Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
A COMPETÊNCIA COMUNICATIVA NA LÍNGUA INGLESA POR
FUNCIONÁRIOS EM DUAS EMPRESAS COMERCIAIS
Camila MENONCIN1
Clarice Nadir VON BORSTEL2
RESUMO: A língua inglesa vem sendo amplamente utilizada por falantes do mundo todo.
Esses falantes, na maioria das vezes, não são falantes nativos dessa língua, mas a utilizam
para fazer discussões e negociações tanto de cunho político como econômico e acadêmico.
Levando em consideração esse “status” de língua internacional que o inglês atingiu, este
estudo visa analisar a competência comunicativa de funcionários de duas empresas
comerciais do município de Medianeira, Paraná, através de entrevistas direcionadas,
buscando evidenciar fatores históricos, sociais e culturais presentes na língua inglesa quando
utilizada na interação comunicativa em contextos de negociações comerciais, propondo
práticas de ensino para trabalhar essa língua estrangeira em sala de aula, fazendo com que
os alunos percebam como ela é utilizada no mercado de trabalho. O conceito de competência
comunicativa passou por várias concepções teóricas desde os primeiros estudos efetuados
por Chomsky (1970) nos anos sessenta. Discutem-se os estudos teóricos de Hymes (1972) que
propôs um conceito com a realidade da habilidade comunicativa; aprofundaram o conceito
de competência comunicativa dividindo-o em categorias; como também, os estudos de Canale
(1983) e Bachman (1990) que apresentam uma perspectiva das habilidades linguísticas
comunicativas para ensinar línguas estrangeiras no contexto escolar. Acredita-se que através
deste estudo será possível evidenciar que apesar de alguns problemas de cunho gramatical,
os funcionários são competentes na língua, uma vez que conseguem se comunicar
efetivamente na língua inglesa com seus clientes e colegas de trabalho.
PALAVRAS-CHAVE: Língua Inglesa; Competência Comunicativa; Funcionários Bilíngues.
ABSTRACT: The English language has been widely used by speakers from all over the world.
Theses speakers, almost all times, are not native speakers of this language, but use it to make
discussions and negotiations on politic, economic and academic areas. Considering this
status of international language that English has achieved, this research analyses the
communicative competence of employees from two commercial companies from the city of
Medianeira, Paraná, through directioned interviews, trying to evidence historical, social and
cultural factors that can be found on the English language when used in the communicative
interaction in commercial negotiation contexts, suggesting teaching practices to deal with this
foreign language in the classroom, making the students perceive how it is used on the labour
market. The concept of communicative competence has passed through a lot of theoretical
conceptions since the first studies make by Chomsky (1970) in the sixties. We discuss Hymes’
(1972) theoretical studies where he suggested a concept with the reality of the communicative
ability; that made a profound study of the concept of communicative competence dividing it in
categories; as Canale (1983) and Bachman (1990) that present a perspective of the
communicative language abilities to teach foreign languages in the school context. We believe
1
Aluna/Mestranda, Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras – nível de Mestrado e Doutorado, da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – <[email protected]>.
2
Professora Orientadora, Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras – nível de Mestrado e Doutorado, da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
<[email protected]>.
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that through this research it will be possible to evidence that besides of some grammatical
problems, the employees are competent in the language because they are able to
communicate effectively through the English language with their costumers and co-workers.
KEY WORDS: English Language; Communicative Competence; Bilingual Employees.
1 Introdução
Com o efeito da globalização, a cada dia mais, empresas de todas as partes do mundo
fazem negócios entre si; e, para que essas transações possam ser efetuadas, faz-se necessário o
uso de uma língua em comum. Como a língua inglesa já vinha sendo bastante difundida em
todo o planeta, esta passou a ser uma das línguas mais utilizadas para esse fim. Empresas
alemãs, japonesas, brasileiras e de várias outras nacionalidades utilizam a língua inglesa para
comunicarem-se. E, vale ressaltar que nenhuma dessas nações a tem como língua oficial.
