A MECÂNICA DA FRATURA ELÁSTICA LINEAR E O MODELO COESIVO NA PREVISÃO DO FRATURAMENTO DE ROCHAS Daniela Girio Marchiori1; Antonio Airton Bortolucci 2 & Benedito Osvaldo de Souza2 Resumo – Sobre amostras de arenito silicificado da Formação Botucatu, foram executados ensaios de flexão à três pontos, com controle do fraturamento e aquisição da curva completa força-flecha. Visando estudar o efeito-escala na forma, principalmente no trecho pós-ruptura, da curva completa, os ensaios foram conduzidos sobre quatro tamanhos diferentes de corpos de prova, desde 100,0 mm até 337,5 mm de vão. Além disso, os resultados foram comparados com previsões teóricas baseadas na Mecânica da Fratura Elástica Linear e no Modelo Coesivo (elástica não linear), feitas através de simulações numéricas. Experimentalmente, com a variação do tamanho da amostras, não foi observada variação significativa na forma da curva força-deslocamento,. Quanto à comparação entre as curvas força-deslocamento obtidas experimentalmente e as obtidas numericamente, verificou-se que, entre as duas simulações numéricas, a que apresenta melhor aproximação à simulação experimental é a do Modelo Coesivo e que ambas subestimam os deslocamentos no trecho pós-ruptura dos ensaios. Abstract – The present work has been developed aiming to verify the scale-effect influence on the stress-strain curve form of silicified sandstone rock, from Botucatu Formation (Brazilian Southeast). Using samples of this rock threepoint beam bending experiments have been made in which the crack mouth opening displacement was controlled. The experiments have been conducted using four different sample sizes, minimum span of 100,0 mm and maximum of 337,5 mm. By analyzing the experimental results no variation in the form of the force-displacement curve has been observed for the sample sizes chosen. The force-displacement curve experimentally achieved was compared with two other curves numerically obtained: one using the Linear Elastic Fracture Mechanics Theory with FEM and other assuming the fictitious cohesive crack model with BEM. It has been verified that among the two numerical procedures the cohesive crack model gives better results and both give smaller displacements after the rupture. Palavras-Chave – rocha, fratura, ensaio. INTRODUÇÃO O emprego da Mecânica da Fratura na análise do comportamento de materiais rochosos tem sido intensificado a partir dos trabalhos pioneiros de WAWERSIK, 1968 (apud WAWERSIK & FAIRHURST, 1970) e BIENIAWSKI (1967). Em termos experimentais, verifica-se, a partir de então, um enorme progresso laboratorial, notadamente na determinação experimental do modelo constitutivo de rochas, com o levantamento completo da curva tensãodeformação de rochas. Até o início da década de 70, pela limitação dos equipamentos existentes, era extremamente difícil controlar em laboratório o processo de fraturamento de materiais rochosos. A obtenção de curvas completas tensão-deformação de amostras, submetidas a cargas compressivas ou de tração, era conseguida somente em condições muito especiais de equipamentos e materiais (COOK & HOJEM, 1966). Com o advento de máquinas servo-controladas, atualmente bastante disseminadas nos laboratórios de Mecânica das Rochas, essas dificuldades de controle dos ensaios foram praticamente abolidas. Surgem, então, inúmeros estudos experimentais e teóricos sobre a variabilidade da forma dessas curvas e as características do fraturamento de rochas quando submetidas a esforços de tração, compressão uniaxial e compressão triaxial. Variações na forma das curvas e na resistência das amostras foram verificadas e atribuídas ao efeito escala e ao efeito-forma das amostras (HUDSON et al., 1971; ROKUGO et al., 1986; e LABUZ & BIOLZI, 1991). Modelos de previsão do fraturamento e comportamento de rochas foram então desenvolvidos, inicialmente, baseados na Mecânica da Fratura Elástica Linear e, posteriormente, em análises não lineares, como o Modelo Coesivo (HILLERBORG et al., 1976; CARPINTERI, 1985; LABUZ & BIOLZI, 1991). Com o intuito de verificar a influência do tamanho