Paulo Madalon de Mello O SIAFI Dentro de Uma Abordagem Neoschumpeteriana um estudo do sistema de administração financeira do Governo Federal Brasília, 09 de setembro de 1998 Agradeço a todos aqueles que colaboraram direta e indiretamente na elaboração desta monografia. Algumas pessoas e instituições foram fundamentais deste trabalho, em particular, a Viviane por ter pacientemente ajudado nas correções e adequações finais, a Coordenação-Geral de Programação Financeira - COFIN, por ter propiciado um ambiente institucional favorável, e a Universidade Federal do Paraná pelos conhecimentos transmitidos. Por fim, agradeço a todos aqueles que se dispuseram atenciosamente a responder os questionários, nos quais se baseou este trabalho. RESUMO Este trabalho evidenciou se o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal - SIAFI, está auxiliando o Governo Federal a absorver, processar e criar informações financeiras públicas a uma escala que lhe permita atender às necessidades atuais de um gerenciamento financeiro governamental, diante de um ambiente em transformação provocada por uma nova base técnica de acumulação baseada na informação, a qual constitui o novo paradigma tecnológico para a evolução socioeconômica contemporânea. O SIAFI permite flexibilidade, precisão, confiabilidade e habilidade no fornecimento de informações financeiras governamentais e, embora possua características que atendam ao paradigma, ele ainda é uma ferramenta da burocracia, pois se concentra no controle de meios e procedimentos, não fornecendo informações gerenciais satisfatórias para tomada de decisão, nem controle dos resultados dos gestores públicos. Portanto, ele ainda não atende plenamente as necessidades de informações financeiras governamentais requeridas pelo novo paradigma. Não obstante a sua ineficiência dentro do contexto gerencial, a Administração Financeira Pública Brasileira não está retardatária no processo de adaptação ao novo paradigma, já que evidenciou-se que até o Governo da mais desenvolvida economia do mundo (EUA) também está em processo de adaptação, portanto o Brasil tem espaço para tornar-se um dos países pioneiros na adaptação de sistemas de gerenciamento de informações financeiras governamentais. O desenvolvimento de um sistema financeiro governamental dentro de uma concepção neoschumpeteriana exige cooperação entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade para implantação de um controle social que permita serviços públicos inovadores e eficientes, os quais auxiliarão extraordinariamente o desenvolvimento socioeconômico nacional. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01 2. TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO . . . . . . . . . . . . . . . . 05 2.1. Paradigma Tecnológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05 2.2. O pensamento Neoschumpeteriano e Administração Pública Gerencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 3. SIAFI E PARADIGMA TECNOLÓGICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.1. SIAFI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2. Estrutura do Ministério da Fazenda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3. Sistema de Informações Financeiras Americano. . . . . . . . . . . . . . . 3.4. SIAFI e Paradigma Tecnológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 27 30 34 44 4. CONCLUSÀO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 6. SIGLAS UTILIZADAS NO TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 1 1. INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo analisar a eficiência do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal – SIAFI, no gerenciamento financeiro da administração pública, diante de uma nova base técnica de acumulação baseada na informação1. A economia mundial vem passando ao longo dos anos por várias modificações. Em cada período a economia se baseia em uma base técnica que possibilita a acumulação do capital, permitindo a evolução econômica. A microeletrônica constitui a nova base técnica, sendo considerada, portanto, como o novo paradigma tecnológico2. A reforma do Estado representa a tentativa do governo se adaptar a esse novo contexto. No novo paradigma, a criação de informações se dá a uma velocidade cada vez maior e mais intensa. Assim, o governo necessita de uma estrutura flexível que seja capaz de absorver e processar as informações, possibilitando uma atuação eficiente. Um sistema de gerenciamento financeiro que permita absorver e processar informações financeiras torna-se, assim, fundamental. “These changes have until now been separated by centuries, but this is not so for the information revolution. The micropocessor is seeeing to that. The information revolution is running through the 11 O SIAFI é responsável pelo processamento eletrônico da administração financeira, orçamentária, patrimonial e contábil do Governo Federal e se encontra em todo o território nacional, englobando as unidades administrativas vinculadas à essa esfera governamental. 2 “um paradigma científico consiste num conjunto de premissas sobre a realidade – um modelo geralmente aceito – que explica melhor do que qualquer outro conjunto de premissas. Pode ser tão abrangente quanto a física newtoniana, ou tão restrito quanto a noção de que só existe vida no planeta terra. Cada paradigma científico tem seu próprio conjunto de regras e explica um conjunto de fatos. Enquanto ele explica a maior parte dos fenômenos observados e permite solucionar os problemas que a maioria das pessoas quer resolver, permanece de pé. Mas , à medida que novos fenômenos começam a contradizêlo, o paradigma sucumbe a dúvidas crescentes. Essas anomalias se multiplicam, e o paradigma entra em crise” (Osborne & Gaebler. 1993; 349). 2 later part of this century and into the new millenium at na everincreasing speed.” (Willianson. 1998,2). A necessidade de contribuir para a aprimoração da administração pública constitui uma das principais justificativas deste trabalho, já que existem poucas pesquisas sobre o assunto. “O notável, contudo, é o assincronismo da reforma do Estado comparada com o projeto de reestruturação econômica. Existem menos análises aprofundadas e nenhum levantamento abrangente satisfatório, como encontramos na reestruturação” (Glade. 1998;124). A obtenção de um sistema de gerenciamento financeiro eficiente e eficaz, dentro do contexto do novo paradigma, é fundamental para possibilitar uma reforma abrangente e eficaz da administração pública como um todo, auxiliando no desenvolvimento socioeconômico nacional. Esta pesquisa, ao analisar o SIAFI, fornece subsídios para a reforma do Estado, baseando cientificamente algumas ações que devem ser tomadas. “A reforma do Estado passou a ser instrumento indispensável para consolidar a estabilização e assegurar o crescimento sustentado da economia. Somente assim será possível promover a correção das desigualdades sociais e regionais.” (Cardoso.1995;11) O embasamento teórico da pesquisa é o pensamento neoschumpeteriano, o qual afirma que as inovações são as responsáveis pelo desenvolvimento socioeconômico da sociedade, por possibilitar uma nova combinação de fatores de produção. A hipótese principal do trabalho é evidenciar se o SIAFI é flexível, confiável e preciso, se fornece informações gerenciais para a tomada de decisões, bem como se indica a eficiência da performance dos gestores públicos na obtenção de 3 resultados na administração, contribuindo assim para a adaptação do governo ao novo paradigma tecnológico. A hipótese secundária a ser testada é se o Governo Federal Brasileiro está em estágio semelhante ao Governo Americano na capacidade de gerenciamento de informações financeiras governamentais. O estudo de casos é importante para evidenciar a posição relativa dos países diante do novo paradigma, indicando assim se seus sistemas de gerenciamento financeiro são confiáveis, rápidos, flexíveis, precisos e principalmente se fornecem informações gerenciais e controle de resultados da administração pública. Foram entregues aos principais dirigentes financeiros da União questionários para preenchimento, que procuraram identificar o nível de satisfação desses agentes com relação ao SIAFI e evidenciar a sua adequação às características testadas pela hipótese. No caso do sistema dos E.U.A. será considerada a opinião do seu governo sobre o assunto, a qual está expressa na obra Creating a Government That Works Better and Costs Less (NPR. 1993). Essa obra, editada pelo governo americano em 1993, discorre sobre os problemas, soluções e ações que serão tomadas para melhorar a administração pública americana3 e representa, portanto, sua posição oficial. Logicamente, o que está sendo evidenciado aqui é apenas a opinião dos governos quanto aos seus sistemas, o que permite esclarecer se estes estão atendendo ou não às suas necessidades (dado o seu respectivo nível de exigência), 3 Esse estudo em questão faz parte um amplo programa intitulado de National Performance Review - NPR, que almeja encontrar soluções para proporcionar ao cidadão americano melhores serviços públicos e foi encomendado pelo Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, ao Vice-Presidente, Al Gore. Para acessá-lo pela INTERNET: Http:\\ www. npr.gov 4 indicando, assim, a existência, em tais sistemas, de características que atendam às necessidades do novo paradigma. Após esta introdução, seguem-se dois capítulos, além da conclusão. No primeiro, explicar-se-á, sucintamente, a importância do avanço tecnológico e seu impacto sobre a economia, utilizando-se do pensamento da escola neoschumpeteriana, a qual fornece o embasamento teórico do trabalho. Isso se faz importante, porque esta obra baseia-se na suposição de que as mudanças que estão ocorrendo atualmente são provenientes da implantação de um novo paradigma tecnológico no sistema econômico. Além de familiarizar o leitor com a importância do desenvolvimento tecnológico sobre a economia, este capítulo explicará o porquê da necessidade de reestruturação da administração pública, o que permitirá um melhor entendimento da importância deste trabalho. No segundo capítulo será feito o desenvolvimento da pesquisa propriamente dita, com a apresentação de seus dados, análises e respectivos resultados. Finalmente, no último capítulo serão expostas as considerações e as conclusões a que se chega com esta pesquisa. 5 2. TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Este capítulo mostrará a importância do avanço tecnológico e seu impacto sobre a economia. Encontra-se dividido em duas seções: a primeira versará sobre paradigma tecnológico, conceito de cunho neoschumpeteriano amplamente utilizado em toda a obra; a segunda seção, aprofundará mais a questão e apresenta, superficialmente, a literatura sobre o assunto, concentrando-se no pensamento da escola neoschumpeteriana, além de mostrar a necessidade e a importância da reestruturação da administração pública diante do avanço tecnológico. A reforma do aparelho do Estado é considerada neste trabalho como parte da reestruturação da economia brasileira, a qual objetiva adaptar o sistema econômico nacional ao novo paradigma tecnológico baseado na microeletrônica (informação). 2.1. Paradigma Tecnológico A economia brasileira, bem como a de outros países, vem sofrendo profundas mudanças de caráter estrutural e conjuntural para se adaptar às modificações que estão ocorrendo no ambiente econômico a nível mundial: “Durante os anos 80 e 90, dois processos seguiram trajetórias mais ou menos paralelas na América Latina: o ajustamento estrutural da economia e a reforma do aparelho administrativo do Estado” (Glade. 1998; 123). Essas mudanças estão ligadas à implantação de uma nova base técnica de produção baseada na informação (microeletrônica), a qual está substituindo a antiga base técnica de produção fordista: 6 “Government is not alone in its troubles. As the industrial Era has given way to the Information Age , institutions - both public and private – have come face to face with obsolescence. The past decade has witnessed profound restructuring: in the 1980s, major American Corporations reinvented themselves: in the 1990s, governments are struggling to do the same” (NPR. 1993;2). Essa mudança exige uma nova forma de Estado, e, por conseguinte, de administração pública, já que as relações entre os diferentes agentes econômicos necessitam transformar-se para possibilitar a implantação do novo paradigma na economia brasileira. Paradigma tecnológico é simplesmente uma nova base técnica que permite a continuidade evolutiva do sistema econômico. O antigo, por exemplo, intensivo em matérias-primas, ameaçava essa continuidade, pois importantes reservas mundiais poderiam se exaurir rapidamente (ex. petróleo e cobre). O novo paradigma, baseado em informações, possibilitou menor dependência nas matérias-primas, uma vez que a sua taxa de utilização passou a crescer consideravelmente menos, possibilitando, assim, o continuar da evolução do sistema econômico. “(...) a technoeconomic paradigm becomes a dominant technological regime for several decades (corresponding to the uppswing and boom of the Kondratieff long waves). The new paradigm is so strongly entrenched that it appears as the only natural commonsense path of development” (Freeman, C. 1994;313). De acordo com esse pensamento, somente os países que estejam engajados na nova base técnica conseguirão obter consideráveis avanços econômicos, já que a possibilidade de isso ocorrer em economias baseadas no padrão antigo vão exaurindo-se à medida que este não responde aos emergentes e crescentes problemas que vão surgindo, como a falta de matérias-primas e a crescente poluição ambiental decorrente da intensiva utilização das mesmas. 7 O novo paradigma tecnológico, baseado na informação, demanda, constante e crescentemente, novas informações, as quais, por sua vez, provocam mudanças contínuas no ambiente. Uma determinada informação hoje passa a ser obsoleta amanhã. Assim os agentes buscam absorver e produzi-las a uma escala crescente, visando a adaptação às alterações no ambiente externo. Esse processo de absorção e produção resulta no lançamento de novos dados no ambiente, portanto as organizações são impulsionadas a uma geração exponencial de informações. Uma empresa de computador, que se baseia amplamente nas características do novo paradigma, necessita não somente absorver as constantes informações surgidas no seu ambiente externo (ex. novas tecnologias de informação, novos materiais, novos processadores, softwares etc.), mas também criar novos conhecimentos (na forma de um chip mais potente, por exemplo) para sobreviver. A agilidade para captar informações e processá-las se torna, portanto, questão fundamental de sobrevivência nesse novo cenário. A flexibilização das estruturas organizacionais das empresas e da administração pública é, pois, um fator essencial. Segundo a escola neoschumpeteriana, a implantação do novo paradigma é necessária para possibilitar o desenvolvimento econômico, sendo a inovação sua fonte propulsora, pois com a ampliação de campos de investimento, proporciona mudanças no sistema econômico capazes de criar novos postos de trabalho e aumento do padrão de vida da sociedade como um todo. Assim, faz-se necessário o aparecimento de um sistema nacional de inovações, ou seja, de uma estrutura institucional na economia que seja capaz de 8 criar, implementar e difundir inovações, possibilitando, através do progresso tecnológico, crescimento e desenvolvimento econômico4: “Sistema nacional de inovações é uma construção institucional, produto de uma ação planejada e consciente ou de um somatório de decisões não planejadas e desarticuladas, que impulsiona o progresso tecnológico em economias capitalistas complexas. Através da construção desse sistema de inovação viabiliza-se a realização de fluxos de informação necessária ao processo de inovação tecnológica . Como Arrow (1971) demonstrou, tais fluxos de informação teriam um funcionamento subótimo se constassem apenas com os mecanismos de mercado” (Albuquerque. 