Devido a isso, não há mais como afirmar que o idioma obedece a peculiaridades provenientes
de seus países de origem como Estados Unidos da América, Inglaterra, Nova Zelândia, entre
outros. O idioma vem evoluindo com o decorrer do tempo, satisfazendo as necessidades de
seus novos falantes deixando de ser visto como algo imutável que deve obedecer plenamente
a regras preestabelecidas.
Até mesmo em cidades de pequeno porte como o município de Medianeira, que se
localiza na região oeste do estado do Paraná, existem empresas que possuem setores
especializados para fazer contatos comerciais com clientes de diversos países, sendo
estabelecido esse contato através do inglês.
Por esse motivo, para esta comunicação, decidiu-se discutir estudos teóricos sobre a
competência comunicativa, tendo como discussão e reflexão os estudos de Chomsky (1970),
Hymes (1972), Canale (1983), Bachman (1990), como também a pesquisa desenvolvida por
Wojslaw (2008), para que em um segundo momento se possa descrever o uso da língua
inglesa, por estes funcionários bilíngues português-inglês, de Medianeira, Paraná.
Este trabalho surgiu de um projeto de pesquisa de mestrado e como a pesquisa ainda
está no início, discute-se também conceitos teóricos sobre a Linguística Aplicada,
possibilitando com esta reflexão apresentar um outro olhar quando se trabalha a língua
estrangeira em sala de aula, acerca do linguístico (gramatical) e de fatores da diversidade
linguística, social e cultural.
2 Reflexões sobre a Linguística Aplicada
A perspectiva atual do ensino de língua estrangeira, entre outros aspectos, propõe o
envolvimento de professores para tomada de decisões, quando o docente deve fazer da sala de
aula um espaço para reflexão, possibilitando opiniões diferentes, fazer da sala de aula um
espaço no qual seja possível compreender a diferença como parte diferente dos indivíduos.
Nas concepções de Almeida Filho (1998):
[...] ensinar uma língua estrangeira implica, pois, em uma visão condensada
e frequentemente contraditória (uma imagem composta) de homem, da
linguagem, da formação do ser humano crescentemente humanizado, de
ensinar e de aprender uma outra língua, visão esta emoldurada por
afetividades específicas do professor com relação ao ensino, aos alunos à
língua-alvo, à profissão e à cultura alvo (ALMEIDA FILHO, 1998, p. 15).
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Dessa maneira, o aluno será privilegiado ao estudar uma língua estrangeira, quando
aprenderá sobre a diversidade linguística e sociocultural, num estudo de conscientização e
tolerância perante as possíveis diferenças, tendo como suporte dados gramaticais,
sociolinguísticos e pragmáticos.
A Linguística Aplicada é a área de pesquisa que está diretamente relacionada à
resolução de problemas práticos na realidade linguística das sociedades e tem contribuído
muito para a área de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras. Segundo Moita Lopes,
[...] a Linguística Aplicada (LA) é uma área de investigação aplicada,
mediadora, interdisciplinar, centrada na resolução de problemas de uso da
linguagem, que tem seu foco na linguagem de natureza processual, que
colabora com o avanço do conhecimento teórico, e que utiliza métodos de
investigação de natureza positivista e interpretativista (MOITA LOPES,
2005, p. 21-22).
Sendo a resolução dos problemas de uso da linguagem na vida real o objetivo da LA, é
possível deduzir que existe uma intrínseca relação entre a linguagem, os indivíduos, suas
culturas e suas identidades na sociedade.
Há uma necessidade de comunicação e do entendimento entre integrantes de uma
comunidade que dão origem à linguagem, e é isto que suscita a ação humana. Por meio da
linguagem, o ser humano estabelece relações de reciprocidade de uma forma linguística e
sociocultural, com o propósito de construir relações interpessoais nos diversos contextos
situacionais, aqui neste estudo investigando a forma de comunicação dos funcionários
bilíngues português-inglês, quando da comunicação verbal (oral e escrita).
