PROGRAMA TRAINEE: ANÁLISE DE UMA EXPERIÊNCIA BRASILEIRA AUTORA Ana Elisa Fontes Villas Costa Rua São João Evangelista, 465 - Apt° 101 - São Pedro - 30.330-140 Telefone: (031) 344-6951 INSTITUIÇÃO Faculdade de Ciências Econômicas - FACE Universidade Federal de Minas Gerais Rua Curitiba. 832 - Centro - Belo Horizonte - M G Nosso artigo sobre o Programa de Trainee analisa experiência da Companhia Cervejaria Brahma, empresa nacional do ramo de alimentos, que adotou o programa como estratégia competitiva para os próximos anos. Ele foi escrito com base nos dados de nossaa dissertação de mestrado defendida em Dezembro/94 na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais. A pesquisa desenvolvida nos permite caracterizar o Programa de Trainees de uma empresa brasileira, seu processo de recrutamento, seleção, programa de treinamento e desenvolvimento e de formas de acompanhamento, avaliação e sistema de encarreiramento. O estudo permite oferecer subsídios aos programas de formação gerencial das organizações, cem como ás Universidades que buscam a efetividade da relação ensino-aprendizagem na administração Indexação do artigo: Aprendizado Gerencial Trainee Formação Gerencial Treinamento Desenvolvimento de RH PROGRAMA TRAINEE: ANÁLISE DE UMA EXPERIÊNCIA BRASILEIRA Ana Elisa Fontes Villas Costa Mestre em Administração Rua São João Evangelista. 465 - Apt° 101 - São Pedro 30.330-140 - Belo Horizonte - M G Telefone: (031) 344-6951 Faculdade de Ciências Econômicas - FACE Universidade Federal de Minas Gerais Rua Curitiba. 832 - Centro - Belo Horizonte - M G Nos últimos 20 anos temos convivido com alterações significativas no desenvolvimento do sistema gerencial brasileiro para fazer frente ao quadro econômico, político e social que se tem apresentado. Na virada dos anos 80 e inicio da década de 90, passamos a conviver com uma mudança políticoeconômica mundial marcada pela criação das mercados comuns, pela penetração mercadológica dos Tigres Asiáticos, pela consolidação do bloco europeu, pela norma de qualidade ISO 9000, pela abertura do mercado nacional, além da recessão. Esta nova situação despertou nas empresas a consciência da necessidade de um incremento na melhoria da qualidade e produtividade. Este binômio passou a se constituir como fator de sucesso e sobrevivência do negócio, consolidando, dessa forma, mudanças nos sistemas administrativos até então utilizados. O quadro administrativo das empresas foi-se alterando. Algumas empresas partiram em busca de maior qualidade, outras em busca da melhora de produtividade, outras incrementando os programas de treinamento dos empregados, outras focando na satisfação dos clientes, outras perseguindo a redução de tempo de estoques das matérias primas, outras promovendo a redução de níveis hierárquicos, ou ainda a busca de terceirização e sistema de parceria. Segundo CAMPOS (1990) "é aconselhável conscientizar-se de que a administração (diretoria, gerentes, engenheiros) é responsável por 80 a 85% dos problemas de uma empresa." Portanto, considerando o quadro que ora se apresenta, estamos sendo levados no sentido de buscar o aperfeiçoamento do sistema gerencial brasileiro. No Brasil. como em outros países, principalmente os do Terceiro Mundo, estas constantes mudanças no cenário político, econômico e social têm levado as empresas a se posicionarem de maneira distinta no que se refere ao desenvolvimento dos seus executivas; algumas reagindo, outras saindo do mercado e algumas se antecipando. Segundo a Revista Exame (agosto 1990). Algumas empresas brasileiras têm procurado se antecipar ás mudanças e "antes de oferecer um bom salário, têm proporcionado um pesado e exaustivo treinamento." O programa de trainees desenvolvidos em algumas empresas no Brasil têm sido considerado uma estratégia na busca de vantagem competitiva para os próximos anos. Essas empresas têm utilizado, como estratégia para ampliação e renovação de quadro gerencial, a identificação e captação de estudantes "talentosos", recém-graduados, para se desenvolverem nas organizações. Estes profissionais são denominados de 'trainees" (traduzindo do inglês: treinando). São selecionados e treinados para ocuparem cargos estratégicos e/ou gerenciais nas empresas num curto espaço de tempo. Nossa pesquisa se deu na Companhia Cervejaria Brahma, empresa nacional do ramo de alimentos que, ao apresentar seu relatório anual em 1992 "teve a preocupação de ressaltar a importância que a empresa dá ás áreas de Recursos Humanos e treinamento", tendo escolhido como exemplo de ampliação e renovação de sua força de trabalho o programa de trainees iniciado em 1990 e para eles consolidado em 1991. A empresa "foi buscar nas Universidades talentos necessários ao desenvolvimento da Companhia dentro da filosofia traçada pela Direção. O resultado foi a injeção de um competente e entusiasmado sangue novo na Companhia. O programa já se tomou um dos mais procurados nas Universidades e está permitindo que a Brahma forme profissionais intimamente identificados com a cultura da empresa. O programa de trainees consiste basicamente em duas fases: depois de um rigoroso processo de seleção, os aprovados passam cinco meses em treinamento. conhecendo todas as áreas da Empresa e mergulhando funda no negócio da Companhia. Nos seis meses seguintes o trainee é acoplado á área onde ele será aproveitado ao final do programa(...). Os índices de aproveitamento foram elevados e todos já estão plenamente integrados na Empresa(...). Os trainees de hoje serão os executivos da companhia amanhã. (Fonte: Relatório Anual - 1991 – Cia. Cervejaria Brahma). Caracterização do programa de trainees no Brasil A palavra inglesa Trainee, isto é, ''treinando, instruindo ou praticante" tem sido utilizada pelas empresas brasileiras desde a década de 70. SERSON (1973) definiu a palavra trainee como aquela usada para "designar a situação em que fica a pessoa, com direitos trabalhistas, mas com salário inferior ao cargo que irá ocupar terminada a preparação profissional a ele ministrado pela empresa." Observou também que semelhante designação estava sendo utilizada para "os estagiados, que passaram a empregados antes de formarem, por terem de cumprir jornada superior a quatro horas diárias, o que era vedado pelo Decreto 69.927/72." Considerou também que: "por extensão trainee passou a