1996;57). A inovação é, para uma empresa, forma de se diferenciar das demais. Num ambiente em constante transformação a inovação se torna essencial, já que com a diferenciação a empresa é capaz de ampliar sua participação no mercado, aumentando suas chances de sobrevivência. As organizações necessitam não só se adaptar, mas também criar novas inovações, caso contrário tornar-se-ão obsoletas. Para criá-las, é necessário uma estrutura dedicada a isso, e a flexibilidade é fundamental, pois a organização precisa estar sempre preparada para as mudanças surgidas no ambiente externo, bem como produzir as sua próprias alterações a fim de competir e sobreviver. Se uma organização pública não conseguir acompanhar tal processo, estará diminuindo a sua dinâmica e prejudicando o sistema nacional como um todo. O novo paradigma, portanto, ao se basear em informações, possibilita um crescente aparecimento de inovações, as quais são incorporações das novas informações, criando mais conhecimento e, assim, retro-alimentando o sistema. As inovações são consideradas o motor do desenvolvimento. Um pais precisa de um sistema nacional de inovações para fomentar o seu desenvolvimento. 4 “Christopher Freeman defines a national system of innovation as “the network of institutions in the public and private sectors whose activities and interactions initiate, import, 9 A reforma da administração pública é, dessa forma, ou pelo menos deveria ser, uma tentativa de tornar o aparelho do Estado mais ágil para inovar, capacitando-o a acompanhar as mudanças do ambiente externo: “Mas, a maioria das instituições governamentais é obrigada a executar tarefas cada vez mais complexas, em ambientes que mudam rapidamente, para clientes que exigem opções e qualidade” (Osborne & Gaebler. 1992;17) A obtenção de maior capacidade de processar informações é uma forma de promover a flexibilidade e a informática é um importante instrumento para isso. As informações que antes poderiam levar meses para serem adquiridas, agora, em poucos segundos, podem ser acessadas, por exemplo, pela internet.5 A introdução de sistema de processamento de informações na administração pública é considerada, neste trabalho, como um meio - concomitante com outros – de adaptação ao novo paradigma, uma vez que as informações poderão ser absorvidas e processadas, possibilitando a criação de novas, as quais poderão ser incorporadas na forma de inovações. Contudo, somente a introdução de sistema eletrônico de processamento de informação não é suficiente para auxiliar a uma organização a se tornar flexível e geradora de inovações, já que esse sistema pode até tornar a organização mais rígida, se não for implantado corretamente6. “Flexibilidade é muito mais uma questão de planejamento de processo que uma questão de controle de processo. Não se trata de instalar computadores (embora possam facilitar o controle), mas sim de aprender a conduzir o processo” Souza (1993;65). modify and diffuse new technology’(Freeman, 1987)”(Mckelvey, M. 1994;366). 5 Para obter informações sobre a utilização e vantagens da Internet na administração pública ver Sato (1997). 6 “During the lat thirty-five years, governments applied computers to their work, as each agency acquired and built data-processing systems to meet their automation needs. Old procedures, processes and organizational forms were encoded in software. Huge, unwieldy mainframe beasts not only cemented old ways of working, they added additional levels of bureaucracy to plan, implement, operate and control them.”(Tapscott. 1996, 330). 10 É importante, portanto, analisar como a informática está contribuindo na flexibilização da administração pública e, por conseguinte, concorrendo para sua adaptação ao novo paradigma tecnológico, do contrário, o sistema econômico como um todo será penalizado. Evidenciar tal fato é, portanto, essencial para permitir que administração pública possa melhor utilizar a informática, uma vez que o seu uso de forma errônea pode até engessá-la mais ainda. O Tesouro inglês, por exemplo, já percebe a importância de possuir um sistema de informações financeiras flexível e voltado para o controle de resultados: “Os sistemas de gestão financeira foram adaptados pelo Tesouro para atender às necessidades das novas organizações. Existe uma flexibilidade muito maior nos objetivos anuais e as metas financeiras estão cada vez mais dirigidas a resultados e a outputs do que a inputs. O próprio sistema de gastos públicos passou por uma revolução na forma de apresentar, desenvolver e usar a informação. Essas são pressões bastante significativas sobre o sistema que contribuem para institucionalizar as mudanças que já ocorreram” (Jenkins. 1998;208). Vale ressaltar que flexibilização aqui significa uma estrutura capaz de criar, implementar e difundir inovações, e não uma agilidade espúria, a qual procura somente flexibilizar a administração pública através do abaixamento de salários de funcionários, aumento de rotatividade da mão-de-obra, demissão de servidores para se fazer caixa para o pagamento de juros etc. Somente a entrada da economia no novo paradigma não é, porém, suficiente para que a sociedade possa usufruir do máximo potencial da capacidade deste em proporcionar condições para o crescimento e desenvolvimento. É necessário, acima de tudo, que a economia se adapte o mais cedo possível, pois quanto mais demorado for esse processo, menores serão os retornos provenientes da sua 11 entrada7, pois quanto mais cedo isso ocorrer, maiores serão as possibilidades de surgimento de inovações, possibilitando mudanças no sistema econômico através do aumento de investimentos em novos campos, com impactos na geração de empregos e no aumento do padrão de vida (no curto prazo, porém, pode ocorrer aumento no desemprego). Os países que não entrar logo no novo paradigma se tornarão retardatários e produzirão informações obsoletas, as quais terão pouco valor para os países pioneiros. Já as informações geradas por estes últimos terão alto valor para os retardatários, os quais, contudo, dificilmente terão acesso a elas, já que têm pouco a oferecer em troca. Os países que estão em um estágio superior terão assim maior poder nas trocas de bens e serviços (os quais incorporam as informações produzidas na forma de inovações). Os termos de troca tendem a refletir o conteúdo relativo de informações contidas nas mercadorias, condicionam, portanto, o padrão de vida entre os países. A comparação do nível de adaptação ao novo paradigma entre distintos países, dessa forma, é fundamental para se determinar quem são os pioneiros e os retardatários. O Estado é parte institucional importante de qualquer sistema econômico. O aparelho do Estado, então, possui importante papel no processo inovador. A análise do seu estágio de adaptação ao novo paradigma, se torna, assim fundamental. Uma maneira de analisar esse aspecto se dá através da comparação com a experiência de outros países. 7 Isso auxilia à própria administração pública a Poder-se-ia fazer uma analogia a um ninho no qual nascem dois filhotes. O primeiro que nascer será provavelmente o mais forte (pois começará a se alimentar antes) o segundo 12 encontrar métodos eficientes e corrigir erros que possam estar ocorrendo durante o processo. A comparação da administração pública entre países é vantajosa, também, por outro motivo: visto que alguns órgãos que a compõe são únicos - Tesouro Nacional, Receita Federal, Banco Central, Exército etc. – uma das formas de aprimorar suas qualidades e detectar seus defeitos é através do estudo de instituições similares entre países, já que por serem monopólios e entes do Estado, sua capacidade de absorver informações se compromete, pois não existe um ambiente que as force a produzir inovações. A comparação, portanto, permitirá que o aprendizado dessas entidades aumente, possibilitando mudanças que as aprimorem. “Como a maioria dos países costuma ter apenas uma administração pública – pelo menos em termos formais ou institucionais -, sua forma e natureza só emergem quando comparadas às de um outro país” (Spink. 1998;145). 2.2. O pensamento Neoschumpeteriano e Administração Pública Gerencial A inovação como propulsor do desenvolvimento econômico já foi descrita desde Adam Smith (1986). Para ele a inovação dada pela divisão do trabalho possibilitava a especialização dos trabalhadores em determinadas tarefas, o que proporcionava aumento de produtividade e, por conseguinte, aumentos nos investimentos: será mais fraco e, certamente, somente se desenvolverá se houver sobras para ele (já que o primeiro, por ser maior conseguirá ter prioridade na alimentação). 13 “Segundo Smith(1986;17) a divisão do trabalho proporcionava aumento de produtividade (forças produtivas do trabalho) provocando, por sua vez, aumento nos investimentos, ou seja, ao haver divisão do trabalho, por exemplo, cada trabalhador se especializando em determinada fase do processo produtivo, ao invés de cada um realizar todo o processo, a produtividade aumentaria, e, por conseguinte, os capitalistas seriam incentivados a investir mais devido ao aumento do excedente” (Mello. 1995;11). Para Adam Smith, o aumento de produtividade advindo de inovações não traria desemprego, mas sim a criação de novos postos de trabalho: “A demanda de assalariados, portanto, necessariamente aumenta juntamente com a renda e com o capital em todo o país, e possivelmente não poderia aumentar sem este. O aumento do rendimento e do capital é o aumento da riqueza nacional. A demanda por assalariados, portanto, aumenta juntamente com a riqueza nacional, e possivelmente não pode aumentar sem ela” (Smith, A. 1986;56). A inovação (no exemplo advinda da divisão do trabalho) e o seu impacto sobre a economia, portanto, já foram abordadas há bastante tempo, não sendo de forma nenhuma, um fato novo na literatura econômica. Contudo, o desenvolvimento da literatura sobre o assunto teve maior avanço com o pensamento de Alfred Schumpeter. “A importância das oportunidades de investimento oferecidas pelas inovações foi genericamente reconhecida; porém, com exceção da teoria de Schumpeter, nas demais teorias modernas, essas oportunidades não são analisadas internamente; no máximo aparecem naquele misterioso deux ex-machinas chamado investimento autônomo’ - ou seja, um investimento não ocasionado por um aumento de demanda. Da mesma forma, a influência que teria a diminuição dos preços dos fatores produtivos no incentivo ao investimento foi quase inteiramente desconsiderada” (Labini, S. 1984;149). Schumpeter não acreditava que o progresso técnico fosse um destruidor de postos de trabalho, mas muito pelo contrário, já que o progresso técnico provocado pela inovação era o responsável pelo crescimento da demanda por trabalhadores, além de aumentar o padrão de vida da sociedade como um todo: “Fifhly, the swarm-like appearance of new combinations easily and necessarily explains the fundamental features of periods 14 of boom(...). Further, it explains the decline of unemployment and the rise of wages, the rise in the interest rate, the increase in freight, the increasing strain on bank balances and bank reserves, and so forth, and, as we have said the release of secondary waves - the spread of prosperity over the whole economic system”( Schumpeter, J. 1961;230). O empreendedor era, para Schumpeter, o responsável pelo desenvolvimento econômico, porque, através da introdução de inovações no sistema, causava perturbações no fluxo circular8. Com a introdução de inovação, a economia conseguia se mover de um ponto de equilíbrio, onde as variáveis mudavam somente em termos quantitativos (fluxo circular ou ponto de equilíbrio walrasiano), para um estágio onde elas passavam a mudar em termos qualitativos, assim, sem inovações, a economia não teria desenvolvimento econômico9: "(...) função dos empresários é reformar ou revolucionar o padrão de produção explorando uma invenção ou, mais geralmente, uma possibilidade ainda não tentada de produzir nova mercadoria, de produzir uma já existente de maneira nova, de abrir uma nova frente de oferta de materiais, uma nova colocação para produtos existentes, de reorganizar uma indústria e assim por diante"(Schumpeter, 1984; 173). A inovação introduzida pelo empreendedor transfere recursos da produção de um determinado produto já considerado difundido na sociedade - assim com pouca demanda para ampliação da produção - para a fabricação de um produto inovador - pouco difundido e assim com muita demanda potencial. Assim é que recursos, que antes eram dedicados à produção de, por exemplo, televisores em 8 “(...) the action of the group of entrepreuneurs has in the meanwhile altered the data of the system, upset its equilibrium, and thus started an apparently irregular movement in the economic system, which we conceive as a struggle towards a new equilibrium position”( Schumpeter, J. 1961; 235). 9 “Development in our sense is a distinct phenomenon, entirely foreign to what may be observed in the circular flow or in the tendency towards new equilibrium. It is spontaneous and discontinuous change in the channels of the flow, disturbance of equilibrium state previously existing. Our theory of development is nothing but a treatment of this phenomenon and the process incident to it”(Schumpeter, J. 1961; 64). Cantner e Hanush(1994;275) comentam a respeito da função do empreendedor, que envolve uma “destruição criadora”, a qual está relacionada a destruição de uma determinada combinação de fatores para produzir-se uma outra combinação. 15 preto e branco, passaram a ser voltados para a fabricação de televisores coloridos. Todos os consumidores começaram a demandar estes últimos, o que proporcionou maiores investimentos na sua produção, aumentando a oferta de empregos e, portanto, o desenvolvimento econômico, já que agora existe um produto que requer maior tecnologia na sua fabricação e, por conseguinte, oferece maior conforto e satisfação ao consumidor. A inovação criou, assim, novos campos de investimento, postos de trabalho e desenvolvimento econômico. Deve-se ressaltar que o empresário schumpeteriano não é, necessariamente, o dono do capital10. O que importa é que seja o responsável pela introdução de inovações no sistema econômico, as quais possibilitem a sua saída do ponto de equilíbrio em que se encontra a economia, proporcionando, assim, desenvolvimento . Para alguns autores, até o próprio governo poderia desempenhar tal papel: "O próprio Schumpeter considerou que o empresário poderia assumir diferentes formas. De fato, nos países subdesenvolvidos, os governos oficiais assumiram a função, o que não é consistente com suas teses básicas. O elemento importante em sua teoria é a função empresarial, e não sua forma" Liebhafsky(1968,p.580). Na verdade, o que importa é que a inovação seja introduzida, sendo irrelevante o agente responsável. A questão crucial é que haja uma nova combinação de fatores na concepção schumpeteriana. Capitalistas, trabalhadores comuns, cientistas, governos empreendedores e funcionários públicos, podem e devem desempenhar o papel de “empresários schumpeterianos”, auxiliando seus países a obterem, assim, crescimento e desenvolvimento socioeconômico. “As long as they are not carried into practice, inventions are economically irrelevant. And to carry any improvement into effect is a task entirely different foram the inventing of it, and a task, moreover, requiring entirely different kinds of aptitudes. Although 10 Os termos empresário e empreendedor são amplamente utilizados na literatura econômica. Esse último possui a vantagem de não confundir o leitor com o termo capitalista, já que empresário ou empreendedor não são a mesma coisa que capitalista para Schumpeter. 