ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE PAULA FRASSINETTI PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL A criança sobredotada face à organização/funcionamento de uma sala de Jardim de Infância e a uma sala de 1º Ciclo do Ensino Básico TRABALHO REALIZADO POR: Telma Alexandra Sampaio Cerqueira N.º 1998105 Turma: B ORIENTADORA: Doutora Helena Serra TRABALHO REALIZADO NO ÂMBITO DA DISCIPLINA: Projecto de Investigação Porto 2006 ÍNDICE INTRODUÇÃO ................................................................................................... 5 ENQUADRAMENTO TEÓRICO......................................................................... 7 1. Definição do Conceito de Sobredotação................................................ 7 2. Caracterização da Criança Sobredotada e Prevalência......................... 8 3. A Criança Sobredotada no Contexto de Jardim de Infância e no 1º Ciclo do Ensino Básico ......................................................................................12 3.1 Currículo ...............................................................................13 3.2 Comunicação........................................................................16 3.3 Espaço .................................................................................18 3.4 Tempo ..................................................................................19 4. A importância de preparar/adequar o contexto pré-escolar e escolar para atender à criança sobredotada .........................................................21 4.1 Intervenção Educativa – Características e Necessidades Educativas da Criança Sobredotada ..............................................21 4.2 Organização da Intervenção Educativa ................................25 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ..............................................................28 1. Apresentação e Justificação da Pertinência do Estudo ........................28 2. Instrumento para Recolha de Dados.....................................................29 3. Amostra.................................................................................................30 4. Cronograma ..........................................................................................31 5. Expectativa a Nível de Resultados........................................................31 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................33 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA........................................................................37 4 INTRODUÇÃO Este trabalho consiste na elaboração de um Projecto, enquadrado na temática “Comunicação e Linguagem associada às deficiências” e está subordinado ao tema “A criança sobredotada face à organização/funcionamento de uma sala de Jardim de Infância e a uma sala de 1º Ciclo do Ensino Básico”. Está inserido no curso de Pós-graduação em Educação Especial, ministrado na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti e é orientado pela Doutora Helena Serra. Tendo em conta que como refere Paixão cit por Departamento da Educação Básica (1998), será na escola para todos, na escola inclusiva, que se devem colocar os problemas das crianças precoces e com capacidades acima da média. Desta forma, pretende-se explicitar de que forma a organização e funcionamento das salas de Jardim de Infância e de 1º ciclo do Ensino Básico, estimulam ou prejudicam a criança sobredotada. O objectivo é abordar as características da criança sobredotada e os contextos, tentando perceber de que forma o currículo, a comunicação, o espaço e o tempo, influenciam a adaptação ao Jardim de Infância e ao 1º ciclo do Ensino Básico. Tendo em conta que, “todos temos direito a uma educação com qualidade, aferida às nossas capacidades individuais e colectivas, ao nosso ser único mas, também, solidário com outros seres. Todas as crianças e jovens têm direito a uma flexibilização das respostas educativas produzidas pela escola de maneira a respeitar as características individuais de cada criança, bem como o seu universo de relações e as circunstâncias próprias do seu desenvolvimento.” (Paixão cit por Ministério da Educação - Departamento da Educação Básica,1998: 4) Assim, torna-se posteriormente pertinente verificar a importância de preparar o contexto para atender a criança sobredotada, tentando perceber qual a intervenção educativa mais adequada de maneira a que a criança se sinta motivada a frequentar o contexto em que está inserida. Desta forma, são 5 analisadas algumas necessidades e características da criança para que a resposta educativa seja promotora do desenvolvimento e não inibidora de potencialidades para que não ajudemos a “criar” crianças desmotivadas. “A monotonia, a rotina, o desperdício de tempo, a hostilidade dos colegas, a independência rebelde e a atitude de alguns professores podem ter contribuído para desempenhos aquém do esperado, diluindo todo o prazer evidenciado outrora.” (Serra, 2004: 25) Para consolidar o estudo, será preparado um método para perceber o que pensam os educadores de infância e professores do 1º ciclo sobre a temática abordada ao longo do projecto. 6 ENQUADRAMENTO TEÓRICO 1. Definição do Conceito de Sobredotação Para melhor entendermos esta matéria, torna-se pertinente apresentar o conceito em estudo – a sobredotação. Desta forma, deparamo-nos com o primeiro problema desta temática, pois não existe uma definição consensual sobre sobredotação. Assim, é concernente referir a afirmação de Erika Landau “quando me perguntam o que é a sobredotação eu não sei definir… quanto mais sei do sobredotado menos sei a seu respeito.” (Erika Landau cit por Falcão, 1992: 57) Vários autores tentam avançar definições sobre o conceito, mas podemos concluir pelo rol, que “a sobredotação é algo relativo e não absoluto” (Falcão, 1992: 59), “sobredotação constitui a expressão de um conjunto de factores interactuantes que resultam na manifestação de um desempenho saliente.” (Ministério da Educação – Departamento de Educação Básica, 1998:7) Segundo Serra, Mamede e Sousa (2004) uma das teorias mais respeitadas na actualidade é a de Renzulli, esta surge por volta da década de 80 do século XX, e baseia-se na integração de três anéis (“The three ring conception of giftedness”), nesta o autor afirma que, os portadores de altas habilidades possuem um conjunto constante de características que se mantêm estáveis ao longo da vida: habilidade acima da média, alta criatividade e um grande envolvimento com as tarefas. É a interacção desta três capacidades que leva a uma realização superior. Monks, em 1992, acrescenta a esta teoria a importância de um ambiente motivador, para que o potencial possa ser desenvolvido. Mais tarde, Gardner, em 1995, sugere que a pessoa é portadora de múltiplas inteligências: linguística, lógico-matemática, musical, físicocinestésica, espacial, interpessoal, intrapessoal e naturalista; sendo cada uma destas inteligências independentes das outras, embora se possam combinar. 