Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 TUTORIA E AUTONOMIA: SUBSÍDIOS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EAD CORTELAZZO, Iolanda Buenno de Camargo ([email protected]) Universidade Tuiuti do Paraná MASCARENHAS, Rosana ([email protected]) Universidade Tuiuti do Paraná MASCARENHAS, Marcelo ([email protected]) Faculdade Internacionnal de Curitiba Este artigo apresenta reflexões sobre os conceitos de autonomia e de tutoria entre os tutores de um programa de educação a distância que se articula em torno de três eixos: a estrutura pedagógica, a aprendizagem e a avaliação da aprendizagem. A estrutura pedagógica se compõe de dois fundamentos: conhecimento e prática pedagógica no que se refere às relações entre alunos, professores, material didático, tutores e aprendizes. A auto-aprendizagem se refere às relações entre os alunos com a tutoria, o material didático e os suportes tecnológicos. A avaliação, como os outros princípios está presente durante todo o curso e se desdobra em avaliação somativa e avaliação formativa. na avaliação formativa e a partir das produções dos alunos avaliadas pelos tutores dos pólos de apoio presencial ou aquelas enviadas para a sede da instituição para serem avaliadas pelos tutores da Tutoria Central. O acompanhamento dos tutores (alunos do curso) durante o curso de especialização nos permitiu analisar suas concepções sobre autonomia e tutoria. No início do curso, surpreendemo-nos com as confusões conceituais dos tutores e propusemos um fórum de discussão. Aproximadamente 150 tutores participaram do debate e pudemos acompanhar a discussão e provocar debates sobre as dimensões da tutoria e as funções do tutor bem como as diferentes dimensões da autonomia. Constatamos que os tutores, em geral, repetem as funções de um professor presencial e muitos têm concepções errôneas sobre educação. O que lhes falta, nesses casos, é uma formação pedagógica e didática para a educação a distância baseada na autonomia e no trabalho colaborativo. Durante todo o curso, muitas discussões de síntese lhes foram dirigidas para fazê-los refletir sobre esses conceitos e incorporá-los à sua ação tutorial. No final do curso, os tutores (alunos) escreveram artigos científicos sobre as relações entre tutores e alunos e pudemos verificar que é muito difícil mudar as concepções educacionais enraizadas há muito tempo. Mas, pudemos também constatar que houve uma tomada de e um Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 movimento para a mudança. Este é o próximo trabalho com os tutores em paralelo com a análise interpretativa dos artigos científicos dos tutores em nova pesquisa. PALAVRAS-CHAVE: Tutoria, Autonomia prática pedagógica, educação a distância Preliminares Para que se possa discutir o tema a que se propõe, este trabalho, isto é relacionar a tutoria e a autonomia do aluno a distância, faz-se necessário apresentar os princípios básicos da EAD neste estudo de caso. Os princípios de EAD (fig.1) aplicados no Programa de Graduação a distância, em particular, no curso de Pedagogia são estrutura didática, auto-aprendizagem e avaliação de aprendizagem; interdependentes e inter-agentes, esses princípios são fundamentais para uma educação a distância de qualidade. Figura 1 Princípios de EAD A estrutura didática (fig. 2)se refere à prática pedagógica em torno de conhecimento específico sobre um determinado tema. Conhecimento é mais do que conteúdo específico, abrange saberes experiências, saberes práticos, saberes sistematizados e sua inter-relação com habilidades e atitudes. Em relação às habilidades, compreendem-se as habilidades cognitivas, operacionais e sociais. Mas habilidades e conhecimento, trabalhados com atitudes definidas, como as que se referem à autonomia, à colaboração, ao diálogo. O curso é estruturado em Unidades Temáticas de Aprendizagem (U.T.A.), que reúnem um conjunto de disciplinas Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 2 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 organizadas em torno de um eixo temático. Como o modelo é misto, cada disciplina é trabalhada em 1/3 de atividades presenciais (tele-aulas, atividades supervisionadas e pesquisa na escola) e dois terços de estudo individual. A prática pedagógica se inicia na elaboração do plano de ensino e do