16 entrepreneurs of course may be inventors just as they may be capitalists, they are inventors not by nature of their function but by coincidence and vice-versa”(Schumpeter, J. 1961;88-89) (grifo nosso). Em alguns países do Terceiro Mundo, segundo Wallich(1969; pg200), o Estado desempenha um papel de empresário schumpeteriano, pois realiza investimentos em infra-estrutura, necessários para a criação das condições básicas para a aceleração do processo de industrialização. O Estado torna-se o agente visível e ativo. Os capitalistas dessas regiões, ainda segundo ele, não se tornam o empresário schumpeteriano em função de sua mentalidade e característica de grande proprietário, pela desconfiança das aventuras industriais e por seu passado feudal. Um país, portanto, com passado monocultor baseado na exploração de trabalho escravo, como o Brasil, provavelmente possuirá uma sociedade que dará menor valor às inovações do que uma sociedade que teve um processo colonizador diferente (ex. Austrália, Canadá, EUA etc.). Fatores históricos de um país podem, assim, influenciar o futuro, já que a cultura e as características da sociedade podem ter traços que postergam a necessária implantação de uma nova estrutura capaz de propiciar evolução econômica e social. “The people holding the status quo fight back and either mock or try to discredit the new emerging paradigm. Gradually a critical mass, though still a minority of people, identifies with the new beliefs and foram that point they move into ascendancy as the new paradigm”(Williamson. 1998,2). A implantação de um sistema nacional de inovações no Brasil poderia gerar resistência de parte da população que interpretaria as mudanças como uma ameaça. Um sistema nacional de inovações necessita da participação ativa dos trabalhadores, empresários, pesquisadores e governo a fim de que possa funcionar. 17 Importante seria evidenciar se a cultura de um povo poderia influenciar nesse processo de adaptação. Os trabalhadores que fossem, por exemplo, apegados à forma de produção do antigo paradigma fordista, o qual rejeita o compartilhamento de informações, esconderiam-nas dos seus inferiores, já que se o poder se encontra, no antigo paradigma, no controle dessas informações11. Atitudes como essas, podem dificultar o desenvolvimento de um sistema de inovações no Brasil. “Dado ser um função precípua do sistema nacional de inovação, a manutenção do fluxo de informações necessárias à dinâmica tecnológica que impulsiona a atividade econômica moderna, as debilidades naquele fluxo podem ser interpretadas como deficiências importantes no ‘sistema de inovação’ existente’”(Albuquerque. 1996,69). O desenvolvimento e a implantação de um sistema de gerenciamento de informações financeiras governamentais poderia sofrer, neste contexto, considerável resistência de setores da sociedade contrários a uma maior visibilidade do Estado: “A visibilidade social do Estado representaria, assim, um processo de dimensões políticas, técnicas, tecnológicas e culturais, tendo como um dos seus principais produtos a informação publicizada” (Jardim. 1995, 139) (grifos no original). Estudo realizado por Albuquerque (1996), considerando que o número de patentes de inovação registradas e a quantidade de trabalhos científicos publicados são indicadores do nível de eficiência de um sistema nacional de inovação, e utilizando como amostra treze países, encontrou que o Brasil se encontra no grupo de países cujos sistemas de ciência e tecnologia não se transformaram ainda em sistemas nacionais de inovação (Albuquerque. 1996;69). 11 Este paradigma apresenta forte distinção entre gerência e trabalho operacional, a divisão entre concepção e execução do trabalho é bastante forte. O controle da informação é forma de poder nele, por isso existe pouca troca de informações entre trabalhadores e gerência. Este paradigma está sendo substituído pelo da microeletrônica, o qual prega exatamente o contrário: o poder está no compartilhamento das informações. 18 O impacto da inovação sobre o desenvolvimento econômico, portanto, foi desenvolvido profundamente por Schumpeter. Ele, porém, passou a juventude em uma época na qual era muito comum aparecerem pessoas isoladas com alguma idéia de processo ou de produto nova, ou seja, era comum o "empresário schumpeteriano"12. Contudo, conforme o século passava, grandes organizações oligopolistas surgiram, verticalizando todo ou grande parte do processo produção através do modelo de produção fordista. Apareceram de grandes aglomerados como General Motors, Ford, Philips etc. Esses aglomerados começaram a endogenizar a inovação através de seus laboratórios e, juntando-se a instituições governamentais de pesquisa, como universidades, por exemplo13, tornaram as tentativas individuais e solitárias de inovação cada vez mais remotas. O próprio Schumpeter percebeu isso mais tarde14: "O progresso tecnológico está se transformando em assunto de equipes de especialistas treinados que criam o que lhes é pedido e fazem-no funcionar de maneira previsível."(Schumpeter 1984 p174). O pensamento inicial de Schumpeter, portanto, contemplava as inovações criadas principalmente por empreendedores individuais, o que não é mais o caso atualmente, já que a inovação passou a ser realizada principalmente através da cooperação institucional. O pensamento neoschumpeteriano procura englobar tais 12 “In the first place it is not essencial to the matter - though it may happen - that the new combinations should be carried out by the same people who control the productive or commercial processs which is to be displaced by the new. One the contrary, new combinations are, as a rule, embodied, as it were, in new firms which generally do not arise out of the old ones but start producing besides them”(Schumpeter, J. 1961;68) 13 Para maior informação sobre pesquisa governo-empresa ver Santos(1983). 14 Segundo Cantner e Hanush (1994;276) esta endogenização da inovação pelas grandes empresas em detrimento das menores, provocaria para Schumpeter a auto-eliminação do capitalismo, surgindo assim o socialismo, devido ao fato de haver o desaparecimento do empreendedor individual. A mudança psicológica da sociedade ajudaria na rejeição de ideais burgueses, essenciais para a operação do sistema econômico. Cantner (1994;276) considera que a queda do regime socialista contradiz Schumpeter. 19 mudanças e seus impactos sobre a economia através de um melhor entendimento sobre o assunto. “Sob o rótulo acima, ainda não consagrado na literatura, situam-se contribuições de volume e importância crescentes na última década e meia, que procuram focalizar com inspiração na abordagem de J. Schumpeter à dinâmica capitalista, o processo de transformação econômica e institucional que periodicamente tem lugar nas economias capitalistas, em diferentes graus de intensidade e abrangência, sob o impacto das inovações capitalistas”(Possas, L. 1993;158). O processo de criação, implementação e difusão de inovações (CIDI) passou a ser dependente, desta forma, não mais de pessoas isoladas que surgiam com alguma inovação, mas passou a ser desempenhado pela cooperação entre empresas, governo e trabalhadores. Esses agentes econômicos, ao buscarem uma maior cooperação, possibilitam o surgimento de uma força produtiva (sinergia), que é superior às suas forças somadas isoladamente, pois como existe um objetivo comum, muitas informações são compartilhadas objetivando incrementar o processo CIDI15. Os produtos inovadores que aparecem atualmente, por exemplo, são descobertos, normalmente, por grandes empresas com auxílio de seus trabalhadores e de instituições de pesquisas apoiadas pelo governo. Vê-se, pois, que o sistema necessita de engajamento de todos no compartilhamento de informações, possibilitando a criação de inovações e, conseqüentemente, de crescimento econômico. Para se criar uma inovação atualmente é necessário um controle sobre uma quantidade enorme de informações, as quais surgem à uma taxa exponencial. Uma 15 Para saber mais sobre a escola neoschumpeteriana ver Perez (1986), Nelson (1993) e Dosi (1988). 20 pessoa solitária é capaz de absorver e processar apenas uma pequeníssima quantidade desta avalanche de novas informações. Por isso é que através do compartilhamento de informações e do trabalho em equipe é que se torna possível o aparecimento de novas inovações, visto que se cada um absorver uma parte, no conjunto, então, grande parte da avalanche pode ser captada. Em decorrência disso, os trabalhadores são agora incentivados a participar da concepção do trabalho. Busca-se a integração de cadeias de produção (ex. uma empresa mãe, como a Toyota – grande empresa - forma uma cadeia de fornecedores engajados em seu processo de produção) . O governo é incentivado a orientar e a intervir em alguns setores da economia16 (em ciência e tecnologia, por exemplo). “The neo-Schumpeterians position embraces a strategic trade policy, but goes much further in recommending improved economic incentives, educational reform and public support for R&D. They make a convincing case that exclusive reliance on comparative advantage resting on relative factor endowments merely perpetuates the prevailing ‘pecking order’ of technology gaps that one observes in contemporary global commerce” (James’D. 1994;319). Exige-se agora, portanto, constante e redobrada atenção na absorção e processamento de informações do ambiente. Isso inclui, principalmente, um enfoque especial no consumidor/cliente/cidadão17, pois como o ambiente externo está em constante mudança, a organização necessita de uma estrutura dedicada a absorver rapidamente as alterações de gostos, preferências e necessidades. O engajamento dos trabalhadores é fundamental, já que eles estão envolvidos em 16 Para saber mais sobre o novo paradigma de produção ver Wonack et alii 1986). Segundo Abbrucio a vanguarda do mangerialism (administração gerencial) na Inglaterra se constitui na Public Service Orientation. Essa baseia sua idéia fundamental não no consumidor, mas sim no conceito de cidadão, pois o primeiro termo focaliza o indivíduo, o segundo possui um valor mais geral de direitos e deveres sociais da pessoa (Abbruci. 17 21 muitas situações em que possuem maior conhecimento sobre o assunto, devido ao seu maior contato com o cliente/cidadão. No caso de uma organização governamental, um servidor envolvido diretamente com os problemas de uma repartição pública sabe provavelmente mais sobre eles do que os seus próprios superiores18, sendo muitas vezes, por isso, capaz de criar inovações que permitam aprimorar o serviço público. Como já discutido, a capacidade dos países em implantar em suas economias o paradigma tecnológico é o que fortemente determinará a sua capacidade de desenvolvimento. Este fato foi percebido por Osborne: “De certa forma, este é um sintoma de progresso – do choque desestabilizador que ocorre quando novas realidades colidem com velhas instituições. Nossas tecnologias de informação e nossa economia baseada no conhecimento nos proporcionam oportunidade de fazer o que nunca sonharíamos há 50 anos. Contudo, para aproveitar essas oportunidades, precisamos recolher as ruínas das instituições da era industrial e reconstrui-las” (Osborne and Gaebler. 1992;17). No caso do antigo paradigma fordista, o processo de inovação era lento, com isso estruturas organizacionais grandes e lentas possuíam, normalmente, vantagens sobre as pequenas. Assim, o surgimento de grandes organizações tornou-se vantajoso, como a GM, Philips, etc. No que se refere ao Estado, o agigantamento da sua máquina administrativa se tornou também possível sobre a forma da burocracia, a qual possibilitava eficiência em ambientes pouco mutáveis. “Foram the 1930s through the 1960, we built large, top-down, centralized bureaucracies to do the public´s business. They were patterned after the corporate structures of the age: hierarchical bureaucracies in which tasks were broken into simple parts, each the responsability of a different layer of employee, each defined by 1998;190). Neste trabalho, por razões didáticas, se considerará que o cidadão é o cliente do governo . Isso é necessário para não se entrar em exposições muito alongadas. 18 Pode-se perceber a importância de se compartilhar informações pela seguinte citação: “Ao mesmo tempo, o Banco Mundial desenvolveu estratégias específicas para melhorar o diálogo com as ONG´s, passando a reconhecer a ineficácia de políticas de linha dura para lidar com o desenvolvimento sustentável, a fome e a pobreza” Spink (1998; 155). 22 specific rules and regulations . With their rigid preoccupation with standard operating procedure, their vertical chains of comand, and their standardized services, these bureaucracies were steady – but slow and cumbersome, And in today´s world of rapid change, lightining-quick information technologies, trough global competition, and demanding customers, large, top-down bureaucracies – public or private – don´t work very well. Saturn isn´t run the way General Motors was. Intel isn´t run the way IBM was” (NPR. 1993;3). Como no antigo paradigma as organizações não tinham prioridade para a criação de inovações, em decorrência da lenta variação do ambiente econômico, as suas estruturas cresceram vultosamente, aproveitando-se das denominadas economias de escala, o que possibilitava assim grande crescimento com certa estabilidade. Essa característica permitiu que os procedimentos fossem submetidos a forte controle, visto que, através desse mecanismo, esperavam-se resultados eficientes. “Hoje, isto não é fácil de imaginar, mas há cem anos a palavra burocracia tinha um sentido positivo. Designava um método de organização racional e eficiente, para substituir o exercício arbitrário do poder pelos regimes autoritários. A burocracia trouxe ao trabalho do governo a mesma lógica que a linha de montagem deu ao processo industrial. Com sua autoridade hierárquica e especialização funcional, a organização burocrática tornou possível a realização eficiente de tarefas amplas e complexas” (Osborne & Gaebler. 1992;13). Na administração pública esse controle também foi a forma de se obter eficiência e de coibir apropriações indébitas do erário público19. Porém, com o aumento da necessidade de flexibilidade, tal forma de controle passou a se tornar inconveniente, pois inibe a inovação, já que os procedimentos se tornam regras a serem seguidas, e tentativas para se melhorar o processo podem até ser penalizadas como desvios ilegais, sujeitando o inovador às punições administrativas20. 