da amostra na variação da forma da curva completa tensão-deslocamento, foram executados ensaios de flexão a três pontos, em amostras do arenito Botucatu, com controle do processo de fraturamento (MARCHIORI, 1997). Foram utilizados quatro tamanhos de corpos de prova geometricamente semelhantes. Variou-se, portanto, unicamente a escala e não a forma dos corpos de prova. As curvas força-deslocamento obtidas experimentalmente foram comparadas com duas outras curvas obtidas numericamente, uma através de simulações baseadas na Mecânica da Fratura Elástica Linear, e outra com base na teoria do Modelo Coesivo de propagação de fraturas em análise não linear. 1 Geóloga da Prefeitura Municipal de Santos: COVIP-Morros (Coordenadoria de vias públicas dos Morros) Praça Mauá s/n - centro - Santos 2 Universidade de São Paulo - Escola de Engenharia de São Carlos – Departamento de Geotecnia. Av. Trabalhador Sancarlense, 400. São Carlos - SP FORMAS DA CURVA COMPLETA TENSÃO-DEFORMACÃO Em 1968, WAWERSIK chamou a atenção para o comportamento da curva tensão-deformação pós-pico, realizando ensaios de compressão simples em amostras de diferentes tipos de rochas e utilizando uma máquina de ensaio rígida controlada termicamente. As rochas foram classificadas, quanto à ruptura, em Classe I, para as rochas que apresentaram, após o pico, ou seja, após a ruptura, um acréscimo de deformação axial com o decréscimo de tensão e, em Classe II, para aquelas que apresentaram um decréscimo da deformação axial associado a um decréscimo de tensão axial (Figura 1). Para verificar a influência do tamanho e da geometria das amostras na resistência e na forma da curva tensão deformação, HUDSON et al. (1971) realizaram ensaios de compressão uniaxial no mármore Cherokee da Geórgia. Não ocorreu influência marcante na porção pré-ruptura da curva tensão-deformação com a variação do diâmetro (D) e nem com a variação da relação comprimento/diâmetro (L/D). Quanto à resistência, verificou-se que o efeito do tamanho da amostra não é marcante na resistência à compressão simples do citado mármore, enquanto que há um efeito marcante da forma (L/D) na resistência compressiva. ROKUGO et al. (1986) realizaram ensaios Figura 1 - Classificação da rocha quanto ao comportade flexão a três pontos em vigas de argamassa, mento pós-ruptura (WAWERSIK, 1968). com seção transversal de 7.5 x 7.5 cm e variando o vão (distância entre os apoios) em 30, 60 e 90 cm. Verificaram que no ramo descendente da curva força-deslocamento, força e deslocamento diminuíram com o aumento do vão, atingindo uma curva do tipo Classe II (Figura 2). LABUZ & BIOLZI (1991), realizaram ensaios de flexão a três pontos em vigas de calcário Indiana. Numa bateria de ensaios, variaram a altura (B) da viga em 63 mm e 125 mm, mantendo a relação L/B igual a 3. Obtiveram uma curva tipo Classe I, para a altura menor e uma curva tipo Classe II, para a altura maior (Figura 3). Na realidade, para fraturas induzidas por tração numa viga, existe uma escala de tamanho crítica Figura 2 - Curvas força-deslocamento em amostras com em que a instabilidade da Classe II pode ser vãos variáveis(ROKUGO et al., 1986). observada. Em outra bateria de ensaios, fizeram com que a altura da viga permanecesse constante e igual a 57 mm, mas variaram o comprimento (L) de 114, 228 e 760 mm. Verificou-se que, para o comprimento menor, o comportamento da curva foi do tipo Classe II, para o comprimento intermediário o comportamento foi tipo Classe I e para o comprimento maior, a curva volta a ser do tipo Classe II (Figura 4). Conclui-se que o tamanho e a geometria da amostra influenciam no comportamento da curva tensão-deformação e quando o vão de uma estrutura aumenta, o comportamento pode mudar de Classe II (para vãos pequenos) para Classe I (para vãos intermediários) e, novamente, para Classe II (vãos Figura 3 - Comportamento de vigas geometricamente maiores). similares (LABUZ & BIOLZI, 1991). Figura 4 - Estabilidade do comportamento de amostras com vãos de comprimento pequeno, intermediário e grande (LABUZ & BIOLZI, 1991). MODELO COESIVO O