III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009
O ensino/aprendizagem de filosofia através do blog: a nova ágora virtual1
Luciano Tavares TORRES (UFJF)2
Resumo em português
O presente artigo tem como proposta empregar uma metáfora que “desse conta” de aproximar - em
face do surgimento das novas tecnologias, em particular o computador/internet - o sentido antigo da
“praça pública”, dos diálogos realizados na contemporaneidade, mediados pelos diversos ambientes
virtuais: ÁGORA VIRTUAL. Nesse sentido, temos por objetivo discutir os desafios e as
possibilidades do ensino/aprendizagem de filosofia por meio de blogs, como um instrumento que
permite a extensão dos debates, a exposição de idéias e a autonomia argumentativa, bem como o
desenvolvimento da escrita com alunos do ensino médio na cidade de Juiz de Fora-MG.
Palavras-chave: Computador/internet; argumentação; “ensino/aprendizagem de Filosofia”.
Desde o período clássico, a maneira de pensar e conceber o mundo ocidental se
desenvolveu segundo os princípios da tradição filosófica e cultural do povo grego. Sabemos
que a Grécia antiga estava subdividida em comunidades independentes que se alastravam
junto à margem do mediterrâneo, e cujos modos de entender a vida se diferenciavam muito de
uma cidade-estado para outra.
Apesar disso, tais parcialidades continham em seu cerne algumas semelhanças, como a
língua e a religiosidade, o que, em contato com outras culturas advindas dos povos que se
estabeleceram na região, resultou tanto na difusão quanto na fusão da cultura grega. Dessa
forma, na medida em que se forjaram novas teias de relações interculturais, o mosaico social,
político, religioso e cultural inaugurou uma nova forma de pensar: saiu de cena a consciência
mítica e religiosa para a entrada da consciência racional e filosófica. As explicações
mitológicas de um mundo dado e previamente determinado sucumbiram face ao advento da
razão, do empirismo e do debate racional.
Essa nova forma de organização, baseada no logos, foi chamada de Pólis. Através da
concepção racional da sociedade, o comércio ganhou impulso, a moeda foi cunhada e,
principalmente, ganhou destaque a propalada Ágora Grega, que ao se tornar o centro da
cidade, foi palco de transações comerciais e debates públicos. Temáticas como a defesa da
1
Trabalho apresentado ao Grupo de Discussão 09 - ATIVIDADES HIPERTEXTUAIS: O QUE NOS DIZ A
PRÁTICA, no III Encontro Nacional sobre Hipertexto, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2009.
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Mestrando em Educação. [email protected]
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cidade ou sua organização política eram proferidas por todos e a todos os cidadãos que a ela
pertenciam, dando início ao sistema democrático direto de governo.
A palavra, o discurso e a razão aos poucos tomaram conta da praça, e os oradores com
seu poder de convencimento e retórica se tornaram determinantes para a elaboração de
assuntos públicos. Agora, a razão cabia a quem sabia convencer. A argumentação na Ágora
tinha como princípio reconhecer o “outro” como um ser constitutivo e pertencente àquelas
discussões proferidas na praça. O “outro”, na Grécia Clássica, não era apenas alguém que
expunha suas idéias e valores segundo princípios individuais, ele fazia parte de um conjunto,
de um contexto e de um sistema de relações, em suma, de uma Pólis, em que o importante era
a formação e compreensão do “todo” em que estava inserido.
Ademais, nas praças públicas (Ágoras), o diálogo adquiriu força e foi considerado
como a arte da persuasão. Ele não apenas possuía como função exprimir um discurso de
cunho filosófico, em que a exposição de idéias está carregada de certezas e conceitos, mas
percebia no “outro” uma possibilidade de encontro, permitindo àqueles que dialogavam
seduzirem e serem seduzidos pela fala alheia. No diálogo, os participantes não presumiam
deter o conhecimento, mas sempre tinham com o que contribuir. A existência dessa
linguagem comum fez com que as discussões passassem a ser direito de todos,
complexificando as relações interpessoais.