7 2. Caracterização da Criança Sobredotada e Prevalência “Criança sobredotada é aquela que possui um potencial humano de nível superior e frequência constante em qualquer uma, ou mais, das áreas operacionais das I.M. (Inteligências Múltiplas), permitindo prognosticar, se fornecidas adequadas oportunidades de desenvolvimento, um elevado grau de competência específica, quer na solução de problemas, quer na criação de produtos.” (Falcão, 1992:70) Sidney Marland, em 1972, apresenta uma das definições mais populares referindo que as “crianças superdotadas e talentosas são aquelas identificadas por pessoal profissionalmente qualificado como as que, em virtude de suas capacidades notáveis, conseguem um desempenho elevado. São crianças que exigem programas educacionais diferenciados e serviços além dos normalmente oferecidos pelo programa regular para contribuir para si mesmas e para a sociedade. Entre as crianças de desempenho elevado estão as que demonstraram desempenho e/ou capacidade potencial em qualquer das seguintes áreas: 1. Capacidade intelectual geral 2. Aptidão académica específica 3. Pensamento criativo ou produtivo 4. Capacidade de liderança 5. Artes visuais e representação” (Marland cit por Kirk e Gallagher, 2002: 66-67) Falcão (1992) refere dois modos de caracterizar a criança sobredotada, a caracterização analítica e a sintética. A caracterização analítica é quando as características da criança sobredotada aparecem discriminadas por áreas de sobredotação e a caracterização sintética é quando as características são apresentadas globalmente sem indicação da área ou do tipo a que se referem. Joyce Juntune cit por Falcão (1992) apresenta uma caracterização analítica de sobredotação por áreas, sendo estas, a Psicomotricidade, artes visuais e expressões, o pensamento criativo, a liderança, a capacidade 8 académica específica e a capacidade intelectual geral. Cada uma destas áreas é composta por um conjunto de características que se evidenciam na criança sobredotada, assim, na área da psicomotricidade refere-se que a criança é estimulada devido às dificuldades das actividades desportivas, demonstra de precisão de movimentos, agrada-lhe a participação em várias actividades de atletismo, tem excelentes capacidades motoras, boa coordenação, boa capacidade de manipulação e elevado nível de energia; na área de artes visuais e expressões destaca-se, o bom nível das relações espaciais, capacidade fora do comum de auto-expressão de sentimentos e necessidades através da arte, dança, drama, música, etc., boa coordenação motora, expressão criativa, desejo de “produzir” – autoprodução (não se satisfaz com cópias), observador; na área do pensamento criativo, denota-se o pensamento independente, o pensamento original tanto a nível oral como escrito, apresenta diversas soluções para um problema, possui sentido de humor, cria e inventa, motivado por tarefas criativas, improvisa com frequência, não se importa de ser diferente da maioria; na área da liderança, a criança assume responsabilidade, é exigente consigo próprio e com os outros, expressa-se de forma concisa e fluente, assume as consequências e implicações das tomadas de decisão, tem bom raciocínio nas tomadas de decisão, gosta da estrutura, é bem aceite pelos companheiros, é autoconfiante e organizado; na área de capacidade académica especifica, é notória uma boa capacidade de memória, alto nível de compreensão, adquire rapidamente as capacidades de conhecimentos básicos, conhecimento aprofundado em áreas de interesse específicas, elevado sucesso académico nas áreas de interesse específico, prossegue os seus interesses com entusiasmo e vigor; na área de capacidade intelectual geral, a criança formula abstracções, processa informação em sentidos complexos, é observador, sente-se estimulado com novas ideias, gosta de lançar hipóteses, aprende rapidamente, utiliza um vocabulário vasto, é inquiridor e autoimpulsiona-se à acção. Falcão (1992) também apresenta uma caracterização analítica de sobredotação por tipos, são apresentados seis tipos: o intelectual, que se caracteriza pela flexibilidade, fluência de pensamento, capacidade de 9 pensamento abstracto para fazer associações, produção ideativa, rapidez de pensamento, elevada compreensão e memória, capacidade de resolver e lidar com problemas; o académico, que evidencia aptidões académicas específicas, de atenção, concentração, rapidez de aprendizagem, boa memória, motivação pelas disciplinas escolares do seu interesse, capacidade para avaliar, sintetizar e organizar o conhecimento, capacidade de produção académica; o criativo, que se caracteriza pela originalidade, imaginação, capacidade para resolver problemas de forma diferente e inovadora, sensibilidade para as situações ambientais, podendo reagir diferentemente e até de modo extravagante, sentimento de desafio diante da desordem dos factos, facilidade de autoexpressão, fluência e flexibilidade; o social, revela capacidade de liderança e caracteriza-se por demonstrar sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa, sociabilidade expressiva, habilidade de trato com pessoas diversas e grupos para estabelecer relações sociais, percepção apurada das situações de grupos, capacidade para resolver situações sociais complexas, alto poder de persuasão e de influência; o talento especial, este pode destacar-se tanto na área das artes plásticas e musicais, como dramáticas e literárias, ou técnicas, evidenciando capacidades especiais ara essas actividades e alto desempenho; e o psicomotor, apresenta habilidade e interesse pelas actividades psicomotoras, evidenciando habilidades e desempenho nessa área fora do comum, relativos à velocidade, agilidade de movimentos, força e resistência, controlo e coordenação motora. A nível de caracterização sintética existem algumas listas de características do sobredotado, Turttle e BecKer cit por Falcão (1992) afirmam que é curioso; persistente no empenho de satisfazer os seus interesses e problemas; é critico de si mesmo e dos outros; tem um senso de humor altamente desenvolvido; não é propenso a aceitar afirmações, respostas ou avaliações superficiais; entende com facilidade princípios gerais; tem facilidade em propor muitas ideias para um estímulo específico; é sensível a injustiças tanto a nível pessoal como social e é um líder em várias áreas; vê relações entre ideias aparentemente diversas. Torrance cit por Falcão conclui que as crianças sobredotadas reagem positivamente a elementos novos, estranhos e 10 misteriosos do seu ambiente; persistem em examinar e em explorar estímulos com o objectivo de os conhecer melhor; são curiosas, gostam de investigar, fazem muitas perguntas; apresentam uma forma original de resolver problemas, propondo muitas vezes soluções inventivas; são independentes, individualistas e auto-suficientes; têm grande imaginação e fantasia; vêem relações entre objectos; têm sempre muitas ideias; preferem ideias complexas, irritam-se com a rotina; podem ocupar o seu tempo de forma produtiva, sem ser necessária a estimulação constante pelo professor. Segundo Serra (2004) são consideradas características comuns a todas as crianças sobredotadas a rapidez e facilidade de aprendizagem, a contínua apetência e necessidade de aprender e uma capacidade para resolver problema de uma forma inusual, com velocidade e precisão. O aluno sobredotado é considerado possuidor de um conjunto de características, das quais se podem destacar: “percepção e memória elevadas, raciocínio rápido, habilidade para conceptualizar e abstrair, fluência de ideias, flexibilidade de pensamento, originalidade e rapidez na resolução de problemas, superior inventividade e produtividade, elevado envolvimento na tarefa, persistência, entusiasmo, grande concentração, fluência verbal, curiosidade, independência, rapidez na observação, sensibilidade e energia, aprendizagem, capacidade auto-direcção, vulnerabilidade de e motivação intrínseca.” (Serra, 2004: 17) De acordo com Kirk e Gallagher (2002), a criança sobredotada inicia a aquisição da leitura antes dos 6 anos e demonstra interesse por assuntos abstractos como literatura, debates, história antiga; no entanto tem menos interesse a nível de assuntos “práticos”, como destreza manual e escrita, embora apreciem a prática desportiva. Normalmente são crianças mais altas e fortes do que o padrão e com um ajustamento emocional superior, perpetuado ao longo da sua vida. De acordo com Terman cit por kirk e Gallagher (2002), a criança inteligente permanece inteligente ao longo da sua vida. Também Olden cit por Falcão (1992) concluiu que salvo raras excepções, a criança superior torna-se um adulto superior, de acordo com as investigações dois terços dos homens e 11 uma proporção tão grande das mulheres consideram que fizeram jus, completa ou razoavelmente, às suas capacidades intelectuais. 