material didático para apoio à tele-aula, às atividades supervisionadas, à pesquisa na escola e ao estudo individual do aluno. Os participantes dessa prática pedagógica são os professores autores, os professores regentes, os professores tutores e os alunos. Parte-se da premissa que a autoria, a regência das tele-aulas e a tutoria de conhecimento sejam exercidas pelo mesmo professor, enquanto que a tutoria local (no pólo de apoio presencial), e a tutoria central (na sede da instituição) são funções realizadas por outros professores. Figura 2 - Estrutura Didática Dessa forma a estrutura didática pressupõe relações entre todos os participantes do processo ensino aprendizagem entre si e com o material didático com o foco na aprendizagem dos alunos. A prática pedagógica deste modelo pressupõe, ainda que os alunos interajam colaborativamente e construam comunidades de aprendizagem. A aprendizagem, em especial, na educação a distância, a auto-aprendizagem (fig.2), é o segundo princípio, interdependente da estrutura didática e da avaliação de Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 3 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 aprendizagem, e implica a relação do aluno com a tutoria, a pró-atividade na tele-aula, a interação com o material didático, e com os demais alunos. A aprendizagem individual é responsabilidade do aluno que em seu projeto pessoal pode participar de uma comunidade de aprendizagem local e/ou de uma comunidade de aprendizagem virtual. Além de acolher, acompanhar, orientar e avaliar o aluno, a função do tutor local se estende na organização, ou pelo menos, na motivação para a criação de uma comunidade de aprendizagem local. Munhoz consegue sintetizar a ação do tutor local em relação à aprendizagem dos alunos: Ao tutor cabe o papel de prestar todas as informações complementares e esclarecer qualquer dúvida que o aluno tenha com relação a estes materiais, que foram desenvolvidos de forma geral, adaptando as explicações e orientações ao nível cognitivo do aprendente. Consideradas estas condições, cabe ao tutor a tarefa de assegurar a eficiência do processo e a eficácia da aprendizagem. Ele é um importante elemento de ligação entre os professores especialistas e os alunos e também entre os alunos e a administração central dos cursos. Ele não precisa ter o domínio de todos os campos do conhecimento envolvidos na aprendizagem desejada pelo aluno (Munhoz, 2003, ). A aprendizagem resultante das interações entre os alunos entre si, com o material didático, com o professor regente e com o professor tutor de conhecimento é orientada em direção ao desenvolvimento da autonomia pelo tutor local a partir de uma prática pedagógica iniciada no momento em que uma equipe multidisciplinar, coordenação pedagógica, professor autor, designer instrucional, tutoria central e equipe de tecnologia, elabora o material didático. O desenho das atividades práticas e reflexivas nos materiais impressos e no ambiente virtual de aprendizagem direciona os alunos para se inter-relacionarem em um trabalho em equipe colaborativo e para realizarem uma pesquisa e prática profissional que permite a interlocução entre a teoria e a prática. A partir da interdependência das ações e da interação dos participantes, o objetivo é a aprendizagem do aluno, desde o momento em que os professores desenham os materiais e organizam as tele-aulas, escolhem os materiais de apoio e as tecnologias didáticas que darão suporte ao aluno. A aprendizagem é direcionada quando os tutores acompanham as tele-aulas, e orientam as atividades supervisionadas; esclarecem as dúvidas; e supervisionam o trabalho em equipe; é avaliada quando os tutores locais recebem os instrumentos de avaliação propostos aos Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 4 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 alunos; é redimensionada quando os coordenadores de EAD e o coordenador do Curso retro-alimentam o processo com os resultados das avaliações. Figura 3 – Auto-aprendizagem O terceiro princípio fundamental é a Avaliação da Aprendizagem (fig.4) também interdependente da estrutura didática e da auto-aprendizagem. Em suas dimensões somativa e formativa, a avaliação começa a ser pensada quando o plano de ensino é elaborado; quando as aulas são planejadas; e