O diálogo, na Grécia Antiga, surgiu como abertura para um novo modelo social: por
meio do convencimento, do raciocínio, da exposição de idéias e da capacidade de falar e
polemizar, o logos passou a ser critério para pensar e agir desse novo homem grego.
Mesmo que hoje tenhamos nos distanciado historicamente da cultura grega, é inegável
considerar que a capacidade do homem moderno de se relacionar, de dialogar racionalmente e
de encontrar o “outro” é um espelho longínquo do pensamento clássico. Destarte, nos
propusemos a empregar uma metáfora que “desse conta” de aproximar - em face do
surgimento das novas tecnologias, em particular o computador/internet - o sentido antigo da
“praça pública”, dos diálogos realizados na contemporaneidade, mediados pelos diversos
ambientes virtuais: ÁGORA VIRTUAL.
Entendemos que os novos instrumentos de comunicação e relacionamento surgidos no
final do século XX, como o computador/internet e os múltiplos ambientes virtuais, assim
como a Ágora na Grécia antiga, tornaram-se um expressivo centro de discussões, posto ter
sido criada com essas tecnologias uma nova forma de comunicação digital, que além de ser
integrada e hipertextual é, sobretudo, híbrida e inter-relacional.
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Nos diversos ambientes virtuais, como chats, MSN, fóruns de discussões e blogs, o
diálogo tornou-se significativa expressão de relacionamento, consolidando um novo modo de
comunicação. O computador/internet e todo seu arsenal tecnológico ampliaram os horizontes
de conhecimento do homem e, conseqüentemente, de sua linguagem. Assim, argumentar e
dialogar por meio do mundo virtual tornaram-se práticas que ultrapassaram os limites de
interlocução em face à presença física do outro.
Nosso estudo tem como ponto de partida perceber e analisar os argumentos e seus
desdobramentos como balizadores do ensino/aprendizagem de filosofia no interior de
ambientes virtuais, em especial os blogs, que promovem a discussão crítica e reflexiva
ocorrida em sala de aula. Nesse sentido, torna-se nosso objetivo proporcionar através de tal
instrumento tecnológico mais um lugar possível para o pensamento reflexivo e argumentativo.
Assim como nas praças, o blog no mundo contemporâneo lança e inaugura outro meio
de relação. O contato virtual (em que não é necessária a presença física) e atemporal (cada
participante pode acessar os diálogos e discussões no tempo em que considerar pertinente),
bem como o registro escrito, são apenas algumas características que potencializam o
questionamento e o argumento, como existiu um dia nas tradições do povo grego.
Contudo, falar do relacionamento promovido através dos espaços virtuais e todo o
diálogo possibilitado nos novos ambientes, em que a linguagem se encontra mais uma vez
como pressuposto determinante da vida humana, não é nada simples e, por isso, convidamos o
pensador da teoria da argumentação e da retórica, Chaïm Perelman, para nos ajudar a entender
melhor esse movimento de diálogo, discussão, debate, questionamento e, sobretudo, de
argumentação, tão recorrentes no mundo virtual dos blogs.
Acreditamos no blog como ambiente de abertura ao diálogo reflexivo e à defesa de
argumentos elaborados por seus participantes, por entendermos ser este espaço um meio pelo
qual a mera deliberação das teses é sucumbida diante da pluralidade de culturas, pontos de
vista e entendimentos partilhados por seus interlocutores. Como cita Perelman: “O campo da
argumentação é do verossímil, do plausível, do provável, na medida em que este último
escapa as certezas do cálculo”. (Perelman, 2005, P. 01).
O Argumento é um ato em que é necessário o respeito ao interlocutor, como alguém
que interfere, persuade e que tenta modificar pontos de vista. No diálogo argumentativo, o
“outro” é um sujeito que concebe verdades e que ao contrapor idéias às teses anteriores
defendidas, resignifica sentidos. Com efeito, para argumentar é preciso ter apreço pela adesão
do interlocutor, pelo seu consentimento e pela sua participação mental (Perelman, 2005, P.
