RESENHA
GIRALDI, R. C. Do lazer nos espaços permanentes ao lazer nos espaços
imateriais: o uso do urbano e dos espaços de lazer. 2011. Tese (Livre-Docência)Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2011.
A presente tese buscou identificar os espaços de lazer, seus usos e
configurações em relação ao urbano e quais seriam os interesses de tais práticas
nestes espaços.
Partindo do pressuposto de que a vida humana é marcada principalmente
pela transformação da paisagem natural em artificial e que as cidades são
organizadas de modo a atender as diferentes demandas de seus habitantes, seus
espaços construídos refletem o modus vivendi da sociedade que nele habita,
refletindo a cultura e os valores ou desvalores dados às atividades exercidas.
Sendo que é nesse cenário que o uso do tempo denominado livre, preenchido
com diferentes atividades, deve ser analisado através dos espaços organizados e
idealizados para sua prática, revelando sua importância ao longo do processo
civilizatório.
A autora aponta que o lazer como atividade é considerado um fenômeno
que remonta à Modernidade, no entanto, antes de sermos Homo Faber, somos
Homo Ludens o que significa que, o que hoje entendemos por lazer sempre
existiu expresso em formas correlatas de atividade. Porém, para sua efetiva
prática sempre foram necessários dois elementos: tempo e espaço, de modo a
possibilitar seu pleno exercício.
Adotando a perspectiva da visão diacrônica do uso do tempo social e,
internamente a ele o tempo livre, a tese buscou interrelacionar as diferentes
práticas consideradas como lazer ao longo do processo civilizatório, como se
organizaram os espaços destinados a tais atividades e qual o papel do urbanismo
no processo de desenvolvimento da cidade.
Revista Eletrônica CEDOC/SEME - ISSN 2176-963X
Ano 4, n. 1, março 2013
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Levando em consideração, a princípio, que o lazer pode ser entendido
como uma atividade que possui como essência nosso livre arbítrio e é realizada
em um tempo específico, denominado ‘livre’ pelos estudiosos do tema, a proposta
do estudo foi o de buscar seu significado nas culturas representativas, ao longo
da história, para compreender as razões dessa atividade nos dias atuais e mais,
como os espaços destinados a ela se organizaram, para então, estabelecer os
parâmetros atuais não só da atividade, mas principalmente dos espaços
predominantes existentes para sua prática.
Relacionando tempo, espaço e lazer, a pesquisa inicia pela compreensão e
conceituação dos atuais espaços de lazer, resgatando-os pela visão diacrônica do
tempo livre, a autora desenvolve sua análise partindo da análise dos espaços de
lazer da cultura grega, romana, da dominância das ideologias cristã e protestante,
da modernidade para então, chegar à análise da importância dos espaços virtuais
para os lazeres na denominada pós modernidade.
Buscando responder ao problema se os espaços urbanos de lazer atuais
tendem a ser suplantado pelos espaços de lazer virtual, o trabalho pretendeu
traçar um perfil dos espaços de lazer em relação às práticas efetivamente
exercidas, indicando que tais espaços, ao longo do tempo, corresponderam ao
processo dos diferentes usos do tempo livre ou os considerados seus similares.
Para a realização do trabalho procedeu-se a uma pesquisa exploratória com base
em revisão bibliográfica e análise documental, tendo em vista a pouca literatura
disponível e a ausência de textos que apresentem o espaço de lazer como tema,
conduzindo à necessidade da reunião dessas informações.
Seguindo esses procedimentos, a partir da análise da visão diacrônica do
lazer, levando em consideração os diferentes espaços a ele destinados, o objetivo
foi alcançar um novo olhar que pudesse contribuir com o conhecimento sobre a
interação dos atuais espaços de lazer para a prática de atividades e desse modo,
verificar o uso dos espaços urbanos e seu contexto cultural expresso através do
urbanismo1.
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O Urbanismo foi aqui entendido como o estudo da cidade enquanto forma que expressa o modo de viver da
sociedade que nela se instaura e os diversos espaços construídos para as atividades cotidianas.
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No primeiro capítulo foi abordado o processo de globalização e suas
consequências tanto na esfera laboral quanto de lazer.
O segundo capítulo contextualiza o significado do tempo e sua interferência
direta no ‘modus vivendi’. Discute as diferentes visões teóricas sobre o tempo e
como ele modificou o cotidiano do homem. Associado a essa visão temporal, o
espaço é analisado como elemento essencial da vivência humana e a partir de
diferentes concepções busca uma conceituação do espaço de lazer, bem como a
análise dos diferentes espaços destinados a esta atividade.
No terceiro capítulo, partindo da já conhecida visão diacrônica do lazer
buscou através dessa, a análise dos diferentes espaços destinados às atividades
correlatas ao que atualmente é compreendido como atividade de lazer e, tomando
como base as cidades de grande expressão em cada período analisado na
diacronia, foi realizada uma análise dos espaços similares ao que atualmente se
considera como lazer e das atividades neles praticadas.
O quarto capítulo busca compreender a situação atual dos lazeres e seus
respectivos espaços, seja no âmbito do urbano ou do virtual.
Sem a pretensão de esgotar o assunto, a presente pesquisa atingiu o
denominado período pós-moderno da visão diacrônica. Denota-se que os estudos
referentes a tal diacronia abrangem da antiguidade até o lazer moderno e que,
tendo em vista o tempo decorrido desse período, a mesma agrega os novos
períodos de análise do lazer, isto é, o pós-moderno, bem como novos interesses
culturais do lazer.
Como ponto principal da conclusão tem a afirmação de que muitos dos
atuais espaços de lazer possuem suas raízes em épocas passadas e, que
dependendo do avanço técnico ou tecnológico de cada período, tais espaços
agregaram novos modos de se apresentar aos usuários. Algumas novas
atividades do que atualmente são consideradas como lazer foi fruto de
descobertas de períodos em especial, onde novos modos de vida urbana estavam
se delineando. Ressalta ainda que tais atividades que acabaram por transformar
os espaços da urbe são resultado de classes consideradas dominantes, seja por
posição de poder político ou mesmo cultural, tendo em vista que as atividades de
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prazer sempre demandaram, em sua maioria, algum recurso econômico,
excluindo assim as classes menos favorecidas e, acerca dos estudos dos
espaços materiais e imateriais pode-se perceber que os lazeres ou o que
consideramos como seus similares revelam as mudanças não só técnicas e
tecnológicas ao longo desta trajetória, mas também as alterações sociais e
sociológicas do papel do homem dentro de cada contexto refletido na
configuração das urbes.
RITA DE CÁSSIA GIRALDI - Professor Livre Docente da Escola de Artes,
Ciências e Humanidades (EACH- Universidade de São Paulo, USP Leste) no
curso de graduação em Lazer e Turismo e avaliador institucional do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP).
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