Institute for Global Peace Work (IGP) Tamera Peace Research Center Monte do Cerro • 7630-303 Colos • Portugal ph.: 00351 283 635 484 • fax: -342 E-Mail: [email protected] Uma carta para amigos na Bolívia Maio de 2011 Caros amigos! Escrevemos para vocês depois de uma noite de tempestade. As forças da natureza parecem estar do nosso lado. Nós alugamos um moinho nos arredores de Tamera com o objetivo de reunir o máximo de concentração e foco possível para que nós, aqui, possamos encontrar formas de ajudar a todos vocês, nossos compañeros na América Latina: Bolívia, Colômbia, Peru, Brasil, México... Nós nos sentimos encorajados pelo convite que recebemos através de vocês. Também estamos alarmados pela situação extremamente difícil e perigosa em que a comunidade de paz San José de Apartado se agora se encontra. Nesse momento, nós percebemos uma grande oportunidade e necessidade para o desenvolvimento de uma aliança global efetiva, que possa fornecer apoio para vocês na Bolívia, assim como para nossos amigos na Colômbia... Nós queremos descrever essa grande oportunidade, e compartilhar com vocês alguns dos conceitos básicos que nos inspiram e guiam nosso caminho, conceitos que talvez contenham a solução para um problema aparentemente insolúvel. Nós vemos o mesmo problema da globalização em todos os países. Em todos os casos, a mesma coisa acontece: Um país é ecologicamente destruído e explorado através de monoculturas e exportações. Povoados rurais e comunidades são separados, a confiança é quebrada, e pessoas se mudam para os grandes centros urbanos onde levam uma vida de miséria e sofrimento. Aqueles que decidem permanecer nas áreas rurais o fazem a grandes custos, vivendo sobre a constante ameaça de expulsão. A globalização previne sistematicamente todas as formas de auto-regeneração: Autosuficiência, criação de bancos de sementes, livre acesso à água, educação, participação em comunidades, ou a construção de economias de subsistência. Falta de informação e incoerência são permeadas por toda parte, para que através do medo se tenha controle da população. Como nós podemos escapar dessa maldição? Tamera oferece a seguinte resposta: através da construção de modelos. E apenas através da construção de modelos complexos, sustentáveis e replicáveis nós poderemos escapar dessa maldição. Isso pode parecer rígido, mas é na verdade algo lindo, como vocês já sabem. (E é claro que esse é um conceito novo que precisará ser clarificado). Aqui eu gostaria de lhes dar um exemplo: Sepp Holzer tem sido convidado para apresentar suas paisagens aquáticas ao redor do mundo, o que é maravilhoso. Mas ao mesmo tempo, ele sabe que até as melhores paisagens aquáticas são sem propósito se os seres humanos continuarem a brigar. A água é um elemento de união, mas pode se tornar uma fonte de conflito entre seres humanos vivendo na mesma região. Um grupo impede o acesso de outro grupo a uma nova fonte de água que acaba de voltar a correr. Para uma paisagem aquática poder manifestar todo o seu poder de cura ela deve ser construída em co-relação com comunidades humanas, então ela poderá evoluir na direção da realização do modelo completo. E assim se segue, até que se tenha o modelo completo. Porque para criar uma comunidade funcional eu preciso ter conhecimento sobre amor, para ganhar conhecimento sobre amor, eu preciso desenvolver compaixão pelo mundo, para desenvolver compaixão pelo mundo, eu preciso reaprender a pensar, para reaprender a pensar, eu preciso saber algo sobre novas teorias que estão sendo desenvolvidas, para aprender algo sobre novas teorias, eu preciso receber uma educação... como se pode ver, não é possível dividir algo que é originalmente um todo em partes e então oferecê-las separadamente uns para os outros como forma de auxílio. É por isso que não faria sentido ir à Bolívia apresentar a ideia de paisagens aquáticas por si só. No entanto, a Bolívia poderia começar com uma paisagem aquática e desenvolver uma universidademodelo a partir daí: um lugar onde um modelo holístico e sustentável para uma nova civilização emergiria através da construção da paisagem aquática. Nesse lugar, se poderia estudar o mistério da água assim como desenvolver novas ideias fundamentais sobre agricultura e permacultura. Nesse lugar, conhecimento indígena e mitológico sobre a unidade entre seres humanos e a natureza poderia ser documentada e redescoberta em um nível científico, moderno. Nesse lugar um campus global emergiria, que poderia educar jovens em profissões que serviriam a paz, e não a guerra; uma escola para o estudo da relação entre paz interna e externa poderia se seguir: um lugar de perdão e solidariedade entre seres humanos, um lugar de peregrinação para a cura da humanidade e do planeta Terra. Todas essas diferentes partes criam uma sinergia umas com as outras e algo inesperado acontecerá: Uma vez que esse lugar for construído (mesmo que apenas os primeiros estágios desse plano sejam manifestados) um milagre acontece. Aqueles que visitam esse lugar se lembram dos seus próprios sonhos, e desenvolvem sua própria vontade de criar esses sonhos incorporando os elementos que agora os maravilharam e os preencheram. Isso nos foi revelado no “milagre de Mulatos” (na