53 Interbio v.4 n.2 2010 - ISSN 1981-3775 CONTROLE DE QUALIDADE DA MATÉRIA-PRIMA ÁCIDO RETINÓICO QUALITY CONTROL OF RAW MATERIAL RETINOIC ACID TORRES, Tielly Antoniassi1; GEBARA, Karimi Sater2; STEFANELLO, Taline Baganha2 Resumo O ácido retinóico é um derivado da vitamina A, tendo como principal função a hiperproliferação da epiderme com aumento do estrato espinhoso e granuloso, sem modificar o número de camadas do estrato córneo. Objetivo: verificar a qualidade da matéria-prima, ácido retinóico, através de análises físico-químicas e sensoriais. Material e métodos: cinco gramas da matéria-prima, ácido retinóico, foi adquirida através da compra com receita médica de controle especial em uma determinada farmácia magistral da cidade de Dourados-MS, logo após foi identificada e armazenadas ao abrigo de luz. A análise sensorial, solubilidade, ponto de fusão, identificação, perda por dessecação e doseamento foram realizadas em triplicata, tendo seus respectivos resultados comparados com o laudo do fornecedor, com literatura especializada e farmacopéia. Resultados: a matéria-prima, ácido retinóico, apresenta-se com um pó cristalino de cor amarela; praticamente insolúvel em água, pouco solúvel em álcool 96º e em éter e ligeiramente solúvel em clorofórmio; ponto de fusão aproximadamente 171,33 ºC; perda por dessecação de 0,34%; o teste identificação por reação colorimétrica apresentou resultado positivo e comprimento de onda de absorbância máxima entre 325nm e 335nm em espectrofotometria de absorbância no ultravioleta. Conclusão: a matéria-prima apresentou-se adequada para o uso em manipulação e seu fornecedor pode ser considerado idôneo. Palavras-chave: Ácido Retinóico, controle de qualidade, características físico-químicas e sensoriais. Abstract The retinoic acid is a metabolite of vitamin A, the main function of the hyperproliferative epidermis with increase of stratum corneum and granular, without modifying the number of layers of the stratum corneum. Objective: To verify the quality of the raw material retinoic acid, through physical-chemical analysis and sensory. Material and methods: Five grams of raw retinoic acid was acquired through the purchase with a prescription to control particular pharmacy in a masterly city of Dourados, MS, soon after was identified and stored under light. The sensory analysis, solubility, melting point, identification, loss on drying and assay will be carried out in triplicate, and their results compared with the report of the supplier, with literature and pharmacopoeia. Results: The raw material shows retinoic acid with a yellow-colored crystalline powder, practically insoluble or insoluble in water, slightly soluble in alcohol 96 °, slightly soluble in ether and slightly soluble in chloroform, melting point approximately 171.33 ° C, loss on drying was 0.34%, the test identified by color reaction showed positive results and the wavelength of maximum absorbance between 325nm and 335nm in the ultraviolet absorbance spectrophotometry. Conclusion: the raw material showed to be suitable for use in handling and its supplier can be considered as reliable. Keywords: Retinoic Acid, quality assurance, physicochemical characteristics and sensory. 1 Discente do curso de Farmácia do Centro Universitário da Grande Dourados, Dourados / MS. Contato: [email protected] 2 Docente do curso de Farmácia do Centro Universitário da Grande Dourados, Dourados / MS. E-mail para contato: [email protected] TORRES, Tielly Antoniassi; GEBARA, Karimi Sater; STEFANELLO, Taline Baganha 54 Interbio v.4 n.2 2010 - ISSN 1981-3775 Introdução A vitamina A é naturalmente encontrada em vegetais que contêm beta caroteno (CAMPOS, 2006), é conhecida como retinol, e possui fórmula molecular C20H25O. Os retinóides podem ser naturais (retinaldeído e ácido retinóico) ou sintéticos (ácido 11-trans–retinóico, 13-cis–retinóico) (KEDE; SABATOVICH, 2004). Apesar de seus derivados terem sido reconhecidos, o ácido retinóico é considerado o mais importante quando relacionado às ações na pele. Tal ácido é sintetizado através do metabolismo do retinol, passando por dois estágios: retinol para retinol-aldeído através de oxidação, e então, para ácido retinóico (STEINER, 2006). Os estudos mais recentes demonstraram a existência de receptores específicos nucleares, o qual faz parte de duas famílias de estruturas farmacológicas distintas de receptores específicos: o receptor de ácido retinóico (RAR) e o receptor de retinóide X (RXR) (GOUVÊA; SILVA JÚNIOR, 1999; COSTA et al., 2002; COELHO et al., 2003). Na epiderme, o retinol tem como função regular a proliferação, diferenciação e queratinização celular, tendo a capacidade de ativar a mitose e o metabolismo epidérmico na pele envelhecida, tornando-a mais espessa e estimulando a produção de matriz extracelular pelos fibroblastos na derme (RIBEIRO, 