3 Inglês como Língua Internacional
Segundo Crystal (2003) entre os séculos XVIII e XIX, a língua inglesa foi levada por
migrantes para a América, Índia, Nova Zelândia, Austrália e África. Grande parte dessas
regiões eram colônias da Grã-Bretanha, maior nação colonizadora do mundo. Na medida em
que essas colônias foram se tornando independentes, a língua inglesa foi tomada por elas
como língua oficial. Já nos séculos XIX e XX, devido à ascensão dos Estados Unidos da
América como potência econômica mundial a utilização da língua chegou a seu ápice.
Assim, novas alianças internacionais foram sendo estabelecidas pelo mundo e a língua
inglesa passou a ser utilizada para mediar a comunicação. Aos poucos, o inglês também se
tornou a língua principal de eventos internacionais tanto na área da política quanto nas áreas
econômicas e acadêmicas.
Outra nação responsável pela expansão da língua foi a Inglaterra. Como país que deu
início a Revolução Industrial, a Inglaterra era o pólo das inovações técnicas e recebeu muita
atenção proveniente de várias partes do mundo.
Mais tarde, com o aparecimento de diversas inovações tecnológicas, a língua também
passou a ser amplamente utilizada virtualmente.
Por causa dessa expansão, o inglês vem sendo intitulado de diferentes maneiras no
decorrer dos últimos anos devido ao seu evidente uso pela comunidade global: Inglês como
língua internacional (EIL – English as an International Language), ou International English;
inglês como língua franca (ELF – English as a Lingua Franca) inglês global, no sentido em
que é usado ao redor de todo o mundo por pessoas das mais diversas etnias; inglês geral
(general English), uma contraposição mais democrática ao “inglês padrão” – standard
English,que remete imediatamente aos padrões britânicos e americanos) (BECKER, 2009).
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Isso se evidencia “porque a comunicação em inglês no mundo hoje frequentemente
não envolve falantes nativos da língua” (ERLING, 2005, p. 41). A quantidade de falantes de
língua inglesa como língua estrangeira ou segunda língua é maior do que a quantidade de
falantes de inglês como primeira língua ou língua materna.
Mais especificamente, pautando-se nas palavras de Erling (2005):
[...] o número de falantes de inglês como L2 supera o de falantes de inglês
como L1 na proporção de três para um. O inglês está sendo cada vez mais
usado para a comunicação através das fronteiras internacionais, não estando,
portanto, mais ligado a lugar, cultura ou povo (ERLING, 2005, p. 42-43).
Esse fato deixa ainda mais evidente que a língua inglesa, como língua estrangeira,
perde muitas das suas características culturais específicas dos povos que vivem em seus países
de origem e adquire cada vez mais peculiaridades, na medida em que é utilizado pelo mundo
com fins diversos no mundo dos negócios, do turismo, acadêmico, entre outros.
O linguista americano Kachru, citado por Crystal (2003), utilizou a figura de três
círculos concêntricos para deixar mais clara a ideia de como a língua inglesa assumiu a
característica de uma língua global:
O círculo interno (inner circle) diz respeito aos países onde o inglês é a
primeira língua (ex. Estados Unidos, Reino Unido, Irlanda, Canadá,
Austrália, Nova Zelândia); O círculo externo (outer circle) ou estendido
(extended circle) refere-se aos países onde a língua inglesa desempenha o
papel de uma segunda língua, num ambiente multilingual (ex. Singapura,
Índia, Filipinas); O círculo em expansão (expanding ou extending circle)
corresponde aos países que reconhecem o papel do inglês como língua
internacional, porém dentro de suas fronteiras ele é ensinado como língua
estrangeira, sem um status especial ou diferenciado (ex. China, Japão,
Brasil), (KACHRU apud CRYSTAL, 2003, p. 60).
Levando em consideração os argumentos apresentados anteriormente, fica bastante
evidente que a língua inglesa vem sendo amplamente difundida por todo o mundo e utilizada
em diversas áreas. Empresas multinacionais e até mesmo empresas menores utilizam da
língua inglesa para poder se comunicar com seus clientes, sendo que na maioria das vezes
nenhuma das partes tem essa língua como língua oficial de seus países.