18).
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Dessa forma, saber identificar o auditório que se faz presente no ambiente virtual é
buscar meios para despertar o interesse, é criar condições e estratégias para o convencimento
da tese que é debatida. É se posicionar como um ouvinte e ao mesmo tempo como um
interlocutor de argumento interessado para o convencimento. A exposição dos pensamentos
perante a multidão reunida somente é relevante se for para tentar obter adesão dos “espíritos”,
por meio do argumento, às respectivas teses apresentadas pelo orador. Evidentemente,
podemos entender o blog como um espaço plural, em que a relação existente entre o orador e
o seu auditório é obtida pela capacidade de persuasão dos seus participantes. Como nos
informa Perelman:
Esse contato entre o orador e seu auditório não concerne unicamente às condições prévias da
argumentação: é essencial também para todo o desenvolvimento dela. Com efeito, como a
argumentação visa obter a adesão daqueles a quem se dirige, ela é, por inteiro, relativa ao
auditório que procura influenciar. (Perelman, 2005, P. 21).
Desse modo, podemos entender que o convencer e o persuadir são limites imprecisos e
que o auditório está sempre suscetível à compreensão equivocada do seu orador, obrigando-o
sempre a buscar novos caminhos que possam ajudá-lo a ser compreendido e a compreender.
Acerca da importância do argumento e de sua dialeticidade, nos informa o pensador da
argumentação:
Toda argumentação que visa somente um auditório particular oferece um inconveniente, o de
que o orador, precisamente na medida em que se adapta ao modo de ver de seus ouvintes,
arrisca-se a apoiar-se em teses que são estranhas, ou mesmo francamente opostas, ao que
admitem outras pessoas que não aquelas a que, naquele momento ele se dirige. (Perelman,
2005, P. 34).
Portanto, a existência de uma linguagem comum que permita uma interação entre as
pessoas e que seja uma ponte de ligação com o “outro” auxilia tanto na constituição
formadora do ser, que ora influência e ora é influenciado pela linguagem, como na
reformulação dos conceitos prévios estabelecidos pelas teses apresentadas. Como infere
Perelman: “O mínimo indispensável à argumentação parece ser a existência de uma
linguagem em comum, de uma técnica que possibilite a comunicação”. (Perelman, 2005, P.
17)
Com o intuito de nos ajudar a desbravar esse complexo sistema de pensamento que é a
linguagem - ressalvadas, todavia, as distinções entre as teorias do pensador a seguir
mencionado e do teórico da argumentação Chaïm Perelman - nos sentimos na necessidade de
recorrer ao filósofo russo Mikhail Bakhtin.
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O pensador entende a língua como sendo parte de um processo evolutivo de
apropriação do mundo pelo homem. Ela não nasceu pronta para ser utilizada e transmitida,
mas sim para ser discutida, interpretada, compartilhada e recriada, estando de tal maneira em
constante transformação. Bakhtin acrescenta ainda um atributo importante e inerente à língua:
o de ser dialógica. A esse respeito, esclarece José Luiz Fiorin:
Segundo Bakhtin, a língua, em sua totalidade concreta, viva em seu uso real, tem a propriedade
de ser dialógica. Essas relações dialógicas não se circunscrevem ao quadro estreito do diálogo
face a face. Ao contrário, existe uma dialogização interna da palavra, que é perpassada sempre
pela palavra do outro, é sempre e inevitavelmente também a palavra do outro. Isso quer dizer
que o enunciador, para constituir um discurso, leva em conta o discurso de outrem, que está
presente no seu (Fiorin, 1996:128).
Acerca da relevância da linguagem comum que aproxima os pares, nos informa
Bakhtin: “A língua vive e evolui historicamente na comunicação verbal concreta, não no
sistema lingüístico abstrato das formas da língua nem no psiquismo individual dos falantes”
(Bakhtin,1981:124). Acrescenta a professora Maria Teresa Assunção Freitas: “o homem é um
ser expressivo e falante e a linguagem é constituidora de sua consciência. O discurso do
sujeito falante é que liberta o homem de sua condição de objeto” 3.