2006), deixando a pele lisa e macia, conseqüentemente com aparência mais jovem e saudável (BRASIL, 2002). Segundo Mello e Oliveira (2004), também pode-se usar o ácido retinóico nas cicatrizes hipertróficas, em estrias recentes e na hiperpigmentação. Assim, as alterações histológicas causadas pelo ácido retinóico incluem aumento da vascularização, intervenção no processo inflamatório e regeneração do tecido cutâneo. No uso tópico do ácido retinóico deve-se evitar o contato com os olhos, com a boca, com os ângulos do nariz e com as mucosas. Ainda, não se deve aplicá-lo em lugares de inflamação dérmica aguda, eczema agudo e dermatites. Deve-se também ter atenção se o paciente faz tratamento com outro produto, principalmente aqueles que têm efeito queratolítico e desidratante, os quais deixam a pele sensível, como agentes secativos, sabonetes e alguns cosméticos adstringentes ou que contenham altas porcentagens de álcool (KILLER et al., 1994; DRAELOS, 1999; GARCÍA et al., 2002). Mas, de acordo com Killer et al., 1994, o problema maior de tal tratamento são os derivados de retinóides que podem atravessar a barreira placentária e ser secretado no leite materno. Por essa razão, os efeitos teratogênicos dos retinóides devem sempre ser considerados, quando a prescrição do medicamento for para mulheres em idade fértil e nunca para mulheres gestantes ou que estão amamentando (GARCÍA et al., 2002; MELLO; OLIVEIRA, 2004). O ácido retinóico, particularmente nas primeiras semanas de tratamento (KILLER et al., 1994), pode desenvolver vários efeitos adversos como: eritema mediano, descamação, coceira, sensação de queimação e sensação de formigamento, os quais diminuem com a continuidade do tratamento. A pele pode também apresentarse vermelha e ressecada (KILLER et al., 1994; DRAELOS, 1999; GARCÍA et al., 2002). Os produtos contendo ácido retinóico são classificados como grau de risco П (BRASIL, 2002), produtos que apresentam risco potencial. Dessa forma, deve ser usado em concentrações baixas de 0,01 a 0,1% em formulações usuais de gel, emulsão ou diluições hidroalcoólicas (GARCÍA et al., 2002; KEDE; SABATOVICH, 2004), e pode ser associado a hidroquinona, dexametasona e veiculados em creme não iônico (CORREIA; OLIVEIRA, 2003), álcool e propilenoglicol. Durante o tratamento devese evitar a exposição à luz do sol e se protegendo com roupas e filtro solar (GARCÍA et al., 2002). TORRES, Tielly Antoniassi; GEBARA, Karimi Sater; STEFANELLO, Taline Baganha 55 Interbio v.4 n.2 2010 - ISSN 1981-3775 Neste contexto, fica clara a importância de se garantir a qualidade das formulações contendo ácido retinóico (GIL et al., 2007). Para isto as farmácias devem apresentar laboratórios capacitados de controle de qualidade que realizam as análises de controle como, características sensoriais e físico-químicas (AMARAL; VILE, 2002; BRASIL, 2008), sendo estes testes preliminares para alcançar um padrão de qualidade necessário aos mesmos (ANDRADE, 2005). A análise sensorial é aquela que se utiliza dos cinco sentidos como um instrumento de análise. Tal ensaio é muito importante na identificação inicial da matéria-prima logo que ele chega à farmácia, apresentando-se como um método inicial. Estas características têm como objetivo verificar a relação da qualidade e integridade da matéria-prima, mas este método não é analítico, podendo apresentar resultados subjetivos (FERREIRA, 2002). Segundo Brasil (2008), o controle de qualidade físico-químico tem como objetivo avaliar as características físico–químicas das matérias–primas, embalagens, produtos em processo e produtos acabados, bem como a verificação da conformidade das especificações necessárias para garantir a qualidade, segurança e eficácia do produto. Este é empregado para pesquisar certas alterações na estrutura da formulação ou matéria-prima, que nem sempre são percebidas a olho nu (BRASIL, 2004), dessa forma, os equipamentos, os quais são utilizados para a realização dos ensaios físico-químicos, devem ser calibrados/aferidos periodicamente, para garantir que os mesmos forneçam resultados validos (BRASIL, 2007). Material e Métodos O material analisado foi uma amostra de cinco gramas da matéria-prima, ácido retinóico, acompanhada de seu respectivo laudo de controle de qualidade proveniente de um fornecedor idôneo, adquirida através da compra com receita médica de controle especial para substâncias retinóicas, em uma determinada farmácia magistral da cidade de Dourados-MS. As análises foram realizadas em triplicata e conduzidos no laboratório de controle de qualidade da farmácia escola, localizada na Rua Manoel Santiago, 456, Loja 3 e no laboratório de bromatologia, 3º bloco, no Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN. Na análise sensorial foi observada a cor e o aspecto da matéria-prima (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 