial com uma média de 9,7 gramas de álcool puro consumido per capita. Mas, mesmo assim, Portugal consome o dobro da média mundial, que nesse ano foi de 5,79 gramas. O problema do consumo de bebidas alcoólicas em Portugal é um problema essencialmente cultural. Somos tradicionalmente “um país de brandos costumes” com uma população residente de 10.356.117 habitantes, segundo os censos de 2001, onde o consumo excessivo de bebidas alcoólicas associado a problemas de saúde atinge 10% da população. Mas para além deste grupo de doentes alcoólicos que constituem o vértice visível do iceberg, apenas 15 a 25% dos indivíduos se abstêm ou consomem álcool de forma esporádica. Ou seja, cerca de 60% da população portuguesa adulta corresponde ao grupo dos bebedores O álcool também desempenha um regulares de álcool. papel importante nos atropelamentos. Os dados a seguir apresentados referem-se ao indivíduo atropelado, não ao condutor. No Canadá, em 1997, em 45% dos atropelamentos fatais, foi encontrada uma TAS superior a 0,8 g/ l com uma média de 2,1 g/l. Nos EUA, em 2002, 36% tinham TAS positivas e em 34% esta era superior a 0,8 g/l. No ano anterior esse valor foi de 53%. No Reino Unido, em 1997, 37% dos atropelados fatalmente tinham TAS superiores a 0,8 g/l. Nos últimos anos, e em toda a região sul da Europa, o consumo de vinho tem vindo a diminuir. Em Portugal terá descido 15% nos últimos 7 anos, segundo declarações à Imprensa do Presidente da Casa do Douro (2005). Isto parece ser devido não só ao aumento do consumo de cerveja, mas também ao crescente consumo de bebidas alcoólicas pela mulher e pelos jovens, ao crescente consumo de bebidas destiladas e ao aparecimento de novas apresentações de bebidas, nomeadamente os chamados alcopops e os shots. Os dados neozelandeses são importantes, na medida em que se trata de um país pequeno, com índices de criminalidade e delinquência baixas. Mas vejamos, também, os dados dos Estados Unidos. Entre 1994 e 2001, 40% dos acidentes mortais em grandes vias (highway) e 42% do total dos acidentes nas mesmas estradas resultaram do abuso de álcool por parte dos condutores. Estima-se que 2 em cada 5 americanos se verá envolvido em um acidente relacionado com o álcool em algum momento da sua vida. O departamento de saúde dos EUA refere que 1 em cada 10 americanos (ou seja, perto de 25 milhões de pessoas) afirmam ter conduzido sob a influência do álcool em 2001, cerca de 3 milhões mais que no ano anterior. Em 2000, mais de 10 milhões de pessoas entre os 12 e os 20 anos referem ter bebido e 19 por cento destes serão grandes bebedores ocasionais. O grande bebedor ocasional (binge drinker) é o problema actual da política de condução sob a influência do álcool. Trata-se o indivíduo jovem, que não consome bebidas alcoólicas durante a semana e que, no fim-de-semana, sai e bebe de forma exagerada, vindo a ser o responsável pelo aumento da sinistralidade verificada neste período. Muitas campanhas incidem neste sujeito (designated driver, sobriety checkpoints, ...), mas até agora sem grandes resultados. Num estudo realizado por Breda e col. em 1998 em amostras de alunos Universitários e do ensino Politécnico, cerca de 10 a 20% dos indivíduos apresentavam problemas ligados ao álcool, e no ensino secundário 18% dos rapazes referiam ter-se embriagado durante o último ano. Mais de 60% dos jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos de idade e 70% acima dos 16 consomem regularmente bebidas alcoólicas. Isto identifica claramente um problema grave que começou a surgir na nossa juventude algures nos anos 70. Associado a isto encontra-se o facto de ser entre os jovens que os acidentes de viação são mais mortíferos. Obviamente que o problema Em 1993 éramos o 4º país consumi- do álcool não é alheio a este facto. E a mortador de bebidas alcoólicas da Europa, com um lidade por trauma é apenas uma fatia muito consumo per capita de 11 litros de álcool puro. pequena na mortalidade global por problemas Este valor, descaradamente exagerado, mostra ligados ao álcool. uma população de alto risco, já que o baixo Padrões de consumo risco de mortalidade devido ao álcool é definido como um consumo de 2 a 3 litros. Para Os padrões de consumo de bebidas estes valores muito tem contribuído o aparealcoólicas na Europa encontram a sua explicacimento do consumo maciço de bebidas alcoóção nas diferenças geográfica e histórica entre licas ao fim de semana por parte das camadas o norte e o sul. Nas regiões do norte, intocadas populacionais mais jovens. O consumo de pela influência romana, mantiveram-se os cerveja cresceu 390% desde 1970 a 2000. No hábitos ancestrais de consumo pesado de beano de 2000 cada português bebeu, em média, 4. Contexto português Jorge Pereira 9 V A I M A I S U M P A R A O C N Ú M E R O S S O LT O S No período de 12 horas de urgência, entre as 20 horas de 7 de Agosto e as 8 horas de 8 de Agosto de 2005, deram entrada os seguintes indivíduos acidentados, no Hospital São Teotónio: 1- Jovem de 25 anos do sexo masculino. Envolvido em agressões domésticas. Ferido ligeiro. TAS: 2,8 g/l. 2 - Indivíduo de 79 anos de idade, sexo masculino. Vitima de capotamento com veículo todo-o-terreno de 4 rodas. O veículo sofreu danos irreparáveis. O sujeito, entre múltiplas injúrias, afirmava não ter nada. TAS: 3,1 g/l. 3 - Homem de 47 anos. Despiste de motorizada. Transferido para os Hospitais da Universidade de Coimbra por traumatismo cranio-encefálico. TAS: 3,8 g/l. A população portuguesa tem ainda uma componente rural de baixos índices de alfabetização, que representa uma taxa importante nestas questões ligadas ao álcool e à sinistralidade. Apesar da taxa de analfabetização ter descido dos 20% em 1974 para 8% em 2000, um segmento importante desta população é constituído por um grupo de trabalhadores não especializados, em sectores como a agricultura, a construção civil, o comércio e serviços. A taxa de consumo de bebidas alcoólicas entre este grupo menos letrado da população é significativo. Para nós, que conhecemos a realidade dos Serviços de Urgência deste país, o estereotipo é fácil de identificar: trata-se do sujeito entre os 35 e os 50 anos, que à saída do trabalho sofreu uma queda de motorizada, está alcoolizado e é referenciado à Urgência por uns arranhões e um provável traumatismo crânio-encefálico. A TAS raramente é inferior a 1 g/l. Neste grupo populacional os “mitos” do álcool estão profundamente enraizados. O consumo de bebidas alcoólicas é, também, uma forma de convívio social e a negação a beber constitui, na verdade, motivo de vergonha e chacota. A M I N H O ? Impacto económico Cerca de 5% da população activa (20% dos trabalhadores agrícolas) trabalham no sector vinícola (24.000 trabalhadores). Mais de 1/10 da população encontra-se economicamente dependente do vinho, da sua produção, distribuição e comercialização. Existem inúmeros trabalhos sobre o impacto económico da produção e venda de bebidas alcoólicas em Portugal, realçando a importância do seu papel na economia nacional. De facto, é motivo de orgulho sermos dos primeiros produtores de vinho do mundo. Será? O alcoolismo constitui um comportamento de risco com enorme impacto na saúde, nos recursos da saúde e na economia. O alcoolismo encontra-se associado a inúmeras patologias como a cirrose, a hepatite, o hepatoma, morte prematura, além da sinistralidade e da violência. Concomitantemente, origina problemas sociais e laborais importantes, responsáveis por absentismo e diminuição da produtividade. O consumo de bebidas alcoólicas é um problema real, como vimos. E, aparentemente, um problema fundamentalmente masculino, com maior repercussão no norte do país. Não devemos esquecer a implicação 4 - Jovem de 28 anos, sexo Até à data, apenas um trabalho foi masculino. Despiste com veículo automóvel. do álcool em outros tipos de trauma como são publicado sobre os custos económicos da má a violência e o crime. Em 2002 foram conde- utilização do álcool em Portugal. Nem o estuFerido ligeiro. TAS: 3,2 g/l. 5 - Sexo masculino, 50 anos. Despiste de motorizada. Ferido ligeiro. TAS: 2,5 g/l. 6 - Sujeito de 56 anos de idade, sexo masculino. Despiste de motorizada. Ferido ligeiro. TAS: 2,8 g/l. 7 - Indivíduo de 43 anos de idade, sexo masculino. Despiste de motorizada. Ferido ligeiro. TAS: 3,0 g/l. nados e presos 9.553 criminosos, culpados de múltiplos tipos de crime como homicídios, ofensas corporais, violação, incêndio, furto e roubo e tráfico de estupefacientes, todos eles com possíveis associações ao consumo exagerado de bebidas alcoólicas. do SARTRE 3 tem números para completar essa linha da tabela. O trabalho “The economic costs of alcohol misuse in Portugal” da autoria de Elvira Lima e Teresa Esquerdo, ambas da área de Gestão e Economia da Universidade do Minho, revela dados preocupantes. Em 1995 foram dadas 19.878 altas hospitalares por patologias relacionadas com o álcool, representando 2,3% do total das altas. Quase 80% destas altas ocorreram em doentes entre 8 - Jovem de 27 anos de idade, sexo masculino, envolvido numa briga na discoteca. Alega ter sido agredido com uma garrafa. Apresenta feridas da face. TAS: 4,1 g/ l. 10 Jorge Pereira V A I M A I S os 30 e os 70 anos de idade. Se avaliarmos só as instituições psiquiátricas (publicas e privadas) as altas ascendem aos 18% do total com um valor absoluto de 2.613. Foram gastos 33 milhões de Euros em cuidados de saúde com estes doentes. Porém, os gastos não poderão ser exclusivamente imputados aos cuidados de saúde. Devemos ter em consideração os gastos dos serviços do sistema judicial, do dano de propriedade por indivíduos envolvidos em acidentes ou violência, dos custos indirectos provocados por absentismo laboral, da baixa produtividade, etc. Os custos calculados por estas autoras ascende aos 434 milhões de Euros no final de um ano. A grande fatia dos custos é da responsabilidade dos custos indirectos por baixa produtividade, por doença e morte prematura. 434 milhões de Euros permitir-nos-iam gastar diariamente perto de 15.000 Euros (3 mil contos) por dia, todos os dias da nossa vida, desde que nascemos até aos 80 anos de idade. E depois? Esperávamos que os dados publicados neste trabalho tivessem algum impacto, mas não tiveram. Em Setembro de 2001 o Código da Estrada foi revisto e o seu artigo nº81 passou a ler-se “(...) Considera-se sob a influência do álcool o condutor que apresente uma taxa de álcool no sangue superior a 0,2 g/l (...)”