quando o material didático (impresso, audiovisual e digital) é elaborado. Cada tele-aula interliga-se a uma atividade avaliativa que comporá o portfólio da Unidade Temática de Aprendizagem, instrumento de avaliação que é analisado pelo tutor local. As tele-aulas, as sínteses das leituras, os resultados das atividades, compõem o corpus que propiciará à equipe elaborar a produção de aprendizagem da mesma Unidade Temática de Aprendizagem. A produção de aprendizagem é encaminhada à sede da instituição para que seja avaliada pelo Núcleo de Avaliação. Essa Produção de Aprendizagem, cujo tema é decidido pelos professores das disciplinas que compõem a U.T.A., é a síntese da aprendizagem elaborada pelos alunos de um grupo (até 4 alunos) a partir da articulação do conhecimento aprendido nas respectivas disciplinas. A avaliação somativa se realiza ao final de cada U.T.A. presencialmente no pólo de aprendizagem presencial. É uma prova de questão de item, com dez questões para cada disciplina. Os professores são Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 5 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 orientados a prepararem questões reflexivas, interpretativas, e de solução de problemas, deixando-se de fora questões de memorização, pois a finalidade é verificar a aprendizagem do aluno para poder retro-alimentar o curso e orientar a aprendizagem do aluno ao longo do curso. Figura 4 - Avaliação da Aprendizagem A avaliação da aprendizagem é objeto de acompanhamento de professores, coordenadores e do Núcleo de Avaliação. Instrumentos de coleta de dados elaborados pelas coordenações da Tutoria Central, Pedagógica e Executiva de EAD e do Curso de Pedagogia a Distância são utilizados ao longo do processo de avaliação das Produções de Aprendizagem, do acompanhamento das tele-aulas, das atuações dos tutores locais e dos tutores da Tutoria Central para que se construam novos conhecimentos sobre o processo em andamento, para que se reavalie o Projeto de Curso, para que se qualifique o professor para uma educação a distância de qualidade. Como a tutoria é uma função chave na EAD, essa formação continuada é fundamental. Tutoria e Autonomia O acompanhamento do trabalho dos tutores durante o primeiro ano de implantação do novo modelo permitiu que a coordenação pedagógica, em constante interlocução com a coordenação da Tutoria, fosse criando um diagnóstico sobre a Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 6 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 situação da tutoria local e levantando as necessidades de trabalho de formação continuada em relação aos tutores tanto da sede, encarregados do acompanhamento e orientação dos tutores locais, quanto destes que estavam distantes e em contato direto com os alunos. Ao se escrever o projeto de curso, e se definir tutoria, partiu-se da compreensão explicitada por Emerenciano: a tutoria é marcada pelo trabalho de estruturar os componentes de estudo, orientar, estimular e provocar o participante a construir o seu próprio saber, partindo do princípio de que não há resposta feita, a cada um compete "criar" um pronunciamento marcadamente pessoal (EMERENCIANO, SOUZA e FREITAS, 2001, p. 4). Com base no trabalho de avaliação realizado pela Coordenação da Tutoria Central, buscou-se caracterizar o grupo de tutores locais. Constatou-se que alguns tutores não se envolviam com a questão pedagógica, cumprindo um papel mais operacional, de abrir o pólo para o aluno “assistir” a aula. Muitos tutores acompanhavam de fato os alunos, mas repetiam o papel de professor transmissor de conhecimento, de forma paternalista e centralizadora; buscavam resolver os problemas dos alunos, como se esses fossem dependentes e não tivessem capacidade de solucioná-los sozinhos. Não estava muito claro para esses tutores o que é ensinar em uma sociedade que não está mais classificada no paradigma industrial. Cortelazzo (2000) ao caracterizar os dois lados da moeda na educação, ensinar e aprender, explicita: Ensinar é criar condições para que os alunos desenvolvam as condições básicas de domínio das diversas linguagens, fundamentalmente a da escrita, de modo a poder sistematizar o conhecimento e expressar tanto suas dúvidas e incertezas quanto suas descobertas e criações. É, também, ajudá-los a desenvolver a