4 O Conceito de competência comunicativa
O conceito de competência comunicativa vem sendo discutido por vários estudiosos
da área da linguística desde que o termo competência linguística foi introduzido por Noam
Chomsky.
O entendimento sobre em que consiste a competência comunicativa faz-se importante
para aqueles que são ou desejam ser professores de língua ou estudiosos nesta área, pois
facilita a compreensão dos fenômenos que ocorrem durante o aprendizado de línguas
estrangeiras e também durante a aquisição da língua materna pelas crianças.
4.1 Competência x performance: uma distinção dada por Noam Chomsky
Para que se possa chegar até a definição de competência cunhada por Chomsky
(1970), é necessário ter conhecimento de como o autor concebe a aquisição da linguagem,
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pois o entendimento do autor para com esse processo reflete muito em sua concepção do
termo em estudo neste artigo.
Pois bem, para o autor, a aquisição da linguagem provém de uma habilidade inata nos
seres humanos, como uma predisposição para a utilização da linguagem. As crianças nascem
com habilidade para usar qualquer língua com facilidade e rapidez. Quando entram em
contato com falantes da língua começam a elaborar uma teoria sobre o uso da língua que é
mental e inconsciente e após alguns anos com um conhecimento de finitas estruturas com as
quais entraram em contato, podem produzir um número infinito de sentenças.
A partir então dessa visão de aquisição da linguagem, Chomsky (1970) introduziu o
termo competência do falante, definindo-o como o conhecimento que o falante-ouvinte tem ao
produzir (compreender) todas as frases da língua. Ou seja, faz parte dessa capacidade todo um
saber que o falante ideal tema respeito das frases, saber comparar estruturas sintáticas
semelhantes, saber separar frases que fazem parte da língua e que as que não fazem parte. O
autor cita que o indivíduo já nasce com certa capacidade para utilizar a língua, seus estudos se
voltam para aspectos internos da linguagem sem considerar fatores externos como a posição
social, econômica, a situação em que a interação acontece, entre outras. E, faz uma distinção
que considera fundamental entre competência e performance, que consiste no uso de uma
forma ideal que o falante faz da língua em situações concretas de fala. Essa concepção teórica
concebe o falante como uma falante ideal e sua distinção entre competência e performance,
levando a entender que as comunidades em que os falantes estão inseridos é uma comunidade
linguisticamente homogênea. O autor considera que a competência só pode ser conceituada
através dessa visão em que a
Teoria linguística é concebida primeiramente com um falante/ouvinte ideal,
em uma comunidade linguística completamente homogênea, a qual conhece
sua língua perfeitamente e não é afetada por condições irrelevantes
gramaticalmente como limitações de memória, distrações, deslocamentos de
atenção ou interesse, e erros (aleatórios ou característicos) em aplicar seu
conhecimento da língua em sua atual performance (CHOMSKY, 1970, p. 3).
Dessa maneira, Chomsky (1970) deixa de lado fatores como sociais e culturais que são
importantes e relativos à língua que serão trabalhados por Hymes (1972), Canale (1983) e
Bachman (1990).
4.2 Os aspectos socioculturais colocados em discussão por Dell Hymes
Hymes (1972) percebe que essa visão de falante ideal não dá conta de lidar com as
diferenças socioculturais e faz críticas as concepções de Chomsky (1970) anteriormente
citadas. Hymes (1972) descreve o indivíduo ou falante descrito por Chomsky (1970) como “a
imagem controladora de um abstrato, isolado indivíduo, quase um mecanismo cognitivo não
motivado, não, a não ser incidentalmente, uma pessoa em um mundo social” (HYMES, 1972,
p. 272).