. Esta medida foi aclamada por toda a Europa como uma medida de fundo, a mais importante modificação no Código da Estrada, segundo a Revista espanhola Tráfico, de Dezembro de 2001. “Os alarmantes dados estatísticos sobre a sinistralidade obrigaram o governo português a tomar esta medida tão restritiva. (...) Portugal tem uma das mais altas taxas de sinistralidade dos países industrializados e (...) é um dos países que apresenta maior consumo de álcool”, afirma-se nesse mesmo artigo. Mas, mais importante do que tudo isto, é a entrevista com Rui Pereira, Secretário de Estado do Interior da altura, que revelou como uma das causas para a introdução desta medida o resultado de um estudo português que mostrou a possibilidade de salvar até 200 vidas de jovens anualmente com a redução da TAS. Mais afirma que o risco de acidente aumenta em 140% acima dos 0,2 g/l e que nos primeiros 20 dias da entrada em vigor da Lei, dos 60.599 condutores controlados apenas 1,56% deram resultados positivos. Apesar disso, em 21 de Agosto de 2002, o Eng.º António Guterres cedeu aos lobbies da indústria de bebidas alcoólicas e a TAS máxima foi novamente fixada em 0,5 g/l. Choveram cartas e reclamações em vão. No site da ACA-M (Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados) existem múltiplos documentos, cópias de cartas de organizações internacionais, dirigidos ao Presidente da ReJorge Pereira U M P A R A O C A M I N H O ? pública a contestar o aumento da TAS. Entre elas a ASIRT (Association for Safe International Road Travel), a FEVR (Federation Européene de la Route), o IBCT (Instituto Brasileiro de Ciências do Trânsito), a Eurocare (Advocacy for the prevention of alcohol related harm in Europe), a SOS victimes de la Route, a Socidrogalcohol, a Associazione Italiana dei Club degli Alcolisti in trattamento, a Dutch Association of traffic victims, ... A verdade é que com a redução, Portugal cumpria uma das premissas da Carta Europeia contra o álcool defendida pela Eurocare. Mas optou por ignorar tudo isso. A favor do álcool, lembre-se. com certeza, inúmeras variáveis responsáveis por esta discrepância. Contudo, são estes os valores oficiais e é com base neles que devemos tirar as nossas conclusões. À partida, pareceria que este valor constitui uma vitória da luta contra a condução sob o efeito do álcool. Mas não. Este número deixa de ter o impacto que parece ter quando analisamos outros dados, nomeadamente a determinação da TAS nos indivíduos autopsiados após acidentes de viação. Nestes, encontram-se valores superiores aos legais em 55% dos casos. Além disso, a experiência adquirida nos Serviços de Urgência do nosso país, é também discrepante com o valor apresentado. Vivemos num país com um Tipificação da sinistralidade consumo per capita de álcool que ronda os 11 litros, uma das maiores do mundo e temos o Os dados estatísticos portugueses que parece ser a menor taxa de alcoolizados são curiosos. O Relatório da Direcção-Geral de envolvidos em acidentes. Viação sobre a sinistralidade, refere que no ano de 2004, em Portugal continental, houve A realidade é que os números valem mesmo o 38.930 acidentes com vitimas, dos quais resul- que valem. A não existência de um registo taram 1.135 mortos, 4.190 feridos graves e nacional de trauma impede estudos bem fun47.819 feridos ligeiros. Relativamente ao ano damentados nesta área. O que sabemos é que anterior, houve uma redução significativa, o contributo do álcool para a sinistralidade é, quer de acidentes quer de vitimas. Voltaremos seguramente, muito maior do que os míseros a este tema posteriormente. Por agora, vamos 3,6%. Na maioria dos países estudados, esta debruçar-nos exclusivamente sobre os núme- taxa é superior aos 20%. Como tal, não deveros de 2004. De uma análise atenta, podemos mos, de modo nenhum, fazer orelhas moucas verificar que é nos meses de Julho e Agosto a um grave problema social que tantas baixas que se verifica a maioria dos acidentes com produz e de tão diversas formas. vitimas. O período de sexta a domingo é responsável por cerca de 45% dos acidentes e das Prevenção Rodoviária vitimas. Apesar da maioria destes acidentes ocorrer durante o dia é entre as 0 e as 3 horas que os acidentes produzem mais mortos e feridos mais graves. Do total das vitimas de sinistralidade, 57% foram condutores, 30% passageiros e 13% peões e é na faixa etária dos 20 aos 29 anos que encontramos maior número de vitimas. 25% dos falecidos, 25% dos feridos graves e 26% dos feridos ligeiros encontram-se neste grupo. O tipo de veículo que produz as taxas de gravidade mais elevadas é o motociclo. Outro dado importante é o que se refere à antiguidade da carta, reflexo da experiência de condução. 31% dos intervenientes em acidentes e 36% dos que sofreram lesões possuíam a carta há menos de 5 anos. Os dados estatísticos que nos interessam mais, os referentes à fiscalização da condução sob o efeito do álcool, são aqueles que nos suscitam algumas questões. Durante o ano de 2004, 4.774.215 condutores foram objecto de controlo da TAS, um número inferior a 5% ao do ano anterior. Dos condutores fiscalizados, 6,6% apresentaram uma TAS superior ou igual a 0,5 g/l e 3% superior ou igual a 1,2 g/l. Esta fiscalização, maioritariamente aleatória (53,9% versus 40,2% em acidentes) mostrou que 9% dos condutores eram infractores, contra um valor de 3,6% (?) em caso de fiscalização da TAS em presença de acidente. Este resultado é duvidoso. Obviamente que poderá haver, e há 11 V A I M A I S U M P A R A O C A M I N H O ? infracção das leis de controlo da condução sob o efeito do álcool do seu país. Dos condutores envolvidos em acidentes com vitimas, 20% têm TAS superior à legal e nos acidentes mortais 25%. Muitas medidas têm sido tomadas ao longo da História para tentar reduzir estes números, em vão. A Eurocare acredita que parte da solução se encontra na fiscalização. O que acontece actualmente é que uma percentagem muito pequena da população é fiscalizada e reina uma certa sensação de impunidade. Quem bebe não é encontrado, quem é encontrado não é devidamente castigado. É, por isso, necessário implementar medidas de fiscalização eficazes. Os condutores tem que ter a noção que podem ser fiscalizados a qualquer momento e que não existe nada que possam fazer para influenciar o resultado do teste ou a penalidade a ser O Plano Nacional de Prevenção Ro- aplicada. doviária estabeleceu como objectivo geral uma redução de 50% do número de mortos e feridos graves até 2010, relativamente à média de 1998-2000. Analisando os dados registados entre 2001 e 2004 verificamos que as vitimas têm vindo a diminuir de forma significativa e os números são mesmo inferiores aos esperados. EUROCARE Segundo um relatório da Eurocare, apesar do número de acidentes de viação ter diminuído desde o inicio de 1999, em anos recentes este decréscimo tem vindo a estabilizar. No ano de 2000, a sinistralidade rodoviária matou mais de 40.000 europeus e feriu mais de 1,7 milhões nos então 15 países da União Europeia. O grupo etário mais afectado é o de 14 a 25 anos, no qual os acidentes de viação constituem a primeira causa de morte. Um em cada 3 europeus verse-á envolvido num acidente de viação em alguma altura da sua vida. Isto representa um valor de 45 mil milhões de euros de custos directos. Os custos indirectos (danos físicos e psíquicos das vitimas, absentismo, baixa produtividade, indemnizações, etc.) ascendem a 3 a 4 vezes o valor directo, cerca de 160 mil milhões de euros anuais, 2% do PIB da UE. Nesse mesmo relatório, a Eurocare refere ainda que cerca de 5% dos condutores presentes nas estradas da UE em qualquer momento (em média) encontram-se em 12 Em 1999 na Austrália, sem modificar a TAS, conseguiu-se uma redução de 22% na sinistralidade rodoviária e de 36% nos acidentes devidos ao álcool. Isso deveu-se à introdução de medidas apertadas de fiscalização da TAS e nesse ano foram fiscalizados 82% dos condutores. Estes dados devem alegrar-nos, já que demonstram resultados positivos numa área onde todos só vemos desastres. No relatório de Abril de 2005 podemos verificar que em relação ao mês homólogo do ano anterior, observou-se uma melhoria em todos os indicadores de sinistralidade com menos 521 vitimas, menos 12 mortos, 45 feridos graves e 665 feridos ligeiros. Não houve, ainda, referência a dados sobre a fiscalização da condução sob o efeito do álcool referentes ao ano de 2005. 5. Os Jovens É entre os 15 e os 29 anos de idade que se concentra o maior número de vitimas mortais nas estradas portuguesas, com mais de 6.000 mortos nos últimos 10 anos, mais de 600 todos os anos. Estes números ganham maior dramatismo se pensarmos que este escalão etário representa apenas 22% da população portuguesa. Um jovem entre os 15 e os 29 anos tem maior probabilidade de morrer na estrada do que um indivíduo de 60 ou 70 anos. Esta não é uma característica exclusiva dos portugueses, acontecendo por todo o mundo. “Tem a ver com o estilo de vida” afirma José Miguel Trigoso, secretário-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa. A este propósito, David le Breton, sociólogo francês, Jorge Pereira V A I M A I S sublinha que “a carta de condução é vista como um rito de passagem” e que “em certos casos, a viatura é um instrumento de agressividade”. Para os jovens rapazes, o seu carro é uma manifestação de identidade e uma demonstração de virilidade que os conduz a acções de risco. A viatura é um instrumento de tomada de independência. Manuel João Ramos, presidente da ACA-M, também concorda com esta visão “É muito importante compreender a temática da violência rodoviária como expressão de um comportamento de iniciação à vida adulta”. Durante a adolescência verifica-se uma necessidade de afirmação e de autonomia aliadas a um desejo de conhecer os limites pessoais. Esta procura de conhecimento sobre si próprio reflecte-se nos comportamentos de risco, nos quais se inclui a imprudência na condução. Um estudo recente efectuado no Canadá demonstrou que o grupo etário entre os 20 e os 24 anos é o que adopta mais comportamentos de risco, não só na estrada como na vida em geral. Este tipo de abusos levou mesmo a` criação da expressão “síndrome geral de tomada de risco” por Jonah (Psicólogo canadiano) já em 1989. Um certa percepção de invulnerabilidade, aliado a um optimismo irrealista, exacerbado pela ingestão de bebidas alcoólicas, afecta a segurança rodoviária pela sua influência nas decisões do condutor. Estes mecanismos são sobretudo evidentes no sexo masculino, o que se confirma nos dados estatísticos da sinistralidade rodoviária nestas faixas etárias, onde prepondera o sexo masculino, quer em morbilidade, quer em mortalidade. Jorge Pereira U M P A R A O C A M I N H O ? dutores e os futuros consumidores. Porém, a realidade tem sido outra. Nem do ponto de vista legislativo, nem do ponto de vista social eles têm sido protegidos da tentação. 