reflexão, a saber fazer as perguntas certas e ir atrás das respostas adequadas Com base nessa afirmação, constatou-se que alguns tutores realizavam as funções para as quais haviam sido qualificados, a saber, acolher, acompanhar, orientar e avaliar os alunos, reportando para a Tutoria Central, os sucessos e as limitações de seus alunos e de seu pólo. Decidiu-se, então, oferecer aos tutores, um curso de Especialização Lato Sensu sobre Tutoria em EAD para que pudessem aprofundar seus conhecimentos e a discussão sobre educação a distância e sobre tutoria. Esse curso tinha a estrutura didática preconizada pelo modelo de EAD da instituição, dividindo-se em três UTAs, a saber: UTA Fundamentos de Educação a Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 7 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 Distância, UTA Práticas Pedagógicas em EAD, e UTA Produção de Conhecimento. Na UTA Fundamentos de Educação a Distância, as disciplinas eram Didática, que discutia o processo de ensino aprendizagem na educação a distância; e Educação a Distância no século XXI, que apresentava um breve histórico da EAD e propunha a discussão sobre as transformações provocadas pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e de comunicação e o aparecimento de novos modelos de Educação a Distância, como a aprendizagem online (e-learning). Na UTA Práticas Pedagógicas em EAD, as disciplinas eram: Tutoria em EAD, que discutia o que é tutoria, as dimensões da tutoria e as funções do tutor na Educação a Distância; Práticas Tutoriais em EAD, que trazia para a discussão com os tutores alunos algumas situações enfrentadas pelos tutores e os encaminhamentos realizados e as possibilidades de outros encaminhamentos, e Comunidades de Aprendizagem, que apresentava para os tutores uma oportunidade de conhecer e compreender melhor o que são essas comunidades que não devem existir apenas virtualmente; ao contrário, precisam se desenvolver localmente. Iniciou-se o curso com uma atividade para que os tutores definissem o que entendiam por tutoria no fórum de discussão. Surpreendente a participação intensa de um pequeno número de tutores, aproximadamente 18% dos inscritos participaram dos fóruns colocados no início do curso no portal da instituição. Em seguida, foram trabalhadas algumas tele-aulas pela coordenadora do curso, pelo coordenador de Tecnologia e pelo administrador do ambiente virtual de aprendizagem para sensibilizar os tutores para a importância do curso de especialização na sua formação continuada e na instrumentalização do ambiente virtual de aprendizagem para apoio ao aluno. Essa capacitação era necessária tanto para poderem fazer o curso de especialização quanto para poderem orientar os alunos que iriam utilizar esse ambiente virtual de aprendizagem. Durante o curso de especialização, foi possível analisar as concepções sobre autonomia e tutoria que os tutores tinham. No início do curso, foi surpreendente a constatação das confusões conceituais dos tutores a partir da participação de cerca de 150 tutores no fórum de discussão. As questões propostas provocaram a participação dos tutores, tanto dos cursos tecnológicos, quanto dos cursos da área da Educação. Ao se discutir sobre didática, prática pedagógica, funções do papel tutor, os tutores com formação pedagógica participavam e manifestavam suas dúvidas e seus saberes, enquanto que muitos dos profissionais liberais, tutores dos cursos tecnológicos, não queriam discutir as questões pedagógicas e diziam que não eram professores, que sua função era apenas Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 8 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 acompanhar os alunos para verem se eles estavam vindo a aula e entendendo o conteúdo. A discussão sobre autonomia também foi muito significativa, pois foi possível observar que os tutores, em sua maioria, não conseguiam definir com clareza o conceito “autonomia” aplicada á aprendizagem, num sentido que vai para além da particularidade técnico-organizacional a que se refere Peters (2001), abrangendo as dimensões indicadas como filosófica, pedagógica, e didática. Para muitos, a autonomia se definia em termos limitados e às vezes, confusos (grifo desta autora)1: É a liberdade que uma pessoa tem de decidir, por outras pessoas ou