A linguagem assume um papel de interação dialógica, fundada e fundante das relações
sociais. É através do contato entre o “eu” e o “outro”, mediado pela palavra, o argumento, o
dizer - dado num determinado contexto – e sua significação segundo os valores partilhados,
que o auditório reage à tese discutida.
Por esse motivo, a apropriação que se faz da linguagem não pode ser rígida,
determinada e reta, como supõem os lingüistas de corrente formalista, mas, ao contrário, a
língua é um discurso fluido, variável e flexível e está estritamente ligada ao contexto da
situação concreta da comunicação verbal em que atuam seus interlocutores: “quando as
pessoas utilizam a linguagem, não atuam como se fossem máquinas que enviam e transmitem
códigos, mas como consciências empenhadas em um entendimento simultâneo: o falante ouve
e o ouvinte fala” (Clark & Holquist, 1998:237, apud JUNQUEIRA, Fernanda, 2003: 25).
Bakhtin defende ainda a acepção de um novo conceito, que ultrapasse a noção comum
de diálogo: o dialogismo. A necessidade de inaugurar um termo para explicitar as relações
dialógicas existentes na comunicação verbal entre o “eu” e o “outro” decorre da observação
3
FREITAS, Maria Teresa de Assunção. “Bakhtin e A Psicologia”. In: Carlos Alberto Faraco; Cristovão Tezza;
Gilberto de Castro. (Org.). Diálogos com Bakhtin. 3a. ed. Curitiba: Editora da UFPR, 1996, v. 1, pp. 165-187.
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de que nos processos de linguagem, a palavra viva interage sempre com o discurso alheio,
mesmo que ele não esteja presente.
A língua não é neutra e não passa livre e facilmente a pertencer, como propriedade privada, às
intenções do falante; ao contrário, ela é povoada - super povoada - pelas intenções dos outros.
Impedir a influência do outro, submetendo-a apenas às nossas próprias intenções, é um difícil e
complicado processo (Bakhtin apud Cazden, 1998:201).
O dialogismo destaca-se pelo seu caráter contextual de interação, em que tanto o
falante quanto o seu discurso só existem a partir da existência de um “outro”, quer seja este
um interlocutor, um leitor ou um próprio sistema lingüístico, instigando o permanente diálogo
nem sempre harmonioso, mas que inaugura, reflete e fomenta uma relação com o “outro” de
modo interdiscursivo de compreensão do mundo.
Bakhtin considera o diálogo como as relações que ocorrem entre interlocutores, em uma ação
histórica compartilhada socialmente, isto é, que se realiza em um tempo e local específicos,
mas sempre mutável, devido às variações do contexto. Segundo Bakhtin, o dialogismo é
constitutivo da linguagem, pois mesmo entre produções monológicas observamos sempre uma
relação dialógica; portanto, todo gênero é dialógico(RECHDAN, 2003: 02).
É devido à dialogicidade que as relações são criadas e estabelecidas e que as teias são
constituídas. As vozes dos interlocutores nos diálogos são entrelaçadas, entrecruzadas, nas
quais a todo dizer corresponderá uma reação, uma réplica e uma atitude responsiva, gerando
um caráter dialético para a efetivação do processo comunicativo.
Em outras palavras, o dialogismo e toda a atividade discursiva e argumentativa
exercida em seu interior, isto é, a influência da palavra do “outro” e deste “outro” sobre a sua,
a contínua influência dos contextos sobre os entendimentos obtidos nos discursos e a
interminável construção de significados e de enunciados são partes que determinam e
constituem o próprio homem. Nos informa Bakhtin: “Em todo enunciado, contanto que o
examinemos com apuro, levando em conta as condições concretas da comunicação verbal,
descobriremos as palavras dos outros ocultas ou semi-ocultas, e com graus diferentes de
alteridade” (Bakhtin, 2000:318).