6. Legislação Portugal foi o último país da Europa a introduzir no seu arsenal legal uma taxa limite de alcoolémia para condutores, em 1983 (0,8 g/l). Foi também o primeiro a descer essa fasquia para 0,5 g/l e, actualmente, começa a discutir-se a necessidade, ou mesmo a justificação, de se baixar ainda mais a TAS máxima para 0,2 g/l. A União Europeia lançou o desafio a todos os seus membros no sentido de ser realizado um esforço conjunto para reduzir o número de mortes nas estradas da Europa até metade no ano de 2010, partindo das médias do final dos anos 90. Portugal aceitou o desafio e, como já foi enunciado, a premissa foi introduzida no Plano Nacional de Prevenção O consumo de bebidas alcoólicas Rodoviária. Mas, para atingir este e outros entre os jovens, também goza de algumas par- objectivos, a diminuição da TAS máxima não é ticularidades de índole psicológica e social. suficiente. Para o jovem português actual, o consumo de bebidas alcoólicas assume um papel de extre- A Eurocare, formada em 1990, é uma ma importância na sua afirmação social, en- aliança voluntária de várias organizações não quadrado numa dinâmica de diversão. É im- governamentais, que representa toda a diverportante na criação da sua imagem perante os sidade de pontos de vista, de culturas e atituoutros e, para os rapazes, na afirmação da sua des dos diferentes países da União Europeia masculinidade. Vários estudos demonstraram relativamente ao problema do álcool. Inicianque o maior consumo de bebidas alcoólicas do apenas com 9 organizações membro, conta entre jovens associa-se a uma maior manifes- hoje com 46 membros de vários países da Eutação de ideologia de masculinidade. Segundo ropa, mesmo de fora da União Europeia. Desos estudiosos da psicologia da adolescência, de logo, a Eurocare reconheceu que há uma existem dois factores fundamentais que modi- ligação muito forte entre a disponibilidade de ficam os comportamentos de consumo de be- álcool e os níveis de prejuízo por ele causado bidas no jovem rapaz: o seu conceito de mas- na sociedade e que há uma necessidade de culinidade e a necessidade de existência de medidas legislativas reguladoras que possam um certo grau de erotismo masculino. A noção ser a base de uma política preventiva. Após de que a desinibição causada pelo álcool facili- um estudo atento da sociedade europeia, dos ta a relação sexual e todo o ritual a ela associ- países e dos recursos, a Eurocare emitiu um ado é preponderante em relação à possibilida- documento com propostas legais viáveis: de de fracasso criado pelo mesmo consumo. As bebidas alcoólicas são consumidas num (1) TAS máxima de 0,5 g/l. TAS máxima de 0,2 contexto social nocturno e com uma aproxi- g/l para jovens, encartados com menos de 2 mação cada vez maior a padrões de consumo anos, condutores de serviços públicos e connórdico. Os shots, as bebidas destiladas e a dutores de veículos pesados; cerveja são os tipos de bebida mais frequen(2) TAS máxima de 0,2 g/l generalizada no temente consumida. A associação do consumo ano de 2010; abusivo nas saídas nocturnas e o maior número e maior gravidade dos acidentes no período (3) Fiscalização mínima de 50% da população entre sexta e domingo não é, por certo, coinci- condutora anualmente; dência. (4) Penas para condução sob influência do O jovem deve, por estes motivos, ser álcool estratificadas de acordo com a TAS, com alvo de uma atenção especial quanto ao seus suspensão de condução mínima efectiva de 6 hábitos, quer de condução, quer de consumo meses se TAS superior ou igual a 0,5 g/l; de bebidas alcoólicas. Eles são os futuros con13 V A I M A I S U M P A R A O (5) Educação, reabilitação e tratamento, ligados às penas dos infractores, principalmente dos que mostrem sinais de dependência do álcool; “A discussão do Novo Código da Estrada, ocorrida ontem na Assembleia da República, mostrou que o Governo vai poder legislar, sem sobressaltos, sobre a matéria. (6) Educação pública quanto aos perigos da Mas pôs igualmente em evidência o desprezo condução sob o efeito do álcool; geral dos políticos pelo tema da sinistralidade (7) Introdução e renovação de legislação e rodoviária. regulamentos de forma uniforme em toda a Europa; Prova disso é que, embora teoricamente se tratasse do assunto do dia, (8) Sistemas de monitorização comuns a toda assim que terminou o período mais picante a Europa de forma a conseguir uma impledestinado ao debate da actualidade, e o mentação eficaz e progressiva das diversas Ministro da Administração Interna subiu à medidas em todos os países. tribuna, assistiu-se a uma autêntica debandada dos deputados. De tal forma que, a dada altura, quando Nelson Baltazar do PS, pronunciava palavras graves sobre o trágico acidente ocorrido em Montargil, o Público contabilizou apenas 33 pessoas nas bancadas parlamentares (de um total de 230), boa parte ocupada em conversas laterais e indiferentes à descrição fúnebre do deputado do principal partido da Oposição (...).” Plano de Acção contra o alcoolismo 14 NINGUÉM QUER SABER A M I N H O ? das, traçavam-se objectivos de actuação para os próximos anos, de forma a criar uma política do álcool em aproximação com a Europa, que privilegiasse “o “despertar de consciências”, de modo planeado e prolongado, com a tónica colocada na promoção e na educação para a saúde, a par de medidas de regulamentação e a garantia do cumprimento efectivo das existentes, bem como a estruturação da rede alcoológica nacional”. As orientações de actuação foram divididas em 3 secções. A primeira secção - Promoção e educação para a saúde - é dedicada à necessidade de desenvolvimento e apoio de programas de promoção e educação para a saúde na área da alcoologia que incluam o desenvolvimento de campanhas de informação pública, abordagem nos currícula escolares e acções de sensibilização e de formação para grupos específicos que chamem atenção para os riscos do consumo excessivo, inoportuno ou inconveniente de bebidas alcoólicas. A segunda secção, relativa à vertente clínica e de investigação refere-se à intenção de criar uma rede alcoólogica nacional, tendo por base os centros regionais de alcoologia (com função coordenadora) e os serviços locais de saúde mental, com as respectivas articulações às unidades de cuidados de saúde primários e aos hospitais gerais, que assegure a colaboração em acções preventivas e metodologias de diagnóstico e tratamento acessíveis efectivas, bem como o apoio de estruturas de reabilitação psicossocial para dependentes e doentes alcoólicos, a par da investigação dos problemas ligados ao álcool. Ricardo Dias Felner, o Público, 23 de Setembro de 2004 O combate governamental ao alcoolismo, de forma mais rigorosa, documentada e actual, ter-ser-á iniciado em Maio de 1999 com a criação de uma Comissão interministerial para análise e integração dos diversos trabalhos relativos ao Plano de Acção contra o alcoolismo. Em 2000, o Conselho de Ministros, presidido na altura pelo Eng.º António Guterres, produziu um documento, posteriormente publicado no Diário da República: a Resolução do Conselho de Ministros 166/2000. C Neste documento, após uma fundamentação adequada das propostas apresenta- A 3ª e última secção do documento diz respeito à legislação e fiscalização. Aqui Jorge Pereira V A I M A I S são definidos os conceitos inerentes à utilização abusiva de bebidas alcoólicas e se estabelecem os objectivos a atingir em termos legislativos e de fiscalização. De forma muito sucinta, as medidas mais importantes referidas nesta secção incluem: U M P A R A O a) nas cantinas, bares e outros estabelecimentos de restauração e de bebidas acessíveis ao público localizados nos estabelecimentos de saúde; b) em máquinas automáticas. (1) Alargamento do período de proibição da (...) publicidade nos média audiovisuais até às 22 Artigo 3º: Afixação de avisos: horas e 30 minutos; (...) (2) Proibir o patrocínio de actividades desportivas e de actividades recreativas destinadas a 2 - Nos estabelecimentos comerciais de menores; auto-serviço, independentemente das suas dimensões, devem ser delimitados e explici(3) Proibir a venda de bebidas alcoólicas a tamente assinalados os espaços de exposição menores de 18 anos; de bebidas alcoólicas e de bebidas não alcoólicas. (4) Reforçar as medidas de fiscalização; (5) Reduzir para 0 g/l a TAS dos condutores de veículos de socorro e transporte escolar e para 0,3 g/l a TAS dos condutores de transporte público e de encartados com menos de 2 anos de experiência. (...) Artigo 4º: Venda e consumo de bebidas alcoólicas nos locais de Administração Pública: 1 - (...) a venda, a disponibilização e o consumo de bebidas alcoólicas no local de trabalho, O que nós temos... refeitório, bares, cafetarias e locais similares Das medidas acordadas, dos serviços e organismos da administração poucas foram aplicadas na prática. Na reali- central e local (...) é regulado por portaria condade, ainda hoje continuamos com medidas junta dos Ministros da Saúde, do Ambiente e restritivas do acesso ao álcool por parte de do Ordenamento do Território e da Reforma menores que datam de 1931. No entanto, a do Estado e da Administração Pública. legislação existente poderia ser eficaz nos seus (...) pressupostos se fosse acompanhada de uma fiscalização efectiva. As medidas legislativas existentes actualmente podem ser agrupadas em 3 grupos de actuação distintos: o combate ao alcoolismo, o código da estrada e o código da publicidade. O combate ao alcoolismo é baseado, fundamentalmente, na limitação ao acesso às bebidas alcoólicas. O Decreto-Lei nº9/2002 constitui a principal arma neste propósito ao estabelecer as restrições à venda e consumo de bebidas alcoólicas. Passemos em revista alguns dos artigos mais importantes deste Decreto-Lei: Artigo 2º: Restrições à venda e ao consumo de bebidas alcoólicas: 1- É proibido vender (...) bebidas alcoólicas em locais públicos e em locais abertos ao público: a) a menores de 16 anos; b) a quem se apresente notoriamente embriagado ou aparente possuir anomalia psíquica. (...) C A M I N H O ? e) Exercer a sua actividade junto de estabelecimentos escolares dos ensinos básico e secundário, sempre que a respectiva actividade se relacione com a venda de bebidas alcoólicas. 