Prazeres e gratificações
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Prazeres e gratificações
De pouco adianta conhecer um ou dois truques, ainda que cientificamente
comprovados, para combater e prevenir o stress e emoções negativas, se não operar
algumas mudanças na sua vida que lhe permitam uma situação mais equilibrada, que
possa funcionar como uma barreira natural contra os efeitos negativos do stress.
Apesar de sabermos que dificilmente poderá abandonar o seu ritmo de vida, trocandoo por uma vida pacata, vamos ajudá-lo(a) a introduzir alguns elementos no seu dia-adia que lhe permitam, com pouco envolvimento de tempo, criar geradores de um
maior equilíbrio e bem-estar, que possam ajudar a contrariar os geradores de malestar.
Uma das formas de o conseguir é investir nos prazeres e gratificações, espalhando-os
um pouco pela vida. Além disso, as gratificações, muito em particular, funcionam como
um interruptor: permitem-lhe desligar-se de si, o que dá muito jeito quando a
ansiedade e a depressão começam a subir e ameaçam ficar descontroladas. No final,
encontra uma folha para ir registando os seus prazeres pessoais e as suas gratificações
– trate-a como uma lista dinâmica, sempre em evolução e tenha-a à mão para que se
possa lembrar das actividades a que recorrer sempre que precise de injectar um pouco
de equilíbrio na sua vida.
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Prazeres
Bem, se calhar não faria muito sentido explicar a alguém o que é um prazer. Mas, para
o efeito que pretendemos, lá terá que ser, porque nem tudo o que parece, é...
Um prazer é uma actividade emocionalmente muito agradável e, normalmente, rica do
ponto de vista sensorial. Costuma criar habituação, perdendo o seu efeito positivo; por
exemplo, imagine que gosta muito de chocolate; um chocolate aqui e ali, uma vista
grossa à forma física... Que bem que sabe, não? Agora imagine que come tabletes de
chocolate a toda a hora, todos os dias... Enjoativo, certo?
Os prazeres podem ter um componente mais corporal, como no exemplo dado, ou
mais espiritual – olhar para uma obra de arte que nos agrade particularmente, escutar
aquela música especial, por exemplo.
Quanto mais polvilharmos as nossas vidas do que nos dá prazer, tanto melhor nos
sentimos, claro. Tão claro que costuma assumir uma total transparência, impedindonos de o ver, por isso convém recordarmo-nos deste facto simples e esforçarmo-nos
um pouco, no dia-a-dia, para o fazer.
Tire, agora, uns momentos, para começar a construir a sua lista de prazeres; esta deve
ser uma lista dinâmica, porque vamos descobrindo novos prazeres ao longo da vida,
transformando outros e deixando de sentir prazer com algumas outras actividades
que, num outro momento, nos foram tão agradáveis. O motivo pelo qual é importante
ter uma lista destas é o facto de nos obrigar a reflectir sobre o que nos é agradável e,
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ao trazê-lo a um primeiro nível de consciência, deixarmo-nos tentar mais facilmente
em procurá-los de uma forma mais activa do que aquela que temos tendência a fazer
quando somos engolidos pela rotina.
Depois de ter iniciado a sua lista de prazeres, e enquanto não lhe surgem outros
exemplos de que se vá lembrando, leia atentamente algumas sugestões para os
melhorar.
Diversificar e espaçar
Diversifique os prazeres ao longo do tempo, procurando que um dado prazer seja
espaçado no tempo até à sua próxima repetição, porque é característica destas
actividades criarem habituação. Por isso, para manter o mesmo poder de evocação
positiva convém, na medida do possível, evitar o “muito do mesmo”.
Saborear
Partilhe, sempre que possível. Saboreie em conjunto, explique a quem lhe está perto
exactamente o que lhe agrada naquela actividade, dê uma oportunidade aos outros de
decidirem se também é agradável para eles.
Tire fotografias mentais e grave o seu próprio filme interior para mais tarde recordar.