empresa. Ou seja, muitas vezes essa autonomia é restrita ao assunto que foi autorizado (PR). É preciso sempre lembrar que em EAD a disciplina do aluno deve ser muito maior que em ensino presencial e que a autonomia que ele possui como qualidade deve permear todas suas atitudes no aprendizado. Com relação aos Tutores, sua autonomia deve ser sempre orientada pela Tutoria Central, como forma de direcionar as ações dos tutores e como forma de ensiná-los a aplicar a autonomia dentro dos conceitos da Faculdade (JL). Para alguns tutores, o tempo, o espaço, o estar sozinho definem a autonomia: Autonomia é a capacidade que o ser humano tem de se autogerir, no que se refere a educação à distância esta autonomia consiste em o aluno saber que ele deverá estudar sozinho, sem a presença de um professor, onde não precisará comparecer todos os dias na escola, mas que deverá por conta própria estudar, ou seja ele vai optar qual o melhor local e horário para ele estudar (VS). Autonomia é o poder que temos de tomar determinadas decisões dentro dentro do espaço que nos é delegado (CP) Alguns a entendiam como não esperar que os outros façam sem esperar pela palavra de ordem do professor (dimensão pedagógica), como a aluna que escreveu: Considero que Autonomia em Educação a Distância, é a capacidade de realizar estudos e atividades sem a presença física do Professor; é a iniciativa, a auto-determinação em enfrentar desafios e desenvolver a atitude de aprender a aprender (é não esperar pelo professor(FC). Alguns a aplicavam no sentido de ter liberdade: “é a liberdade onde o cidadão possui um espaço no qual possa se organizar, planejar conforme suas necessidades”(GJ). Pode-se relacionar autonomia com liberdade. No entanto, a liberdade por sí só sem responsabilidade e maturidade não será suficiente para garantir sucesso ao que nos referimos 1 As transcrições guardam as construções, corretas ou impróprias, dos tutores. Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 9 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 aqui, ou seja o processo ensino-aprendizagem à distância. O aluno, assim como o tutor que entender que a autonomia requer responsabilidades e disciplina (GF) Alguns tutores definiam com um jogo de palavras que não deixava claro o que eles compreendiam. O princípio da autonomia não pode ser entendido somente como auto-determinação de um ser humano. A inclusão de "outro ser" nessa questão, trouxe uma nova perspectiva que alia ação individual (Tutor) ao componente social (alunos). Disso surge a responsabilidade e respeito entre as partes. Essa pode ser a melhor definição e associação para "autonomia" (JF). Autonomia sem liberdade não existe. E liberdade com limites, não é liberdade. E educação sem autonomia, não é Educação. Por que a Educação implica na possibilidade de reflexão, e não dá pra refletir sem autonomia, por que a reflexão é livre e sem limites. E quando tem limites no pensar, logo no agir, como se formar seres autônomos?(AC). Outros a definiam na dimensão filosófica, isto é, o indivíduo tomando as rédeas de seu destino e se responsabilizando por fazer por si o que lhe era feito pelos outros (Peters, 2001, p.94), como os tutores que logo na primeira participação escreveram: Acredito que autonomia é a capacidade que cada um de nós devemos ter de emergir das "camadas mais profundas de nosso ser" as potencialidades necessárias para a nossa emancipação intelectual. Obviamente essa não é uma tarefa fácil. Ao contrário, exige de cada um de nós muita força de vontade e muita dedicação. À medida que nos predispomos em buscar cada vez mais o conhecimento, tornamo-nos aptos em assumir conscientemente a responsabilidade pela nossa própria aprendizagem. Portanto, mais do que liberdade, autonomia é antes de tudo termos plena consciência daquilo que nós queremos e pretendemos com nosso estudo (GM) A fala ressalta a busca da emancipação intelectual e a tomada de cosnciência do sujeito por meio do estudo. A fala a seguir enfatiza a compreensão do contexto e a autoavaliação que levam à mudança de paradigma de forma pró-ativa. Autonomia significa compreender o contexto, fazer uma auto avaliação, pensar em minha prática pedagógica e mudar meu paradigma, certo de estar seguro para contribuir com o meu próximo, de maneira clara, inteligente e