3. A Criança Sobredotada no Contexto de Jardim de Infância e no 1º Ciclo do Ensino Básico São as características da criança sobredotada que, segundo Serra (2004), lhe conferem um diferente “estar em tarefa” e “estar em relação” que podem fazer desencadear reacções diversas, nos vários contextos do seu quotidiano. Verifica-se assim, a importância do contexto educativo na vida da criança sobredotada. “O ambiente educativo em que se processa o desenvolvimento das crianças e, particularmente, a escola, joga um papel decisivo na sobredotação, cabendo-lhe a responsabilidade de criar oportunidade e experiências de aprendizagem favoráveis ao desenvolvimento e expressão da sobredotação.[…] O ajustamento da qualidade das respostas educativas produzidas pela escola, relativamente aos alunos sobredotados, poderá contribuir para a construção de uma prática pedagógica mais centrada nas particularidades psicológicas, sociais, cognitivas, que fazem de cada criança e jovem um sujeito único, cujo direito à diferença e à valorização das suas potencialidades e competências deverá constituir a finalidade central do sistema educativo” (Ministério da Educação – Departamento de Ensino Básico, 1998 cit por Serra, 2004: 48-49) As diferenças entre o contexto pré-escolar e escolar são variadas, então, importa perceber de que forma estes factores afectam a criança sobredotada, pois, “muitos alunos que em determinados ambientes revelam características de sobredotação, podem manifestar dificuldades no seu desempenho escolar, em resultado de falta de motivação e desencanto perante as tarefas que a escola lhes propõe. […] estes alunos chegam à escola desejosos de novas experiências, conhecimentos e desafios, prontos para progredir e para desenvolver rapidamente aquisições importantes se lhes forem proporcionadas 12 oportunidades de desempenho ajustadas. Quando isso não acontece, sentemse frustradas, aborrecidas e desinteressadas das actividades escolares.” (Ministério da Educação – Departamento de Educação Básica, 1998:10) 3.1 Currículo De acordo com Roldão (2001), entende-se currículo como conjunto de aprendizagens que incluem as aprendizagens sociais, as aprendizagens interpessoais, as aprendizagens científicas, as aprendizagens funcionais, as aprendizagens científicas, as aprendizagens linguísticas, as aprendizagens éticas, etc., e que vão sendo mutáveis ao longo do tempo consoante as situações mudam, as necessidades do mercado mudam. É isso que constitui de facto o currículo na escola. Embora se tenha consciência que muitas vezes a concepção de currículo mais utilizado nas escolas seja a de “currículo com ênfase em conhecimentos ou matérias”, nesta, o currículo é encarado como uma lista de matérias a estudar sob a orientação do professor – escola tradicional. Este, é transmitido por uma escola que se baseia no facto de “todas as aprendizagens (as “todas” que em cada momento se valorizam) são garantidas a todos (os “todos” de cada época, naturalmente variando em função dos interesses e dinâmicas sociopolíticas, culturais e económicas em presença)” (Roldão, 2003:154), mas sempre passadas em bloco, de forma tão homogénea quanto possível. Alegando, que desta forma, estão a promover a igualdade de oportunidades entre os alunos. Desta forma, a estrutura curricular, como refere Pacheco (1996), determina e organiza de modo funcional as disciplinas, incluindo a sua sequencialização e hierarquização por anos e ciclos de estudo, e determina as regras escolares e a normatividade curricular: o quê, como e quando se deve fazer. Esta perspectiva de currículo, entra em contradição com o público escolar, pois “trata todos os alunos como iguais em direitos e deveres” (Bordieu cit por Perrenoud, 2001: 152) esquecendo-se que “raramente os alunos são tratados como sendo iguais em direitos e deveres” (Perrenoud, 2001: 152) 13 Assim, de acordo com João Formosinho (1987), a escola transmissora deste currículo “pronto-a-vestir de tamanho único” (planeado centralmente, adaptado e mandado executar pelos serviços centrais, tornando-se igual para todas as escolas, todos os alunos e todos os professores, independentemente das características e aptidões dos que o transmitem e dos que o recebem e das condições da sua implementação), era vista como uma Instituição Educadora e Curricular, a qual se caracterizou pela lógica de normalização e uniformização. Em oposição, a concepção de “currículo com ênfase nas situações de aprendizagem” é, segundo Traldi (1987), um currículo compreendido como todas as experiências organizadas e supervisionadas pela escola, pelas quais a escola assume a responsabilidade, cabendo-lhe decidir quais as experiências que serão mais significativas para o desenvolvimento e formação máximas, completos e harmoniosos da personalidade integral do educando (permitindolhe alcançar a auto-realização) ao mesmo tempo que estejam em harmonia com as necessidades da sociedade e com os fins mais elevados da humanidade geral. Já em finais do século XIX, Dewey (1896) se referia ao currículo por experiência no qual o aluno aprende fazendo, e no qual o professor assume o papel de promotor de condições para que o educando se desenvolva plenamente. “Tudo enfim, que leve ou possa levar o aluno a agir, seja para penetrar mais profundamente num conhecimento, tema ou conteúdo específico; seja para atendimento de necessidades, problemas, aspirações ou habilidades específicas; seja para permitir ao educando criar, inventar, expressar-se livremente em prosa, verso, música, pintura, escultura, etc. E será exactamente por meio destas possibilidades diferentes de experiências, actividades e habilidades que se permitirá ao educando que ele se desenvolva, aprenda, cresça e amadureça, à medida que todas estas experiências e actividades se desenvolvam e/ou sejam estimuladas com o devido acompanhamento, assistência e supervisão por parte das pessoas responsáveis pela educação das crianças e jovens.” (Traldi, 1987: 223-224) 14 Assim, segundo Dewey citado por Traldi (1987), no currículo de uma escola ideal, não deverá existir uma sucessão de estudos, pois, se a educação é vida, toda a vida tem, vista de fora, um aspecto científico, um aspecto artístico e cultural, e, um aspecto de comunicação, cabendo ao professor e aqueles responsáveis pela educação, através da sua acção, não apenas educar, mas também formar os indivíduos, seja individualmente seja para a vida social, valendo-se de todas as oportunidades que ofereçam experiências e/ou actividades que sejam efectivamente significativas para a acção e educação. Desta forma, percebe-se que a educação deverá ajudar o aluno a desenvolver novas atitudes e interesses, consoante a sua disposição e potencialidades, promovendo a adequação do indivíduo a nível de social e preparando-o para o futuro. Como refere Ragan (1953) o currículo consiste em experiências por meio das quais as crianças atingem a auto-realização, ao mesmo tempo uma sociedade melhor. Segundo Silva (2004), existem diferenças entre a educação pré-escolar e o 1º ciclo da escolaridade obrigatória. São consideradas como principais, a necessidade de maior disciplina, que os professores consideram ser uma consequência das novas aprendizagens a realizar, visto no pré-escolar a aprendizagem ser feita de uma forma mais suave baseada no lúdico; o professor assume um papel diferente do educador, no qual assume uma maior distância relacional; no contexto escolar a prática é centrada no professor, assume o papel de transmissor de conhecimentos. Assim, como refere o Ministério da Educação – Departamento de Educação Básica (1998), as crianças e jovens sobredotados ou potencialmente sobredotados passam frequentemente despercebidos ou revelam mesmo dificuldades, em ambientes educativos que enfatizam a realização de tarefas excessivamente dirigidas pelo professor, rotineiras, apoiadas na memória e no pensamento convergente (reprodutivo mais do que criativo), ao mesmo tempo que secundarizam o pensamento divergente (criação de novas ideias, conceitos e relações originais entre ideias e conceitos apoiados na descoberta e na experimentação), a tomada de iniciativa e a partilha de responsabilidades. 