COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Barreira Capilar Construída com Resíduo Tratado Mecânica e Biologicamente Ronaldo Luis dos Santos Izzo Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, E-mail: [email protected] Cláudio Fernando Mahler Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, E-mail: [email protected] Juliana Lundgren Rose Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, E-mail: [email protected] RESUMO: Coberturas em aterro de resíduo sólido urbano (RSU) vêm sendo construídas de diferentes formas ao longo do tempo. Nos lixões, a prática é de não se cobrir o RSU com nada e deixá-lo exposto, o que causa uma série de problemas. Ainda hoje, existem lixões espalhados por todo o Brasil. Porém, a boa pratica recomenda a cobertura do aterro de RSU, que é feita inicialmente de forma pouco criteriosa e posteriormente, quando do encerramento do aterro de RSU, de forma mais criteriosa. O uso de resíduos tratados mecânica e biologicamente, ou composto, como elemento de cobertura pode significar uma alta economia, já que evitaria o uso de solo vindo de áreas de empréstimo por vezes longínquas e acarretaria, se feito com o uso de técnicas corretas, efeitos positivos para o aterro como um todo. O fenômeno natural da capilaridade presente em técnicas como a barreira capilar, pode auxiliar no controle da entrada de água de chuva no aterro de RSU, permitindo com isso controlar a produção de lixiviado e gases. Apresenta-se no presente trabalho um estudo experimental feito em laboratório, sobre o uso de resíduos tratados mecânica e biologicamente como barreira capilar na cobertura de aterros. PALAVRAS-CHAVE: Barreira Capilar, Resíduos Tratados, Cobertura, Aterro de Resíduos 1 controlar a entrada de líquido no aterro. Normalmente, no Brasil, uma camada de solo compactado com baixa permeabilidade é usada para construir as camadas de cobertura diária e a camada de cobertura final, sendo a camada de cobertura final mais espessa do que as camadas de cobertura diária. A utilização de solo para estas finalidades depende da disponibilidade de jazidas próximas ao aterro sanitário. Uma boa solução seria a possibilidade de construir a camada de cobertura final usando RSU tratado. A tecnologia de barreiras capilares, comumente construídas com solo, se vale de certas faixas granulométricas para criar uma barreira hidráulica, controlando assim a passagem de líquidos. Ao invés de solo, a utilização de RSU tratado para construir uma barreira capilar como cobertura final em um aterro sanitário seria uma INTRODUÇÃO Um dos principais elementos da construção de um aterro sanitário é a camada de cobertura final. Este elemento é importante, pois é responsável pelo controle da entrada de líquidos no interior da massa do aterro sanitário o que, em conseqüência, influi diretamente na geração de lixiviado e gases, que por sua vez, influi nos custos de tratamento do lixiviado e captação de gases após o fechamento do aterro sanitário. Neste sentido, outro elemento que desempenha papel semelhante é a cobertura diária dos resíduos que é feita com o intuito de controlar vetores e mal cheiro, sendo realizada com o aterro ainda em operação e não tem o mesmo rigor técnico dispensado à camada de cobertura final, porém uma das suas vantagens, assim como a camada de cobertura final, é 1 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. (2009) em entender tais mudanças nas propriedades deste material. A agregação de material orgânico com partículas minerais também ocorre, como pode ser observado na Figura 2. Neste caso, a particular mineral apresenta pequenas fissuras, devido a sua constituição ou devido à fragmentação mecânica, que juntamente com outras evidências levam a crer que o RSU tratado possui uma macro e uma micro porosidade. A micro porosidade do RSU tratado pode ser entendida como sendo a porosidade da própria particular e os vazios das aglomerações de matéria orgânica. solução vantajosa em vários aspectos. Neste trabalho, a construção de uma barreira capilar com RSU tratado será discutida e resultados de ensaios laboratoriais feitos em um modelo físico serão apresentados. 