O blog se apresenta como um lugar possível para linguagem comum e, sobretudo,
como um novo terreno para o desenvolvimento da racionalidade argumentativa. O exercício
do ouvir e do falar neste espaço de relacionamento é como um campo em que as pessoas
argumentam e exercem funções outras que ultrapassam o simples comunicar, pois tecem
continuamente acordos, dissensos, rupturas, reformulações, resignificações e, sobretudo,
novos sentidos tanto para si quanto para o outro.
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Por considerarmos importantes em nosso trabalho a compreensão das noções
explicitadas, assumimos as perspectivas perelmanianas e bakhtinianas como explicativas para
as relações de comunicação e argumentação estabelecidas nos espaços virtuais, marcadas pelo
dinamismo e “vivacidade” da língua, ou mais, pelo diálogo e interação estabelecidos entre o
orador e seu auditório.
Entendemos e acreditamos na comunicação virtual por meio do computador/internet e
seus ambientes de relação, em especial o blog, como um instrumento legítimo para o
desenvolvimento da subjetividade e da argumentação, bem como para o diálogo e a reflexão
filosófica. A linguagem que marca os ambientes on-line possibilita a interatividade e, com ela,
o embate de pensamentos diversos, ou mesmo confrontantes, num mesmo tempo e espaço,
ocasionando a geração de uma criação coletiva, tal como ocorria na praça grega4.
O computador/internet, nesse sentido, possibilita àqueles que participam de seus
ambientes de relacionamento inaugurarem lugares outros legítimos para o saber, o
pensamento e o conhecimento que circulam e se manifestam em um espaço invisível,
dinâmico e vivo, onde aprender, inventar, conhecer e produzir são termos que somente têm
sentido se fizerem parte de um pensamento e de uma consciência participativa, coletiva e
responsável de que o “outro” faça parte: “não os organismos do poder, nem as fronteiras
disciplinares, nem as estatísticas dos mercados, mas sim o espaço qualitativo, dinâmico, vivo,
da humanidade que se inventa ao mesmo tempo em que produz o seu mundo.” (LÉVY, 1997,
p.17).
Portanto, podemos considerar os espaços virtuais, onde o “eu” e o “outro” se fazem
presentes, como um campo de luta e de encontro das diversas vozes sociais existentes num
determinado meio. Nos ambientes on-line, surgem novos processos de interlocução, relação e
diálogo constituídos e alimentados por valores sócio-culturais partilhados e apreendidos com
as trocas, divergências e diversidades do auditório que são inerentes em seu interior. O
computador/internet instigou o homem a um mergulho profundo permeado pelas relações
dialógicas, na perspectiva bakhtiniana, no qual o sujeito somente se constitui à medida que vai
em direção ao “outro”, pois, como na Filosofia, este “outro” é fundamental para a constituição
do seu “eu”.
Diante deste olhar, retornamos à crença nas tecnologias virtuais como possíveis
aliadas do homem ao retorno da discussão filosófica, segundo suas raízes gregas. Motivo pelo
qual concluímos anteriormente ser pertinente comparar os ambientes constitutivos da
4
CENCI, Márcio Paulo; IBERTIS, Carlota. Internet: um recurso para o ensino de filosofia? p. 03.
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virtualidade a outros lugares de mediação, participação, democracia e inclusão, como a citada
Ágora grega. Neste momento, tornou-se o computador/internet uma nova praça pública, que,
através de seus diversos programas de relacionamento, constitui-se num lugar dialógico para o
embate de idéias, reflexões e para a exposição das diferentes opiniões e argumentações.
Esta constatação nos levou a lançar um novo olhar para as aulas de Filosofia, que
incluísse o computador/internet e toda sua potencialidade de comunicação. Refletimos que
aprender Filosofia no ambiente escolar com o auxílio do computador/internet seria um modo
de possibilitar ao aluno articular de maneira dialógica e interativa a compreensão de questões
levantadas, ajudando-os em sua emancipação e em posicionamentos frente às indagações
propiciadas pelos temas. É importante ressaltar que entendemos por aprender tudo aquilo que
implica ao sujeito construir para si um mundo e um modo típico de se relacionar.