15 Desta forma, é necessário que o educador/professor adeqúe a sua intervenção educativa: identificando as crianças e jovens sobredotados, reconhecendo e intervindo segundo as suas necessidades educativas, avaliando constantemente se as suas metodologias são adequadas e contribuem para o “crescimento” efectivo destes alunos. 3.2 Comunicação “As diferenças de práticas entre os dois níveis parecem ser ainda notórias, evidenciando, em termos gerais, um contraste acentuado quer nas relações interpessoais, quer nas relações e posturas face às aprendizagens e à aquisição de saberes.” (Rangel, 2004:137) “Por vezes, o contexto escolar onde se inserem também não parece perceber o aluno sobredotado, impedindo-o de intervir quando e como gostaria, subaproveitando as suas realizações.” (Serra, 2004:25) Desta forma, é compreensível que o contexto escolar seja muitas vezes inibidor de comunicação, impedindo o aluno de se manifestar, para colocar as suas questões, comunicar as suas descobertas ou matérias de interesse. Percebe-se que a comunicação do professor com a criança sobredotada seja por vezes difícil, pois, o aluno não se encontra no mesmo nível das outras crianças, o que dificulta a transmissão da matéria em bloco e igual para todos – escola tradicional. Segundo o Ministério da Educação – Departamento de Educação Básica (1998), é também notória a dificuldade dos professores identificarem o aluno sobredotado, passando estes de forma despercebida ou muitas vezes rotulados como sendo alunos problemáticos, com dificuldades relacionadas com o seu comportamento nas aulas, atenção, interesse pelas tarefas escolares, desempenho social, etc. Assim será essencial admitir que a criança desempenha um papel activo na construção do seu desenvolvimento e aprendizagem, supõe encará-la como sujeito e não como objecto do processo educativo. (Ministério da Educação – Departamento da Educação Básica – Núcleo de Educação Pré-Escolar, 1997: 19) 16 De acordo com o Ministério da Educação – Departamento da Educação Básica – Núcleo de Educação Pré-Escolar (1997), na educação pré-escolar o educador organiza o processo educativo de modo a que este responda às características de cada criança, estimulando a sua evolução no grupo. Também, se acentua a importância da educação pré-escolar partir do que as crianças sabem, da sua cultura e saberes próprios, respeitando e valorizando as características individuais da criança, a sua diferença deverá constituir a base de novas aprendizagens. Assim, reconhece-se o direito à diferença, procurando apoiar as aprendizagens e responder às necessidades individuais, desta forma, a educação pré-escolar põem em prática a pedagogia diferenciada, cerne da escola inclusiva. É notória a preocupação em estabelecer uma relação de confiança entre educador e criança, pois desta relação vai depender a inserção no grupo e as relações com os pares. O educador deve ter a capacidade de ouvir e valorizar cada criança fomentando o diálogo consigo e com as outras crianças, promovendo desta forma a comunicação. Segundo Maria do Céu Roldão (2001), assume-se que na educação de infância se valorizam mais os elementos afectivos e o comportamento interpessoal e social dos alunos, enquanto que à escola do 1º ciclo o que se associa é a aprendizagem penosa. A ideia é que na educação de infância se valorizam os interesses da criança, enquanto que na escola do 1º ciclo se enfatizam as obrigações. De acordo com o que afirma Maria do Céu Roldão, torna-se fácil perceber quais as implicações destes factores numa criança sobredotada, perceber que no pré-escolar os seus interesses são estimulados e que na escola do ensino básico são remetidos para segundo plano e muitas vezes aniquilados devido à preocupação em transmitir matérias, sem que o aluno tenha espaço para desenvolver a criatividade. Assim “ vivemos em uma sociedade, que nos ensina desde muito cedo, a controlar as nossas emoções, a resguardar a nossa curiosidade, a evitar situações que poderiam redundar em sentimentos de perda ou de fracasso. Aprendemos também, desde os nossos primeiros anos, a criticar as nossas ideias e a acreditar que o talento, que a inspiração, que a criatividade são o resultado de factores sobre os quais temos pouco controle e que estariam presentes em apenas poucos indivíduos 17 privilegiados. Aprendemos a não explorar as nossas ideias e bloquear a expressão de tudo aquilo que poderia ser considerado ridículo ou motivo de crítica. […] Situações semelhantes são vividas pelo aluno na escola, onde os professores, preocupados e pressionados a transmitir o conteúdo curricular, não encontram o tempo necessário para ouvir as indagações da criança, para aproveitar as suas ideias, para valorizar seus pontos de vista e para utilizar os recursos da sua extraordinária imaginação.” (Alencar, 1992: 43-44) 3.3 Espaço “A organização e utilização do espaço educativo são expressões das intenções educativas e da dinâmica do grupo.” (Ministério da Educação – Departamento da Educação Básica – Núcleo de Educação Pré-Escolar, 1997: 37) Desta forma, de acordo com o Ministério da Educação – Departamento da Educação Básica – Núcleo de Educação Pré-Escolar (1997), é perceptível que apesar os espaços poderem ser diversos, o tipo de equipamento, os materiais existentes e a forma como estão dispostos condicionam, o que as crianças podem fazer e aprender. Devem-se evitar espaços estereotipados e padronizados pois não são desafiadores para as crianças. Assim, é necessária uma reflexão permanente sobre a funcionalidade e adequação do espaço e as potencialidades educativas dos materiais, para que ocorra sempre que necessário uma reorganização de acordo com as necessidades e interesses do grupo. Torna-se assim evidente que a organização do espaço tem influência no processo de ensino-aprendizagem, pois é fulcral que as crianças compreendam a organização do espaço em que estão inseridas, conheçam os equipamentos e materiais. Se a criança conhecer e participar na organização do espaço irá desenvolver a sua autonomia e sentido de responsabilidade. Desta forma, percebe-se o que o espaço do ensino pré-escolar permite e aquilo que o espaço do ensino do 1º Ciclo condiciona. A criança da educação pré-escolar tem autonomia para explorar, propor alterações, participar de forma activa na reorganização da sala, para que este se adeqúe às crianças que nele 18 interagem. Em contrapartida, o espaço do 1º Ciclo é normalmente um espaço com uma estruturação predefinida e que não sofre alteração, assim, o espaço é padronizado, não procurando responder às necessidades e interesses das crianças. De acordo com Rangel (2004), as crianças de Jardim de Infância têm grande mobilidade e possibilidade de circulação livre na sala, as salas são (em geral) mais espaçosas e melhor apetrechadas, enquanto que as crianças de 1º Ciclo têm menos possibilidades para se movimentarem livremente na sala. Assim, entende-se porque é mais fácil a adaptação de uma criança sobredotada ao contexto pré-escolar, pois tem possibilidade de explorar uma área de maior interesse, pode até desenvolver um projecto numa área da sala, visto na educação de infância se trabalhar através da pedagogia de projecto, o que permite à criança planificar o que quer descobrir sobre o tema de interesse, desenvolver uma pesquisa de acordo com o que pretende explorar, executar um trabalho e posteriormente divulgá-lo e avaliá-lo. No entanto, no 1º Ciclo a criança está condicionada à sua carteira, não podendo desenvolver nada a não ser os conteúdos programáticos e as fichas que lhe são impostas, não há espaço para a exploração, para a pesquisa sobre emas de interesse que não façam parte da matéria. 