Modelo Coesivo (MC) de propagação de fratura é uma adaptação do Modelo da Fratura Fictícia (MFF) proposto por HILLEBORG et al. (1976). Basicamente o MFF prevê que, nas proximidades da ponta de uma fratura, existe uma região (zona de fratura) que, apesar de fraturada, ainda permite a transferência de carga de uma face para a outra da fratura. Uma possível distribuição inelástica de tensões, associada a essa região, está representada na Figura 5. É previsto que o valor das tensões é função inversa da abertura da fratura (w). Na região da fratura fictícia, a relação entre tensão (σy) e abertura da fratura (w), deve ser determinada a partir da obtenção da curva tensão-abertura da fratura. Em qualquer lugar fora da fratura fictícia, a curva tensão-deformação do material intacto é válida. À medida que a deformação aumenta, as tensões na frente da extremidade da fratura também aumentam. Nenhuma tensão é assumida maior que a resistência à tração do material (σt). Se a tensão atingir σt, qualquer aumento adicional na deformação provoca o desenvolvimento de uma fratura fictícia no ponto em questão. Desta forma, a tensão na extremidade da fratura fictícia é σt assim que a mesma começa a se propagar. Portanto, a fratura inicia-se no ponto onde a tensão de tração se iguala à resistência à tração (σt). Figura 5 - Distribuição de tensões à frente da extremidade de uma fratura, após o crescimento da fratura real (mod. HILLERBORG, 1983) No Modelo Coesivo são admitidas as seguintes hipóteses para a propagação da fratura (CARPINTERI & FANELLI, 1987 e TAGLIAFERRI, 1990): • a linha da fratura começa a se desenvolver quando a tensão principal (σy) atinge o valor da resistência à tração (σt); • o material na zona de processo é parcialmente danificado, mas ainda em condições de transmitir tensões. Tal tensão depende do deslocamento da abertura da fratura (w). • A extremidade real da fratura é definida como o ponto onde a distância entre as superfícies da fratura é igual ao valor crítico do deslocamento da abertura da fratura (wc) e onde a tensão normal (σy) desaparece. A extremidade da fratura fictícia é definida como o ponto onde a tensão normal atinge o valor máximo (σt) e a abertura da fratura se anula. Admite-se que a relação entre a tensão σy e a abertura w seja linear. ENSAIOS DE FLEXÃO A TRÊS PONTOS Os ensaios de flexão a três pontos, foram executados em vigas prismáticas de arenito silicificado da Formação Botucatu, provenientes da Pedreira do Araújo, no município de São Carlos (SP). Foram utilizados dispositivos de ensaio iguais aos sugeridos pela ISRM, 1978 (ensaios de tração) e pela ISRM, 1988 (ensaios de tenacidade à fratura). No centro inferior das vigas foi produzido, com serra diamantada, um entalhe plano, com profundidade proporcional ao tamanho da amostra. O tamanho das amostras variou (vide Tabela 1), mantendo sempre a relação comprimento/altura da amostra (L/B) igual a 4. Foram executados cinco ensaios para cada tamanho de corpo de prova. A instrumentação do ensaio consistiu de um extensômetro, tipo "clip gage", posicionado de maneira a medir a abertura do entalhe na porção centro inferior da viga; de dois extensômetros, tipo LVDT, posicionados para medir a endentação verificada entre os roletes de apoio e a amostra; e de um extensômetro tipo “cantilever” para medir o deslocamento do ponto central inferior da viga (flecha + endentação). A flecha real é a diferença entre o valor médio medido pelos LVDTs e o medido pelo “cantilever”. Tabela 1 - Dimensões dos quatro tamanhos das amostras ensaiadas. Tamanho vão (cm) altura (cm) entalhe (cm) 1 10 2,50 0,250 2 15 3,75 0,375 3 22,50 5,63 0,563 4 33,75 8,44 0,844 Os ensaios foram conduzidos em um sistema servo-controlado marca MTS, com controle da abertura da fratura (entalhe), típico para ensaios de flexão a três pontos onde se deseja obter a curva completa força-deslocamento (flecha) (HUDSON et al., 1971). SIMULAÇÃO NUMÉRICA Mecânica da Fratura Elástica Linear A geração numérica da curva força-deslocamento baseada na Mecânica da Fratura Elástica Linear foi feita utilizando o