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O RSU TRATADO Mesmo após um tratamento que envolva um processo de compostagem, o RSU continua sendo um material muito heterogêneo. O RSU compostado contem, basicamente, os mesmos elementos do RSU original, tais como, matéria orgânica, papel, metais e material mineral. Entretanto, a distribuição granulométrica, a configuração das partículas e suas propriedades sofrem grande mudança devido ao tratamento através da compostagem. Na Figura 1 é possível observar uma partícula de RSU compostado, que compreende metal com material orgânico e mineral aderido à superfície do metal, de forma que a partícula resultante é uma espécie de combinação dos elementos do RSU original. Figura 2 – Imagem de microscopia óptica de uma partícula mineral encontrada em RSU tratado mecânica e biologicamente ampliada 50, 500 e 1000 vezes. 3 O FUNCIONAMENTO BARREIRA CAPILAR DE UMA O objetivo de um sistema de liner é minimizar o volume de água que se infiltra e atinge as camadas subjacentes a ele. Este objetivo é, em geral, atingido através da seleção de solos com baixa condutividade hidráulica ou/e membranas de PEAD, juntamente com sistemas de drenagem instalados antes e depois dos liners. O fenômeno físico presente em uma barreira capilar é totalmente diferente de um liner convencional. Alguns autores, como Khire et al. (2000), Vieira (2005), Weiß e Witzsche (2005) e Suzuki et al. (2005) vem estudando barreiras capilares feitas com solo ou materiais similares a solo, assim como sua aplicação como sistema de cobertura final em aterros sanitários. Uma barreira capilar é um sistema composto por duas camadas de materiais com granulometrias diferentes. Basicamente é uma camada com um material de granulometria mais fina sobre uma camada de material com granulometria mais grossa. As duas camadas podem ser construídas com o mesmo material Figura 1 – Imagem de microscopia óptica de uma partícula de RSU tratado mecânica e biologicamente. Esta combinação de diferentes materiais na composição das partículas do composto ocasiona um comportamento diferente do que o esperado para um solo, sendo que esta diferença é resultado da interação de diferentes processos, dos quais, os mais importantes são a fragmentação mecânica, a atividade microbiológica e processos químicos. Como conseqüência, o composto apresenta grandes diferenças em relação à porosidade e ao formato das partículas, quando comparado a um solo. Estas diferenças afetam propriedades, tais como, a permeabilidade de gases e líquidos, adensamento, teor de umidade e o comportamento mecânico, o que justifica os esforços de autores como Staub et al. (2009), Münnich et al. (2009) e Zardava e Powrie 2 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. prever a chamada distância de desvio em uma barreira capilar construída com subprodutos de processos de retirada de tinta (DBP), em um experimento montado em um aterro sanitário em Quebec, Canadá. ou com materiais diferentes, dependendo das propriedades de cada material a ser utilizado ou, ainda, dependendo do objetivo a ser atingido. Embora as forças ativas em ambos os materiais sejam as mesmas, o teor de umidade é muito diferente na proximidade do contato das duas camadas. O teor de umidade volumétrico na camada capilar é sempre mais elevado do que na camada de bloqueio capilar subjacente, de modo que a permeabilidade hidráulica não saturada na camada capilar seja mais elevada. Isto significa que na camada capilar um fluxo da água ainda pode ocorrer, enquanto que nenhum movimento da água ocorrerá na camada de bloqueio. Para permitir um fluxo livre da água na camada capilar, uma inclinação mínima entre 10-20° é necessária. Na zona de contato entre os dois materiais a mudança brusca, entre poros pequenos na camada capilar e poros mais largos na camada de bloqueio capilar, resulta no efeito final que é a não passagem de líquidos para as camadas subjacentes. Somente quando a coluna de água for tão grande, ao ponto que a pressão de água supera a força capilar que a passagem de líquido irá ocorrer em uma barreira capilar. Por causa destes dois efeitos, a retenção da água devido à diferença no tamanho dos poros dos dois materiais e a permeabilidade não saturada mais elevada da camada capilar, é possível dividir os fenômenos atuantes em uma barreira capilar entre fenômenos unidimensionais e bidimensionais. O fenômeno unidimensional é a simples retenção da água devido às forças da capilaridade. O fenômeno bidimensional é a drenagem dos líquidos de um ponto mais elevado a um ponto mais