3.4 Tempo Para Rangel (2004), as crianças no Jardim de Infância são mais livres para fazerem escolhas, têm mais tempo de interacção umas com as outras, têm mais tempo de trabalho e brincadeira em conjunto; enquanto que no 1º Ciclo do Ensino Básico as crianças estão mais tempo a ouvir os professores, têm menos tempo dedicado ao jogo; o “trabalho” substitui jogo (surge essencialmente como prémio), têm menos actividades criativas, estão menos dependentes do adulto e têm menos hipóteses de escolha das actividades; estão mais tempo à espera dos professores; o trabalho em conjunto, em pares ou pequenos grupos é muito reduzido. Ao longo dos anos diminui a interacção entre as crianças e entre estas e os professores. 19 Segundo o Ministério da Educação – Departamento da Educação Básica – Núcleo de Educação Pré-Escolar (1997), no pré-escolar o tempo educativo tem, em geral, uma distribuição flexível, embora corresponda a momentos que se repetem com uma certa periodicidade. A rotina educativa, intencionalmente planeada pelo educador e que as crianças conhecem, permite à criança prever a sucessão dos momentos e propor alterações. O tempo educativo contempla de forma equilibrada os diferentes ritmos e tipos de actividade, que podem ocorrer em diversas situações, seja individual, a pares, em pequeno ou grande grupo. O facto de o tempo ser flexível, permite à criança uma gestão do seu tempo em tarefa, percebendo, da mesma forma, que existem momentos que tem que ser cumpridos (ex. almoço), mas que se podem gerir de forma a não prejudicar a criança. No entanto, o tempo educativo no 1º Ciclo obedece a um horário padronizado, o qual foi decretado pelo órgão central e que é cumprido por todas as escolas. Neste caso não é levado em consideração o ritmo das crianças, muito menos o da criança sobredotada que tem um ritmo completamente diferente da criança padrão, devido à sua capacidade de dedicação e concentração em tarefa. “As interrupções obrigatórias, sem razão aceitável para o aluno, podem provocar interferências ao seu envolvimento em tarefas posteriores. A frustração provocada pelo impedimento à conclusão de uma tarefa, que o aluno considera inacabada, tem por vezes um impacto negativo sobre a auto-confiança do aluno, podendo esta interrupção injustificada ser ressentida como indicador de incapacidade e dar origem a comportamentos de rejeição e desmotivação relativamente a novas propostas de trabalho. Embora a flexibilização dos tempos atribuídos às tarefas possa constituir uma dificuldade acrescida para o professor na gestão da sala de aula, é sempre desejável evitar situações do tipo “acaba de fazer o texto, está na hora da matemática” ou faltam 5 minutos para acabar esse trabalho”. Sempre que possível, deve permitir-se ao aluno que continue o seu trabalho numa determinada tarefa até que se sinta satisfeito e consciente de que acabou, de facto, com sucesso o seu trabalho.” (Ministério da Educação – Departamento de Educação Básica, 1998: 17) 20 4. A importância de preparar/adequar o contexto préescolar e escolar para atender à criança sobredotada 4.1 Intervenção Educativa – Características e Necessidades Educativas da Criança Sobredotada “Os próprios excedentes de capacidades criam alguns problemas educacionais distintos para o sistema escolar típico.” (Kirk e Gallagher, 2002, 66) De acordo com o Ministério da Educação – Departamento de Educação Básica (1998), a intervenção educativa com crianças e jovens sobredotadas ou potencialmente sobredotados deverá ter em conta as suas necessidades específicas, de maneira a que seja possível o desenvolvimento das suas competências e se evitem situações de subaproveitamento, desinteresse ou dificuldades relativamente à actividade escolar. Normalmente estas situações caracterizam-se pelo aparecimento de um conjunto de características comportamentais perturbadoras da acção educativa. De acordo com Martinson e o projecto ACCORD cit por o Ministério da Educação – Departamento de Educação Básica (1998), as características negativas identificadas no aluno sobredotado podem ser: o mostrar-se intolerante, para com os outros; exigir demasiado de si e dos outros, chegando ao ponto de poder estar sempre insatisfeito; mostrar um comportamento irregular – facilmente perturbável; manifestar dificuldades em integrar-se com os outros; manifestar desinteresse na realização de tarefas escritas; o parecer aborrecido; relutância em aceitar instruções; exigir muito tempo de atenção ao professor e revelar-se dominador na relação com os colegas; dificuldade em aceitar o que não é lógico aos seus olhos; absorve-se a criar e a descobrir coisas por si mesmo, recusando os procedimentos habitualmente aceites; resiste a ser interrompido; pode ser muito rígido e inflexível e sente-se frustrado com a inactividade e a falta de progressos. 21 Da mesma forma, o envolvimento educativo pode despoletar um conjunto de características comportamentais tipicamente associadas à sobredotação. De acordo com Martinson e o projecto ACCORD cit por o Ministério da Educação – Departamento de Educação Básica (1998), estas podem ser o mostrar capacidades artísticas ou intelectuais superiores; aprecia os conceitos abstractos, resolve os seus próprios problemas e tem uma forma de pensar muito independente o mostrar um elevado nível de curiosidade; preferir trabalhar autonomamente; capacidade de trabalho e de concentração excepcionais; altos níveis de desempenho cognitivo, capacidade de trabalhar em problemas até à sua resolução; é criativo ou inventivo; capacidade de generalizar ideias através de um conjunto de circunstâncias; o apreciar jogos de palavras e “puzzles”; mostrar qualidades de chefia; é muito critico consigo mesmo e com os outros; é persistente na prossecução dos seus objectivos e é enérgico e activo. Mediante as características apresentadas o Ministério da Educação – Departamento de Educação Básica (1998) refere que é necessário uma flexibilidade nos tempos atribuídos à realização de tarefas, pois a dedicação e concentração, que os alunos sobredotados dedicam às tarefas em que se envolvem entram em confronto com a gestão pedagógica em que a distribuição do tempo de realização é pré-determinada. Desta forma, é necessário permitir, sempre que possível, que o aluno continue o seu trabalho até que sinta que terminou a tarefa. Também é necessário um clima de participação e partilha de responsabilidades, tendo em conta as características da criança sobredotada torna-se pertinente envolvê-la na organização, planificação e avaliação das actividades na sala de aula, pois o facto de a criança poder assumir um papel de responsabilidade e intervenção contribui para a motivação e sustentação das aprendizagens. O suporte emocional é outro factor de extrema importância, tendo em conta que normalmente as expectativas em relação ao desempenho do aluno sobredotado são bastante altas e que este factor pode causar uma pressão excessiva sobre eles. Assim, é importante que o professor/educador adopte 22 uma atitude positiva perante o aluno, transmitindo confiança no seu desempenho e aceitação do erro/insucesso, desta forma ,é importante ajudar o aluno a perceber a natureza do erro e a encontrar soluções. Uma estratégia a utilizar é o elogio ajustado, ou seja, elogiar as aprendizagens positivas, tendo em conta que estes são uma mais valia para o reforço da auto-confiança e auto-estima do aluno. “Os desempenhos excepcionais destes alunos, bem como a natureza das suas características comportamentais, poderão resultar, como vimos anteriormente, na preferência pelo trabalho individual, numa participação social desajeitada com os pares, parecendo por vezes intolerantes e dominadores. Estas características poderão convergir para uma situação de isolamento social a que o professor deverá estar particularmente atento, no sentido de facilitar as trocas sociais e a construção de um sentimento de pertença ao grupo.” (Ministério da Educação – Departamento de Educação Básica, 1998: 18) assim, é fundamental que o educador/professor ajude o aluno a perceber