chamar também o trabalhador intelectual que deverá submeter-se, após a admissão, a período longo de treinamento de adaptação, antes de passar a exercer efetivamente o cargo ao qual é destinado, recebendo, durante o treinamento, um salário inferior ao do cargo efetivo." Este último conceito é o que mais se aproxima da situação atual e que constitui o objeto da presente pesquisa. A PCF CONSULTORES (1992) realizou uma pesquisa em mato/junho de 1992 com o objetivo de identificar o posicionamento e tendências das organizações quanto ao enfoque e utilização de programas de trainees. Das empresas pesquisadas, 52% eram nacionais, 41,5% multinacionais e 6,5% mistas. O tempo de existência do programa era de: 0 a 2 anos - 18.5% 3 a 5 anos - 37.0 % 6 a 8 anos - 26.0% 9 a 10 anos - 3.0 % + l0 anos - l5.0 % Pode-se inferir que, 55.5 % das empresas adoraram o programa nos últimos cinco anos. No universo pesquisado, a PCF CONSULTORES (1992) identificou que as empresas adotam o Programa de Trainees como estratégia de mudança/inovação ou renovação de seu quadro gerencial. Constataram a partir da pesquisa, preocupação das empresas em inserir no seu quadro funcional talentos de mercado que poderiam provocar o aprimoramento da qualidade dos recursos humanos da organização e, conseqüentemente, de seus produtos e serviços. Outro fator relevante na adoção do Programa de Trainees apontado pelos consultores é a defasagem entre a formação acadêmica e a realidade prática: suprir de forma planejada tal hiato se constitui, segundo as empresas pesquisadas, num dos principais objetivos do programa. A partir de publicações constatamos que a natureza do "negócio" das empresas diferencia o programa de desenvolvimento dos trainees. O Citibank, através de entrevista á Revista Exame (1990), relatou o seguinte: "não nos interessa saber se são bons em finanças, marketing ou recursos humanos. O que o banco quer é apenas encontrar pessoas com potencial e de boa cabeça." A Gessy Lever, na mesma entrevista, relata que "não queremos apenas ter bons técnicos, queremos recrutar hoje o nosso gerente geral de amanhã." Para o recrutamento de trainees, as universidades têm sido a principal fonte. Utilizam-se também jornais, revistas de grande circulação e as "Feiras de Recrutamento e Seleção" promovidas nas grandes capitais do País. A cada ano, maior número de empresas tem incorporado o programa de trainees aumentando, dessa forma, as oportunidades. Entretanto, a escassez de mercado e as possibilidades oferecidas pelos programas têm acirrado a concorrência, tanto por parte das empresas quanto dos candidatos. As empresas têm consciência de que estão lidando com público formador de opinião e, a cada ano, têm se preparado mais para vender bem sua imagem. Têm sido realizadas palestras, distribuído folders e colocados profissionais nas universidades com o objetivo de captar a "nata de trainees." Outro instrumento que têm sido utilizado é a mala direta para os recémformados. As grandes organizações têm procurado se antecipar às concorrentes, chegando mais cedo às universidades: "a Dow, uma das pioneiras no Pais neste tipo de seleção de mão-de-obra, mantido desce o começo dos anos 70 (...) costumava iniciar seu recrutamento nas escolas em novembro, para contratação dos recém-formados em janeiro do ano seguinte (...) foi preciso antecipar o programa para outubro e até para setembro, pois muitas empresas começaram a sair na frente (...).No Citibank, o empenho em ganhar a corada tem sido ainda maior. "Este ano começamos a recrutar em junho. Não queremos correr fiscos." REVISTA EXAME (1989) Os processos de seleção normalmente ocorrem em períodos longos, chegando a três meses, tendo em vista as diversas etapas de seleção definidas pela empresa, com vistas a certificar a qualidade da mão-de-obra. Os antigos testes fatoriais foram abandonados e têm sido utilizadas técnicas mais avançadas e modernas para a seleção, tais como dinâmicas de grupo, entrevistas em grupo com participação de todo o quadro gerencial no processo. com vistas ao comprometimento quanto aos resultados da seleção e desenvolvimento do trainee. As empresas têm selecionado profissionais jovens, com um limite de idade em tomo de 26 a 28 anos, recém-formados ou último anistas das diversas áreas de formação. Normalmente, o tempo definido para treinamento do trainee é compatibilizado com o período necessário para a conclusão do curso, uma vez que, após treinado, as empresas exigem disponibilidade de mobilização, ou seja. transferência para qualquer pane do pais ou do mundo, de acordo com a área de atuação da empresa. Geralmente, não tem sido exigido compatibilização do curso de formação com a atividade futuro pois a maioria das empresas busca a formação generalista. Quanto a outras variáveis do exigido, as empresas têm buscado aqueles que apresentam garra, gás, ambição e uma boa formação.(PCF CONSULTORES, 1992). SIQUEIRA (1987) sugere que: "a composição das disciplinas no currículo de formação dos administradores deverá necessariamente incluir matérias capazes de desenvolver nos estudantes o conhecimento e as habilidades genéricas para a administração, permitindo que cada um escolha, em seguida, a especialização que melhor se ajuste a seus interesses e aptidões. Com a velocidade e intensidade das mudanças na sociedade contemporânea, a compreensão sócio-econômica-política toma-se mais importante que as técnicas operativas especializadas, passíveis inclusive de alterações constantes neste ambiente mutável (...). Portanto, o objetivo último é formar um profissional que capte de maneira rápida e eficiente a estrutura social em permanente mudança, para nela atuar, construindo e reconstruindo-a quotidianamente. Para isso o papel das disciplinas de "embasamento " é crucial". As características de personalidade têm sido consideradas, por algumas empresas, como mais importantes do que as de formação porque com o tempo a profissional pode-se aperfeiçoar, devendo para isso, a empresa oferecer todas as condições necessárias. De acordo com a reportagem da REVISTA EXAME (1989), "Ser escolhido como trainee de uma grande empresa, significa receber uma espécie de passaporte para o futuro, com garantia de rápida ascensão profissional. Isto não significa, entretanto, que devam considerar a vida ganha. Os critérios de seleção de