Sempre que quiser, consulte estas fotografias ou filmes, e tente encontrar a mesma
sensação que teve durante a actividade – assim, ganha alguma independência
relativamente à oportunidade de poder dedicar-se a essa actividade. Crie, também,
associações mentais que permitam evocar a sensação física, para que lhe consiga
aceder mais facilmente, como, por exemplo, como quando se associa o estar à lareira,
numa noite fria de Inverno, a uma caneca de chocolate quente.
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Congratule-se; lembre-se que bom que é ter a oportunidade de fazer isso, que bem
que lhe sabe e durante quanto tempo o desejou fazer. Permita-se sentir feliz e
privilegiado por o poder fazer – ainda que pareça coisa pouca, a vida é feita de
pequenos momentos.
Viva o momento, focando toda a sua atenção nas qualidades sensoriais dessa
experiência – como são mesmo as sensações e as componentes sensoriais dessa
actividade? Concentre-se nos seguintes aspectos, um de cada vez, bloqueando a
atenção aos restantes enquanto se foca nesse:
Componentes visuais:
O que vê, com que cores, qual a nitidez das cores, o contraste, as formas, os detalhes,
a figura e o fundo
Componentes auditivas
O que escuta, o ritmo dos sons, os graves e agudos, o volume, a clareza, a direcção do
som, a sua envolvência e ressonância no corpo
Componentes gustativas
Se for uma actividade que passe por degustar, que tipo de sabores identifica? Amargo,
doce, salgado, picante?
Componentes olfactivas
Concentre-se na riqueza dos cheiros, na sua intensidade, nas flutuações que possam
ter, nas parcelas em que se podem dividir, como quem tenta adivinhar os ingredientes
de um prato apenas pelo cheiro
Componentes cinestésicas
As sensações ao toque, a textura, a temperatura, a sensação do movimento no corpo
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Absorva o momento sem pensamento crítico, limitando-se a senti-lo a envolver-se
nele, a deixar que o momento e as suas sensações o invadam, sem pensar em como
poderia ser melhorado, ou no que vai fazer a seguir, no que acabou de fazer ou
estragando tudo por analisar e avaliar o seu comportamento. Deixe-se ir no fluxo do
momento.
Gratificações
Este é um tema diferente. Enquanto que os prazeres são inerentemente agradáveis, as
gratificações não geram propriamente algum tipo de emoção. A sua característica mais
saliente prende-se com a capacidade de provocar alheamento: de si, do que o rodeia,
do tempo. Numa gratificação, tendemos a um envolvimento elevado, quase como se
nos concentrássemos totalmente naquela actividade para, apenas quando termina,
nos apercebermos que não demos pelo tempo passar, nem pelo facto de estar frio,
nem nos estivemos a analisar ou, mesmo, por vezes, nem estivemos a sentir nada em
particular.
Normalmente, trata-se de uma tarefa que exige alguma competência da nossa parte e
exige que nos dediquemos, pelo desafio que coloca às nossas capacidades. No
entanto, trata-se de um envolvimento sem esforço, apesar de profundo, e transmite
uma sensação de auto-controlo. Uma gratificação é uma actividade com objectivos
definidos e os resultados das nossas acções ao desenvolvê-la são, frequentemente,
visíveis de uma forma imediata.
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É complicado conseguirmos antecipar o que pode ser uma gratificação para cada um
de nós – temos de experimentar com diversas actividades, observar como nos
sentimos no decurso das mesmas e só assim conseguimos definir uma gratificação
como tal.
Por isso, uma boa regra é experimentar, experimentar muito, sem ideias
preconcebidas, e observar como reagimos às situações e actividades. Assim que
encontrar uma actividade que possa definir como uma gratificação para si, anote-a. As
gratificações devem fazer parte da sua vida habitual, porque permitem que o seu
organismo reverta para um modo de funcionamento próprio, uma outra forma de
descanso, fundamental do ponto de vista da saúde mental.
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