programa FRAT de elementos finitos, desenvolvido na EESC-USP (CELESTINO et al., 1990), e capaz de simular o progresso de uma fratura plana em modo I (tração), modo II (cisalhamento) ou modo misto, através da determinação do fator de intensidade de tensão, utilizando o método de correlação dos deslocamentos (INGRAFFEA, 1983). Foram definidas cinco malhas de elementos finitos para cada tamanho de entalhe, visando simular a propagação da fratura. Na primeira malha o comprimento do entalhe é de 10 % da altura da amostra; na segunda de 20 %; na terceira de 40 %, na quarta 60 % e na quinta 80 %. Os parâmetros de entrada do FRAT (para a simulação do ensaio de flexão a três pontos), força e módulo de elasticidade foram ajustados para que a curva pré-pico (e respectivo pico de carga) coincidisse com a curva obtida em cada ensaio (adotou-se o coeficiente de Poisson igual a 0,165, obtido em ensaios de compressão simples). O fator de intensidade de tensão obtido é admitido ser a tenacidade à fratura do material ensaiado. As cargas a serem aplicadas nas demais simulações, com malhas e entalhes subseqüentes, serão aquelas necessárias para que a fratura se propague, ou seja, aquelas que conduzam a um fator de intensidade de tensão igual à tenacidade à fratura determinada na primeira simulação. O valor do deslocamento vertical no nó central inferior da malha corresponde à flecha da viga na simulação numérica. Modelo Coesivo Para a geração da curva força-deslocamento, com base no Modelo Coesivo, foi utilizada uma formulação através do método dos elementos de contorno (MEC) para a análise de propagação de fratura em domínios bidimensionais (VENTURINI, 1995). O efeito da separação entre as superfícies da fratura é modelado a partir da imposição de campos de tensões iniciais. As tensões, nos pontos da região da zona do processo na fratura, são corrigidas para garantir forças de superfície nulas nas bordas da fratura. De acordo com VENTURINI (1995), nos casos onde aparecem curvas do tipo Classe II, a solução clássica do sistema não-linear deve ser alterada. Deve-se estabelecer uma variável-guia que não seja deslocamento ou carga, sendo adotado o deslocamento da abertura da fratura. Essa imposição aparece como condição de contorno, permanecendo deslocamentos e forças como valores desconhecidos. É realizada uma manipulação de tal maneira que o incremento de abertura passa a ser aplicado como carregamento. Portanto, na fase corretiva do processo não linear, a variação de deslocamento é que é corrigida. É importante observar que o primeiro ponto obtido, quando se aplica um incremento de abertura, já faz parte do trecho não-linear do diagrama força-deslocamento. Nessa simulação numérica, são utilizados os mesmos parâmetros desenvolvidos por LIANG & LI (1991) e LI & LIANG (1992), para um ensaio de flexão a três pontos. Eles adotaram um "parâmetro de tamanho" adimensional em vigas, o qual denominaram β: β= Bσt Bσt2 σt =2 = wc E GF E νE (1) onde: σt a resistência à tração do material, ν o coeficiente de Poisson, E o módulo de elasticidade do material, B a altura da viga, wc a abertura crítica da fratura e GF a energia de fraturamento. A carga de pico adimensional α foi obtida por LI & LIANG (1992) em função de β, através de uma fórmula baseada na suposição de que a distribuição do deslocamento de abertura da fratura na zona do processo é linear. Para vigas com L/B = 4, α pode ser determinado por: α= 6F Bσ t (2) MAIER et al. (1993), realizaram a simulação numérica para o ensaio de flexão a três pontos, utilizando as equações (1) e (2). Determinaram diagramas força-deflexão adimensionais (Figura 6). Notase que à medida que β aumenta, há uma tendência em se obter uma curva do tipo Classe II. CARPINTERI (1989), também simulou um ensaio de flexão a três pontos, obtendo curvas semelhantes às da Figura 6, definindo um parâmetro que corresponde ao β, o qual denominou de número de fragilidade. Para a obtenção da curva forçadeslocamento simulada numericamente através do Modelo Coesivo, os parâmetros de entrada da simulação (módulo de elasticidade