baixo. Na Figura 3, a representação do princípio de funcionamento bidimensional da barreira capilar é mostrado. Quando a precipitação ocorre, a água alcança a camada capilar e começa a se infiltrar e, ao mesmo tempo, o excesso de água começa a fluir lateralmente. Em algum ponto, a camada capilar atinge sua capacidade máxima de retenção da água, e assim, a pressão de água torna-se positiva e o efeito capilar da ascensão desaparece e, conseqüentemente, a água está livre para passar e alcançar o bloco capilar. Cabral et al. (2007) estudou uma maneira de Figura 3 – Representação da distância de falha em uma barreira capilar. A heterogeneidade do material tratado mecânica e biologicamente é o grande problema para projetar uma barreira capilar. A composição do material tem influência nos parâmetros como a permeabilidade saturada e não saturada, porosidade, distribuição granulométrica e estabilidade da partícula, capacidade de campo, etc. Em relação à mudança de tamanho da partícula, quando o RSU tratado usado é essencialmente composto por matéria orgânica, sem ou quase sem nenhuma partícula de plástico, vidro, madeira ou das rochas as mudanças na distribuição granulométrica se processa de forma mais rápida. Esta mudança pode ser mais drástica devido à quebra mecânica das partículas orgânicas causadas, por exemplo, pela manipulação excessiva do material, pela aplicação da carga ou pela decomposição natural devido ao processo de intemperismo. 4 ALGUMAS PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS DO RSU TRATADO MECANICA E BIOLÓGICAMENTE ESTUDADO A partir do ensaio de compactação observa-se uma certa dispersão dos valores obtidos no ensaio de compactação para este material (Figura 4). 3 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Massa Esp. Aparente Seca (g/cm3 ) 0,84 Após cada ensaio de permeabilidade, investigou-se a capacidade de campo em relação à massa específica seca do RSU tratado o que pode ser observado na Figura 6. De acordo com os resultados, a capacidade de campo diminui com o aumento da massa específica seca. Este resultado era esperado, já que com o aumento da massa específica há uma diminuição do volume de vazios e, conseqüentemente, uma menor capacidade para reter líquidos. 0,82 0,80 0,78 0,76 0,74 0,72 0,70 32 34 36 38 40 42 44 46 48 Umidade Média na Base Úmida (%) Capacidade de Campo (%) - Base Úmida Figura 4 – Ensaio de compactação feito com RSU tratado com partículas menores do que 4mm. Coeficiente de Permeabilidade (cm/s) 1,00e-2 60% da Massa Específica Ótima 80% da Massa Específica Ótima Massa Específica Ótima y = 2,36387e-16,94983x R² = 0,92389 1,00e-3 1,00e-4 1,00e-5 1,00e-6 1,00e-7 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 Massa Específica Seca (g/cm3) Figura 5 – Ensaio de permeabilidade à carga constante feito com RSU tratado com partículas menores do que 4mm. 58 Y = 42,78.X-0,361 56 R² = 0,92 54 52 50 48 46 44 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 3 Massa Específica Seca (g/cm ) Ensaios de permeabilidade saturada a carga constante foram feitos a fim de investigar a variação do coeficiente da permeabilidade em função da variação da massa específica seca do RSU tratado. Os resultados de tais testes podem ser observados na Figura 5. Os valores encontrados para o coeficiente de permeabilidade do RSU tratado estudado neste trabalho são relativamente similares àqueles encontrados por Staub et al. (2009). Staub et al. (2009), encontrou coeficientes da -3 -4 permeabilidade de 7*10 a 1*10 cm/s para uma massa específica seca de 0,36 a 0,53 g/cm3, enquanto que para RSU tratado estudado, os valores do coeficiente da permeabilidade ficaram entre 4*10-4 e 1,8*10-6 cm/s para uma massa específica seca entre 0,49 a 0,82 g/cm3. Geralmente, o mesmo fenômeno é observado, com o aumento da massa específica, ou seja, o volume de vazios diminui e, conseqüentemente, restringe a passagem do líquido através do meio. Figura 6 – Capacidade de campo obtido para RSU tratado após ensaio de permeabilidade saturada à carga constante. 