19 Cardoso (1995; 21-22) “Incapazes de fazer o que sabem ser certo, e receosos de uma punição, caso decidam ignorar as normas, muitos empregados públicos simplesmente desistem. Esquecem-se da missão da repartição pública para a qual trabalham e se contentam em seguir as regras. 20 23 “Yet innovation, by its nature, requires deviation. Unfortunately, faced with so many controls, many employees have simply given up. They do everything by the book – whether it makes sense or not. They fill out forms that should never have been created, follow rules that should never have been imposed, and prepare reports that serve no purpose – and are often never even read. In the name of controlling waste, we have created paralyzing inefficiency. It´s time we found a way to get rid of waste and encourage efficiency” (NPR. 1993;3). Essa concentração nos meios acaba transferindo o foco da atenção da administração pública não nos seus clientes (cidadãos), mas na sua própria estrutura, pois os seus funcionários e seus fornecedores devem gastar tempo considerável na observação de regras e procedimentos, impossibilitando a concentração nos resultados. A administração pública, desse modo, passa até a viver para si, esquecendo do seu objetivo maior, que é servir ao cidadão. Pode-se perceber isso na citação da ex-ministra das finanças da Nova Zelândia. “Nesse contexto, governantes e ministros sempre encontravam grandes dificuldades para exercer controle sobre as políticas que os ajudariam em seus objetivos estratégicos. Eles se tornavam reféns de um setor público baseado em inputs, no qual só se podia exercer controle exigindo a aquiescência a uma série de regras burocráticas sobre decisões e comportamentos institucionais. Isso geralmente tornava mais lenta a implementação das políticas desejadas, ou frustava completamente”. (Richardson. 1998; 216). A administração gerencial, a qual focaliza os resultados ao invés dos procedimentos, pode ajudar a resolver alguns desses problemas, pois ela possui uma filosofia mais voltada a resolver os problemas do consumidor/cidadão, o que permite uma maior busca de inovações no setor público, possibilitando, como foi visto, o desenvolvimento econômico nacional, pois melhor educação, saneamento básico, segurança, tecnologia etc. poderão ser oferecidos à sociedade. Escrevem pilhas e pilhas de ofícios e passam a maior parte do tempo ‘enchendo lingüiça’” (Osborne & Gaebler. 1993; 120). 24 A necessidade de captação de informações demanda cooperação, assim, a sociedade tem que se engajar no controle da administração pública, pois é a contribuinte e a beneficiária dos serviços públicos. A existência de fontes de informações confiáveis a respeito da administração financeira pública se torna importante para que a sociedade exerça seu poder de controle. O SIAFI, assim, pode vir a ajudar no desempenho desse papel. Este trabalho, dentre outras coisas, procura evidenciar se o SIAFI poderia ser utilizado como um meio da população controlar a administração pública e procura detectar se aspectos da cultura brasileira poderiam prejudicar o controle exercido pela sociedade. O governo se conseguisse organizar a sociedade para que ela se mobilize e fiscalize satisfatoriamente os serviços públicos já representaria um desafio e uma grande inovação introduzida no sistema. A administração pública necessita absorver maior quantidade de informações do ambiente. O aumento do seu enfoque no cliente/cidadão para captação de dados do ambiente exigiria o uso de algumas técnicas já amplamente utilizadas por diversas empresas da iniciativa privada, aumentando, em muito, a criação de inovações nas mesmas21. Essas organizações, por possuírem uma estrutura dedicada ao processo CIDI, conseguiram se distinguir de seus concorrentes através do oferecimento de melhores e mais baratos produtos e serviços que atendiam melhor aos consumidores. Isso, logicamente, aumentou o lucro, principalmente de longo prazo, de tais empresas. 21 Ver Wonack et alii (1986) 25 Nesse sentido, a utilização de algumas dessas técnicas no serviço público é uma tentativa de melhor atender aos seus clientes/cidadãos, não sendo, contudo, a tentativa de introduzir a busca de “lucros” na administração pública22. Simplesmente se procura atender às necessidades dos cidadãos, diante de um contexto de um novo paradigma tecnológico, o qual exige estruturas flexíveis e dedicadas ao processo CIDI23. A utilização de algumas dessas técnicas (Just-in-Time, Kanban, 5Qs etc.) possibilita a absorção de quantidade maior de informações do ambiente, possibilitando incrementar o processo CIDI. “Não se trata, porém, da simples importação de modelos idealizados do mundo empresarial, e sim do reconhecimento de que as funções do Estado em um mundo globalizado exigem novas competências, estratégias administrativas e novas instituições” (Spink & Bresser. 1998; 7). Vale ressaltar que esse trabalho não está, de nenhuma forma, incentivando que o setor público considere o setor privado como modelo a ser seguido, mas que apenas absorva algumas experiências que podem se tornar frutíferas na sua adaptação ao novo paradigma. Ademais, o setor público possui escopo diferente do privado, já que aquele objetiva o atendimento da sociedade como um todo, e este (setor privado) o atendimento da pessoa a nível individual, buscando como fim o lucro. Já as organizações não governamentais (ONG´s) possuem escopo que poderia ser definido como misto, pois elas procuram atender à uma necessidade social 22 “Há quem eventualmente discorde da idéia de que os serviços públicos devem enfocar o cidadão como consumidor ou cliente. O governo é governo, dizem, não é negócio; e é inadequado e perigoso usar, para a administração pública, modelos e metáforas do setor privado. Ninguém pode, porém, fazer qualquer objeção a servidores públicos que trabalhem pesado para ser mais responsáveis na prestação de seus serviços. Que contribuinte não prefereria filas mais curtas, rostos mais amistosos e melhores serviços?”(Kettl. 1998;97). 23 Há, principalmente, a necessidade de uma nova regulação entre instituições e agentes para a existência de melhores serviços públicos. Ver Przerworski (1998). 26 específica de cunho coletivo (ex.. preservação da natureza – Greenpeace, reabilitação de pessoas – APAE etc.). Desse modo, as peculiaridades dos setores devem ser consideradas em qualquer análise, evitando-se, contudo, um “ostracismo” (fechar-se dentro de si). Boas experiências existem nesses três setores (público, privado e ong´s), devendo assim haver maior conhecimento e integração para o aprimoramento de todos, já que a cooperação é fundamental para o processo CIDI. Este capítulo teve o intuito de familiarizar o leitor com o pensamento neoschumpeteriano e sua relação com a atual reforma do aparelho do Estado. Como foi visto, essa reforma é uma tentativa de adaptar a administração pública ao novo paradigma. No próximo capítulo será apresentada a pesquisa deste trabalho, a qual procura identificar se o SIAFI está auxiliando o governo na adaptação ao novo paradigma. 27 3. SIAFI E PARADIGMA TECNOLÓGICO Após as exposições feitas no capítulo anterior, o leitor estará apto a entender a pesquisa realizada pelo autor, seus dados e suas conclusões. O objetivo deste capítulo é evidenciar se o SIAFI é flexível, confiável e preciso, se fornece informações gerenciais satisfatórias para a tomada de decisões, bem como se indica a eficiência da performance dos gestores públicos na obtenção de resultados na administração, contribuindo assim para a adaptação do governo ao novo paradigma tecnológico. Isto é, considera-se que se o governo possui um sistema de gerenciamento financeiro capaz de absorver, processar e criar informações financeiras satisfatoriamente e que permita controle de resultados da administração pública, ele está adaptado neste requisito ao novo paradigma baseado na informação. Para testar a hipótese foram entregues aos responsáveis pela administração financeira do governo federal brasileiro questionários contendo dezoito afirmações que deveriam ser respondidas de acordo com o nível de concordância a respeito de cada uma. Antes de se iniciar a análise da pesquisa propriamente dita, far-se-á uma pequena explanação sobre o SIAFI e a estrutura hierárquica da administração financeira central da União, que está a cargo do Ministério da Fazenda, a fim de que o leitor possa entender a posição dos agentes públicos que responderam os questionários da pesquisa. A identificação do atual estágio de adaptação do sistema de gerenciamento de informações financeiras do governo brasileiro ao paradigma tecnológico pode ser melhor evidenciada ao se analisar o sistema de um outro país. Neste trabalho 28 escolheu-se os Estados Unidos da América - EUA, devido ao seu avançado estágio de desenvolvimento tecnológico. Desse modo, foi destinado no presente capítulo uma seção, a qual objetiva evidenciar o nível de adaptação do sistema de administração de informações financeiras daquele país. 3.1. SIAFI O SIAFI é o sistema responsável pelo processamento eletrônico das informações financeiras, orçamentárias, patrimoniais e contábeis do Governo Federal, encontra-se em todo o território nacional e engloba as unidades administrativas vinculadas a essa esfera governamental. Através dele é possível ter acesso a todos os dados contábeis, financeiros, patrimoniais e orçamentários das unidades governamentais (ex. hospitais, universidades, fundações etc.), como as suas disponibilidades financeiras, razão social e CGC dos seus fornecedores, dívidas, bens e direitos, obrigações, pagamentos realizados etc. É possível, também, se informar sobre a situação global do governo federal, pois o sistema, além de fornecer dados relativos às unidades individuais, oferece dados agregados da situação patrimonial, contábil, financeira e orçamentária da administração pública como um todo, ou seja, agrega-se cada uma para obter o conjunto. Assim, se alguém desejar pesquisar, por exemplo, quanto o governo federal deve, ou quanto foi pago em salários e em juros em determinado período, basta acessar operações no SIAFI que ofereçam informações sobre esses valores. O SIAFI possibilita, deste modo, um ordenamento das contas do governo, pois até antes do seu advento não se era possível ter conhecimento, em tempo 29 hábil, dessas informações, já que um ato contábil realizado por uma determinada unidade governamental somente se tornava de conhecimento da autoridade financeira central após decorridos, às vezes, diversos meses. Atualmente isso não ocorre mais. Esse ato torna-se de conhecimento geral a partir da sua exata ocorrência, porque ele é registrado no SIAFI pela entidade responsável assim que ocorre. Por exemplo, uma unidade governamental quando realiza um pagamento a um determinado fornecedor, o realiza através de uma operação do SIAFI denominada de Ordem Bancária, a qual é simplesmente uma ordem de pagamento a esse fornecedor. O Banco do Brasil (agente financeiro do governo federal), ao receber tal comando, realiza o pagamento. Esta operação permanece armazenada no sistema, e à disposição de consultas das pessoas autorizadas em qualquer local do país. Assim se um gestor financeiro quiser saber quanto um hospital público recebeu de dinheiro público, quanto e como gastou, ele só necessitará de ter acesso ao sistema (necessita de senha) para encontrar todos esses registros. O sistema consegue portanto oferecer informações em tempo hábil, porque as operações são lançadas ao mesmo tempo de sua ocorrência: se a administração paga, vende, empenha etc. ele capta automaticamente, já que é tudo feito nele. Contudo, o acesso ao SIAFI não está à disposição da população em geral. As informações das contas públicas federais permanecem dentro do governo federal, não recebendo um controle social maior por parte da sociedade. Caso essas informações fossem acessadas pela população, um cidadão poderia calcular, possivelmente, se um hospital que o atende está aplicando os recursos bem, ou saber se a universidade, na qual sua filha estuda, não está comprando produtos 30 super-faturados, aumentando assim o controle sobre a administração pública. O controle exercido pela sociedade é denominado de controle social. O controle social se tornará cada vez mais importante, já que muitas dessas unidades governamentais tenderão a se tornar organizações sociais desvinculadas administrativamente do Estado, mas sustentadas principalmente por recursos públicos. Assim, os atuais hospitais públicos, por exemplo, se desvincularão do Estado, tornando-se organizações sociais, financiando-se, principalmente, por recursos governamentais, podendo aplicá-los conforme melhor lhes convier. Acredita-se que o controle da sociedade proporcione eficiência na aplicação desses recursos. Esta é a proposta do Governo Federal (Presidência. 1995). O SIAFI poderia se tornar, dentro desse contexto, importante ferramenta no controle social, já que a sociedade poderia ter acesso às informações dessas organizações se elas estiverem abrangidas por ele. Este trabalho evidenciará, dentre outras questões, se a inclusão dessas organizações no SIAFI provocaria rigidez na sua gestão. Importante pesquisa sobre o objeto deste trabalho é feita anualmente pelo Serviço Federal de Processamento de Dados do Governo Federal - SERPRO, o qual é uma empresa pública do Ministério da Fazenda encarregada do suporte dos sistemas de informação fazendárias do governo federal. Essa pesquisa é realizada a partir da avaliação do SIAFI pelos operadores que mais o utilizam em termos de número de horas. No ano de 1997 foi considerado como informante quem utilizou o Sistema pelo menos durante vinte horas nos meses de junho, julho e agosto daquele ano, o 31 que proporcionou um universo de 3.623 usuários a nível nacional, dos quais 921 responderam ao questionário (SERPRO. 1998; 11). A pesquisa encontrou que cerca de 90% dos usuários consideravam bom (44,99%) ou ótimo (44,65%) os serviços prestados pelo SIAFI. Em relação à obtenção de informações gerenciais no sistema, a nota média recebida ficou em 8,33, em uma escala de zero até dez (SERPRO. 1998;21). A satisfação dos usuários vem aumentando nos últimos três anos. O estudo em questão é extremamente importante, pois além evidenciar que o SIAFI vem atendendo satisfatoriamente às necessidades de seus usuários, demonstra também que essa empresa pública está preocupada em aprimorar o atendimento aos seus clientes através da absorção de informações do ambiente, podendo assim incrementar o processo CIDI. A diferença de tal pesquisa com relação ao presente estudo está no fato de que aquela focalizou os usuários diretos do SIAFI, esta, por sua vez, focaliza a opinião dos administradores financeiros centrais do governo federal, ou seja, sua cúpula financeira. Além do mais, aquela objetiva, entre outros motivos, aprimorar o desempenho da empresa (SERPRO) perante os seus clientes. O objetivo deste trabalho é focalizar uma determinada relação entre administração pública e paradigma tecnológico. Ambas são distintas em objetivos, porém possuem metodologias parecidas, podendo obter, dessa forma, resultados semelhantes. 