2 - As áreas relativas à proibição referida no número anterior são delimitadas, caso a caso, pelos municípios, em colaboração com a Direcção Regional de Educação. (...) Artigo 11º: Aditamento ao Decreto-Lei nº 168/97 de 4 de Julho: (...) 1 - É proibida a instalação de estabelecimentos de bebidas onde se vendam bebidas alcoólicas para consumo no próprio estabelecimento ou fora dele junto de estabelecimentos escolares dos ensinos básico e secundário. 2 - As áreas relativas à proibição referida no número anterior são delimitadas, caso a caso, pelos municípios, em colaboração com a Direcção Regional de Educação. Este Decreto-Lei é completado com a Portaria nº 390/2002 de 11 de Abril cujo anexo regulamenta as prescrições mínimas em matéria de consumo, disponibilização e venda de bebidas alcoólicas nos locais de trabalho da Administração Pública. A proibição de venda e consumo de bebidas alcoólicas nos estabelecimentos localizados nos locais de trabalho da Administração Pública são levantadas em dois casos específicos: (1) para bebidas fermentadas e nos períodos de tempo habitualmente destinados ao almoço e jantar, em quantidades limitadas a um máximo de 25 cl de vinho ou 33 cl de cerveja por refeição e por pessoa maior de 16 anos e (2) em ocasiões festivas, comemorativas ou associadas a acontecimentos particularmente relevantes, para bebidas fermentadas ou outras, sendo os critérios definidos pelo pessoal dirigente. Considera-se, também, medida de combate ao consumo excessivo de bebidas Artigo 5º: Fiscalização e instrução de proces- alcoólicas a taxação das mesmas. Desde a pusos: blicação do Código do Imposto sobre o valor 1 - A fiscalização do cumprimento do disposto acrescentado, em Dezembro de 1984, que se nos artigos 2º e 3º é da competência da Inspec- encontram definidos o valores do imposto ção-Geral das Actividades Económicas, sem indirecto a pagar pelas bebidas alcoólicas. prejuízo da competência atribuída a outras Neste Código estão presentes as listas que definem quais os produtos isentos de IVA, da entidades. qual não fazem parte as bebidas alcoólicas, os produtos com taxa reduzida (8% de IVA), (...) igualmente excluídas as bebidas alcoólicas e Artigo 9º: Alteração ao Decreto-Lei nº 122/79 os produtos com taxa agravada (30% de IVA). de 8 de Maio: Desta última lista fazem parte as bebidas destiladas. As bebidas fermentadas (vinho e cer1 - É interdito aos vendedores ambulantes: veja) não constam de qualquer lista e, portan- 3 - É ainda proibida a venda e o consumo de bebidas alcoólicas: (...) Jorge Pereira 15 V A I M A I S to, são taxadas à taxa normal, recentemente modificada pela Lei nº 39/2005 para 21%. É de referir, ainda, o Decreto-Lei nº 270/89 cujo artigo 15º diz: Constitui contra-ordenação para os efeitos do disposto no presente diploma: U M P A R A O NÓS CONDUZIMOS Foi em 2003, durante as férias dos jovens lisboetas em Albufeira, que nasceu o projecto: “Sabíamos que não existia alternativa de transporte público à noite e que os índices de sinistralidade, provocada sobretudo pelo consumo de álcool, eram bastante elevados nesta zona, em especial entre os jovens. Pensámos, então, que um serviço de transporte seria um excelente instrumento para colmatar estes dois problemas” - diz Bruno Dinis (...) nº44/2005 de 23 de Fevereiro. Este modifica os artigos referentes ao assunto em questão, passando a ter a seguinte redacção: 5 - Quem infringir o disposto no nº1 é sancionado com coima de: a) 250 a 1250 Euros, se a TAS for igual ou superior a 0,5 g/l e inferior a 0,8 g/l. 16 N H O ? Artigo 145º: Contra-ordenações graves: 1 - No exercício da condução, consideram-se graves as seguintes contra-ordenações: (...) l) A condução sob influência do álcool, quando a TAS for igual ou superior a 0,5 g/l e inferior a 0,8 g/l. (...) Artigo 146º: Contra-ordenações muito graves: 1 - No exercício da condução, consideram-se muito graves as seguintes contra-ordenações: (...) j) A infracção prevista na alínea l do artigo anterior, quando a TAS for igual ou superior a 0,8 g/l e inferior a 1,2 g/l. (...) Artigo 147º: Inibição de conduzir: 2 - A sanção de inibição de conduzir tem a duração mínima de um mês e máxima de uma ano, ou mínima de dois meses e máxima de dois anos consoante seja aplicável às contraordenações graves ou muito graves, respectivamente, e refere-se a todos os veículos com motor. (...) Rita Hipólito Blog da ACA-M 1 - É proibido conduzir sob o efeito de álcool 6 de Agosto de 2004 ou de substâncias psicotrópicas. (...) I 1 - A sanção acessória aplicável aos condutores pela prática de contra-ordenações graves ou muito graves prevista no Código da Estrada e legislação complementar consiste na inibição São muitas as razões para deixar à de conduzir. porta de casa o carro e com ele os habituais transtornos de estacionamento e os perigos de beber para além da conta. A alternativa apresentada por estes jovens é de graça e mais O Código da Estrada sofreu a sua segura. “Vocês divertem-se, nós conduzimos” mais recente actualização com o Decreto-Lei diz o slogan. 2 - Considera-se sob influência do álcool o condutor que apresente uma taxa de álcool no sangue igual ou superior a 0,5 g/l (...). M VOCÊS DIVERTEM-SE, entre os jovens que gostam de sair à noite e b) A introdução e venda nos recintos desporticertamente já foram feitas pelo Adriano, pelo vos de bebidas ou outros contidos em recipientes que não sejam feitos de material leve e Bruno e pelo Max, três estudantes de Gestão da Universidade Católica, responsáveis pela não contundente; criação de um serviço de transportes gratuito, (...) no Algarve. Artigo 81º: Condução sob o efeito de álcool ou de substâncias psicotrópicas: A b) 500 a 2500 Euros, se a TAS for igual ou superior a 0,8 g/l e inferior a 1,2 g/l (...). “Como é que eu vou para casa? Será a) A introdução, venda e consumo de bebidas alcoólicas nos recintos desportivos, bem como que estou em condições de conduzir?” dentro dos limites do complexo desportivo Interrogações como esta são comuns (...); O Código da Estrada deverá ser a pedra basilar sobre a qual assenta toda a política de evicção da sinistralidade. Vamos ver se é assim, relativamente à condução sob o efeito do álcool. C Acessoriamente, o Código Penal prevê, no seu artigo 292º - Condução de veículo em estado de embriaguez: quem, pelo menos negligencia, conduzir veículo, com ou sem motor, em via pública ou equiparada, com uma TAS igual ou superior a 1,2 g/l, é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 120 dias, se a pena mais grave não lhe couber por força de outra disposição legal. O Código da Estrada prevê, ainda, os princípios a que se deve obedecer na fiscalização do estado de embriaguez, no seu Título VII - Capítulo I (Procedimentos para a fiscalização da condução sob influência de álcool e de substâncias psicotrópicas) e nos Decretos Regulamentares anexos. Jorge Pereira V A I M A I S U M P A R A O Artigo 152º: Princípios gerais: 7 - Quando se suspeite da utilização de meios susceptíveis de alterar momentaneamente o 1 - Devem submeter-se às provas estabelecidas resultado do exame, pode a autoridade ou o para a detecção dos estados de influenciado agente de autoridade mandar submeter o suspelo álcool ou por substâncias psicotrópicas: peito a exame médico. a) Os condutores; b) Os peões, sempre que sejam intervenientes em acidentes de trânsito; c) As pessoas que se propuserem iniciar a condução (...) 3 - As pessoas referentes nas alíneas a) e b) do nº1 que recusem submeter-se às provas estabelecidas para detecção do estado de influenciado pelo álcool ou por substâncias psicotrópicas são punidas por crime de desobediência. (...) 8 - Se não for possível a realização de prova por pesquisa de álcool no ar expirado, o examinado deve ser submetido a colheita de sangue para análise ou, se esta não for possível por razões médicas, deve ser realizado exame médico, em estabelecimento oficial de saúde, para diagnosticar o estado de influenciado pelo álcool. C A M I N H O ? (...) O regulamento a que se refere o artigo 158º não foi, ainda, objecto de actualização e, como tal, permanece em vigor o Decreto Regulamentar 24/98 de 30 de Outubro que “regulamenta os procedimentos para a fiscalização da condução sob a influência do álcool ou de substâncias estupefacientes ou psicotrópicas”. Este Decreto remete ainda a duas outras portarias (1005/98 e 1006/98 de 30 de Novembro) que completam o regulamento em diversos pontos. O regulamento completo é um guia, que apresenta de forma exaustiva os vários aspectos ligados, quer com a técnica, quer com 1 - Quem apresentar resultado positivo no a metodologia da determinação do estado de exame previsto no nº 1 do artigo anterior ou influenciado pelo álcool. recusar ou não puder submeter-se a tal exame, fica impedido de conduzir pelo período de 12 horas (...). Artigo 154º: Impedimento de conduzir: 2 - Quem conduzir com inobservância do impedimento referido no número anterior é punido por crime de desobediência qualificada. (...) Artigo 155º: Imobilização do veículo: Artigo 153º: Fiscalização da condução sob influência do álcool: 1 - Para garantir o cumprimento do disposto no número 1 do artigo anterior deve o veículo ser imobilizado ou removido para parque ou local apropriado (...). (...) 1 - O exame de pesquisa de álcool no ar expiArtigo 156º: Exames em caso de acidente: rado é realizado por autoridade ou agente de autoridade mediante a utilização de aparelho 1 - Os condutores e os peões que intervenham aprovado para o efeito. em acidente de trânsito devem, sempre que o seu estado de saúde o permitir, ser submeti2 - Se o resultado do exame previsto no númedos a exame de pesquisa de álcool no ar expiro anterior for positivo, a autoridade ou agenrado, nos termos do artigo 153º. te de autoridade deve notificar o examinando, por escrito, ou, se tal não for possível, verbal- 2 - Quando não tiver sido possível a realização mente, daquele resultado, das sanções legais do exame referido no número anterior, o médele decorrentes, de que pode, de imediato, dico do estabelecimento oficial de saúde a que requerer a realização de contraprova e de que os intervenientes no acidente sejam conduzideve suportar todas as despesas originadas dos deve proceder à colheita da amostra de por esta contraprova no caso de resultado sangue para posterior exame diagnóstico do positivo. estado de influenciado pelo álcool. 