o efeito social de determinadas atitudes e comportamentos; clarifique e discuta as regras de conduta e as consequências da sua violação; fomente a participação em tarefas de grupo; estimule a interajuda entre colegas; perceba qual o papel social do aluno e quais as soluções educativas que visem a sua integração. Por último, deve-se ter em conta as necessidades cognitivas do aluno sobredotado, atendendo às suas características, para que o plano de intervenção educativa seja adequado. Assim, o Ministério da Educação – Departamento de Educação Básica (1998) indica que estes alunos necessitam que lhes seja permitido um ensino individualizado nos conteúdos específicos que melhor dominam, devendo para isso usar-se da flexibilidade dos novos programas para os adaptar a ritmos de aprendizagem mais rápidos, para estruturar tarefas especiais ou opções alternativas; que lhes seja facilitado o acesso a recursos adicionais de informação, designadamente em áreas de conhecimento que definem o seu universo de interesses, pois estes alunos desenvolvem interesses por várias áreas de conhecimento que não são abrangidas pelos conteúdos regulares. Desta forma, é importante que a escola contribua para manter o aluno interessado na actividade escolar e lhes 23 proporcione a ajuda necessária para que a criança desenvolva as suas potencialidades. Assim, como estratégia pode-se recorrer à execução de trabalhos de projecto contextualizados no quadro dos objectivos curriculares e situados na comunidade educativa, para a realização destes poder-se-á recorrer a bibliotecas, visitas a instituições recreativas e culturais, exposições, etc., envolvendo sempre que possível outros agentes educativos da comunidade; que se lhes proporcione a oportunidade de desenvolver e partilhar com os outros os seus interesses e competências, assim, está-se a promover o desenvolvimento social, a interacção com os pares, o seu desenvolvimento e o desenvolvimento dos colegas; é também importante que lhes sejam proporcionados estímulos para a expressão criativa, nomeadamente através da facilitação das comunicações livres nas aulas e da expressão de ideias e projectos diferentes e pouco comuns, isto poderá ser feito em momentos de em que todos os alunos participam na planificação de tarefas, o que propicia a expressão de ideias e projectos em torno de temas de aprendizagem; que lhes sejam dadas as oportunidades para utilizarem as suas competências na resolução de problemas e efectuar investigações, este é um factor determinante no percurso de aprendizagem e desenvolvimento global, pois baseia-se na realização de aprendizagens activas e orientadas no sentido da resolução de problemas. Para complementar o que foi anteriormente descrito, Van Tassel cit por Ministério da Educação – Departamento de Educação Básica (1998), propõe um inventário de necessidades educativas dos alunos sobredotados, que sejam facilitadoras do desenvolvimento e que lhes permitam pensar a níveis conceptuais elaborados; produzir trabalhos diferentes do habitual; trabalhar em equipa; apreciar e discutir questões de natureza moral e ética, realizar tarefas específicas nas suas áreas de maior esforço e interesse; estudar temas novos, dentro e fora do programa escolar habitual e aplicar as suas competências na resolução de problemas estruturados a partir da vida real Torna-se relevante referir, a importância do educador ou professor na vida de uma criança sobredotada, será de ressaltar a necessidade dos 24 docentes estarem atentos e terem formação para perceberem como podem propor aprendizagens diferenciadas, consoante os alunos. “Importa levar à escola conhecimentos sobre os aspectos a considerar nessa envolvência e importa motivar os docentes para o estudo da temática e para a busca de estratégias de ensino diversificadas, a utilizar em ambientes inclusivos. Importa sobretudo levar à compreensão de que a diferenciação no ensino e educação destes alunos constitui um elementar direito de cidadania a respeitar sempre, e não uma concessão ou simpatia de um ou outro professor mais sensibilizado e atento.” (Serra, 2004: 49) 4.2 Organização da Intervenção Educativa De acordo com o Ministério da Educação – Departamento de Ensino Básico (1998), são normalmente apresentados três tipos de solução ou de programas educativos para a escolarização da criança sobredotada, são designados por Aceleração, Grupos de Competência ou de Nível e Enriquecimento. A Aceleração consiste na possibilidade de a criança iniciar precocemente, ou cumprir em menos tempo, o programa de um determinado ciclo de estudos. As vantagens da Aceleração são: “reducción del aburrimiento; incremento de retos académicos; prevención de la pereza mental; búsqueda de intereses y habilidades individuales; aumento de la satisfacción, motivación e autoconfianza; posibilidad de lograr precozmente los requisitos académicos; facilitar mejores actitudes hacia la escuela; utilización de provisiones educativas de un aula normal, no necesitando dinero especial adicional.” (Yolanda Mate, 1992: 224) Os inconvenientes da Aceleração são: “miedo a da rección social y a la separación del grupo de edad; incremento de presión para crecer y madurar más rápidamente, deahí la conveniência de una normalización; sentido de estar aislado debido a métodos muy individualizados; discrepâncias en el desarrollo 25 físico, social y emocional; dificultad com problemas del horário de clase.” (Yolanda Mate, 1992: 224) De acordo com Van Tassel-Baska cit por Yolanda Mate (1992), os critérios a seguir para uma boa Aceleração são: a natureza do sujeito e a natureza da sua sobredotação; a preferência dos alunos por um sitio de aceleração; vários acelerados ao mesmo tempo, para se apoiarem mutuamente; a necessidade de modificações adicionais do programa, sendo conveniente incluir ampliações extracurriculares e apoio; o professor tem que estar de acordo com a aceleração e ser flexível; as expectativas que se têm da criança sobredotada devem ser moderadas principalmente no início; os alunos mais capacitados são os que têm um maior nível de rendimento e desenvolvimento emocional avançado. Os Grupos de Competência traduzem-se em construir turmas, ou mesmo escolas, só para alunos sobredotados. “Muitos pais de crianças superdotadas desistem das escolas públicas e procuram instrução especial em alguma outra parte” (Benjamin Bloom, segundo John Feldhusen cit por Kirk e Gallagher, 2002: 86). Esta solução tem vindo a ser progressivamente abandonada devido aos riscos de estigmatização social e exclusão, inerentes à formação de espaços educativos segregados, e falaciosa no plano de intervenção pedagógica, pois organizar grupos de competências homogéneos é impossível pelo facto de todas as crianças serem diferentes, revelando interesses, capacidades e desempenhos diferenciados. “Além do mais, disse Feldhusen, há uma tremenda variedade de superdotados. Um único programa não poderia satisfazer a todas as suas necessidades. A ideia de que podemos planejar um único programa não é realista (Kirk e Gallagher, 2002: 86) O Enriquecimento consiste na integração da criança sobredotada no sistema regular de ensino, procedendo a alterações nas oportunidades educativas devido à especificidade das suas necessidades. “El Modelo de Enriquecimiento Escolar (SEM) (Reis y Renzulli, 1985) se centra en dichos puntos fuertes ofreciendo a los estudiantes opciones para desarrollar su próprio potencial.” (Renzulli, 1999: 31) 26 “Esta estrategia educativa consiste en el diseño de Programas Educativos Individualizados aplicándolos dentro del horário académico ordinário que aboga por una mayor amplitud temática y un más alto nível de complejidad. La motivación aumenta puesto que es el niño el que marca su ritmo de trabajo” (Yolanda Mate, 1992: 229) Esta é a solução mais comum e que envolve menos riscos, pois recorrese à adaptação dos conteúdos curriculares e à mobilização de recursos educativos orientados para a diversificação da oferta de oportunidades educativas no contexto da sala de aula regular. 