trainees são extremamente rigorosos em todas as empresas, seja pelo reduzido número de vagas oferecidas, seja pelos altos investimentos exigidos na sua formação." A formação de trainees varia de empresa para empresa. A média é de um a dois anos requerendo uma grande mobilização de recursos para tal. Algumas empresas adotam a figura do "gerente orientador', delegando dessa maneira, responsabilidade e, conseqüentemente, comprometimento com o desenvolvimento do programa. A área de recursos humanos geralmente é a responsável pelo acompanhamento dos trainees e avaliação periódica de seus desempenhos. É também a área de recursos humanos quem promove o feed-back aos trainees dos pontos a serem por eles desenvolvidos. As empresas, ao adotarem o programa de trainees, esperam estar ganhando mão-de-obra qualificada e sem vícios, além de garantia de continuidade de sua cultura; recursos humanos sempre disponíveis para suas necessidades de expansão; independência do mercado na escolha de sucessores para seus principais cargos: numerosas equipes de empregados com o mesmo tempo de casa, habituados, desde a época do treinamento, à troca de experiência e profissionais polivalentes, em condições de assumir postos em diversas áreas. Os profissionais "trainees", devem ter o domínio de pelo menos uma língua estrangeira, para favorecer a absorção de novas tecnologias; domínio de informática, para agilizar o comando de sistemas complexos de informações, devem ainda apresentar características como energia e vitalidade. Pressupõe-se que tais fatores constituem-se em vantagem competitiva para as empresas nos próximos anos. Entretanto, a nosso ver, outras características são importantes para fazer frente ás demandas do contexto atual: capacidade para desenvolver trabalhos em equipes, sensibilidade para lidar com pessoas na busca do desenvolvimento do potencial de cada empregado em favor de soluções criativas para os problemas das empresas, e ainda facilidade para delegar autoridade e responsabilidade, bem como capacidade de negociação e sensibilidade quanto às demandas mercadológicas. Caracterização formal do programa de trainees na empresa pesquisada Na empresa pesquisada o programa de trainees surgiu na década de 90, estando portanto, no seu quarto ano de existência A adoção do programa ocorreu por iniciativa pessoal do principal executivo da empresa. O programa de trainees foi proposto pelo principal executivo da Empresa e foi introduzido inicialmente no Rio de Janeiro. Minas Gerais e São Paulo no ano de 1990. Na época, a diretoria de Recursos Humanas desenvolveu um Manual que orientava a deflagração do processo nas Unidades Entretanto, as políticas de recrutamento/seleção/treinamento/avaliação e acompanhamento eram distintas. A partir de 1992 a empresa divulgou o documento "Política Nacional de Trainees - Manual de Procedimentos", tendo sua primeira revisão em 1993. Nesse manual, foi definido que a demanda de Trainees devia ser baseada em: "Necessidade real da Unidade, para futuros substituições (aposentadorias) de níveis gerenciais ou chefias, ou para a oxigenação do quadro funcional; Preparação de substitutos de chefia/gerencias em encarreiramento; Construção de novas fábricas," (Política Nacional de Trainees -Manual de Procedimentos, 1992) A demanda de contratação de trainees é definida pelas diversas unidades fabris, a exceção dos cervejeiros, cuja demanda é fixada pela Diretoria Industrial. Quando da revisão da política foi retirada a palavra aposentadorias e a demanda de Trainees de máquinas e manutenção também passou a ser definida pela Diretoria Industrial. As estratégias de recrutamento de trainees variavam de região para região. A fonte mais utilizada foram as universidades, mobilizando um grande número de estudantes , público formador de opinião. As unidades tiveram autonomia também para desenvolver seus processos de seleção. E, segundo a área de Recursos Humanos, todas primaram pelo zelo, procurando através de diversas técnicas, identificar os potenciais existentes no mercado para ingressarem na Companhia. Utilizando a perspectiva de LODI (1968) constatamos que grande pane das opiniões da empresa e dos trainees pesquisados coincide com o que foi obtido por esse autor na década de 60. A única exceção, percebida por 6% da amostra, refere-se á expectativa de os trainees virem a se constituir em "falar de mudança e efervescência" na Companhia. MOTTA (1993), ao analisar a gestão contemporânea, considera que: "Foi necessário inaugurar uma nova fase de gestão estratégica, em que se assume a imprevisibilidade, reduzem-se os horizontes de tempo, mobiliza-se a organização para adapta-la a surpresas tecrnológicas e novas demandas públicas, e submetem-se as estratégias organizacionais mais acentuadamente a critérios sociais" Com base em MOITA(1993), caso a empresa tenha definido "efervescência" como habilidades e ações necessárias a essa nova fase, o Programa de Formação de Trainees poderá ter sido delineado para se constituir numa vantagem competitiva para os próximos anos. Ao nos remetermos ás considerações de MOITA (1993) de que "na dimensão estrutural verificam-se tentativas cada vez mais bem sucedidas de implosão do organograma, para a busca e alcance da flexibilidade organizacional", percebemos a importância de ser ampliada a conscientizaçâo dos trainees como agente de mudanças, uma vez que deverão constituir-se seus principais atares. É também importante traduzir o significado de "um rico encarreiramento" para assegurar que a expectativa destes profissionais esteja atrelada à questão de oportunidades e não dos privilégios. Características marcantes de um trainee O Quadro 1 compara o perfil do trainee definido pela empresa e pelos próprios trainees. QUADRO 1 DESCRIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS MAIS MARCANTES DE UM TRAINEE E O PERFIL NACIONAL DEFINIDO PELA EMPRESA - PERFIL DEFINIDO PELA EMPRESA Dinamismo Postura Empreendedora Iniciativa Habilidade para Propor e Decidir Habilidade de Expressão Verbal ou Escrita Habilidade de Negociação Capacidade de Planejamento e Organização Facilidade de Relacionamento Interpessoal Objetividade Bom nível Intelectual (retirada / 1993)* Bom Nível Cultural (alterado p/ótimo)* Bom Senso Boa Apresentação Pessoal Liderança Visão Critica Criatividade (incluído 1993)* Alterações