3 - A contraprova referida no número anterior deve ser realizada por um dos seguintes meios, de acordo com a vontade do examinando: (...) Artigo 158º: Outras disposições: a) Novo exame, a efectuar através de 1 - São fixados em regulamento: aparelho aprovado; a) O tipo de material a utilizar na b) Análise de sangue. fiscalização e exames laboratoriais (...); (...) b) Os métodos a utilizar (...); 6 - O resultado da contraprova prevalece sobre o resultado do exame inicial. c) Os exames médicos (...); Jorge Pereira O Código da Publicidade, criado e aprovado em 1990 com o Decreto-lei 330/90 de 23 de Outubro, foi sofrendo sucessivas modificações do seu Artigo 17º - referente às bebidas alcoólicas - até à sua versão final publicada no Decreto-lei 332/2001 de 24 de Dezembro. Esta última versão já toma em consideração as premissas do Plano de Acção contra o alcoolismo. Apesar de se encontrarem concentradas neste artigo as medidas relativas à publicidade com bebidas alcoólicas, no contexto do problema em debate, é igualmente importante ter conhecimento do teor de outros artigos do Código da Publicidade. Artigo 3º: Conceito de Publicidade (Decretolei 6/95): 1 - Considera-se publicidade, para efeitos do presente diploma, qualquer forma de comunicação feita por entidades de natureza pública ou privada, no âmbito de uma actividade comercial, industrial, artesanal ou liberal, com o objectivo directo ou indirecto de: a) Promover, com vista à sua comer d) Os laboratórios onde devem ser cialização ou alienação, quaisquer bens ou feitas as análise de urina e de sangue; serviços; 17 V A I M A I S b) Promover ideias, princípios, iniciativas ou instituições. (...) U M P A R A O C A M I N H O ? 3 - Para efeitos do disposto no número anterior é considerada a hora oficial do local de origem da emissão. Artigo 10º: Principio da Veracidade (Decretolei 330/90): 1 - A publicidade deve respeitar a verdade, não deformando os factos. A I N F Â N C I A D O P R O- BLEMA 2 - As afirmações relativas à origem, natureza, composição, propriedades e condições de aquisição dos bens ou serviços publicitados devem ser exactas e passíveis de prova, a todo o momento, perante as instâncias competentes. Artigo 11º: Publicidade enganosa (Decreto-lei 330/90): 1 - É proibida toda a publicidade que, por qualquer forma, incluindo a sua apresentação, e devido ao seu carácter enganador, induza ou seja susceptível de induzir em erro os seus destinatários ou possa prejudicar um concorrente. Um estudo dinamarquês revelou que cerca de 7% das crianças europeias entre os 1,5 e os 10 anos de idade tiveram pelo menos um dos pais em internamento hospitalar por problemas ligados ao álcool. Um estudo finlandês revelou, também, que 12% das crianças finlandesas sofreram abuso ou uso excessivo de força por parte dos pais, associados ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas. E a Finlândia é um dos países com menor consumo de álcool per capita da Europa. (Aditamento do Decreto-lei 332/2001) 4 - Sem prejuízo do disposto na alínea a) do nº2 do artigo 7º, é proibido associar a publicidade de bebidas alcoólicas aos símbolos nacionais, consagrados no artigo 11º da Constituição da República Portuguesa. 5 - As comunicações comerciais e a publicidade de quaisquer eventos em que participem menores, designadamente actividades desportivas, culturais, recreativas ou outras, não devem exibir ou fazer qualquer menção, implícita ou explícita, a marca ou marcas de bebidas Baseado em múltiplas estudos, o alcoólicas. Eurocare estima que 4,5 a 7,7 milhões de Artigo 17º: Bebidas alcoólicas (Decreto-lei crianças em idade escolar na Europa vivam no 330/90 com aditamento do Decreto-lei 332/ seio de famílias com problemas ligados ao 2001): álcool. Os valores calculados para Portugal 1 - A publicidade a bebidas alcoólicas, inde- situam-se entre os 125 e os 215 mil crianças. (...) 6 - Nos locais onde decorrem os eventos referidos no número anterior não podem ser exibidas ou de alguma forma publicitadas marcas de bebidas alcoólicas. pendentemente do suporte utilizado para a sua difusão, só é consentida quando: Estas são famílias frágeis, onde facilmente se apercebe que o mal provocado a) Não se dirija especificamente a pelo álcool não é exclusivo de quem o menores e, em particular, não os apresente a consome. As crianças envolvidas são, consumir tais bebidas; habitualmente, as que mais sofrem, b) Não encoraje consumos excessi- transformando-se em indivíduos vos; disfuncionais. Muitos destes problemas são c) Não menospreze os consumidores; ignorados por outros membros da família, pela sociedade e negligenciados pelas autoridades. d) Não sugira sucesso, êxito social ou especiais aptidões por efeito do consumo; e) Não sugira a existência, nas bebidas alcoólicas, de propriedades terapêuticas ou de efeitos estimulantes ou sedativos; f) Não associe o consumo dessas bebidas ao exercício físico ou à condução de veículos; g) Não sublinhe o teor de álcool das bebidas como qualidade positiva. (Correcção da alínea 2 pelo Decreto-lei 332/ 2001) 2 - É proibida a publicidade a bebidas alcoólicas, na televisão e na rádio, entre as 7 horas e as 22 horas e 30 minutos. (Aditamento do Decreto-lei 51/2001) 18 No nosso país, em muitas localidades do interior, o alcoolismo infantil é, ainda, um problema real. O baixo nível cultural, a analfabetização e os princípios de educação rural, são parcialmente culpados deste estado das coisas. Não é, infelizmente, raro, em algumas escolas primárias do interior, observar crianças adormecidas pelo efeito do álcool. O pequeno almoço de alguns destes miúdos é a tradicional “sopa de cavalocansado” que segue a chupeta de bagaço - um lenço enrolado embebido em aguardente vínica e passado por açúcar amarelo - administrada aos bebés para os adormecer. De forma a completar o Código da Publicidade, numerosas empresas de produção, distribuição e venda de bebidas alcoólicas em Portugal reuniram-se e apresentaram, em cerimónia pública realizada em 10 de Julho de 2001, um documento que ficaria conhecido como o Código de Autodisciplina na comunicação comercial das bebidas alcoólicas. Como se refere no próprio documento, “o ponto de partida adoptado pelo sector é o seguinte: as bebidas alcoólicas fazem parte há muitos séculos da nossa cultura que integrou o seu consumo nos hábitos quotidianos. A maioria da população portuguesa utiliza as bebidas alcoólicas de uma maneira responsável. O consumo irresponsável do álcool envolve riscos. É objectivo do sector cooperar, nomeadamente com as autoridades competentes, no combate ao abuso do álcool, desempe- Jorge Pereira V A I M A I S nhando um papel na promoção do seu consumo responsável e esclarecido. O sector está preocupado com a sua responsabilidade social e deseja assumir tal responsabilidade, contribuindo de uma forma positiva para a promoção integrada da aceitação social do álcool e simultaneamente combater o seu abuso. O sector reconhece os riscos associados ao consumo irresponsável do álcool e esforça-se por contribuir para uma mentalidade que visa promover a responsabilização dos consumidores, tanto para a sua saúde como para o bem estar. O sector usará as suas formas de comunicação no sentido de combater o abuso e promover um uso responsável do álcool, assumindo que isto é parte de uma política integrada sobre o seu consumo. O sector considera também que é necessária a cooperação entre todas as partes envolvidas, no sentido de obter uma política equilibrada do consumo com a mais ampla base social possível. A aproximação integrada visa atingir os objectivos seguintes: (1) implementar o presente Código de Autodisciplina, em conjunto com a Declaração de Intenções; (2) o uso de mensagens educacionais na comunicação publicitária veiculada pelos media e produzir informação dirigida sobre, designadamente, os temas: álcool e saúde.” U M P A R A O C A M I N H O ? do Centro Comercial Dolce Vita em Coimbra, à distância de um passeio da Escola Secundária Avelar Brotero e da Escola Secundária In O que parece prevalecer, e não é só no fanta D. Maria. nosso país, é uma sensação geral de impunidade. Podemos afirmar com alguma seguran- 3) Apesar de contemplada no Plano de ça de que a legislação, apesar de não ser a ide- Acção contra o álcool, a proibição da venda de al, encontra-se adaptada. Porém, a fiscalização bebidas alcoólicas nos postos de serviço nas é tão ineficaz ou inexistente que ninguém a estradas e nas auto-estradas nunca foi proreceia. E os exemplos são muitos... mulgado ou sequer proposto. Trata-se de uma medida que, além da sua importância de base, Venda de bebidas alcoólicas é uma medida simbólica no combate à condu 1) No nosso país, a venda de bebidas ção sob o efeito do álcool. De facto, não parece alcoólicas continua a ser efectuada a menores verosímil querer-se lutar contra a condução de 16 anos, sem qualquer preocupação, uma sob o efeito do álcool quando são vendidas vez que as fiscalizações realizada pela Inspec- bebidas nos locais de apoio a essa mesma ção-Geral das Actividades Económicas são condução. mais dirigidas a outros parâmetros. A realida4) Não foi a proibição de venda de bede é que a fiscalização existe, e nos últimos anos tem sido mais apertada, contudo, os mo- bidas alcoólicas em recintos desportivos que tivos económicos e fiscais são preponderantes evitou que isso acontecesse. Além disso, os em relação aos outros. Como é obvio, não é inúmeros quiosques e tendas que se aglomepossível manter um fiscal à porta dos estabe- ram às entradas dos estádios não estão proibilecimentos durante o seu período de funcio- dos de vender e os adeptos desportivos estão namento à espera da prevaricação. O respeito à vontade de as comprar. Por um lado, podem a esta lei é, no nosso país, um a questão de perfeitamente embriagar-se antes dos eventos principio. Em alguns outros países não é as- desportivos e causar no interior dos estádios sim. Nos E.U.A. os estabelecimentos de venda distúrbios que levam a situações perigosas e de bebidas alcoólicas levam muito a sério esta de risco de trauma. Por outro lado, em deterlei. Caso sejam encontrados a prevaricar é-lhes minadas ocasiões é difícil, se não mesmo im No âmbito do assunto em discussão, cassada a licença de venda de bebidas, licença possível, fiscalizar a entrada das bebidas nos recintos. é importante tomar conhecimento do conteú- essa inexistente em Portugal. do das Cláusulas relacionadas com os Media, Código da Estrada por outras palavras, o Artigo 18º do referido Código: As infracções ao Código da Estrada são mais que muitas. Como já foi referido, a) Para motivar o consumidor a adop78% dos crimes contra a vida, em Portugal, tar um atitude responsável e dada