Em meio à insondável
vastidão do Universo...
...a manifestação da vida,
tal qual a conhecemos, tomou por palco
um pequenino planeta.
Um pequenino corpo celeste,
perdido em meio a bilhões
de outros astros e estrelas.
Palco de dramas e alegrias,
risos e lágrimas, sonhos e ternuras...
Uma fina camada
que cobre esta
esfera azulada
suspensa no nada
fez-se lar e abrigo
para todas as
espécies de vida
que conhecemos.
E dentre todas
as espécies que
povoam este belo
e frágil planeta,
o surgimento da espécie
humana representou
um salto extraordinário
no processo evolutivo.
Pois com o advento
do homem,
aquilo que era
inconsciente
fez-se consciente.
A única espécie
dotada do poder
do raciocínio e
do livre arbítrio
– que se mostraria
capaz de voar,
mesmo sem
possuir asas,
e de nadar nas profundezas dos mares,
mesmo sem possuir nadadeiras...
A única espécie
capaz de andar
com a coluna ereta
– um pequenino
elo a unir
o céu e a terra.
A única espécie
capaz de sondar
e de se assombrar
com os mistérios
que envolvem
a existência.
Os mistérios
do tempo,
do amor, da fé,
dos sonhos, da arte,
da morte, entre
tantos outros que
nos cercam...
E ao se recolher
para dormir,
ela pensou:
“Programei
o despertador
para 06:36,
pois amanhã é
dia de trabalho...”
“Quando chegar
o fim-de-semana,
acordarei um
pouco mais tarde,
pra compensar...”
E a noite tão rápido passa,
já são 06:36 da manhã,
hora de levantar...
Enquanto ela busca unir forças
para sair da cama, pondera:
“O simples fato de se levantar pela manhã
é desafiar a força da gravidade...”
“Levantar e enfrentar mais um dia de labuta.
A vida é batalha, cada dia,
um novo combate...”
A caminhada nossa
de todo dia...
E às 06:39, enquanto ela, imersa na
serenidade dos que filosofam, busca
encontrar forças para sair da cama,
ele adentra a padaria para
seu desjejum habitual:
pão com manteiga, na chapa,
a leite.
e café com
Cedo inicia ele seu dia,
A com o céu ainda
porEclarear,
pois
precisa pegar
dois ônibus
às 06:39,
enquanto
ela, imersa
na
para chegar
trabalho. busca
serenidade
dos queaofilosofam,
encontrar forças para sair da cama,
ele adentra a padaria para
seu desjejum habitual:
pão com manteiga, na chapa,
e café com leite.
Enquanto toma seu café-da-manhã
encostado no balcão da padaria, pondera:
“A vida deve ser mais do que isso...”
Ele tem anotado na primeira página
da agenda que carrega:...
“Não se deixe cair na mesmice
de uma vida passada quase em vão
entre a lotação diária e a repartição.”
E enquanto toma seu café-da-manhã,
em meio à habitual correria, se pergunta:
“O que é mesmo a vida?...”
A vida são as pequenas alegrias.
A vida
são as pessoas
que amamos.
A vida
são as pessoas
que amamos.
Porém, além das
nossas pequenas
alegrias,
e das pessoas
que amamos,
a vida, para ser
plena, também
precisa ser
outra coisa.
Devemos tomar
cuidado para não
passar rápido
demais pela vida,
atrás unicamente
dos nossos
interesses
pequeninos.
Devemos tomar
cuidado para não
passar rápido
demais pela vida,
a ponto de
perder de vista
o essencial que
nos faz humanos.
A vida também
é Caridade,
a vida é também
Compaixão.
A vida também é o olhar do pobre,
e o silencioso apelo do necessitado.
As crianças que dificilmente poderão
se levantar do chão, sem a ajuda
de uma mão amiga.
As asas partidas e os sonhos desfeitos
à espera de serem curados.
A vida é a Bondade que
trazemos no coração, e
o Amor que nutrimos no peito.
Viver é compartilhar os bens e os dons
– materiais e espirituais – com os quais
fomos agraciados pela vida.
A essência da nossa vida talvez seja
os atos de Caridade que praticamos.
A fome por Justiça e Dignidade.
A longa e penosa espera.
A essência da vida talvez seja
o compromisso social de lutar pelo
“outro mundo possível”.
A utopia do nosso sonho
de um mundo novo...
Música:
“Astrakan Café”
de Anouar Brahem Trio
Formatação:
[email protected]
“Tenho certeza de
que nada torna uma
pessoa mais feliz do
que empenhar-se
em prol da
felicidade alheia:...”
“...isto vale tanto
na relação íntima
quanto no
compromisso
social de lutar
pelo ‘outro
mundo possível’,...”
“...um mundo
sem desigualdades
gritantes e onde
todos possam viver
com dignidade e paz.”
Frei Betto
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A Vida - Um Peregrino