de 1993 * PERFIL DEFINIDO PELOS TRAINEES - Dinamismo - Postura Empreendedora - Saber Ponderar - Boa Capacidade de Comunicação - Facilidade de Relacionamento Interpessoal - Bom Nível Intelectual - Bom Senso - Liderança - Visão Crítica - Outras vinte e duas características Fonte: Política Nacional de Trainee e Manual de Procedimentos (1992/1993); e Entrevistas (1993). Observamos pelo Quadro 1 que, apesar de os trainees terem apresentados duas vezes mais características individuais necessárias ao trainee frente ás apresentadas pela Empresa, não citaram cerca de 50% do que a Empresa considera relevante. As características não apontadas pelos trainees foram: "iniciativa, habilidade para decidir. habilidade de negociação, capacidade de planejamento e organização, objetividade, ótimo nível cultural, boa apresentação pessoal e criatividade." Tais respostas demonstraram que os trainees deixaram de contemplar caracterís ticas consideradas importantes ao exercício de funções estratégicas, ou seja, aquelas que possibilitam lidar com a complexidade, de acordo com o discurso da empresa. Características do programa de treinamento Para procedermos á análise do Programa de Treinamento dos Trainees, observaremos o Quadro 2 para, em seguida, examinar a proposta da empresa e, posteriormente a experiência dos trainees. QUADRO 2 CARACTERÍSTICAS DO PROGRAMA TREINAMENTO DEFINIDAS PELA EMPRESA PROGRAMAÇÃO CONTEÚDO ESTÁGIO PLENO (DIR. RH) ESTÁGIO MODULAR (DIR. INDUSTRIAL) ACULTURAMENTO DOS TRAINEES (DIR. RH) EMINENTEMENTE PRÁTICO DEFINIDO PELO RH E ENCAMINHADO PARA AS ÁREAS 05 A 07 MESES (DIR. RH) 04 MESES (DIR. INDUSTRIAL) ESTÁGIO DIRIGIDO DEFINIDO PELAS ÁREAS VISÃO SISTÊMICA DAS ÁREAS (NAS UNIDADES) NIVELAMENTO VISÃO ESPECÍFICA ÁREA DESTINO Áreas de Apoio e Vendas: não existe definição prévia Áreas Industrial: Definido previamente (conteúdo e período) para cada etapa PRÁTICO 06 A 07 MESES (ÁREAS DE VENDAS OU APOIO) DE ACORDO COM A UNIVERSIDADE TEÓRICO DEFINIDO PELAS ÁREAS DE VENDAS OU APOIO DAS UNIDADES OU PELA DIR. INDUSTRIAL QUANDO SE TRATAR DE CERVEJEIRO OU GER. MAQ. E MANUTENÇÃO APÓS CONCLUSÃO ESTÁGIO DIRIGIDO FORMAÇÃO NO EXTERIOR APROFUNDAR CONHECIMENTOS TÉCNICOS E OBTER DIPLOMA PARA EXERCER A FUNÇÃO DE MESTRE CERVEJEIRO NATUREZA CRONOGRAMA OBJETIVO DURAÇÃO 14 MESES (CERVEJEIRO MAQ. E MANUTENÇÃO) 1 A 2 ANOS FORMAÇÃO GERENCIAL BÁSICA 1992 1993 NÃO NÃO SIM (DAR OPORTUNID ADE DE EXERCER FUNÇÃO DE SUPERVISÃO) EVENTUAL NÃO NÃO Fonte : Política Nacional de Trainees, Manual de Procedimentos - Companhia Cervejaria Brahma, 1992, 1993 e Manual de Procedimentos - Programa Trainee para Mestre Cervejeiro (1992) Como se verifica pelo Quadro 2, o Programa de Treinamento se constitui de duas fases: a chamada de estágio pleno ou modular e a segunda, estágio dirigido. primeira Constata-se que não há padronização da nomenclatura, sendo uma adotada pela Diretoria Recursos Humanos e outra pela Diretoria Industrial. A primeira vista, esse fato pode parecer irrelevante, mas poderá também acarretar uma diferenciação entre o programa de trainees da área industrial e um programa para os trainees das outras áreas. Pelas respostas da pesquisa de campo, podemos inferir que o objetivo da empresa é ter uma única proposta filosófica para formação dos futuros cargos estratégicas. Outro aspecto que nos chama atenção no Quadro 2 é quanto aos objetivos do programa. Na fase do estágio pleno ou modular, espera-se o "aculturamento dos trainees" e, na fase do estágio dirigido para as áreas de vendas, apoio e industrial os objetivos não foram explicitados, ou seja, são definidos pelas próprias áreas. Consideramos essencial a definição de objetivos especificas para se estabelecer um programa de treinamento para a fase do estágio dirigido, uma vez que a lacuna deixada pela não definição de objetivos poderá prejudicar todo o programa de desenvolvimento do profissional. No que diz respeito á duração do treinamento, na fase do estágio pleno, constata-se estar a área de Recursos Humanos "definindo e encaminhando o cronograma para as áreas." Tal fato sugere uma postura de comando da área de Recursos Humanos, quando deveria ser negociadora. Casa a ação esteja concretizando-se de acordo com a definição da Política poderá estar desenvolvendo um posicionamento de resistência ao programa, bem como descomprometimento por parte das diversas áreas. Com relação á proposta do conteúdo, parece-nos que a empresa se preocupou em explicitar a importância do aculturamento dos trainees, com base na visão sistêmica de todas as áreas, através da prática das atividades. Segundo MOTTA(1993), "o aprendizado gerencial é o processo pelo qual um indivíduo adquire novos conhecimentos, atitudes e valores em relação ao trabalho administrativo, fortalece sua capacidade de análise de problemas; toma consciência de alternativas comportamentais, conhece melhor seus próprios estilos gerenciais e obtém habilidades para uma ação mais eficiente e eficaz em determinados contextos organizacionais. O aprendizado gerencial envolve, portanto, quatro dimen-sões básicas: a cognitiva, a analítica, a comportamental e a habilidade de ação." O fato de a política não explicitar ou contemplar as dimensões que o programa de treinamento deve envolver, leva-nos a crer que ele possa estar sendo delineado pelas diversas unidades de forma inadequada. Observamos ainda que a política não sugere a formação gerencial básica na primeira fase do estágio, considerando que ela poderá ocorrer, eventualmente, na 2ª fase do programa. Sistema de acompanhamento e avaliação de trainees Em seguida, encontra-se no Quadro 3 um sumário da política de sistema de acompanhamento e avaliação dos trainees. No Quadro 4 estão as sugestões dos trainees para essa política. QUADRO 3 SISTEMA DE ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DOS TRAINEES DEFINIDO PELA EMPRESA COORDENADOR ORIENTADOR FACILITA O TREINAMENTO NA ÁREA ACOMPANHA/ORIENTA/ADEQUA O TRAINEE A CULTURA ORGANIZACI ONAL AVALIA FORMALMENTE O TRANINEE REUNE QUINZENALMENTE OU MENSALMENTE LÊ RELATÓRIOS / PREPARA AVALIAÇÃO GERÊNCIA DEPARTAMENTO DÁ FEEDBACK SOBRE POSTURA REÚNE QUINZENALMENTE OU MENSALMENTE ORIENTA NA ELABORAÇÃO DE RELATÓRIO LÊ E AVALIA GERÊNCIA DA UNIDADE AVALIAÇÃO RH TREINAR OS GERENTES PARA RECEBER E ACOMPANHAR OS TRAINESS INSTRUMENTO ESTÁGIO PLENO RELATÓRIO INDIVIDUAL