a visibiliocorrem nas estradas. No entanto, o papel dade da televisão, da imprensa e da publicifiscalizador das manobras que produzem gradade exterior, as mensagens publicitárias veives consequências para a vida das pessoas, culadas por estes meios devem conter a refepor parte das autoridades, ou não é eficaz ou rência educacional "Seja responsável, beba não existe. Todos nós, em algum momento das com moderação". nossas vidas, já criticamos as autoridades pelo b) As mensagens publicitárias transmisua alegada actividade de caça à multa. Apetidas através de um filme ou vídeo em cinesar de não possuirmos dados estatísticos que mas, teatros ou discotecas ou ainda em circui- 2) O perímetro mínimo para o estabelecimento possam corroborar essas afirmações, o facto é tos fechados de televisão devem conter a de postos de venda de bebidas alcoólicas é, que continuam a acontecer acidentes graves, mesma por lei, estabelecido pelos municípios. Assim, pelas causas mais diversas, mesmo dentro das mensagem educacional. aquando dos pedidos de licença de alvarás localidades. Talvez os agentes da autoridade para a abertura de tabernas, cafés, restauran- possam ter aqui um papel mais activo. tes, mercearias, etc., esse perímetro é tido em Esta linha de pensamento é generaliconta. Porém, há pelo menos duas situações em que tal não acontece. A primeira tem a ver zada. Isto, associado a uma baixa taxa de fiscacom licenças adquiridas antes da entrada em lização do conteúdo de álcool no ar inspirado vigor da lei. Por esse motivo existem localida- dos condutores, muito inferior a 50%, contrides onde há tabernas à porta das escolas pri- bui para a sensação de impunidade. O condumárias e onde não há nenhuma possibilidade tor bebe porque “confia” nas suas capacidades legal de as encerrar. A segunda concerne aos e “sabe” que não será apanhado pelas autoricentros comerciais. Estes necessitam de licen- dades. Mesmo que o seja, existem inúmeras ças de construção especiais que não são vincu- formas de escapar ao teste ou ao seu resultaladas à legislação anti-álcool. Contudo, os do. E os prevaricadores são “doutorados” em centros comerciais acabam por albergar lojas escapar. Desde a recusa a fazer o teste, até a onde são vendidas bebidas alcoólicas e, por alegação de doença, tudo serve para não ser vezes a menores de 16 anos. Um exemplo é o multado. O melhor exemplo é o que resulta do cumprimento do Artigo 6º do Decreto ReguJorge Pereira 7. O que está mal: 19 V A I M A I S U M P A R A O lamentar 24/98 de 30 de Outubro. Este diploma, que regulamenta os procedimentos para a fiscalização da condução sob a influência do álcool, no referido artigo diz:” 1 - A colheita de sangue deve ser efectuada no prazo máximo de 2 horas a contar da ocorrência do acidente ou, nos restantes casos, após o acto de fiscalização”. Como se pode perceber pela leitura directa do artigo, o legislador tinha a intenção de conseguir incluir o máximo de prevaricadores, testando-os o mais rapidamente possível. Certamente não contou com a capacidade imaginativa dos mesmos prevaricadores que utilizam este mesmo artigo para tornar inválido perante a lei o resultado de qualquer teste efectuado após as duas horas. E como a contraprova analítica tem de ser efectuada em uma Unidade de Saúde, é muito fácil conseguir que se atrase a chegada a esse local. Depois há a questão das penas, para quem é ingenuamente honesto ou insuficientemente esperto para escapar à justiça. A realidade actual contempla critérios diversos de concessão de penas que podem ir desde a pena suspensa até à prisão, por crimes equivalentes, não havendo qualquer distinção legal relativa aos reincidentes. E, os dados estatísticos nacionais revelam taxas de prisão efectiva por crime de condução sob o efeito do álcool muito baixas. Segundo dados apresentados pelo Director-Geral dos Serviços Prisionais, já anteriormente aludidos, 90,1% dos condutores que chegam aos tribunais têm pena suspensa e a 67,2% nem lhes é proibida a condução. Parece lógico que, perante este panorama nacional, o condutor se sinta à vontade para conduzir como bem entende. Ligado a este problema existe um outro que se prende com a identificação dos condutores alcoolizados pelos Serviços de Saúde. Encontra-se bastante bem documentado na literatura que, a identificação e o tratamento dos indivíduos com distúrbios de alcoolismo identificados pelas equipas de tratamento de agudos nos Serviços de Urgência aquando do seu envolvimento em acidentes de viação, reduz significativamente a taxa de reincidência. A inexistência de uma rede de trauma organizada, de sistemas de encaminhamento de doentes e de metodologias de atendimento, impede que esse trabalho seja realizado de forma eficaz. Não é, por isso, raro encontrarmos o mesmo indivíduo envolvido em acidentes de viação em múltiplas ocasiões ou determinado doente ter antecedentes de trauma grave. 20 C A M I N H O ? morre desde que morra bêbado. Guterres rendeu-se e Jorge Sampaio, que deveria ter agido perante um tamanho assalto ao poder por parte de grupos de pressão ilegítimos - que em nenhum lugar receberam mandato para fazer leis em Portugal - nada fez. Os portugueses, que já não acreditavam no governo, passaram a acreditar ainda menos. Julho de outrashistórias.blogspot.com 2005 - A FRACA REPÚBLICA Sabe-se que o português gosta de “pinga”. Seja o tradicional vinho, ou a cada vez mais omnipresente cerveja, o português acha que o álcool não faz mal e que até dá saúde. Anos e anos de uma governação inepta que promovia o álcool afirmando que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses, não justificam os altos consumos, mas dão uma ideia de como a sociedade encara o consumo de álcool. Durante o governo de António Guterres, tentou-se reduzir o limite máximo de álcool no sangue, com o intuito de ajudar Portugal a reduzir o numero de mortes na estrada. Números e estatísticas, que constituem infelizmente uma fonte de vergonha para Portugal, como se o país não tivesse já demasiados recordes para se envergonhar. No entanto, a reacção foi violenta. De vários sectores, se levantaram lobbies, grupos de pressão e pessoas “desinteressadas” a defender a manutenção de uma taxa de alcoolémia que ajuda a envergonhar o país com números crescentes de mortos, estropiados, famílias destroçadas e vidas alteradas para sempre. Apoiados no poder que os grupos de produtores de vinho tinham, nomeadamente a estranha capacidade que estes grupos tiveram de “convencer” deputados do PSD, na altura na oposição, e em mil e uma pressões, vindas de dentro do próprio partido do governo, a lei, não passou. A saúde dos cidadãos, os mortos na estrada, as vidas, as pessoas, de nada importavam quando se tratava de defender os interesses económicos de gente que não se importa com quem Publicidade O actual Código da Publicidade encontra-se desactualizado. Apesar de não ser cumprido à risca e de ser, também, pobremente fiscalizado, o actual Código regulamenta de forma adequada a publicidade “tradicional”. Contudo, a vertiginosa evolução tecnológica produziu outras formas de comunicação, manancial de práticas de publicidade e de venda de produtos: a TV por cabo e a Internet. O controlo da publicidade a bebidas alcoólicas na TV por cabo não é possível pela existência de canais estrangeiros que, além de serem transmitidos em horários não coincidentes, têm legislação diferente da nossa. Relativamente à Internet, a questão é ainda mais grave, dado que todo o tipo de material publicitário é possível, licito e ilegal, e a possibilidade de regulamentação é ainda onírica. Jorge Pereira V A I M A I S U M P A R A O A Publicidade não tem só coisas más. Existem campanhas publicitárias, algumas delas muito boas, contra a condução sob o efeito do álcool, avisando sobre os efeitos nefastos do álcool na condução e suas possíveis consequências. Porém, a maioria delas produzem um efeito muito fugaz por serem em número reduzido e serem apresentadas durante curtos períodos de tempo. Por outro lado, são campanhas muito generalistas, quer em tema quer em população alvo. Os estudos realizados nesta área demonstram claramente que quanto mais especifico é o tema e mais pequena a população alvo, mais eficazes se tornam as campanhas educativas. Mas a questão da publicidade não se fica por aqui. Querem exemplos? 1) A publicidade a bebidas alcoólicas tende sempre a sugerir algum tipo de sucesso social, não existente, como já vimos. Contudo, o Código rege-se pelo principio da veracidade (Artigo 10º) e contra a Publicidade enganosa (Artigo 11º). 2) É proibida a associação da publicidade a bebidas alcoólicas a símbolos nacionais consagrados no artigo 11º da Constituição, a saber: “a Bandeira Nacional, símbolo da soberania da República, da independência, unidade e integridade de Portugal (...); o Hino Nacional (...) e a língua oficial (...) o Português.” Ora, se consultarmos o site oficial da Cerveja Sagres® matamos dois coelhos com uma só cajadada. Não só encontramos a referida marca associada à Bandeira Nacional como com eventos desportivos e recreativos, em clara violação das alíneas 4 e 5 do Artigo 17º do Código da Publicidade. Jorge Pereira C A M I N H O ? “fica no ouvido”. Um estudo realizado numa escola primária do EUA demonstrou que as crianças estavam mais familiarizadas com a coaxar “Bud-Wei-Ser” do que com um desenho animado publicitário de cereais como é o Tony Tiger da Kellog’s®. Os Jovens Mais uma vez, a questão dos jovens é pertinente o bastante para merecer alguns comentários à parte. Existe mesmo um documento Em 1995 foram introduzidos no merproduzido pela Eurocare intitulado “Marke- ting alcohol to young people”, no qual vou cado os alcopops, uma fórmula composta de uma variedade de bebidas alcoólicas especibasear os meus dados e comentários. almente apelativas a crianças e adolescentes. Actualmente, as crianças crescem e De facto, o gosto doce, as cores brilhantes das adoptam formas de vida adultas muito mais embalagens, as letras psicadélicas em conjunto cedo do que faziam há 30 anos atrás. Como com nomes rebeldes, tornam-se bastante atracresultado, não só os jovens começam a con- tivos para mentalidades jovens. Além disso, sumir bebidas alcoólicas mais cedo, como pa- com a utilização de palavras como “cola” e rece haver um maior consumo de bebidas em “limonada”, os consumidores são levados a cada ocasião. As crianças e os adolescentes são crer tratar-se de uma bebida ligeira de conteúum importante alvo para a indústria de bebi- do alcoólico baixo. das alcoólicas, já