5 ENSAIO UNIDIMENSIONAL O fenômeno unidimensional que ocorre em uma barreira capilar pode ser explicado como a simples retenção dos líquidos por capilaridade na barreira. Esta retenção permite a evaporação do líquido retido após uma chuva, por exemplo, durante um período de tempo. Esta capacidade de retenção é a razão pela qual a barreira capilar é considerada, também, uma camada evapotranspirativa de cobertura. Para estudar o fenômeno da retenção unidimensional, uma coluna foi montada sobre uma balança e uma bureta foi colocada na parte superior da coluna para simular um evento de chuva (Figura 7). A velocidade da entrada da água foi imposta como constante e muito lenta, a uma taxa de aproximadamente 10-5m/s. Neste ensaio, a coluna foi montada com três valores 4 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. por volume de RSU tratado conseqüentemente maior. diferentes de massa específica seca para construir a camada capilar. Permitiu-se que a água se infiltrasse na camada capilar até que a mesma alcançasse a camada de bloqueio capilar e uma passagem de água fosse observada. Neste momento, a entrada da água era então suspensa e a coluna desmontada, sendo o teor de umidade do RSU tratado medido a cada 5 cm. Os resultados podem ser observados na figura 8. Figura 7 – Esquema de montagem do ensaio para estudar a retenção unidimensional de líquidos em uma barreira capilar feita com RSU tratado. O volume de vazios na camada capilar compactada com 100% do grau de compactação foi cerca de 18% menor do que a camada compactada com 60% do grau de compactação, de outro lado, como apresentado na Tabela 1, a massa da água retida pela camada capilar com um grau de compactação de 100% foi cerca de 35% mais elevada do que a camada com um grau de compactação de 60%. Isto significa que embora o volume inicial de vazios na barreira capilar com 100% do grau de compactação seja menor, a capacidade de retenção de água aumenta devido ao efeito da capilaridade e, no final, o volume de vazios ocupado pela água é maior, sendo a capacidade de retenção da água Figura 8 – Resultado dos ensaios unidimensionais em barreira capilar feita com RSU tratado, com graus de compactação de 60, 80 e 100%, respectivamente. Tabela 1. Resultados dos ensaios unidimensionais feitos para uma barreira capilar construída com RSU tratado. 5 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 3 1 2 3 3 Massa Seca g/cm cm g 0,82 0,66 0,57 197,98 227,98 244,10 285,37 214,06 197,65 w inicial w final (médio) % % 16,1 38,7 15,8 40,4 24,8 40,4 g % 180,52 145,24 133,93 91,2 63,7 54,9 de líquido coletada pela drenagem da camada capilar e na quantidade de líquido retida pela própria camada capilar. Os resultados destes testes podem ser observados na figura 10. 5000 Volume Coletado pelo Dreno da Camada Capilar (ml) Volume Massa Ensaio Específica de Vazios Seca Inicial Total do Massa de Volume de Água Vazios Retida Ocupado por Água Considerando os resultados obtidos e 1 m2 de uma camada capilar construída com RSU tratado, com uma profundidade de 25cm e com um grau de compactação de 100%, a quantidade de água que esta barreira capilar poderia reter seria equivalente a uma chuva de 129,7mm. 4000 3000 2000 1000 0 Volume Retido pela Camada Capilar (ml) 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 Angulo de Inclinação com a Horizontal (Graus) 6 BARREIRA CAPILAR EXPERIMENTAL EM LABORATÓRIO A fim de avaliar as variáveis envolvidas no processo de funcionamento de uma barreira capilar construída com o RSU tratado, um modelo em escala de laboratório foi construído e submetido a condições de trabalho diferentes visando identificar as similaridades e as diferenças entre uma barreira capilar feita com solo e uma barreira capilar feita com RSU tratado. O modelo construído pode ser visto na Figura 9. 20000 18000 16000 14000 12000 10000 8000 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 Angulo de Inclinação com a Horizontal (Graus) Figura 10 – Resultados dos ensaios da influência da inclinação no modelo de escala de laboratório de uma barreira capilar feita de RSU tratado. Embora haja uma grande dispersão nos resultados obtidos, uma tendência pode ser observada: com o aumento da inclinação, mais líquido é escoado lateralmente e, conseqüentemente, mais líquido é coletado através da drenagem da camada capilar. Por outro lado, com o aumento da inclinação, menos líquido é retido na camada capilar por causa do efeito de drenagem lateral. Outro parâmetro estudado foi a variação da massa específica seca da camada capilar. Os resultados desta série de ensaios podem ser observados na Figura 11. Figura 9 – Modelo em escala de laboratório para estudar as variáveis