3.2. Estrutura do Ministério da Fazenda Os agentes escolhidos para responder à pesquisa são aqueles responsáveis pela administração financeira central do governo federal, exercida pelo Ministério da 32 Fazenda. Este Ministério está dividido em Secretarias, pois assim pode melhor desempenhar as suas tarefas por meio da especialização do quadro de pessoal em determinados assuntos. As Secretarias do Tesouro Nacional - STN e Federal de Controle - SFC são as responsáveis pela administração e pelo controle financeiro e orçamentário do governo central. Existe ainda a Secretaria-Executiva, a qual tem por objetivo coordenar e gerenciar as relações entre o Ministro da Fazenda e as Secretarias, as quais lhe são subalternas. Cada uma possui no seu Secretário. quadro um dirigente máximo, denominado Para auxiliá-lo nas tarefas institucionais existem os Secretários- Adjuntos, os quais se localizam, assim, abaixo daquele na cadeia hierárquica do Ministério. Estes são responsáveis por determinados assuntos da Secretaria, desta forma, o Secretário possui uma equipe de apoio especializada para orientá-lo e auxiliá-lo nas suas atividades, podendo até substituí-lo nas suas ausências. Logo abaixo na hierarquia se encontram os Coordenadores-Gerais, seguidos pelos Coordenadores. Abaixo destes se encontram os Chefes de Divisão e, mais abaixo, os Chefes-Substitutos. A estrutura hierárquica, portanto, é a seguinte: MINISTÉRIO DA FAZENDA MINISTRO ê SECRETÁRIO-EXECUTIVO ê SECRETÁRIOS ê SECRETÁRIOS-ADJUNTOS ê COORDENADORES-GERAIS ê COORDENADORES ê 33 CHEFES DE DIVISÃO ê CHEFES-ADJUNTOS ê ANALISTAS E TÉCNICOS Os analistas e técnicos compõe a carreira de Finanças e Controle do Ministério da Fazenda e são os maiores ocupantes do quadro da STN e SFC. Esses servidores podem subir na escala, ocupando os cargos superiores, que são de livre nomeação. Muitas vezes tais cargos são preenchidos levando-se em conta mais razões políticas do que técnicas (quanto mais alto for o cargo maior o peso político dele), ou seja, por serem cargos de comando, as influências políticas podem influenciar na escolha de quem ocupará o cargo. Contudo, de modo geral, o peso político somente é fundamental para a nomeação ao cargo de Ministro, para os cargos restantes normalmente depende somente do conhecimento técnico do candidato para a sua ocupação, o que não impede que os dois critérios sejam igualmente adotados24. Os questionários foram entregues aos seguintes agentes: 1- Ministro de Estado da Fazenda; 2- Secretário-Executivo; 3- Secretário do Tesouro Nacional; 4- Secretário Federal de Controle; 5- Secretário-Adjunto da STN; 6- três Coordenadores-Gerais; 7- três Coordenadores; e 8- seis Chefes de Divisão. Estes doze últimos são pertencentes às Coordenações de Contabilidade - CCONT, Programação Financeira - COFIN e de Sistemas de Informática - COSIS, da Secretaria do Tesouro Nacional. Este estudo baseia-se, assim, em informações obtidas com os principais integrantes do Ministério da Fazenda, demonstrando assim forte embasamento para 24 Segundo Pereira (1998;255) tais cargos de comissão (DAS) permitem que os dirigentes públicos compitam pelos melhores funcionários da administração pública, são “carreiras extremamente flexíveis, constituídas por funcionários que formam a elite do Estado. Esses funcionários circulam intensamente entre os diversos órgãos da administração e, ao se aposentarem, tendem a ser absorvidos pelo setor privado”. 34 a verificação de suas hipóteses, já que esses possuem conhecimentos técnicos e práticos sobre o objeto desta pesquisa. Foram entregues, portanto, dezessete questionários, dos quais foram preenchidos quatorze, desta forma, três não foram preenchidos (Ministro de Estado da Fazenda, Secretário do Tesouro Nacional e Secretário-Adjunto). O Gabinete do Ministro informou que o questionário não foi preenchido, porque o assunto poderia ser melhor respondido pela Secretaria do Tesouro Nacional, já que ela, através de delegação, é a responsável pelo controle financeiro e orçamentário da administração pública. Tal afirmação procede, já que o Ministro de Estado da Fazenda possui funções bastante gerais e amplas, não tendo provavelmente conhecimentos muito aprofundados sobre o SIAFI, já que seu campo de trabalho é voltado para agregados macroeconômicos, com pouca disponibilidade, desta forma, para dedicar-se a outras questões. Já os questionários enviados ao Secretário e ao Secretário-Adjunto responsável pelo assunto no Tesouro Nacional também não foram preenchidos. Segundo seus assessores, eles não os responderam, porque não se sentiam muito à vontade para participar de uma pesquisa sobre um sistema pelo qual eram diretamente responsáveis. Como foi visto, para a inovação ocorrer é necessário a cooperação de todos e, especialmente, o compartilhamento de informações. Assim problemas poderão ser evidenciados e soluções encontradas, possibilitando até o aparecimento de inovações capazes de impulsionar o desenvolvimento socioeconômico nacional e o aprimoramento do controle social no país. Ações que não aprimorem a difusão de informações não incrementarão o processo de inovação. O Governo Neozelandês, por exemplo, parece já ter percebido isso, segundo o seu Ministro das Finanças: 35 “The government invests in research, science and technology to generate new knowledge, foster linkages and information flows, promote awareness and understanding, and build technological capability. In this way the Government underspins innovation through all sectors of New Zealand, but this cannot be done in isolation” (Willianson. 1998,3). Pode-se perceber a representatividade da amostra desta pesquisa: todos os Coordenadores-Gerais administração e Coordenadores diretamente responsáveis pela financeira, contábil e de gestão de informação da Secretaria do Tesouro Nacional responderam os questionários, ou seja, 100%. Dos seus respectivos Chefes de Divisão, 50% responderam . No que se refere aos Secretários, atingiu-se 50% de participação, já que são duas Secretarias envolvidas diretamente com o SIAFI e, finalmente, 100% dos Secretários-Executivos, pois só existe um no Ministério da Fazenda. A cúpula da administração financeira federal está, assim, fortemente representada. A ausência da opinião do Ministro não prejudica o trabalho, devido ao fato de este ser especializado em assuntos de cunho agregado, como já mencionado. Agora que o leitor já está informado sobre o objeto e a amostra deste trabalho, será possível o desenvolvimento da pesquisa. 3.3. Sistema de Informações Financeiras Americano O atual estágio de adaptação do sistema de gerenciamento de informações financeiras do governo brasileiro ao paradigma tecnológico pode ser melhor evidenciado ao se analisar o sistema de um outro país. Neste trabalho o país escolhido foi os Estados Unidos da América - EUA, devido ao seu avançado estágio de desenvolvimento tecnológico. Assim, destinou-se no presente capítulo uma 36 seção que objetiva evidenciar o nível de adaptação do sistema de administração de informações financeiras daquele país. A hipótese secundária traçada considera que os EUA, por serem um país fortemente desenvolvido, possui um sistema de gerenciamento financeiro perfeitamente adaptado ao novo paradigma. O governo americano demonstra, assim, satisfação com seu sistema de administração financeira, já que este atende plenamente às suas necessidades de informações financeiras diante das exigências do novo paradigma. Já no caso do Brasil, considera-se que por ser um país menos desenvolvido, seu sistema de administração federal de informações financeiras governamentais não atende plenamente às necessidade de informações financeiras diante das exigências do novo paradigma. Testa-se a seguinte hipótese: os EUA por serem um país desenvolvido possuem um sistema de gerenciamento financeiro governamental totalmente adaptado ao novo paradigma; o Brasil por ser um país menos desenvolvido possui um sistema de gerenciamento financeiro governamental parcialmente adaptado. O caso americano é apresentado primeiro por motivos didáticos, pois como ocupa pouco espaço nesta pesquisa, a sua apresentação inicialmente fornecerá mais embasamento para o estudo do caso brasileiro. A veracidade das hipóteses será determinada de acordo com as respostas dos questionários respondidos pelas autoridades financeiras do governo federal brasileiro e, no caso americano, pela obra Creating a Government that Works Better and Costs Less (NPR. 1993), realizada por este governo. Vale ressaltar que não se está comparando sistemas de informações entre países a ponto de se afirmar que um é melhor ou pior que o outro, mas 37 simplesmente evidencia-se a opinião dos agentes responsáveis por eles, obtendose, assim, indícios de que os seus sistemas estão atendendo ou não às necessidades de uma administração financeira governamental diante de uma nova base técnica. Uma comparação propriamente dita seria muito importante para poder aprimorá-los, porém não será feita neste trabalho, já que o assunto é bastante complexo e multidisciplinar e exige a participação de muitos técnicos dos países em questão. A obra mencionada acima resultou de estudo encomendado pelo Presidente Americano, Bill Clinton, ao Vice-Presidente, Al Gore, como um amplo programa, envolvendo diversos setores dos EUA, a fim de encontrar as deficiências e, principalmente, as soluções que incrementariam a eficiência da administração pública americana. Foi criado, assim, um programa governamental chamado de National Performance Review -NPR (Revisão da Performance Nacional), dedicado ao desenvolvimento de debates e estudos para aprimoramento do serviço público. Pode-se perceber a sua importância através da carta enviada pelo Vice-Presidente ao Presidente americano (contida na obra): “The National Performance Review, the intensive 6-month study of the federal government that you requested, has completed its work. This report represents the beginning of what must be, and – with your leadership – will be, a long-term commitment to change. The title of this report reflects our goals: moving foram red tape to results to create a governmt that works better and costs less”(NPR. 1993; 1). O trabalho em questão foi realizado com a ajuda de servidores federais, estaduais e municipais americanos; especialistas em administração; empresários e cidadãos civis. Desse modo, ele tem como característica representar não só a posição do governo federal americano sobre o assunto, mas também a posição de 38 importantes membros da sociedade americana, o que fornece mais embasamento para a sua utilização por esta pesquisa. “Many talented federal employees contributed to this report, bringing their experience and insight to a difficult and urgent task. We sought ideais and advice foram all across América: foram other federal workers, foram state and local government officials, foram management experts, foram bussiness leaders, and foram private citizens eager for a change. This report benefitted greatly foram their involvement, and we intend for them to benefit foram the reforms we are proposing here” (NPR. 1993;1). Há de se destacar que esse fato indica que o governo americano procura soluções advindas de um pensamento conjunto da sociedade, o que auxilia muito na criação de inovações, pois as informações são compartilhadas. Esse estudo resultou preliminarmente na obra Creating a Government that Works Better and Costs Less (NPR. 1993). Já pelo seu título percebe-se o seu objetivo – Criando um Governo que Trabalha Melhor e Custa Menos. Foram expostos nesta obra diversos problemas e possíveis soluções, os quais não serão aqui discutidos, devido a motivos de escopo, já que somente o seu sistema de informações financeiras é o que interessa neste trabalho. Deve-se ressaltar que o programa do governo americano é de longo prazo, portanto a obra acima é parte inicial deste programa. Ela está dividida em quatro capítulos. O terceiro, é intitulado de Empowering Employees to Get Results (Reforçando o Poder dos Empregados para Obter Resultados). Discute-se a necessidade da transferência de poderes aos funcionários federais, visando ao compartilhamento de informações, a fim de que possam tomar decisões. Isso, como foi já visto, é uma condição importante para a adaptação ao novo paradigma. Esse capítulo está dividido em seis partes, sendo que a terceira é a que interessa a esta pesquisa: Giving Federal Workers the Tools They Need to do Their 39 Jobs (Dando aos Funcionários Federais as Ferramentas para Realizarem o seu Trabalho). Nessa seção discute-se a necessidade de a administração pública americana incrementar as condições de trabalho dos seus servidores para oferecer melhores serviços. O governo americano explica a importância de se possuir informações para a tomada de decisões e a necessidade, portanto, de se possuir sistemas de informações eficientes. “Management isn´t about guessing, it´s about knowing. Those in posistions of responsibility must have the information they need to make good decisions. Good managers have the right information at their fingertips. Poor managers don´t. Good information comes foram good information systems. Management information systems have improved in lockstep with every advance in the telecomunications revolution.” (NPR. 1993;81). A insatisfação do Governo começa a despontar logo a seguir, pois, segundo ele, o setor privado possui melhor acesso às informações financeiras do que o setor federal público: “If Federal Decisionmakers are given the same type of financial and performance information that private managers use, it too will show up on the bottom line - cut the cost of government”(NPR. 1993;81). 0 que deve ser ressaltado é a afirmação de que se os tomadores de decisão federais possuíssem os mesmos tipos de informações financeiras que os gerentes da iniciativa privada, os custos do governo poderiam ser diminuídos: “If Federal Decisionmakers are given the same type of financial and performance information that private managers use, it too will show up on the bottom line - cut the cost of government”(NPR. 1993;81). Existe uma insatisfação, portanto, do governo com seu sistema de administração financeira, já que este é ineficiente no fornecimento de informações diante da necessidade de se absorver e processar informações que aumentam a uma taxa crescente. 