JORNAL DA associação médica Página 10 • Agosto/Setembro 2013 ESPE Preceptoria: vai muito além Preceptor (a) pela descrição da enciclopédia aberta Wikipédia “é aquele (a) responsável por conduzir e supervisionar, através da orientação e acompanhamento, o desenvolvimento do profissional”. Na medicina, ele é o tutor dos médicos residentes nas es- pecialidades de um hospital. Nossa reportagem ouviu experientes e jovens preceptores. Todos foram unânimes ao dizer que, mais do que formar bons médicos através das técnicas e acompanhamento de casos clínicos, eles têm como tarefa sedimentar a ética, mo- ral e o sentimento de humanidade no tratamento para com o paciente. Além disso, eles apontam como necessária e urgente a criação de uma carreira, que visa dar a esses mestres maior segurança e valorização no trabalho desenvolvido. Alexandre Guzanshe Os desafios na formação de futuros médicos são muitos e na linha de frente destes profissionais está o preceptor. Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot), em 2011, com 66 preceptores de 66 serviços, apontou que 90% deles não receberam treinamento. Ou seja, a grande parte atua sem nenhuma base para esse cargo. Para muitos médicos, o foco no Brasil está concentrado no treinamento e capacitação do residente, mas não há preocupação com a formação do preceptor. Durante o Fórum de Preceptores de 2012, realizado pela Sbot em agosto, discutiu-se amplamente sobre a criação da carreira desse profissional. Criado em 2010, o fórum visa em primeiro lugar discutir a padronização do ensino para os residentes de todo o Brasil. De acordo com a Sbot, constatou-se que a formação dada aos residentes dos grandes hospitais era mais adequada e completa que a ministrada nos pequenos centros. Foi averiguado também que existe uma diferença entre a formação de um médico de uma faculdade tradicional e das novas instituições que estão se multiplicando país afora. De acordo com o ortopedista e traumatologista, Gilberto Ferreira, formado em 1975 pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a indicação para o cargo de preceptor passa O ortopedista e traumatologista Gilberto Ferreira fala da importância do preceptor na formação do médico por muitas nuances, como ter o título de mestre ou doutor, ser bem relacionado e demonstrar aptidões técnicas, científicas, dentre outras. “Infelizmente, nem todos sequer apresentam uma base para desenvolver uma metodologia estatística e um bom programa de residência. O que vemos e nos preocupa é a prática de transformar seus residentes em mão de obra barata”, alerta Ferreira. Para a professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia e preceptora há mais de 20 anos, Maria Bernadete Jeha Araújo, o papel desse profissional é de se ser um facilitador no processo de aprendizagem. “Colocar a sua experiência, o seu conhecimento, os recursos tecnológicos a dispor do interno e/ou residente e participar com ele da sua formação também não podem ser deixados de lado”, enfatiza a pediatra. Jeha chama a atenção para o fato de que faltam mais discussões sobre os recursos pedagógicos da preceptoria. Ela explica que a parte técnica, ou seja, o conhecimento médico é sempre alvo em congressos, reuniões, seminários e atualizado por meio de uma literatura especializada, mas parte do ensino pode e deve ser melhor discutido e aproveitado. A especialista acredita que, hoje, a preceptoria não é um ato individualizado, sendo inerente às outras funções que o médico e/ou preceptor têm nas suas atividades diárias. Uma das maiores dificuldades enfrentadas, explica Jeha, é a escassez de tempo decorrente de uma extensa jornada de trabalho, a desmotivação ao não reconhecimento do papel de preceptor, a ausência de remuneração específica e, às vezes, a falta de capacitação pedagógica. Bruna Nishihata Plano de carreira Com mais de 30 anos de experiência na preceptoria, o ortopedista Gilberto Ferreira enfatiza para a necessidade urgente da criação de uma carreira para esses profissionais. “A estrutura de saúde no Brasil só vai melhorar se os preceptores forem bem treinados e remunerados. Hoje essa formação é muito heterogênea. Não basta ser apenas mestre ou doutor, é preciso ter experiência, uma infraestrutura bem organizada, repasses dignos para o ensino médico, senão de nada adiantará colocar na linha de frente para atender nossos pacientes, profissionais que tiveram como seus tutores, preceptores despreparados”, afirma o médico. No último fórum de preceptores realizado pela Sbot foram debatidas também a necessidade de uma remuneração adequada e a possibilidade de ascensão dentro da profissão. Até o final desta edição, nosso jornal não obteve retorno do coordenador da Comissão de En- Fórum de Preceptores da Sbot, em 2012, reuniu especialistas em ortopedia e traumatologia. Uma das discussões foi o plano de carreira sino Medico da Sobt, João Baptista dos Santos, para responder a quantas anda o projeto e se o mesmo já foi apreciado no Congresso, e co- mo caminham essas discussões junto às entidades médicas e demais sociedades de especialidades.