humana (MJ). Encontravam-se, ainda, entre as falas dos tutores, manifestações como as que seguem e que demonstram o grau de maturidade e comprometimento de muitos tutores, demonstrando as três dimensões a que referimos antes: Autonomia é ter o poder de decidir com responsabilidade sobre ações do seu cotidiano. Porém ter autonomia não significa ser isolado, ser soberano. Pelo contrário, ter autonomia é ser um indivíduo participativo, que sabe trabalhar no coletivo, visando construir sua própria identidade, que tenha idéias próprias e aceite as dos outros, proponha alternativas de solução para obstáculos e dificuldades encontradas no dia a dia, articule Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 10 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 novos conhecimentos e conteúdos de ensino com experiências e vivencias dos colegas e outros. Dessa forma, autonomia admite a diferença e, por isso, supõe a parceria. Só a igualdade na diferença e a parceria são capazes de criar o novo. Por isso, indivíduo autônomo não significa que está isolado, mas em constante intercâmbio com as demais pessoas (MG). Entendo a autonomia como característica e comportamento que pode ser desenvolvido, muitas vezes com o encorajamento inicial de outras pessoas e, aos poucos, conquistando independência nos estudos. É necessário que haja interesse prévio para que a autonomia do ser seja concretizada. Ninguém pode desenvolver a autonomia para os outros. Além disso, essa autonomia deve ocorrer pela liberdade e não achar que ela dá abertura para a libertinagem. Em relação aos estudos, deve-se buscar informações sobre as áreas de interesse e pessoas que possam esclarecer dúvidas, quando necessário. Não pode-se entender autonomia como auto-suficiência, uma vez que ninguém sabe tudo a respeito de todas as coisas (SA). Outra questão que se discutiu, no fórum, foi “se um professor que não tem essa autonomia, pode exercer a função de tutor? Na análise das respostas, de poucos tutores, depreendeu-se o que os tutores entendiam por autonomia, e mesmo por tutoria, como nas falas que se seguem Por isso ela torna-se mais interessante ainda, porque estamos ensinando e aprendendo ao mesmo tempo, estamos na verdade desenvolvendo aquilo que a humanidade tem de mais precioso, isto é, a sua inteligência. Por isso temos que avançar, todos nós, não é mais possivel que ainda criamos resistencias ao novo, para esta inteligencia que se apresenta tão genial e tão grandiosa para todos nós (DV). Creio que para desenvolver o papel de Tutor com se deve e´preciso que nós mesmos já tenhamos internalizado a necessidade de se "dar" autonomia, é preciso que nós desenvolvamos essa habilidade para só então passa-lá ao aluno. Qualquer um, seja ele professor ou até mesmo tutor deve trabalhar primeiro em sí a autonomia, e mais do que isso, buscar uma constante evolução e aperfeiçoamento pessoal e profissional, mostrando ao aluno que essa habilidade pode e deve ser utilizada em todas as áreas da sua vida, ajudando-o a superar os desafios (GG). O tutor tendo conhecimento de sua função, vai propiciar um aprendizado melhor ao seus alunos, oportunizando assim uma aprenzidado de uma socialização dos conhecimentos ainda maior. E de fundamental importancia a formação e preparação dos tutores (GJ). um tutor sem autonomia é impossível criar expectativas aos alunos, assim como também é impossível auxiliar na formação de cidadãos capacitados para encarar o mundo da modernidade. Será que podemos pensar como no passado, ou temos que nos atualizarmos e buscarmos novos horizontes de autonomos???(PP) Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 11 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 Todo cidadão, independente do papel que exerce na sociedade necessita da autonomia, o ser autônomo, diante de situaçãoes reflete, tem sua opinião crítica, podendo assim criar novos caminhos novas idéias. O tutor sem autonomia, pode até ter condições de execer sua profissão , mas ele apenas aceita o modelo, se torna mecânico, não interagindo com os educandos da maneira que poderia, deixando de enriquecer o trabalho com suas idéias, como novos caminhos para entender o proposto pela instituição. Sendo uma ação pedagógica, evidentemente que o responsável pela tutoria, ( o tutor em questão), necessariamente