DESCRITIVO, ENFOCANDO O CONTEÚDO DA APRENDIZAGEM PERIDIODICIDADE FINAL DO ESTÁGIO NA ÁREA RESPONSÁVEL TRAINEE AVALIAÇÃO FORMAL DEFININDO SOBRE A CONTINUIDADE DO ESTÁGIO FINAL DO ESTÁGIO NA ÁREA GERENTE DA ÁREA ESTAGIADA FORNECE VISÃO GENERALISTA E SISTÊMICA DA ORGANIZAÇÃO ESTÁGIO DIRIGIDO A CRITÉRIO DA ÁREA BIMESTRAL OU TRIMESTRAL GERENTE DA ÁREA DESTINO Fonte: Política Nacional de Trainees – Manual de Procedimentos 1992, 1993 QUADRO 4 SUGESTÕ ES APRESENTADAS PELA AMOSTRA DE TRAINEES PESQUISADA QUANTO AO SISTEMA DE AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DO PROGRAMA DE TREINAMENTO COORDENADOR ACOMPANHAR COM EFICÁCIA ORIENTADOR AVALIAÇÃO RH ORIENTAR OS TRAINEES A RECONHECER SEUS LIMITES E TER OS PÉS NO CHÃO PREPARAR O PESSOAL “VELHO” PARA RECEBER O “NOVO” E NÃO DESMOTIVAR-SE PREPARAR OS TRAINEES QUANTO A PREPOTÊNCI A E EXCESSO DE CONFIANÇA OFERECER MAIS CURSOS DE NÍVEL GERENCIAL INSTRUMENTO DESENVOLVER UM PROJETO PERIDIODICIDADE ESTÁGIO DIRIGIDO FALTA COBRANÇA E DESAFIOS ESTAR COMPROMETIDO COM OS TRAINEES ESTÁGIOS PLENO E DIRIGIDO RESPONSÁVEL T RAINEE GERENTE FÁBRICA/ DEPARTAMENTO E RH COMPATIBILIZAR DISCURSO COM AÇÃO NÃO CRIAR EXPECTATIVAS DE CURTO PRAZO ACOMPANHAR COM EFICÁCIA Fonte: Questionário e Entrevistas (1993) 4.3.5 Planejamento e expectativa de carreira Apresentamos na Tabela 2 o planejamento de carreira e a política de salários estabelecida pela empresa para o grupo de trainees, bem como a opinião da amostra pesquisada a respeito do assunto. TABELA 2 POSICIONAMENTO DA EMPRESA E AVALIAÇÃO DOS TRAINEES QUANTO AO PLANEJAMENTO DE CARREIRA E SALÁRIO CATEGORIAS PESQUISADAS PLANEJAMENTO DE CARREIRA CERVEJEIRO Inicial: Cervejeiro 2° Nível: Cervejeiros Senior 3° Nível: Gerente de Produção EMPRESA VENDAS E APOIO Inicial: no mínimo Analista Junior Outros Níveis: cargos estratégicos De acordo Com potencial e desempeho MAQ. MANUTENÇÃO Inicial: Engenheiro de Manutenção 2° Nível: Gerente Máquinas e Manutenção AVALIAÇÃO DOS TRAINEES - Falta planejamento - A empresa deveria definir o 1° encarreiramento e padronizar - A informalidade do planejamento é preocupante - Falta perspectiva profissional ABS % 04 01 19,3 4,8 03 14,3 01 4,8 12 57,1 21 100 4° Nível: Gerente Industrial SALÁRIO 1992: Salário de contratação diferente do enquadramentro inicial 1993: Melhoria salarial incorporada ao salário de contratação Alteração salarial incorporada ao salário de contratação - Pouco compensador e incompatível com a função Fonte : Política Nacional de Trainees - Manual de Procedimentos (1992 e 1993); Manual de Procedimentos Programa Trainee para Mestre Cervejeiro (1992); Questionários e Entrevistas (1993) Com relação ao encarreiramento dos trainees percebemos duas posições bem distintas: uma para área industrial e outra para a de apoio e vendas. O plano de carreira para a área industrial, tem a delimitação bem clara das possibilidades dos trainees, de acordo com posicionamentos mais antigos da gestão de recursos humanos, ou seja, não se esclarece a possibilidade de um encarreiramento em Y e parece estar definida uma posição que limita o trainee ao cargo de gerente industrial e/ou máquinas e manutenção. Face á realidade atual das empresas, essa carreira delineada para os trainees talvez deva ser estendida a uma gerência de fábrica, diretoria e até mesmo gerência comercial. A limitação do encarreiramento poderá ser frustrante para gerentes de máquinas e manutenção ao verificar que o plano de carreira não lhes permite galgar uma gerência de fábrica, diretoria ou gerente comercial. Em contraste com a área industrial, a carreira do trainee da área de apoio e vendas é totalmente aberta, estabelecendo-se apenas o limite mínimo de enquadramento, Consideramos, no entanto. que, frente ao nível de investimento no profissional talentoso captado de forma rigorosa do mercado, tais planos deveriam apresentar perspectivas mais amplas e compatíveis os profissionais. Acreditamos que em razão da necessidade de flexibilidade e agilidade para acompanhar o processo de mudança desta década, qualquer padronização correrá o risco de cair na obsolescência com brevidade. A questão do planejamento de carreira nos dias atuais deve passar pelo dinamismo e flexibilidade. Pela sua importância, o planejamento deve ser acompanhado de perto pelo grupo responsável pela formação e desenvolvimento dos trainees. No que diz respeito ao salário, a Empresa em análise deixou de considerar como relevante a progressão salarial durante o período de treinamento, adotando uma política de iniciar e terminar o período de estágio com o mesmo nível salarial. Este fator talvez possa ser um desestímulo para os trainees. O trainee, ao ser posicionado, passa a perceber um salário compatível com o cargo a ser exercido, sem levar em consideração o tempo de experiência acumulada. Portanto, passa-se a privilegiar critérios de competência. Pela avaliação deles percebe-se que a carga de responsabilidade parece estar sendo superior á sua expectativa, ou seja, exige-se muito para pouca compensação financeira. Levando-se em consideração que o trainee quando inicia o programa de estágio dirigido começa a desenvolver trabalhos especificas na área e que o período de um ano é longo para deixar de oferecer um reconhecimento quanto ás etapas vencidas, consideramos a política de salários adorada em 92, ou seja, a de conceder progressões salariais na medida que as etapas de estágio (integração e pleno) eram vencidas, mais carreta no sentido de criar motivações para o jovem profissional. Em seguida, apresenta-se a Tabela 7 que trata das expectativas de carreira dos trainees. CONCLUSÃO Evidências advindas dos dados deste estudo apontam para o fato de que o Programa de Trainee vem ganhando uma nova dimensão nos dias atuais. Entretanto, a análise desses dados revela que o Programa não apresenta características de mudanças significativas quanto era de esperar. A proposta mais relevante apresentada pela empresa pesquisada diz respeito á intenção de adotar o programa de trainees para formar um quadro gerencial diferenciado para atender à demanda dos dias atuais, num curto espaço de tempo. A efetividade e a importância do programa pareceu-nos estar respaldada, em primeiro lugar, no fato de a direção geral da empresa ter idealizado o programa e acompanha-lo pessoalmente. Ao definir o objetivo do