que representam os bebedoAgwa®, alegadamente um licor de res do futuro. Este grupo de consumidores tende a perceber o álcool como uma substân- folha de coca, atingiu o sucesso graças à sua cia isenta de riscos sobretudo pela forma como fama de melhorar a performance sexual. Cosão expostos às campanhas publicitárias que, mercializado em diversos países do mundo a de forma enganosa, dizem às pessoas que be- partir da sua produção na Bolívia, os seus distribuidores afirmam que a bebida é fabriber é inofensivo. cada a partir de ervas naturais que produzem Apesar das medidas legais adoptadas em vasodilatação e aumentam o fluxo sanguíneo. diferentes países, a realidade é que as crianças Existem dispersos na WWW múltie os adolescentes são constantemente bom- bardeados com imagens positivas relativas ao plos sites de marcas de bebidas alcoólicas cujo consumo de álcool, demonstrando que estes acesso depende apenas da introdução de uma grupos etários são, indubitavelmente, alvos do data de nascimento comprovativa da maiorisector da indústria alcoólica. Vejamos: no Rei- dade. Estes sites contém actividades dirigidas no Unido 21% dos jovens entre os 11 e os 15 a um público mais jovem como sejam jogos, anos bebe pelo menos uma vez por semana. chat rooms e downloads de screensavers e Até aos 13 anos metade dos adolescentes já temas de secretária. O site da marca Absolut experimentou um estado de embriaguez seve- Vodka® inclui uma página interactiva com ra. Na Alemanha, 10% dos jovens entre os 14 e visual musical onde um DJ escolhe músicas os 24 anos afirmam abusar no consumo de com batida apelativa a adolescentes e jovens bebidas alcoólicas. Em Espanha, um em cada adultos. A marca Bailey’s® convida os intercinco jovens entre os 14 e os 18 anos, esteve nautas a jogar no “pleasuredome” e ganhar embriagado pelo menos uma vez nos 30 dias prémios. anteriores ao inquérito... A indústria de bebidas alcoólicas utiliza os eventos desportivos e recreativos Contudo, a indústria nega que mantém as medidas de encorajamento dos jovens. para atingir as camadas populacionais mais jovens e em vastos números. Os exemplos Mas as evidências provam o contrário.... mais típicos são os patrocínios de equipes de A cerveja Budweiser® tem utilizado, futebol por marcas de bebidas alcoólicas dudesde há vários anos, um anúncio apelativo rante eventos desportivos internacionais. São usando sapos que entoam uma canção que também típicos os patrocínios de festividades 21 V A I M A I S U M P A R A O C A M I N H O ? académicas (vulgo Queima das Fitas) e os tornar-se uma arma letal, no interior da qual o bastante nessa noite mas a visibilidade não era Festivais de Verão. condutor perde a sua consciência social, má. Eu pensava que estava capaz de conduzir, quando se deixa dominar por sensações de mas estava errada. O tipo começou a ficar prazer e risco. agitado e a vomitar para todo o lado. Eu olhei, só uma vez, para trás para ver a confusão, perdi o controlo da viatura e o carro deu uma guinada. Eu não sofri nada de especial no acidente, mas o meu namorado foi projectado do carro e ficou paralisado. Nunca me poderei perdoar pelo acidente. Por me sentir responsável, acabei por casar com o meu namorado. Agora tenho 17 anos, desisti da escola para trabalhar, ganhar algum dinheiro e tomar conta dele. A minha mãe nunca mais me falou. Apesar de negar que o seus produtos são dirigidos a jovens, a indústria de bebidas alcoólicas expõe a publicidade aos seus produtos de forma maciça na MTV, um canal cuja audiência é constituída maioritariamente por jovens (40% têm idades compreendidas entre os 4 e os 18 anos). E eu?... Penso que não vou conseguir aguentar esta situação durante muito mais tempo. Testemunho anónimo w w w. s o m a z o n e . c o m . a u / c o n t e n t . a s p ? Document_ID=155 A impunidade, a falta de civismo, o autismo anti-social domina as estradas portuguesas. Muitos utentes do meio rodoviário encontram-se totalmente impreparados para conviver no meio rodoviário, considerado como factor de socialização. Não há que olhar para este grave problema numa perspectiva de divisão de culpas e de rejeição de responsabilidades. Não faz sentido desresponsabilizar o condutor culpando as estradas, a sinalização, a má fiscalização, e o mau funcionamento da autoridade estatal. Inversamente, não faz sentido responsabilizar e condenar os condutores sem que o Estado assuma a sua própria responsabilidade como garante do direito público ao uso de infra-estruturas rodoviárias seguras e pacíficas. E os exemplos poderiam continuar de forma ridiculamente progressiva. Basta dizer que os nossos jovens correm riscos graves por haver leis desactualizadas, mal reguladas e uma fiscalização ineficiente. As autoridades nacionais deveriam tomar consciência que todos estes desvios são incompatíveis com a carta sobre o álcool da OMS: “todas as crianças e adolescentes têm o direito de crescer num ambiente protegido das consequências nefastas do consumo de álcool e da sua promoção”. 8. O que podemos mudar? O automóvel não é apenas um meio de transporte. É também um factor de socialização. Quando utilizado indevidamente, conduz ao autismo, à violência e ao crime. Pode 22 CONSEQUÊNCIAS A noite que vos falo mudou a minha vida. Nós estávamos numa festa e o meu namorado levou-me, no final, para casa. Havia um outro rapaz que precisava de uma boleia. Não era nosso amigo, nem nada, mas não deixámos de lhe dar boleia. Era tarde e não o podíamos deixar sozinho. O tipo era um bocado atrevido e estava tão bêbado que decerto não chegaria a casa sozinho. Assim, decidimos que eu conduziria, enquanto o meu namorado segurava o rapaz no banco traseiro. Chovia O nosso objectivo é ilusório. A eliminação de toda a sinistralidade devida ou relacionada com o álcool é impossível. Contudo, sabemos que se o conseguíssemos, o decréscimo em morbilidade e mortalidade seria bastante significativo, chegando aos 30% em alguns países. Mas, fantasias à parte, temos de ser bastante realistas e adaptar as modificações possíveis a uma realidade bastante mais cruel. Apresento aqui um pacote de medidas que não constitui, de nenhum modo, uma opinião pessoal. São metodologias Jorge Pereira V A I M A I S existentes, em prática noutros países e com resultados favoráveis. Certamente haverá muito mais possibilidades, mas o objectivo principal deste trabalho não é apresentar soluções. É sim criar duvidas e colocar questões, de modo a que se medite sobre o problema para que se produzam e apresentem alternativas que melhorem a nossa qualidade de vida e descansem as nossas preocupações. U M P A R A O 5) Melhorar a fiscalização dos estabelecimentos de venda, sobretudo no que concerne à venda a menores, utilizando coimas pesadas e cassação das licença de venda como factores de coerção. C A M I N H O ? viária por parte dos fabricantes e vendedores de bebidas alcoólicas. 4) Proibição de concessão ou renovação de licenças de condução a indivíduos com antecedentes criminais, de alcoolismo ou in 6) Aumento do preço das bebidas capazes de parar com os seus hábitos alcoólialcoólicas, sobretudo das destiladas, à custa cos. Seria útil a introdução de um teste médiduma mais elevada taxação. co-psicológico obrigatório prévio á concessão da permissão de condução para identificação Existem outros aspectos, que podem de indivíduos com problemas relacionados Comércio parecer inocentes, mas têm um papel impor- com o álcool, à semelhança do que vem acon Sem querer fazer parecer que a Lei tante, apesar de difícil controlo legal. É o caso tecendo na Espanha. actual é permissiva, existem vários aspectos das “happy hours” que contribuem de forma 5) Identificação da figura de condutor que podem ser melhorados, sobretudo relati- importante para o consumo de bebidas alcoó- vamente à venda de bebidas alcoólicas a jo- licas em horas tardias e, consequentemente, de alto risco como aquele que: foi encontrado para a sinistralidade. com TAS superior a 2 vezes e meia o valor vens. legal; tem 2 condenações prévias relacionadas 1) Actualização da Lei e subida da Legislação e Justiça com o álcool ou alguma vez recusou fazer o idade mínima de venda e consumo para os 18 teste do ar expirado. Estes, após o período de A luta contra a sinistralidade relacioanos. pena da lei, só poderão voltar a conduzir se nada com o álcool só é eficaz se conseguir provarem e convencerem o tribunal que não têm nem virão a ter problemas relacionados com o álcool e após repetição dos testes para obtenção de licença de condução. reduzir, de forma significativa, o número de condutores que conduz sob o efeito do álcool. É possível a criação de armas legais para atingir esse objectivo. 1) Redução da TAS mínima. Encontra-se demonstrado que não é possível ser radical ao ponto de reduzir a TAS a 0 g/l pela possibilidade de falsos positivos produzidos por determinados alimentos. Mas, sabemos que uma taxa de 0,2 g/l é eficaz na redução da sinistralidade e é possível de ser utilizada. Prova disso são os resultados obtidos durante 2) Criação de uma Licença de venda a sua curta utilização no nosso país e a sua de bebidas alcoólicas restrita a determinados utilização continuada noutros países. estabelecimentos (Restaurantes, Bares, Cafés, Garrafeiras), especifica (fermentadas e/ou 2) Obrigação do cumprimento de destiladas) e com horário definido de venda. TAS mínima para condutores profissionais de 3) Proibição de venda de bebidas alcoólicas nas Estações de Serviço e em qualquer estabelecimento de venda nas auto-estradas, como é sugerido no Plano de Acção contra o álcool. transportes públicos, transportes de doentes e transportes de mercadorias através da utilização de fechos de ignição sensíveis à TAS obtida pelo ar expirado. Em alguns países, nomeadamente a Austrália, existe o objectivo de comercializar todos os automóveis com este dispositivo a partir de 2006. 