O conhecimento filosófico, alcançado com a aproximação das diversas leituras
possíveis que o homem é capaz de fazer, somente teria sentido se o aluno estivesse aberto a
aprender com seu par e permitisse a ampliação de sua linguagem. Em relação a esse olhar
aberto do homem para o mundo, o educador Jorge Larrosa nos informa que:
O mundo não existe anteriormente a uma forma que lhe dê seu perfil. Ou existe, mas como
algo amorfo, desordenado e sem delimitações e, portanto, sem sentido. Não há uma experiência
humana não mediada pela forma e a cultura é, justamente, um conjunto de esquemas e
mediação, um conjunto de formas que delimitam e dão perfis às coisas, às pessoas e, inclusive
a nós mesmos. A cultura, e especialmente a linguagem, é algo que faz com que o mundo esteja
aberto para nós (Larrosa, 2006: 49).
Nesta perspectiva, o alargamento da linguagem propiciado pela multiplicidade de
espaços de relação permitiria que o diálogo fosse uma atitude para o entendimento da reflexão
filosófica. Como nos adverte Ludwig Wittgenstein: “os limites da minha linguagem denotam
os limites do meu mundo”5.
Logo, buscar o conhecimento filosófico com o suporte da tecnologia virtual
significaria permitir aos alunos a criação de espaços específicos para o diálogo, a crítica, a
interatividade e as reflexões acerca do cotidiano da vida dos homens e do mundo. Citando
novamente Jorge Larrosa, “ (...) cada um tenta dar um sentido a si mesmo, construindo-se
como um ser de palavras a partir das palavras” 6.
A aproximação de distâncias, a relativização do tempo e do espaço e a potencialização
das relações dialógicas nos fizeram pensar na cultura digital como um lugar de produção
5
WITTGENSTEIN, Ludwig. Philosophical investigations. Oxford: Blackwell, 2ª edição, 1997, p.111.
LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. 4 ed., Trad. Alfredo Veiga-Neto. Belo
Horizonte; Autêntica, 2006, p. 23.
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significativo e criativo, de aprendizado filosófico e reflexão mútua. Como nos informa Pierre
Lévy:
A rede não tem centro, ou melhor, possui permanentemente diversos centros que são como
pontas luminosas perpetuamente móveis, saltando de um nó a outro, trazendo ao redor de si
uma ramificação infinita de pequenas raízes, de rizomas, finas linhas brancas esboçando por
um instante um mapa qualquer com detalhes delicados, e depois correndo para desenhar outras
paisagens de sentido.7
Por sermos professores e termos consciência clara do papel responsável da profissão,
observamos a escola com o computador/internet reveladora e inauguradora de um novo
momento na educação escolar. Essa tecnologia, aliada à aprendizagem da filosofia, poderão
propiciar tanto ao educador como ao educando um real instrumento para o diálogo, tornandose um verdadeiro “locus” para o conhecimento científico e artístico e, sobretudo, sendo um
ponto de partida para o saber, o encontro e a reflexão filosófica, que formam e transformam o
homem.
Em nossa atuação como profissionais da educação na área da Filosofia, observamos
que os alunos do ensino fundamental e médio, ao se utilizarem do computador/internet para
determinada pesquisa ou elaboração de trabalhos, acabavam por aguçar suas próprias
indagações e percepções, o que contribuía muito para o enriquecimento das aulas. A partir
dessa constatação inicial, ficamos instigados a elaborar junto aos alunos do primeiro ano do
ensino médio, numa escola da rede particular da cidade de Juiz de Fora no corrente ano
(2009), um fórum virtual de debate e discussão em filosofia (blog), com objetivo de estudo,
de ampliação e troca de experiências e aprendizagem numa relação fratenal, dialogal e ao
mesmo tempo acadêmica entre alunos e alunos/professor. Assim como a palavra na praça
pública, a escrita no fórum adquire força, delimita seu espaço de interferência e se torna o
lugar comum para o confronto de idéias.