27 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO 1. Apresentação e Justificação da Pertinência do Estudo Este trabalho surge da necessidade de perceber em que medida a organização/ funcionamento da sala de Jardim de Infância e do 1º Ciclo do Ensino Básico, condiciona a inserção e motivação da criança sobredotada. O que despoletou este estudo foi a presença de uma criança sobredotada no Jardim de Infância onde exerço a função de Educadora de Infância. Depois de falar com a mãe, percebi que a psicóloga achava que a nível de pré-escolar o contexto era promotor de oportunidades e a criança estava motivada, no entanto, mostrava-se apreensiva quanto ao contexto de 1º ciclo do Ensino Básico, alegando que muitas vezes a criança sobredotada se sente frustrada na escola. Assim, questionamos neste estudo, como a organização e funcionamento de uma sala de Jardim de Infância e de 1º Ciclo do Ensino Básico, condicionam a motivação da criança para frequentar estes contextos. Portanto, o objectivo do trabalho é analisar, de acordo com as características da criança sobredotada, se em algum destes contextos, existem ou não, factores que a estimulem ou desmotivem. Para tal, procedeu-se a um estudo sobre os dois contextos, pois é necessário aprofundar os conhecimentos em algumas vertentes do trabalho, para desta forma perceber melhor a temática e a realidade a investigar, ou seja, o contexto educativo (préescolar e escolar) e o atendimento prestado a crianças sobredotadas, analisando as diferenças e/ou semelhanças a nível de: currículo, comunicação, espaço e tempo. Para direccionar mais especificamente o estudo, é pertinente interrogarmonos sobre as condições de funcionamento e a organização do Jardim de Infância e de 1º Ciclo do Ensino Básico, de forma a percebermos se as 28 diferenças entre os contextos favorecem ou limitam a criança sobredotada. É também relevante inquirir sobre as consequências de um ambiente desmotivador, e quais as vantagens de um ambiente promotor de oportunidades. Assim, no instrumento de investigação criado tenta-se formular questões que ajudem a averiguar se as condições de funcionamento e a organização influenciam ou não o desenvolvimento da criança sobredotada 2. Instrumento para Recolha de Dados Para proceder à validação do estudo decidi recorrer ao método qualitativo, pois através deste, poderemos obter as reflexões que os sujeitos fazem sobre a temática. O recurso a um método de recolha de dados de carácter qualitativo, é devido ao facto de se pretender obter a opinião dos Educadores de Infância e Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico sobre esta temática. Sendo que “a abordagem qualitativa […] é, […] um método de investigação que procura descrever e analisar experiências complexas. […] O foco do investigador qualitativo no “como as coisas são na realidade” […] oferece uma oportunidade para fazer emergir pontos de vista díspares e habitualmente desconhecidos.” (Marconi e Lakatos, 2002: 291) Assim, de acordo com Marconi e Lakatos (2002), a entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. “Uma entrevista é um speech-event no qual uma pessoa A extrai uma informação de uma pessoa B, informação essa que estava contida na biografia de B, retomando o termo biografia o conjunto das representações associadas aos acontecimentos vividos por B” (Labov e Fanshel, cit por Ketele e Roegiers, 1993: 19) Trata-se então de uma conversa face a face, de maneira metódica que proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária. Tem como objectivos a averiguação de factos, a determinação de opiniões sobre os factos, a determinação de sentimentos, a descoberta de planos de acção, 29 inferir condutas actuais ou do passado e descobrir motivos conscientes para opiniões, sentimentos, sistemas ou condutas. Existem diferentes tipos de entrevista, a padronizada, a despadronizada e a painel. Na entrevista padronizada, o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido e as perguntas são fechadas; na despadronizada, o entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direcção que considere adequada e as perguntas são abertas; a painel; consiste na repetição de perguntas, de tempo a tempo, às mesmas pessoas. A entrevista pode ser aplicada com toda a população (analfabetos ou alfabetizados), fornece uma amostragem melhor da população em geral, é mais flexível dando a possibilidade de repetir ou esclarecer perguntas ou formular de maneira diferente, oferece maior oportunidade para avaliar atitudes ao observar o que o entrevistado diz e como diz, possibilita a obtenção de dados que não se encontram em fontes documentais, possibilita o acesso a informações mais precisas e permite que os dados sejam quantificados e submetidos a tratamento estatístico. No entanto, também apresenta algumas limitações, que são a dificuldade de expressão e comunicação de ambas as partes, incompreensão das perguntas que pode levar a uma falsa interpretação, possibilidade de influenciar o entrevistado, disposição do entrevistado em dar informações, retenção de dados importantes com receio que a sua identidade seja revelada. O tipo de entrevista que pretendo aplicar é a padronizada, pois pretendo aplicar sempre o mesmo roteiro de perguntas a todos os entrevistados. 3. Amostra As entrevistas serão feitas a Educadores de Infância e a Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico. A zona seleccionada para fazer este estudo é o concelho de Vila Nova de Gaia, pois a criança sobredotada que me levou a iniciar este estudo 30 frequenta um Jardim de Infância de Vila Nova de Gaia e futuramente irá frequentar uma Escola do 1º Ciclo do Ensino Básico do mesmo concelho. Para proceder a esta investigação, terei que fazer um levantamento na D.R.E.N. de todos os Jardins de Infância e escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico do concelho de Vila Nova de Gaia. Para realizar as entrevistas a todos os Educadores de Infância e Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico. 4. Cronograma Numa 1º fase, terei de fazer o levantamento de todos os Jardins de Infância e Escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico existentes no concelho de Vila Nova de Gaia, para tal irei recorrer à D.R.E.N. – 2 dias. Na 2º fase, terei de contactar com todos os Jardins de Infância e Escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico existentes no concelho de Vila Nova de Gaia, para marcar o momento para fazer as entrevistas – 1 semana. Posteriormente, a 3º fase será para realizar as entrevistas – 1 mês (embora se possa alongar). A 4º fase será proceder à analise dos dados, recorrendo à análise de conteúdo – 2 semanas. Finalmente, será o confronto do estudo teórico com os dados obtidos através das entrevistas – 1 semana. 5. Expectativa a Nível de Resultados Penso que com esta entrevista, ficará claro que poucos são os profissionais que têm conhecimentos académicos sobre sobredotação, as características e necessidades da criança sobredotada e da intervenção educativa adequada, Contudo, penso que já vários foram docentes de crianças sobredotadas, no entanto, ficamos a pensar se a sua intervenção educativa terá sido a mais adequada. 31 Através das respostas dadas a esta entrevista será possível perceber se os educadores de infância e os professores do 1º Ciclo do Ensino Básico estão aptos a identificar e trabalhar com crianças sobredotadas. Na minha opinião, actualmente, no sistema de ensino português, os docentes não estão consciencializados para as diferenças, não sabem como trabalhar com elas, pois estão habituados ao modelo uniformista, em que tudo é igual para todos. No entanto, hoje em dia a escola é muito heterogénea, e é fundamental saber valorizar a diferença, aproveitando-a para enriquecer a educação. Quando os docentes perceberem, que o aluno sobredotado pode ser um contributo importantíssimo numa sala, que é apenas necessário proceder a alterações nas oportunidades educativas devido à especificidade das suas necessidades, talvez percebam que o ensino é muito mais que a transmissão de conteúdos. 