deve estar habilitado, capacitado para a realização desta atividade, uma vez que, independente da modalidade de ensino ( presencial ou a distancia)sua ação envolve relacionamentos humanos, visando a formação humana. (...) Outro aspecto a ser observado e a credibilidade que a instituição passa a ter diante dos seus usuários, ou seja, percebem que a instituição está preocupada com a oferta de um ensino de qualidade. Ter um tutor descomprometido, desqualificado, sem habilidade suficientes para o exercicio da tutoria, é oferecer um serviço de faz de conta.... porque ninguém dá aquilo que nao possui (AA). Pode-se perceber que esses tutores se preocupavam com a habilitação, a capacitação, a qualidade, a conscientização da necessidade de preparação, para atuarem na modalidade a distância, conforme afirmam Leitão, O papel do tutor é de fundamental importância em um Curso com as características anteriormente assinaladas. Seu perfil ideal é o de um professor que, além de se identificar com os princípios que conformam seus objetivos, conteúdos e metodologia, é capaz de estabelecer um outro tipo de relação com o aluno. E, nesse sentido, não se trata apenas de superar a falta da “proximidade” característica dos cursos presenciais, mas de estabelecer mediações estimuladoras da aprendizagem como ato do sujeito, em um processo de reflexão-ação Constatou-se, ainda, que os tutores que participaram do fórum inicial estavam comprometidos com o seu trabalho, embora muitos não tivessem bem claras suas funções e os conceitos com os quais se estava trabalhando. No final da primeira UTA, 45% dos alunos fizeram as avaliações finais das duas disciplinas (Didática e Educação a Distância no século XXI. Na segunda UTA, 42 % dos tutores inscritos fizeram as provas, e constatou-se que 54% dos tutores inscritos não acessaram o ambiente no período em que a segunda UTA foi trabalhada. Não se tem registro da freqüência dos tutores nas tele-aulas, mas têm-se as produções de aprendizagens que foram enviadas por email e algumas por correio regular. Em relação aos artigos científicos orientados, assim como foram as produções de conhecimento, na UTA Produção de Conhecimento, os tutores deveriam escrevê-los, seguindo as normas da revista Intersaberes, da Instituição, e a temática “As relações de Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 12 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 ensino aprendizagem entre tutores e alunos nos pólos ou no ambiente virtual; e entre os alunos nas atividades de auto aprendizagem”. Dos alunos inscritos no AVA, tutores, gestores e assistentes, apenas 31% dos tutores entregaram os artigos realizados em até 3 alunos por equipe. Desses alunos que entregaram os artigos, tem-se um número significativo de cópias e citações sem referência ou créditos (18%). Essa constatação é preocupante, visto que esses tutores deveriam se capacitar não só em relação à temática, mas também na utilização do ambiente virtual, visto que os cursos de pós-graduação passaram a ser oferecidos com apoio do ambiente virtual de aprendizagem. Por outro lado,, é significativa, a quantidade de artigos indicados para serem enviados a periódicos para publicação pelos avaliadores a quem esses artigos foram enviados, pois dos 272 artigos entregues, 77 artigos (28%) foram indicados. A pesquisa sobre a não participação efetiva de 66% de inscritos no curso está sendo realizada. Têm-se, como resultados parciais, algumas causas: problemas técnicos para acesso do ambiente, pois em alguns locais não se tinha acesso por banda larga, havia inconsistência inicial do ambiente virtual que estava sendo desenvolvido; falta de envio de documentos dos tutores para a efetivação da matrícula; saída dos tutores dos pólos presenciais; fechamento de pólos, etc. As questões levantadas do acompanhamento e avaliação da primeira versão do Curso de Especialização de Tutoria em EAD possibilitaram o planejamento do Curso para 2008, confirmando a necessidade de se investir na formação dos tutores para a consolidação de um modelo de EAD para uma educação de qualidade, isto é que alcance os objetivos de uma aprendizagem que articule a teoria à prática. A formação do tutor é uma operação muito delicada e muito importante , e é, portanto, uma função muito estratégica porque são os tutores que fazem a qualidade da educação em ambientes virtuais (Calvani apud pp.54-65.PIATTELLI I, 2003)2. Considerações Finais O planejamento, a implantação, o acompanhamento e a avaliação desse curso de especialização para formação continuada de tutores ofereceu uma série de informações que serviram e continuam servindo de base para as discussões sobre tutoria, pólos de apoio presencial e, sobretudo, para formação de professores nos novos papéis que lhes estão sendo criados. 