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yoga para todos
Existe Yoga Terapêutico?
Para que e para quem serve?
Luciana Ross
“Sempre adorei ouvir a palavra Yoga. Me remetia a
uma sensação única, de profunda leveza e bem-estar apenas pela sonoridade que propunha. Porém, lá
estava eu aos 19 anos, 18 horas por dia presa a um
colete ortopédico cuja função era corrigir uma severa escoliose que alcançava seu auge naquele período,
mas que vinha se manifestando desde as botas ortopédicas da infância.
Ao ver a imagem de alguém com um dos pés atrás
da cabeça ou com a testa descansando entre os joelhos, a única frase que me vinha à mente era “Yoga
não é para mim”. Na verdade, a imagem com a qual
mais me identificava era a de Frida Kahlo com a coluna quebrada e pregos por todo corpo.
Aos 24, me dedicando à minha futura carreira diplomática, a dor se tornou insuportável e os remédios
de tarja preta me foram prescritos. Intuitivamente sabia que algo estava muito errado. Enxaquecas e crises
de ansiedade eram frequentes após horas sentada por
causa da dificuldade de respirar que o colete gerava.
O termo Yoga terapêutico ou Yogaterapia começava a surgir no Ocidente e sei lá por que me fez sentido. Larguei tudo, me mudei para Nova York e por um
ano pratiquei Yoga numa fase em que grandes nomes
como o próprio B.K.S. Iyengar e Pattabhi Jois eram
recorrentes na América. Um tempo depois voltei sem
dor e sem colete para abrir o estúdio em Curitiba.
Mas para que dividir minha história? Porque ela
é igual à do Luiz Muraca, meu aluno, executivo de
uma multinacional e alguém que também jamais se
imaginou fazendo Yoga!
Mas hoje constatamos que seja na minha saúde
frágil ou no tratamento do câncer do Luiz, o Yoga
teve papel determinante.
Posturas acrobáticas talvez jamais sejam possíveis
para pessoas como nós, mas todos os benefícios que
o Yoga pode proporcionar ao praticante estão nas
nossas células e não consideramos mais um dia distantes do tapete de prática. Como?
Isso não acontece a partir do relaxamento ou de
um momento tranquilo em um lugar seguro e aconchegante, mas sim com um trabalho efetivo, baseado
em sequências de posições específicas com resultados palpáveis e detectados clinicamente, que podem
ir desde a redução dos meus graus de escoliose até
o desaparecimento da neuropatia causada pela quimioterapia do Luiz.
Acredito em todas as ramificações do Yoga. Mas
muito me agrada ver hoje ele andar de braços dados com a medicina. Medir nos exames de sangue ou
nas radiografias os resultados da prática é, para mim,
como entregar um troféu de fim de prova a cada um
dos meus alunos. Não importando a natureza da dor
ou da doença, que pode ser circulatória, locomotora
ou de fundo nervoso. Mais gratificante ainda é ver
uma pessoa de mais de 90 anos voltar a se sentar no
chão e amarrar os sapatos.
Ver que planos de saúde cobrem aulas de Yoga nos
Estados Unidos me parece uma meta a ser alçada em
breve também aqui abaixo dos trópicos. Aos poucos,
observamos nos nossos cursos de formação cada vez
mais médicos, psicólogos, fisioterapeutas e profissionais da saúde que veem no Yoga uma segunda carreira complementar à sua formação.
Para mim, o Yoga é SIM para todos porque não só
pode estar presente nos momentos mágicos e inspiradores mas também nas horas de profunda crise, fortalecendo corpo, mente e espírito na direção da construção de um Ser em equilíbrio com a sua natureza e
sua missão de vida.
Namaste
“Sempre tive uma
imagem do Yoga com a
qual não me identificava,
de que tinha que ficar
de ponta cabeça, essas
coisas. Mas felizmente
conheci um conteúdo
que me fez descobrir
que eu tinha uma parte
morta dentro de mim,
e me deu vida nova.
Uma oportunidade de
conhecer meu corpo e
minha mente, de me
sentir bem.”
LUIZ MURACA, 66 ANOS,
PRATICANTE DE YOGA TERAPÊUTICO
HÁ 12 ANOS, ESPECIALMENTE DURANTE
OS PERÍODOS DE TRATAMENTO DE
UM CÂNCER DE INTESTINO E UM
MELANOMA.
Luciana Ross é cofundadora do método Kaiut, que formou
mais de 200 professores em Yoga terapêutico em três
países. E andou de bicicleta pela primeira vez, sem dor, aos 34 anos.
YO G A J O U R N A L . C O M . B R
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“Sempre tive uma imagem do Yoga com a qual não me identificava