transversal (G), resistência à tração (σt), coeficiente de Poisson (ν), a força (F) e o valor do deslocamento de abertura da fratura crítico (wc), através do qual se calcula β), foram Figura 6 - Força-deslocamento adimensionais para difeajustados de forma que a curva numérica rentes valores de β (MAIER et al., 1993). coincidisse, o melhor possível, com a curva experimental. ANÁLISE DOS RESULTADOS A Figura 7 mostra as curvas experimentais (força-flecha) obtidas para todos os ensaios realizados. Verifica-se que, quanto à rigidez dos corpos de prova, há dois conjuntos bem distintos, um para os tamanhos 2 e 3 e outro para os tamanhos 1 e 4. Com relação às cargas máximas aplicadas, verifica-se que a carga de ruptura aumenta com o aumento do tamanho do corpo de prova, com exceção do maior tamanho (tamanho 4). Os corpos de prova de tamanho 4 foram retirados de um bloco distinto daquele em que foram retirados os outros tamanhos. Diferenças entre as propriedades dos dois blocos talvez possam explicar essas anomalias. Isso também explicaria a diferença de rigidezes iniciais verificadas entre os tamanhos 2 e 3 e o tamanho 4. Não explicaria a concordância entre as rigidezes da maioria dos corpos de prova do tamanho 1 com os de tamanho 4. Verifica-se, também, que não há diferença significativa na forma das curvas completas força-flecha. tamanho 1 tamanho 2 tamanho 3 tamanho 4 0.08 F (KN/mm) 0.06 0.04 0.02 0.00 0.00 0.04 0.08 0.12 0.16 0.20 flecha (mm) Figura 7 - Curvas completas força-flecha para todos os ensaios realizados A Tabela 2 apresenta os resultados, para cada tamanho de corpo de prova, de uma análise estatística dos parâmetros que melhor ajustaram as curvas obtidas nas simulações numéricas com as curvas experimentais. Tabela 2 – Análise estatística dos parâmetros obtidos nas simulações numéricas E KIC wc GF σt (GPa) (MPa.m0.5) (N/m) (MPa) (µm) Tamanho 1 Tamanho 2 Tamanho 3 Tamanho 4 Média Desv. Padrão Coef. Var. Média Desv. Padrão Coef. Var. Média Desv. Padrão Coef. Var. Média Desv. Padrão Coef. Var. β MFEL MC MFEL MC MFEL MC MC MC MC 22,4 5,16 0,23 29,4 1,28 0,04 29,4 1,21 0,04 15,2 1,71 0,11 18,0 4,21 0,24 24,2 1,21 0,05 23,4 1,16 0,05 12,1 1,38 0,11 0,61 0,08 0,14 0,79 0,06 0,07 0,84 0,07 0,08 0,75 0,15 0,20 0,85 0,11 0,13 0,99 0,06 0,06 1,17 0,11 0,09 0,85 0,13 0,16 16,9 2,54 0,15 21,3 2,78 0,13 24,3 3,52 0,15 37,4 11,26 0,30 41,0 6,90 0,17 39,0 2,52 0,07 58,4 9,29 0,16 61,1 15,3 0,25 5,1 0,53 0,10 5,3 0,37 0,07 4,5 0,49 0,11 3,4 0,70 0,21 16,2 2,7 0,17 14,7 0,7 0,05 26,0 5,3 0,20 37,6 11,3 0,30 0,90 0,14 0,16 1,12 0,10 0,09 0,87 0,28 0,32 1,35 0,35 0,26 Verifica-se que os valores de módulo de elasticidade (E) ajustados através da MFEL são maiores que os ajustados pelo MC. Quanto à tenacidade à fratura–modo I (KIC) e à variação da energia específica de fraturamento (GF) os valores pela MFEL são, invariavelmente, menores que os ajustados pelo MC. A dispersão dos parâmetros não difere muito entre uma simulação numérica e outra. Para efeitos de comparação foram executados ensaios de compressão uniaxial e ensaios de compressão diametral em corpos de prova cilíndricos (φ=50 mm) extraídos dos fragmentos de rocha remanescentes dos ensaios de flexão-tamanho 4. Esses ensaios apresentaram os seguintes resultados: E=20,8 GPa, ν=0,165, σt=4,41 MPa e σc=84,84 MPa. Para o tamanho 4, pela MFEL, E=15,2 GPa e, pelo MC, E=12,1 GPa, menores que o experimental. Isso significa, que o módulo de elasticidade do arenito em compressão (ensaio uniaxial) deve ser significativamente maior que o módulo de elasticidade em flexo-tração. A diferença entre os módulos de elasticidade iniciais obtidos pela MFEL e pelo MC é lógica, pois as simulações iniciais pelo MC não levam em conta a presença do entalhe. A Figura 8 apresenta os resultados, em termos de força-flecha, de apenas um ensaio para cada tamanho de corpo de prova. O ensaio escolhido foi o que apresentou o melhor ajuste entre experimentação e Modelo Coesivo. 