40 Deste modo, evidencia-se que o sistema de informação financeira do governo americano não é tão eficiente quanto os do setor privado americano, indicando, assim, que a administração pública possui menor capacidade de se adaptar ao paradigma do que a iniciativa privada. Tal fato pode ser causado pela lentidão do governo em realizar mudanças no aparelho do Estado, devido as suas peculiaridades, como regime administrativo distinto da iniciativa privada, tamanho consideravelmente maior do que as empresas privadas, necessidade de apoio político etc. Existe, assim, uma demanda por um sistema melhor: “Vastly improved financial management is critical to the overall effort to reform government. First, it will save tax payers money. Trillons of dollars flow through the federal government in any year; even a small improvement in managing those funds could recover billions” (NPR. 1993;81). Com um melhor sistema de administração financeira, os recursos financeiros poderiam ser utilizados mais eficientemente, a ponto de se gerar a economia de diversos bilhões de dólares. Existe muito desperdício de recursos públicos nos EUA, advindo da incapacidade do sistema em proporcionar informações diante do novo paradigma, o que revela a importância da sua rápida adaptação. Isso aponta novamente para o fato de que ainda não existe um sistema totalmente eficiente, segundo os critérios de qualidade do governo americano. A falta de um melhor gerenciamento financeiro até prejudica a reforma administrativa como um todo: “Vastly improved financial management is critical to the overall effort to reform government” (idem). Além do setor público estar em desvantagem em relação ao setor privado no acesso e gerenciamento de informações financeiras, os funcionários federais trabalham sem condições de desempenhar satisfatoriamente as suas funções no 41 que se refere à informações financeiras, apesar de seis por cento desses servidores estarem envolvidos com atividades de orçamento, contabilidade, auditoria e gerenciamento de informações, ou seja, não é a falta de recursos humanos a causa da insatisfação do governo americano e, sim, o seu sistema de informações financeiras, o qual é deficiente. “Unfortunately, federal employees don´t work under the best of conditions. Indeed, when it comes to financial information, many are flying blind. It´s not for lack of staffing: Some 120.000 workers – almost 6 percent of non-postal service civilian employees – perform budget, accountig, auditing, and financial management tasks.” (NPR. 1993;81). Como foi visto, o governo americano demonstra a necessidade de um sistema nacional de processamento de dados financeiros e orçamentários melhor do que possui, isso é claramente expresso na seguinte afirmativa: “The executive branch will create a coherent financial management system, clarify responsibilities and raise the standards for financial officers” (NPR. 1993;81). A falta de um sistema eficiente resulta em relatórios financeiros insatisfatórios, uma vez que a manipulação de informações financeiras no sistema não permite absorver todos os dados financeiros do governo: “But when OMB surveyed agengy financial reporting system last year, it found that one-third were more than a decade old, and only 6 percent were less than 2 years old. One third failed to meet Treasury and ONB reporting standards. Two-fifhts did not meet their own in-house reporting standards - meaning they did not provide the information managers wanted. And more than a half lacked the computer power to process the data being entered”(NPR. 1993,81) Os Estados Unidos da América, embora sejam a economia mais avançada do mundo, ainda possuem um sistema de gerenciamento financeiro governamental federal ineficiente, apontando assim que a sua administração pública não está totalmente adaptada ao novo paradigma no que concerne à absorção, processamento e criação de informações financeiras. 42 Diante dessa necessidade, o governo encarregou o The Office of Federal Financial Management (órgão cujas funções se assemelham com as da Secretária do Tesouro Nacional e da Federal de Controle, no Brasil) na procura de políticas capazes de aprimorar a administração financeira federal - deve-se reparar abaixo a seguinte frase fortunately – felizmente, o processo de aprimoramento do nossos sistemas de administração financeira já começou – essa frase por si só já indica a grande necessidade de melhoria no seu sistema de informações financeiras: “Fortunately, the process of updating our management information systems has begun (...). The Office of Federal Management was charged with establishing financial management policies across the government and monitoring agency audits. The act also created chief financial officers in 23 agencies. The OMB deputy chairs a CFO Council to deal with improving financial management across government (NPRi. 1993;81) (reticências nossos). Há uma busca por um gerenciamento financeiro integrado, ou seja, não existe ainda uma demonstração consolidada satisfatória da administração financeira pública como um todo. Ocorre ainda a carência de um mecanismo que relacione a informação financeira com os resultados obtidos pelas agências, ou seja, não há um sistema satisfatório que indique a eficiência dos gestores: “By spring 1994, OMB will work with the existing Joint Financial Management Improvement Program and consult with Treasury and the agencies to define exactly what constitutes na integrated budget and financial system. At the same time, working with treasury and the CFO Coucil, OMB will develop a long-range strategic plan to link financial information and performance goals to the work of agency managers”(NPR. 1993;82). A procura de um amplo plano estratégico de longo prazo que relacione informações financeiras com os objetivos dos gestores almeja, logicamente, o controle gerencial destes. A comparação de gastos com resultados será possível. A necessidade de um sistema integrado indica a insatisfação no que tange à identificação do setor público federal consolidado. A administração pública 43 americana, dessa forma, não possui um sistema satisfatório de custos financeiros e resultados obtidos pelos gestores, além de não possuir um sistema integrado satisfatório das contas financeiras. A busca de maior precisão (accurate) e tempestividade (timely) nas informações financeiras é enfatizada. Esse aprimoramento facilitaria a performance dos gestores, segundo o próprio governo americano, já que aqueles poderiam dedicar-se mais ao seu objetivo, sem esse aprimoramento qualquer reforma só criará mais problemas: “Second, we need accurate and timely financial information if managers are to have greater authority to run federal agencies, and decisionmaking moves to the front lines. Greater responsibility requires greater accountability, or the best-intentioned reforms will only create new problems. Finally, better financial management will present a more accurate picture of the federal budget, enabling the President, Congress, and agency leaders to make better policy decisions”(NPR. 1993;81). O sistema atual não oferece essas características, as quais são consideradas como imprescindíveis para a realização de outras reformas - or the best-intentioned reforms will only create new problems -, pois para melhorar o gerenciamento é necessário maior controle financeiro, segundo o governo americano. Além disso, a administração pública americana volta a enfatizar a necessidade de maior precisão quando afirma que há necessidade de padrões de demonstração contábeis financeiras que reflitam a real situação governamental. Chega-se até a afirmar que na iniciativa privada os indicadores da administração financeira das empresas que são expostos ao público são bastante precisos, e que o governo não faz com as contas públicas. “We must agree on stricter accounting standards for the federal books. We require corporations to meet strict standards of financial management before their stocks can be publicly traded. They must fully disclosure their financial condition, operating results, cash flows, long-term obligations, and contigent liabilities. 44 Independent certified accountants audit their accounts. But we exempt the $ 1.5 thillion federal government foram comparable standards” (NPR. 1993;81). Todas as afirmações indicam que o sistema federal americano de administração financeira governamental ainda não preenche satisfatoriamente as características da nova base técnica, ou seja, ele é ainda ineficiente para o gerenciamento das informações financeiras governamentais diante de um ambiente em constante transformação, pois, segundo o próprio governo americano, o seu sistema não é: confiável, flexível, rápido, integrado e preciso e nem consegue controlar os resultados dos gestores . Isto evidencia que os governos dos países centrais podem ainda estar se adaptado ao novo paradigma, existindo espaço para que os governos dos países menos desenvolvidos acompanhem os pioneiros. Deve-se considerar que, embora o governo americano considere o seu sistema de gerenciamento financeiro ineficiente, isso não quer dizer que este seja pouco avançado, podendo até ser o mais eficiente do mundo, demonstrando apenas que aquele deseja um sistema melhor ainda. Deve-se considerar que, por desejar mobilizar e obter apoio da sociedade para mudanças profundas que serão realizadas na administração pública, pode-se ter exagerado na análise de alguns problemas, com o intuito de comovê-la para a necessidade dessas alterações. Através de apresentações “catastróficas” dos problemas do serviço público o governo poderia, assim, obter maior apoio para essas reformas. A sua insatisfação com o seu sistema de administração financeira poderia até ser menor do que a apresentada. Embora as informações comentadas sejam relativas a declarações feitas a cinco anos atrás, já que a obra utilizada foi publicada em 1993, baseada em estudos 45 realizados no primeiro semestre daquele ano, não comprometem-se os resultados obtidos aqui, pois as mudanças na administração pública demoram vários anos para serem realizadas, e a projeção, a implantação, a difusão e a análise de um novo sistema de gerenciamento financeiro federal exigiriam provavelmente um período maior do que cinco anos devido a complexidade envolvida nesse projeto. Desta forma a administração pública americana não possui ainda um sistema de administração financeira que lhe possibilite atender plenamente às necessidades do novo paradigma, já que não é capaz de absorver, processar e criar informações financeiras satisfatoriamente diante de um ambiente em constante transformação. 3.4. SIAFI e Paradigma Tecnológico O caso americano foi identificado com o objetivo de se evidenciar se o governo federal da mais avançada economia do mundo já estaria adaptado ao novo paradigma no que se refere a sistemas de informações financeiras governamentais. Isto é importante para posicionar o SIAFI diante do novo paradigma em relação aos dos demais países, indicando se a administração pública brasileira está em estágio semelhante aos países pioneiros, pois é fundamental se adaptar ao novo paradigma assim que ele surja para não se tornar um retardatário em relação aos países pioneiros. Identificar a posição do sistema americano foi apenas uma forma de auxiliar na evidenciação da posição relativa do SIAFI diante do novo paradigma, por isso o caso americano foi apresentado primeiro. 46 A questão que se coloca aqui é a identificação da posição do sistema de gerenciamento de informações financeiras brasileiro frente ao novo paradigma, ou seja, o SIAFI é capaz de atender às necessidades do Governo Federal por informações financeiras diante de um ambiente em constante transformação? Como já foi dito inicialmente, a hipótese principal do trabalho é evidenciar se o SIAFI é flexível, confiável e preciso, se fornece informações gerenciais para a tomada de decisões, bem como se indica a eficiência da performance dos gestores públicos na obtenção de resultados na administração, contribuindo assim para a adaptação do governo ao novo paradigma tecnológico. Baseado nessa hipótese foram elaboradas 18 afirmações para refletir as características do SIAFI. Essas afirmações vieram a compor um questionário, que foi entregue aos 17 principais agentes financeiros do governo federal, sendo que 14 foram respondidos. A partir das respostas obtidas, evidenciar-se-á a eficiência do SIAFI diante do novo paradigma. Os resultados serão apresentados ao leitor em tabelas, seguindo-se às respectivas análises, facilitando, assim, a visualização das afirmações e o posicionamento dos agentes diante delas. Como os informantes possuem diferentes postos hierárquicos na administração pública, considerar-se-á, inicialmente, que quem está uma posição acima do seu respectivo antecessor possui cargo mais elevado e, por isso, sua opinião valerá uma vez mais. Ex.: um Coordenador-Geral terá peso dois nas suas respostas em consideração a um Coordenador, já que o primeiro está exatamente um cargo acima deste. Um Secretário-Adjunto, por sua vez, receberá peso três, já que está uma posição acima do Coordenador-Geral e duas em relação ao Coordenador, ou seja, a média utilizada será a ponderada neste caso. 47 Depois será feita a análise considerando que todos têm pesos iguais nas respostas, ou seja, os superiores possuirão a mesma importância que os seus inferiores da escala hierárquica, portanto utilizar-se-á a média aritmética neste caso. A análise será feita nestes dois modos para se testar os diferentes resultados que se poderiam obter quando se considera ou não diferenças de posicionamento na cadeia de comando. Isso é importante, pois assim é possível obter conclusões mais concisas, evidenciando-se resultados distintos devido, simplesmente, à forma de utilização dos dados. É importante salientar que o nível de conhecimento sobre SIAFI não está necessariamente relacionado com o posicionamento na escala hierárquica, pode até ocorrer uma relação inversa, pois quem está mais abaixo tende a ter tarefas que demandem maior utilização do SIAFI. Ao se tornar cada vez mais operacional o cargo, conforme mais se desce na escala hierárquica, talvez mais contato com esse sistema o agente passe a ter. Este estudo não identificará tal relação, já que não pertence ao seu objetivo. As afirmações foram acompanhadas de uma escala que variava de menos dez (-10) a mais dez (+10), a qual deveria ser preenchida de acordo com a discordância ou concordância com a respectiva afirmação. Exemplo: a) O SIAFI não atende plenamente as necessidades de informações gerenciais financeiras; 10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 O nível de concordância poderia variar então de -10 (discordância total) a +10 (concordância total). Foi informado no questionário que o nível zero significava a inexistência de opinião formada sobre o assunto. 48 Neste trabalho considera-se, para a análise, que a escala acima está dividida em três partes: discordância - de -10 a -6; e concordância – de +6 a +10. Caso as notas se localizem entre -5 e +5, considera-se que o SIAFI ainda não preenche satisfatoriamente as características da afirmação, assim, ele é ainda ineficiente no requisito em questão. Deve-se observar que, embora uma resposta +6 pareça à primeira vista uma nota baixa em uma escala que varie somente de 0 a +10, aqui não é o caso, já que nesta pesquisa a escala varia de -10 a +10. Uma resposta +6 nesta representa uma +8 naquela, já que a sua variação é distinta. Assim, está-se sendo rigoroso no critério de apuração das notas de avaliação dos informantes, aceitando ou rejeitando a afirmação quando as médias expressam forte concordância ou forte discordância. Caso contrário, considerar-se que o SIAFI não atende ao requisito proposto na questão. Feitas essas considerações, pode-se partir, agora, para a análise dos dados: 1 - O SIAFI é uma inovação tecnológica criada pela administração pública Cargos Chefes Quantidade Peso Notas assinalada 6 1 +9,6 Coord. 3 2 +9,3 Coord.- Gerais Secretário Secretário- exe. 3 3* +8,7 1 5* +10 1 6 +10 Média ponderada: (9,6x1x6 + 9,3x3x2 + 8,7x3x3 + 10x5x1+ 10x6x1)/(6+6+9+5+6) = 9,4 As notas dos Chefes são multiplicadas por seis já que foram seis os informantes, porém como possuem peso um, multiplica-se seis por um. Três coordenadores responderam, como eles estão acima dos chefes, o seu peso aumenta em um, torna-se dois. Como seu peso é dois, multiplica-se por três, já que foram três informantes, o que dá como resultado seis, portanto sua nota é multiplicada por seis. Este procedimento é seguido até o Secretário-Executivo. Média aritmética: (9,6x6+9,3x3+8,7x3+10x1+10x1)/14 = 9,4 49 Neste caso todos têm peso um. *(o peso três pula para o cinco porque há no meio o cargo de Secretário-Adjunto) AFIRMAÇÃO ACEITA Como pode-se perceber os administradores financeiros informantes consideram que a administração pública criou uma inovação tecnológica, que é o SIAFI, já que a nota obtida foi nove vírgula quatro. Desta forma afirma-se, baseando-se nos dados acima, que a administração pública financeira federal mostra sinais de que possui capacidade de introduzir inovações no serviço público, podendo assim contribuir com o progresso tecnológico e por conseguinte com o progresso socioeconômico da economia brasileira. A afirmação, portanto, é aceita, já que o SIAFI é, segundo os informantes, uma inovação tecnológica criada pela administração pública. 