O primeiro passo para a constituição do dito blog foi apresentar o computador e a
internet não apenas como espaços de consulta, conversas informais e acesso a conteúdo, mas
sim como um lugar possível para o debate filosófico. Destarte, foi desfeita a rejeição por parte
de alguns alunos, receosos em aceitar a utilização do computador/internet como meio de
ensino/aprendizagem. Descobrimos em conjunto que a Filosofia não necessitava de um lugar
específico para acontecer, desde que existissem espaços que posibilitassem o encontro,
interferindo e modificando a todo instante a forma como enxergávamos o mundo.
7
LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência - O futuro do pensamento na era da informática. São Paulo:
Editora 34, 2004, p. 26.
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A próxima etapa foi o levantamento em classe de temáticas de cunho filosófico que
envolvessem e atraíssem os alunos para a amplição das discussões no ambiente virtual. É
importante ressaltar que as questões escolhidas para o debate estavam de acordo com o
conteúdo ministrado pela disciplina e com a possibilidade de intercessão com os diversos
contextos sociais vividos pelos alunos.
Feito isso, incentivamos os estudantes a registrarem suas falas e pensamentos
apresentados em sala de aula no espaço virtual de relacionamento, com intuito de tornar
pública a reflexão por eles realizada e propiciar a possibilidade de “resposta” por parte dos
colegas. Nesse sentido, o fórum pôde se tornar um ambiente de discussão em que a linguagem
escrita, para além da verbal já estabelecida na escola, ganhou importância por ser o “veículo”
do argumento e permitir a réplica e o acréscimo ao conteúdo exposto no fórum. Como
exemplo, citamos abaixo algumas postagens de alunos no blog, que reforçam nossa
argumentação
acerca
do
ensino/aprendizagem
de
filosofia
com
o
auxílio
do
computador/internet. A questão levantada foi: “o que é política?”. A respeito desse tópico,
destacamos alguns posicionamentos da turma:
“Então, pelo que os textos falam política é quando o povo elege um representante no poder para prestar favores à
sociedade, porém esses representantes usam o poder da política para seus privilégios assim prejudicando aqueles
que os deram esse poder, irônico não? , o povo acredita no cara e ele simplesmente ignora o povo para benefício
próprio. Por isso eu afirmo que a política de hoje é uma política para minoria (e não para todos como afirma a
palavra democracia) porque os privilegiados são um numero bem menor que os não privilegiados, pois a maioria
que elegeu esse representante visando um bem para o coletivo acaba não recebendo o prometido, pois o
representante prefere esperar a próxima campanha eleitoral para que ele possa se eleger de novo. Como exemplo
eu cito, para os moradores de jf , o hospital na zona norte que foi a promessa de muitos políticos (como o atual
prefeito nas duas campanha que eu lembro) que ao longo do tempo prometeram e não cumpriram, assim o povo
da zona norte simplesmente é ignorado por esses políticos com perdão da palavra de ‘merda’” (sic) Aluno: D.R
“Interessante os textos, Luciano... Com eles você deixou bem clara a diferença entre a boa política e a que
presenciamos, assim como também evidenciou os muitos passo errados do nosso histórico de eleições. Mas isso
eu acho que todos já sabemos bem, e mesmo assim, nada muda. Não me entenda mal, professor, eu adorei os
textos... Mas eu acredito que as soluções não estão localizadas na visualização do problema – já que isto vem
sendo feito incessantemente já tem algum tempo, sem obtenção de resultados – e sim nas formas de melhoria,
principalmente as que podem ser alcançadas pelo povo. Veja bem, nós sabemos da existência de corrupção no
nosso governo, mas o que podemos fazer quanto a isso? Simplesmente não está ao nosso alcance, pelo menos
não agora. Sugiro então lutar por causas menores, como a “limpeza” da nossa própria prefeitura, que seja, ou por
algo menor se necessário. Pode ser que o senhor não concorde comigo, Luciano, eu também não daria muita
atenção a um garoto de 15 anos que nunca sequer votou e aparece falando sobre política... Mas o meu ponto,
concordamos, é algo a ser, pelo menos, considerado, levando em conta que existem fundamentos... Sejamos
francos... Lutar por uma batalha ganha é preferível a morrer em uma guerra perdida. È bem o que dizem
mesmo... ‘Antes de tentar limpar o mundo, dê três voltas dentro de sua própria casa’. Nosso destino político está
sim em nossas próprias mãos, mas para que possamos exercer bem esse poder que temos, é preciso saber, antes,
pelo menos que lutamos”. (sic). Aluno:H.D.