comunidade de paz San José de Apartado na Colômbia). Energias colossais foram despertadas, que não podiam ser contidas por nenhuma força da globalização. Essas são as energias de uma ideia cujo tempo chegou. As pessoas escaparam da rede da globalização através do redescobrimento da sua auto-consciência, através da reconexão com uma perspectiva e um objetivo. Assim chegamos a outra pedra fundamental, que é na verdade a pedra de convergência de toda a nossa ideia: todos os seres humanos que trabalham na direção de uma mudança geral de sistemas devem se conectar em um nível global e criar uma rede de contatos. Nós podemos ver isso claramente no exemplo de San José de Apartado na Colômbia: Essa comunidade de paz, que não representa apenas a si própria, mas as esperanças de incontáveis povoados e grupos nessa terra dividida pela guerra, se vê diante de um grande desafio. Nós precisamos ajudá-los. Essa comunidade tem sido marginalizada já há bastante tempo através de uma campanha nacional para arruinar sua reputação. Eles são mostrados como terroristas, e não têm quaisquer meios para resolver a situação. Eles são forçados ao isolamento, o que os coloca em uma posição extremamente vulnerável. Aqueles que oferecem assistência internacional à comunidade são acusados de ignorância. Aqui, uma nova forma de proteção é necessária. Existem muitos grupos internacionais e indivíduos que protegem San José através de campanhas políticas, reportagem e divulgação internacional do caso e envolvimento público. Essa é uma das razões de San José ter ganhado força. Mas agora uma forma mais forte de proteção é necessária, a proteção de uma “aliança global”, ou qualquer outro nome que seja dado a essa federação transnacional. Imagine uma universidade-modelo e projeto de paz na Bolívia que funcionaria da mesma forma que San José de Apartado. E dessa vez o governo apoiaria a iniciativa, ao invés de atacá-la como fazem as forças relacionadas ao governo colombiano. Imagine esse tipo de projeto no Paraguai. Nosso camarada, ganhador do Prêmio Nobel da Paz alternativo Martin Almada atualmente está criando uma universidade para energia solar e direitos humanos lá. Imagine uma base assim no Brasil: Uma grande paisagem aquática onde a floresta possa se regenerar, onde grandes monoculturas subitamente se rendem a uma imensa diversidade de espécies, onde uma vivaz comunidade vive e trabalha. Imagine outros lugares assim surgindo no Peru, no México... movimentos tais como o que está sendo iniciado por Javier Sicília se juntariam à aliança global, e muitos outros... no centro da combinação de seus esforços estaria, junto à resistência e à luta contra a injustiça, o foco em um sonho em comum, o modelo. Porque quando se reencontra a fé necessária para a realização desse sonho, se mobiliza todo tipo de poder possível. E a cada respiração, a cada aperto de mão focado em um futuro positivo, está-se escapando das garras da globalização e adquirindo a força e a liberdade necessária para receber o Novo. Em todos os lugares mencionados acima nos já conhecemos pessoas que poderiam realizar ou apoiar a realização de tais projetos modelo. Esses projetos modelo servem como bases para a ideia global que irá vencer o sistema de violência. Elas não mais encaram a si próprias apenas como bases locais, com problemas locais e soluções locais. Juntas, elas agem em um nível global. Com a criação de novas bases, San José não seria apenas uma corajosa vila de paz na Colômbia, mas um entre outros centros na América do Sul. Junto às suas características individuais, esses centros compartilhariam o mesmo momentum: uma mesma fundação ética, um acordo em comum, canções em comum, alianças políticas em comum, uma rede em comum, uma identidade em comum, e uma fundação com um tesouro em comum. Assim, a ideia ganha em força e atrai mais fundos e atenção internacional. Ninguém investiria em projetos que não tivessem chance de sucesso. Projetos isolados correm grande perigo, mas juntos a essa corrente de novos centros de pesquisa eles ganham uma nova importância. No momento que isso acontecer se poderá dizer: eles são parte de uma comunidade global, representantes de uma emergente visão global que está dissolvendo o sistema de opressão e violência. Eles não estão mais isolados, mas conectados com outras universidades-modelo ao redor do mundo. Juntos, eles são chamados de o Campus Global. Assim, doadores poderiam apoiar uma grande ideia em vez de diversos projetos individuais. Esse é o nosso plano, e nós achamos que é um bom plano. É por isso que nós estamos prontos para fazer tudo que estiver ao nosso alcance para torná-lo realidade. Nós podemos hablar sobre os detalhes mais tarde. Estamos ansiosos pela sua resposta. E não esqueçamos de acompanhar todo o processo com todas as nossas preces. Para que seus filhos e todas as crianças do mundo possam encontrar um ambiente protegido e saudável e um lar na Terra Gaia – para sempre. Que a vida vença ao redor do planeta. Venceremos! Monika Berghoff e Martin Winiecki Institute for Global Peace Work, Tamera, Portugal Com saudações de Sabine Lichenfels, fundadora do Campus Global, e toda a comunidade de Tamera! Traduzido do Inglês por Talita Soares! Obrigada!