2- A criação, implementação e difusão de inovações no serviço público é essencial para o desenvolvimento e crescimento socioeconômico nacional. Chefes Nota: 9,6 Coordenadore Coord.- Gerais s 8,3 6,67 Secretário 0 Secretárioexe +10 Média ponderada: (9,6x6+8,3x6+6,67x9+0x5+10x6)/32 = 7,11 Média aritmética: (9,6x6+8,3x3+6,67x3+0x1+10x1)/14 = 8,04 afirmação aceita A partir deste quadro serão apresentadas ao leitor somente as notas e as médias, pois já se informou os pesos de cada informante, facilitando-lhe assim a exposição da pesquisa. É importante evidenciar se a inovação é considerada pelos administradores financeiros substancial para o desenvolvimento socioeconômico nacional, pois como foi discutido, ela é o propulsora do avanço econômico. O conhecimento desta importância já seria fundamental. Se os responsáveis pelo gerenciamento 50 financeiro federal não incentivarem a promoção de inovações neste sistema, o serviço público no geral pode ser prejudicado, porque não poderá contar com um sistema de informações eficiente. Segundo a afirmação anterior, a criação, a implementação e a difusão de inovações no serviço público é essencial para o desenvolvimento e crescimento socioeconômico nacional, a nota obtida foi 7,11 pela média ponderada e 8,04 pela média aritmética. Pode-se afirmar que esses agentes consideram que o serviço público deve ser inovador para possibilitar desenvolvimento socioeconômico nacional, portanto a afirmação é aceita. Mas será que o SIAFI é uma inovação somente no Brasil, ou existem sistemas mais avançados em outros países? Este fato é extremamente importante, pois se ele for obsoleto em relação aos sistemas de outros países, poderá indicar que o Brasil é parte dos retardatários neste setor, e a sua Administração Financeira Federal não estaria assim absorvendo e criando inovações a uma escala necessária para ser considerado um pioneiro em sistemas de administração financeira. Vale ressaltar que o caso americano somente evidenciou que o Governo Americano não possui um sistema de gerenciamento financeiro eficiente ao novo paradigma, não o comparou ao caso Brasileiro. Para se evidenciar se o SIAFI é realmente uma inovação na administração financeira é fundamental que ele seja moderno e eficiente em relação aos sistemas dos demais países, caso contrário ele não estará acompanhando os avanços criados na administração financeira, ou seja, ele não seria realmente uma inovação, já que é ultrapassado em relação aos outros países. 51 A inovação, além de proporcionar desenvolvimento econômico, é capaz de diferenciar as organizações, indicando a capacidade relativa destas em se adaptar às mudanças de seu ambiente externo. 3- O SIAFI está entre os dois melhores sistemas de processamento e execução financeira e orçamentária da América Latina Chefes Coordenadore Coord.- Gerais Secretário Secretários exe +7,40 +8,00 +6,67 +10 +10 média ponderada: +8,20 média aritmética: +7,74 afirmação aceita 4- O SIAFI é obsoleto em relação aos sistemas de processamento de dados financeiros e de execução orçamentária e financeira dos Estados Unidos da América . Chefes Coordenadore Coord.- Gerais Secretário Secretários exe Nota: 0 0 -4,00 0 -10 média ponderada: -3,00 média aritmética: -1,57 afirmação não aceita O SIAFI está entre os dois melhores sistemas de gerenciamento financeiro da América Latina, segundo os informantes, visto que obteve notas +8,20 (ponderada) e +7,74(aritmética). Isso indica que o Brasil pode estar avançado em relação aos países vizinhos na implementação de inovações no gerenciamento financeiro governamental. O Brasil, por ser consideravelmente a maior economia local, provavelmente necessita de um governo com um sistema de administração financeiro e orçamentário melhor do que os demais. Quando se trata de um país mais desenvolvido, porém, há a inexistência de conhecimentos sobre o assunto, visto que as notas obtidas (-3,00 e -1,57) estão na faixa de incerteza. A incerteza pode significar, porém, a inexistência de uma estrutura eficiente de absorção de informações do ambiente externo, já que através do estudo de outras experiências 52 pode introduzir novas informações que auxiliem no aprimoramento da administração financeira federal. A capacidade de fomentar inovações está relacionada com a capacidade de absorver informações. Talvez os agentes, por serem os responsáveis pelo SIAFI, poderiam ter respondido tendenciosamente com o objetivo de melhorar a sua posição em relação aos outros países. Porém não parece ter ocorrido isso, pois os agentes mostraram incerteza em relação ao sistema americano, quando poderiam ter subvalorizado aquele sistema, expressando, portanto, que não houve tendencionismo. 5- A implantação do SIAFI no serviço público não sofreu resistências dos servidores públicos Chefes Coordenadore Coord.- Gerais Secretário Secretários exe -3 -1,33 -3,00 6 6 média ponderada: -1,47 média aritmética: -2,07 afirmação não aceita Já que a hipótese básica considera que o SIAFI é uma inovação, o que já foi evidenciado, é importante estudar se a implantação de inovações no gerenciamento financeiro federal enfrenta resistência dos servidores, visto que estes são fundamentais para introduzir e aprimorar qualquer inovação na administração pública. Uma possível resistência destes a tal processo poderia comprometer seriamente qualquer tentativa de incrementar o gerenciamento financeiro na administração pública (criação, implantação e difusão de inovações), diminuindo, assim, as chances de desenvolvimento econômico. As notas obtidas através das duas médias (-1,47 e –2.07) não possibilitam a aceitação da afirmação, que, portanto não é considerada verdadeira. Contudo, também não é possível dizer que não houve resistência dos servidores públicos, já 53 que ambas as notas se encontram no intervalo de incerteza. Tal fato, todavia, aponta que, embora não houvesse resistências consideráveis à implantação do SIAFI, não ocorreu, porém, um apoio geral, o que pode significar que há necessidade de se aprimorar o engajamento e apoio dos servidores ao processo CIDI. Deve-se ressaltar que, embora se tenha evidenciado que o SIAFI foi uma inovação criada pela administração pública (portanto por agentes públicos), não significa, de modo nenhum, que a sua implantação tenha sido realizada com o apoio geral dos servidores, já que a sua criação certamente exigiu participação direta de poucos, mas a sua implantação e utilização envolve um universo consideravelmente maior. 6- O SIAFI possui flexibilidade capaz de acompanhar as necessidades do Serviço Público Chefes Coordenadore Coord.- Gerais Secretário Secretários exe +8,2 +9,00 +6,33 +10 +10 média ponderada: 8,44 média aritmética: 8,23 afirmação aceita O SIAFI possui capacidade para acompanhar as necessidades do serviço público, já que a afirmação obteve notas, pelas médias ponderada e aritmética, de 8,44 e 8,23, respectivamente. A afirmação é considerada verdadeira, encontrandose que o SIAFI possui flexibilidade neste aspecto. 7- O SIAFI atende plenamente as necessidades de informações gerenciais financeiras Chefes Coordenadore Coord.- Gerais Secretário Secretários exe -3,4 -1,33 -1,67 -10 -3 média ponderada: -0,36 média aritmética: -1,60 afirmação não aceita 54 Embora o SIAFI seja capaz de acompanhar as necessidades do serviço público, demonstrando flexibilidade neste requisito, o seu desempenho no fornecimento de informações financeiras gerenciais não é satisfatório, já que os informantes não concordaram com a afirmação. Isto pode evidenciar que o SIAFI ainda não é capaz de prover o gestor público com informações financeiras gerenciais satisfatórias, já que os informantes não souberam precisar. Assim, nem o Governo Brasileiro nem o Americano possuem sistemas de informações financeiras gerenciais satisfatórios no que concerne a gerenciamento de informações, indicando que os dois governos ainda se encontram no estágio de adaptação à nova base técnica, nesse aspecto. O considerável volume de recursos financeiros utilizados pelo governo de qualquer grande economia e seus aspectos legais e administrativos próprios também devem ser apontados como indicadores da complexidade de se obter informações gerenciais plenamente satisfatórias, necessitando, certamente, de tecnologia de informação até mesmo mais avançadas do que os da iniciativa privada. Isto reforça a necessidade do aprimoramento do processo CIDI no serviço público, para resolver problemas específicos seus, já que a simples importação de idéias prontas da iniciativa privada podem não resolvê-los. 8- O SIAFI possui dados confiáveis e reflete satisfatoriamente a posição financeira e orçamentária da administração pública. Chefes Coordenadore Coord.- Gerais Secretário Secretários exe +8 +8 +9,33 +10 +10 média ponderada: 9,06 média aritmética: 8,57 afirmação aceita A precisão e confiabilidade são essenciais para se executar qualquer gerenciamento financeiro, pois se não fosse assim, quantias consideráveis de recursos públicos poderiam ser mal utilizados, gerando, portanto, ineficiência, além 55 de facilitar a apropriação indébita do erário público diminuindo a capacidade de crescimento do país. Não adiantaria nada possuir um sistema financeiro flexível, se ele é impreciso e não reflete a posição financeira da administração, ou seja, o sistema de gerenciamento de informações financeiras tem que ser flexível e ao mesmo tempo preciso e confiável para ser considerado eficiente num contexto de rápidas mudanças no ambiente externo. O SIAFI preenche tais características segundo os informantes, pois obteve médias aritmética e ponderada de 9,06 e 8,57 respectivamente, ou seja, ele é preciso e confiável. 9 - O SIAFI ao possibilitar maior controle de meios e procedimentos aumenta a burocracia e, portanto, a rigidez na administração pública Chefes Coordenadore Coord. Gerais Secretário Secretários exe. -4 -8 -7 -10 -10 média ponderada: -7,66 média aritmética: -6,36 afirmação rejeitada 10- O SIAFI, ao enfatizar o controle de meios, prejudica o desempenho dos gestores Chefes Coordenadore Coord. Gerais Secretário Secretários exe. Nota: -4,8 -7,33 -5,33 -10 -10 média ponderada: -7,21 média aritmética: -6,2 afirmação rejeitada Diante da necessidade de agilidade, os gestores não podem encontrar obstáculos que os impeçam de alcançar a eficiência na prestação dos serviços públicos. Pouco ajudaria possuir um sistema de gerenciamento financeiro flexível, confiável e preciso se ele aumentasse a rigidez na execução das outras tarefas pertinentes à administração pública, ou seja, possuísse flexibilidade financeira mais ao mesmo tempo enrijecesse os outros procedimentos administrativos (ex. compra e venda de materiais, gerenciamento de pessoal etc.). Deve-se flexibilizar por um 56 lado, mas não se pode enrijecer o outro, pois assim não haveria logicamente mudança nenhuma no conjunto. Isso é um fato considerado tão importante neste trabalho que foram feitas duas afirmações semelhantes para poder melhor identificar a questão. Assim o informante deparava-se com afirmações semelhantes (porém não imediatamente subsequentes). Desta forma, a opinião é melhor identificada, pois existem duas afirmações que versam sobre o mesmo tópico. Todas as notas indicam que o SIAFI, além de não introduzir rigidez na administração pública, não prejudica o desempenho dos gestores, já que todas as notas estão abaixo de menos seis. Este fato é importante, pois ao mesmo tempo que o SIAFI exerce o controle financeiro, não enrijece a administração pública, o que é essencial na busca por eficiência. 11- O SIAFI fornece controle satisfatório de resultados Chefes Coordenadore Coord. Gerais Secretário Secretários exe. Nota: -1,4 +0,33 -5 -10 +10 Média ponderada: -1,29 média aritmética: -1,6 afirmação não-aceita Embora o SIAFI seja flexível, preciso, confiável e não enrijeça a administração pública, ele não fornece, porém, controle satisfatório de resultados, já que afirmação não foi confirmada. Este fato pode ser motivado pela sua ineficiência no fornecimento de informações gerenciais financeiras, ou até da inexistência, talvez, de finalidade de controle de resultados, já que ele se concentra nos meios. Porém, um sistema integrado de administração financeira e orçamentária que não objetivasse o controle de resultados parece não se enquadrar dentro de uma administração gerencial, mas sim dentro de uma burocrática, já que se controlaria os meios e procedimentos como forma de se alcançar os resultados, o que, como comentado nos capítulos 57 anteriores, seria contrário à eficiência dentro de um ambiente que demanda constantemente novas inovações. Desta forma, o SIAFI focaliza os meios (burocracia)25, ainda não possuindo ênfase satisfatória nos resultados (administração gerencial), o que deveria ocorrer dentro de um processo CIDI. O SIAFI possui, assim, importantes características que evidenciam que ele é uma inovação criada pela administração pública, fornecendo-lhe um gerenciamento financeiro confiável, preciso, hábil e flexível, porque não enrijece a administração pública e acompanha as suas necessidades. Ele, porém, possui falhas: ineficiência no provimento de informações gerenciais financeiras e no controle dos resultados obtidos pelos gestores públicos. Isto é, ele informa com habilidade, precisão e confiabilidade os atos financeiros realizados pelo gestor: quanto gastou, o que comprou, preços pagos etc., porém não informa se tudo isso resultou no fornecimento de serviços públicos eficientes à sociedade, possibilitando, dessa forma, excelente controle de meios e procedimentos, não enfatizando, contudo, os resultados. Assim, embora possua características que possibilitam flexibilidade, o SIAFI ainda não é uma ferramenta da administração gerencial, pois possui fortes traços da burocracia, a qual enfatiza os meios e procedimentos e não os resultados, não atendendo, portanto, aos requisitos do novo paradigma. 12- A utilização do SIAFI pelas organizações sociais provocaria a rigidez na sua execução financeira, atrapalhando, assim, a sua gestão; Chefes Coordenadore Coord. Gerais Secretário Secretários exe. -5,6 -9,33 -7,67 -10 0 Média ponderada: -6,52 média aritmética: -6,76 afirmação rejeitada 25 Como já comentado, ele controla os atos financeiros, orçamentários, patrimoniais e contábeis da Administração Pública Federal. 