Para o autor, um dos grandes pontos fracos da teoria chomskyana é que se acredita que
o aspecto social pode afetar somente a performance do falante, mas Hymes (1972) mostra que
a vida social não afeta apenas a performance mas também a competência comunicativa, tida
anteriormente como individual. Como prova disso, ele traz um exemplo de Bloomfield (1933)
citado por Hymes (1972), sobre um jovem de língua indígena da tribo Menomini:
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Trovão Branco, um homem de mais ou menos quarenta anos, fala menos
inglês do que Menomini, e isso é uma forte acusação, por que seu Menomini
é horrível. Seu vocabulário é pequeno; suas inflexões são frequentemente
bárbaras, ele constrói sentenças provenientes de poucos modelos
rudimentares. Pode-se dizer que ele não fala nenhuma língua de maneira
tolerante. Seu caso não é incomum entre os homens mais jovens, até mesmo
quando eles falam um pouco de inglês (BLOOMFIELD, 1933 apud
HYMES, 1972, p. 273).
Refletindo sobre o exemplo dado por Hymes (1972), é possível perceber que a
competência, conhecimento que o falante tem da língua, também pode ser considerada algo
que faz parte da vida de um indivíduo, ou seja, os fatores socioculturais de faixa etária. Pois, é
um fato comum que os homens jovens dessa mesma comunidade apresentem pouco
conhecimento quanto ao vocabulário e quanto à estrutura das sentenças.
Dessa forma, é preciso levar em consideração que quando uma criança adquire o
conhecimento de sentenças na linguagem, ela não adquire só gramática, ela adquire
conhecimentos sobre quando falar, quando não falar, sobre o que falar com quem, quando,
onde e de que maneira (HYMES, 1972). Além disso, também dizem respeito à competência
as crenças, atitudes e valores que influenciam na língua que não serão discutidos aqui neste
trabalho. A aquisição da competência tem relação com a experiência social, necessidades,
motivos.
Devido às questões expostas acima, Hymes (1972) apresenta que há quatro questões
no que diz respeito à língua e a outras formas de interação:
(1) Se (e em que grau) algo é formalmente possível; (2) Se (em que grau)
algo é praticável em virtude dos meios de implementação disponíveis; (3)
Se (e em que grau) algo é apropriado (adequado, feliz, bem sucedido) em
relação ao contexto no qual é usado e avaliado; (4) Se (e em que grau) algo é
de fato factível, na verdade performável, e o que o seu fazer implica
(HYMES, 1972, p. 281).
Tendo isso em vista, o autor faz sua própria definição de competência. Ele a tem como
o termo mais geral para as capacidades de uma pessoa. Competência depende tanto do
conhecimento quanto da habilidade para utilizar. Conhecimento deve subentender os quatro
parâmetros citados anteriormente e a habilidade para o uso como a parte da competência que
compreende a gama de fatores não cognitivos, como a motivação, as crenças, etc. Então,
Hymes (1972) engloba em seu conceito de competência comunicativa, os dois fatores
apresentados anteriormente por Chomsky (1970), competência e performance.
Muitos autores partem dessa concepção de Hymes (1972) para desenvolver seus
trabalhos e aprofundam o conceito sempre partindo do fato de que não se pode deixar os
aspectos socioculturais fora do conceito de competência. Isso foi feito por Canale (1983) e por
Bachman (1990) que serão trabalhados no decorrer deste texto.
4.3 A Competência dividida em categorias por Michel Canale
Pelos estudos apontados por Canale (1983), acredita que não é possível deixar de lado
os aspectos socioculturais que implicam na competência comunicativa. Para ele, a
competência comunicativa é entendida como “os sistemas subjacentes de conhecimento e
habilidade requeridos para a comunicação” (CANALE, 1983, p.65). O autor considera parte
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da competência tanto o conhecimento do vocabulário como a habilidade para usar as
convenções sociolinguísticas de uma determinada língua.
Para aprofundar ainda mais o estudo do termo em questão, o autor dividiu-o em quatro
áreas de conhecimento e habilidade as quais são competência gramatical, competência
sociolinguística, competência discursiva e competência estratégica.