programa de trainees, considerando-os como "agente de mudança e esfervescência na companhia", a direção da empresa demonstra a necessidade da flexibilidade gerencial imposta pelo momento atual. Entretanto, consideramos importante que se esclareça melhor o perfil gerencial esperado, ou seja, que se traduza o significado "de mudança e efervescência" em termos das características da própria Companhia e dos ambientes específicos. Verifica-se também que tanto as posições da empresa quanto a dos trainees, no que diz respeito ao momento atual, se referem a mudanças mas não explicitam a direção e/ou a natureza destas mudanças. Na medida que esta direção não é explicitada, corre-se o fisco de estar preparando os profissionais de forma inadequada. Um argumento a favor desta assertiva é que os trainees não apontaram características que são consideradas essenciais para o perfil ideal de gerente. Eles demonstraram não estar sendo preparados para a busca da flexibilidade, rapidez e imprevisibilidade, fatores que o momento atual requer dos profissionais. Assim é que características como habilidade de negociação, capacidade de planejamento, organização e objetividade são consideradas pelos teóricos como importantes para a formação dos trainees , tanto com base na experiência dos profissionais como adquiridas a partir de treinamentos e oportunidades de trabalho. No entanto, na medida em que um dos traços marcantes do programa de trainees é de encurtar o espaço de tempo para formação dos profissionais. parece-nos relevante que tais características ciladas sejam enfatizadas desde a admissão dos trainees, de forma a que possam internalizá-las como importantes e com isso buscar o seu aperfeiçoamento. Quanto ás estratégias de recrutamento e seleção. constata-se que foram diferenciadas, utilizando-se de um processo longo e criterioso para escolha dos "talentos". No entanto, algumas observações tomam-se relevantes. É bastante conhecida a importância da pós-graduação como formadora de competência. No entanto, acreditamos que a pós-graduação será mais produtiva caso seja adquirida após o profissional consolidar uma vivência que enriqueça o estudo e as discussões. Portanto, não seria aconselhável utilizar a exigência da pósgraduação como critério seletivo de trainees. Em relação ao treinamento propriamente dito, consideramos importante e os objetivos gerais e especificas de cada fase do programa, ou seja, do que o trainee etapa do treinamento. Se a Empresa define que o objetivo no estágio pleno é apenas ela estabelece uma expectativa muito vaga e até mesmo pouco comprometida quanto trainee. oportuno definir claramente será capaz ao final de cada o aculturamento do trainee, aos resultados esperados do Quanto à fase do estágio dirigido, o programa da área industrial parece-nos bem estruturado, uma vez que detalha o conteúdo e o período necessário para estágio. Entretanto, o enfoque dado é apenas técnico, deixando a ênfase à preparação destes profissionais para atuar no cenário da década de 90 somente a cargo do estágio pleno. O programa de treinamento definido para as áreas de vendas e apoio pareceu-nos, num primeiro momento, pelo tempo previsto para o seu desenvolvimento, um programa consistente. Entretanto, constatamos, pelos dados coletados que, durante o estágio dirigido, os objetivos e cronogramas são definidos pelas áreas e não se esclarece a forma de acompanhamento nesse período. Consideramos essencial a definição de objetivos específicos para o programa de treinamento na fase denominada pela empresa de “dirigida”. Uma conclusão possível é que esta lacuna poderá prejudicar o desenvolvimento desses profissionais e, cinseqüentemente, dos resultados esperados pela companhia para o programa, na medida que cada área e cada unidade poderão desenvolvê-lo com objetivos distintos. Como se verifica, as oportunidades de desenvolvimento e treinamento são constantes na empresa em análise, mas sem objetivos claros e definidos. A empresa pode estar, com isso, despendendo recursos financeiros de forma inadequada, e a formação dos trainees estar ocorrendo em direção contrária ao esperado. Na medida em que os trainees participarem de treinamentos constantes, que não venham ao encontro de suas reais necessidades, esta leitura poderá passar a fazer parte do estilo gerencial, ou seja, treinar profissionais por treinar, sem se preocupar com o retorno daquele investimento. O conteúdo e a forma de conduzir o treinamento precisam ser melhores delineados, uma vez que, evidenciam de um lado a superficialidade do conteúdo e do outro a possibilidade de acesso às informações relevantes e à participação em reuniões importantes. Além disso, os trainees demonstram insatisfação quanto às interferências e/ou alterações do programa, a falta de compatibilização das promessas com a realidade vivenciada e assumem a falta de maturidade para gerenciar. A queixa dos trainees quanto a esses fatores sugerem-nos as perguntas: estarão eles buscando uma estrutura rígida e inflexível incompatível com o momento atual, ou o programa apresenta-se mal definido e/ou mal gerenciado? Ou seria uma demonstração de resistência às estratégias de controle adotadas pela empresa? Não podemos nos esquecer que, da mesma forma que a empresa desenvolverá mecanismos de regulação dos conflitos, os trainees também aprenderão como desenvolvê-los. O grupo pesquisado, apesar de se incomodar com o rótulo trainees, poderão utilizá-lo para se fortalecerem enquanto grupo e melhor resistirem aos controles colocados pela empresa. A experiência do programa trainee está proporcionando à Empre sa a oportunidade de abandoar antigos valores da organização em troca de outros novos, por exemplo, a administração de recursos humanos que antes privilegiava um plano estruturado de cargos e salários, com progressões salariais previstas a partir do “tempo de casa”, ou seja, do tempo de experiência acumulada, passa a privilegiar critérios de competência. Concluímos, a partir da pesquisa, que a implantação da qualidade total é percebida como uma grande oportunidade para os jovens trainees uma vez que eles ainda não delinearam sua forma de gerenciamento. Esta experiência poderá estar já significando uma mudança na medida em que a adoção de uma nova filosofia de gerenciamento, desconhecida tanto pelos gerentes mais antigos como