“Apos ler todos os comentários resolvi debater um dos comentários que e do H. D. do 1°a , ele fala que para
resolvermos o problema da política no nosso pais é necessário primeiro organizar a própria casa com isso eu
concordo mas com a seguinte afirmação não ‘(...) nós sabemos da existência de corrupção no nosso governo,
mas o que podemos fazer quanto a isso? Simplesmente não está ao nosso alcance, pelo menos não agora(...)’ eu
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não concordo, pois está sim ao nosso alcance porque quando nós votamos elegemos mais que só vereadores com
nossos votos nós elegemos muito mais cargos com senadores, governadores e deputados e está tanto ao nosso
alcance quanto eleger um prefeito. Para isso acontecer e necessário que o povo todo se tome consciência de que
isto não e algo impossível. Porém também concordo com isso pela dificuldade de que isso aconteça, pois, por
exemplo, nos estados do nordeste tem deputado que era presidente roubou DESCARADAMENTE e esta eleito
de novo. Nesses estados o voto não e direito e sim propriedade para ser vendido e ser comprado devido a alta
necessidade de dinheiro assim deputados compram votos e se elegem de novo e de novo e de novo assim
sucessivamente sempre roubando do povo e comprando votos, e ainda existem votos forçados e muitas outras
artimanhas que os deputados usam para se reeleger”(sic) Aluno D.R.
“De fato, concordo com a primeira postagem do H. D., todos nós sabemos que o nosso país não está legal, que a
forma que se faz política aqui não é a mais coerente. E não fazemos nada para mudar isso, porque estamos
acomodados com essa situação” (sic). Aluna: A. F.
“Eu descordo da A.F. quando ela diz “(...) estamos acomodados com essa situação”. Não dá para generalizar ao
dizer isso, pois há muitos que não estão nem um pouco satisfeitos. Nós, por exemplo, não estamos. Por isso
estamos aqui discutindo sobre isso”(sic). Aluna: A.M.
Ao analisarmos rapidamente os argumentos expostos no blog, podemos observar de
dois modos distintos a mesma questão reflexiva. O primeiro aluno, ao se deparar com o
problema, busca na própria questão razões que o permitam convencer o outro sobre o seu
pensamento instigando o leitor a pensar de modo prático no cotidiano da vida, sem tentar
impor uma conclusão e possibilitando a seu possível debatedor desenvolver um contraargumento. Os alunos seguintes, por sua vez, criam uma narrativa que dialoga com o
expositor da opinião, estimulando os seus interlocutores a refletirem juntos sobre as questões
e perguntas por ele formuladas, sobre a importância e a dificuldade de se chegar a um acordo
sobre o que de fato é política.
É importante ressaltar que os argumentos explicitados no blog têm uma carga
significativa de questões que abrem novos olhares sobre o mundo, permitindo a todos
exporem suas opiniões, dialogarem, interferirem no modo de pensar do outro e se
transformarem.
Como podemos concluir, o blog criado para as aulas de filosofia e realizado no
computador/internet tem em sua essência, evidente que de modo distinto do que ocorria na
Grécia antiga, retomar o pensamento reflexivo, autônomo e com suporte argumentativo, onde
a escrita é um meio e o diálogo um caminho que reverbera no “outro” pela palavra e os seus
contextos.
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III ENCONTRO NACIONAL SOBRE HIPERTEXTO
Belo Horizonte, MG – 29 a 31 de outubro de 2009
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