A primeira delas se refere ao domínio do código linguístico, verbal ou não verbal.
Nessa categoria estão incluídas características e regras da linguagem como a pronúncia, o
vocabulário, a formação de palavras e frases, a semântica e a ortografia.
A segunda, competência sociolinguística, inclui as regras socioculturais de uso.
Preocupa-se se e em que medida as expressões são produzidas e entendidas adequadamente
em diferentes contextos sociolinguísticos dependendo de fatores contextuais como a posição
dos participantes, os propósitos da interação e as normas e convenções da interação. A
adequação dos enunciados está relacionada com a adequação do significado e a adequação da
forma. A adequação do significado tem a ver com o alcance ao qual funções comunicativas
determinadas (como ordenar, convidar), atitudes (cortesia, formalidade) e ideias são julgadas
como características de uma determinada situação. Por exemplo, seria inadequado que um
médico pedisse que seu paciente o examinasse e não o contrário.
A próxima, a competência discursiva, relaciona-se com a maneira na qual são
combinadas formas gramaticais e significados para formar um texto oral ou escrito nos
diferentes gêneros. A unidade de um texto se alcança por meio da coesão na forma e da
coerência no significado. A coesão implica no modo em que as frases se unem
estruturalmente e facilita a interpretação de um texto. A coerência faz referência às relações
entre os diferentes significados em um texto, onde estes significados podem ser significados
literais, funções comunicativas e atitudes.
E, por fim, a última categoria é a competência estratégica que dá conta das estratégias
de comunicação verbal e não verbal que podem ser utilizadas por duas razões principalmente:
compensar as falhas na comunicação devido a condições limitadoras (como falta de memória
momentânea para recordar um vocábulo) ou a competência insuficiente em uma ou mais das
outras áreas da competência comunicativa e favorecer a efetividade da comunicação (como
por exemplo, falar de forma mais lenta com uma intenção retórica).
4.4 Habilidade linguística comunicativa por Lyle Bachman
Sobre a competência comunicativa, Bachman (1990) utiliza a nomenclatura habilidade
linguística comunicativa para tratar do assunto discutido nesse trabalho. O autor reconhece
que a habilidade para utilizar a língua envolve tanto o conhecimento ou competência na
língua como a capacidade para implementar ou utilizar essa competência.
Sua proposta sobre a habilidade linguística comunicativa divide-a em três
componentes: competência linguística, competência estratégica e mecanismos
psicofisiológicos. A competência linguística compreende uma gama de componentes
específicos do conhecimento que são utilizados na comunicação através da linguagem. A
competência estratégica a capacidade mental para implementar os componentes da
competência linguística em uma situação contextualizada de uso da linguagem. E os
mecanismos psicofisiológicos se referem aos mecanismos relativos aos processos
neurológicos e psicológicos envolvidos na execução da língua como fenômeno físico.
Sobre a competência linguística – para o autor, a competência linguística divide-se
em competência organizacional e competência pragmática. A competência organizacional por
sua vez divide-se em competência gramatical e competência textual. E a competência
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pragmática divide-se em competência ilocucionária e competência sociolinguística. Cada uma
dessas competências será descrita de maneira mais detalhada no decorrer deste texto.
A competência organizacional dá conta daquelas habilidades envolvidas em
controlar a estrutura formal da língua para produzir ou reconhecer sentenças ‘corretas’
gramaticalmente, compreendendo seu conteúdo proposicional, e ordenando-os para formar
textos. Essas habilidades podem ser de dois tipos: gramaticais e textuais.
A competência gramatical inclui as competências envolvidas no uso da língua. Ela
consiste em um número de competências relativamente independentes como conhecimento do
vocabulário, morfologia, sintaxe e fonologia/grafologia. Ela governa a escolha de palavras
para expressar significados específicos, sua formas, a organização em elocuções para
expressar proposições, e suas realizações físicas, assim como sons e símbolos escritos.