58 O SIAFI, como mencionado, não produz rigidez na gestão das unidades administrativas governamentais, mas muitas dessas tornar-se-ão desvinculadas do aparelho do Estado. É importante, assim, evidenciar se elas poderiam continuar dentro do SIAFI. As organizações sociais, como já comentado são entidades de direito privado, suportadas basicamente por recursos orçamentários governamentais, mas que não objetivam o lucro e sim o cumprimento de objetivos de cunho social para uma determinada coletividade (ex. APAE). Elas não são de direito público e nem estão vinculadas administrativamente aos órgãos governamentais, porque acreditase que assim elas teriam liberdade para melhor aplicar os seus recursos, sem ter que obedecer ao direito administrativo, ou seja, não teriam que realizar licitações, conforme a Lei 8.666, seus funcionários seriam celetistas e não estatutários, portanto poderiam admitir funcionários e demiti-los conforme suas necessidades, comprar de quem achar melhor etc. O controle sobre essas organizações sociais passaria a enfocar principalmente os resultados obtidos e seria realizado fundamentalmente pela sociedade, ou seja, se dará ênfase nos resultados e não nos procedimentos através de um controle principalmente social. Dentro deste contexto, o importante a se evidenciar é: se elas estivessem incluídas no SIAFI, isto prejudicaria a performance dos seus gestores? Em caso positivo, o SIAFI não seria indicado para se aplicar às mesmas, em caso negativo, poderia se utilizar ele para auxiliar o controle social. Este fato é importante, pois como foi visto, o SIAFI controla meios, se isto enrijecer procedimentos a ponto de prejudicar a gestão daquelas, seu uso não seria recomendável, já que o SIAFI é ineficiente no controle de resultados, e a principal medida de avaliação destas 59 entidades são os seus resultados, e não os seus procedimentos (estes, porém, não serão desprezados). As notas obtidas foram –6,52, ponderada, e –6,76 aritmética, ou seja, embora se concentre nos meios, o SIAFI não prejudicaria aparentemente a gestão dessas entidades, portanto a sua inclusão no sistema seria possível, auxiliando assim o controle social. O SIAFI para auxiliar com seus dados o controle social, precisa logicamente estar disponível para a sociedade, ou seja, um cidadão ou uma associação teriam que obter acesso a ele. A sua disponibilização pela Internet poderia resolver tal questão. 13- O SIAFI deveria ser disponibilizado na internet à população de forma a que qualquer cidadão tenha acesso a seus dados, facilitando assim o controle social Chefes Coordenadore Coord. Gerais Secretário Secretários exe +3,8 +5,00 +3,33 +6,00 0 média ponderada: +3,51 média aritmética: +3,84 afirmação não aceita Neste caso, os informantes não estão convencidos da necessidade de sua disponibilização na Internet, pois as notas foram +3,51 (ponderada) e 3,84 (aritmética). Isto indica que a demonstração das informações financeiras por este meio à população não conta com o claro apoio dos dirigentes financeiros. Uma provável explicação se deveria à incipiente cultura de controle social no Brasil, ou até o receio que esses dados não sejam bem entendidos pela população. A administração publica mostra sinais de que ainda é entusiasta do controle burocrático, já que além de possuir um sistema financeiro que não exerce controle de resultados, ainda não está certa de que a sociedade deva ter acesso aos atos exercidos pelas entidades públicas. O SIAFI, por ser fundamentalmente uma 60 ferramenta que não pode ser considerada um instrumento da administração gerencial, necessita ser remodelado para disponibilizar o fornecimento de informações à população, possibilitando, assim, um maior controle social. Logicamente, estas informações devem ser apresentadas de forma compreensível, sintética e com notas explicativas para o cidadão, evitando mal entendimento de seus dados. O controle social precisa ser desenvolvido o Brasil - na verdade, talvez, até implantado - visto que esse é tão inexpressivo que não se pode ainda afirmar a sua verdadeira existência no país. A utilização de uma ferramenta de cunho burocrático não pode jamais substituir esse controle, mas somente vir a ser um instrumento para o aprimoramento do controle exercido pela sociedade, caso contrário, o desenvolvimento de uma administração voltada para a criação de inovações estará prejudicada. Como visto, o processo CIDI precisa de compartilhamento de informações e cooperação governo, empresas e trabalhadores e sociedade. A ênfase no controle da administração publica através de uma ferramenta de cunho burocrático em detrimento do controle social, somente aumentaria os entraves a esse processo. 14- O SIAFI deve exercer papel mais importante no controle da administração pública do que o controle exercido pela sociedade Chefes Coordenadore Coord. Gerais Secretário Secretários exe +0 -1,00 -3,00 0 -10 média ponderada: -2,90 média aritmética: -1,57 afirmação não aceita Como pode ser observado acima, existe ainda dúvida sobre a predominância do controle social sobre o burocrático, já que a afirmação não foi negada, visto que obteve médias de -2,90 (ponderada) e -1,57 (aritmética). Qualquer ferramenta que venha a ser utilizada para o controle não deveria ser considerada capaz de 61 substituir o controle da sociedade. A inexistência clara da superioridade deste sobre aquele aponta sinais de que ainda há cultura burocrática na administração financeira, prejudicando o processo CIDI, pois se enfatiza meios e procedimentos e não resultados. 15- O controle institucional e social da administração pública podem ser exercidos de forma aceitável sem o auxílio do SIAFI. Chefes Coordenadore Coord. Gerais Secretário Secretários exe -6,6 -7,33 +0,67 -10 -10 média ponderada: -6,05 média aritmética: -6,00 afirmação rejeitada O SIAFI poderia ser considerado pelos informantes tão importante que a sua ausência prejudicaria o controle social. Então a afirmação acima procurou evidenciar essa característica. As médias obtidas nesse requisito foram -6,05 e -6,00. Isto indica que o SIAFI é essencial para o controle social da administração pública, segundo os informantes. Essa idéia parece paradoxal, porque o SIAFI não está disponível à população26, nem fornece controle satisfatório de resultados sendo, ao mesmo tempo, considerado essencial para o controle social. O desenvolvimento da capacidade da sociedade em auxiliar a administração pública a se aprimorar demanda o acesso às informações financeiras dos órgãos que prestam serviços públicos de forma que a população possa entendê-las. Vê-se, pois, que o seu remodelamento é fundamental. De qualquer forma, deve-se reafirmar aqui a necessidade de um sistema de administração financeiro e orçamentário que enfatize também resultados, e que, principalmente, auxilie o desenvolvimento de um controle social no pais, pois se o 62 SIAFI não for remodelado, não será possível que esta ferramenta venha auxiliar neste processo. A sociedade precisa exercer uma participação ativa no controle da administração pública, principalmente devido à tendência de que as organizações sociais sejam as principais instituições responsáveis pelo fornecimento de serviços públicos essenciais para o desenvolvimento do capital humano no país: saúde e educação. As organizações sociais receberão recursos do orçamento governamental e, embora possam vir a estar incluídas no SIAFI, gozarão de autonomia na utilização de recursos públicos, objetivando prestar serviços públicos de forma eficiente. Esse tipo de organização somente conseguirá ser eficiente se houver forte controle social exercendo pressão para a obtenção de resultados, caso contrário os recursos serão provavelmente desperdiçados, porque elas provavelmente passarão com o tempo a estar mais interessas na obtenção de resultados para si mesmas do que para a sociedade, ou seja, elas viverão para si, substituindo a burocracia governamental pela privada. Talvez, sem controle social, muitas serão até dependentes de políticos e intermediadores para liberação de recursos públicos, o que possibilita o surgimento de corrupção nesse processo. Com a sociedade observando-as em relação a quanto lhes foi entregue, como foi gasto, e principalmente exigindo resultados, a sua eficiência será consideravelmente maior. O compartilhamento de informações e cooperação entre sociedade e governo é essencial para o funcionamento de um serviço público eficiente e descentralizado. 26 O SIAFI também pode ser acessado por membros do Poder Legislativo, porém isso não significa, de forma nenhuma, que a população, por isso, tem acesso. 63 16- A cultura de resultados de curto prazo da sociedade brasileira prejudica o controle social da administração pública Chefes Coordenadore Coord. Gerais Secretário Secretários exe -4,4 +2,33 -5,00 0 não espondeu média ponderada: -3,67 média aritmética: -3,17 afirmação não aceita 17- A baixa educação e a pouca capacidade de organização em associações do povo brasileiro prejudicam o controle social sobre a administração pública Chefes Coordenadore Coord. Gerais Secretário Secretários exe +7,6 +6,00 -0,67 +10 não espondeu média ponderada: +5,00 média aritmética: +5,50 afirmação não aceita 18- A cultura do povo brasileiro, por tolerar determinado nível de corrupção, prejudica o controle da administração pública por parte da sociedade Chefes Coordenadore Coord. Gerais Secretário Secretários exe +0,20 +3,00 +5,00 0 não espondeu Média ponderada: +2,56 média aritmética: +1,93 afirmação não aceita A sociedade tem que ser capaz - e desejar - participar do aprimoramento da prestação de serviços públicos governamentais, caso contrário existiria pouco espaço para o desenvolvimento de um sistema de administração financeiro e orçamentário voltado para resultados. É importante evidenciar se a sociedade brasileira está preparada para isso, ou seja, se características da sua cultura, bem como o nível de escolaridade relativamente baixo da população não desincentivariam o seu engajamento no controle social, prejudicando assim o processo CIDI. Se a sociedade brasileira não for capaz de participar ativamente do controle da administração pública, tentativas de aprimorar o gerenciamento financeiro e 64 orçamentário desta em uma concepção gerencial tenderão a ser subótimos. O processo de criação, implementação e difusão de inovações no serviço público será seriamente prejudicado. Nesse sentido, foram formuladas três afirmações que procuram evidenciar esse aspecto através de quatro suposições sobre a sociedade brasileira: 1 - predominância de procura por resultados de curto prazo, 2- pouca educação em relação aos padrões dos países centrais, 3- determinado nível de tolerância com a corrupção e, 4- pouca capacidade de organizar-se em associações em comparação às sociedades mais desenvolvidas. Em todas essas afirmações as respostas se encontram no intervalo de incerteza, variando as médias de um valor mínimo correspondente a -3,67 a um valor máximo de +5,50. Pode-se afirmar, assim, que os responsáveis pelo gerenciamento financeiro federal não possuem uma opinião formada sobre o assunto. O controle social da administração pública deve ser feito baseando-se na obtenção de resultados de longo prazo principalmente, pois um enfoque no curto prazo pode até dificultar a obtenção de resultados efetivos. Ex. o combate a algumas doenças exige a realização de investimentos em saneamento (longo prazo) e não apenas a realização de esforços na cura dos sintomas da doença (curto prazo). Os informantes não possuem certeza sobre a afirmação, já que opinaram com notas -3,67 e 3,17 Se a sociedade for tolerante com algum nível de corrupção ela pode ser tornar indiferente a um efetivo controle da administração, já que haveria certo conformismo com a ineficiência na aplicação de recursos públicos. Os informantes 65 ainda não possuem certeza sobre o assunto, já que as notas se localizaram no espaço de incerteza: +2,56 e 1,93. Outro aspecto a se analisar é que a pouca educação e a baixa capacidade do povo brasileiro em organizar-se em associações foram apontadas com médias +5,00 e +5,50, encontrando-se, também, no do intervalo de incerteza, ou seja, os informantes não possuem uma posição clara à respeito. Qualquer mudança que seja realizada no SIAFI para atender às necessidades de uma administração gerencial deverá considerar as características do povo brasileiro, pois a sua participação na administração pública é essencial. Se não houver, por exemplo, a existência de uma associação de pais de alunos para participar do planejamento financeiro e orçamentário da administração da escola de seus filhos, ou se uma comunidade não se organiza para fiscalizar o hospital público que lhes presta serviços médicos, a obtenção de serviços públicos eficientes e eficazes estaria seriamente comprometida. 66 4. CONCLUSÃO Este trabalho analisou se o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal -SIAFI, está auxiliando o Governo Federal a absorver, processar e criar informações financeiras públicas a uma escala que lhe permita atender às necessidades atuais de uma gerenciamento financeiro governamental, diante de um ambiente em crescente transformação, provocada por uma nova base técnica de acumulação baseada na microeletrônica (informação), a qual constitui o novo paradigma tecnológico (conceito da escola neoschumpeteriana) para a evolução socioeconômica contemporânea. Embora o SIAFI possua flexibilidade, precisão, confiabilidade e tempestividade no fornecimento de informações financeiras governamentais, características que atendem ao novo paradigma, ele ainda é uma ferramenta da administração burocrática, pois se concentra no controle de meios e procedimentos, não fornecendo informações gerenciais satisfatórias para tomada de decisão, nem controle sobre os resultados dos gestores públicos, portanto, ele ainda não atende as necessidades de informações financeiras governamentais requeridas por uma base técnica baseada na informação, já que ainda é insatisfatório no que se refere à manipulação dos dados. Não obstante o sistema de administração de informações financeiras brasileiro seja ineficiente dentro de um contexto gerencial, a Administração Financeira Pública Brasileira não está relativamente atrasada no processo de adaptação ao novo paradigma, já que viu-se, no presente trabalho, que até o governo da mais desenvolvida economia do mundo (EUA) também está em 67 processo de adaptação às necessidade de gestão da informação financeira dentro de um ambiente em constante e crescente transformação. Há fortes indícios, portanto, que a administração federal financeira brasileira pode auxiliar o país a tornar adaptado à nova base técnica no que ser refere a gerenciamento financeiro governamental, contribuindo para que o país se torne também parte dos países pioneiros neste campo. Outro aspecto importante evidenciado na análise é que a cooperação da sociedade no controle social deverá ser melhor desenvolvida, pois não adiantará possuir sistemas de gerenciamento financeiro avançados, se não houver participação social na busca por serviços públicos eficientes. O desenvolvimento de um sistema financeiro governamental dentro de uma concepção neoschumpeteriana exige o fomento da cooperação entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade para o controle do serviço público, possibilitando maior aparecimento de inovações que tornem os serviços públicos inovadores e eficientes. 68 Referências Bibliográficas Abbrucio, Fernando Luiz. Os avanços e os dilemas do modelo pós-burocrático: a reforma da administração pública à luz da experiência internacional recente IN Spink, Peter & Pereira, Luiz Carlos Bresser, Organizadores. Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial, 1998, 173-199 Albuquerque, Eduardo da Mota. 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