2 Tradução do italiano feita por esta autora. Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 13 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 Detectou-se que pólos bem geridos tinham tutores comprometidos; que outros pólos, apesar de não serem tão bem administrados, tinham tutores que também eram comprometidos; que tutores com características de monitores (que não são professores, mas auxiliares) abandonaram o curso. No acompanhamento desse curso constatou-se, ainda que, como na educação presencial, muitos professores são resistentes às novas metodologias e às tecnologias educacionais, porque elas exigem comprometimento, estudo, trabalho. Mas, significativo foi o número de tutores que se envolveu e chegou ao final do curso, escrevendo o artigo científico relacionado à sua prática e às suas inquietações. .Devido às condições de trabalho locais, muitos tutores não se sentiram motivados a participar do programa de capacitação, tanto nos encontros semanais de orientação para planejamento e ação; quanto no curso. As coordenações da EAD debateram os desafios, os pontos fortes e as limitações do curso, principalmente em relação ao controle e envolvimento da participação do tutor. Chegou-se a algumas considerações: há uma necessidade maior de formação pedagógica e didática para EAD com base na autonomia e no trabalho colaborativo; percebeu-se a reprodução de funções de um professor presencial e concepções errôneas sobre educação. Propõe-se, a continuidade de outros cursos de formação continuada para a tutoria que abordem questões como: O que os tutores pensam sobre a tutoria? Será que é apenas, abrir a sala e disponibilizar equipamentos? Ou será transmitir informações repetindo ou complementando o que o professor disse? Que funções são essas: acolher, acompanhar, orientar, e avaliar ? O que os tutores pensam que seja autonomia? Será que é fazer o que se quer? Ter independência? Não esperar ser mandado para agir? Saber tomar decisões e responsabilizar-se por elas? Ser pró-ativo? Constatou-se ainda, que é muito difícil mudar as concepções educacionais enraizadas; por outro lado, que houve tomada de decisões e movimento para a mudança. Assim, conclui-se este trabalho, esperando que tenha trazido subsídios que possam orientar os formadores de professores a promover uma formação de professores para a educação a distância apoiada no desenvolvimento de conhecimento, habilidades e atitudes Bibliografia Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 14 Tutoria e Mediação em Educação: Novos Desafios à Investigação Educacional XVI Colóquio AFIRSE/AIPELF 2008 CORTELAZZO, I.B.C. (2000) Colaboração, Trabalho em equipe e as Tecnologias de Comunicação: Relações de Proximidade em Cursos de Pós-Graduação. Tese de Doutorado - Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. LEITÃO, C. F.; PERROTA, C.; SOARES, M. L. M. S.; e FARAH Neto, M. A formação dos tutores do curso formação pedagógica em educação profissional na área de Saúde: enfermagem. 11º. Congresso Internacional de Educação a Distância . Disponível em http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/175-TC-A4.htm . MUNHOZ, ª S. (2203) A Educação a Distância em Busca do Tutor Ideal. Colabora, Santos, v.2, n.5 - p. 32-46. agosto 2003. Disponível em http://gemini.ricesu.com.br/colabora/n5/artigos/n_5/id03c.htm . PETERS, Otto. (2001) Didática do ensino a distância. São Leopoldo, UNISINOS. PIATTELLI, V. (2003) Calvani: sono i tutor che fanno la qualità dell'e-learning. Indire Comunicazione, Istituto Nazionale di Documentazione per l’ innovazioane e la ricerca educativa. Disponível em http://www.indire.it/content/index.php?action=read&id=242 . Iolanda Cortelazzo & Rosana Mascarenhas & Marcelo Mascarenhas “Tutoria e autonomia: subsídios para a formação de professores para a EAD” 15