0.50 ensaio MFEL - E=29,5 GPa MC - E=24 GPa, β=1,0 0.20 tamanho 1 ensaio MFEL - E=20 GPa MC - E=16 GPa, β=0,8 0.40 F (kN/cm) F (kN/cm) 0.30 0.30 tamanho 2 0.20 0.10 0.10 0.00 0.00 0.00 0.04 0.08 0.12 0.00 0.04 flecha (mm) 0.08 0.12 0.60 0.80 ensaio MFEL E=12,5 GPa MC E=10 GPa β=0,7 ensaio MFEL - E=31 GPa MC - E=25 GPa, β=0,9 0.60 F (kN/cm) 0.40 F (kN/cm) 0.16 flecha (mm) 0.40 tamanho 3 tamanho 4 0.20 0.20 0.00 0.00 0.00 0.04 0.08 flecha (mm) 0.12 0.16 0.00 0.04 0.08 0.12 0.16 0.20 flecha (mm) Figura 8 - Curvas força-flecha com melhor ajuste entre ensaio e MC, para cada tamanho de corpo de prova. Nota-se uma boa concordância entre a simulação pelo MC e o resultado experimental. Quanto à simulação pela MFEL, verifica-se, no trecho pós-pico, uma subestimação acentuada dos deslocamentos. No entanto, é visível que a grande diferença entre a MFEL e o MC reside nas proximidades do pico, quando o corpo de prova perde rigidez sem correspondente perda de resistência. A partir de então, as curvas seguem praticamente paralelas. Essa intensificação da perda de rigidez, verificada nos ensaios, pode ser explicada por fenômenos de plastificação, de dano generalizado ou de propagação estável de fraturas (nenhum deles previsto na simulação pela MFEL). No MC isso é previsto e sua quantificação é levada em conta através do parâmetro β, que quantifica inversamente o tamanho da zona de processo (quanto maior β, maior é a característica rúptil da rocha, menor a zona de processo durante o fraturamento). A Figura 9 mostra as duas piores simulações em termos de concordância entre o MC e a experimentação. Verifica-se que o paralelismo entre as curvas do MFEL e do MC continua nítido e que o fenômeno de intensificação da perda de rigidez não ocorre somente nas proximidades do pico, mas continua ocorrendo ao longo de todo o fraturamento. Após o pico de carga, quando os efeitos da definição do tamanho da zona de processo (quantificada pelo β) já se apresentaram, não há mais diferença entre as simulações numéricas. Somente o traslado da zona de processo, conjuntamente com a ponta da fratura que se propaga, não é suficiente para intensificar a perda de rigidez da estrutura na magnitude mostrada pelos ensaios. Simulações que tivessem a possibilidade de diminuição do módulo de elasticidade do material intacto, diminuição essa explicada por dano generalizado ou pela propagação estável de fraturas, talvez pudessem representar esse fenômeno mais adequadamente. 0.60 Ensaio MFEL - E=28,5 GPa MC - E=23 GPa, β=1,35 Ensaio MFEL - E=30,5 GPa MC - E=25,5 GPa, β=1,2 0.40 F (KN/cm) F (KN/cm) 0.60 0.40 tamanho 3 tamanho 2 0.20 0.20 0.00 0.00 0.00 0.04 0.08 flecha (mm) 0.12 0.16 0.00 0.04 0.08 0.12 0.16 flecha (mm) Figura 9 – Duas simulações que não apresentaram bom ajuste entre ensaio e MC. CONCLUSÕES Não houve diferença significativa na forma das curvas completas força-deslocamento com a variação do tamanho dos corpos de prova. As previsões teóricas (não compartilhadas pela MFEL) e as constatações experimentais (de vários autores) de modificação de curva Classe I para curva Classe II, conforme se aumenta o tamanho de corpos de prova geometricamente semelhantes, não se verificaram. A simulação através do MC é a que melhor se ajusta aos resultados experimentais. No trecho pós-pico, as simulações numéricas seguem uma trajetória paralela (normalmente subestimando os deslocamentos), mostrando que a única diferença entre elas ocorre próximo ao pico de força, quando o MC consegue simular, através do tamanho da zona de processo (parâmetro β), uma perda de rigidez (propagação da fratura) e conseqüente aumento dos deslocamentos, sem a correspondente perda de resistência. No subseqüente trecho pós-pico, a MFEL e o MC se equivalem, subestimando os deslocamentos. Se as simulações numéricas levassem em conta uma diminuição do módulo de elasticidade do material intacto, resultante de algum dano generalizado ou de propagação estável de fraturas, provavelmente os resultados seriam melhores. AGRADECIMENTOS À CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo apoio financeiro durante o desenvolvimento da dissertação de mestrado originária deste trabalho. 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