Trabalhos Científicos
ACHATINA FULICA BOWDICH, 1822 SENSIBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE
QUANTO À PRESENÇA E ERRADICAÇÃO DESSA ESPÉCIE INTRODUZIDA, NO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Mércia Barcellos da Costa; Gabriela Carvalho Zamprogno; Fernanda Tusholska Vaz de Melo;
Danielle Covre Barbiero; Cláudia Valéria Cruz Santos, Brisa Saez Ferreira & Almir Sathler
Mendonça.
INTRODUÇÃO
Muitos moluscos, como mariscos, mexilhões, ostras, lulas e polvos são utilizados pelo homem
como alimentos desde a pré-história. Ainda hoje constituem pratos bastante apreciados em
diversos países, entre eles o Brasil.
Os caracóis terrestres, conhecidos como escargots, conquistaram grande número de
apreciadores em todo o mundo, e, só na França, cerca de 200 mil pessoas têm na criação e
comercialização de caracóis a sua principal fonte de renda. O crescente aumento do consumo
dessa iguaria pelos brasileiros tem despertado o interesse de criadores e produtores nacionais
de escargots.
Essa euforia, porém, esconde um grande problema, que em breve pode alcançar desastrosas e
indesejáveis proporções: os caracóis atualmente cultivados no Brasil, além dos legítimos
escargots da espécie Helix aspersa Muller, 1774, pertencem a outra espécie, a Achatina fulica
Bowdich, 1822 (Barbosa, A. F.& Salgado, N. C., 2001).
A. fulica é um molusco terrestre pulmonado, caracterizado pelo hábito generalista e fácil
adaptação a ambientes alterados, como áreas antrópicas. Originário do Leste da África, se
espalhou por praticamente todos os países tropicais e subtropicais Indo-Pacíficos nos últimos
200 anos (Rees, 1950).
Durante meados do Século XX, sua dispersão atingiu proporções ainda maiores abrangendo
novas localidades no Pacífico, América do Norte e Europa, onde causou grandes prejuízos para
a agricultura.
Introduzida no Brasil provavelmente na década de 80, ao contrário dos verdadeiros escargots
da tradicional culinária francesa, representados principalmente pela espécie Helix aspersa, a
espécie africana consegue ganhar peso mais rapidamente, é mais prolífica e bem adaptada às
diversidades climáticas tropicais, além de ser dotada de acentuada capacidade de dispersão no
ambiente. Alguns exemplares chegam a pesar 150 g, com conchas que atingem 15 a 20 cm de
comprimento e 8 cm de largura.
Tais características tornaram a Achatina fulica bastante atraente para cultivo e comercialização
em nosso país, entretanto os brasileiros não possuem o hábito de comer gastrópodes
terrestres e o público acostumado ao escargot verdadeiro não pagaria altos valores por um
animal de origem incerta. O resultado foram produtores frustrados com enormes despesas de
manutenção, abandonando a atividade e optando pela liberação dos animais em terrenos
baldios. Como conseqüência, diversas áreas urbanas encontram-se infestadas (Faraco, 2005),
bem como o entorno de matas nativas, o que traz significativos prejuízos à fauna e flora
desses ecossistemas.
Além dos problemas ambientais e econômicos causados pela introdução desta espécie,
Achatina fulica também pode causar sérios transtornos em relação à saúde pública. Essa
Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Humanas e Naturais, Departamento
de Ciências Biológicas, Laboratório de Malacologia. E-mail: [email protected]
espécie de molusco é hospedeiro intermediário de uma parasitose intestinal, conhecida como
Angiostrongilíase abdominal.
Esta doença é causada pelo Helminto Angiostrongylus costaricensis e tem sido notificados
casos nas Américas, desde o sul os Estados Unidos até a Argentina. No Brasil, descreveram-se
casos desta doença no Distrito Federal e nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul.
Atualmente o Espírito Santo encontra-se bastante povoado por A. fulica, e os problemas
causados por este molusco tem sido denunciados pela população de diversos municípios. A
rápida disseminação característica desta praga, torna urgente a tomada de decisões no sentido
de se eliminar esta espécie, evitando desta forma tanto problemas ambientais e econômicos
como para a saúde da população.
OBJETIVOS
Verificar o nível de infestação por A. fulica nos municípios do Espírito Santo, paralelamente a
um trabalho de conscientização sobre os prejuízos causados pela espécie.
METODOLOGIA
Por ocasião da XIII Feira do Verde no ano de 2002, realizada pela Prefeitura Municipal de
Vitória, o Laboratório de Malacologia do Departamento de Ciências Biológicas da UFES, expôs
um terrário com exemplares de A . fulica, visando a divulgação junto à comunidade dos
problemas representados por essa espécie.
Durante o evento foram coletadas informações sobre a ocorrência da A. fulica tanto nos
municípios da Grande Vitória como também nos demais municípios do Estado do Espírito
Santo. Na ocasião, relatos sobre altos índices de infestação em alguns municípios causaramnos grande surpresa e preocupação. Posteriormente, a presença de A. fulica foi confirmada
pelo Laboratório de Malacologia por meio de visitas aos municípios, contatos com órgãos
públicos locais e recebimento de exemplares enviados pela população para a identificação.
Além dos trabalhos de levantamento, foram realizadas campanhas de esclarecimento por meio
de entrevistas na mídia local, realização de palestras em Universidades, Escolas de Ensino
Médio, Prefeituras, produção e distribuição de folders educativos sobre esse caramujo, onde se
incentivou a coleta e incineração de todos os exemplares encontrados.
RESULTADOS
Foram registrados 27 municípios com a ocorrência de A. fulica (ANEXO A), sendo que algum
desses com alto índice de infestação onde mais de 30.000 exemplares foram coletados e
incinerados. Em muitos dos municípios onde a presença de A. fulica foi registrada, órgãos
públicos solicitaram palestras ao Laboratório de Malacologia, atendendo aos pedidos da
população. As palestras informativas, contaram com a participação de comunidades, onde
foram ouvidos relatos de produtores rurais, que tiveram significativos prejuízos em suas
culturas, bem como o incômodo causado por essa espécie para a população em geral, além da
preocupação em relação á saúde pública.
Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Humanas e Naturais, Departamento
de Ciências Biológicas, Laboratório de Malacologia. E-mail: [email protected]
CONCLUSÕES
Apesar da grande preocupação que representa a presença de A. fulica em regiões urbanas,
áreas agrícolas e matas nativas, ainda não se obteve a devida sensibilização e participação dos
órgãos públicos nas iniciativas de controle e erradicação dessa praga.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, A. F. & SALGADO, N. C., 2001. Quando o escargot vira praga. Ciência Hoje, Rio
de Janeiro, 30 (175) : 51- 53
REES, W. J.,1950. The Giant African Snail. Proceedings of the Zoological Society of
London, London, 120 (1): 577-597, pls1-2.
FARACO, F.A. Achatina fulica Bowdich, 1822: Plano de ação nacional. Resumos do XIX
Encontro Brasileiro de Malacologia – Rio de Janeiro, p. 187-189. 2005
Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Humanas e Naturais, Departamento
de Ciências Biológicas, Laboratório de Malacologia. E-mail: [email protected]
ANEXO A
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