32 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao reflectir sobre este trabalho, considero ser de extrema importância que todos os profissionais de educação tenham conhecimento sobre as características e necessidades de uma criança sobredotada, para que as respostas educativas sejam sempre as mais adequadas, quer no que diz respeito à criação de condições para a expressão e desenvolvimento de qualidades excepcionais, quer para a resolução de eventuais situações educativas problemáticas relativamente a estes alunos. Deste modo, será importante pensar a escola ou “repensar a escola como uma instituição que tome a diversidade como o seu paradigma organizador (…) Implica que esse corpo de profissionais responda pela melhoria real das suas escolas e o possam e saibam fazer, tornando-as em organizações inteligentes e reflexivas, que examinam, analisam, avaliam e constantemente ajustam o modo como organizam o seu ensino ao efectivo sucesso da aprendizagem de cada um dos seus diferentes alunos”. (Roldão, 2003:164) Assim, cabe-nos a nós professores e educadores fazer a diferença, temos um papel activo e demasiado importante na vida dos alunos e somos normalmente os motivadores ou castradores da educação. Podemos começar por alterar a organização escolar, iniciando este processo nas nossas salas, alterando a forma como encaramos e ajudamos os nossos alunos a encarar a diferença, não nos deixando levar pelo facilitismo da uniformização – do igual para todos. Embora esta diferenciação seja normalmente na teoria e pouco na prática, facto constatado por Roldão (2003) através das orientações de trabalhos de investigação empírica, de alunos de pós-graduações e licenciaturas, que abordam o tema. Assim, verificou que normalmente os professores reconhecem a necessidade de ensinar de forma diferente alunos com situações de partida diferentes, contudo na observação da prática docente, verifica-se a mesma matriz uniformista. 33 É perceptível que a escola que se baseia no currículo com ênfase em conhecimentos ou matérias, se preocupa apenas com a transmissão dos conhecimentos sem atender às necessidades, diferenças e interesses dos alunos que a frequentam e sem dar espaço ao professor para que transmita os conhecimentos ou matérias de uma forma diferente dos outros. Esta concepção não se preocupa com o meio em que a escola está inserida nem com a época em que os conhecimentos estão a ser transmitidos, como afirma Roldão (2003) esta instituição mantém-se imutável a nível organizativo desde o século XIX, por isso podemos pensar como Barroso (2003) que “ o que mudou foi muito pouco e limitado a uma minoria de casos.” A nossa escola actual continua a ser uma escola uniformizadora. No entanto, a concepção de currículo com ênfase nas situações de aprendizagem, vem revelar um novo respeito pelo aluno, pois preocupa-se em proporcionar experiências significativas que irão promover no educando a sua formação pessoal e social, que lhe potencializará o desenvolvimento integral da sua personalidade. Nesta escola, o professor assume um papel de instigador de aprendizagens, ou seja ele vai proporcionar à criança experiências através das quais esta vai aprender. Desta forma, esta concepção afasta-se da uniformização, pois tem em consideração o aluno, e as suas diferenças pessoais e sociais. Segundo Afonso (2004) podemos fazer da diferença, uma mais valia nas nossas salas, passar da “heterogeneidade como problema à heterogeneidade como recurso” (Barroso cit por Afonso, 2004:36). Desta forma, estaríamos a criar uma “escola inclusiva, isto é, uma Escola para todos, no sentido da sua adaptação às diferentes realidades colocadas pelos seus utentes. Isso implica que aceite as diferenças, apoie as aprendizagens e responda a todos e cada um conforme as suas necessidades e características”. (Afonso, 2004: 36-37) Considero que se de facto considerarmos o aluno sobredotado uma mais valia no nosso sistema de ensino, conseguiremos realmente passar do problema ao recurso. Julgo que a criança sobredotada necessita desta mudança e que se se puserem em prática algumas das estratégias propostas pelo Ministério da Educação – Departamento da Educação Básica (1998), para 34 a intervenção educativa, estas puderam desenvolver as suas capacidades e encontrar as respostas adequadas ás suas necessidades. Depois de elaborar este trabalho, de ter lido bastante sobre esta temática e dos conhecimentos que tenho vindo a adquirir com a criança sobredotada que frequenta a minha sala, penso poder dizer que ter uma criança a quem foi diagnosticada sobredotação na sala é uma mais valia. No entanto, devo reconhecer que é necessário dar uma atenção diferente à criança sobredotada, devido aos seus interesses e necessidades, e este factor exige muito trabalho e empenho do docente. Também pude concluir, que a nível de currículo, comunicação, tempo e espaço, a adaptação da criança é normalmente mais fácil no Jardim de Infância, devido à flexibilidade permitida quer a nível de rotinas, actividades, áreas, comunicação, projectos, pois o currículo em que a educação pré-escolar se baseia é centrado nos interesses da criança. Este tipo de currículo tenta responder às necessidades e interesses do grupo e de cada criança individualmente, de forma a que as propostas de actividades se encontrem na zona de desenvolvimento próximo da criança, como diz Vigotsky, ou seja, estejam acima das capacidades da criança, mas num limite próximo, desta forma estamos a estimular a criança a nível de desenvolvimento. Assim, se levarmos em consideração o desenvolvimento, interesses e capacidades da criança, quando propomos uma actividade (de grupo ou individual) estamos a ter uma intervenção educativa adequada, quer a criança seja sobredotada ou não, pois a nossa proposta encontra-se na zona de desenvolvimento próximo da criança. No entanto, devo referir que o meu projecto seria favorecido se tivesse posto em prática o instrumento de pesquisa, pois iria corroborar as minhas convicções de que no Jardim de Infância, a criança sobredotada tem mais oportunidade para expor e explorar as suas ideias e aprofundar os conhecimentos numa área de interesse, enquanto que, no 1º ciclo do Ensino Básico o professor está mais centrado na transmissão de conteúdos e nos horários que tem de cumprir, o que não facilita a intervenção da criança, logo limita o desenvolvimento da criança sobredotada. 35 Por tudo o que foi referido, julgo poder dizer que é necessário os docentes reflectirem sobre o seu papel e as repercussões este que pode ter no futuro da humanidade. Como refere Almeida Santos (2005) “Durante anos e anos, sempre que reflectia sobre a situação política e social em Portugal e no mundo, à procura de soluções ia dar à escola. Dito de outro modo: ia ter ao homem. Ia dar à escola por ser a responsável pela educação do homem” (Santos, 2005: 7). 36 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA LIVROS • ALENCAR, E. (1986) Psicologia da Criatividade. Porto Alegre: Editora Artes Médicas • ALENCAR, E. (1992) Como Desenvolver o Potencial Criador. Petrópolis: Vozes – 2º edição • FALCÃO, I. (1992) Crianças Sobredotadas – Que Sucesso Escolar?, Rio Tinto: Edições Asa • FORMOSINHO, J.; FERREIRA, F.; MACHADO, J.; (2000) Políticas Educativas e Autonomia das Escolas. Porto: Edições Asa • KETELE, J:; ROEGIERS, X. (1993) Metodologia de Recolha de Dados. Lisboa: Instituto Jean Piaget • KIRK; GALLAGHER (2002) Educação da Criança Excepcional. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora – 3º tiragem • MARCONI, M.; LAKATOS, E. (2002) Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Editora Atlas • MATE, Y. (coord.) (1992) Desarrollo y Educacion de los Niños Superdotados. 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