A competência textual inclui o conhecimento das convenções para juntar e organizar
as elocuções ou sentenças para se formar um texto, que é essencialmente uma unidade da
língua – oral ou escrita – consistindo em duas ou mais elocuções ou sentenças que são
estruturadas de acordo com as regras de coesão e organização retórica. Coesão inclui
maneiras de marcar explicitamente relações semânticas como referência, elipse, conjunção,
assim como as convenções como as que governam e ordenam informações velhas e novas no
discurso. Organização retórica está relacionada com o efeito do texto em que se utiliza a
língua. Convenções de organização retórica incluem métodos comuns de desenvolvimento
assim como narração, descrição, comparação, classificação e análise do processo.
A competência pragmática se refere à organização dos sinais linguísticos que são
usados na comunicação e como esses sinais são usados para se referirem a pessoas, objetos,
ideias e sentimentos. Essa competência, como já foi dito anteriormente, se divide em
competência ilocutória e competência sociolinguística.
A competência ilocutória é aquela que habilita o falante a usar a linguagem para
expressar uma grande variedade de funções, para interpretar a força ilocutória de elocuções ou
discurso, a apropriação dessas funções e como sua utilização varia de um contexto de
linguagem para outro de acordo com características socioculturais e do discurso. O falante
pode assinalar sua intenção diretamente como quando se diz “Peço que se retire!” ou
“Convido você para ir até minha casa”, utilizando as funções de pedido e convite ou de forma
menos direta como quando em uma visita domiciliar, o dono da casa está com sono o visitante
não vai embora, o dono da casa pode usar a sentença “Está tarde não é?” para que o visitante
se dê conta de qual é a função que o dono da casa está querendo utilizar, no caso,
indiretamente um pedido para que ele vá para casa.
E, a competência sociolinguística é a sensibilidade para, ou controle das convenções
de uso da linguagem que são determinados pelas características do contexto específico de uso
da língua; isso nos habilita a utilizar as funções da linguagem de maneira que são apropriadas
para determinado contexto. Por exemplo, situações diferentes requerem variedades diferentes
da língua, o modo como o discurso é proferido, oral ou escrito.
Sobre a competência estratégica – de acordo com Bachman (1990) vê a competência
estratégica como uma parte importante do todo comunicativo. Autores citados por ela como
Tarone (1981 apud Bachman 1990) e Canale (1983) veem a competência estratégica como
uma forma de compensar falhas na comunicação provenientes de competência insuficiente ou
limitações dos falantes, mas ela acredita que, além disso, esse processo também inclui
manifestações não verbais. Para explicar melhor sua visão ela divide essa competência em
três categorias: avaliações, planejamento e execução.
O componente do planejamento nos habilita primeiro, a identificar a informação
incluindo a variedade da língua necessária para atingir seus objetivos em determinado
contexto. Segundo, determinar quais competências tem-se a disposição para atingir esses
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objetivos. Terceiro, reconhecer quais são as habilidades e o conhecimento compartilhado por
seu interlocutor. E quarto, no decorrer da comunicação ir avaliando se os objetivos estão
sendo atingidos.
O componente do planejamento recobra itens (gramatical, textual, ilocutório,
linguístico) relevantes da competência lingüística e formula um plano que se espera que faça
com que o objetivo comunicativo seja atingido.
E, o componente da execução diz respeito aos mecanismos psicofisiológicos
relevantes para implementar o plano na modalidade, canal apropriados ao objetivo
comunicativo e ao contexto.
Sobre os Mecanismos Psicofisiológicos – os mecanismos psicofisiológicos são os
processos essencialmente neurológicos e psicológicos presentes na execução da frase durante
o uso da língua. Ao escutar outro falante, mecanismos auditivos e visuais são necessários e ao
falar ou proferir enunciados mecanismos neuromusculares como o sistema articulatório são
empregados. Por exemplo, quando o professor pede a um aluno que descreva o que está vendo
em uma figura, o aluno utiliza o mecanismo visual que não é linguístico para ter acesso às
informações contidas na figura e o mecanismo articulatório para pronunciar as palavras
‘corretamente’.