6) Aumento do valor das coimas e dos períodos de inibição de condução para condutores com licença há menos de 2 anos. 7) Efectivação do serviço à comunidade como pena acessória com articulação das condenações com as instituições de acolhimento. Criação de cursos de formação cívica para os prevaricadores. Fiscalização 1) Aumentar a taxa de fiscalização anual da TAS. Esta medida e a a redução da TAS mínima são, sem dúvida, as duas medi 4) Definição de um perímetro mínidas chave para conseguir reduzir o número de mo de distância dos estabelecimentos de venindivíduos prevaricadores. Alguns países con 3) Controlo legislativo actualizado da da das escolas. Este perímetro deverá estabeseguiram baixar a taxa de sinistralidade mepublicidade tendente a exponenciar comporlecer, também, a proibição de postos de venda xendo apenas nesta variável. Existem várias tamentos rodoviários agressivos e temerários nos principais trajectos dos alunos até aos formas de o realizar, a maioria delas à custa de e obrigação da promoção da segurança rodotransportes públicos. um maior contingente de agentes de autoriJorge Pereira 23 V A I M A I S dade nas estradas. Uma outra forma é a criação dos chamados “sobriety checkpoints”. São locais fixos na estrada, onde veículos são parados de forma aleatória para realizar o teste no ar expirado, todos os dias. Pode não aumentar significativamente a taxa de fiscalização mas, acreditando na experiência dos países que já utilizaram esta técnica (os EUA, por exemplo), diminui o número de condutores sob o efeito do álcool. O condutor que passa obrigatoriamente por um dos “sobriety checkpoints” sem saber se é ou não fiscalizado evita beber para não ser penalizado. U M P A R A O CAGE tem sido utilizado noutras instituições com resultados semelhantes (have you ever tried to Cut down your drinking? are you Annoyed when people complain about your drinking? do you ever feel Guilty about your drinking? do you ever drink Eye-openers?). O Volume Globular Médio e a Gama Glutamil transpeptidase são marcadores laboratoriais de alguma utilidade. O sucesso deste trabalho de equipe depende de uma multidisciplinaridade que inclua profissionais das áreas da Psiquiatria, da Psicologia, da Assistência Social, da Medicina Física, do Voluntariado Social e um Sacerdote. C A M I N H O ? Actividade seguradora 1) Envolver as Companhias seguradoras nos financiamentos dos programas educativos e promocionais para uma condução mais segura. Rever o sistema contractual do seguro automóvel de modo a aumentar a responsabilidade das seguradoras, no esforço de diminuir a sinistralidade rodoviária. 2) Obrigatoriedade de maior agravamento do valor das apólices para condutores comprovadamente reincidentes na prática de condução perigosa e eventual negação do seguro a condutores reincidentes na prática de 2) Fiscalização de locais chave em crimes rodoviários. 3) Follow-up dos traumatizados sob influência momentos chave, por exemplo, as saídas das do álcool por equipe multidisciplinar, regisdiscotecas nas noites de fim-de-semana. tando os seus progresso na luta contra o alcoo- Coordenação administrativa 3) Monitorização dos indivíduos previamente lismo, além da sua recuperação física. 1) É importante que se crie um organismo condenados através de “oficiais de responsável pela execução e controlo permaEducação e Promoção da Segurança condicional” ou termos de identidade. nente de um Plano Nacional Rodoviário (a elaborar pela Assembleia da República), em 1) Realização de campanhas de desencorajaSociedade mento do consumo de álcool durante a con- articulação constante e efectiva com as forças 1) Maior disponibilidade de trans- dução. Estas campanhas de segurança deverão policiais, o Serviço Nacional de Bombeiros, a portes públicos alternativos que sejam seguros ser especificas de grupo, não abstractas e sem Protecção Civil, os órgãos de Justiça, as difee razoavelmente convenientes. apelos a noções vagas de prudência ou consci- rentes brigadas de fiscalização, com os coorência. Devem ser baseadas na identificação denadores do sistema integrado de Trauma, 2) Cooperação entre os vários estabe- clara dos comportamentos de risco e na pro- enfim, todos os organismos intervenientes no lecimentos de divertimento nocturno na cria- posta objectiva de comportamentos e actua- sistema. Este organismo, constituído por reção de uma rede de transporte público exclu- ções de segurança (“Curtas, grossas e impres- presentantes de organismos estatais e goversivo dos seus clientes. Vários estudos interna- sionantes”). namentais e da sociedade civil, poderia, tamcionais demonstraram que as campanhas “debém, articular a investigação sobre trânsito e signated driver” (utilizada em Portugal como sinistralidade, gerir a promoção pública da o 100% cool) tornam-se ineficazes a médio e a segurança e dos programas de educação. longo prazo. Ultimamente têm surgido várias acções do tipo “você bebe, nós conduzimos” com resultados interessantes. Estes transportes deverão ser gratuitos. Saúde 1) Manter e aperfeiçoar as actuais medidas de tratamento do alcoolismo, de acordo com as premissas sublinhadas no Plano de Acção contra o alcoolismo. 2) É cada vez mais urgente a criação de uma rede de trauma em Portugal. Um sistema de orientação de doentes vitimas de trauma não só melhora a qualidade de cuidados prestados a cada vitima nas Unidades de Saúde como permite a realização de registos para posterior auditoria e a avaliação do trabalho executado. Permitirá, também, que as equipes se possam organizar no sentido de identificar os indivíduos em risco de recorrência traumática. Estes, deverão ser referenciados para tratamento da sua condição nas Unidades de Saúde apropriadas. Neste contexto têm sido utilizados vários parâmetros, com sucessos variáveis, na identificação de doentes com problemas relacionados com a ingestão abusiva de doenças alcoólicas. O John Hopkins University Hospital utiliza um inquérito exaustivo de 20 perguntas de resposta sim/não, mas o inquérito 24 2) Denunciar e mesmo proibir a divulgação de imagens publicitárias e campanhas promocionais e patrocinadoras de eventos que possam induzir ao cerimonial irresponsável do consumo excessivo de álcool. 3) Estabelecimento de programas educativos e de prevenção para adolescentes e jovens (condução cívica, consumo de álcool, etc.) Jorge Pereira V A I M A I S U M P A R A O C A M I N H O ? 9. Por fim... O trauma é uma doença actual. A violência urbana e doméstica, o crescimento tecnológico exponencial e a expansão das vias e dos meios de comunicação produzem, todos os dias, um manancial de casos novos, todos eles um desafio para os profissionais de saúde. Não é possível, dadas as condições actuais, eliminar o trauma como causa de mortalidade e morbilidade. Porém, podemos eliminar, ou pelo menos reduzir, a importância, de algumas das suas causas. O álcool, a esse respeito, assume um papel de destaque. O álcool é responsável por percentagens variáveis de todo o tipo de trauma e ainda de morbilidade não relacionada com o trauma, mas mortal, incapacitante e de prevalência não desprezível. A contribuição do álcool para a doença constitui um problema grave que envolve a sociedade a todos os níveis. Por esse motivo é tão difícil conseguir eliminar a sua participação. A importância do seu papel económico no tecido empresarial mundial, torna quase impossível a criação de leis restritivas ao seu consumo. É nosso papel, enquanto cidadãos, dizer basta. Parar de pactuar com os crimes que diariamente acontecem nas nossas estradas e matam os nosso concidadãos, os nossos jovens e os nossos filhos. Infelizmente, não são só os alcoolizados que sofrem as consequências dos seus actos nefastos. Junto com eles são arrastados inocentes, cujo único pecado foi estar no local errado à hora errada. Existem, actualmente, duas armas importantes no combate à condução sob o efeito do álcool: a Carta Europeia do Álcool, como defendida pelo Eurocare e o Plano de Acção contra o alcoolismo. Implementados no campo e acrescidos de mais algumas medidas complementares, poderão levar, a médio prazo, a resultados significativos. Existem inúmeras organizações não governamentais cuja ajuda é preciosa, quer para lançar alertas quer na produção de propostas concretas de actuação. Devemos contar com a ajuda de todos, mesmo do mais comum dos cidadãos, pois se ele decidir não beber, ganhámos a nossa aposta. 10. Iconografia Página 1 1. Póster de Jacqueline Saburido após colisão frontal com condutor sob o efeito do álcool http://www.helpjacqui.com Página 2 1. Figura da página “Alcohol in History” do site: http://www.ephidrina.org/ephidrina.html Página 3 1. Ambulância de Dominique Larrey 2. Teste de bebedeira: http://www.flogao.com.br/rco Página 5 1. Tabela de TAS na Europa em 2001 - Revista Tráfico Nov/Dez 2001 2. Breathalizer Lifeloc® 3. Tips for safer travel - Alcohol, medicines, other drugs & driving fact sheet: http://www.adf.org.au Página 7 1. Tabela de sinistralidade rodoviária em Portugal. Fonte: Direcção-Geral de Viação 2. Roadkill 3. Ícone Página 8 1. Tabela de mortes em acidentes em que o álcool foi factor contribuinte. Fonte: Crash facts 2001 2. Gráfico de risco relativo de acidente por TAS. Fonte: Crash facts 2001 3. Gráfico de evolução semanal e diária da sinistralidade rodoviária. Fonte: Crash facts 2001 Página 9 1. Ícone Jorge Pereira 25 V A I M A I S U M P A R A O C A M I N H O ? 2. Gráfico de distribuição de mortes ligadas ao 1. Campanha britânica contra a violência doálcool. Fonte: Álcool e problemas ligados ao méstica álcool em Portugal - Direcção-Geral de Saúde 2. Anúncio publicitário Página 10 1. Tabela de incidência do álcool na criminalidade. Fonte: Álcool e problemas ligados ao álcool em Portugal - Direcção-Geral de Saúde 2. Ícone Página 11 1. Gráfico de evolução da sinistralidade real versus esperada em Portugal. Fonte: Prevenção Rodoviária Portuguesa Página 12 1. Continuação dos gráficos da pagina anterior 2. Cars and girls Página 13 1. Morrer pela boca: http://www.mopo.ca/uploade_images/Drun k_jpg-729986.jpg 2. Drunk Faery - Alina: Página 20 1. Camisola da Selecção patrocinada pela cer- Artigos científicos veja Sagres® durante o Campeonato Mundial Abder-Rahman H. A., Hadidi K. A., Battah A. H. - Reliabide Futebol lity of clinical decisions regarding alcohol influence, J Clin Página 21 Forensic Med., Vol. 6(3), Sep 1999 1. Anúncio publicitário Alexander Wagenaarm Patrick O’Malley, Colette LaFond Lowered legal blood alcohol limits for young drivers: effects on drinking, driving and driving-after-drinking behaviors in 30 states, American Journal of Public Health, May 2001 2. Anúncio publicitário 3. Contra-informação 4. Campanha anti-álcool americana Página 22 1. Supermercado Página 23 1. Ícone 2. Autocarro comunitário de transporte de indivíduos sob influência do álcool http://home.iprimus.com.au/aboriginal/Nat alie -31_Drunk_Faery.htm 3. Campanha contra a violência na cidade da Safe Hart (Community Safety Partnership) Reino Unido Página 14 Página 24 1. Assembleia da República 1. Ícone 2. Eng.º Ant.º Guterres (enquanto PrimeiroMinistro de Portugal) Página 15 1. Ícone 11. 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