envolvidas no processo de funcionamento de uma barreira capilar construída com RSU tratado mecânica e biologicamente. Os ensaios feitos neste modelo em escala de laboratório foram conduzidos de tal maneira que se permitiu variar somente um único parâmetro durante uma série de ensaios. O primeiro parâmetro estudado foi a inclinação da barreira capilar e sua influência na quantidade 6 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. maneira análoga, espera-se que haja um pequeno aumento do volume de água coletado pelo dreno da camada capilar e pelo dreno da camada de bloqueio capilar. Em resumo, quanto mais água passa através de caminhos preferenciais, menos água é retida e um pouco mais de água é coletada pelo sistema de drenagem. Volume Coletado pelo Dreno da Camada Capilar (ml) 5000 4000 3000 2000 1000 0 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 7 DISCUSSÃO 3 Volume Retido pela Camada Capilar (ml) Massa Específica Seca da Camada Capilar (g/cm ) Os ensaios conduzidos neste trabalho foram úteis para identificar as variáveis que estão envolvidas em uma barreira capilar feita com RSU tratado. Entretanto, a dispersão dos resultados é evidente. Esta dispersão ocorreu devido, principalmente, ao mecanismo utilizado para simular a chuva o qual não permitiu um grau muito bom de controle conduzindo a uma inexatidão da intensidade e distribuição da chuva, fatores estes, de suma importância para o estudo do funcionamento de uma barreira capilar construída com RSU tratado. Alguns autores como Weiß e Witzsche (2005) e Cabral et al. (2007) indicaram que uma camada de balanço hídrico deve ser considerada para a construção de uma barreira capilar, e nota-se que tal consideração deve ser enfatizada quando se trata de uma barreira capilar construída com RSU tratado. O controle do material e das diversas variáveis envolvidas no processo de funcionamento da barreira capilar é essencial e, entre estas variáveis, o controle da taxa de infiltração da água e da distribuição desta água sobre a parte superior da camada capilar são alguns dos pontos principais a serem considerados para a construção de uma barreira capilar que funcione adequadamente. 13000 12500 12000 11500 11000 10500 10000 9500 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 Massa Específica Seca da Camada Capilar (g/cm3) Figura 11 – Influência da variação da massa específica no modelo de escala de laboratório de uma barreira capilar feita de RSU tratado. Novamente, é possível inferir que quanto maior a massa específica seca menor é a quantidade de água coletada pelo dreno da camada capilar devido à permeabilidade não saturada horizontal ser reduzida com a compactação do material. Em relação a quantidade de água retida na camada capilar, esta será maior com o aumento da massa específica seca, devido ao efeito da capilaridade. Este fenômeno foi também observado nos resultados dos ensaios unidimensionais. Além da inclinação e da massa específica seca da barreira capilar, outra importante variável é a intensidade de chuva. Com o aumento da intensidade de chuva, o volume de água retido na camada capilar tende a diminuir. Isto ocorre porque o aumento do volume da água que alcança a camada capilar força o surgimento de caminhos preferenciais de fluxo, impedindo que a água seja homogeneamente distribuída no material da barreira capilar e, conseqüentemente, causa uma redução da água que é retida pela camada capilar. De uma 8 CONCLUSÕES A inclinação e o grau de compactação são os parâmetros que influenciam de forma mais relevante a eficiência da barreira capilar. A barreira capilar construída RSU tratado mecânica e biologicamente é uma opção viável para ser usada em um aterro sanitário devido à possibilidade de controle da infiltração da água e devido ao fato de usar o RSU tratado e não o 7 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. International Waste Management and Landfill Symposium. S. Margherita di Pula, Cagliari, Italy; 3 - 7 October 2005. Vieira A. M.(2005). Estudo de Barreiras Capilares Como cobertura Final de Aterro de Resíduos. Tese de Doutorado, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, S.P., Brazil. 2005. 265p. Weiß, J. e Witzsche, A. (2005). Results of the Efficiency of the Capillary Barrier System at the Landfill Grix Offenbach-Germany. 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