Esse estudo de Bachman (1990) engloba muito bem todos os fatores relativos à língua
e sua definição do conceito de competência comunicativa, conforme esta discussão, descreve
o fenômeno e as divisões apresentada, deixando todos os itens bem explicitados abrindo
caminho para que outros pesquisadores possam fazer uso dessa teoria em novas pesquisas
empíricas.
O conceito de competência apresentado aqui por meio de diversas nomenclaturas,
somente competência, competência comunicativa e habilidade linguística comunicativa, vem
sendo cada vez mais discutido e aprofundado pelos estudiosos da área da linguística.
Ao apresentar as críticas de Dell Hymes acerca da visão de Noam Chomsky sobre a
competência, não há a intenção de fazer um julgamento de valores uma vez que Chomsky
(1970) foi pioneiro nesses estudos e sem dúvida de grande relevância apesar de não ser
possível deixar de lado os aspectos sociolingüísticos, psicolingüísticos e pragmáticos que
Hymes (1972) incorpora ao conceito de competência comunicativa, a partir de seus estudos
sobre a etnografia da fala.
Tendo como suporte teórico os estudos sobre competência comunicativa de Hymes
(1972), de Canale e Swain (1980) e Canale (1990), propondo que, para um indivíduo ser
considerado bilíngue, é preciso que tenha habilidade em quatro competências; gramatical,
discursiva, sociolinguística e pragmática. A partir dessa reflexão teórica sobre as quatro
competências, Woslaw (2008), desenvolveu uma pesquisa sobre a utilização do inglês por
funcionários da rede hoteleira de Foz do Iguaçu, delimitando o seu estudo das entrevistas nas
habilidades de competência comunicativa gramatical dos funcionários.
Desta forma, Woslaw (2008), justifica que esta competência comunicativa por ser
mais ampla e está relacionada as outras três habilidades comunicativas apresentadas pelos
teóricos. O resultado das entrevistas, descritos e analisados pela pesquisadora, refletem a
necessidade de aprimoramento da competência comunicativa gramatical dos funcionários,
pois mesmo considerando e respeitando a diversidade linguística utilizada pelos funcionários
nos lugares de trabalho, a autora reforça a importância de privilegiar a norma
institucionalizada como variedade de prestígio neste contexto.
Levando em consideração as discussões teóricas, a observação participante e a
aplicação de um roteiro de entrevista aos funcionários destas duas empresas comerciais de
Medianeira, Paraná, fica evidente que a competência comunicativa não depende apenas de
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Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
fatores estritamente linguísticos, mas também de fatores sociais, históricos e culturais, no qual
esses entrevistados se encontram.
Portanto, acredita-se que apesar de possíveis deslizes gramaticais, os funcionários em
questão são competentes na língua comunicando efetivamente com seus clientes e com seus
colegas de trabalho.
9 Considerações Finais
Como a língua inglesa atingiu status de língua internacional, ela vem sendo cada vez
mais importante para o desenvolvimento pessoal, profissional e acadêmico dos estudantes.
Portanto, o ensino dessa língua não deve ser pautado apenas na gramática. É necessário deixar
claro para os alunos que a língua é heterogênea e depende de fatores sociais, históricos e
culturais para ser utilizada.
Os funcionários bilíngues português-inglês, dessas duas empresas comerciais, em
Medianeira, Paraná, têm adquirido conhecimento desses fatores, uma vez que estão em
constante contato com falantes da língua provenientes de diferentes países, a comunicação
verbal (oral e escrita) ficaria mais fácil se estes entrevistados já possuíssem algum
conhecimento sobre a formação linguística gramatical, das habilidades sociolinguísticas e
pragmáticas dos países com os quais se comunicam para poder negociar e comercializar seus
produtos.
Referências
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hoteleira de Foz do Iguaçu. Cascavel: UNIOESTE, 2008. 160 f. Dissertação (Mestrado em
Letras) – Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras, Universidade Estadual do
Oeste do Paraná: Cascavel, 2008.
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