pelos futuros gerentes, possa servir de elo para compatibilizar interesses, ou seja, a troca de experiência, maturidade dos profissionais mais experientes, com a garra, determinação e facilidades para o aprendizado e o domínio de novas tecnologias dos jovens talentos. Com base nas análises deste estudo, algumas recomendações para o treinamento dos trainees parecerem pertinentes. Primeiramente, sugere-se que o conteúdo do programa de treinamento no estágio dirigido seja debatido e defendido em discussão negociada quanto ao perfil e habilidades inerentes ao gerente das próximas décadas. Com isso, a empresa talvez venha a conhecer o poder de resistência que de outra forma não seria expressado. Além disso, as oportunidades de desenvolvimento devem ser estabelecidas a partir da definição clara do que se espera do profissional. Tais oportunidades nem sempre são explicitadas e neste estudo a empresa define, em seu manual de procedimentos, que elas devam ser diagnosticadas pelo Gerente Fabril ou da área. Como a empresa poderá estar sendo efetiva no seu diagnóstico uma vez que não se estabeleceu o que se espera deste profissional? O desenvolvimento dos trainees, tendo em vista a importância do enfoque de mercado na conjuntura atuai, deve partir da visão desse mercado, para posteriormente entender o processo de fabricação, bem como os de apoio. Recomendamos também que as áreas sejam orientadas para a importância de delegar responsabilidades e desafios aos trainees com vistas a leva-los a se sentirem produtivos e conseqüentemente motivados. Além disso, o treinamento dos trainees deva ser encarado como uma grande oportunidade para os profissionais das áreas, no sentido de reciclagem/atualização. Com isso, espera-se poder transformar o sentimento de ameaça e desvalorização do profissional "velho", conforme preocupação da amostra pesquisada. Sugere-se também que a empresa ofereça oportunidade de o trainee ocupar cargos estratégicos em substituição a outra pessoa, por tempo determinado, com acompanhamento sistemático de outro profissional que possa observá-lo e dar feed-back quanto à forma de atuação. Por outro lado, como os trainees são jovens, não possuem ainda um sistema de valores tão sedimentados e são mais suscetíveis à adaptação aos objetivos das empresas, consideramos que poderão aproveitar as vantagens competitivas, aperfeiçoando seus mecanismos de regulação dos conflitos. Para tanto poderão: - Conscientizar os trainees quanto ao perfil do gerente das próximas décadas; - Valorizar os ganhos financeiros através da concessão de bônus e da possibilidade aberta de carreira, promovendo desta forma o desenvolvimento da mediação econômica. - Comprometer o grupo de trainees com a implantação da filosofia de qualidade total que busca o desaparecimento do papel autoritário dos chefes, transformando-os nos intérpretes das regras e tradutores da linguagem placentária da organização. A tendência mostra que os jovens trainees deverão no futuro breve assumir cada vez mais o sistema gerenciai brasileiro. É, portanto, importante e oportuno que sejam melhor entendidas e gerenciadas as potencialidades e contradições dos programas de treinamento. Apesar das limitações deste tipo de estudo que tem por si mesmo um caráter particularizante poder de generalização limitado, bem como o risco de viés par pane da pesquisadora, tendo em vista sua experiência como implantadora e coordenadora do Programa de Trainees da Cia. Cervejaria Brahma em Minas Gerais, esperamos, a partir desse estudo, poder oferecer uma contribuição para o avanço do conhecimento sobre programas de trainees em empresas brasileiras. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREZA, Maria dos Santos. Cultura organizacional e motivação para o poder. um estudo comparativo entre o setor bancário oficial e privado de Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG. 1990 (Dissertação Mestrado em Administração). ARGYRIS, Chris - A integração indivíduo - organização. São Paulo: Atlas,1975. BENNIS, Warren G. Desenvolvimento organizacional: sua natureza, origens e perspectivas. São Paulo: Edgard Blucher, 1972. BERGAMINI, Cecília Whitaker. Desenvolvimento de recursos humanos: uma estratégia de desenvolvimento organizacional. São Paulo: Atlas, 1980, 141 p. BERGAMINI, Cecília Whitaker. "Os jogos " Que movem o homem: suas regras, a antecipação, ação, manutenção e conciliação, São Paulo: Atlas, 1980, 24-30 p. BERGAMINI, Cecília Whitaker . Motivação. São Paulo: Atlas, 1990, 39 p. BERGAMINI, Cecília Whitaker . O que realmente move as pessoas no trabalho. Revista Tendências do Trabalho, 25-30 p. dez/1989. BERGAMINI, Cecília Whitaker .Objetivos motivacionais e estilos de compor-tamentos. Revista de Administracão. v.13, n.1, jan./mar. 1978. BERTALANFFLY, Ludwig von. General Systens Theory. New York: Georg Brazilier, 1974. BRANDÂO, Marco Antônio Leite. Qualidade e o capital cultural simbólico. Revista de Administração. São Paulo- v 29. 72-76 p. abr./jun. 1994. BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista. A degradação do trabalho no século XX. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1981. BROWN, J. A. C. Psicologia social da indústria: o trabalho de Elton Mayo. São Paulo: Atlas, 1972. BURNS, Tom e STALKER, G. M. The management of inovation. London: Tavistock, 1968. CAMPOS, Vicente Falconi - TQC controle da Qualidade total (no estilo japonês). Rio de Janeiro: Bloch, 1992, 200p. CAMPOS, Vicente Falconi. Gerência da Qualidade total: estratégia para aumentar a competitividade da empresa brasileira. Rio de Janeiro: Bloch, 1990, 187p. CHIAVENATO, ldalberto. Administração de recursos humanos. 2. ed., São Paulo: Atlas, 1981, v.3, 375 p. CHIAVENATO, ldalberto. Teoria geral da administração. 3. ed., São Paulo: Mc Graw-Hill, 1987, 606 p. CHIAVENATO, ldalberto. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Mc Graw-Hill, v.2, 1979, 609 p. Cia. Cervejaria Brahma. Política nacional de trainees: manual de proce-dimentos. Rio de Janeiro: 1992. Cia. Cervejaria Brahma. Política nacional de trainees: manual de procedimentos. Rio de Janeiro: 92. Cia. Cervejaria Brahma. Manual de diretrizes de recursos humanos. Rio de Janeiro: 1994. Cia. Cervejaria Brahma. Relatório Anual . Rio de Janeiro: 1991. Cia Cervejaria Brahma. Relatório Anual. Rio de Janeiro: 1992. CORADI, Carlos D. O comportamento humano em administração de empresas. São Paulo: Pioneira, 1985. BRUYNE, Paul de. Dinâmica da pesquisa em ciências sociais: os polos da prática metodológica. Rio de Janeiro: F. Alves, 1977. DRUMOND, Regina Coeli Chassim. Qualidade e produtividade: jogos empresariais: aprenda fazendo. Belo Horizonte: Mazza, 1993, 208 p. ECO, Humberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1977. p. 170. Empresas se armam para "caçar” talentos. Folha de São Paulo, São Paulo: 01 dez. 1991. FAYOL. Henri. Administração industrial e geral . São Paulo: Atlas, 1950. FLEURY, Maria Teresa Leme. Qualidade e gestão de recursos humanos. ln: CLADEA, XXVII Asamblea, Outubro de 1992. FRANÇA, Junia Lema. Manual para normalização técnico-científicas ; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1992, 196 p. G. BACHELARD, La phylosophe du non: essai d'une philosophie du nouvel espirit scientifique. Paris: Presses Universitaries de France, 1966. GALBRIETH, Jay. Designing complex organizations. Reading: Mass./Addison Wesley Publ. CO., 1973. GARCIA, Femando Coutinho - As metamorfoses na divisão do trabalho. Belo Horizonte: FACE/UFMG, 1991. HERSEY. Paul, BLANCHARD. Kenneth H. Psicologia para administradores de empresas. EPU, 1977, caps. 2 e 3. HERZBERG, Frederick et al. The motivation to work. 2 ed., New York: John Willey, c. 1959. HERZBERG, Frederick. Motivation higiene concept, ln: FRENCH, Hellriegel, Personnel management and organization development. Boston: Houghton Mifflin, 1971. HERZBERG, Frederick. Novamente como se faz para motivar funcionários? Boston: Biblioteca Harvad de Administração de Empresas, v.l, n. 13, 1975. HUMPHREY, John. New production methods and labour flexibility in Brazil. Paper apresentado no Seminário "Transformacion - Produtivo y Relaciones Industriales. Aménca Latina e Europa em una Vision Comparativa." Puebla: México, 12-13, 1992. ISHIKAWA, R. How to operate QC circle activities. JUSE. Japanese Union of Scientists and Engineers, Tokyo: 1985. 254 p. ISHIKAWA, R. QC circle koryo. General Principles of the QC Circle, JUSE. Japanese Union of Scientist and Engineers, Tokyo: 1g80, 85 p. KLIKSBERG, Bernardo. A gerência no final do século XX. Revista Administração Pública. Rio de Janeiro: 1993, v.27, n.2, 183-201 p. KOTTER. John P. What effective general managers really do?. Boston : Harvard Businers Review, nov./dec., 1982 KONDO. Yoshio (ed.) Human motivation: a key factor for management. 2 ed. Tokyo: 3A Corporation, 1993, 186 p. LAWRENCE, Paulo R. LORSCH, Jay W Organization and environment: managing differentiation and integration. Boston: Harvard University, 1967. LEME, Jair de Abreu. Gerentes para o século XXl. Recursos Humanos e So ciedade, São Paulo: v-1, n-1, 1986. LEITE, João Batista Diniz - Treinamento e desenvolvimento de gerentes no Banco do Brasil: uma imagem objetivo Para a década de 90. FACE/BH, 1991. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração da Universidade Federal de Minas Gerais. LOBOS, Julio. Teoria sobre a motivação no trabalho. Revista de Administração de Empresas, 15 (2). Mar/Abr. 1975. LODI, João Bosco. Desenvolvimento de executivos. A experiência Brasileira. Biblioteca Pioneira de Administração e Negócios, Livraria Pioneira Editora, São Paulo, 1968. MASLOW, Abraham, Motivation and Personality. New Yah: Harper & Row, Publishers. 1954. MAYO, Elton. The human Problems of an industrial civilization. MELO, Marlene Catarina de Oliveira Lopes. Desenvolvimento gerencial: uma abordarem contingencial. FACE/UFMG, 1978, Mestrado em Administração. MELO, Marlene Catarina de Oliveira Lopes. Estratégias do trabalhador informatico nas relações de trabalho. Belo Horizonte, 1991, Tese Professor Titular. MOTTA, Paulo Roberto. Gestão contemporânea: a ciência e a arte de ser dirigente. 3ª ed., Rio de Janeiro, Record, 1993. NEDER, Ricardo Toledo. Cidadania, modernidade e gestão do trabalho na Brasil. Revista de Administração de Empresas . São Paulo, abr.jun., 1991. PAGÉS, Max et al. O poder das organizações. São Paulo, Atlas, 1987. PCF Consultores. Pesquisa Trainee. São Paulo: ago/92, p.12. PEREIRA, D. M. Lima. Práticas participativas x estratégias de empregados. um estudo de programas participativos na perspectiva dos trabalhadores. FACE/UFMG, 1992,Projeto de Dissertação de Mestrado; PERROW, Charles. Análise organizacional - um enfoque sociológico. São Paulo, 1972; Revista Exame. As notas baixas dos cursos de administração, edição 459, ano 22, ago/90. Revista Exame Informática. Um passaporte para o futuro, Set/1989. Revista Exame. A número 1 brilha no topo do pódio. edição 487, ano 23, dez/91. Revista Exame. Tapete vermelho para os clientes. edição 513, ano 24, set/92. Revista Veja. Choque no emprego. edição 1226, ano 25, mar/92. SALOMAN, Charlene Marmer. Como lidar com a nova geração de administradores – os baby busters - Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v.34, n. 2 p. 78-87, mar/abr/1994. SCHEIN, Edgar H. Planejamento e desenvolvimento de recursos humanos: fatores de eficácia das organizações . Instituto Tecnológico de Massachussetts (MlT), artigo aprovado em pesquisa patrocinada pelo Grupo de Psicologia do Escritório de Pesquisa Naval. SERSON, José. Curso básico de administração de Pessoal. 2 ed., São Paulo: LT R, 1973, p. 495. SIQUEIRA, Moema Miranda de. O papel das disciplinas de embasamento na formação acadêmica dos administradores - Revista de Administração de Empresas . Rio de Janeiro. 27(1): 53.55 - jan/mar. 1987. TAYLOR, Frederick Winslow. Princípios de administração cientifica. São Paulo: Atlas, 1970. TEIXEIRA, Déa Lúcia Pimentel e SOUZA, Maria Carolina A. F. de. Organização do Processo de trabalho na evolução do capitalismo. Revista de Administração de Empresas . Rio de Janeiro, 25 (4). 65-72, out/dez 1985. VASCONCELOS Filho Paulo de, MACHADO, Antônio de Matos Vieira. Planejamento estratégico, formulação, implementação e controle. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos. Belo Horizonte. Fundação João Pinheiro, 1979. VERGARA, Sylvia Constant. Sugestão para estruturação de um projeto de pesquisa - Revista de Administração Pública, FGV. VROOM, Victor H. Work and motivation. John Wiley & Sons lnc. Nova York, 1964. YOSHIMOTO, Tsikara. Qualidade, produtividade e cultura: o que podemos aprender com os japoneses. São Paulo, Saraiva, 1992.