1988). Na análise físico-química foi realizada a solubilidade (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 1988), utilizando os solventes, água, álcool 96º, clorofórmio e éter (GARCÍA et al., 2002); o ponto de fusão (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 1988), foi analisado no aparelho de ponto de fusão da marca Fisatom, modelo 430; a perda por dessecação (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 1988), realizada em estufa a 105 ºC; e a reação de identificação foi realizada em forma de reação colorimétrica (B) e espectrofotometria de absorção no ultravioleta (C) (GARCÍA et al., 2002) no espectrofotômetro da marca Femto, modelo 700 S. Resultados e Discussão A análise sensorial apresentou uma amostra de pó cristalino amarelo, conforme o laudo do respectivo fornecedor, e outros autores relatam que a cor do ácido retinóico pode variar de amarelo a levemente alaranjado (GARCÍA et. al. 2002; FARMACOPÉIA BRITÂNICA, 2002; FARMACOPÉIA EUROPÉIA, 2004), neste sentido o ácido retinóico foi considerado aprovado para este teste. No teste de solubilidade a matériaprima apresentou-se como praticamente insolúvel em água a temperatura ambiente; pouco solúvel em álcool 96º e em éter e ligeiramente solúvel em clorofórmio. Estes resultados apresentam-se de acordo com a Farmacopéia Britânica (2002) e Farmacopéia Européia (2004), em relação à TORRES, Tielly Antoniassi; GEBARA, Karimi Sater; STEFANELLO, Taline Baganha 56 Interbio v.4 n.2 2010 - ISSN 1981-3775 água e ao etanol. Porém, não conforme com García et. al. (2002), que apresenta a matéria-prima como pouco solúvel em clorofórmio, bastante solúvel em éter e confirma o grau de solubilidade da água e do álcool. Já no trabalho de Maio et. al. (2003), a matéria-prima, ácido retinóico, apresentou-se como muito pouco solúvel em álcool, insolúvel em água e pouco solúvel em éter e clorofórmio. Figura 1 – Média das leituras da absorbância da matéria-prima, ácido retinóico. O ponto de fusão obtido para o ácido retinóico foi de aproximadamente 171 ºC, porém, de acordo com García et. al. (2002); Farmacopéia Britânica (2002); Maio et. al. (2003) e Farmacopéia Européia (2004), o ponto de fusão para a matéria-prima é de aproximadamente 182 ºC com decomposição. Esta diferença pode estar relacionada à grande instabilidade da matéria-prima na presença de luz, calor e oxigênio, já que a mesma entrou em contato com o oxigênio e com a luz no momento de seu manuseio para a preparação do testes. O ensaio realizado para perda por dessecação apresentou resultado de 0,34% de perda da umidade, o que de acordo com García et. al. (2002); Farmacopéia Britânica (2002); Maio et. al,. (2003) e Farmacopéia Européia (2004), está dentro do desejado, pois a perda por dessecação deve ser de no máximo 0,5%. Confirmando também o laudo do fornecedor. Tabela 1 – Média e desvio padrão da absorbância da matéria-prima, ácido retinóico Triplicata da amostra A Média 0,6042 Desvio Padrão 0,0996 B 0,5270 0,0889 C 0,6700 0,1101 TORRES, Tielly Antoniassi; GEBARA, Karimi Sater; STEFANELLO, Taline Baganha 57 Interbio v.4 n.2 2010 - ISSN 1981-3775 Para os testes de identificação, foi realizada uma reação colorimétrica a qual produziu uma intensa cor violeta, o que indica resultado positivo, estando de acordo com García et. al. (2002); Farmacopéia Britânica (2002); Maio et. al. (2003) e Farmacopéia Européia (2004). O espectro de ultravioleta obtido para a matéria-prima ácido retinóico coincidiu com os dados de García et. al. (2002); Farmacopéia Britânica (2002); Farmacopéia Européia (2004), e com o laudo do respectivo fornecedor, pois estes apresentam resultado positivo em uma máxima absorbância de 353nm. A média do comprimento de onda de absorbância máxima obtidos para a amostra foi entre 325nm e 330nm (Figura1). Tal variação nos valores da absorbância pode estar relacionada à quantidade de amostra que foi pesada, pois a mesma pode ter variado em miligramas (Tabela 1) e com sua sensibilidade para com o ambiente principalmente em soluções. Conclusões Com o término das análises realizadas com a matéria-prima, ácido retinóico, foi possível constatar sua integridade e confirmar os resultados que podem ser observados no laudo do seu respectivo fornecedor. Sendo assim, esta matéria-prima está adequada para uso em manipulação e seu fornecedor pode ser considerado idôneo. Referências Bibliográficas AMARAL, M. P. H.; VILELA, M. A. P. Controle de qualidade na farmácia de manipulação. Juiz de Fora – MG: ufjf, 2002. ANDRADE, F. R. O.,et al. Análise microbiológica de matérias primas e formulações farmacêuticas magistrais. Revista Eletrônica de Farmácia. v. 2, Goiânia, p. 38 – 44, nov. 2005. BRASIL. Parecer técnico nº 3, de 22 de março de 2002. Utilização de retinóides em produtos cosméticos. 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